Sobpressão#17

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SOBPRESSÃO JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2008 ANO 5 N° 17 Diminuem os casos de AIDS em adultos, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mas ainda persiste o estigma social contra os por- tadores do vírus HIV. Página 9 Os anúncios de jornal ganham a internet. Ela é um complemento que facilita a procura do consu- midor. Classificado da Notícia P. 1 Metas do milênio: conseguiremos alcançá-las? Pe. Lino: defensor das causas justas, luta para dar visibilidade às populações carentes por meio da Anote. Caderno das Organizações P. 2 A violência contra a mulher é o problema feminino que mais preocupa a população brasilei- ra. O Sobpressão mostra como a Agência de Notícias Esperan- ça promove o debate sobre o tema e conta a história de Sílvia Helena, que já sofreu agressão e hoje é ativista de movimen- tos feministas. Caderno das Organizações Páginas 4 e 5 O Sobpressão passa a ter uma edição especial a cada semes- tre. Ela é composta por três cadernos: Fôlego, Jornal das Organizações e Classificado dá Notícia. O jornal torna-se mais informativo e diversificado. Página 2 Covardia Editorial Combate pela divulgação Repaginado Criado em meados dos anos 1960 nos Estados Unidos, o paintball ganha cada vez mais adeptos no Brasil e em Fortale- za, apesar de ser uma diversão cara. Não há contato físico entre os jogadores e o equipamento de segurança é ítem fundamen- tal. Atualmente no município, são cinquenta jogadores com equipamento próprio, entre os quais dez são profissionais. O Sob-pressão explica mais so- bre essa prática, cujo cresci- Adrenalina A prática do Paintball Incentivo Mesmo com alguns avanços, Fortaleza ainda tem grandes desafios pela frente se quiser ajudar o Brasil a atingir as Metas do Milênio. Estabelecidas a partir da Declaração do Milênio, são oito compromissos firmados pelos países membros das Nações Unidas para serem concretizados até 2015. O Sobpressão foi em busca das ações realizadas na Capital para cumprimento dessas metas. FOTO: DIVULGAÇÃO Sem crise Cresce a venda de carros A crise financeira global tem abalado vários setores indus- triais. Mesmo com o corte de custos, desligamento de fun- cionários, dívidas e emprésti- mos milionários, a venda de automóveis continua a mil. No Ceará, o consumidor não se in- timidou com a deficiência de crédito, o que resultou, de ja- neiro a setembro de 2008, na compra de quase 11,5 mil car- ros por mês no estado, segun- do a Fenabrave. Classificado P. 2 Ginástica rítmica cresce no Ceará Presente no estado há 25 anos, a ginásti- ca rítmica ainda tem pouca visibilidade no Ceará. A criação da Federação Cearense de Ginástica, em 2007, e projetos sociais como o “Mão Amiga”, porém, começam a mudar esta realidade e democratizam o esporte, considerado nobre devido aos seus altos custos. Fôlego P. 01 Solidariedade A expectativa de vida aumen- tou para os idosos no Ceará. Segundo dados da Pesqui- sa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a quan- tidade de pessoas com mais de 60 anos aumentou de 618 mil para 815 mil em uma dé- cada. A Pastoral da Pessoa Idosa contribuiu para a me- lhora da qualidade de vida dessa geração, pela qual atua no acompanhamento educa- cional e humano, principal- mente da parcela mais ca- rente. Caderno das Organizações P. 3 Ação voluntária ampara idosos r das para dar lações a Anote. FOTO FOTO FOTO FOTO FO F : DI : DI : DI : DI I I I I D D D VULG VULG ULG LG G LG G G G ULG LG LG G G G G LG VULG LG LG LG LG L VUL VUL VUL U VU VU VU U V V V O O O ÃO ÃO O ÃO ÃO O O ÃO ÃO ÃO O O ÃO ÃO ÃO AÇÃO ÇÃO ÇÃO AÇÃO ÃO ÇÃO O AÇÃO ÃO ÃO O ÃO ÃO O Ã AÇÃ Ã Ã ÇÃ Ã AÇÃ ÇÃ Ã ÇÃ Ã ÇÃ AÇÃ Ã ÇÃ Ã Ã Ã Ã Ã ÇÃ AÇÃ ÇÃ Ã Ã Ã AÇÃ Ã Ã ÇÃ ÇÃ ÇÃ Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç Ç A A A A A A A mento se deve, principalmente, à criação do campo próprio da Asso- ciação Cearen- se de Paintball que agregou aqueles que ti- nham vontade de jogar. Fôlego P.5 FOTO: GABRIELA CARVALHO FOTO: WALESKA SANTIAGO FOTO: CLARA MAGALHÃES FOTO: RONALDO PINTO mento se deve, principalmente, à criação do campo próprio da Asso- ciação Cearen- se de Paintball que agregou aqueles que ti- nham vontade de jogar. Fôlego P .5

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unifor.

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SOBPRESSÃOJORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2008 ANO 5 N° 17

Diminuem os casos de AIDS em adultos, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mas ainda persiste o estigma social contra os por-tadores do vírus HIV. Página 9

Os anúncios de jornal ganham a internet. Ela é um complemento que facilita a procura do consu-midor. Classifi cado da Notícia P. 1

Metas do milênio: conseguiremosalcançá-las?

Pe. Lino: defensor das causas justas, luta para dar visibilidade às populações carentes por meio da Anote. Caderno das Organizações P. 2

A violência contra a mulher é o problema feminino que mais preocupa a população brasilei-ra. O Sobpressão mostra como a Agência de Notícias Esperan-ça promove o debate sobre o tema e conta a história de Sílvia Helena, que já sofreu agressão e hoje é ativista de movimen-tos feministas. Caderno das Organizações Páginas 4 e 5

O Sobpressão passa a ter uma edição especial a cada semes-tre. Ela é composta por três cadernos: Fôlego, Jornal das Organizações e Classifi cado dá Notícia. O jornal torna-se mais informativo e diversifi cado. Página 2

Covardia

Editorial

Combate pela divulgação

Repaginado

Criado em meados dos anos 1960 nos Estados Unidos, o paintball ganha cada vez mais adeptos no Brasil e em Fortale-za, apesar de ser uma diversão cara. Não há contato físico entre os jogadores e o equipamento de segurança é ítem fundamen-tal. Atualmente no município, são cinquenta jogadores com equipamento próprio, entre os quais dez são profi ssionais. O Sob-pressão explica mais so-bre essa prática, cujo cresci-

Adrenalina

A prática do Paintball

Incentivo

Mesmo com alguns avanços, Fortaleza ainda tem grandes desafi os pela frente se quiser ajudar o Brasil a atingir as Metas do Milênio. Estabelecidas a partir da Declaração do Milênio, são oito compromissos fi rmados pelos países membros das Nações Unidas para serem concretizados até 2015. O Sobpressão foi em busca das ações realizadas na Capital para cumprimento dessas metas.

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Cresce a venda de carrosA crise fi nanceira global tem abalado vários setores indus-triais. Mesmo com o corte de custos, desligamento de fun-cionários, dívidas e emprésti-mos milionários, a venda de automóveis continua a mil. No Ceará, o consumidor não se in-timidou com a defi ciência de crédito, o que resultou, de ja-neiro a setembro de 2008, na compra de quase 11,5 mil car-ros por mês no estado, segun-do a Fenabrave. Classifi cado P. 2

Ginástica rítmica cresce no CearáPresente no estado há 25 anos, a ginásti-ca rítmica ainda tem pouca visibilidade no Ceará. A criação da Federação Cearense de Ginástica, em 2007, e projetos sociais como o “Mão Amiga”, porém, começam a mudar esta realidade e democratizam o esporte, considerado nobre devido aos seus altos custos. Fôlego P. 01

Solidariedade

A expectativa de vida aumen-tou para os idosos no Ceará. Segundo dados da Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a quan-tidade de pessoas com mais de 60 anos aumentou de 618 mil para 815 mil em uma dé-cada. A Pastoral da Pessoa Idosa contribuiu para a me-lhora da qualidade de vida dessa geração, pela qual atua no acompanhamento educa-cional e humano, principal-mente da parcela mais ca-rente. Caderno das Organizações P. 3

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mento se deve, principalmente, à criação do campo próprio da Asso-ciação Cearen-se de Paintball que agregou aqueles que ti-nham vontade de jogar. Fôlego P.5

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Desrespeito: as desigualdades sociais, econômicas e culturais; a falta da responsabilidade e respeito pelas diversas formas de vida; e, principalmente, o esquecimento dos valores humanos geram problemas de proporções gigantescas e de reversão difícil, mas não impossível. Com o objetivo de tentar acabar com as mazelas do mundo em alguns anos, as Metas do Milênio têm sido diretrizes das mudanças mais urgentes e um memorando de conscientização global, tanto para os 191 países comprometidos a cumpri-las quanto para toda a humanidade FOTO: WALESKA SANT

Opinião

Meu cotidiano vem se tornando uma correria. O que seria de mim sem meus rituais? Uma escovada aqui, umas bochechadas ali e se vão três minutos de torneira aberta. Ligo o chuveiro. Água quente, por favor. Dez, quinze, vinte minutos. Ótimo! Lavo os cabelos, agora falta o resto do corpo. Acho que só mais trinta minutinhos. Água desperdiçada? Que nada. De onde veio aquela tem muito mais.

Tomando café, a santa tela de todas as manhãs sempre tenta me manter informada. Mais uma matéria sobre os desocupados militantes ambientalistas lutando contra causas impossíveis. Dessa vez, apropriação inadequada por parte de imobiliárias em locais de preservação ambiental. Vê se faz sentido perder tempo com isso! Tomo um gole de café. Mudo o canal.

Ao trocar as pilhas do controle remoto, fi co na terrível dúvida se devo jogá-las no lixo da cozinha, junto com o resto do sanduíche, ou guardá-las para dar outro destino, talvez o mais correto. Já ouvi falar naquela tal de separação de resíduos. Muito detalhista, por sinal. Separar cada tipo de lixo? Coisa de gente que tem tempo de sobra. Claro que joguei no lixo da cozinha. Bem mais perto, mais prático. Junto com todo outro lixo. Afi nal, lixo é lixo..

O telefone toca. É minha cunhada. Ela só me liga em duas ocasi-ões: dizer que pegou uma roupa minha emprestada ou perguntar por onde anda meu irmão. Dessa vez, a notícia era outra, bem diferente, por sinal. “Você vai ser titia!”. Maria Júlia, minha primeira sobrinha. Planos e mais planos. Roupas, berço, mamadeira. Mas o principal parecia ainda nem passar por meus pensamentos. Em que mundo eu quero que Maria Júlia viva? Em um lixo a céu aberto, sem ambientes naturais preservados? Um mundo onde os homens brigarão por água?

