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Sociólogo

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  • Socilogo

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    O Papel da Sociologia no Mundo Contemporneo e no Combate aos Problemas Sociais

    A Sociologia uma cincia importantssima atualmente, pois, tenta compreender as causas e conseqncias dos problemas sociais (como violncia, pobreza, educao, etc.).

    Tenta rever ou antecipar o tamanho dos mesmos para as futuras geraes, servindo hoje como uma cincia auxiliar para o entendimento e procura de solues satisfatrias para os males da sociedade contempornea. Hoje com as pessoas buscando cada vez mais por espao e reconhecimento no trabalho ou de um determinado grupo social.

    Os indivduos acabam afastando-se de seus laos familiares (contatos sociais primrios), isso resulta muitas vezes em uma intolerncia maior no que diz respeito s diferenas (religiosas, de hbitos ou crenas, etc.) de cada individuo. Passa assim a contribuir para o aparecimento ou agravamento dos problemas sociais enfrentados pela a sociedade moderna.

    Conhecimento sociolgico, da ao homem comum, a devida conscientizao e a idia libertadora do seu papel e lugar na sociedade. Pode tambm acrescentar a idia de cidadania proveniente desse conhecimento. Tem uma importante parcela no combate e consequentemente a diminuio dos males sociais, agindo tambm como fator de transformao social e intelectual do ser humano, a fim de colaborar para uma sociedade mais eqitativa e tolerante.

    No meio em que vivemos onde a nfase no individuo (e no na sociedade) prevalece de forma bem explicita, crescente a importncia de reas com bases sociolgicas como o caso da psicanlise, da sociologia e das terapias alternativas bem como uma infindvel variedade de teorias de auto-ajuda.

    Todas priorizam o individuo, a interpretao do mundo e da realidade social de um determinado ambiente. Por exemplo, quem nunca assistiu aos programas de televiso ou jornal, em que os profissionais citados anteriormente estejam debatendo temas como: criminalidade, sexualidade ou relaes familiares, apontando sugestes e solues dos mesmos.

    Fica explicito ento o importante carter secundrio que a sociologia e todas as suas epistemologias, que voltam especificamente para a compreenso dos problemas sociais, vm adquirindo nos debates contemporneos sobre

    temas e problemas levantados originalmente por socilogos.

    A sociologia de certa forma foi modificando-se com o passar do tempo, pois, a mesma foi afastando-se das questes morais (contextuais, comuns no seu inicio como cincia) e aproxima-se das questes de natureza tica (essenciais vistos atualmente).

    Dessa forma o mundo contemporneo foi dando resultados diversos as previses analticas dos principais nomes da sociologia, como as de Marx, Durkheim e Weber. Isso aconteceu por causa das revolues socialistas ocorridas de forma adversa das imaginada por esses socilogos.

    A Teoria Sociolgica Contempornea da Superdeterminao Pela Teoria a Historicidade

    Nas ltimas trs dcadas, a sociologia - como as cincias sociais em geral - tem desenvolvido uma crescente preocupao em repensar os pressupostos terico-metodolgicos sobre os quais se assenta o seu entendimento cientfico do mundo.

    Esse fato pode ser constatado pelo nmero de autores clssicos que so atualmente objeto de releituras (como Mead, Durkheim, Simmel e, principalmente, Weber); pelas reflexes de carter epistemolgico desenvolvidas pelos cientistas sociais; pela multiplicidade de paradigmas e de referncias terico-metodolgicas; pelas tentativas de integrao e snteses tericas propostas; pela busca de superao de uma srie de pares de conceitos clssicos (como subjetivo e objetivo, agente e estrutura, coletivo e individual, macrossociologia e microssociologia) e, principalmente, pela expanso de novos campos de pesquisas que ultrapassam as tradicionais fronteiras disciplinares.

    As trocas multidisciplinares que realimentam novas problemticas no campo da sociologia - entre a sociologia e a filosofia, entre a sociologia e a histria, a psicologia e a lingustica - so to comuns que s vezes somos tentados a indagar se estamos realmente diante da sociologia ou de uma outra disciplina que est se configurando no cenrio intelectual.

    De uma maneira geral, e guardando as devidas propores, parece que nos ltimos trinta anos o ferver da imaginao sociolgica iguala-se com o que foi presenciado na passagem do sculo XIX para o XX, como a srie de debates intelectuais (Methodenstreit) que sacudiram na Alemanha daqueles tempos.

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    Vivemos um momento singular com o advento das "novas sociologias", termo designado por Corcuff (2001) para se referir a um conjunto de teorias que floresceram a partir da dcada de 1970, como, entre outras, a sociologia existencial (John Johnson, Joseph Kotarba e Jack Douglas), a teoria do ator-rede (Bruno Latour), a teoria da ao criativa (Hans Joas), a sociologia fenomenolgica (Jack Katz), alm das mais conhecidas e no to "novas" como a "praxeologia" ou "construtivismo estruturalista" de Pierre Bourdieu, a teoria da estruturao de Anthony Giddens, a etnometodologia de Garfinkel e Aaron Cicourel.

    Tendo em vista as transformaes atuais que acontecem no campo da sociologia necessrio indagar quais so os princpios que fundamentam os universos conceituais dessas "novas sociologias".

    Tarefa ousada, sem dvida, mas importante, pois com essa reflexo podemos traar as principais linhas de convergncia e divergncia que imprimem uma identidade na constituio do atual campo sociolgico.

    Assim, teremos condies de aumentar o nvel de compreenso das galxias sociolgicas e, atravs dessa perspectiva globalizante, avaliar mais criticamente os alicerces que sustentam o nosso conhecimento cientfico do mundo social.

    Um dos pontos mais complexos na discusso sobre os pressupostos terico-metodolgicos das "novas sociologias" diz respeito ao fato de que elas assumem diferentes configuraes conceituais e desenvolvem problemticas distintas entre si.

    No se constituem em blocos monolticos. Contudo, tal caracterstica no invalida a ideia de que elas partilham alguns princpios que podem ser identificados, pelo menos a nvel metaterico. O objetivo geral do presente trabalho contribuir com essa discusso. Mais especificamente, pretende-se apresentar, em breves linhas, uma das grandes premissas que parece estar subjacentes s "novas sociologias": a historicidade.

    Antes de prosseguir, importante ressaltar que a anlise aqui desenvolvida situa-se no campo da metateoria. Atualmente objeto de reflexo sistemtica por parte de alguns socilogos (Ritzer, 1981; Brewer & Hunter, 1988; Noblit & Hare, 1988; Alexander, 1982), a metateoria pode ser definida como o estudo que procura identificar e caracterizar princpios, valores e instituies sociais que esto subjacentes s estruturas tericas ou a um dado campo cientfico. O

    objetivo principal de uma anlise metaterica obter uma compreenso mais sistemtica - tanto a nvel cognitivo como institucional - de uma teoria ou um conjunto delas, buscando refletir, no caso das cincias sociais, as questes relacionadas aos fundamentos ou s estruturas intelectuais subjacentes teoria social e s influncias socioculturais na constituio da teoria (como a formao de vnculos ou redes sociais entre tericos, "escolas" e instituies de ensino e pesquisa).

    Qualquer discusso sobre a "sociologia contempornea" deve comear por situ-la em um dado tempo. Para os limites do presente artigo, delimitamos, a grosso modo, o seu "incio" a partir dos fins da dcada de 1970. Uma data um tanto arbitrria e com grande varincia entre pases.

