Sistema religioso

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O sistema religiosopor Thiago Costa Rodrigues

Seres humanos não sabem como conseguem destruir a si mesmos com seus modos

medíocres de viver, fundando-se em suas próprias ideias que não se baseiam em verdade,

onde a razão não é exigida. Um aspecto de grande relevância é a religião. Estamos tão presos

aos paradigmas religiosos que consideramos estar errados se nossas ideias não concordam

com os ideais dos religiosos e seus conceitos.

Desde pequeno eu aprendi que ir a igreja era encontrar-se com Deus. Aprendi que se

não pertencesse a uma igreja não poderia ser considerado um cristão. Sempre vi que aqueles

que não iam a igreja eram tachados de desviados, de pessoas “longe dos caminhos do

Senhor”. Recentemente descobri que tudo o que eu acreditava a este respeito, e o modo pelo

qual vivia baseado neste conceito são verdadeiros “memes” que estavam tão engendrados em

minha mente que não poderiam me dar qualquer conforto, pois por meio deles eu vivia.

Diante deste fato posso apresentar alguns motivos para não ir a igreja, para não

pertencer ao sistema religioso, e até mesmo para não viver em função dele. Já ouvi frases do

tipo “Eu sei que estou errado por não ir a igreja”, ou então, “Pensando bem eu estou errado

em beber, já que evangélico não deve beber”

O que se apresenta neste artigo serão algumas observações realizadas ao analisar

pessoas que pertencem e pessoas que pertenceram ao sistema religioso, e até hoje carregam

conceitos religiosos em seu modo de viver.

Nossa mente, quando bem treinada, adquire modos de pensar que vão além do

necessário. Tudo isto depende de como somos criados. Não existe nada da sociedade que

herdamos tão bem quanto a nossa condição religiosa. E isto costuma se tornar parte de toda a

nossa vida.

O primeiro problema em se tornar um religioso talvez seja este da alienação ou da

adoção de um paradigma. Para nós se torna fácil acreditar na nossa religião como verdade

absoluta e se esquecer de qualquer coisa que possa substituí-la ou concorrer com ela. Esta

visão paradigmática não nos conduz a verdade, antes ela nos acostuma a um padrão de vida.

Este padrão de vida é o que torna a religião algo fatal. Supomos que eu siga uma determinada

religião, o que me garante que ela é boa? O que a torna verdadeira? O que eu sigo é verdade?

Alguém acostumado com a religião não tem as respostas para estas perguntas, ele nunca se

perguntou sobre isto.

Este fato torna a religião desta pessoa algo frágil, pois ela não possui um fundamento

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sólido. Diante disso, no dia em que o religioso se fizer tais perguntas ele poderá entrar em

crise. E o que é a verdade? Certa vez Jesus teve diante de si esta pergunta, e ela veio de quem

ele menos esperava. Um de seus discípulos que havia andado com ele como amigo intimo,

conhecido verdades até então nunca reveladas para a maioria de seus seguidores, andado lado

a lado com Jesus, faz uma pergunta que obviamente Jesus esperasse que ele possuísse a

resposta. Ou seja, Jesus se decepcionou ao ver que um de seus discípulos andava com ele o

tempo todo e não o conhecia.

É isto que ocorre nas igrejas. Elas estão cheias de pessoas que dizem seguir algo que

não conhecem. E quando forem confrontadas, seja por elas mesmas, ou pelo mundo, elas

verão que não sabem nada sobre aquilo que elas seguem desde crianças. Este é o momento

chamado de crise existencial religiosa. Esta pessoa se verá em um mar de ilusão ao ver o quão

distante está daquilo que ela acredita seguir.

Neste ponto a religião é a principal culpada. Visto que o sistema religioso condiciona

seus seguidores a viver de modo a seguir uma rotina. Ela faz com que as pessoas pensem que

conhecem sua religião, mas na verdade o que fazem é viver uma rotina que as bitola em um

único caminho do qual não conseguem se desviar. A história de que devemos ir à igreja

constantemente, que a Santa Ceia ou a Eucaristia, que representa a comunhão e o sacrifício de

Cristo, é importante, que o importante é nos reunir todos os domingos para adorar a Deus e

sermos edificados pela palavra que será transmitida pelo pastor, isto é o que move o sistema

religioso, e qualquer um que se encaixe nisto é considerado correto, não importando o que o

cristianismo realmente ensine ou como esteja a vida da pessoa ou mesmo se ela esteja

seguindo aquilo que a igreja considera como cristianismo.

Quando nos deparamos com a verdade e vemos que toda a superficialidade religiosa

vivida por anos e ensinada desde sempre é uma grande mentira, temos diante de nós vários

caminhos a seguir. O primeiro passo é a crise, revelada pelo conflito entre o real e o ideal.

Percebemos que estamos longe de ser aquilo que deveríamos ser segundo o que cremos. Neste

ponto podemos nos conformar e ignorar esta crise. O sistema facilita este conformismo, pois

ele nos mostra que a realidade é muito mais forte, ela é a maioria e, por isso, o ideal é uma

grande utopia, algo inalcançável. Ignorando a crise, estaremos construindo uma casa sobre a

areia, que com certeza será derrubada quando vierem as próximas crises. Se ignorarmos as

crises, não mais veremos o ideal como verdade, ou mesmo como possível. No termo crente,

só resta dois caminhos, o desvio da religião ou o ateísmo.