Sustentabilidade. A palavra – muitas vezes ignorada até mesmo pelo corretor ortográfi co do word – está tentando fazer parte do meu vocabulário. Aos pouquinhos, como quem bate à porta com um leve toque, só para avisar que chegou, que não vai desistir de entrar tão cedo e que veio para fi car, seu signifi cado está tentando fazer sentido para mim. Obrigada Maria Júlia. O mundo agradece.

Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Crônica

Rotina insustentável

Kelvia AlvesEditorial

Sugestões, comentários e críticas: [email protected]

O que signifi ca estabelecer metas para o desenvolvimento social? Antes de começar a leitura de reportagens sobre As Metas do Milê-nio, é preciso fazer uma análise crítica do que elas representam. A lógica é a do desenvolvimento sustentável, que se tornou chavão no capitalismo. Acreditar nesta perspectiva é crer que pode-se ame-nizar as diferenças sociais em um sistema que depende da explora-ção do trabalho, da pobreza e do meio ambiente para a sua própria manutenção.

As metas de desenvolvimento do milênio foram estabelecidas nos anos dois mil a partir da Declaração do Milênio, da ONU. Esta ocupou um espaço social quando tínhamos uma polarização política real, com a clara divisão do bloco socialista e capitalista.

A metas traçadas na ONU nada representam quando órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a cúpula dos sete países mais ricos do mundo estabelecem metas diferentes para a manutenção da ordem econômica.

Basta ver em que base se dão os acordos de empréstimo do FMI com os países subdesenvolvidos, ou a perseguição dessa instituição a qualquer governo mais progressista que venha benefi ciar os povos explorados.

A real função das metas é alimentar um grande número de ONGs que se propõem a substituir o estado em suas obrigações sociais e traçar um acordo de coalizão de classe. Não, as metas não propõem uma real emancipação humana, no máximo uma crítica social na própria lógica do capital.

Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Artigo Livino Neto

Realmente precisamos dessas metas?

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso

de Jornalismo: Professor Eduardo Freire - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2008.2) - Projeto gráfi co: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Tomaz - Orientação:

Professores Antônio Simões e Eduardo Freire - Revisão: Prof. Carlos Normando - Supervisão gráfi ca: Francisco Roberto - Impressão: Gráfi ca Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Editores adjuntos: Bruno

Anderson, Camila Marcelo, Ivana Moreira, Lucas Abreu, Monique Linhares e Viviane Sobral - Colaboração: Professor Júlio Alcântara

O Sobpressão, a partir de ago-ra, leva mais informação para você. Uma vez por semestre, irá circular uma edição espe-cial do jornal. Ela será distri-buída com os cadernos Fôlego (matérias de caráter esportivo), Jornal das Organizações (pu-blicação que destaca trabalhos desenvolvidos por entidades públicas, privadas e do terceiro setor), Classifi cado dá Notícia (reportagens produzidas a par-tir de classifi cados de jornais).

É necessário lembrar que Fôlego, Jornal das Organiza-ções e Classifi cado dá Notícia eram publicações distintas. Essa fusão, além de facilitar a distribuição desse material, otimiza os recursos investidos na impressão. Embora o novo formato integre projetos de te-mas diferentes, as característi-cas e especifi cidades editoriais de cada um deles mantêm-se inalteradas, como também, a autonomia de cada um.

Trata-se na verdade de um processo de sinergia, no qual as quatro publicações se unem para formar um novo jornal: mais forte, variado e informati-vo. A idéia surgiu da articulação entre a diretoria do Centro de Ciências Humanas, a coorde-nação do curso de Jornalismo

e os professores orientadores do Laboratório de Jornalismo da Unifor (Labjor) com o intui-to de fortalecer ainda mais as produções vinculadas às disci-plinas do Curso.

Com temas mais diversi-fi cados, como esporte, cida-dania, comportamento, meio ambiente, entre outros, o Sob-pressão torna-se mais rico em informações. Dessa forma, desperta um maior interesse nos leitores, atingindo diferen-tes públicos.

A mudança só foi viabiliza-da por conta da reforma efetu-ada neste semestre no Labjor. Além de uma melhor divisão de seu espaço físico, o labora-tório recebeu novos computa-dores e softwares imprescin-díveis para agilizar a produção dos cadernos. Os novos equi-pamentos possibilitaram a consolidação da convergência midiática nesse espaço do cur-so de Jornalismo.

Por isso, as edições também passarão a ser disponibilizadas em formato PDF, via internet e, a partir do próximo semes-tre, os alunos da disciplina de Projeto Experimental em Jornalismo Impresso terão a oportunidade de produzir ví-deos, textos, fotos e áudio para

o blog do Labjor. Continuando a participar de todo o proces-so de produção de material jornalístico, independente do suporte a ser divulgado, numa estrutura bem próxima da apresentada pelos jornais im-pressos da grande mídia.

Além de poder ser acessado de qualquer lugar do planeta pela rede mundial de compu-tadores, o conteúdo impresso produzido por esses futuros jornalistas não fi cará intra-muros desta Universidade. Ele chegará nas redações dos prin-cipais veículos de comunicação do Ceará e nas principais ins-tituições de ensino superior do País.

O Sobpressão e sua equi-pe de repórteres, fotógrafos e editores seguem a tendência mundial dos grandes jornais de convergência midiática sem, obviamente, esquecer de experimentar diuturnamente novas linguagens, concepções editoriais e soluções gráfi cas. Características que esse jornal-laboratório tornaram referên-cia na região Nordeste, sendo inclusive agraciado, pela Asso-ciação Cearense de Imprensa (ACI), com o prêmio de melhor publicação laboratorial do Ce-ará em 2006.

Sobpressão de cara nova

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 2008 3

Embora Fortaleza registre uma redução na taxa de mortalidade infantil, os últimos dados ainda preocupam as autoridades de Saúde do Município

Dely Sátiro

C a p a c i t a ç ã o dos agentes de saúde, aumen-to da cobertura vacinal e acom-panhamento

multidisciplinar da Estratégia Saúde da Família (ESF) são ações implementadas pela Pre-feitura de Fortaleza, em parce-ria com o Governo do Estado, que contribuem para a redução da taxa de mortalidade infantil.

Segundo a Secretaria Mu-nicipal de Saúde (SMS), os dados de 2007 indicam que o número de óbitos em menores de um ano diminuiu para 14,5 mortes por mil nascidos vivos, quando comparado ao do ano de 2004, em que foram regis-tradas 18,5 mortes para cada mil nascidos vivos.

Um dos pilares desse resul-tado é o investimento feito no trabalho domiciliar junto às mães que acabam de ter fi lho, além do serviço voltado ao con-trole de doenças infecciosas e respiratórias. De acordo com a assessora técnica da Célula de Atenção Básica (CAB) da SMS, Andressa Aguiar, o atendimen-to realizado nas residências evi-ta que a população se desloque para unidades secundárias, re-duz os quadros de internação e as situações de emergência.

EstratégiaA fi m de assistir aos mais ca-

rentes, principalmente às crian-ças que vivem em condições precárias, Fortaleza conta com o auxílio de 1.320 agentes co-munitários de saúde, distribu-ídos pelas 318 equipes da EFS. Esses profi ssionais atuam no desenvolvimento de programas educativos para a promoção da saúde e a prevenção das enfer-midades.

“Eles atendem aos pacientes que não podem se locomover até os hospitais e visitam seus lares, repassando orientações sobre hidratação, nutrição, amamentação e vacinação”, es-clarece Andressa.

Desde que aumentou a co-bertura da ESF, Fortaleza regis-trou um crescimento conside-rável da realização do pré-natal. Em 1994, quando havia somen-te 81 grupos, 68% das mulheres grávidas faziam o acompanha-mento. Em 2007, esse percen-tual subiu para 96%.

A agente de saúde Sandra Ferreira conta que sua função, desempenhada diariamente no bairro Cidade 2000, tem aju-dado na descoberta de doenças até então despercebidas pelas comunidades. “Por falta de tra-

tamento adequado e esclare-cimento, muita gente morria. Hoje, através de nossas visitas, fazemos a informação chegar até essas pessoas”, conta.

Como se não bastasse alertar sobre cuidados básicos, a jovem orienta mulheres grávidas a re-alizar todos os testes para anali-sar a situação do bebê. “Muitas vezes, elas não têm a quem re-correr. Me sinto útil em poder ajudá-las”, orgulha-se.

Desafi oHá dez anos, os bebês mor-

riam por doenças evitáveis, como a pneumonia e a diar-réia. Atualmente, estas não chegam a representar 6% das causas da mortalidade infan-til na cidade. O desafi o, ago-ra, segundo as autoridades da Saúde do Município, é com-bater a mortalidade neonatal, que ocorre quando o pré-natal é mal feito, sem qualidade.

Conforme Ana Paula Bri-lhante, representante do Comi-tê de Mortalidade Infantil de Fortaleza, 55% da taxa de mor-talidade infantil são relativas a

mortes ocorridas nesse perío-do. “Apesar de ter aumentado a procura de gestantes para realizar o pré-natal, há uma série de fatores que devem ser melhorados”, explica.

Outra agravante apontada por ela é a falta de leitos nas principais maternidades, que sofrem constantemente com a superlotação. “Embora o acesso já tenha sido facilitado, verifi ca-se ainda uma defi ci-ência no número de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Desse modo, cresce o risco de infecções”, alerta.

Mas, nem tudo é motivo de desespero. Recentemente, a Secretaria da Saúde inaugu-rou a primeira UTI Neonatal da rede municipal. O local es-colhido foi o Gonzaguinha de Messejana.

De acordo com Ana Paula, medidas como essa favorecem o bem-estar do neném e da mãe, além de desafogar outras maternidades.

MetaReduzir em dois terços as

mortes de crianças até 2015 é a quarta meta do milênio, acordo estabelecido, em 2000, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Odorico Monteiro, secretá-rio municipal de saúde, acre-dita que o aprimoramento do trabalho dos profissionais, sejam eles médicos ou agen-tes de saúde, bem como o in-vestimento nas unidades, são primordiais para que Forta-leza alcance tal objetivo.

O secretário faz questão de ressaltar a importância da construção do Hospital da Mulher, que vai aumentar a oferta de serviços especia-lizados e articular as redes assistenciais.

“Continuaremos o proces-so de humanização da ambi-ência e da atenção ao parto e ao nascimento, que são en-tendidos como dois fenôme-nos importantes. Neste sen-tido, estamos capacitando os profissionais e estruturando os hospitais para qualificar a assistência”, conclui, sem disfarçar o otimismo.

