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É o romance da ambigüidade, narrado em terceira pessoa, pelo Conselheiro Aires. Pedro e Paulo seriam “os dois lados da verdade”.

À medida que vão crescendo, os irmãos começam a definir seus temperamentos diversos: são rivais em tudo. Paulo é impulsivo, arrebatado, Pedro é dissimulado e conservador, o que vem a ser motivo de brigas entre os dois. Já adultos, a causa principal de suas divergências passa a ser de ordem política: Paulo é republicano e Pedro monarquista. Estamos em plena época da Proclamação da República, quando decorre a ação do romance.

Até em seus amores, os gêmeos são competitivos. Flora, a moça de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se decidir por nenhum dos dois: é retraída, modesta, e seu temperamento avesso a festas e alegrias.

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A narrativa machadiana vem entrecortada de fatos políticos da história do Brasil: a abolição da escravatura, em 1888, vem aí mencionada opacamente, mas servindo para Paulo tecer considerações nitidamente de sentido republicano

“A abolição é a aurora da liberdade; esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o branco” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 55).

Queda do império e instauração da República, século XIX.

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* AÇÃO O núcleo central do romance gira em torno da rivalidade entre os

dois gêmeos, sendo de fundamental importância aqui também a presença de Flora.

Pedro e Paulo, os gêmeos, filhos de Natividade e Santos, nascem sob o signo de uma profecia: seriam rivais na vida, mas estavam fadados à grandeza: “cousas futuras” - como previu a cabocla do Castelo.

“— Coisas futuras! murmurou finalmente a cabocla.— Mas, coisas feias?— Oh! não! não! Coisas bonitas, coisas futuras!— Mas isso não basta; diga-me o resto. Esta senhora é minha irmã e

de segredo, mas se é preciso sair, ela sai; eu fico, diga-me a mim só... Serão felizes?

— Sim.— Serão grandes?— Serão grandes, oh! grandes! Deus há de dar-lhes muitos benefícios.

Eles hão de subir, subir, subir...” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 12).

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* LUGAR A história se desenvolve na cidade do Rio de

Janeiro, com diversas referências a localidades ainda hoje existentes, como o Morro do Castelo (hoje Esplanada do Castelo), Botafogo, Andaraí e outras. Mas no fim do romance, a ação se desloca, durante algum tempo, para Petrópolis.

* TEMPO Flashbacks; Tempo Intratextual; Tempo Cronológico.

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De acordo com a tipologia de Norman Friedman, o modo de apresentação do romance é ONISCIÊNCIA DO AUTOR-EDITOR.

“O narrador comporta-se como em deus em seu universo ficcional: está em todos os lugares e em todas as épocas. Conhece o que está dentro das personagens e o seu contexto histórico. Este narrador aparece com uma voz narrativa em terceira pessoa” (JÚNIOR, Abdala. Introdução à análise narrativa. São Paulo: Scipione, 1995).

“Hás de lembrar-te que Flora não despegava os olhos dele, ansiosa de saber por que é que a achava inexplicável. A palavra rasgava-lhe o cérebro, ferindo sem penetrar. Inexplicável que era? Que se não explica, sabia; mas que se não explica por quê?

Quis perguntá-lo ao conselheiro, mas não achou ocasião, e ele saiu cedo” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 34).

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Este narrador também interfere na história, fazendo comentários ao longo dela.

“O que a senhora deseja, amiga minha, é chegar já ao capítulo do amor ou dos amores, que é o seu interesse particular nos livros. Daí a habilidade da pergunta, como se dissesse: ‘Olhe que o senhor ainda nos não mostrou a dama ou damas que têm de ser amadas ou pleiteadas por estes dois jovens inimigos. Já estou cansada de saber que os rapazes não se dão ou se dão mal; é a segunda ou terceira vez que assisto às blandícias da mãe ou aos seus ralhos amigos. Vamos depressa ao amor, às duas, se não é uma só a pessoa...’

Francamente eu não gosto de gente que venha adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito com método. A insistência da leitora em falar de uma só mulher chega a ser impertinente” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 45).

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De acordo com a tipologia de Wolfgang Kayser, o romance pode ser considerado um ROMANCE DE AÇÃO OU DE ACONTECIMENTO.