    Mas, de uma maneira geral, as "novas sociologias" caracterizam-se por (re)expressar um amplo conjunto de recursos terico-metodolgicos que se diferenciam - e, ao mesmo tempo, so desdobramentos - das orientaes e correntes que foram hegemnicas no universo acadmico entre as dcadas de 1940 e 1970, principalmente aps a Segunda Guerra. Pic (2003) designou esse perodo de "idade de ouro" da sociologia (cf. tambm Friedrichs, 2001; Platt, 1996; Hinkle, 1994; Arnove, 1982). Assim, o principal ponto de contraposio desenvolvido pela sociologia contempornea no exatamente com o perodo "clssico" da disciplina, cujos epgenos - Marx, Durkheim, Mead, Simmel e Weber, entre outros - constituem atualmente borbulhantes e diversificadas fontes de inspirao.

    A sociologia entre as dcadas de 1940 e 1970 caracterizou-se por sua maior institucionalizao nas universidades, como foi o caso da Inglaterra (Lockwood, Ginsberg, Marshall), da Frana (R. Aron, Gurvitch, Friedmann, Stoetzel) e da Alemanha (Knig, Adorno). Nos Estados Unidos, a sociologia j tinha assegurado seu nicho acadmico nos princpios do sculo XX. Mas s aps a Segunda Guerra que a sociologia americana despontou a nvel internacional, "desregionalizando-se" atravs de seus grandes tericos ou metodlogos, como Parsons, Merton e Lazarsfeld. Sem dvida, o ps-Guerra foi uma poca de maior "popularidade" da sociologia, tanto no mundo acadmico como fora dele, e de imensa produo de pesquisas, havendo ntido destaque para os estudos quantitativos, principalmente os "surveys". As investigaes de Samuel Stouffer (que trabalhou com Parsons, em Havard) e Paul Lazarsfeld (parceiro de Merton, na Columbia) inspiraram muitos socilogos.

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    importante lembrar que o crescimento da sociologia no ps-Guerra foi amplamente favorecido pela proliferao dos institutos de opinio pblica, pelo apoio das fundaes de investigao aplicadas e ajudas de intercmbios cientficos. Ao se desenvolver no contexto do ps-Guerra, a sociologia era vista majoritariamente como uma disciplina cuja tarefa era de reconstruir e modernizar uma sociedade que "renascia" aps o conflito de ordem mundial.

    As fontes de financiamento no eram apenas provenientes do Estado, mas tambm de fundaes particulares, como a Rockfeller, a Carnegie e a Ford. Por exemplo, as relaes entre a Unesco e a Associao Internacional de Sociologia (ISA) foram significativas. Como fruto dessa relao, surgiu o Bulletin International des Sciences Sociales, que posteriormente se converteu na Revue Internationale des Sciences Sociales. Foi tambm pelos auspcios da Unesco que a ISA celebrou o seu primeiro congresso (Oslo, setembro de 1949), nele criando a revista Current Sociology.

    Em sntese, entre 1940 e 1970 a sociologia parecia estar assentada sobre bases slidas. Predominou neste contexto uma preocupao de identificar e defender um paradigma terico particular que consubstanciasse os princpios bsicos da epistemologia sociolgica. Embora no fosse consensual, havia por parte de muitos socilogos um acordo tcito de que os princpios morfolgicos bsicos sobre os quais assentavam cientificamente o entendimento do mundo social - o grau de generalizaes abstratas e universais, tanto a nvel conceitual quanto metodolgico - j estavam construdos ou parcialmente construdos.

    Nessa perspectiva, a sociologia estava entrando finalmente nos "eixos", isto , em processo de rigorosa delimitao do seu campo cientfico, cuja plena consolidao poderia estabelecer mtuas conexes entre as diferentes orientaes tericas existentes.

    A sociologia marchava a largos passos para finalmente atingir um estgio to desejado de maior maturidade cientfica: desvincular-se definitivamente das tradies filosficas e ideolgicas. A vitria do sonho comtiano...

    As dcadas de 1970 e 1980 interrompem esse sonho. A partir desses anos a sociologia comeou apresentar visveis mudanas tanto no processo de reestruturao dos seus pressupostos epistemolgicos quanto em sua institucionalizao acadmica. claro que essas transformaes vo variar de pas a pas. No caso brasileiro, por exemplo, a dcada de 1990

    foi palco de maiores agitaes na imaginao sociolgica do que aquela vivenciada nos finais dos anos 1970 nos Estados Unidos e em alguns pases europeus.

    Essas duas dcadas constituem um ponto de inflexo para a reconstituio da sociologia no s porque a disciplina, particularmente nos Estados Unidos, sofreu uma "crise de paradigma" dominante, abrindo-se para novas configuraes multiparadigmticas, mas tambm porque na Europa, onde haviam se proliferado outros paradigmas, a sociologia se institucionalizou definitivamente ao consolidar um corpo de conhecimento, mtodos, tcnicas e teorias que passaram a ser referncias importantes para a anlise da realidade social (Pic, 2003).

    a partir dos anos 1970 que muitos dos atuais cientistas sociais europeus passaram a ter reconhecimento internacional, como foi o caso de Giddens, Bourdieu, Ulrich Beck, Zygmunt Bauman, Hans Joas entre muitos outros. O processo de revigoramento das sociologias nacionais gerou uma maior internacionalizao da sociologia e, consequentemente, uma reduo da americanizao da disciplina, at ento predominante.

    A chamada crise da sociologia dos anos 1970 um fenmeno complexo, pois abarcou aspectos muitos diferentes do universo intelectual, social e poltico do mundo ocidental. Embora os estudos sobre esse perodo se utilizem de diferentes perspectivas interpretativas (Marsal, 1977; Pic, 2003), h um certo consenso de que a "crise" da sociologia desse perodo foi decorrente de mudanas culturais e de valores desenvolvidos pelos diversos movimentos sociais ocorridos na dcada de 1960.

    Muitos desses movimentos assinalavam para uma "revoluo cultural" plasmada pelas transformaes das condies materiais, de estilos de vida, de liberdades pessoais, explicitando os desajustes entre a estrutura institucional da sociedade civil (como a universidade) e uma educao mais permissiva e democrtica.

    Exemplo significativo a "revolta estudantil" dos anos 1960 que, para a constituio do campo sociolgico, foi uma das mais expressivas, pois, entre outros aspectos, colocou em questo a qualidade do ensino, a estreiteza das estruturas cientficas, a deteriorao das funes universitrias e o predomnio da sociedade tecnocrtica.

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    Nesse contexto, a sociologia foi objeto de ataque: pela sua colaborao com os planos reformistas; pela sua identificao com a teoria funcionalista americana; pelo seu "sociologismo" e fechamento s indagaes filosficas; pelo seu carter nomottico e uni-paradigmtico.

    Alm do mais, a nvel terico, os movimentos sociais levantaram questes importantes. Uma delas referente histria: so os atores sociais que constituem o sujeito da histria ou a histria dotada de uma lgica imanente, constituindo um processo sem sujeito?

    Mas h tambm um outro aspecto bastante significativo para melhor compreendermos as transformaes ocorridas no seio da sociologia. Um fato importante que pode ser observado aps a segunda guerra diz respeito expanso econmica mundial.

