SIstema (des)integrado - Jornal Quatro

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4 QUATRO Florianópolis, março de 2008 CIDADE (Des)integração há cinco anos Quatro vai de ônibus do sul ao norte de Florianópolis para sentir as virtudes e limites do transporte urbano uinze para as seis da ma- nhã. A cortina da noite ainda está fechada no Trevo do Erasmo, que dá acesso aos bairros do Morro das Pedras e do Ribeirão da Ilha. Lentamente, alguns faróis co- meçam a aparecer no horizonte, rompendo a escuridão. São os pri- meiros ônibus que saem do Termi- nal do Rio Tavares em direção aos bairros do Sul da ilha para depois re- tornarem cheios de passageiros. Agora, porém, eles estão vazios, e caminham silenciosamente como atores indo ocupar seus lugares no palco. Seis minutos depois, o ônibus Caieira da Barra do Sul passa pelo tal trevo. Dentro dele estão apenas o cobrador (sentado num banco dos passageiros, dormindo) e o motoris- ta. Faço sinal para que o motorista pare e subo no veículo. O cobrador até abre os olhos quando passo o cartão na catraca, como se surpreso por alguém estar ali a esta hora da manhã. Mas logo volta a dormir. O Caieira da Barra do Sul é uma das linhas mais longas do Sul da Ilha, cobrindo aproximadamente 26km – 21 deles na Rodovia Baldi- cero Filomeno, via que cruza os bair- ros do Ribeirão da Ilha, Freguesia, Caiacanga-Açu e a Caieira da Barra do Sul, por fim. No final da rodovia ainda há um caminho para a praia dos Naufragados – uma comunidade pesqueira. É próximo do início desta trilha que fica o ponto final da linha, aonde o ônibus chega às 6h28, ainda antes do sol nascer completamente. Ali o veículo aguarda desligado, ao som de pássaros e do mar batendo nas rochas até as 6h30. Já é hora de voltar às estradas. A viagem de volta é mais anima- da. Os primeiros passageiros são mulheres que entram dizendo “bom dia” ao motorista. Depois crianças com mochila nas costas e homens começam a entrar, e o veículo, que era um ator silencioso passa a ser um pequeno palco cheio de ruídos, enquanto o motorista dirige a peça e o cobrador (já acordado) recepciona os astros do cotidiano. Seu nome é Michel Ferreira. Ele trabalha há seis anos como cobrador, mas prefere andar de carro ou moto quando não está em serviço. “É mais confortável, não depende de horá- rios. É melhor, principalmente nos finais de semana”, comenta. E esta não é a única reclamação dele, natu- ral de Florianópolis. Michel também acha que o sistema viário precisa ser melhorado antes do transporte pú- blico, e dá uma razão para isto. No dia anterior, ele ficou uma hora na fila para chegar até o Terminal Inte- grado do Rio Tavares. Às 7h20, enfrentando pouca fila, o Caieira da Barra do Sul chega no Tirio, um dos seis terminais urbanos da cidade. Estes edifícios são recen- tes, e foram inaugurados junto com o sistema Integrado de Transporte de Floranópolis, em 2003. Eram nove terminais no início, entretanto três (dois no continente e um no Saco dos Limões) foram desativados. Os que ainda funcionam são os da La- goa da Conceição (Tilag), Trindade (Titri), Canasvieiras (Tican), Santo Antônio de Lisboa (Tisan) e do Cen- tro (Ticen). A não ser o Ticen, todos os outros servem seus respectivos bairros e levam as pessoas ao cen- tro. Dentro deles, é possível tomar outra linha sem pagar nada a mais. Este é a principal vantagem atribuí- da ao sistema integrado – ir para vá- rios lugares pagando uma única pas- sagem, num valor único. Para testar o quanto isto é verdade e conhecer os outros terminais, termino um café rápido numa das lanchonetes do Ti- rio e, às 7h40, entro no