Síntese sobre o problema da existência de Deus

36
Unidade 3.3. A dimensão religiosa: Análise e compreensão da experiência religiosa O Problema da Existência de Deus

description

fil

Transcript of Síntese sobre o problema da existência de Deus

  • 1. Ser que Deus existe? Haver bons argumentos ou boas razes para pensar que Deus existe ou no?

2. Argumentos Tradicionais a Favor da Existncia de Deus 3. Esquema 4. Supe que ao atravessar uma mata tropeo numa pedra e me perguntam como foi ela ali parar. Poderia talvez responder que, tanto quanto me dado a saber, a pedra sempre ali esteve; e talvez no fosse muito fcil mostrar o absurdo desta resposta. Mas suponha-se que eu tinha encontrado um relgio no cho e procurava saber como podia ele estar naquele lugar. Muito dificilmente me poderia ocorrer a resposta que tinha dado antes que, tanto quanto me era dado saber, o relgio poderia sempre ali ter estado. Contudo, por que razo esta resposta, que serviu para a pedra, no serve para o relgio? Por que razo no esta resposta to admissvel no segundo caso como no primeiro? Por esta razo e por nenhuma outra: a saber, quando inspeccionamos o relgio, vemos (o que no poderia acontecer no caso da pedra) que as suas diversas partes esto forjadas e associadas com um propsito; por exemplo, vemos que as suas diversas partes esto fabricadas e ajustadas de modo a produzir movimento e que esse movimento est regulado de modo a assinalar a hora do dia; e vemos que se as suas diversas partes tivessem uma forma diferente da que tm, se tivessem um tamanho diferente do que tm ou tivessem sido colocadas de forma diferente daquela em que esto colocadas ou se estivessem colocadas segundo uma outra ordem qualquer, a mquina no produziria nenhum movimento ou no produziria nenhum movimento que servisse para o que este serve. (...) Tendo este mecanismo sido observado (...), pensamos que a inferncia inevitvel: o relgio teve de ter um criador; teve de existir num tempo e num ou noutro espao um artfice ou artfices que o fabricaram para o propsito que vemos ter agora e que compreenderam a sua construo e projectaram o seu uso. (...) 5. (...) Pois todo o sinal de inveno, toda a manifestao de desgnio, que existia no relgio, existe nas nobras da natureza, com a diferena de que na natureza so mais, maiores e num grau tal que excede toda a computao. Quero dizer que os artefactos da natureza ultrapassam os artefactos da arte em complexidade, em subtileza e em curiosidade do mecanismo; e, se possvel, ainda vo mais alm deles em nmero e variedade; e, no entanto, num grande nmero de casos no so menos claramente mecnicos, no so menos claramente artefactos, no so menos claramente adequados ao seu fim ou menos claramente adaptados sua funo do que as produes mais perfeitas do engenho humano. (...) Em suma, aps todos os esquemas e lutas de uma filosofia relutante, temos necessariamente de recorrer a uma Deidade. Os sinais de desgnio so demasiado fortes para serem ignorados. O desgnio tem de ter um projectista. Esse projectista tem de ser uma pessoa. Essa pessoa DEUS. William Paley, Teologia Natural, 1802, Cap. 1, 3 e 27. 6. William Paley (1743-1805) 7. O universo e os organismos vivos so muito semelhantes aos relgios. Se abrirmos um relgio e inspecionarmos o modo como todas as peas do mecanismo trabalham conjunta e harmoniosamente, compreenderemos que o relgio teve de ser criado por algum inteligente, o relojoeiro que o fabricou. Logo, tambm o universo e os organismos vivos tm um criador inteligente (grande Relojoeiro), que Deus. Estrutura do Argumento (analgico): 8. O Argumento do Desgnio O argumento do desgnio parte da observao de dados empricos, de factos do mundo. Este um argumento analgico, no dedutivo. Por isso mesmo a verdade da sua concluso no necessria mas sim provvel. O que ele prova no caso de ser um bom argumento a forte probabilidade de Deus existir. 9. O Argumento do Desgnio O argumento do desgnio um argumento por analogia, ou seja, compara, em termos de semelhanas, o Universo (organismos) a um relgio (artefectos). Paley parte do princpio de que os organismos (Universo) so como os relgios. Ora se os relgios (mecanismo complexo) tm um criador (inteligente), ento os organismos Universo - (mecanismo muitssimo mais complexo) tambm tem de ter um Criador Superior, que s pode ser Deus. 10. 1.Fraca Analogia A analogia entre o universo natural e um relgio demasiado fraca para que concluamos que tal como um relgio obra de um ser inteligente que o destinou a uma funo, o universo obra de um Ser Inteligente (Deus). 