O desvio da religião é não mais seguir a religião, ainda que ele acredite em Deus. Mas

em certo sentido ele seguirá a religião, pois tudo o que ele fizer, ele terá em mente os

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parâmetros que sua religião pregava. Se sua religião pregava que era pecado tomar bebidas

alcoólicas, ele fará isto com a consciência de que está errado e relutante achando-se digno de

castigo pelo seu pecado, ou então fará isto baseado num sentimento de guerra contra Deus ou

contra a igreja, aproveitando o que ele por tempos não utilizou achando que era errado. O que

o desviado pretende na verdade é mostrar o quão a vida sem a igreja é melhor e, por isso, ele é

um religioso às avessas.

O ateísmo consistirá em fazer tudo o que se opõe a sua antiga fé, representa uma

batalha contra Deus e seus ensinos, pois já que se considera o ideal como utopia, ele chega a

conclusão, tirada da própria religião, do sistema, de que Deus na verdade não existe, e que

tudo o que existe é apenas uma forma de fazer as pessoas acreditarem em Deus e, com isso,

tentarem viver uma moral, ou crer que se precisa ter uma moral vinda de Deus, ainda que não

seja seguida, para que a sociedade viva bem, em ordem. O ateu se torna um verdadeiro

inconseqüente, pois não usa a razão para lutar contra a religião e, assim, não mostra a verdade

dos fatos. Antes, o ateu é movido por um sentimento de ódio, de que foi enganado, e por isso,

deseja se vingar da religião usando todas as armas possíveis para derrotá-la, independente da

razão, ou dos fatos.

Estes extremos que chamamos de crises só podem ocorrer com pessoas realmente bem

intencionadas quanto a suas vidas cristãs, ou seja, pessoas que entram em crise são aquelas

que não se conformam com a filosofia da religião e querem viver a verdade do cristianismo.

Porém, devido ao costume, à adaptação com o sistema religioso, estas pessoas podem ignorar

as crises e preferir viver o sistema religioso, correndo o risco de se iludirem e negarem a Deus

ou sofrer sem Deus. O sistema religioso, por sua vez, suga-as até tirarem todas as forças delas,

fazendo com que se decepcionem com a religião e neguem a Deus ou tentem viver de forma

que ele não exista.

O formalismo religioso, os paradigmas, os dogmas e rituais rotineiros são os principais

responsáveis pelo não funcionamento da religião e de sua existência como mera filosofia

moral e não como verdade prática. Todo o sistema prende as pessoas a mentiras e fazem com

que vivam em função delas, sem jamais viver uma verdade, apenas crendo que elas são boas.

É por este motivo, por exemplo, que as pessoas acham lindo ouvir o sermão da montanha

proferido por Jesus, mas impossível praticá-lo, pois elas estão tão entregues ao sistema que

todas as circunstâncias as levam a se conformar diante dos ensinos do sermão. Lembro-me de

que tudo o que vi desde pequeno sobre cada verso do sermão do monte, as explicações dadas,

não mudaram em nada dentro das igrejas, e até hoje escuto as mesmas explicações, por

exemplo, das bem-aventuranças. E como eu, muitas outras pessoas também ouvem, mas para

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nós, já acostumados com o sistema, isto entra por um ouvido e sai pelo outro facilmente.

A maior preocupação dos crentes é que você creia, na realidade apenas diga que crê,

não que você realmente creia, pois não sabem realmente o que é crer, mas contanto que você

diga, pois Deus é apenas um ideal, uma filosofia moral, nada mais que isto, para eles você é

um crente, e por isso será respeitado dentro do sistema religioso. O importante é que você

tenha sua própria fé particular, mesmo que ela não seja uma verdade, mas é inadmissível que

você viva sem fé em um ser superior.

E assim vivemos, crendo num ideal que não precisa ser praticado, apenas crido, apenas

considerado quando acharmos conveniente, algo que deve somente ser ensinado, mas não

vivido. É tudo uma verdadeira mentira, não é real, creiamos na utopia. É assim que

inconscientemente o mundo nos forma, como simples mentirosos filosofando sobre coisas que

nem nós realmente acreditamos, só achamos bom que seja ensinado. Enfim, a religião é

apenas um ótimo legado que podemos deixar para os nossos descendentes.

Que o máximo de pessoas possíveis se liberte do sistema religioso e busque a verdade,

e que a encontre, e que viva em função dela e não apenas a ensine. A verdade, porém, temos

certeza, não se encontra nas igrejas. O que há nelas é mero conformismo. O que se ensina

nelas são simplesmente coisas para ouvirmos, mas que devemos praticar somente se

necessário. É triste ver que tudo na sociedade só funciona assim, na base do “faça o que eu

digo, mas não faça o que eu faço,” pois muitos querem mudar o mundo com suas filosofias,

mas poucos, e apenas os melhores, conseguem viver o que ensinam.