ônibus azul que vai para o terminal da lagoa. Ideais Ao contrário do Caieira da Barra do Sul, o Lagoa-Rio Tavares já sai dos terminal com pessoas em pé. Ali dentro, jovens com jaqueta de cou- ro e fone nos ouvidos se misturam com homens calvos de camisa so- cial e pasta na mão, não muito longe de um senhor com roupas simples e uma mala cheia de ferramentas aos pés. De certo modo, o ônibus acaba sendo um local democrático. O que determina quem vai em pé ou sen- tado não é o dinheiro, mas apenas a ordem de chegada ou a pressa. Eliane Golçalvez participa desta rotina há três anos. Todos os dias, ela pega o Lagoa-Rio Tavares, que sai do Tirio às 7h33 ou às 7h40. Sua principal reclamação são os horários desregulados (“o ônibus se atrasa”) e a condição dos veículos. Neste dia, entretanto, o ônibus tem ar-con- dicionado – embora o clima de flori- pa em outubro de 2008 se assemelhe muito ao do inverno. O sol mesmo só aparece entre as nuvens depois das 8h06, quando o Tirio-Tilag che- ga no Terminal da Lagoa. Conforme as horas vão avançan- do, o número de passageiros tam- bém aumenta. O Lagoa-Rio Tavares, que vai até o Terminal Integrado da Trindade, já sai da Lagoa da Concei- ção às 8h19 lotado. Um dos motivos é porque ele passa perto das duas principais universidades da cidade. Isto logo se percebe pelo número de pessoas lendo textos em fotocópias – mas o veículo parece que pertence a outra realidade. É um “ônibus do Surf”, que tem suportes para pran- chas no lugar dos bancos traseiros. Combina bem com o verão de Flo- rianópolis. Agora, porém, os supor- tes azuis com manchas de ferrugem servem apenas de apoio para quem vai em pé. Depois de subir o Morro da Lagoa com dificuldade (sendo ultrapassado por carros, motos e até mesmo por outros ônibus), o Titri-Tilag chega ao Terminal da Trindade às 8h45 – três horas depois do início da via- gem. Pergunto para alguns cobra- dores qual linha posso pegar para ir até o terminal de Canasvieiras. Um deles aponta para um veículo quase saindo. “É aquele ali”, ele diz, antes de eu correr na direção do ônibus. “As vezes a gente chega no pon- to e reclama dos poucos horários – mas não sabe que acabou de passar um ônibus por ali”. É isto o que fala Jelson Luiz Prado, 34 anos – 10 de- les trabalhando como cobrador. Ele acha que a solução para o sistema integrado começa com a organiza- ção das pessoas, com tabela de ho- rários das linhas. Este planejamento é o que o Setuf (Sindicato das empresas de transpor- te coletivo de Florianópolis) chama de “conexão ideal”. Neste transporte hipotético, cada passageiro sairia de sua casa sabendo que horas o ônibus passa no ponto, quanto tempo ele leva para ir até o terminal próximo e a que horas ele pode voltar para casa. Infelizmente, a hipótese não sai do papel por causa da falta de in- formações. No site das empresas, o tempo estimado do trajeto não leva em consideração o tempo gasto nas filas, por exemplo. Além disso, são sites normalmente confusos e desa- tualizados. Outro problema é que muitos mo- toristas não respeitam o horário de saídas. “Freqüentemente saem antes do horário”, desabafa Adiel Mitt- mann, 24 anos, bacharel em Ciên- cias da Computação e estudante de mestrado na UFSC. “Será que não passa pela cabeça deles que alguém pode estar contando que aquele ôni- bus vai estar lá até em determinado momento?”