“Romance caracterizado por uma intriga concentrada e fortemente desenhada, com princípio, meio e fim bem estruturados” (KAYSER, Wolfgang. Apud AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1984, p. 685).

Brigas dentro da barriga da mãe; Brigas por causa Flora; Brigas após a morte da mãe e de Flora.

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“E. M. Forster distingue as personagens romanescas em duas espécies fundamentais: as personagens desenhadas ou planas e as personagens modeladas ou redondas” (FORSTER, E. M. Apud AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1984, p. 709).

“As personagens desenhadas são definidas linearmente apenas por um traço, por um elemento característico básico que os acompanham durante todo o texto” (AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1984, p. 710).

“As personagens modeladas oferecem uma complexidade muito acentuada e o romancista tem de lhes consagrar uma atenção vigilante, esforçando-se por caracterizá-las sob diversos aspectos” (AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1984, p. 710).

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Conselheiro Aires Ocupa o centro de toda a narrativa, dada a sua

importância no romance como guia espiritual dos gêmeos. Era estimado e respeitado pela sua conduta ímpar, pela sua hombridade, experiência e dignidade.

Como observa Massaud Moisés, “é um homem de nervos, sangue, cheio de humanidade, de contradição por isso mesmo, dono duma vitalidade incomum à idade e, simultaneamente, duma melancólica e conformista visão da existência”, no que lembra o próprio Machado de Assis.

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Pedro e Paulo São os gêmeos que dão nome ao livro (Esaú e Jacó).

Caracteriza-os uma rivalidade que remonta ao ventre materno, quando já brigavam. Não constituem individualidades autônomas, não passando de símbolos da dualidade do ser humano, na sua natureza complexa e intrincada.

Em um momento do livro os gêmeos são descritos assim:“No valor e no ímpeto podia comparar o coração ao gêmeo

Paulo; o espírito, pela arte e sutileza, seria o gêmeo Pedro” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 127).

Sendo o coração e o espírito, nada além de uma dualidade do mesmo ser.

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A dupla Pedro-Paulo é também um meio de Machado pôr a vivo a situação política dos fins do século XIX, em que igualmente está implícita a ambiguidade humana: Pedro era monarquista (conservador), Paulo republicano (liberal):

“A razão parece-me ser que o espírito de inquietação está em Paulo, e o de conservação em Pedro” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 149).

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Flora É uma personagem que atravessa a sua

curta existência sem perturbar ninguém, sem nenhuma manifestação de natureza ruidosa.

“Flora toca-nos, comove-nos até, mas desaparece mansamente do romance como desaparece mansamente de nossa memória sem deixar maior rasto impressivo, como deixa Capitu para sempre e sempre”.

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Natividade e Santos São os pais dos gêmeos. Ela, esposa dedicada e mãe

extremada, que não hesita em se expor em favor dos filhos, como no caso da consulta à cabocla do Castelo:

“tinha fé, mas tinha também vexame da opinião” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 10).

Ele, comerciante bem sucedido e banqueiro de grande respeito, como toda personagem machadiana. Daí até o baronato foi um pulo:

“...no despacho imperial da véspera o Sr. Agostinho José dos Santos fora agraciado com o título de Barão de Santos” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 38).

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D. Cláudia e Batista São os pais de Flora. D. Cláudia é o retrato

da mulher forte, que subjuga o marido fraco. A fraqueza do Batista e a fortaleza da mulher podem ser vistas no Cap. XLVII, onde Machado coloca a mulher como sinônimo do diabo. O Batista é o tipo do político que quer subir, mas é fraco; D. Cláudia a mulher ambiciosa que quer tudo para o marido, porque serão delas os privilégios e regalias do sucesso e das glórias dele.

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É o que está explícito no próprio título do livro: Esaú e Jacó, figuras bíblicas que rotulam o romance, filhos de lsaac e Rebeca, que se caracterizaram pela rivalidade.

No romance, os irmãos têm nome de Pedro e Paulo, o que evoca os dois apóstolos, também rivais, segundo a explicação do velho Plácido.

