SIPS - Sistema de Indicadores de Percepção Social

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Ação Social

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    Assistncia Social Percepo sobre pobreza: causas e

    solues 21 de dezembro de 2011

  • 2

    Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica

    Ministro Wellington Moreira Franco

    Fundao pblica vinculada Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasileiro e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

    Presidente Marcio Pochmann

    Diretor de Desenvolvimento Institucional Geov Parente Farias

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas Internacionais, substituto Marcos Antonio Macedo Cintra

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da Democracia Alexandre de vila Gomide

    Diretora de Estudos e Polticas Macroeconmicas Vanessa Petrelli de Correa

    Diretor de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e Ambientais Francisco de Assis Costa

    Diretor de Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura, substituto Carlos Eduardo Fernandez da Silveira

    Diretor de Estudos e Polticas Sociais Jorge Abraho de Castro

    Chefe de Gabinete Fbio de S e Silva

    Assessor-chefe de Imprensa e Comunicao Daniel Castro

    URL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

    O Sistema de Indicadores de Percepo Social (SIPS) O Sistema de Indicadores de Percepo Social (SIPS) uma pesquisa domiciliar e presencial que visa captar a percepo das famlias acerca das polticas pblicas implementadas pelo Estado, independente destas serem usurias ou no dos seus programas e aes. A partir desta 2 edio, a pesquisa passa a ser realizada em 3775 domiclios, em 212 municpios, abrangendo todas as unidades da federao. Passa tambm a ser utilizado o mtodo de amostragem probabilstica de modo a garantir uma margem de erro de 5% a um nvel de significncia de 95% para o Brasil e para as cinco grandes regies.

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    1. Introduo1 O Sistema de Indicadores de Percepo Social (SIPS), elaborado pelo Instituto

    de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), uma pesquisa domiciliar com a finalidade de conhecer as percepes da populao brasileira sobre os bens e servios pblicos. At a realizao da ltima rodada, o sistema pesquisou reas como trabalho, educao, cultura, sade, justia, segurana pblica, igualdade de gnero, bancos e mobilidade urbana.

    A quarta rodada, realizada este ano, incluiu o questionrio da rea de Assistncia Social. Diferentemente dos questionrios anteriores, a pesquisa na rea de assistncia no buscou conhecer a percepo sobre seus servios, mas sim aferir a percepo da populao sobre o problema da pobreza. Os dados foram coletados no perodo de 08 a 29 de agosto de 2011.

    Adotou-se como metodologia uma abordagem quantitativa que permitiu determinar, por amostragem probabilstica, com margem de erro de 5% para Brasil e regies e com um nvel de confiana de 95%, o tamanho da amostra de 3.796 pessoas para, assim, aferir a percepo da populao sobre o fenmeno em questo. Para tanto, a amostragem estratificou os municpios por regies e dentro de cada regio foi feita amostragem por conglomerados para o sorteio dos domiclios.

    Entretanto, importante registrar que as tcnicas de amostragem preservaram as mesmas proporcionalidades existentes entre a populao e amostras nos critrios de tamanho e por porte (pequeno, mdio e grande) dos municpios. Os parmetros bsicos para definio dessas distribuies vieram do Censo Demogrfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    Este estudo est divido em sete sees. Na primeira, afere-se a percepo da populao sobre os principais problemas do Brasil. J na segunda, observa-se a evoluo da pobreza nos ltimos cinco anos. Na seo seguinte do trabalho, o objetivo foi aferir a percepo da populao sobre a renda familiar necessria para no ser pobre. Na quarta parte, o foco central foi aferir a percepo da populao sobre as principais causas da pobreza. O objetivo da quinta seo foi verificar as principais formas de sair da pobreza. Na sexta foram discutidas as aes que o governo poderia realizar para acabar com a pobreza. Por fim, so apresentadas as consideraes finais do documento.