. Deste modo, a conexão ideal não funcionana por falta de uma organização ideal. No limite 9h08. O ônibus chega no Terminal Integrado de Canasvieiras e, mais pelo acaso do que por planejamento, entro na linha Ingleses. Assim como o Caieira da Barra do Sul vai até o extremo sul da Ilha, o Ingleses che- ga perto do estremo norte, passando por praias que ficam movimentadas no verão, até chegar no bairro Santi- nho, aonde faz a volta para retornar ao Terminal. No ponto final, entre- tanto, todos os passageiros devem sair do ônibus, e pela primeira vez, desde o Trevo do Erasmo, piso fora de um terminal. Espero por alguns instantes até que o ônibus volte, e quando passo o cartão pela catraca, pago mais R$ 1,98. Até aqui, a máxima de “ir por toda a cidade com apenas uma pas- sagem” estava funcionando – pelo menos em parte. Gastei apenas uma passagem em todo o trajeto de cin- co ônibus e quatro terminais – mas se saísse dos terminais e tivesse que passar novamente pelas catracas, pagaria outros R$ 1,98 - isto se pa- gasse no cartão. Com o dinheiro, R$ 2,50. Se tivesse que pagar uma pas- sagem em dinheiro para cada ônibus do trajeto, pagara R$ 12,50. Voltando dos Ingleses, chego no Tican e as 10h19 entro no Canas- vieiras Semi-direto, linha que vai até o Centro da cidade, parando nos pontos e no Terminal de Santo Antônio do Lisboa. Com a meta de passar por todos os terminais, desço no Tisan onze minutos depois de ter saído de Canasvieiras, e preciso es- perar 20 minutos até que outro ôni- bus passem em direção ao centro. Embora seja possível ir de uma ponta a outra da ilha sem passar pelo Terminal Integrado do Cen- tro, ele ocupa uma posição central no cenário do transporte público. É dele que saem ônibus para todos os outros terminais e regiões da Ilha e também para outras cidades da re- gião metropolitana de Florianópo- lis, embora elas não estejam dentro do sistema integrado – pelo menos não oficialmente. O ônibus vindo do Tisan chega no Ticen próximo das 11h30. A última linha do trajeto é o Ca- poeiras. Este é o ônibus do sistema integrado que chega mais perto dos limites de Florianópolis – mas ele não se contenta em apenas se apro- ximar. Ele sai da cidade, atravessan- do o portal que dá as boas vindas aos visitantes de São José, dá a volta num quarteirão, pára num ponto e retorna à capital, como um ator que precisa voltar rapidamente para o palco. Este é o mais próximo que Florianópolis chega do transporte intermunicipal integrado. Por volta do meio dia volto ao Terminal Integrado do Centro, seis horas, oito ônibus, seis terminais e 167 quilômetros desde o início da viagem. Embora a reportagem tenha terminado, continuo com os ônibus, na minha rotina. Termino então mi- nha posição de espectador e crítico teatral diante do Sistema Integrado de Transporte Público de Florianó- polis, e volto a ser mais um dos fi- gurantes desta peça cotidiana, entre a tragédia e a comédia. Trevo do Erasmo Ponto final do Ingleses Ponto final do Caieira da Barra do Sul Ponto final do em São José Capoeiras Tilag Tisan Tican Tirio Ticen Titri José Monteiro Júnior Rogério Moreira Do sul ao norte Planejamento dos horários pode ser a solução para os problemas dos passageiros Infográfico: Rogério Moreira Júnior / Quatro 88,4 km é a distância entre o ponto final do Caeira da Barra do Sul e o ponto final do Ingleses, no Norte da Ilha, que pode ser feita com uma passagem. São três quilômetros a menos que o trajeto entre a capital e Balneário Camburiú A integração funciona por 30 minutos - metade do percurso da linha Madrugadão Norte, que dura mais de uma hora 224 mil é o número médio de vezes que as catracas dos terminais da capital giram todos os dias - quase duas vezes a população de Palhoça Se um passageiro pagar duas passagens por dia, 20 dias por mês, vai ter um gasto mensal de cem reais, equivalente a um quarto do salário mínimo

