Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67,...

23
\R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho* Augusto Jobim do Amaral Doutor pela Universidade de Coimbra (Portugal) e Professor de Criminologia da PUCRS. ĂĮƌŵĂĕĆŽ ĚĞ ƋƵĞ ŽƐ ĮŶƐ ĚŽ ƉŽĚĞƌ ƉŽůŝĐŝĂů ƐĞƌŝĂŵ ƐĞŵƉƌĞ ŝĚġŶƟĐŽƐ ĂŽƐ ĚŽ ĚŝƌĞŝƚŽ ƌĞƐƚĂŶƚĞ ŽƵ ƉĞůŽ ŵĞŶŽƐ ůŝŐĂĚŽƐ a eles é falsa. Na verdade, o “direito” da polícia é o ponto em que o Estado - ou por impotência ou devido às inter-relações imanentes a qualquer ordem judiciária - não pode mais garantir, ĂƚƌĂǀĠƐ ĚĂ ŽƌĚĞŵ ũƵƌşĚŝĐĂ ƐĞƵƐ ĮŶƐ ĞŵƉşƌŝĐŽƐ ƋƵĞ ĚĞƐĞũĂ ĂƟŶŐŝƌ Ă ƋƵĂůƋƵĞƌ ƉƌĞĕŽ ;tĂůƚĞƌ ĞŶũĂŵŝŵͿ /yZ /Z ͵ ^^/EdhZ K KEd/DEdK EŽ ƚƵƌďŝůŚĆŽ ƉŽůşƟĐŽ ƋƵĞ ĂůŐƵŵĂ ƉŽƚġŶĐŝĂ ĐŽůĞƟǀĂ ƉƌŽĚƵnjŝƵ Ğŵ movimentos que ainda pouco sabemos nomear, certos traumas parecem ƐĞƌ ĞdžƉŽƐƚŽƐ ĂďşǀĞů ĚĞƐĚĞ ůŽŐŽ ƋƵĞƐƟŽŶĂƌ ƉĂƌĂ ŝŶƚƌŽĚƵnjŝƌ Ă ĚŝƐĐƵƐƐĆŽ ƐĞƌĞŵŽƐ ĐĂƉĂnjĞƐ ĚĞ ŶĆŽ ŶĞƵƚƌĂůŝnjĂƌ Ă ƉŽůŝĨŽŶŝĂ ƋƵĞ ĐĂƌƌĞŐĂ ĐĂĚĂ ŝŶƐƚĂŶƚĞ ƷŶŝĐŽ ĚĞ crise Ğ ŶĆŽ ŶŽƐ ĞŶƚƌĞŐĂƌ ŵĂŶƐĂŵĞŶƚĞ Ă ĂůŐƵŵ ŝŵƉƵůƐŽ ĐŽŶĨŽƌ - ŵĂĚŽƌ ƋƵĞ ĚŽŵĞƐƟƋƵĞ Ă diferença ʹ Ž ŝŶĞƐƉĞƌĂĚŽ ;ĚŽͿ acontecimento 1 , ĂƋƵŝůŽ ƋƵĞ ĚŽ ƉŽƚĞŶĐŝĂů ƐƵďǀĞƌƐŝǀŽ ĚĂ ŵƵĚĂŶĕĂ ŶĆŽ ƐĞ ƉŽĚĞ ĞdžŽƌĐŝnjĂƌ ϭ ZZ/ :ĂĐƋƵĞƐ hŵĂ ĐĞƌƚĂ ƉŽƐƐŝďŝůŝĚĂĚĞ ŝŵƉŽƐƐşǀĞů ĚĞ ĚŝnjĞƌ Ž ĂĐŽŶƚĞĐŝŵĞŶƚŽ ;ƚƌĂĚƵĕĆŽ ĚĞ WŝĞƌŽ LJďĞŶͿ In: Revista Cerrados ;ZĞǀŝƐƚĂ ĚŽ WƌŽŐƌĂŵĂ ĚĞ WſƐͲ'ƌĂĚƵĂĕĆŽ Ğŵ >ŝƚĞƌĂƚƵƌĂ ĚĂ hŶͿ ƌĂƐşůŝĂ s Ϯϭ ŶǑ ϯϯ ;ϮϬϭϮͿ Ɖ ϮϮϴͲϮϱϭ Ύ ƐƚĞ ƚĞdžƚŽ Ġ ĨƌƵƚŽ ĚŽƐ ĚĞďĂƚĞƐ ĂŵƉůŝĂĚŽƐ Ğ ĂƉƌŽĨƵŶĚĂĚŽƐ ŶĂ ŽďƌĂ ĐŽůĞƟǀĂ DZ^ EŽƌŵĂŶ ^Kh ZŝĐĂƌĚŽ dŝŵŵ ĚĞ ;ŽƌŐƐͿ Lógicas de Transformação ĐƌşƟĐĂƐ ĚĂ ĚĞŵŽĐƌĂĐŝĂ WŽƌƚŽ ůĞŐƌĞ ĚŝƚŽƌĂ &ŝ ϮϬϭϯ