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    2. Percepo da populao sobre os principais problemas do Brasil Na opinio dos brasileiros, o maior problema atual do pas a

    violncia/insegurana (23%), acompanhado de muito de perto pela sade (22,3%). Corrupo e desemprego aparecem bem abaixo como o segundo conjunto de problemas mais citado. Educao fica com apenas 8% e a Pobreza/Fome foi mencionada por apenas 6,1% dos entrevistados, indicando fraca percepo do problema como o mais grave do pas.

    Grfico 1 Principais problemas do Brasil (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Perc

    entu

    al

    Problemas/ (%) 23,0 22,3 13,7 12,4 8,0 6,1 6,1 5,8 2,6

    Violncia/Insegurana Sade Corrupo Desemprego Educao Pobreza/Fome Drogas Desigualdade Outros

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Ao desagregarem-se os dados pelas grandes regies brasileiras, verifica-se que o as regies Sul, Sudeste e Centro-oeste identificam a Sade como o principal problema. Enquanto isso, para a regio Norte e Nordeste a violncia/insegurana que mais preocupa. O desemprego mais importante para a regio Nordeste e a Corrupo, para o Sul, conforme o grfico 2.

    Grfico 2 Principais problemas do Brasil, por regio (%)

    05

    101520253035

    Perc

    entu

    al

    Centro-oeste 24,3 17,2 8,2 7,4 3,3 15,0 15,8 5,1 3,6 Nordeste 19,9 24,4 14,4 8,6 6,9 9,4 8,4 6,1 2,0 Norte 15,6 29,4 13,3 3,6 2,3 15,7 5,9 8,2 5,9 Sudeste 22,2 21,5 12,2 6,2 7,7 13,8 7,4 6,4 2,6 Sul 30,3 24,3 10,5 1,5 3,6 19,7 6,4 2,7 1,0

    Sade Violncia/Insegurana Desemprego Drogas Pobreza/fome Corrupo Educao Desigualdade Outros

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    As respostas, quando agregadas considerando a varivel renda, tambm revelam diferentes percepes, principalmente quando se considera a populao de baixa e alta

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    renda. O grfico 3 revela que a populao de baixa renda considera sade, violncia/insegurana e desemprego como seus principais problemas. Os mais ricos colocam em primeiro lugar a corrupo (27,8%), seguido da sade (26%), sendo que violncia/insegurana quase se equipara a educao em sua ordem de preocupao. Chama a ateno que o desemprego quase no problema relevante para os mais ricos, assim como a pobreza/fome no muito considerada para esse grupo.

    Grfico 3 Principais problemas do Brasil, por renda (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Perc

    entu

    al

    Renda per capita at 1/4 SM 23,7 22,6 18,4 7,9 7,5 6,8 5,9 4,7 2,5 Renda per capita de mais de 5 SM 26,0 17,7 1,7 3,3 - 27,8 16,8 3,2 3,5

    Sade Violncia/Insegurana Desemprego Drogas Pobreza/fome Corrupo Educao Desigualdade Outros

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    O grfico 4 indica que a populao mais jovem a que mais se preocupa com a questo do desemprego, educao e as desigualdades sociais. J para os adultos, a principal preocupao a sade. Os idosos so aqueles que mais se preocupam com a violncia/insegurana e corrupo.

    Grfico 4 Principais problemas do Brasil, por faixa etria (%)

    0

    10

    20

    30

    Perc

    entu

    al

    Jovens (18 a 29 anos) 19,2 23,1 14,1 12,7 8,6 6,1 7,6 6,3 2,2 Idultos (30 a 59 anos) 23,7 22,0 12,3 13,8 8,1 6,5 5,0 6,0 2,7 Idosos (mais de 60 anos) 25,9 27,5 6,9 16,5 5,9 4,5 4,2 5,6 3,1

    Sade Violncia/Insegurana Desemprego Corrupo Educao Pobreza/Fome

    Desigualdade Social Drogas Outros

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Apesar da baixa percepo sobre a importncia da pobreza e fome como problemas, a populao tambm encara esses dois problemas de forma diferente. Por exemplo, a pobreza em qualquer recorte que se analise sempre vista como um problema maior que a fome. As mulheres do maior valor a esses problemas que os

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    homens. Para a populao mais rica esses no so mais problemas, mas ainda so para os mais pobres. Para a populao da regio sul, a fome quase no mais problema.