Mortalidade infantil diminui

Taxa de óbitos em menores de um ano decresce em Fortaleza, segundo Secretaria Municipal de Saúde

* Atualizado até 03/07/2008

Luiz Neto, pediatra que acompanha de perto a luta de bebês pela vida no Hos-pital César Cals, acredita no alcance da meta do milênio

Sobpressão: Hoje, a maior taxa de óbitos em me-nores de um ano acontece no período neonatal. A que se deve isso?

Luiz Neto: A progressiva melhoria do atendimento permite a sobrevivência de recém-nascidos (RNs) com idade gestacional cada vez menor, mas sua imaturida-de imunológica faz com que adquiram quadros infeccio-sos mais facilmente e com maior gravidade, fazendo com que as Unidades de Tratamento Intensivo Neo-natais tenham as taxas mais elevadas de infecção hospi-talar em relação a outras fai-xas etárias.

SP: Quais as doenças que mais atingem as crian-ças, atualmente, em Forta-leza?

LN: As doenças respira-tórias e infecciosas, como as diarréias, pneumonias e dengue, continuam sendo o grande problema.

SP: Quais os investimen-tos ainda devem ser feitos na área da saúde para dimi-nuir o índice de mortalidade infantil?

LN: Precisamos colocar em prática ações simples de prevenção, como a realiza-ção de exames pré-natais, de vacinação em massa, de programas de atendimen-to à saúde da gestante e do bebê.

SP: Você vive diariamen-te em prol da assistência às crianças. Os hospitais estão melhores equipados para atendê-las?

LN: Sem dúvida houve melhoras em alguns seto-res, mas o Brasil está atra-sado no que diz respeito ao tratamento de doenças congênitas, por exemplo, se compararmos a países de-senvolvidos. Faltam servi-ços de saúde preparados.

SP: Acredita que a meta será alcançada?

LN: Até 2015 é um longo percurso a ser seguido, mas temos que ser positivos. En-tão, sim!

Entrevista

A meta será cumprida?

O acompanhamento antes e após o nascimento do bebê é uma medida importante para salvar vidas FOTO: CLARA MAGALHÃES

Dr. Luiz Neto atende recém-nasci-dos no César Cals FOTO: CLARA MAGALHÃES

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 20084

Dados do Comitê de Mortalida-de Materna de Fortaleza (CMMF) apontam redução de 66,59% no número da razão de mortalidade materna no município

Rachel Lorrayne

Melhorar a saúde da mãe, reduzindo em 75% as taxas de mortalida-de materna até

2015 é uma das oito metas acor-dadas por 198 países em setem-bro de 2000 durante a Cúpu-la do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Em Fortaleza, de acordo com dados do CMMF, de 2004 a 2007, houve uma re-dução de 66,59% no número da razão de mortalidade materna (resultado do número de mu-lheres que morrem por causa materna dividido pelo número de 100 mil crianças que nasce-rem vivas).

Segundo Sílvio Rocha, presi-dente do Comitê, o bom desem-penho se deve principalmente “a implantação do CMMF, a ampliação da Estratégia da Saú-de da Família, a melhoria da as-sistência ao parto, a criação da central de internamento”.

O CMMF é fruto de articula-ção entre a Secretaria Munici-pal de Saúde (SMS), movimen-tos feministas e profi ssionais de saúde. Foi implantado em 2005 e o objetivo é “cobrar a investi-gação dos óbitos de mulheres em idade reprodutiva pelo setor encarregado, estudar os óbitos maternos e defi nir os fatores de evitabilidade, fazer semes-tralmente relatório da razão da mortalidade materna com dados epidemiológicos e todo o perfi l sócioeconômico das mu-lheres que foram a óbito, além das sugestões e proposições

sobre as estratégias de redução dos óbitos”, afi rma Rocha.

De acordo com ele, assim como as gestantes são acom-panhadas através do pré-natal (seis consultas, no mínimo), fazendo exames, tendo assis-tência ao parto humanizado, revisão puerperal e se necessá-rio encaminhamento para ser-viço de risco, os profi ssionais da área são supervisionados por um grupo gestor em cada unidade de saúde, para evitar erros médicos.

Outro ponto forte que contri-buiu para a melhoria da saúde

das parturientes é a mudança de atitude das mulheres. Fátima de Castro, vice-presidenta da As-sociação de Mulheres em Movi-mento (AMM), acredita que elas estão mais ativas. Diferente de antigamente, hoje “as mulheres já fazem uma prevenção de seis em seis meses”, enfatiza ela.

A entidade vem contribuin-do para este avanço através de cursos de capacitação, valoriza-ção da mulher, da participação de reuniões e fi scalização do que acontece com as gestantes do município, junto ao Comitê.

Uma das principais causas

de óbito materno no Brasil e em Fortaleza é a Doença Hiper-tensiva Específi ca da Gestação (DHEG). Não se conhece exa-tamente a sua causa. “Existem teorias que responsabilizam as questões imunológicas, alimen-tação inadequada, baixo nível sócioeconômico, associações com outras patologias e ques-tões genéticas”, esclarece Rocha. Se diagnosticada precocemente, a doença pode ser controlada através de um pré-natal adequa-do e cuidados com a saúde.

A qualidade da saúde da ges-tante não depende somente de órgãos ligados a área da saúde, mas de uma série de fatores que vão desde uma boa alimentação, de moradia adequada e bom ní-vel de esclarecimento a elevação da sua autoestima, englobando todas as instâncias governamen-tais. De acordo com Rocha, os bairros mais problemáticos em relação a mortalidade materna se encontram nas regionais V e VI, onde os índices de pobreza são mais elevados.

Elinalda da Silva teve seu 3º fi lho em novembro deste ano. Ela credita que os cuidados com as gestantes estão bem maiores em Fortaleza.“Estava corren-do o risco de ter um eclampsia (DHEG) e fui acompanhada desde o início. É aí onde vejo a grande mudança”, conclui.

Fortaleza melhora saúde materna

Enquete

“Não. Existem muitas difi -culdades no atendimento. Falta remédio, os recursos são poucos, por isso não melhorou. Além de serem poucos médi-cos, o atendimento que eles dão é muito rápido. A gente era para passar pelo menos vinte minutos na sala com o médico e só passamos três ou quatro. Está faltando muita coi-sa ainda para melhorar.”

Elialda Cabral, 23 anos5º mês da 2ª gestação

“Na minha pri-meira gestação não era ruim, e nessa também não. O pré-natal está ótimo e as doutoras me atendem super bem. Não estou tendo nenhum problema. Uma pessoa, quando vai se consultar, tem que dizer tudo que está sentindo, que é para o médico avaliar e dizer o que é preciso fazer. Do contrário é complicado (o atendimento), então depende muito da gente.”

Ana Lucia Freitas , 29 anos8º mês da 2ª gestação

A saúde materna avançou em Fortaleza?

Na hora do parto, uma fi gura muito importante entra em ação em algumas maternidades e nos Hospitais Distritais Gonzaga Mota (Gonzaguinhas): a Doula. A palavra vem do grego e signi-fi ca “mulher que serve”. Elas não substituem os profi ssionais que farão o parto. Sua função é apoiar física e psicologicamente a ges-tante e os acompanhantes, antes, durante e depois do parto.

Keila Alves, 27 anos, é técni-ca em enfermagem e atua como doula há três anos. Ela conside-ra que a prática é tão boa para as parturientes quanto para quem aderiu a atividade. “Ser doula mudou a minha vida. Eu pus pra fora o meu lado huma-no”, enfatiza.

Para ser doula é necessária a realização de um curso englo-

bando teoria e prática sobre o parto, e ser mãe, já que somente outra mãe consegue entender a gestante nesse momento. Elas não são remuneradas, recebem somente uma ajuda de custo para a passagem e alimentação.

Na visão de Keila, a implanta-ção de doulas em todos os hospi-tais e maternidades de Fortaleza ajudaria a aumentar o número de partos normais, diminuindo ainda mais o índice de mortali-dade materna no município.

A importância das Doulas

Doula: Keila faz carinho na gestante antes do parto FOTO: RACHEL LORRAYNE

FOTO: RACHEL LORRAYNE

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 2008 5

Pacientes apreciam bom atendimento

Assistência integral a gestantes no Nami O Núcleo de Atenção Médica

Integrada (Nami) atende cerca de 220 mães por mês e ajuda a melhorar a saúde materna com um atendimento gratuito e de qualidade

Ivana Moreira e Lucas Abreu

O trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Atenção Mé-dica Integrada vem contri-

buindo com o cumprimento de uma das oito metas para o mi-lênio, que propõe a assistência completa às mães e seus bebês. O Nami dispõe de ambiente e equipe médica capacitados para atender a essas mulheres e lhes dar todas as orientações a respeito da gravidez.

O médico ginecologista e obstetra do Nami, Herlânio Costa, afi rma que em países subdesenvolvidos como o Bra-sil, as ocorrências de morte de mães são maiores no período do pré-natal e nos primeiros dias após o parto. “Os problemas mais recorrentes que afl igem as mães e que nos preocupam são: a anemia; a hipertensão, que pode gerar bebês prematu-ros; as hemorragias, uma delas causada pelo deslocamento da placenta; e as infecções, que podem ser causadas por aborto clandestino, pelo parto normal

Para muitas das pacientes grávidas que vêm ao Nami se consultar, o ambiente e a in-fraestrutura, bem como o aten-dimento, são de ótima qualida-de, se comparados aos serviços públicos. Por ser um serviço gratuito, torna-se de grande benefício para essas mulheres, já que muitas são dependentes dos hospitais e postos de saúde públicos, carentes de um aten-dimento de qualidade

Adriana Góes Pereira, de 32 anos, está na sua terceira gravidez, desta vez, esperando gêmeos, “é muito importante que uma gestante seja acom-panhada durante todo o perí-odo”, afirma. Ela, que já teve pressão alta, foi encaminhada ao Núcleo pelo posto no qual era atendida, por precisar de cuidados especiais. “Já estou com 32 anos e na espera de gêmeos, dois de uma vez só. Minha barriga está muito pe-sada. Pela delicadeza e pelos riscos da situação, sugeriram que eu viesse para cá. Espe-rei mais de uma hora, mas o atendimento é muito bom. Agora, estou aguardando ser atendida pela assistente so-cial, para ver o que ela pode fazer por mim”, diz Adriana.

Ana Carla de Sousa, 21

No Nami as gestantes têm atendimento gratuito e de qualidade, geralmente elas são encaminhadas de postos de saúde FOTO: WALESKA SANTIAGO

Grávida pela terceira vez, Adriana Góes espera atendimento acompanhada de sua família FOTO: WALESKA SANTIAGO

anos, grávida de 9 meses, destaca a qualidade do aten-dimento em relação aos pos-tos de saúde e hospitais pú-blicos. “O Nami é diferente porque aqui espero menos, o médico é mais capacitado e recebo meus exames mais rapidamente, como esse, que fiz na terça-feira e já recebi hoje, quinta”, afirma. Ana

Carla foi se consultar para refazer alguns exames feitos anteriormente em um posto de saúde. “Lá, meus exames acusaram hepatite. Me man-daram para cá para que eu refizesse esses exames e para que recebesse o tratamento correto”, diz.