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Página do Jornal Quatro, produzido pelos alunos de Redação IV da Universidade Federal de Santa Catarina, no segundo semestre de 2008.

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4 QUATRO Florianópolis, março de 2008CIDADE

(Des)integração há cinco anosQuatro vai de ônibus do sul ao norte de Florianópolis para sentir as virtudes e limites do transporte urbano

uinze para as seis da ma-nhã. A cortina da noite ainda está fechada no Trevo do Erasmo, que dá acesso aos bairros do

Morro das Pedras e do Ribeirão da Ilha. Lentamente, alguns faróis co-meçam a aparecer no horizonte, rompendo a escuridão. São os pri-meiros ônibus que saem do Termi-nal do Rio Tavares em direção aos bairros do Sul da ilha para depois re-tornarem cheios de passageiros. Agora, porém, eles estão vazios, e caminham silenciosamente como atores indo ocupar seus lugares no palco.

Seis minutos depois, o ônibus Caieira da Barra do Sul passa pelo tal trevo. Dentro dele estão apenas o cobrador (sentado num banco dos passageiros, dormindo) e o motoris-ta. Faço sinal para que o motorista pare e subo no veículo. O cobrador até abre os olhos quando passo o cartão na catraca, como se surpreso por alguém estar ali a esta hora da manhã. Mas logo volta a dormir.

O Caieira da Barra do Sul é uma das linhas mais longas do Sul da Ilha, cobrindo aproximadamente 26km – 21 deles na Rodovia Baldi-cero Filomeno, via que cruza os bair-ros do Ribeirão da Ilha, Freguesia, Caiacanga-Açu e a Caieira da Barra do Sul, por fim. No final da rodovia ainda há um caminho para a praia dos Naufragados – uma comunidade pesqueira. É próximo do início desta trilha que fica o ponto final da linha, aonde o ônibus chega às 6h28, ainda antes do sol nascer completamente. Ali o veículo aguarda desligado, ao som de pássaros e do mar batendo nas rochas até as 6h30. Já é hora de voltar às estradas.

A viagem de volta é mais anima-da. Os primeiros passageiros são mulheres que entram dizendo “bom dia” ao motorista. Depois crianças com mochila nas costas e homens começam a entrar, e o veículo, que era um ator silencioso passa a ser um pequeno palco cheio de ruídos, enquanto o motorista dirige a peça e o cobrador (já acordado) recepciona os astros do cotidiano.

Seu nome é Michel Ferreira. Ele trabalha há seis anos como cobrador, mas prefere andar de carro ou moto quando não está em serviço. “É mais confortável, não depende de horá-rios. É melhor, principalmente nos finais de semana”, comenta. E esta não é a única reclamação dele, natu-ral de Florianópolis. Michel também acha que o sistema viário precisa ser melhorado antes do transporte pú-blico, e dá uma razão para isto. No dia anterior, ele ficou uma hora na fila para chegar até o Terminal Inte-grado do Rio Tavares.

Às 7h20, enfrentando pouca fila, o Caieira da Barra do Sul chega no Tirio, um dos seis terminais urbanos da cidade. Estes edifícios são recen-tes, e foram inaugurados junto com o sistema Integrado de Transporte de Floranópolis, em 2003. Eram nove terminais no início, entretanto três (dois no continente e um no Saco

dos Limões) foram desativados. Os que ainda funcionam são os da La-goa da Conceição (Tilag), Trindade (Titri), Canasvieiras (Tican), Santo Antônio de Lisboa (Tisan) e do Cen-tro (Ticen). A não ser o Ticen, todos os outros servem seus respectivos bairros e levam as pessoas ao cen-tro. Dentro deles, é possível tomar outra linha sem pagar nada a mais. Este é a principal vantagem atribuí-da ao sistema integrado – ir para vá-rios lugares pagando uma única pas-sagem, num valor único. Para testar o quanto isto é verdade e conhecer os outros terminais, termino um café rápido numa das lanchonetes do Ti-rio e, às 7h40, entro no ônibus azul que vai para o terminal da lagoa.