    Estimulado em grande parte pela guerra fria, esse processo implicou um verdadeiro salto quantitativo nas organizaes ligadas investigao.

    As grandes potncias passaram a investir nas cincias sociais, embora os recursos destinados a essas cincias tenham sido bem menores do que os disponveis para as "cincias naturais".

    Como resultado desse processo, houve um crescimento significativo de centros e instituies acadmicas no apenas nos Estados Unidos e Europa, mas tambm em outros lugares em que a estruturao institucional das cincias sociais estava at ento pouco desenvolvida.

    Como decorrncia da poltica de investimentos pblicos e privados, as grandes potncias, principalmente os Estados Unidos, encorajaram, de forma direta ou indireta, o aparecimento de diversas instituies (notadamente acadmicas) nas quais as cincias sociais ocuparam posio importante. Dois aspectos desse processo tm importncia notvel para as futuras transformaes das cincias sociais.

    O primeiro diz respeito expanso quantitativa e geogrfica dos sistemas universitrios a nvel mundial e, a partir dos anos 1960 e 1970, o crescimento da ps-graduao, fato que levou multiplicao do nmero de cientistas sociais.

    Em um contexto de mudanas na distribuio do poder no mundo, os movimentos sociais da dcada de 1960, a nova afirmao poltica de povos no europeus e suas motivaes polticas subjacentes, tiveram como consequncia a proliferao de novas temticas de estudos, a intromisso recproca de reas disciplinares

    prximas, a reduo de uma concepo eurocntrica das cincias sociais, entre outros aspectos.

    O segundo refere-se criao de centros e institutos de ensino e pesquisa que atraram indivduos ou grupos de diferentes filiaes disciplinares. Assim, historiadores, socilogos de inclinao nomottica, antroplogos, psiclogos, economistas e outros, passaram a desenvolver um dilogo entre si, mesmo de forma pontual ou temporria (Wallerstein, 1996).

    Os resultados de todo esses processos foram mltiplos. Um deles, a crescente nfase na multidisciplinaridade que, sob certos aspectos, ps em causa muitos dos pressupostos vigentes das cincias sociais.

    Uma questo importante relacionada ao ponto de inflexo da teoria sociolgica nas dcadas de 1970 e 1980 diz respeito natureza das transformaes ocorridas no interior das cincias sociais. Grande parte dos estudos relacionados a essa questo tende a considerar que aquelas dcadas representaram um momento de ruptura e formao de uma nova etapa da evoluo sociolgica. Essa tese defendida por Gouldner (1970) e muitos outros.

    Para Alexander e Colomy (1990), por exemplo, a teoria sociolgica da dcada de 1980 apresentou uma mudana drstica em relao s velhas e reificadas etiquetas que dominaram as cincias sociais da poca dourada. Para eles, a entrada de uma nova gerao de socilogos foi responsvel por uma reconfigurao da disciplina, fazendo desaparecer velhas fronteiras e divises tericas at ento existentes.

    As ideias de Thomas Kuhn, desenvolvidas no seu livro A estrutura das revolues cientficas (1962), foram amplamente utilizadas por uma pliade de cientistas sociais para explicar a "crise", a "revoluo" e o surgimento de novos "paradigmas" nas cincias sociais.

    Considerar que as dcadas de 1970 e 1980 representam uma ruptura no sentido kuhntiano com a "idade de ouro" da sociologia no considerar devidamente alguns aspectos do processo de transformao das cincias sociais.

    A sociologia que floresce a partir daquele momento no significou necessariamente uma mudana unidirecional ou uniforme das cincias sociais.

    Tal fato parece consensual nos nossos dias. As mudanas ocorridas assumiram a forma de um aprimoramento contnuo ou de adaptao frente

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    ao quadro disciplinar e paradigmtico predominante na "idade de ouro" da sociologia. Afinal, a continuidade da tradio - continuidade to propriamente humana - no algo que se deixe facilmente ser contrariado pela insinuao ou interrupo de novos paradigmas interpretativos.

    As dcadas de 1970 e 1980 assinalaram principalmente para a perda de um modelo hegemnico do pensar sociolgico, conduzindo para o surgimento de um pluralismo dinmico no campo dessa disciplina. Isso significa dizer que, por um lado, os paradigmas tericos que foram hegemnicos na "idade de ouro" da sociologia sobrevivem at os nossos dias, embora com nova "roupagem", com novas problemticas.

    Exemplos significativos desse processo seriam a proposta neofuncionalista de Jeffrey Alexander, Paul Colomy e Charles Camic e o "marxismo analtico" de Jon Elster, Ernesto Laclau e Jameson. Por outro lado, novas concepes e construes tericas que estavam margem das tendncias hegemnicas entre os anos 1940 e 1970 emergiram, assumindo posio de destaque no universo sociolgico. O interacionismo simblico um exemplo.

    Essa teoria s comea a adquirir um status significativo no panteo internacional da sociologia nos fins dos anos 1960, com a publicao do livro de Blumer - Symbolic interacionism (1969). Lembremos, entretanto, que Herbert Blumer completou seu doutorado em 1928 e iniciou a publicao das suas ideias em 1933, atravs de dois livros, Movies and conduct e Movies, deliquency and crime.

    Um outro exemplo o pragmatismo. Pensadores como Pearce, Mead e Dewey, fonte de referncias de muitos cientistas sociais atuais (como Hans Joas), praticamente ficaram alijados entre os anos 1940 e 1970. Fato um tanto semelhante acontece com as sociologias de origem fenomenolgica.

    As principais obras de Alfred Schutz, fenomenlogo austraco falecido nos Estados Unidos em 1959, s adquiriram grande sucesso quando foram republicadas entre 1973 e 1976 (os Collect papers I, II e III).

    Sociologia e Sua Importncia

    O cientista social estuda os fenmenos, as estruturas e as relaes que caracterizam as organizaes sociais e culturais. Alm disso, o estudioso pesquisa costumes e hbitos, alm de investigar as relaes entre indivduos, famlias, grupos e instituies.

    Os resultados da pesquisa sociolgica no so de interesse apenas de socilogos. Cobrindo todas as reas do convvio humano desde as relaes na famlia at a organizao das grandes empresas, o papel da poltica na sociedade ou o comportamento religioso , a Sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras reas do saber.

    Entretanto, o maior interessado na produo e sistematizao do conhecimento sociolgico atualmente o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina cientfica.

    Socilogos fazem uso frequente de tcnicas quantitativas de pesquisa social (como a estatstica) para descrever padres generalizados nas relaes sociais. Isto ajuda a desenvolver modelos que possam entender mudanas sociais e como os indivduos respondero a essas mudanas.

    Em alguns campos de estudo da Sociologia, as tcnicas qualitativas como entrevistas dirigidas, discusses em grupo e mtodos etnogrficos permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com o objetivo explicativo.

    Mais que sua aplicao em planejamentos, pesquisas e programas de interveno, o conhecimento sociolgico funciona tambm como uma disciplina humanstica, no sentido de aperfeioamento do esprito, na medida em que compreende melhor o comportamento dos outros, a sua prpria situao e a sociedade como um todo.

    Sendo uma disciplina humanstica, a Sociologia uma forma significativa de conscincia social.

    O objetivo da sociologia aumentar ao mximo o conhecimento do homem e da sociedade atravs da investigao cientfica.