A dualidade de Pedro e Paulo deveria ser a personificação dos dois gênios que todos temos dentro de nós. Machado poderia muito bem pegar uma só pessoa e analisar essa complexidade dual, mas não o fez. Preferiu isolar os dois componentes básicos do ser humano: coração (Paulo) e espírito (Pedro), o que torna a obra ainda mais complexa para ser estudada.

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Fidelidade na descrição de situações e personagensA verdade dos fatos é uma das principais preocupações

realistas. Ser fiel àquilo que descreve é uma norma que o escritor realista, tanto quanto possível, procura seguir. O escritor realista encara a realidade direta e objetivamente e procura mostrar o que é, não o que deve ser, como os românticos.

“Não me peças a causa de tanto encolhimento no anúncio e na missa, e tanta publicidade na carruagem, lacaio de libré. Há contradições explicáveis. Um bom autor, que inventasse a sua história, ou prezasse a lógica aparente dos acontecimentos, levaria o casal Santos a pé ou em caleça de praça ou de aluguel; mas eu, amigo, eu sei como as causas se passaram, e refiro-as tais quais. Quando muito, explico-as, com a condição de que tal costume não pegue” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 17).

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Gosto pela análiseA análise é uma característica básica na ficção realista,

principalmente a análise psicológica. Nesta obra, atém-se à análise da complexidade dual do ser humano. Machado procura desvendar e esclarecer os segredos da alma humana, como é o caso do trecho abaixo, extraído do Cap. XCIII:

“Talvez a causa daquelas síncopes da conversação fosse a viagem que o espírito da moça fazia à casa da gente Santos. Uma das vezes, o espírito voltou para dizer estas palavras ao coração: “Quem és tu, que não atas nem desatas? Melhor é que os deixes de vez. Não será difícil a ação, porque a lembrança de um acabará por destruir a de outro, e ambas se irão perder com o vento, que arrasta as folhas velhas e novas, além das partículas de cousas, tão leves e pequenas, que escapam ao olho humano.

Anda, esquece-os: se os não podes esquecer, fazer por não os ver mais; o tempo e a distância farão o resto” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 127).

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Objetividade e impessoalidadeEssa é uma característica que reflete a época do

cientificismo, da precisão, da observação. Ao contrário do Romantismo, no Realismo o escritor não interfere na conduta de suas personagens; tanto quanto possível, ele se afasta delas, desenvolvendo assim uma narrativa objetiva e impessoal.

“Ao cabo, não estou contando a minha vida, nem as minhas opiniões, nem nada que não seja das pessoas que entram no livro. Estas é que preciso por aqui integralmente com as suas virtudes e imperfeições, se as têm. Entende-se isto, sem ser preciso notá-lo, mas não se perde nada em repeti-lo” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 69).

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Narrativa lenta e pormenorizada Se a grande preocupação do escritor realista é

com a análise, claro está que o seu processo narrativo será lento. Os pormenores, detalhes aparentemente dispensáveis, contribuem, por outro lado, para o painel ou retrato da realidade que se quer expor.

“Perdoa estas minúcias. A ação podia ir sem elas, Mas eu quero que saibas que casa era, e que rua e, mas digo que ali havia uma espécie de clube...” (ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990, p. 27).

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As implicações freudianas são claras: o Complexo de Édipo revelado na adoração da mãe faz com que se lancem um contra o outro.

É bom lembrar que Machado de Assis escrevia antes mesmo do termo ser inventado. O mesmo Complexo pode explicar o fato de ambos se apaixonarem pela mesma mulher.

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Ao nomear seu livro como Esaú e Jacó, é possível estabelecer-se logo de partida uma intertextualidade entre a narrativa de Machado e a narrativa bíblica do gênesis sobre os filhos de Isaac.

Há também a relação intratextual, no que se refere ao perfil dos personagens da narrativa

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AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1984.

ASSIS, M. Esaú e Jacó, Ed. Ática, São Paulo, 1990. ASSIS, M. Esaú e Jacó, FTD, São Paulo, 2002. ASSIS, Machado. Esaú e Jacó, L&PM Editores, 2º

Ed., 2004. JÚNIOR, Abdala. Introdução à análise narrativa.

São Paulo: Scipione, 1995. NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. 2. ed.

São Paulo: Ática, 2008.