2. Limitaes da prova: No justifica a existncia de um nico Deus nem de um Deus omnipotente, omnisciente e bom tal como descrito pelas religies monotestas. Objees 11. 3. A crtica de Darwin e da biologia atual: A biologia atual afirma que a harmonia e complexidade dos seres vivos pode ser explicada atravs de causas simplesmente naturais, sem pressupor um desgnio sobrenatural. Essa complexidade dos organismos o resultado de uma longa evoluo regida pela capacidade de adaptao dos indivduos ao meio e transmisso das caractersticas com maior valor adaptativo por parte dos mais aptos e fortes na luta pela sobrevivncia. Objees 12. Portanto, Senhor, Tu que ds o entendimento da f, concede-me que, quanto sabes ser-me conveniente, entenda que existes como acreditamos e que s o que acreditamos [seres]. E na verdade acreditamos que Tu s algo maior do que o qual nada pode ser pensado. Acaso no existe uma tal natureza, pois o insensato disse no seu corao: No h Deus? Mas com certeza esse mesmo insensato, quando ouvir isto mesmo que digo, algo maior do que o qual nada pode ser pensado, entende o que ouve e o que entende est no seu intelecto, ainda que no entenda que isso exista. Com efeito, uma coisa algo estar no intelecto, outra entender que esse algo existe. Com efeito, quando o pintor concebe previamente o que vai fazer, tem isso mesmo no intelecto, mas ainda no entende que exista o que no fez. Mas quando j pintou, no s o tem no intelecto como entende que existe aquilo que j fez. E, de facto, aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado no pode existir apenas no intelecto. Se est apenas no intelecto, pode pensar-se que existe na realidade, o que ser maior. Se, portanto, aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado est apenas no intelecto, aquilo mesmo maior do que o qual nada pode ser pensado aquilo relativamente ao qual pode pensar-se algo maior. Existe, portanto, sem dvida, algo maior do que o qual nada possvel pensar no apenas no intelecto, mas tambm na realidade. Santo Anselmo, Proslogion 13. (1033-1109) 2. Argumento Ontolgico Santo Anselmo 14. Maior no tem aqui o significado comum de maior em tamanho, mas de maior em perfeio. O CONCEITO DE DEUS Santo Anselmo 15. Deus o ser maior do que o qual nada pode ser pensado. Deus existe apenas no pensamento. Se Deus existe apenas no pensamento, ento h algo maior (outro ser) do que Deus. Logo, Deus no existe apenas no pensamento. Deus tambm existe na realidade. Estrutura do Argumento: Concluso Premissa 1 Premissa 2 Premissa 3 16. Explicao do Argumento: Afirmar que Deus o ser maior do que o qual nada pode ser pensado dizer que Deus perfeito, ou seja, tem todas as qualidades. A ideia de um ser maior (perfeito) implica a existncia desse ser, uma vez que tentar imaginar um ser perfeito que no exista to absurdo como tentar imaginar um crculo quadrado. Se Deus existisse apenas na mente (ideia), ento no seria o ser maior do que o qual nada pode ser pensado; no logicamente admissvel dizer que Deus s existe na nossa mente. Como existir na realidade superior a existir s no pensamento e no posso pensar um ser maior do que Deus, Deus tem de existir quer no pensamento quer na realidade. Se assim no fosse, ns, seres humanos, seriamos maior do que Deus. 17. Objeces ao Argumento Ontolgico 1. GAUNILO Ilha perfeita Existe na minha mente a ideia de uma ilha perfeita. A ilha em questo no seria perfeita se apenas existisse na minha mente e no na realidade. Logo, a ilha perfeita existe na realidade. 2. KANT A existncia no uma qualidade Kant afirma que a existncia no um predicado ou uma qualidade, mas o suporte da atribuio de toda a predicao. porque um ser (Antnio) existe, que lhe podemos atribuir uma qualidade ( alto). A definio de ilha perfeita diz-nos apenas como a ilha em questo seria se existisse. 18. A existncia de Deus pode ser provada por cinco vias. A segunda via resulta da natureza da causa eficiente. Vemos que no mundo dos sentidos existe uma ordem das causas eficientes. No h nenhum caso conhecido (nem, na verdade, possvel) no qual se verifique que uma coisa a causa eficiente de si mesma; pois, desse modo, seria anterior a si mesma, o que impossvel. Ora, no possvel regredir infinitamente nas causas eficientes, porque em todas as causas eficientes ordenadas a primeira a causa da causa intermdia e esta, quer seja vrias ou apenas uma, a causa da causa ltima. Ora, retirar a causa retirar o efeito. Portanto, se no existisse uma causa primeira entre as causas eficientes, no existiria uma causa ltima nem nenhuma causa intermdia. Mas se for possvel regredir infinitamente nas causas eficientes, no existir uma primeira causa eficiente, nem existir um ltimo efeito, nem quaisquer causas eficientes intermdias; e tudo isto completamente falso. Portanto, necessrio admitir uma primeira causa eficiente, qual todos do o nome de Deus. So Toms de Aquino, Suma Teolgica, Parte a, 2, 3. (1225-1274) 19. 