    Grfico 5 Percepo sobre Pobreza e Fome por sexo, renda e regio (%)

    2,1

    5,0

    1,7

    3,3

    -

    5,0

    10,0

    Homem Mulher

    4,5

    -

    3,0

    -

    -

    5,0

    10,0

    at 1/4 sm de 3 a 5 sm

    3,83,03,1

    0,7

    -

    5,0

    10,0

    Nordeste Sul

    3,62,5

    -

    5,0

    10,0

    Brasil

    Pobreza Fome

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    3. Evoluo da pobreza nos ltimos cinco anos Quando pesquisada a percepo da populao sobre a evoluo da pobreza no

    Brasil nos ltimos cinco anos, de modo geral, a percepo de 41,4% da populao brasileira que a pobreza diminuiu. Para 28,1%, no houve mudanas e 29,7% acredita que a pobreza piorou. A pesquisa tambm revelou que a percepo de queda da pobreza mais forte para as populaes do Nordeste (48,5%) e Norte (46,7%), j para a populao do Sul essa foi de 36,1%. (Grfico 6)

    Grfico 6 Percepo sobre a Evoluo da pobreza, Brasil e por regio (%)

    43,8 48,5 46,537,0 36,1

    29,219,8 23,1

    31,237,7

    26,2 30,9 29,9 30,9 25,5

    -

    50,0

    100,0

    Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

    Diminuiu Ficou igual Aumentou

    41,4

    28,1 29,7

    -

    50,0

    100,0

    Brasil

    Diminuiu Ficou igual Aumentou

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Quanto mais a renda aumenta, h uma percepo mais forte de que a pobreza diminuiu nos ltimos cinco anos, como revela o grfico 7, a seguir. Por exemplo, no grupo que vai de 3 a 5 salrios mnimos (SM) a percepo de que a pobreza diminuiu

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    mais forte (52,7%). Existem ainda diferenas entre a percepo de homens (48,7%) e mulheres (34,3%).

    Grfico 7 Percepo sobre a Evoluo da pobreza, por sexo e renda (%) 34,7

    34,7

    28,8

    28,8

    #DIV/0!

    39,1 35,143,0 46,3

    50,9 52,742,1

    -

    50,0

    100,0

    at 1/4 sm de 1/4 a 1/2sm

    de 1/2 a 1sm

    de 1 a 2 sm de 2 a 3 sm de 3 a 5s0m

    mais de 5sm

    Pobreza diminuiu

    48,7

    34,3

    0,0

    50,0

    100,0

    Homem Mulher

    Pobreza diminuiu

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    4. Percepo da populao sobre a renda familiar necessria para no ser pobre A populao brasileira, na mdia, acredita que preciso uma renda familiar

    (famlia de quatro membros) de R$ 2090,00, por ms, o que perfaz uma renda per capita de R$ 523,00, para no ser pobre (grfico 8). Destaca-se que essa linha bastante prxima ao valor do salrio mnimo, atualmente em R$ 545,00. Quando se compara esse valor atual linha de pobreza, observa-se que ele aproximadamente 3,5 vezes maior que a utilizada na operacionalizao do Programa Bolsa Famlia (R$ 140,00) e 7,5 vezes a linha da extrema pobreza (R$ 70,00).