    O objeto de estudo da sociologia os fenmenos sociais, isto , tudo aquilo que se refere s relaes entre as pessoas, suas questes nos seus grupos sociais ou entre os grupos dinamizando a sociedade como um todo.

    O campo de estudo da sociologia a sociedade como um todo, envolvendo todas as suas particularidades, sejam em caractersticas polticas, econmicas, sociais, culturais, histricas, etc.

    A sociologia importante porque nos permite compreender melhor a sociedade em que vivemos e conseqentemente, explicar e buscar

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    solues para a complexidade das questes sociais.

    Assim a sociologia vem se tornando uma cincia imprescindvel para o conhecimento do mundo atual.

    ANOTAES

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    Mtodos para a Construo do Conhecimento Sociolgico

    Transformaes de ordem intelectual situadas no mbito da cultura, sobretudo, da cincia e da filosofia, conjugadas s condies sociais de liquidao do "ancien rgime" e da inaugurao da era industrial, que consolida o sistema de produo capitalista, constituem as condies histricas em que a sociologia surge como conhecimento especfico.

    neste cenrio marcado por radicais transformaes em todos os aspectos, que, constituindo seu objeto e estabelecendo regras metodolgicas aliceradas naquelas prprias das chamadas cincias da natureza, o conhecimento sociolgico alcana autonomia em relao a filosofia e as demais cincias sociais.

    As substanciais modificaes das tcnicas produtivas introduzidas pela Revoluo Industrial, reorganizaram as relaes sociais em torno da produo fazendo emergir uma srie de novos problemas sociais tais como a exploso demogrfica nos espaos urbanos tornados centros nervais da ordem capitalista; a evidente oposio entre capital e trabalho dando origem a uma complexa estrutura de classe que ope capitalistas e trabalhadores, ou seja, aqueles que detm os meios de produo (mquinas e capital) e aqueles que detm apenas a sua fora de trabalho, evidenciando nesse confronto o poder econmico, poltico e scio cultural da classe capitalista.

    Todas estas transformaes causaram o que poderamos considerar um efeito traumtico no modo de vida da poca. Misria, explorao, falta de condies elementares de sobrevivncia como moradia; saneamento bsico nos centros urbanos j desenvolvidos; sade e uma srie de outros artigos indispensveis possibilidade de uma vida social, pelo menos dentro dos limites humanamente aceitveis, provocavam profundas insatisfaes e constantes conflitos entre a classe trabalhadora e os proprietrios capitalistas e tais conflitos se estendiam ao campo expressos no confronto entre terra e trabalho.

    Na medida em que esses conflitos se acirravam, os trabalhadores desenvolviam uma conscincia de classe e organizavam-se contra os proprietrios dos meios de produo. Em oposio a ordem capitalista, propunham uma alternativa socialista como forma de superao das desigualdades que os lanavam em situao de sub-vida.

    Todo esse panorama colocava a vida social sob a condio de problema que exigia premente

    investigao de forma que fosse possvel uma atuao eficaz no sentido de restabelecer o equilbrio social. claro que, tal qual a realidade vigente repleta de contradies, a sociologia, cincia que tenta responder a essa necessidade, reflete inteiramente os confrontos de classe da poca, sobretudo por se tratar de uma cincia que nasce sob a exigncia de um retorno prtico sobre a realidade a qual tenta dar conta em suas investigaes.

    Nesse sentido, prprio afirmar que, se verdade que toda cincia desenvolve-se dentro de certas condies e interesses, a sociologia aprofunda essa relao na medida em que tenta responder necessidade de transformao de uma realidade social concreta e eminentemente contraditria, possibilitando tanto um projeto social que sustente os interesses capitalistas, quanto uma proposta de superao dessa ordem.

    No mbito das transformaes filosficas e culturais, o cenrio da poca no menos conturbado. O processo de transformao do esprito ocidental moderno, que teve incio nos Sculos XV e XVI com o Renascimento, apresenta uma srie de modificaes nas formas de conceber tanto a natureza quanto o homem e suas relaes.

    A superao do horizonte teolgico medieval, apartando definitivamente filosofia e religio, promove a autonomia e fortalecimento da razo em relao a teologia possibilitando um crescente processo de secularizao que representa, nos mais diversos nveis da vida, um rompimento profundo com certas explicaes que, at o perodo medieval, respondiam satisfatoriamente a uma srie de questes relacionadas a ordem natural e social.

    O racionalismo moderno provoca questes relativas a objetividade do conhecimento fundado sobre bases metodolgicas que descartam definitivamente os antigos dogmas religiosos, no obstante guarde traos da metafsica um exemplo clssico Descartes que v em um ser perfeito em ltima anlise Deus, a condio essencial de possibilidade da existncia da realidade e do conhecimento dessa realidade, quando teoriza sobre sua idia perfeita e irrefutvel do Eu Penso.

    Essa conscincia secularizada possibilitou uma nova concepo de sociedade que se constituiu como objetividade possvel e, portanto, como objeto passvel de investigao pelo conhecimento cientfico. Nesse perodo a cincia inaugurada com o pensamento moderno j alcanava enorme prestgio e era responsvel

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    pelos avanos tcnicos que possibilitou a Revoluo Industrial.

    Alm disso, a progressiva utilizao do mtodo cientfico baseado na observao e experimentao abria uma possibilidade sem precedentes de conhecimento e controle de uma enorme variedade de fenmenos naturais conferindo ao homem um papel de dominador diante da natureza. Essa dominao convertia-se no mbito da sociedade na idia de homem como sujeito histrico e na compreenso da histria como um trajeto lgico, racional e, portanto, inteligvel.

    O pensamento iluminista, surgido na Frana do Sculo XVIII, fortemente influenciado pelo modelo das cincias da natureza, sobretudo pela fsica newtoniana, rompe definitivamente no apenas com a ordem social feudal mas tambm com as formas tradicionais do conhecimento fundadas sobre princpios teocntricos e metafsicos. Idelogos da classe burguesa, os iluministas apresentavam a razo como redentora e nico meio de alcanar uma sociedade mais justa.

    claro que esse discurso libertador s se manteve durante o perodo em que a burguesia ainda lutava para destruir a antiga ordem feudal. Depois de alcanada a sua hegemonia econmica, poltica e social e cultural, a burguesia assumiu posio bem menos revolucionria.

    Nessas condies, o pensamento positivista, sistematizado por Augusto Conte, encontra o suporte necessrio para desenvolver a proposta de uma cincia da sociedade cujo padro de procedimento a aplicao tcnica das leis cientficas que regem a sociedade humana, considerando que essas leis possuem um carter natural como aquelas que regem a natureza.

    Vale ressaltar que as teorias de Conte vo se desenvolver em perodo ulterior a Revoluo Burguesa e assume claramente a tarefa de conter a propagao de surtos revolucionrios e aparar as arestas deixadas pelo processo de implementao do projeto burgus.

    nesse sentido que a sociologia surge como cincia comprometida com interesses de classe e desenvolve toda uma lgica terico-metodolgica baseada nos princpios de objetividade e neutralidade cientfica, buscado descobrir as leis que regem a sociedade e uma vez de posse desse conhecimento orientar a melhor forma de controle social.

    Como disse, toda cincia nasce marcada pelas condies e interesses do seu tempo. A

    sociologia, pela prpria natureza do seu objeto, aprofunda essa relao na medida em que objeto e sujeito do conhecimento so idnticos. Aqui comeam os problemas metodolgicos centrais que atravessam toda a trajetria do pensamento sociolgico.