A paciente Francisca Eu-gênia Monteiro, 31 anos,

grávida de 7 meses, sentiu dores na barriga, azia e ar-dores ao urinar. Por essas razões foi encaminhada ao Nami para a realização de exames. “Quando sou atendi-da aqui, fico mais tranquila, pois as consultas são exce-lentes”, disse, ao apresentar seus exames ao ginecologista Heuvécio Neves.

Na área de ginecologia e obstetrícia, o Nami recebe jovens e mulheres gestantes nas segundas e sextas-feiras pela manhã, nos horários de 8h às 12h. À tarde, nas terças, quartas e quintas-feiras, o atendimento acontece das 14h às 18h.As consultas são efetuadas por ordem de chegada e exigem da paciente a apre-sentação de documentos de indentifi cação e do número de transição do seu posto de saúde.

Para maais informações aces-se o site www.unifor.br ou ligue para 3477 - 32 47

Saiba mais...

Como e quando ser atendida no Nami

ou pela cesariana”, afi rma.Para se conseguir diminuir

as mortes maternas devido a esses fatores, é aconselhável que cada mãe tenha um acom-panhamento de 6 consultas por médicos capacitados no pré-natal, nas quais teriam in-formações importantes para se cuidarem e fazer todos os exa-mes necessários.

Em relação ao acompanha-mento pós-parto, a estratégia principal diz respeito às con-sultas, tanto para a mãe como para o bebê. As mães devem ter

a primeira consulta por volta de sete dias após o parto, enquan-to que a consulta principal é por volta dos 42 dias, período em que acabam as alterações fi sio-lógicas causadas pela gravidez. Vale ressaltar que no pós-parto há maior probabilidade de as mães apresentarem os mesmos riscos existentes durante os nove meses de gravidez.

“Essas pacientes que costu-mam negligenciar as consultas apresentam um risco maior de desenvolver trombose, como também desenvolver eclâmp-

sia, mesmo no período pós-parto”, enfatiza o médico.

A gestante de quatro me-ses, Jardenes de Alencar, de 23 anos, é uma das várias pa-cientes que vêm ao Nami. Sua situação era delicada, pois já tinha tido duas ameaças de aborto, motivo pelo qual foi transferida do seu posto de saúde. Sobre as instalações e o atendimento, Jardenes não tem dúvidas de que o serviço é muito bom.

Pacientes que correm riscos de apresentar aborto espon-

tâneo também são comuns. “Aqui nós procuramos diag-nosticar os riscos com base em abortamentos já ocorridos, de forma a prevenir os riscos de um novo aborto e diagnosticar o anterior”, destaca Dr. Costa.

É um centro de atenção secundária, que recebe casos leves que podem vir a ser gra-ves. Lá são realizados todos os exames para evitar maiores complicações, mas no caso de o problema ser diagnosticado, dependendo da gravidade da situação, as mães são enca-minhadas para locais como o Hospital Geral de Fortale-za, Maternidade Escola Assis Chateaubriand e Hospital Cé-sar Calls, unidades considera-das de atenção terciária.

O Nami foi criado em 1978, sete anos após a criação da Universidade de Fortaleza e desde então presta aten-dimento gratuito e de alta qualidade para as populações carentes, sobretudo para a co-munidade do Dendê.Outros serviços que são disponibi-lizados são correspondentes à enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocu-pacional, além da ginecologia e obstetrícia. O Núcleo já foi premiado em julho de 2007 com a certificação de Em-presa Ouro em Esterilização, pela empresa 3M do Brasil, demonstrando excelência no processo de limpeza e esteri-lização do ambiente.

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A dupla jornada feminina é exemplo de força e dedicação. Porém, as desigualdades entre os gêneros ainda permeiam o campo social e no mercado de trabalho.

Jéssica Petrucci e Vicky Nóbrega

A igualdade entre os sexos e a valorização da mulher é uma das Me-tas do Milênio,

desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU). Até 2015, todos os 191 estados-membros assumiram, entre outros compromissos, promo-ver a autonomia das mulheres. Atualmente, elas têm assumido papéis variados na sociadede.

Isso é o que apresenta a Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílios (Pnad), rea-lizada em 2007, pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Esta-tística (IBGE), a qual mostrou que no Brasil, há cerca de de-zenove milhões de brasileiras chefes de família. Número que somente no Ceará é de 759 mil, ou seja, mais de 10% das cearenses assumem o coman-do de casa.

A Pnad mostrou, ao anali-sar o rendimento dos chefes de família por gênero, que do total de mulheres que são che-fes de família no Ceará, cerca de 46,2% possuem rendimento mensal per capita de até meio salário mínimo (valor conside-rado linha de pobreza), contra 48,5% das comandadas por ho-mens. Portanto, o dado revela que há um maior número de famílias chefi adas por homens vivendo em piores condições.

Mas, dados sobre o cuida-do com os afazeres domésti-cos mostram, de acordo com a Pnad, que o tempo que as mu-lheres dedicam ao trabalho do-méstico é maior do que o dos homens.

Chefes de famíliaAs mulheres que trabalham

fora de casa, quando compara-das a homens cônjuges desocu-pados (não possuem trabalho nem ocupação), dedicam nove horas a mais por semana ao trabalho doméstico. Isso de-monstra que a mulher ainda é a maior responsável por tarefas que tradicionalmente só seriam feitas por ela, como cuidar da casa, dos fi lhos, da família em geral e de tudo relacionado ao âmbito doméstico, ou seja, a mulher, hoje, está assumindo novos papéis sociais, mas ainda mantém os tradicionais.

Eliene Ferreira Vieira, 34 anos, enquadra-se no grupo de mulheres citado. Empre-gada doméstica, viúva e mãe, conta que, depois da morte do

marido, as coisas fi caram mais complicadas, pois teve que procurar trabalho para conse-guir sustentar os dois fi lhos. Eliene trabalha de segunda a sábado, das sete horas da ma-nhã às cinco horas da tarde. Ganha um salário mínimo (R$415) que, somado à pensão recebida pela morte do mari-do, gera uma renda de R$500. Ela afi rma que, apesar de ser difícil, gosta de comandar a casa sozinha, assim como edu-car os seus fi lhos. “Eu preciso dar conta de tudo: colégio, saú-de, alimentação, roupa, diver-são... É tanta coisa! Mas acho até melhor, porque eu tenho as minhas coisas do jeito que eu quero”, destaca.

Para outras mulheres, con-ciliar casa e trabalho não é só necessidade, mas realização pessoal. É o caso de Odeth Me-nescal, 44 anos, formada em Administração e empresária há mais de dez anos. Casada e com três fi lhas adolescen-

tes, diz que cuidar de tudo “é um pouco trabalhoso, porém muito prazeroso. É muito bom ver os fi lhos crescendo e poder acompanhar cada passo que eles alcançam. Ao mesmo tem-po que crescer profi ssional-mente me deixa cada vez mais realizada”.

No entanto, segundo Cris-tiane Faustino, representante do Fórum Cearense de Mulhe-res, é sobretudo as mulheres pobres que enfrentam de for-ma mais perversa as difi cul-dades, e elas estão em todos os segmentos. Ela afi rma que as desigualdades e os proble-mas femininos no trabalho, no meio familiar, por exemplo, não serão resolvidos somente com a criação de projetos, pois é preciso que se interfi ra na própria lógica de se fazer po-lítica, não sendo possível pro-mover a inclusão das mulheres sem políticas de qualidade vol-tadas para a saúde, moradia, segurança pública, sem preo-cupação sócioambiental, sem interferência nos processos de educação que levem em conta as desigualdades de gênero e as

múltiplas outras formas de dis-criminação presentes em nos-sa sociedade, como o racismo, o machismo e a homofobia. “É importante destacar ainda que as políticas afi rmativas colabo-ram, mas não são sufi cientes para a consolidação da igual-dade de gênero e da valoriza-ção da mulher, como propõe a meta do milênio”, afi rma.

Faustino defende que para a meta do milênio ser alcança-da é preciso inicialmente que a política seja renovada, ga-rantindo a participação demo-crática de todos os segmentos da sociedade em decisões re-ferentes à nossa cidade e país. No caso das mulheres, isso é ainda mais importante, pois o gênero foi historicamente negado nos espaços de poder que defi nem os rumos da so-ciedade. Além disso, segundo Faustino, é preciso que ocor-ram mudanças nas estruturas da sociedade, que atualmente são tão desiguais.

Mulher no campoNazaré da Silva, 48 anos,

faz parte das muitas mulhe-

res que trabalham na zona rural do Ceará. A atividade tradicionalmente masculina é, cada vez mais, exercida pe-las mulheres. Ela explica que desde pequena é agricultora e que não sabe e nem quer fazer outra coisa na vida. Diz tra-balhar de sol a sol e que não deixa de ir plantar nem um dia sequer, pois a sua família depende do seu trabalho para sobreviver.

Segundo Nazaré, em Pa-cajus, município onde mora, ela não sofre nenhum pre-conceito por trabalhar, pois “aqui a gente não é mal vista não, porque aqui toda mulher é agricultora”. Nazaré diz sa-ber dividir bem o seu tempo entre trabalhar, cuidar dos filhos e dos afazeres domésti-cos. Além de não esquecer da beleza, como qualquer outra mulher. “Sempre que eu vou plantar ou colher, não esque-ço do meu chapéu e de colo-car uma calça e uma blusa de mangas compridas, porque a gente tem que se cuidar, né? O sol acaba com a nossa pele”, explica sorrindo.

759 mil mulheres são che

Cristiane Faustino

É importante destacar que as políticas afi rmativas não são sufi cientes para a consolidação da igualdade de gênero e da valorização da mulher

Representante do Fórum

Cearense de Mulheres

Mãe, empresária e esposa. Odeth Menescal se desdobra para dar conta do trabalho, da casa e da família FOTO: MILLENE HAEER

Vera Tomé

Vera Tomé, 47 anos, é uma das muitas mulheres que conquistaram o seu espaço e a sua independência fi-nanceira através do seu tra-balho. Graduada em Medi-cina Veterinária, funcionária pública, mãe de três filhos e divorciada, Vera declara que se considera uma supermu-lher por conseguir cumprir todas as suas tarefas, como trabalhar oito horas por dia, educar os filhos, cuidar da casa, ir ao supermercado e ainda arranjar tempo para ir à academia. Ela afirma que suas maiores conquistas como mulher foram ter con-seguido educar bem os seus filhos e ter conquistado a sua liberdade financeira.