    Grfico 8 Percepo sobre a renda para no ser pobre, Brasil e segundo a renda (R$1,00)

    2.090

    1.540

    2.900

    523 385725

    Populao Brasil Populao com renda at 1/4 SM Populao com renda de mais de 5SM

    Renda Total do Domcilio (Em R$1,00) Renda Per capita do Domcilio (Em R$1,00)

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

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    No entanto, tambm se observa um diferencial de percepo entre pobres e ricos (grfico 8). A populao mais pobre acredita em uma renda per capita um pouco menor, de cerca de R$ 385,00, (corresponde a 73% do valor mdio mencionado acima), mesmo assim 2,7 vezes superior linha de pobreza do PBF, enquanto os mais ricos preveem um valor de quase o dobro deste, R$ 725,00, ou seja, quase 5,4 vezes a linha do programa e bem superior ao valor do SM.

    5. Percepo sobre as principais causas da pobreza A populao brasileira percebe o desemprego como a principal causa da

    pobreza, pois de forma bastante expressiva 29,4% da populao entende que esse problema fundamental na gerao da pobreza. No leque de causas possveis, duas outras tambm foram bastante citadas: educao (18,4%) e corrupo (16,8%). Em seguida, foi lembrada a importncia da m distribuio da renda (12%), as demais foram mencionadas, mas de forma pouco expressiva. Veja abaixo no grfico 9.

    Grfico 9 Percepo sobre as causas da pobreza (%)

    29,418,4

    16,812,0

    6,44,13,93,5

    2,82,1

    - 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

    DesempregoEducao sem qualidade/acesso ao ensino

    CorrupoM distribuio da renda/Desigualdade social

    M gesto dos governosFalta de oportunidades

    DrogasBaixos salrios

    Preguia /ComodismoOutro

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    No entanto, existem algumas diferenas de percepo segundo nvel de renda da populao, como pode ser constatado no grfico 10. Entre aqueles que tm rendimento at do SM, mais pobres, a grande maioria aponta o desemprego como a principal causa da pobreza (43,8%); a segunda meno mais frequente refere-se a acesso/qualidade do ensino, com apenas 11,6%, e a corrupo fica em terceiro. J a opinio dos mais ricos (rendimentos acima de cinco SM per capita) tem na educao a principal causa da pobreza (38,5%), ao lado da corrupo (18,5%) e do desemprego, mencionado por 15,4%.

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    Grfico 10 Percepo sobre as causas da pobreza segundo a renda (%) Populao com renda maior que 5 SM

    (B)(A)Populao com renda at 1/4 SM

    43,8

    11,6

    9,6

    7,4

    6,3

    5,5

    5,4

    4,2

    3,1

    2,7

    - 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0

    Desemprego

    Educao sem qualidade/acesso ao ensino

    Corrupo

    M distribuio da renda/Desigualdade social

    Drogas

    Baixos salrios

    M gesto dos governos

    Outro

    Falta de oportunidades

    Preguia /Comodismo

    38,5

    18,5

    15,4

    14,7

    6,3

    5,8

    0,8

    -

    -

    -

    - 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0

    Educao sem qualidade/acesso ao ensino

    Corrupo

    Desemprego

    M distribuio da renda/Desigualdade social

    M gesto dos governos

    Preguia /Comodismo

    Falta de oportunidades

    Drogas

    Baixos salrios

    Outro

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Ainda interessante observar, mesmo considerando os diferenciais de renda, que as principais causas apontadas so de natureza estrutural, e no individual. Sabe-se que, no debate sobre a pobreza e suas causas, h opinies que remetem o problema esfera individual, como reflexo da falta de esforos e de iniciativas do prprio indivduo, ou a vcios e outros problemas. Esse tipo de diagnstico responsabiliza o prprio indivduo por sua situao. A esse respeito, convm destacar que, de acordo com o grfico 9, apenas 2,8% da populao mencionaram, espontaneamente, causas relacionadas aos problemas individual (preguia/comodismo) e, somente, 3,9% mencionaram as drogas.