Transcript of Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67,...

Page 1: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 119

Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho*

Augusto Jobim do AmaralDoutor pela Universidade de Coimbra (Portugal) e Professor de Criminologia da PUCRS.

a eles é falsa.

Na verdade, o “direito” da polícia é o ponto em que o Estado - ou por impotência ou devido às inter-relações

imanentes a qualquer ordem judiciária - não pode mais garantir,

movimentos que ainda pouco sabemos nomear, certos traumas parecem

crise -diferença acontecimento1,

In: Revista Cerrados

Lógicas de Transformação

Page 2: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 120

-

-

-

um problema em si, oportuniza exatamente o rompimento com processos

--

--

, que prefere acreditar mais no curso inaudito de instantes outros do que em confortáveis escaninhos consensuais. Sobretudo, ser

aprendizado do dizer

da crise-

colmatar o tempo aos julgamentostotalidade.2

Occupy -

--

. Totalidade & Desagregação:

Page 3: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 121

3 -

-

-

4, para que a questão autoimunitária

-

de-5

A OBSCENA SOBERANIA POLICIAL: ESPAÇO POLÍTICO E VIDA NUA

-

-

-

Cambio de epoca:

In: et. al.). Cidades Rebeldes -

razão”. In: A Religião -dade, p. 71 ss..

Page 4: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 122

ensaiar6

intermezzo 7

situado em seu meio”. Não é fácil perceber as coisas pelo meio. O conse--

movimentos (conceito sobre o qual ainda voltaremos) que, para dizer o menos, são (e

-

8 -

contemporâneo9.

de movimentos que podem representar a nu a obscenidade da porno-10

do modelo representativo de uma democracia liberal perpassando até 11 capita-

meio, sem preten-6 Cf. ADORNO, Theodor. “O ensaio como forma”. In: Notas de Literatura I.Paulo: Duas cidades/Ed. 34, 2003, p. 27 ss..

7 KAFKA, Franz. Diarios I (1910-1923)Editores, 1995, p. 04.

Becoming Actors in the Global Age. Che cos´è il contemporaneo?

-

-

-

-

Il Regno e La Gloria: Per uma genealogia teologica dell´economia e del governo. Homo Sacer,

Page 5: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 123

inantecipável. Não obstante, ao que parece, inolvidável que, dentre as

leitura destas pluralidades, onde ex-surge um ponto cego da soberania política: a polícia.

exceção (falamos

-

-

soberania, -

entre a vida nua e .12

toma corpo e a soberania demonstra sua forma de relaçãoque é a da exceção

13

este abandonoem questão este enigma.

Se o campo exposto por vidas matáveis --

Homo Sacer:Editora UFMG, 2002, p. 16.

-In: Documentos de Cultura, Documentos de Barbárie (escritos

et. al.. São Paulo: Cultrix/Editora da USP, 1986.