Exemplo de mulher contemporânea

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efes de família no Ceará

A Prefeitura de Fortaleza, por meio de sua Coordenadoria de Políticas para as Mulheres, tem como estratégia fortale-cer as mulheres e reconhecê-las como sujeitos políticos que possuem direitos, para assim alterar as relações de desigualdade entre mulheres e homens. De acordo com a representante da coordenado-ria, Raquel Viana, esta pode ser tida como a função real da enti-dade cujas ações desenvolvidas focam cinco áreas principais: Saúde, Direitos Sexuais e Di-reitos Reprodutivos; Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres; Educação e Cultura não discriminatória; Prevenção e Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; e Partici-pação e Controle Social.

Uma dessas ações é o Pro-jeto de Inclusão Produtiva para Mulheres do Bolsa Famí-lia, fundado em dezembro de 2007 e pioneiro em Fortaleza, que, em parceria entre a Pre-feitura e o Governo Federal, busca capacitar 1.500 mulhe-res até o fi m do projeto, em dezembro de 2008. A fi m de inserí-las no mercado de tra-balho e torná-las fi nanceira-mente indepentes, a capacita-ção se direciona nas áreas de construção civil, tecnologia da informação, bombeira hidráu-lica, eletricista, alimentação e confecção.

A doméstica Lucivanda Pe-reira, de 20 anos, afi rma ter aprendido bastante no curso de eletricista e busca a pro-fi ssionalização para exercer a profi ssão. Segundo Lucivan-da, a sua vida mudou por ter aprendido mais sobre o assun-to e o que antes lhe causava medo já não o faz mais. “An-tes do curso morria de medo de mexer em qualquer coisa elétrica e fi car grudada com o choque que eu podia levar”, revela. A doméstica reconhece

a importância do curso para sua vida e aconselha: “todo mundo tem que passar por uma experiência assim”.

A coordenadora do Inclu-são Produtiva, Cleudes Pessoa, explica que esse projeto é uma ação complementar ao progra-ma Bolsa Família, já que “visa dar possibilidades para uma autonomia fi nanceira e inclu-são no mercado de trabalho através de cursos de qualifi -cação profi ssional e técnica”. Assim as mulheres deixarão a condição de apenas receber a gratifi cação do Bolsa Família.

Para a representante do Fó-rum Cearense de Mulheres, Cristiana Faustino, não fi ca claro que a prefeitura busca cumprir a meta especifi camen-te, apesar das ações mudarem a vida das mulheres. Faustino ressalta a importância de al-gumas iniciativas municipais como a Coordenadoria de Mu-lheres, a criação do Centro de Referência Francisca Clotilde e a Casa Abrigo de Proteção para Mulheres, o ainda futuro Hospital da Mulher, as con-ferências de políticas para as mulheres e, por fi m, o Orça-mento Participativo. Apesar de todas as ressalvas, Fausti-no defende que as ações não solucionam o problema e se tornam, com o tempo, “letras mortas” já que “a maioria de-las não têm garantia de sus-tentabilidade, uma vez que se tratam de políticas de governo e não de Estado”.

Já Viana é otimista ao fa-lar sobre a concretização da valorização da mulher e de-fende que existem duas atitu-des necessárias para que isso seja alcançado: “o reconheci-mento da desigualdade entre mulheres e homens e o com-promisso com a superação dessas desigualdades para, a partir daí, pensar estratégias e alternativas”.

Prefeitura realiza ações para valorizar mulheres

Pedreiras: construção civil é um dos cursos oferecidos para elas FOTO: ARQUIVO DA PREFEITURA

A socióloga Rosa da Fonseca, in-tegrante do movimento social Crí-tica Radical, discorda da meta refe-rente à igualdade entre os sexos e não acredita que será alcançada.

Sobpressão: O que a se-nhora pensa sobre a mulher contemporânea?Rosa da Fonseca: Para avaliar a situação da mu-lher hoje em dia é preciso entender a que situação o sistema produtor de merca-doria [Capitalismo] relegou as mulheres. O que esse sis-tema fez foi submeter todas as relações humanas, sociais e com a natureza à lógica da valorização do valor [mone-tário]. Ou seja, se colocou as pessoas para trabalhar para produzir mercadoria para vender com o objetivo de va-lorizar o valor de reproduzir o dinheiro. A produção deixa de ser voltada para a realiza-ção de necessidades huma-nas e passa a ser a valoriza-ção da produção de dinheiro. Essa atividade foi delegada no primeiro momento, prin-cipalmente, aos homens. Às mulheres foi dada a condi-ção de cuidar de todas as outras atividades que não se colocam no âmbito do tra-balho, atividades tidas como subalternas e exclusivas das mulheres. Isso passou a es-tabelecer separação entre os sexos: o homem traz dinhei-ro para casa e a mulher cui-da do resto. E nós, mulheres, buscamos a emancipação nos incorporando ao mercado de trabalho numa situação ex-tremamente degradante até hoje.

SP: Isso é positivo ou nega-tivo?RF: É extremamente con-traditório, porque se por um lado representou uma total emancipação da mulher no âmbito privado, significou a total submissão da mulher no âmbito público. E, como todas essas atividades per-maneceram determinadas para cada sexo, aconteceu o que chamamos de tripla jor-nada de trabalho. Como não tinha como dá conta do tra-balho e da família ao mesmo tempo, todos os problemas que surgiram no âmbito pri-vado passaram a ser de res-ponsabilidade das mulheres. SP: O que a senhora acha dessa meta sobre a valoriza-ção da mulher e igualdade entre os sexos prevista para 2015?RF: Não existe a menor pos-sibilidade de isso acontecer dentro da lógica do sistema capitalista. SP: E como poderia aconte-cer?RF: A tecnologia já possi-bilita a redução da jornada de trabalho, permitindo que homens e mulheres se arti-culem para cuidar dos filhos em períodos determinados. Na pré-modernidade, as mu-lheres não eram discrimina-das por desenvolver ativida-des de cuidado com a vida, pelo contrário, eram pres-tigiadas por isso. Essa coisa de ser subalterna porque não produz dinheiro, é coisa da modernidade. Hoje, todas as nossas relações são baseadas

pelo dinheiro. Por isso, as relações entre pessoas apa-recem como relações entre as coisas, e as relações entre as coisas aparecem como re-lações sociais. Só é possível melhorar construindo uma relação social em que a pro-dução vise atender às neces-sidades humanas, sem bus-car o lucro, porque não tem como superar a dissociação entre os sexos nos marcos desse sistema.

SP: Assim haveria igualda-de entre os sexos?RF: Igualdade? Em que nós queremos nos igualar aos homens? Para sermos, também, totalmente subme-tidas a essa lógica? Temos que pensar numa igualdade entre seres humanos, numa relação solidária. Temos que pensar numa sociedade hu-manamente diversa, mas so-cialmente igual, totalmente desfetichizada, sem nenhum fetiche de consumo e ecolo-gicamente equilibrada.

SP: Na sua opinião essa meta não vai resolver nada?RF: Não. Temos que eleger uma nova meta: Construir uma sociedade desfetichi-zada. A sociedade da eman-cipação humana. Uma so-ciedade em que homens e mulheres possam, juntos, assumir o próprio destino, o que produzir, como ter aces-so aos bens produzidos... Temos que ter a capacidade de nos organizar autonoma-mente, conscientemente e coletivamente.

Entrevista com Rosa da Fonseca

“Em que nós, mulheres, queremos nos igualar aos homens?”

Rosa da Fonseca defende uma sociedade humanamente diversa, mas socialmente igual FOTO: VICKY NÓBREGA

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A meta é até 2015 universalizar o acesso ao Ensino Fundamental de qualidade. Na Capital, a univer-salização do ensino fundamental é reconhecida, mas a qualidade...

Livino Neto

Defi nir metas nunca é sim-ples, ainda mais quando estas são relati-vas à educação.

Primeiro porque os dados esta-tísticos – e são estes que repre-sentam se a meta foi cumprida ou não – raramente conseguem expressar de fato uma realida-de social; segundo, a difi culda-de de se estabelecer o que é um ensino básico de qualidade .

A principal crítica do Sin-dicato dos Trabalhadores da Educação (Sindiute) ao ensino público fundamental é, segun-do Gardênia Baima, da direção colegiada do Sindiute, que o governo municipal está mais preocupado em expor dados estatísticos do que garantir a permanência do estudante na escola e com a qualidade de ensino.

Para a sindicalista, Fortale-za, neste último mandato mu-nicipal, apresentou algumas boas modifi cações na rede de ensino, como a construção de novas escolas e o fornecimento de material didático e farda-mento. No entanto a condição do trabalhador da educação ainda é precária. Segundo o sindicato, em vez do investi-mento na sua capacitação, ga-rantindo assim um maior ren-dimento do professor em sala de aula, o que se tem é uma grande cobrança por dados es-tatísticos.

Não à toa o sindicato vem re-alizando uma série de atos, os quais, segundo Gardênia, vem

contando com amplo apoio da base docente. A principal pau-ta levantada pelo Sindiute é o piso salarial em R$ 950,00 e a disponibilidade de 1/3 das ho-ras aulas disponíveis para ati-vidades extraclasses.

Números ofi ciaisSegundo dados disponibili-

zados pela assessoria de comu-nicação da Secretaria de Edu-cação do Município, “Fortaleza é a terceira maior rede de en-sino do país com mais de 240 mil alunos matriculados em turmas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educa-ção de Jovens e Adultos”. Refe-rente à estrutura, o município

tem 423 unidades escolares, sendo que 262 são escolas pa-trimoniais, 61 anexos escola-res, oito escolas especiais e 92 creches, tendo a última gestão garantido 561 novas salas de aula, em escolas reformadas ou construídas.

A Prefeitura de Fortaleza também exalta outros feitos, como a qualidade da merenda escolar e a disponibilidade de transporte escolar para a rede pública. Afi rma ainda ter me-lhorado a condição de traba-lho do profi ssional da educa-ção no município, garantindo melhores salários, a promoção por titulação e a contratação de novos profi ssionais, sem

contar que os mais de duzen-tos mil estudantes da rede, hoje, possuem fardamento e material escolar.

A existência de apenas 61 anexos escolares é, ao mes-mo tempo, uma vitória e uma derrota para o sistema escolar de Fortaleza. Uma vitória, por que até pouco tempo esse tipo precário de patrimônio edu-cacional era maioria na rede. Uma derrota porque esse tipo de “escola” ainda existe.