    Compreendemos que a estrutura metodolgica instituda pela cincia correlata ao objeto que pretende conhecer e, nesse sentido, , em ltima instncia, o objeto que determina a natureza do mtodo. Dessa forma, preciso que se compreenda como se constitui o objeto especfico da sociologia para que se possa entender os problemas fundamentais que envolvem a sua metodologia.

    A princpio a sociologia tem como objeto a sociedade, mas o que a sociedade se no uma abstrao que carece de substancialidade e que s somos capazes de experimentar atravs dos indivduos? Como ento objetivar a sociedade de forma que sejam os grupos e no os indivduos particulares que ofeream os dados necessrios s investigaes sociolgicas. As respostas para essa indagao inicial estava longe de ser uma unanimidade.

    Os tericos considerados clssicos da sociologia, em razo do papel fundador de suas teorias, no caso Durkheim, Weber e Marx encontram solues diferentes para a questo e apresentam, respectivamente, as instituies, a ao social e o conflito de classes como os objetos especficos dessa cincia.

    Contudo, as dificuldades metodolgicas fundamentais so comuns a todos eles na medida em que precisam lidar com algumas especificidades do fenmeno social que remetem a algumas indagaes iniciais imprescindveis tais como: o que possibilita que as coletividades existam e se mantenham? e correlativamente, como o indivduo se liga a essa coletividade? como se organizam ou se estruturam os quadros sociais da vida humana? como se produz e se explica a mudana, a evoluo das sociedades humanas?

    Essas questes, relativas a natureza do objeto sociolgico, suscitam dificuldades metodolgicas que se referem a regularidade do fenmeno social e a possibilidade de ampliar a experincia particular dando condies a elaborao de categorias universais e portando, vlidas cientificamente e, na direo contrria, a conciliao das generalizaes tericas e as bases empricas; o confrontamento entre os procedimentos metodolgicos quantitativo (mensurao) e qualitativo (compreenso) como instrumento mais adequado ao conhecimento da

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    realidade social; a problemtica da relao sujeito-objeto que encontra-se na base do princpio de objetividade cientfica.

    A diversidade de interesses que compe o cenrio do surgimento da sociologia promoveu variadas possibilidades de procedimento metodolgico que possuem diferenas fundamentais no pensamento dos tericos anteriormente citados e apresentados aqui como referncia bsica na discusso que se segue, j que representam as matrizes a partir das quais se desenvolvem todas as reflexes desenvolvidas pelo pensamento sociolgico posterior.

    Para Durkheim, a distino entre conscincia individual e conscincia coletiva, resolveria o problema em torno da questo da possibilidade de universalizao das leis sociais uma vez que a conscincia coletiva guardava certas caracterstica presentes em todas as sociedades, independente de suas manifestaes particulares, constituindo assim um padro institucional regular e, portanto, passvel de uma anlise positiva.

    Assim sendo, preso ainda ao modelo positivista de cincia e concepo organicista de sociedade propostos por Comte, implementa um modelo metodolgico em que, a princpio, no coloca o problema da objetividade j que no considera qualquer distino essencial entre as cincias da natureza e a cincia da sociedade, mesmo que isso no implique a no distino entre seus respectivos objetos.

    Nesse caso, assume a perspectiva quantitativa, peculiar ao mtodo das cincias da natureza, como modelo de referncia bsica para a sociologia. O que prope como objeto de investigao sociolgica as representaes sociais nos mais diversos graus de institucionalizao, deve ser apreendido e tratado como coisa exterior, ou seja, para alm dos sujeitos sociais, dotado de certo grau de autonomia, o que garantiria a neutralidade do sujeito frente ao objeto e, consequentemente , a objetividade do conhecimento por ele produzido.

    Na concepo de Weber, partindo da ao social considerada enquanto ao dotada de intencionalidade por parte do sujeito social, a relao sujeito-objeto adquire maior complexidade.

    O mtodo por ele proposto admite dois momentos distintos: um primeiro em que a subjetividade se apresenta como instrumento fundamental no processo de construo do objeto a ser analisado e a cabe considerar todas as determinaes, preconceitos e valores referentes ao sujeito; e um segundo, onde uma vez constitudo o objeto,

    elaborada uma estratgia metdica de construo de uma tipologia ideal e a subjetividade deve ausentar-se inteiramente do processo analtico. Weber entende que isso garantiria a objetividade do conhecimento produzido e resguardaria a especificidade do objeto analisado, ou seja, o jogo de interesses e dominao a ele peculiar.

    Diferente de Durkheim, Weber no considera as representaes sociais como algo exterior aos indivduos e em razo disso compreende a sociedade como um constante arranjo de interesses e relaes de dominao que exige, para sua compreenso, a incluso dos sujeitos sociais como parte essencial do processo.

    Nesse sentido, ele nega a possibilidade da formulao de conceitos produzidos pelas cincias sociais que possuam validade universal, j que o constante fluxo de sentidos impede uma apreenso definitiva da realidade social, o que no impediria, por outro lado, a formulao de um conhecimento objetivo. Alm disso sustenta que a sociedade no possui uma ordem que lhe seja inerente. Portanto, uma cincia da sociedade tem como tarefa ordenar racionalmente os dados sociais observados e no conhecer uma ordem j estabelecida.

    Contrapondo-se ao projeto positivista que pretendia fundamentar cientificamente a manuteno da ordem burguesa, o pensamento socialista apresenta uma cincia da sociedade que, fundada sobre o princpio do conflito (luta de classes) assume um posicionamento crtico frente a essa sociedade propondo caminhos para sua superao. Comprometida com a luta poltica e assumindo um carter materialista dialtico, as reflexes de Marx no apresentam sistematicamente uma proposta metodolgica para a sociologia, mais ainda, no enquadram-se no modelo tradicional de reflexo sociolgica vez que no considera as cincias humanas como especialidades desvinculadas, considerando, contrariamente, a impossibilidade de separao dos diversos saberes histria, antropologia, economia, poltica, sociologia, psicologia, e demais saberes.

    Contudo, possvel, como afirma Michael Lvy, distinguir no interior de suas anlises da sociedade capitalista uma postura metodolgica que pode ser apreendida em sentido mais amplo, sobretudo no que se refere a questo da objetividade e neutralidade cientfica.

    Em suas teorias sobre a relao entre estrutura e superestrutura, Marx evidencia a noo de que todo pensamento produzido, seja ele da ordem da poltica, da cultura ou mesmo da cincia est inevitavelmente ligado aos interesses de classe,

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    em outros termos, possvel dizer que a cincia no possui neutralidade na medida em que produzida dentro do conflito de classes fora do qual nada pode situar-se. Isso no significa que a cincia resultante da no possua validade. O que vai conferir validade ao saber cientfico produzido no diz respeito a sua neutralidade, j que essa impossvel, mas a possibilidade de constituir-se enquanto instrumento transformador de uma dada realidade existente.

    Mostra-se assim, inequivocamente, o compromisso de classe assumido pelo prprio Marx que se assumia como representante cientfico do proletariado.