    Para se compreender um pouco melhor essa questo das causas da pobreza e sua natureza, buscou-se identificar mais alguns detalhes de possveis causas associadas esfera individual (falta de esforo), bem como outros que associam a esfera estrutural e, portanto, social. Alguns resultados da pesquisa mostram que existe uma tendncia da populao em aceitar que as causas da pobreza so estruturais, pois diante de opes tais como: As pessoas so pobres porque no querem trabalhar; e As pessoas so pobres porque no encontram emprego, houve maior predisposio em concordar com a segunda afirmao. Do mesmo modo, a maioria tendeu a discordar da afirmao As pessoas so pobres porque no quiseram estudar e tendeu a concordar mais com a proposio As pessoas so pobres porque no tiveram oportunidade de estudar. Ver grfico 11, a seguir.

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    Grfico 11 - Percepo sobre as causas da pobreza (%)

    -

    25,0

    50,0

    75,0

    %

    Concorda 35,1 53,7 Discorda 52,9 33,4

    No quer trabalhar No encontra trabalho pobre por qu?

    0,0

    25,0

    50,0

    75,0

    %

    Concorda 38,2 56,8Discorda 47,5 29,2

    No quis estudar No teve oportunidade de estudar pobre por qu?

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    A tendncia mais forte de vinculao da pobreza a causas de natureza estrutural, em detrimento da sua associao esfera individual, tem uma implicao para as polticas pblicas. Dessa percepo pode-se depreender que a sada da pobreza no depende apenas de esforos individuais. Ao se afastar da ideia de responsabilizao do pobre pela sua prpria situao, a sociedade reconhece o papel fundamental do Estado no enfrentamento da pobreza, como se ver mais adiante.

    Por fim, mais dois aspectos chamam a ateno na percepo dos brasileiros sobre a pobreza. O primeiro diz respeito relativizao da possibilidade de evitar a pobreza pelo emprego. No obstante a maioria da populao perceba o desemprego como a principal causa da pobreza, eles (70,8%) reconhecem que o maior esforo e o exerccio de um trabalho remunerado podem no ser suficientes para evitar a pobreza, caso a remunerao seja muito baixa, como pode ser constatado no grfico 12.

    Grfico 12 - Percepo sobre as causas da pobreza (%)

    -

    25,0

    50,0

    75,0

    %

    Concorda 37,9 70,8 Discorda 53,1 18,7

    No se esfora Trabalha muito, mas salrio baixo pobre por qu?

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Outro aspecto salientado diz respeito associao entre pobreza e taxa de natalidade. A maioria dos entrevistados tende a concordar que as pessoas so pobres

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    porque tm muitos filhos (grfico 13). curioso observar a predominncia desta viso mesmo com as mudanas demogrficas recentes, em que se nota a queda da taxa de natalidade no Brasil, principalmente entre as mulheres mais pobres; ainda que elas apresentem taxas relativamente mais altas que as mulheres mais ricas. Possivelmente,

    essa percepo resulta de uma confuso quanto relao entre essas duas variveis (pobreza e nmero de filhos). Muito embora as famlias pobres com maior nmero de filhos sejam as mais vulnerveis, no se pode estabelecer uma relao de causalidade entre nmero de filhos e a situao de pobreza.

    Grfico 13 - Percepo sobre as causas da pobreza, natalidade (%)

    0,0

    25,0

    50,0

    %

    Concorda 44,3 44,5 47,6Discorda 40,7 40,9 39,1

    Populao total Pop. At 1/4 SM Pop. Mais de 5 SM pobre porque tem muitos filhos?

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    6. Principais formas de sair da pobreza Quanto percepo de quais as principais formas de sair da pobreza, a mais

    mencionada (31,4%) foi a criao de mais empregos (grfico 14). A segunda resposta com mais apontamentos (23,3%) diz respeito qualidade da educao. Em seguida, aparece a forma associada ao esforo individual, com 10,6%. As referncias a melhorias salariais (salrio maior e aumentar do valor do salrio mnimo) respondem conjuntamente com 16,1%. Ou seja, quase metade da populao (47,5%) fez aluso a questes do mundo do trabalho, seja pela necessidade de mais empregos; seja pela conquista de melhores salrios.