Page 6: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 124

-negação

das nuances, há um não -do das consensuais demandas por pautas claras impostas aos protestos. Como escreveu Camus14, em seu Homem Revoltado, nestas posturas há

simnão se renuncia, mas se recusa.

--

15

-16, e, por

outro viés simétrico e correlato a este escárnio, existe um não menor auto-

polícia que não fosse civil

17 -

18 (para não dizer de outros estados),

14 Cf. CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. -cord, 2011.

In: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Ano 6, nº 22, 1998, p. 139-182.

-

brasileira de 1988”. In:Paulo: Boitempo, 2010, p. 52.

17 ANISTIA INTERNACIONAL. Informe 2012

:

Page 7: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 125

--

-

-

--

-

doutrina de segurança nacional

-

--

Page 8: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 126

-

-

não restem emudecidos.

-

--

pelo traço que a decisão de uma soberana polícia apenas desnuda, e que -

-

19

como aparelho de Estado na -

--

tradicionalmente desde os “capitães-do-mato” a sociedade brasileira e

-

-

delas foi transferido, transformado e mesmo inovado. Para dizer o menos, -

ca”. In:

Page 9: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 127

--

--

-

-

-mos lidando com a polícia violência soberana.

--

-

-

Page 10: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 128

-

-

-20), necessário é ter em vista,

-

locus -

--

-

-

-

do presidente João Goulart na Central do Brasil, pelo então chefe do Estado Maior do Exército, General Castello

Castello: a marcha para a ditadura. São Paulo, Contexto, 2004, p. 239).

Page 11: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 129

-

-

deste biopoder, radicalmente o oposto: a responsabilidade nos impõe in--

-

-

-ta do Estado, isto não pode ser escondido no anonimato das estruturas de

--

mos, administradores da vida e que atravessam nossos corpos, exatamen-21

-

Seguridad, Territorio, Población

-do Castro menciona, importa destacar duas etapas para aquilo que se compreende como o desenvolvimento da

Page 12: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 130

inteiramente22 ---

-mos nestes processos impessoais, nestes métodos e sistemas que criamos

como viabilizamos e de que maneira estamos implicados nas diversas for-

zonas de indiferenciaçãoconfrontados com uma conclusão radical: de uma maneira mais elementar,

capturados da exceção soberanaex-posição inexorável de todos aos vínculos entre direito e violência, isto

-decisão. Quando

homo sacer parece ausente da cultura contemporânea como tal

-homines sacri 23

obscena promiscuidade do autoritarismo em nossas democracias. Sob a -

-

Lecturas foucaulteanas: La Plata: UNIPE: Editorial Universitária, 2011, p. 15-37 e, sobretudo, ESPOSITO, Roberto. Bíos . Buenos Aires: Amorrortu, 2011, p. 22-72.

22 PELBART, Peter Pál. Vida capital

23 PELBART, Peter Pál. Vida capital, p. 62.

Page 13: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 131

cadinho ubuesco de poder24) apresenta-se a quem normalmente não lhe

--

precisão como um espetáculo carnavalesco reconfortante de consenso).

--

de cada um (mesmo que profundamente arbitrária). Paz, mesmo que

MAL DE POLÍCIA

25, possa ser, muito mais profundo que isto, o ponto

Os Anormais: curso no

trabalho das . In: LIMA, Renato Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. São Paulo: 2013, p. 106-8, dis-

). Apesar de se aludir que tal levantamento possa ter absorvido o impacto

-

em /).

Page 14: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 132

polícia. Justamente, na medida em que o poder soberano é aquele que --

--

-dade da .

. Se o soberano é, de fato, vez mais aquele que, -

26 propriamente é a

-nas

-

(cinicamente não letais, mas apenas para certa clientela), um poder ao mesmo tempo amorfo e metódico, espectral e violento que se realiza

---

baterias criminalizadoras do outro, não pode esquecer que a virtuali-

ainda que o alerta possa ter pouca ou nenhuma ressonância sobre

-ben27

Homo Sacer, p. 23-36.