Segundo Ivo Braga, vice-presidente da regional Ceará- Rio Grande do Norte da UBES, o fechamento da maioria dos anexos e sua substituição por escolas patrimoniais é de fato

uma grande conquista. Mas para ele “o problema atual é mais de pessoal do que estrutu-ral”, portanto Ivo também rei-vindica conquistas para a clas-se docente como o piso salarial nacional. Em sua opnião “hoje já universalizamos o acesso ao Ensino Fundamental”.

Se dividirmos a meta do milênio em duas, teremos o seguinte resultado: conse-guiu-se universalizar o acesso ao Ensino Fundamental, mas para atingir um estágio de qualidade na educação ainda levaríamos, segundo especia-listas no assunto, vinte anos no mínimo (veja matéria abaixo).

Melhorias: o fornecimento de material didático e fardamento para alunos do ensino público foi uma das boas modifi cações da prefeitura no último mandato FOTO: RAFAEL TRIANDÓPOLIS

Ensino universalizado na Capital

Segundo Idevaldo da Silva Bo-dião, professor da Faculda-de de Educação da UFC, hoje atingimos a universalização do Ensino Fundamental. No en-tanto, a qualidade de ensino está aquém do que deveria ser.

Segundo o professor, existem duas lógicas de qualidade de edu-cação: uma que respalda o mer-cado produtor outra que propõe transformações sociais. Bodião é incisivo ao afi rmar: “até 2015 não se atingirá a qualidade em edu-cação em nenhuma das lógicas, nem mesmo na de mercado”.

Ele avalia que o entrave para uma educação de quali-dade, seja ela em que lógica for, é a necessidade de um alto

investimento fi nanceiro. In-vestimento este que o sistema produtor de mercadoria não está interessado em fazer

Ele explica que, com os avanços da tecnologia, aumen-tou a especialização do traba-lho e diminuiu o número de trabalhadores. O mercado já possui trabalhadores especia-lizados o sufi ciente e com con-tingente de reserva, portanto o sistema produtor não tem inte-resse em investir na qualidade de educação.

Mas e o Ensino Fundamen-tal universalizado? Segundo Bodião, o mercado não tem interesse em investir em quali-dade, mas tem a necessidade de

manter o jovem ocupado, por uma questão de ordem públi-ca, portanto “o que existe não é um programa escola para to-dos, mas sim todos na escola”. A solução que Bodião sugere

para qualidade do ensino é in-vestimento, principalmente no profi ssional da educação: tripli-car o piso da classe e criar pro-grama de carreira. O resultado seria notado em 20 anos.

Todos na escola, mas não escola para todos

Ex-Secretário Municipal de Educação Idevaldo da Silva Bodião FOTO: DIVULGAÇÃO

Idevaldo da Silva Bodião é ex-secretário Municipal de Educação, entre 2005 e 2006. Sai por divergência à política tocada pelo governo da petista Luiziane Lins na gestão da Prefeitura, ques-tionando, principalmente, o desvio do programa inicial de governo.

Formado na USP em En-genharia Civil, tem doutora-do em educação pela mesma universidade e é professor da Faculdade de Educação da UFC desde 1992. Mili-ta na Comissão de Defesa do Direito à Educação e na Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

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Especialista em Educação

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Os portadores do vírus HIV sofrem, além de tudo, com o estigma social. Numa situação já delicada, a discriminação e o preconceito podem levar o paciente ao desânimo e à de-pressão, de modo a fragilizá-lo no processo de tratamento. Por essa razão, embora nem todos os pacientes necessitem obrigatoriamente de acompa-nhamento psicológico, o in-fectologista Guilherme Henn argumenta que ele pode reves-tir-se de grande importância para o paciente.

Segundo o especialista, “o apoio psicológico é essencial no momento do diagnóstico, quando o paciente encontra-se fragilizado, além de ter grande impacto na aquisição de auto-confi ança por parte do indiví-duo, o que por sua vez infl uen-cia positivamente na adesão ao tratamento”. O médico também atenta para a necessi-dade de se trabalhar o precon-ceito do próprio paciente em relação a ele mesmo, que é um refl exo daquele sofrido diante da marginalização social.

No âmbito da sociedade ci-vil, uma ONG que luta contra o preconceito e pela conscien-tização para a importância da prevenção é o Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS (GAPA). O grupo atua em Fortaleza há 19 anos através de palestras, stands de informações, trei-namentos, orientação jurídica para portadores e outras ações e já concorreu até ao prêmio Laço Vermelho, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para reconhe-cer iniciativas pioneiras no combate ao HIV e à AIDS em todo o mundo.

Thiago Barros

Uma doença coberta de pre-conceitos, com muito pouca certeza no que diz respeito a

seu tratamento e com o estig-ma da morte certa. Essa era a realidade da Síndrome de Imunodefi ciência Adquirda (AIDS) nos anos 1980, quando os casos de contaminação por HIV surgiram e, logo depois, dispararam drasticamente no mundo todo.

De lá para cá, no entanto, muito mudou. A evolução da ciência trouxe novos medica-mentos, cada vez mais efi cazes no controle da doença e com menos efeitos colaterais. Além disso, as campanhas de escla-recimento sobre as formas de contaminação e prevenção são hoje bem mais difundidas. Não por acaso, já desde 1996, segun-do uma pesquisa de 2007 reali-zada pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), a mor-talidade pela doença está em declínio no país. Em Fortaleza, 5.161 adultos foram diagnos-ticados com AIDS desde 1983, segundo dados da Coordenação Municipal de DST/AIDS. Con-

tudo, de acordo com a mesma pesquisa, a quantidade de casos de AIDS na capital em 2007 di-minuiu em 31,5% em relação ao ano de 2004, quando houve o maior número de diagnósticos num único ano.

A queda é devida em muito ao esforço governamental e de organizações da sociedade ci-vil para prevenir e tratar desde cedo o portador do vírus HIV, já que a AIDS só é caracteri-zada quando o indivíduo está com suas defesas imunológicas já bem fragilizadas pelo vírus. A conscientização da própria população para a seriedade do problema, amplamente aborda-do nos meios de comunicação, também precisa ser ressaltada, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em Fortaleza, a SMS está procurando tratar a AIDS através de medidas com-binadas. Segundo o órgão, fato-res como prevenção, combate ao diagnóstico tardio e à trans-missão vertical (da gestante para o fi lho), acesso a medica-mentos e assistência adequa-dos devem andar lado a lado para que o combate à AIDS seja bem-sucedido.

Hoje, Fortaleza conta com o Serviço de Atendimento Espe-cializado em HIV/AIDS (SAE), que consiste em unidades de tratamento ao portador do ví-rus HIV. Existem hoje dois SAEs funcionando dentro de unidades públicas de saúde. Um está localizado no Centro de Especialidades Médicas José de Alencar (CEMJA), locali-

zado no centro da cidade, e o outro, especializado na atenção materno-infantil, fi ca no Hos-pital Distrital Gonzaga Mota (HDGM) de Messejana. Mais duas unidades devem ser inau-guradas até o fi m de 2008, no Hospital Nossa Senhora Con-ceição, no Conjunto Ceará, e no HDGM do bairro José Walter. A assistência da prefeitura ainda passa pela distribuição de ces-tas básicas e vales-transporte aos portadores do HIV.

Casos de AIDS caem mais de 30%

Pouco mais de 25 anos de-pois do primeiro caso registrado na Capital, o número de adultos diagnosticados com AIDS está em declínio desde 2005

Apesar dos avanços científi -cos, a AIDS continua sem cura. Ter a doença, apesar de não ser uma sentença de morte, ainda continua sendo um grande pro-blema. Apesar de os remédios atuais estarem cada vez mais efi cientes, alguns efeitos cola-terais como náuseas, dor abdo-minal, diarréia, difi culdade de concentração e distúrbios do sono ainda são observados nos pacientes que fazem uso de-les. Com o uso prolongado, as drogas também podem causar o aumento dos níveis de coles-terol, triglicerídeos e glicemia, além de eventuais casos de re-ações alérgicas.

Por essa razão, a prefeitura continua intensifi cando suas campanhas preventivas. Em 2006, 5.328.848 preservativos masculinos foram distribuídos nas unidades de saúde das seis Secretarias Executivas Regio-nais de Fortaleza. Entre as ações de ampliação do acesso à camisinha também constam a regularização e a ampliação do banco de preservativos para atividades desenvolvidas por organizações não governamen-tais, além da distribuição do preservativo em eventos como o Fortal e festas de carnaval. A prefeitura também repassa re-gularmente preservativos para serem distribuídos no Hospital São José, da rede estadual, que é referência em todo o estado no tratamento de HIV/AIDS.

A conscientização desde a es-cola também é um dos focos das medidas governamentais, através do Projeto Saúde e Pre-venção nas Escolas, que, entre outas ações, disponibiliza pre-servativos para os alunos da rede pública.

Ainda assim, apesar das campanhas educativas, muitos jovens continuam indo na con-tramão e dispensando o uso do preservativo, impulsionados pelo declínio da mortalidade pela AIDS. “Eu sei que não é o certo, mas estaria mentido se dissesse que nunca aconteceu”, confi rma o estudante H.M., 22. Paradoxalmente, ele considera essencial o uso do preservativo. “Todas as vezes que fi z sem ca-misinha foi com gente conheci-da. Com alguém que eu acabei de conhecer, nunca vou me ar-riscar desse jeito”, conclui.

A prevenção ainda é o melhor negócio

Desinformação e preconceito resistem

O infectologista Guilherme Henn, membro da Sociedade Ce-arense de Infectologia, esclarece como o organismo responde ao HIV e aos novos medicamentosThiago Barreira

Sobpressão: Como a AIDS age no organismo da pessoa?Guilherme Henn: AIDS é a doença causada pela infecção pelo Vírus da Imunodefi ciên-cia Humana (HIV). O vírus infecta um tipo de célula de defesa denominada Linfó-cito T CD4, que tem o papel de organizar toda a resposta imunológica. Com a destrui-ção dessas células, o orga-nismo perde a capacidade de combater microorganis-mos invasores, tornando-se vulnerável a uma gama de infecções e ao surgimento de tumores.

SP: Em que consiste o trata-mento de pessoas com HIV?GH: O tratamento da in-fecção pelo HIV consiste basicamente na utilização de drogas (denominadas anti-retrovirais ou “coquetel”) que inibem a replicação do vírus, de forma a permitir a sobrevivência dos linfócitos T CD4 e recuperação, ao menos parcial, da organização do sistema imunológico.

SP: O que mudou com a evo-lução do tratamento?GH: A melhora substancial da sobrevida dos pacientes in-fectados pelo HIV tem vários motivos. O principal deles é que hoje temos drogas mais potentes, menos tóxicas e que são mais facilmente admi-nistradas, com quantidades menores de comprimidos, de forma a facilitar a adesão ao tratamento. Dispomos tam-

bém de todo um suporte mul-tidisciplinar, com a participa-ção de médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profi ssionais cujo trabalho torna possível essa adesão, aumenta a autocon-fi ança dos pacientes e garante suporte clínico, laboratorial e social quando necessário.