  • 12

    Grfico 14 Principais formas de sair da pobreza (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    Perc

    entu

    al

    Menes (%) 31,4 23,3 10,6 9,2 6,9 5,3 5,5 0,4 4,6 1,5 0,9

    Mais empregos

    Educao de qualidade

    Maior esforo individual

    Ter salrios maiores

    Aumentar o valor do SM

    Formao profissional

    Acabar com a corrupo

    Receber dinheiro do

    Melhorar as polticas

    Planejamento familiar Outro

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Comparando as percepes sobre a forma de sair da pobreza entre pobres e ricos, mais uma vez observa-se que os mais ricos acreditam que o acesso educao de qualidade e o maior esforo individual so as mais importantes formas para superar a probreza. Enquanto isso os mais pobres creem que a existncia de mais empregos mais relevante. Entre os mais ricos, 30,7% mencionaram educao e 18,4% se refeririam oferta de emprego. J entre mais pobres, 46,8% destacaram mais empregos; e 16,2% se referiram educao.

    Grfico 15 Principais formas de sair da pobreza, por renda (%)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    Perc

    entu

    al

    Renda at 1/4 do SM 46,8 16,2 6,8 9,3 8,2 3,4 2,9 0,8 4,1 0,7 0,5 Renda maior 5 SM 18,4 30,7 18,7 8,3 11,0 4,9 1,7 - - 4,0 2,2

    Mais empregos

    Educao de qualidade

    Maior esforo

    Ter salrios maiores

    Aumentar o valor do SM

    Formao profissional

    Acabar com a corrupo

    Receber dinheiro do

    Melhorar as polticas

    Planejamento familiar Outro

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Os diferenciais entre as regies so tambm bastante perceptveis. Na populao do Nordeste, 37,9% destacaram mais empregos; e 22,6% se referiram educao. Para a populao do Sul do pas o que mais importante a educao (23,9%) e o maior esforo individual (23,7%) (grfico 16).

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    Grfico 16 Principais formas de sair da pobreza, por regio (%)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    Perc

    entu

    al

    Nordeste 37,9 22,6 6,0 6,4 6,4 6,2 5,8 0,5 5,2 2,1 0,3 Sul 17,2 23,9 23,7 15,7 6,6 6,3 3,6 - 2,0 0,9 0,2

    Mais empregos

    Educao de qualidade

    Maior esforo individual

    Ter salrios maiores

    Aumentar o valor do SM

    Formao profissional

    Acabar com a corrupo

    Receber dinheiro do

    Melhorar as polticas

    Planejamento familiar Outro

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Portanto, coerente com a percepo sobre causas da pobreza, tambm relativamente fraco o papel atribudo ao esforo individual na percepo acerca da superao da pobreza; somente 10,6% dos entrevistados mencionaram iniciativas relacionadas ao maior esforo individual como o mais importante para sair da pobreza, com algum diferencial entre regies (a populao da regio Sul d muito mais importncia a esse tipo de soluo). Todas as demais respostas envolvem em certa medida uma atuao externa. Isso sugere que, na percepo social, o Estado tem um papel a cumprir para a superao da pobreza, seja no sentido de incentivar mais empregos na economia, seja pela oferta de uma educao de melhor qualidade, como sugerem as duas opinies mais frequentes entre a populao.

    Na tabela 1, a seguir, so apresentados os resultados das opinies da populao sobre algumas outras formas de resolver o problema da pobreza no Brasil. Esses resultados salientam forte crena no impacto do crescimento econmico com gerao de empregos (83,6%), ver tambm grfico 17, das iniciativas relacionadas educao (85,8%) e da garantia de oportunidades mais iguais entre os filhos dos ricos e pobres (86,5%). Por outro lado, as transferncias de renda para as famlias muito pobres so percebidas como de menor impacto. Coerentemente com a viso de que os pobres tm muitos filhos, muitos entrevistados tendem a concordar que, para acabar com a pobreza, preciso que os pobres tenham menos filhos. Alm disso, uma parcela expressiva acredita que no ser possvel acabar com a pobreza.