In:

Page 15: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 133

é ir muito além das cifras28 sobre as quais repousam não apenas os corpos, mas requer tocar as palavras dos mortos pelo sistema penal. Cadáveres si-

29, não apenas pelos limites

-

-

30 que deve advir o dever simultâneo de se extrair a expressão 31

forças de polícia32. A

33 No excesso do trauma deste evento-limite é que se acomoda o

epicentro de uma realidade opaca, acontecimento de uma neutralidade

34, pois ela

In: Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. São Paulo: 2013, p. 126.

La palabra de los muertosEdiar, 2011, p. 06-07.

Lumen Juris, 2010, p. 07-18.

Modernidade e Holocausto1998, p. 37.

na Shoah em ARENDT, Hannah. Eichmman em Jerusalém.das Letras, 1999.

Force de Loi: “Fondement Mys-In: Cardozo Law Review.

Numbers 5-6 , p. 919-1045 (cit., p. 1041).

In: Educação e EmancipaçãoMaar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 119.

Page 16: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 134

concatena

força de polícia força de lei. -

espectralidade acaba por 35 Nada à toa que um dos mais

36 -

desta performance.37

passa por destacar uma violência fundadora (die rechtsetzende Gewalt), violência que conserva (die recht-

serhaltende Gewalt

pro-posição de um momento (não de -

sial” ( )38 itéra-bilité

35 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

-

diferidortemporalização

de.

Force de Loi

Page 17: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 135

“Pois, mais além da intenção explícita de Benjamin, eu proporia a interpretação segundo a qual a violência mesma da fundação ou de po-

(rechtsetzende Gewalt) deve implicar a violência da con-servação (rechtserhaltende Gewalt) e não pode romper com ela. Faz parte

estabelecimento (Setzung) permite e promete, estabelece pondo e pro--

ginário. De pronto, já não há fundação pura ou posição pura do direito e, em consequência, pura violência fundadora, como tampouco há violência puramente conservadora. A posição é já ´iterabilidade´, chamada à re-

-dadora para poder conservar aquilo que pretende fundar. Não há, pois, oposição rigorosa entre a fundação e a conservação, tão somente o que chamaria (e que Benjamin não nomeia) uma diferensial

.”39

-40 ao e do direito desde

-

do direito: em 41 Se a

pro-põe na possibilidade

arruinado e carcomido do direito).42

39 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

41 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

42 DERRIDA, Jacques. Séminaire La peine de mort.Marc Crépon et Thomas Dutoit. Paris: Galilée, 2012, p. 49-50. Sucintamente em DERRIDA, Jacques; ROUDINESCO,

Page 18: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 136

“um elemento de podridão dentro do direito” (etwas Morsches im Recht).43 Para que se leve

do direito, não se deve perder tal momento de decisão excepcional, alu-

44

polícia45 46 O conceito de

de-põe sobre todas 47,

-

não) sob uma estrutura (civil ou não) de modelo militar, não somente nas -

48

-de-põem suas fronteiras reside

-

-

44 DERRIDA, Jacques. Force de Loi

-

obreiros não inteligentes nem trabalhadores Académie des Sciences

em 1838: cf. FREGIÉR, Honoré-Antoine. Des classes dangereuses de la po- Paris: J.-B. Baillière, Libraire de L´Académie

-nio. Raul. La palabra de los muertos

46 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

48 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

Page 19: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 137

tr 49 -

50 “Paradoxo [de] uma iteralibilidade”51

--

52 Quase todo tempo, comporta-se -

ex-posição

-

53

-

ocupa todas as partes, incluso onde não está presente, quer dizer noutros

-

Força de Lei -

51 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

52 DERRIDA, Jacques. Força de Lei, p. 99.

. In: Revista de Estudos Criminais

Page 20: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 138

54

como visto, permite Derrida55

eleva diante disto como espírito: poder que vem de fora, do alto, e que de-

-

-

“Na monarquia absoluta, por mais terrível que seja, a violência po-licial mostra-se tal qual ela é e tal qual deve ser em seu espírito, enquanto a violência policial nas democracias nega seu próprio princípio, legislando

dizer e não aceitar, talvez democracia. Não como

por vir,56 -

demos: é simulta-e a universalidade

do cálculo racional.