    Como vimos, os problemas que envolvem os procedimentos metodolgicos no mbito da sociologia no se constituem como matria simples, o que parece razovel se atentarmos para a natureza do objeto que tenta dar conta assim como para as mltiplas variveis que envolvem o prprio socilogo. Seria possvel prosseguir e aprofundar essa anlise no fosse a natureza e objetivo que a caracteriza.

    necessrio, no entanto, ter em vista que a abordagem aqui desenvolvida envolve questes sobre as quais o pensamento sociolgico est longe de alcanar um consenso.

    ANOTAES

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    Durkheim

    Quem foi mile Durkheim?

    Foi um socilogo, psiclogo social e filsofo francs. Formalmente criou a disciplina acadmica e, com Karl Marx e Max Weber, comumente citado como o principal arquiteto da cincia social moderna e pai da sociologia.

    mile Durkheim foi um dos responsveis por tornar a sociologia uma matria acadmica, sendo aceita como cincia social. Durante sua vida, publicou centenas de estudos sociais, sobre educao, crimes, religio, e at suicdio.

    mile Durkheim

    Um dos focos de Durkheim era em como as sociedades poderiam manter a sua integridade e coerncia na era moderna, quando as coisas como religio e etnia estavam to dispersas e misturadas. A partir disto, ele procurou criar uma aproximao cientfica para os fenmenos sociais. Descobriu a existncia e a qualidade de diferentes partes da sociedade, divididas pelas funes que exercem, mantendo o meio balanceado. Isto ficou conhecido como a teoria do Funcionalismo.

    Tambm falava que a sociedade mais do que a soma de suas partes. Ao contrrio de Max Weber, ele no estava focado no que motivava as aes individuais das pessoas (individualismo), mas no estudo dos fatos sociais, termo criado por ele mesmo que descreve os fenmenos que no so limitados apenas a uma pessoa.

    Os fatos sociais tem uma existncia independente e mais objetiva do que as aes individuais, e podem somente ser explicados por outros fatos sociais, como a regio onde a sociedade est submetida, governos, etc.

    Discutiu o fato de que na sociedade moderna, a diviso do trabalho ser bem maior do que antes. Vrias classes de funcionrios foram criadas nas fbricas. Numa linha de produo, um trabalhador no precisa saber de todo o processo de fabricao do produto, apenas da parte que lhe foi conferida. Isto gerou uma dependncia cada vez maior. Antes, o fazendeiro trabalhava na sua propriedade auto-suficiente, sem depender de outros grupos de trabalhadores para alimentar as necessidades. Agora, o trabalhador ganha seu dinheiro, e tem de confi-lo a outros grupos para poder se manter (roupas, alimentao, etc).

    Livros de mile Durkheim:

    Da diviso do trabalho social, 1893;

    Regras do mtodo sociolgico, 1895;

    O suicdio, 1897;

    Sociedade e trabalho, 1907;

    As formas elementares de vida religiosa, 1912;

    mile Durkheim, o Criador da Sociologia da Educao

    Em cada aluno h dois seres inseparveis, porm distintos. Um deles seria o que o socilogo francs mile Durkheim (1858-1917) chamou de individual. Tal poro do sujeito - o jovem bruto -, segundo ele, formada pelos estados mentais de cada pessoa.

    O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal funo da educao at o sculo 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida ento como a cincia do indivduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral.

    A caracterizao do segundo ser foi o que deu projeo a Durkheim. "Ele ampliou o foco conhecido at ento, considerando e estimulando tambm o que concebeu como o outro lado dos alunos, algo formado por um sistema de idias que exprimem, dentro das pessoas, a sociedade de que fazem parte", explica Dermeval Saviani, professor emrito da Universidade Estadual de Campinas.

    Dessa forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo

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    educativo. Para ele, "a educao uma socializao da jovem gerao pela gerao adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor ser o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida.

    Nessa concepo durkheimiana - tambm chamada de funcionalista -, as conscincias individuais so formadas pela sociedade. Ela oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade moldada pelo "esprito" ou pela conscincia humana. "A construo do ser social, feita em boa parte pela educao, a assimilao pelo indivduo de uma srie de normas e princpios - sejam morais, religiosos, ticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, um produto dela", escreveu Durkheim.

    Essa teoria, alm de caracterizar a educao como um bem social, a relacionou pela primeira vez s normas sociais e cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais tm na constituio de um desenvolvimento coletivo. "Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de mximas que dirigem os diferentes modelos de educao, cada uma com as caractersticas que lhe so prprias. As sociedades crists da Idade Mdia, por exemplo, no teriam sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe dado atualmente", exemplificou o pensador.

    Durkheim e o Fato Social

    Ao final do sculo XIX, no perodo de formao da Sociologia enquanto cincia, mile Durkheim preocupava-se em criar regras para o mtodo sociolgico, garantindo-lhe um status de saber cientfico, assim como as demais reas do conhecimento, a exemplo da biologia, da qumica, entre outras.

    Contudo, to importante quanto definir o mtodo era definir o objeto de estudo. Assim, segundo Durkheim, sociologia caberia estudar somente os fatos sociais, e estes consistiriam em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivduo, dotadas de um poder de coero sobre este mesmo indivduo.

    As respostas para nossa organizao social estariam nos fatos sociais e para isso seria necessria a aplicao de um mtodo para os compreendermos melhor enquanto objeto sociolgico, devendo ser vistos como se fossem coisas, como se fossem objetos passveis de anlise, assim como a biologia se debrua sobre uma planta.

    Para ele, o homem naturalmente cria falsas noes do que so as coisas que o rodeiam, mas no atravs da criao de ideias que se chegar realidade.

    Para Durkheim, deve-se propor a investigao dos fatos para buscar as verdadeiras leis naturais que regem o funcionamento e a existncia destes, pois possuem existncia prpria e so externos em relao s conscincias individuais.

    Em sua obra intitulada As regras do mtodo sociolgico, de 1895, Durkheim afirmam que espera ter definido exatamente o domnio da sociologia, domnio esse que s compreende um determinado grupo de fenmenos.

    Um fato social reconhece-se pelo seu poder de coao externa que exerce ou suscetvel de exercer sobre os indivduos; e a presena desse poder reconhece-se, por sua vez, pela existncia de uma sano determinada ou pela resistncia que o fato ope a qualquer iniciativa individual que tenda a violent-lo [...]. um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou no, suscetvel de exercer sobre o indivduo uma coao exterior, ou ainda, que geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existncia prpria, independente das suas manifestaes individuais.

    Os fatos sociais dariam o tom da ordem social, sendo construdos pela soma das conscincias individuais de todos os homens e, ao mesmo tempo, influenciam cada uma.

    O importante a realidade objetiva dos fatos sociais, os quais tm como caracterstica a exterioridade em relao s conscincias individuais e exercem ao coercitiva sobre estas. Mas uma pergunta se coloca: de onde vem esta ao coercitiva? Pensemos em nossa sociedade atual.

    Fomos criados, por nossos pais e pela sociedade, com a ideia de que no podemos, em um restaurante, virar o prato de sopa e beber de uma s vez, pois certamente as pessoas vo rir ou talvez achar um tanto quanto estranho, j que existem talheres para se tomar sopa. No existem leis escritas que impeam quem quer que seja de virar o prato de sopa, segurando-o com as duas mos para beber rapidamente.