Entrevista com Guilherme Henn

Drogas estão mais efi cazes

Guilherme Henn acredita no enfoque multidisciplinar contra o HIV FOTO: DIVULGAÇÃO

O uso da camisinha é um ato simples que ajuda a conter o HIV FOTO: THIAGO BARROS

Declínio da AIDSConforme os números abaixo, verifi ca-se uma diminuição nos casos de AIDS em adultos na Capital nos últimos três anos, de 2005 a 2007. Antes disso, a tendência era crescente.

*Dados referentes até 22/07/2008 Fonte: SMS/CEVEPI/SINANNET E SINANW

Guilherme Henn

“O apoio psicológico é essencial no momento do diagnóstico”

Infectologista, sobre a necessidade de

acompanhamento ao portador do HIV

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 200810

A solidariedade dos brasi-leiros ameniza o sofrimen-to dos mais pobres. São inúmeros os movimentos em prol do combate à fome e à miséria no país. O Ação Social é um dos projetos pioneiros que, desde 1993, estimula a participação cidadã na luta pela construção e melhoria da sociedade brasileira.

Criado pelo soció-logo Herbert de Souza, o Betinho, o movimento atua em todo o território nacional. Dentre as ativi-dades pontuais realizadas pelo movimento, a Campa-nha Natal sem Fome é uma das que possuem maior destaque. Desde o seu lan-çamento, a campanha já ar-recadou mais de 30 mil tone-ladas de alimentos, que foram doados para mais de 15 mi-lhões de brasileiros.

No ano de 2006, a cam-panha mudou de nome, pas-sando a chamar-se Natal sem Fome dos Sonhos. A arrecada-

ção de alimentos foi somada a outros tipos de doações, como livros e brinquedos.

Só no Ceará, a campanha de 2007 arrecadou 6.386 brinquedos, 13.931 livros e 4.239,28 kg de alimentos não perecíveis, que foram destina-dos à população carente.

Erradicar a pobreza e a fome é o primeiro desafi o proposto pelas Metas do Milênio, que visam extinguir vários problemas sociais até o ano de 2015

Íkara Rodrigues

No Brasil, cerca de 65 milhões de pessoas se alimentam, dia-riamente, de maneira precá-

ria. São brasileiros que vivem na contramão do desenvolvi-mento agrícola do país, que está entre os maiores produto-res mundiais de alimentos.

No Ceará, segundo o Insti-tuto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), 55% da po-pulação está enquadrada como vítima de algum tipo de inse-gurança alimentar.

Com o objetivo de erradicar estes e outros problemas que afl igem nossa sociedade e ou-tros países, a Organização das Nações Unidas (ONU) e repre-sentantes de 191 nações esta-beleceram que uma das prio-riades do milênio é acabar com a fome e a miséria até 2015.

Na tentativa de atingir tais metas, Governo e entidades não-governamentais criaram programas que objetivam pos-sibilitar, a milhares de brasilei-ros, o acesso à alimentação e ao aumento da renda. É o caso

do Bolsa Família, que assiste a 893,2 mil pessoas no Ceará, sendo 145,4 mil benefi ciados só em Fortaleza. Segundo da-dos do Governo Federal, uma das principais contribuições do programa à Capital cearen-se foi a redução da pobreza, que baixou de 23% para 18%, de 2003 a 2007.

Mesmo diante de críticas que o acusam de ser um pro-grama assistencialista, o Bol-sa Família atinge de maneira signifi cativa o seu principal objetivo, que é o de garantir o

alimento à população carente. De acordo com pesquisas rea-lizadas pelo Ministério do De-senvolvimento Social (MDS), no Nordeste, 91% dos benefi -ciados pelo programa gastam o dinheiro recebido com alimen-tação e material escolar. É o caso de Anita da Costa, assisti-da pelo Bolsa Família há cinco anos. Segundo ela, o dinheiro recebido é todo voltado para as despesas do seu fi lho Edu-ardo, de 13 anos. “É uma aju-da essencial para a gente. Um dinheiro certo, que eu posso

investir só na educação dele”, conta.

Mesa BrasilParalelo às ações do Gover-

no, entidades de classe realizam ações que têm como objetivo combater a insegurança alimen-tar entre a população carente. É o caso do programa Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (Sesc), presente em todos os es-tados brasileiros.

Atuando em Fortaleza desde 2001, o programa atende a 474 entidades, na Capital e Região

metropolitana. “Nós temos como lema: recolher de onde está sobrando e repassar para onde está faltando”, afi rma a assistente social do programa, Talita Cavalcante.

Em média, o Mesa Brasil possui 350 doadores dos mais diversos segmentos. De acordo com a nutricionista do progra-ma, Ana Luísa Bastos, as doa-ções recebidas são, geralmen-te, alimentos machucados ou riscados, que perderam o valor comercial, mas que preservam 100% do seu valor nutricional.

Além de dar assistência, o Mesa Brasil também faz um trabalho educativo junto às instituições atendidas, que têm como obrigação participar das ações que o programa desen-volve, como as ofi cinas. “Nós não somos apenas um banco de alimentos, somos também um banco de oportunidades e de in-formação. Nós temos exemplos de entidades que com o traba-lho educativo, já estão conquis-tando seu espaço (perante a so-ciedade)”, conta Talita.

Uma das entidades assis-tidas pelo programa, em For-taleza, é a Toca de Assis, que atende moradores de rua. De acordo com um dos responsá-veis pela entidade, Irmão Ke-nossis, as doações recebidas do Mesa Brasil, além de ajudar na alimentação dos pobres, ainda contribui na sobrevivência da casa, que é mantida somente por doações.

Pobreza diminui 5% em Fortaleza

Veja como o reaproveitamento de alimentos, além de útil pode ser bem saboroso.Confi ra uma receita de bolo de cascas de banana:Ingredientes:Cascas de 4 bananas2 ovos2 xícaras (chá) de leite2 colheres (sopa) de margarina3 xíc (chá) de açúcar3 xíc (chá) farinha de rosca1 colher (sopa) fermento em póModo de Preparar:Descasque as bananas . Bata as claras em neve e reserve, na geladeira. Bata no liquidifi cador as gemas, o leite, a margarina, o açúcar e as cascas de banana. Depois acrescente a farinha de rosca e mexa bem. Por último, as claras em neve e o fermento. Despeje em uma assadeira unta-da e leve ao forno médio, prea-quecido, por aproximadamente 40 minutos.

Fonte: site do Sesilink: www.sesipr.org.br/responsabilidade/

News5332content32956.shtml

Saiba mais...

Reaproveitamento Sociedade engajada no combate à fome

Abdicar de momentos de lazer com a família e com os amigos para fazer o bem ao próximo. Assim vive o advogado e profes-sor Vanilo Costa, que há 11 anos realiza, por meio da Socieda-de Benefi cente São Vicente de Paulo, trabalho voluntário em comunidades carentes.

Tendo como principal ob-jetivo o atendimento às maio-res necessidades das famílias assistidas, como o combate à fome e à miséria, Vanilo e seu grupo realizam um trabalho que requer dedicação e esforços dos engajados. “O trabalho vo-luntário deve ser fruto de uma

vontade pessoal. Ele deve estar dentro de prioridades como fa-mília, trabalho e amigos”, conta o professor.

A relação entre os voluntá-rios da Sociedade São Vicente de Paulo e as famílias assistidas não se esgota na assistência. “Nós nos envolvemos com cada família. Nós procuramos cres-cer junto com elas”, conta.

Para Vanilo, o combate aos problemas sociais não é apenas papel do governo, mas também de toda a sociedade. “Os proble-mas sociais não atingem só aos desfavorecidos, mas sim a todas as classes sociais”, garante.

Voluntários na luta contra a miséria

Programa Natal sem Fome: programa assiste a milhares de brasileiros

Ação social: Vanilo realizando trabalho em comunidades carentes. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Mesa Brasil: o projeto atende a 993 entidades em todo o estado do Ceará FOTO: WALESKA SANTIAGO

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 2008 11

Há 16 anos, um evento marcou o início da “revolu-ção ambiental”: A “Eco-92”, realizada no Rio de Janeiro. Este encontro internacional promoveu discussões sobre o impacto da atividade humana em relação aos recursos natu-rais, metas para melhoria da qualidade ambiental e a ne-cessidade da implementação de um novo modelo econô-mico conhecido por desenvol-vimento sustentável. Um dos resultados desse encontro é a “Agenda 21”, que tem como ponto principal o planejamen-to de sistemas de produção e consumo sustentáveis contra o desperdício dos recursos naturais. E para implementar essas ações, é necessário uma reestruturação do planeja-mento urbano, dos métodos produtivos e da cadeia de consumo da cidade. A conser-vação e gestão dos recursos naturais em Fortaleza precisa envolver aspectos como: pre-servação da biodiversidade, zona costeira, corpos de água doce e gestão de resíduos só-lidos e líquidos. Nossa cidade possui um histórico de degra-dação de recursos naturais e para mudar isso é preciso o fortalecimento dos diver-sos setores da sociedade, no contexto ambiental, para que a Agenda 21 “saia do papel”. É necessário a disseminação de práticas ambientais corre-tas. A compreensão de que a questão ambiental não é uma “moda passageira”, e sim uma necessidade do mundo em que vivemos, é algo urgente.

Professor de Biologia

Opinião

Agenda 21 em Fortaleza

Marcelo de

Oliveira Soares

Após três anos de discussões, apenas um bairro de Fortaleza foi contemplado com ações da Agen-da 21, que visa resolver proble-mas sócioambientais

Evellyne Matos e Kelvia Alves

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urba-no de Fortaleza (Semam), reco-

nhece que nas últimas décadas, observa-se em Fortaleza um crescimento desordenado, que não respeita o meio ambiente.

Para que essa realidade mude, existem projetos em fase de elaboração, mas apenas um, o programa de educação am-biental Onda Verde, da Prefei-tura de Fortaleza, foi concluido e lançado em junho de 2008. O Fórum Agenda 21 Fortaleza visa conscientizar o governo, empre-sas, organizações não-governa-mentais e setores da sociedade a cooperar na resolução dos problemas socioambientais.

As 65 instituições participan-tes da Agenda 21, após três anos de discussões, escolheram o bairro de Sabiaguaba para ser a primeira região da capital a rece-ber as ações. A escolha foi basea-da em fatores como a existência de dunas, bacia hidrográfi ca e a crescente especulação imobiliá-ria no local. Muito do que será desenvolvido na região está em processo de elaboração. Ape-nas uma ação já começa a dar os primeiros passos, o projeto de permacultura. “Nossa inten-ção é cultivar as hortaliças para

serem consumidas na merenda escolar”, diz Rossimar Maurício, morador de Sabiaguaba e parti-cipante da Agenda 21.