55 DERRIDA, Jacques. Force de Loi:

56 DERRIDA, Jacques. O Ouvido de HeideggerPorto: Campos das Letras, 2003, p. 42.

Page 21: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 139

acolhem a possibilidade de serem contestados, de contestar a si mesmos, -

-

tempo que resta.

REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor W.. Educação e Emancipação -

ADORNO, Theodor. “O ensaio como forma”. In: Notas de Literatura I.

Che cos´è il contemporaneo? -tempo, 2008.

Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I.

Il Regno e La Gloria: Per uma genealogia teo-logica dell´economia e del governo -

In: Note

In: Anuário Brasileiro de

Segurança Pública. Ano 7. São Paulo: 2013, p. 106-08.In: Re-

vista de Estudos Criminais

ANISTIA INTERNACIONAL. Informe 2012 – O Estado dos Direitos Hu-manos no Mundo. Londres, 2012.

Page 22: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 140

ARENDT, Hannah. Eichmman em Jerusalém.Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

Modernidade e Holocausto.

. In: Do-cumentos de Cultura, Documentos de Barbárie (escritos escolhidos). Se-

et. al.. São Paulo: Cultrix/Editora da USP, 1986, p. 160-175.

InBUENO, Samira (coords.). Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 7. São Paulo: 2013, p. 120-129.

CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. -nek. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2011.

Lecturas foucaulteanas: una historia conceptual . La Plata: UNIPE: Editorial Universitária, 2011.

CERQUEIRA, Nazareth. “Questões preliminares para a discussão de In:

Revista Brasileira de Ciências Criminais. Ano 6, nº 22, 1998, p. 139-182.-

mites da simples razão”. In A Religião

DERRIDA, Jacques. Force de Loil´Autorité”. In: Cardozo Law Review.

DERRIDA, Jacques. Força de Lei: -dade.

DERRIDA, Jacques. . O Ouvido de Hei-degger

In: Revista Cerrados (Revista

33 (2012), p. 228-251.DERRIDA, Jacques. Séminaire La peine de mort.

Dutoit. Paris: Galilée, 2012.ESPOSITO, Roberto. Bíos Buenos Aires:

Amorrortu, 2011.

Page 23: Soberana Polícia – Travessias das Jornadas de Junho · \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 \ 119 Soberana Polícia – Travessias das Jornadas

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 119 - 141, jan - fev. 2015 141

FOUCAULT, Michel. Os Anormais:

FOUCAULT, Michel. Seguridad, Territorio, Población. Curso en el

Horacio Pons. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2006.FREGIÉR, Honoré-Antoine. Des classes dangereuses de la popu-

. Paris: J.-B. Baillière, Libraire de L´Académie Royale de Médecine, 1840.

KAFKA, Franz. Diarios I (1910-1923).Traducción de Feliu Formosa. Mexico: Tusquets Editores, 1995.

Lógicas de Transformação:

PELBART, Peter Pál. Vida capital:Iluminuras, 2011.

: Becoming Actors in the Global Age.

-In:

252 (novembro), 2013, p. 3-5. – -

-

Totalidade & Desagregação: sobre as fron-

Cambio de epoca: movimientos sociales y po-

La palabra de los muertos: Conferen-. Buenos Aires: Ediar, 2011.

In:. São Paulo: Boitem-

po, 2010, p. 41-76.In:

al.). Cidades Rebeldesruas do Brasil. São Paulo: Carta Maior/Boitempo, 2013, p. 101-108.