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    Tabela 1 Formas importantes para acabar com a pobreza (%) Para acabar com a Pobreza preciso:

    Concorda Discorda No C/D

    ... Que o pas cresa e gere mais oportunidades de trabalho 83,6 9,8 6,6 ... Dar dinheiro para as famlias muito pobres 33,2 54,6 12,2 ... Que os pobres tenham menos filhos 64,7 22,4 12,7 ... Dar educao para os filhos dos pobres 85,8 7,3 6,7 ... Garantir que todos os adultos saibam ler e escrever 83,7 7,7 8,4 ... Garantir que o filho do pobre e o filho do rico tenham as mesmas oportunidades

    86,5 6,8 6,6 ... O Brasil no vai acabar com a pobreza 48,5 36,0 15,0

    Fonte:SIPS

    Opinio

    Grfico 17 Crescimento econmico e pobreza, por sexo, renda e regio (%) 84,5 82,6

    8,8 10,8

    -

    50,0

    100,0

    Homem Mulher

    87,5

    74,0

    8,117,8

    -

    50,0

    100,0

    at 1/4 sm mais de 5 sm

    92,6

    59,3

    5,7

    23,2

    -

    50,0

    100,0

    Nordeste Sul

    9,8

    83,6

    -

    50,0

    100,0

    Populao

    Concorda Discorda

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    7. Aes que o governo poderia realizar para acabar com a pobreza Diante das possveis aes que o governo poderia tomar buscando a reduo da

    pobreza, a percepo geral da populao volta-se, primordialmente, para iniciativas no mundo do trabalho (43,5% das menes) que envolvem: aumentar o valor do SM; estimular empresas a contratar pobres; apoiar pequenos agricultores; e apoiar pequenos negcios. A educao vem logo em seguida com 39,4% das menes e que envolve: promover cursos profissionalizantes; dar bolsas de estudos para estudantes; e aumentar vagas nos cursos tcnicos. A habitao foi lembrada por 11% da populao. E, por ltimo, a transferncias de renda, com 6,0%, principalmente com aumentar o valor do PBF e aumentar os beneficirios do programa. Veja no grfico 18, a seguir.

    Grfico 18 Aes que o governo poderia adotar para acabar com a pobreza (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Perc

    entu

    al

    Menes (%) 18,6 11,5 9,2 4,3 18,7 12,0 8,7 4,1 1,9 11,0

    Aumentar o valor do salrio

    Estimular empresas a

    contratar pobres

    Apoiar pequenos agricultores

    Apoiar pequenos negcios

    Promover cursos profissionalizante

    s rpidos

    Dar bolsas de estudos para estudantes

    Aumentar vagas em cursos

    tcnicos do EM

    Aumentar o valor do PBF

    Aumentar beneficirios do

    PBF

    Garantir moradia adequada aos

    pobre

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

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    Existem diferenas de percepo entre pobres e ricos. Para os mais pobres, o fundamental seria aumentar o valor do salrio e em seguida oferecer cursos profissionalizantes, j para os mais ricos seria a garantia de cursos profissionalizantes seguido da garantia de moradia adequada. Eles tambm veem de forma diferente o PBF. Os mais pobres do muito mais importncia ao aumento do valor do PBF que os mais ricos.