IdeaisAo contrário do Caieira da Barra do Sul, o Lagoa-Rio Tavares já sai dos terminal com pessoas em pé. Ali dentro, jovens com jaqueta de cou-ro e fone nos ouvidos se misturam com homens calvos de camisa so-cial e pasta na mão, não muito longe de um senhor com roupas simples e uma mala cheia de ferramentas aos pés. De certo modo, o ônibus acaba sendo um local democrático. O que determina quem vai em pé ou sen-tado não é o dinheiro, mas apenas a ordem de chegada ou a pressa.

Eliane Golçalvez participa desta rotina há três anos. Todos os dias, ela pega o Lagoa-Rio Tavares, que sai do Tirio às 7h33 ou às 7h40. Sua principal reclamação são os horários desregulados (“o ônibus se atrasa”) e a condição dos veículos. Neste dia, entretanto, o ônibus tem ar-con-dicionado – embora o clima de flori-

pa em outubro de 2008 se assemelhe muito ao do inverno. O sol mesmo só aparece entre as nuvens depois das 8h06, quando o Tirio-Tilag che-ga no Terminal da Lagoa.

Conforme as horas vão avançan-do, o número de passageiros tam-bém aumenta. O Lagoa-Rio Tavares, que vai até o Terminal Integrado da Trindade, já sai da Lagoa da Concei-ção às 8h19 lotado. Um dos motivos é porque ele passa perto das duas principais universidades da cidade. Isto logo se percebe pelo número de pessoas lendo textos em fotocópias

– mas o veículo parece que pertence a outra realidade. É um “ônibus do Surf”, que tem suportes para pran-chas no lugar dos bancos traseiros. Combina bem com o verão de Flo-rianópolis. Agora, porém, os supor-tes azuis com manchas de ferrugem servem apenas de apoio para quem vai em pé.

Depois de subir o Morro da Lagoa com dificuldade (sendo ultrapassado por carros, motos e até mesmo por outros ônibus), o Titri-Tilag chega ao Terminal da Trindade às 8h45 – três horas depois do início da via-gem. Pergunto para alguns cobra-dores qual linha posso pegar para ir

até o terminal de Canasvieiras. Um deles aponta para um veículo quase saindo. “É aquele ali”, ele diz, antes de eu correr na direção do ônibus.

“As vezes a gente chega no pon-to e reclama dos poucos horários – mas não sabe que acabou de passar um ônibus por ali”. É isto o que fala Jelson Luiz Prado, 34 anos – 10 de-les trabalhando como cobrador. Ele acha que a solução para o sistema integrado começa com a organiza-ção das pessoas, com tabela de ho-rários das linhas.

Este planejamento é o que o Setuf (Sindicato das empresas de transpor-te coletivo de Florianópolis) chama de “conexão ideal”. Neste transporte hipotético, cada passageiro sairia de sua casa sabendo que horas o ônibus passa no ponto, quanto tempo ele leva para ir até o terminal próximo e a que horas ele pode voltar para casa. Infelizmente, a hipótese não sai do papel por causa da falta de in-formações. No site das empresas, o tempo estimado do trajeto não leva em consideração o tempo gasto nas filas, por exemplo. Além disso, são sites normalmente confusos e desa-tualizados.

Outro problema é que muitos mo-toristas não respeitam o horário de saídas. “Freqüentemente saem antes do horário”, desabafa Adiel Mitt-mann, 24 anos, bacharel em Ciên-cias da Computação e estudante de mestrado na UFSC. “Será que não passa pela cabeça deles que alguém pode estar contando que aquele ôni-bus vai estar lá até em determinado momento?”. Deste modo, a conexão ideal não funcionana por falta de uma organização ideal.