Apesar do apoio da comuni-dade, o geógrafo Edmilson Pi-nheiro Neto, diretor técnico do Centro de Estudos, Articulação e Referência sobre Assentamen-tos Humanos (Cearah Periferia), acredita que as atitudes tomadas no Fórum só surtirão efeito em médio prazo, mas é um plano de ação que realmente visa a sus-tentabilidade do planeta.

Na capital, essa iniciativa é uma das poucas em execução que contribui para que o Bra-sil atinja, até 2015, a meta da Organização das Nações Unidas (ONU). A meta diz que não de-vemos poupar esforços para li-bertar a humanidade da ameaça de viver num planeta destruído pelas atividades do homem.

Permacultura: Rossimar Maurício participa do programa ambiental realizado em Fortaleza FOTO: RAFAEL TRIANDÓPOLIS

Meio ambiente: sobram as ideias, mas faltam atitudes

A ação educativa sócio-am-biental da Prefeitura, lançada em junho de 2008, surgiu a partir da discussão entre vá-rios setores. Segundo a Se-man, o Onda Verde pretende conscientizar a sociedade para a preservação dos recursos naturais da cidade.

O Onda Verde tem diversos projetos, todos em fase inicial.Entre eles estão o Projeto Sa-biá; Centro de Referência em Educação Ambiental; Edu-cação, cidadania e as árvores de Fortaleza; Brisas do mar; Lagoas do município de For-taleza e Educação ambiental nas praias de Iracema e Mei-reles. Com eles, a Prefeitura pretende conscientizar jovens e adultos.

Prefeitura lança Onda Verde

O conceito de permacultura ainda é desconhecido. De forma geral, é um sistema de agricultura permanente. Seus criadores, os australianos Bill Mollison e David Holmgren, o defi nem como “um siste-ma evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes úteis ao homem”. Em outras palavras, a permacul-tura é uma forma de planejar e implantar métodos a fi m de manter um ambiente humano sustentável.

http://www.permacultura.org.br/rbp/sobre.html

Saiba mais...

O que é permacultura?

Josael Lima, integrante da ONG Viramundo, que trabalha em defesa do meio ambiente, critica atuação dos órgão públicos em Fortaleza.

Sobpressão: Você acredita que os programas educativos de Fortaleza são sufi cientes para que a população tome conhecimento da atual situa-ção ambiental?

Josael Lima: Não, porque esses projetos educativos sequer mudaram a visão dos gestores e servidores públi-ços e da população para uma consciência ambiental verda-deira, para que os mesmos

pudessem estar cientes da situação ambiental de Forta-leza.

SP: Quais os principais pro-blemas ambientais que de-veriam ser combatidos pelos órgãos públicos responsáveis?

JL: Existem problemas em praticamente todos os bair-ros e ecossistemas da cidade, dentre eles: desmatamento de dunas fi xas, descaracterização da paisagem por edifi cações em áreas de preservação per-manente, especulação imobi-liária nas dunas fi xas da Praia do Futuro, desmatamento de vegetação de mangue para construção de edifícios, au-sência de relatórios de impac-

to ambiental e de consulta ao Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), desobe-diência à legislação ambiental brasileira em áreas de lagoas, rios e dunas e ocupação irre-gular da Lagoa da Itaperoaba. Além de outros projetos, como a avenida paisagística do Cocó, que benefi ciará loteamento do Grupo Dias Branco, e a cons-trução da ponte sobre o rio Cocó.

SP: As ações que a Semam está tomando com a Agenda 21 surtirão efeito na conserva-ção do meio ambiente?

JL: Considero um grave erro da coordenação do Fórum da Agenda 21 escolher apenas

uma área da cidade para ser construído o diagnóstico par-ticipativo e plano de desenvol-vimento sustentável. Não con-cordo com a escolha de uma área piloto num bairro distan-te e isolado como a Sabiagua-ba. Não penso que ações de-senvolvidas somente naquela região possam infl uenciar ou-tras áreas da cidade.

SP: Você acha que três anos de discussão do Fórum da Agenda 21 é muito tempo para poucas ações desenvolvidas?

JL: Sim. Falta vontade políti-ca da gestão da atual Prefeitu-ra para dar prioridade a Agen-da 21, afi m de estabelecer um compromisso com a cidade.

Entrevista com Josael Lima

“Existem problemas em todos os bairros da cidade”

Josael Lima, militante ambiental critica negligência do governo ARQUIVO PESSOAL

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SOBPRESSÃONOVEMBRO / DEZEMBRO DE 200812

Luziane Freire

Sobpressão - Em meio a essa crise, como é possível o Bra-sil estabelecer parcerias mun-

diais que visem o desenvolvi-mento, já que nestas horas cada país pensa somente em si próprio?Henrique Marinho - Real-mente a atual crise é um obs-táculo às parcerias, tendo em vista que a mesma atingiu o sistema fi nanceiro e que, pro-vavelmente, poderá difi cultar a continuidade dos projetos já defi nidos e principalmente “fechar as torneiras” para no-vos projetos. Cada país está vivendo seu próprio dilema e, portanto, procurará, primei-ro, resolver seus problemas, prejudicando as políticas de desenvolvimento.

SP - Como o Brasil vai con-seguir estabelecer parcerias mundiais mais seguras até 2015 (ano determinado para o cumprimento da meta) e as-sim se desenvolver?HM - O governo brasileiro tem tratado com muita serie-dade as Metas do Milênio, e, no que concerne a sua respon-sabilidade, tem buscado par-cerias com países na América Latina e África. Estas são tan-to na área de fi nanciamento a projetos industriais, como de petróleo, de tecnologia com Angola, Índia, África do Sul etc. Atualmente, o Brasil, até reescalonou (renegociou novas datas de pagamentos) alguns contratos de dívida externa de países pobres da África.

SP - Há alguma maneira do Brasil trabalhar isoladamente e conseguir se auto desenvol-ver? Caso haja, como é que o Ceará poderá ajudar neste contexto?HM - O Brasil continuará a manter seus interesses nesses países (da América Latina e da África), principalmente na tec-nologia do etanol e no petróleo. Agora, não vejo como o Ceará poderá ajudar neste contexto.

SP- Primeiramente, o que é necessário o Brasil fazer para alcançar o desenvolvimento e se tornar um país modelo?HM - É fundamental que o país melhore sua competiti-vidade (com outros países), principalmente, no que diz respeito a educação e a in-clusão social, atos muito fa-lhos na nossa realidade. Só tem sentido falar dessa meta (oitava) se as demais forem cumpridas, em primeiro lu-gar a redução de pobreza.

SP - Com a ajuda de outros países, fi cará mais fácil para o Brasil diminuir ou até quitar sua dívida externa? HM - A dívida externa bra-sileira não é problema atu-almente. Os últimos dados indicam que existe uma dí-vida externa, da qual apenas US$ 90 bilhões é do Governo, o restante é dívida privada. Sendo assim, com um nível de reserva em U$ 200 bilhões, torna, na verdade, o Brasil, um credor internacional.

SP - O que melhorará es-pecifi camente para o Ceará com o desenvolvimento des-sas alianças internacionais?HM - Para o Ceará, já exis-tem diversos projetos na área da economia, como a side-rurgia, refi naria, obras no Porto do Pecém e do Mucu-ripe, ampliação do aeroporto Pinto Martins para cargas e passageiros e, ainda, o Me-trofor. Com o cumprimen-to das parcerias tudo isso irá prosperar ainda mais.

SP - O comércio internacional muitas vezes impede o de-senvolvimento do Brasil por causa das altas taxas de im-portações. Quais são as par-cerias que ajudarão o Brasil a solucionar este problema de uma maneira rápida, efi caz e barata? HM - Na área de comércio internacional, o Brasil vem fazendo diversos acordos com seus parceiros, como a China, Rússia, Índia e países da Áfri-ca e também na ampliação do Mercosul, assim como nego-

ciações com a União Européia no sentido de aumentar nosso comércio. Não vejo o cresci-mento das importações como um ponto negativo, ao con-trário, devemos nos concen-trar nas exportações do que temos maior competitivida-de e importarmos aquilo que não somos tão concorrentes. Quanto maior o fl uxo do co-mércio internacional, melhor para a sociedade brasileira.

SP - O mercado de trabalho brasileiro tem melhorado em relação ao número de ofer-tas, em compensação tem exigido uma maior qualifi -cação do trabalhador. Isto tem deixado muitos possíveis trabalhadores desemprega-dos. Você acredita que isto já seja resultado de alguma união (interna ou externa) do país? Você acha justa essa abordagem para os cida-dãos brasileiros, já que nos-sa educação deixa a desejar?HM – Realmente a qualifi -cação de mão de obra é um problema muito sério a ser resolvido e o governo tem praticado uma política pro-ativa, ampliando e interiori-zando as Universidades Fe-derais, os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet) e aumentado as bolsas do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico) nas áreas de mestrado e doutorado, tudo isto com o objetivo de incen-tivar a qualifi cação. Esse, no entanto, não é um problema que se resolva em curto pra-zo e, portanto, ainda será um gargalo no desenvolvimento do país e nas parcerias inter-nacionais.

“Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento” é a oitava Meta do Milênio que tem como objetivo favorecer a união entre diferentes países e impulsionar um progresso mundial. Na opinião do economista Henrique Marinho, o governo brasileiro tem tratado o assunto com seriedade. Contudo, ele garante que falar da oitava meta só tem sentido se as demais forem cumpridas. Entenda um pouco mais da atual condição do Brasil na realização desta meta e como ela pode afetar a vida dos brasileiros

Entrevista

União gera desenvolvimento global

Henrique Jorge Medeiros Marinho é mestre em Negócios In-ternacionais pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e leciona, desde 1977, as disciplinas de Economia Monetária, Economia In-ternacional e Relações Internacionais, para os cursos de Gradu-ação e Pós-Graduação. É servidor do Departamento Econômico de Fortaleza do Banco Central do Brasil e já escreveu quatro livros: O Estudo das Relações Internacionais: Teorias e Realidade; Economia Monetária: Teorias e a Experiência Brasileira; Política Cambial Brasileira e Teorias Monetárias e Evidências Empíricas: Caso do Brasil-1964/1995.

Perfil

Um economista nato

Henrique Marinho

“A dívida externa brasileira não é problema atualmente.”

“Quanto maior o fl uxo do comércio internacional, melhor para a sociedade brasileira.”

“A qualifi cação da mão de obra é um problema muito sério a ser resolvido”

economista e professor