    Grfico 19 Aes que o governo poderia adotar para acabar com a pobreza, por renda (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Perc

    entu

    al

    At 1/4 do SM 8,7 16,1 21,0 11,8 12,2 7,1 3,3 9,3 2,0 8,6 Mais de 5 SM 10,2 16,4 15,2 10,9 10,0 1,5 6,6 12,6 0,7 15,9

    Apoiar pequenos agricultores

    Promover cursos profissionalizante

    s rpidos

    Aumentar o valor do salrio

    Dar bolsas de estudos para estudantes

    Estimular empresas a

    contratar pobres

    Aumentar o valor do PBF

    Apoiar pequenos negcios

    Aumentar vagas em cursos

    tcnicos do EM

    Aumentar beneficirios do

    PBF

    Garantir moradia adequada aos

    pobre

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    Tambm existem variaes na percepo entre regies. Para a populao do Nordeste, quase na mesma importncia, o mais relevante seria aumentar o valor do salrio e oferecer cursos profissionalizantes, j para a populao da regio Sul seria a garantia de cursos profissionalizantes seguido da oferta de bolsas de estudos. Outra diferena a grande importncia que a garantia de moradia adequada teve entre a populao do Nordeste.

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    Grfico 20 Aes que o governo poderia adotar para acabar com a pobreza, por regio (%)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Perc

    entu

    al

    Nordeste 11,1 18,1 18,6 10,9 11,8 5,3 3,9 8,9 2,5 8,9

    Sul 10,3 21,5 15,0 16,1 12,3 4,2 7,4 6,1 2,0 5,0

    Apoiar pequenos agricultores

    Promover cursos profissionalizante

    s rpidos

    Aumentar o valor do salrio

    Dar bolsas de estudos para estudantes

    Estimular empresas a

    contratar pobres

    Aumentar o valor do PBF

    Apoiar pequenos negcios

    Aumentar vagas em cursos

    tcnicos do EM

    Aumentar beneficirios do

    PBF

    Garantir moradia adequada aos

    pobre

    Fonte: Pesquisa SIPS Ipea 2011

    8. Observaes finais Como foi destacado no texto, o objetivo deste trabalho foi aferir a percepo da

    populao sobre o problema da pobreza. Em linhas gerais, a investigao constatou que a violncia, insegurana e sade so os principais problemas para a populao brasileira. Entretanto, quando se desagrega os dados para as categorias pobres e ricas verifica-se que a percepo destes grupos distinta, dado que, para os primeiros os principais problemas nacionais esto relacionados com questes de sade, violncia, insegurana e desemprego, ao passo que, para os ricos os problemas fundamentais so a corrupo, sade e violncia/insegurana.

    Esta percepo diferenciada entre as categorias ricas e pobres perpassa tambm para as questes relacionadas com a pobreza. Segundo dados da investigao, pobreza e fome so problemas que esto mais presentes na agenda dos mais pobres. No entanto, h uma percepo comum entre a populao brasileira de que a pobreza vem diminuindo nos ltimos cinco anos.

    No caso da percepo dos determinantes da pobreza, os dados da investigao demostram que esto relacionados com questes mais estruturais que individuais. Entre as questes estruturais destacam-se o desemprego, com maior peso entre as variveis, seguido pelos problemas na educao do pas, a corrupo e, por fim, a m distribuio de renda.

    Em geral, o caminho apontado pela populao nacional para resolver o problema da pobreza no Brasil passa por uma estratgia do governo em promover a expanso do crescimento econmico, pois somente assim haveria condies objetivas para incrementar o produto nacional e, consequentemente, a gerao de renda e emprego. Porm, importante ressaltar que o crescimento econmico em si no resolveria o

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    problema da pobreza no pas. Seria necessrio tambm intervir nas questes da educao, como, por exemplo, promover cursos profissionalizantes; dar bolsa de estudos a estudantes e ampliar as vagas nos cursos tcnicos.

    Notas

    1. Colaboraram para a edio deste SIPS: pela Diretoria de Estudos Sociais do Ipea, diretor Jorge Abraho Castro, Ana Cleusa Mesquita e Maria Paula dos Santos; pela Assessoria Tcnica da Presidncia, Luciana Acioly, Fabio Schiavinatto, Murilo Pires e Andr Calixtre. A reviso do documento conta com a colaborao da Assessoria de Comunicao do Ipea (Ascom).

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