No limite9h08. O ônibus chega no Terminal Integrado de Canasvieiras e, mais pelo acaso do que por planejamento, entro na linha Ingleses. Assim como o Caieira da Barra do Sul vai até o extremo sul da Ilha, o Ingleses che-ga perto do estremo norte, passando por praias que ficam movimentadas no verão, até chegar no bairro Santi-nho, aonde faz a volta para retornar ao Terminal. No ponto final, entre-tanto, todos os passageiros devem sair do ônibus, e pela primeira vez, desde o Trevo do Erasmo, piso fora de um terminal.

Espero por alguns instantes até que o ônibus volte, e quando passo o cartão pela catraca, pago mais R$ 1,98. Até aqui, a máxima de “ir por toda a cidade com apenas uma pas-sagem” estava funcionando – pelo menos em parte. Gastei apenas uma passagem em todo o trajeto de cin-co ônibus e quatro terminais – mas se saísse dos terminais e tivesse que passar novamente pelas catracas, pagaria outros R$ 1,98 - isto se pa-gasse no cartão. Com o dinheiro, R$ 2,50. Se tivesse que pagar uma pas-sagem em dinheiro para cada ônibus do trajeto, pagara R$ 12,50.

Voltando dos Ingleses, chego no Tican e as 10h19 entro no Canas-vieiras Semi-direto, linha que vai até o Centro da cidade, parando nos pontos e no Terminal de Santo Antônio do Lisboa. Com a meta de passar por todos os terminais, desço no Tisan onze minutos depois de ter saído de Canasvieiras, e preciso es-perar 20 minutos até que outro ôni-bus passem em direção ao centro.

Embora seja possível ir de uma ponta a outra da ilha sem passar pelo Terminal Integrado do Cen-tro, ele ocupa uma posição central no cenário do transporte público. É dele que saem ônibus para todos os outros terminais e regiões da Ilha e também para outras cidades da re-gião metropolitana de Florianópo-lis, embora elas não estejam dentro do sistema integrado – pelo menos não oficialmente. O ônibus vindo do Tisan chega no Ticen próximo das 11h30.

A última linha do trajeto é o Ca-poeiras. Este é o ônibus do sistema integrado que chega mais perto dos limites de Florianópolis – mas ele não se contenta em apenas se apro-ximar. Ele sai da cidade, atravessan-do o portal que dá as boas vindas aos visitantes de São José, dá a volta num quarteirão, pára num ponto e retorna à capital, como um ator que precisa voltar rapidamente para o palco. Este é o mais próximo que Florianópolis chega do transporte intermunicipal integrado.

Por volta do meio dia volto ao Terminal Integrado do Centro, seis horas, oito ônibus, seis terminais e 167 quilômetros desde o início da viagem. Embora a reportagem tenha terminado, continuo com os ônibus, na minha rotina. Termino então mi-nha posição de espectador e crítico teatral diante do Sistema Integrado de Transporte Público de Florianó-polis, e volto a ser mais um dos fi-gurantes desta peça cotidiana, entre a tragédia e a comédia.

Trevo do Erasmo

Ponto finaldo Ingleses

Ponto final doCaieira da Barra do Sul

Ponto finaldoem São José

Capoeiras

Tilag

Tisan

Tican

Tirio

Ticen

Titri

José Monteiro Júnior Rogério Moreira Do sul ao norte

Planejamento dos horários pode ser a solução para os problemas dos passageiros

Infográfico: Rogério Moreira Júnior / Quatro

88,4 km é a distância entre o ponto final do Caeira

da Barra do Sul e o ponto final do Ingleses, no Norte da Ilha,

que pode ser feita com uma passagem. São três quilômetros

a menos que o trajeto entre a capital e Balneário Camburiú

A integração funciona por

30 minutos- metade do percurso da linha Madrugadão Norte, que dura

mais de uma hora

224 mil é o número médio de vezes que as catracas dos terminais da capital giram

todos os dias - quase

duas vezes a população de Palhoça

Se um passageiro pagar duas passagens por dia, 20 dias por

mês, vai ter um gasto mensal de cem reais, equivalente a

um quarto do salário mínimo