    No entanto, a grande maioria das pessoas se sentiria proibida de praticar isso. Da mesma forma, por que quando trabalhamos em um escritrio ou algum lugar formal os homens esto de terno e no de pijamas? Isso a ao coercitiva do fato social, o que nos impede ou nos autoriza a praticar algo, por exercer uma

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    presso em nossa conscincia, dizendo o que se pode ou no fazer.

    Se um indivduo experimentar opor-se a uma dessas manifestaes coercitivas, os sentimentos que nega (por exemplo, o repdio do pblico por um homem de terno rosa) voltar-se-o contra ele. Em outras palavras, somos vtimas daquilo que vem do exterior. Assim, os fatos sociais so produtos da vida em sociedade, e sua manifestao o que interessa a Sociologia.

    Muito de seu trabalho estava preocupado com a forma como as sociedades poderiam manter sua integridade e coerncia na modernidade; uma era em que tradicionais laos sociais e religiosos no so mais assumidos, e em que novas instituies sociais tm vindo a ser. Seu primeiro trabalho sociolgico importante foi Da Diviso do Trabalho Social (1893). Em 1895, publicou As Regras do Mtodo Sociolgico e criou o primeiro departamento europeu de sociologia, tornando-se o primeiro professor de sociologia da Frana.

    Em 1898, fundou a revista L'Anne Sociologique. Sua monografia seminal, O Suicdio(1897), um estudo das taxas de suicdio em populaes catlicas e protestantes, foi uma investigao social moderna pioneira e serviu para distinguir a cincia social, da psicologia e da filosofia poltica. As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) apresentou uma teoria da religio, comparando a vida social e cultural das sociedades indgenas e modernas.

    Durkheim tambm estava profundamente preocupado com a aceitao da sociologia como cincia legtima.

    Aperfeioou opositivismo originalmente estabelecido por Auguste Comte, promovendo o que poderia ser considerado como uma forma derealismo epistemolgico, assim como a utilizao do mtodo hipottico-dedutivo na cincia social. Para ele, a sociologia era a cincia das instituies, caso no qual este termo entendido em seu sentido mais amplo como as "crenas e modos de comportamento institudos pela coletividade" e que tem como objetivo descobrir fatos sociais estruturais.

    Foi um grande defensor do funcionalismo estrutural, uma perspectiva fundamental tanto em sociologia e antropologia. Em sua opinio, a cincia social deve ser puramente holstica; ou seja, a sociologia deve estudar os fenmenos atribudos a sociedade em geral, em vez de se limitar s aes especficas dos indivduos.

    Permaneceu como uma fora dominante na vida intelectual francesa at a sua morte em 1917,

    apresentando inmeras palestras e trabalhos publicados em uma variedade de tpicos, incluindo a sociologia do conhecimento, a moralidade, aestratificao social, religio, direito, educao, e desvio. Termos durkheimianos como "conscincia coletiva", desde ento, entraram no lxico popular.

    Weber

    Quem foi Max Weber?

    Max Weber foi um importante socilogo, jurista, historiador e economista alemo. Weber considerado um dos fundadores do estudo sociolgico moderno. Seus estudos mais importantes esto nas reas da sociologia da religio, sociologia poltica, administrao pblica (governo) e economia.

    A Definio de Ao Social de Max Weber

    A ao social, para Max Weber, pode ser dividida em quatro aes fundamentais: ao social racional com relao a fins, ao social racional com relao a valores, ao social afetiva e ao social tradicional.

    Na viso de Max Weber, a funo do socilogo compreender o sentido das chamadas aes sociais, e faz-lo encontrar os nexos causais que as determinam. Entende-se que aes imitativas, nas quais no se confere um sentido para o agir, no so ditas aes sociais. Mas o objeto da Sociologia uma realidade infinita e para analis-la preciso construir tipos ideais, que no existem de fato, mas que norteiam a referida anlise.

    Os tipos ideais servem como modelos e a partir deles a citada infinidade pode ser resumida em quatro aes fundamentais, a saber:

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    1. Ao social racional com relao a fins, na qual a ao estritamente racional. Toma-se um fim e este , ento, racionalmente buscado. H a escolha dos melhores meios para se realizar um fim;

    2. Ao social racional com relao a valores, na qual no o fim que orienta a ao, mas o valor, seja este tico, religioso, poltico ou esttico;

    3. Ao social afetiva, em que a conduta movida por sentimentos, tais como orgulho, vingana, loucura, paixo, inveja, medo, etc., e

    4. Ao social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hbitos arraigados. (Observe que as duas ltimas so irracionais).

    Para Weber, a ao social aquela que orientada ao outro. No entanto, h algumas atitudes coletivas que no podem ser consideradas sociais.

    No que se refere ao mtodo sociolgico, Weber difere de Durkheim (que tem como mtodo a observao e a experimentao, sendo que esta se d a partir da anlise comparativa, isto , faz-se a anlise das diversas sociedades as quais devem ser comparadas entre si posteriormente).

    Ao tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim queria mostrar que o cientista precisa romper com qualquer pr-noo, ou seja, necessrio, desde o comeo da pesquisa sobre a sociedade, o abandono dos juzos de valores que so prprios ao socilogo (neutralidade), uma total separao entre o sujeito que estuda e o objeto estudado, que tambm pretendem as cincias naturais.

    No entanto, para Weber, na medida em que a realidade infinita, e quem a estuda faz nela apenas um recorte a fim de explic-la, o recorte feito prova de uma escolha de algum por estudar isto ou aquilo neste ou naquele momento.

    Nesse sentido, no h, como queria Durkheim, uma completa objetividade. Os juzos de valor aparecem no momento da definio do tema de estudo.

    Assim foi o seu conviver com a doutrina protestante que influenciou Weber na escrita de A tica protestante e o esprito do capitalismo. Para esse terico, apenas aps a definio do tema, quando se vai partir rumo pesquisa em si, que se faz possvel ser objetivo e imparcial.

    Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista do objeto de estudo sociolgico. O primeiro dir que a Sociologia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser: gerais, exteriores e coercitivos, alm de objetivos, para

    esta ser chamada corretamente de cincia. Enquanto o segundo optar pelo estudo daao social que, como descrita acima, dividida em

    tipologias.

    Ademais, diferentemente de Durkheim, Weber no se apoia nas cincias naturais a fim de construir seus mtodos de anlises e nem mesmo acredita ser possvel encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do mundo social.

    O seu interesse no , portanto, descobrir regras universais para fenmenos sociais. Mas quando rejeita as pesquisas que se resumem a uma mera descrio dos fatos, ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as quais so suscetveis de entendimento a partir da racionalidade cientfica.

    Objetividade do Conhecimento

    Em 1903, junto com Werner Sombart e Edgar Jaff, Weber funda o Arquivo para a Cincia Social e a Cincia Poltica. No texto que escreveu para a revista, intitulado A objetividade do conhecimento na cincia poltica e social (de 1904) ele apresentou sua posio na discusso sobre os mtodos das cincias econmicas, polmica que sacudia o mundo universitrio da poca.

    A tradio alem de filosofia social tinha suas origens em Immanuel Kant. Mas, a tentativa de fundamentar as cincias histricas com o pensamento kantiano inicia-se apenas com o trabalho de Wilhelm Dilthey, em 1883.

    A reivindicao fundamental do seu trabalho foi mostrar o estatuto ontolgico diferenciado das cincias histricas e sociais diante das cincias da natureza.