2. Argumento Cosmolgico 1. Tudo o que existe tem de ter uma causa. 2. A cadeia causal no pode regredir indefinidamente. Em algum ponto, temos de chegar Causa Primeira. 3. Causa Primeira damos o nome de Deus. 20. Explicao do argumento: O argumento cosmolgico um argumento a posteriori, ou seja, procura provar a existncia de Deus partindo dos dados da observao emprica. () No h nenhum caso conhecido (nem, na verdade, possvel) no qual se verifique que uma coisa a causa eficiente de si mesma; pois, desse modo, seria anterior a si mesma, o que impossvel. () So Toms de Aquino, Suma Teolgica Se as ligaes causa-efeito regredissem indefinidamente, nada haveria no incio para desencadear a sua sequncia, o que absurdo. Deste modo, torna- se bvio que na natureza as cadeias causais (ligaes causa-efeito) no podem regredir indefinidamente, isto , tem de haver uma causa primeira que desencadeou toda a sequncia causal. A essa causa primeira atribui-se o nome de Deus. Logo, Deus existe. 21. Objeces ao Argumento Cosmolgico CRTICAS 1. Autocontraditrio: Este raciocnio auto-contrditrio dado que a primeira e a segunda premissas no podem ser simultaneamente verdadeiras. Primeiro diz-se que Tudo tem de ter uma causa, mas logo em seguida admite-se que existe algo (Deus) que no tem uma causa. 2. O Argumento no prova a existncia do Deus dos testas (omniponte, omnisciente e benevolente). Quanto muito prova a existncia de uma Causa Primeira. Ora a causa primeira pode ter sido o Big Bang. 22. H mal no mundo: isto no pode ser seriamente negado. Basta pensar no Holocausto, nos massacres de Pol Pot no Camboja ou na prtica generalizada da tortura. Todos eles so exemplos de mal moral e crueldade: seres humanos que provocam sofrimento a outros seres humanos por uma razo qualquer. A crueldade tem tambm muitas vezes como objecto os animais. H tambm outro tipo de mal, conhecido como mal natural ou metafsico: terramotos, doena e fome so exemplos deste tipo de mal. Nigel Warburton, Elementos Bsicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 1998, p. 45 23. Mal Natural e Mal Moral Existncia de Mal no Mundo Tipo de Mal que causado pelas aces dos seres humanos; Sofrimento causado pode ser deliberado (intencional) ou por negligncia. Exemplo: roubos, asssassinatos, etc. Mal Moral Tipo de Mal que causado pela Natureza; Sofrimento causado por fenmenos naturais. Exemplos: cheias, terramotos, etc. Mal Natural 24. Estrutura do Argumento do Mal 1. Se Deus existisse, ento o mal no existiria no mundo. 2. O Mal existe no mundo (Facto) 3. Logo, Deus no existe Se Deus omnisciente (sabe que existe o mal), Sumamente bom (quer impedir o mal) e omnipotente (pode impedir o mal). 25. O Problema do Mal Deus existe O mal existe Deus omnipotente, o mnisciente e bom O Problema lgico: O testa aceita duas afirmaes que so logicamente inconsistentes entre si. As duas afirmaes so: 1.Deus existe e omnipotente, omnisciente e perfeitamente bom. E agora? 2. O mal existe. 26. O Mal deve-se a Deus ou ao homem? Qual a perspectiva da criana, que aparece no vdeo, sobre esta questo? 27. Resposta dos Testas DEUS Imutvel O QUE O Tesmo: O Deus dos testas um ser pessoal, espiritual, imutvel, o mnipresente, criador do universo, transcendente (que esta fora do espao e do tempo), omnipotente (que pode tudo), omnisciente (que sabe tudo), e sumamente bom. TESMO 28. 1 Objeco: 2 Objeco: Objeces ao Argumento do Mal 1. Se Deus existisse, o mal moral no existiria no mundo No h qualquer incompatilidade entre a existncia de Deus e o mal, pois o mal da responsabilidade do ser humano, um mau uso do livre-arbtrio dado por Deus ao Homem. O homem no poderia ser livre, se no pudesse escolher entre fazer o bem e fazer o mal. 1. Se Deus existisse, o mal natural no existiria no mundo Santo Agostinho O Mal natural compatvel com a existncia de Deus. Se no houvesse algum mal natural no mundo, o ser humano no poderia superar-se, isto , realizar actos hericos ou grandiosos. 29. E