    Na Alemanha este esforo continuou com os trabalhos de Wilhelm Windelband e Heinrich Rickert. No campo da economia, esta tendncia tambm era representada por Gustav von Schmoller.

    Max Weber no se enquadrava diretamente em nenhuma destas posies. Com a escola neo-kantiana, ele concorda com o fato de que as cincias humanas lidam com o fenmeno do valor.

    S analisamos aqueles elementos da realidade que tem algum sentido para ns, a partir de nossas referncias de valor.

    Tal posio fora retirada por Weber de Heinrich Rickert. Mas, nem por isso ele rejeitava o valor da imputao causal nas cincias humanas, pois eram um instrumento indispensvel para a

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    explicao dos mecanismos de entendimento da vida social. Em sntese, Weber propunha a unificao das cincias humanas integrando a "verstehen" (compreenso) e a "erklren" (explicao) em uma viso dual mas no dualista da cincia

    4 .

    O principal problema desta posio, contudo, que elas colocavam em questo o valor objetivo da cincia. Weber reconheceu que toda pesquisa tem um ponto de partida subjetivo (ligado a referncia de valor do pesquisador), mas entendeu que este dado no destrua a objetividade da cincia.

    O valor cognitivo da cincia social reside na sua capacidade de controlar a pesquisa mediante mtodos sistemticos e padronizados de trabalho. O ponto de partida da investigao at pode ser subjetivo, mas seu ponto de chegada dever ser rigorosamente objetivo.

    Alicerado na noo kantiana de a priori, Weber tambm desenvolveu a noo de tipo ideal . Tal conceito mostra que as categorias da cincia social so uma construo subjetiva do pesquisador, feita a partir de seus interesses.

    Como tais, eles selecionam na realidade, sempre complexa e catica, certos elementos que sero aglutinados como um tipo idealmente perfeito. Conceitos no emanam diretamente da realidade (viso hegeliana), nem so formados apenas por abstrao de elementos comuns e genricos (viso aristotlica), pois eles implicam acentuar determinados elementos para que eles possam ser compreendidos.

    Trata-se de reunir o caos inesgotvel da realidade em conceito compreensveis.

    Ainda que Weber no tenha defendido uma viso rigorosamente dualista da cincia, o escrito "A objetividade do conhecimento na cincia poltica e na cincia social" constitui ainda hoje o principal texto para quem defende uma viso no naturalista de cincia, ou seja, que defende a tese de que as cincias humanas so essencialmente diferenciadas das demais cincias de corte emprico-natural.

    considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua influncia tambm pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na cincia poltica e na administrao. Comeou sua carreira acadmica na Universidade Humboldt de Berlim e, posteriormente, trabalhou na Universidade de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na Universidade de Viena e na Universidade. Personagem influente na poltica alem da poca,

    foi consultor dos negociadores alemes no Tratado de Versalhes (1919) e da comisso encarregada de redigir a Constituio de Weimar.

    Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o estudo do capitalismo e do chamado processo de racionalizao e desencantamento do mundo. Mas seus estudos tambm deram contribuio importante para a economia.

    Sua obra mais famosa so os dois artigos que compem A tica protestante e o esprito do capitalismo, com o qual comeou suas reflexes sobre a sociologia da religio.

    1 Weber

    argumentou que a religio era uma das razes no-exclusivas do porque as culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de formas diversas, e salientou a importncia de algumas caractersticas especficas do protestantismo asctico, que levou ao nascimento do capitalismo, da burocracia e do estado racional e legal nos pases ocidentais. Em outro trabalho importante, A poltica como vocao, Weber definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monoplio do uso legtimo da fora fsica", uma definio que se tornou central no estudo da moderna cincia poltica no Ocidente. Em suas contribuies mais conhecidas so muitas vezes referidas como a "Tese de Weber".

    Economia e Sociedade

    Em 1913, Weber publicou um escrito intitulado "Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva", primeiro esboo de seu mtodo sociolgico. Ele continuou a trabalhar sua viso de sociologia durante os prximos anos em escrito encomendado para uma ampla coleo de textos econmicos e que, por esta razo, recebeu o nome de "Economia e Sociedade". Weber trabalhou neste volume at o final de sua vida, mas ele s foi publicado postumamente por sua esposa, Marianne Weber.

    A verso mais conhecida deste volume pstumo e a quarta edio, organizada por Johannes Winckelmann, em 1956.

    No primeiro captulo desta obra, aparece como conceito fundante da teoria sociolgica de Weber - a categoria ao -, considerado por ele como o objeto da sociologia. Por essa razo sua teoria inaugura o chamado "individualismo metodolgico", postura que entende que as formas coletivas de vida (ou mesmo a sociedade como totalidade social) deve ser explicadas a partir de suas bases individuais, opondo-se, assim, ao holismo metodolgico.

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    A ao um comportamento humano ao qual os indivduos vinculam um significado subjetivo e a ao social quando est relacionada com outro indivduo. A anlise da teoria weberiana como cincia tem como ponto de partida a distino entre quatro tipos de ao social:

    A ao instrumental com relao a um objetivo determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens e utiliza essas expectativas como condies ou meios para alcance de fins prprios racionalmente avaliados e perseguidos. uma ao concreta que tem um fim especifico, por exemplo: o engenheiro que constri uma ponte.

    A ao racional com relao a um valor aquela definida pela crena consciente no valor - interpretvel como tico, esttico, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando todos os riscos, no para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, sua crena consciente no valor, por exemplo, um capito que afunda com o seu navio.

    A ao afetiva aquela ditada pelo estado de conscincia ou humor do sujeito, definida por uma reao emocional do ator em determinadas circunstncias e no em relao a um objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a me quando bate em seu filho por se comportar mal.

    A ao tradicional aquela ditada pelos hbitos, costumes, crenas transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradio o ator no precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoo, obedece a reflexos adquiridos pela prtica.

    Nos pargrafos seguintes Weber desenvolve ainda os conceitos de "relao social" e de "ordem social".

    Na tica weberiana, a sociologia essencialmente hermenutica, ou seja, ela est em busca do significado e dos motivos ltimos que os prprios indivduos atribuem as suas aes: neste sentido que a sociologia sempre "compreensiva" (verstehen). O principal objetivo de Weber compreender o sentido que cada pessoa d a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligvel e no a anlise das instituies sociais como propunha Durkheim. A anlise weberiana prope que se deve

    compreender, interpretar e explicar respectivamente, o significado, a organizao e o sentido, bem como evidenciar regularidade das condutas.

    Cabe a sociologia entender como acontecem e se estabilizam as relaes sociais, os grupos organizados e as estruturas coletivas da vida social.

    Com este pensamento, no possua a ideia de negar a existncia ou a importncia dos fenmenos sociais globais, dando importncia necessidade de entender as intenes e motivaes dos indivduos que vivenciam essas situaes sociais.

    Ou seja, a sua ideia que a sociedade como totalidade social o resultado das formas de relao entre seus sujeitos constituintes. Tomando como ponto de partida da compreenso da vida social o papel do sujeito, a teoria de Max Weber denominada individualismo metodolgico.

    1. Sociologia Econmica

    Durante a maior parte de sua vida acadmica, Max Weber foi docente de disciplinas da rea econmica. Alis, seu ltimo livro, um conjunto de notas de aula publicados por seus alunos, chama-se justamente Histria Geral da Economia. Desta forma, no surpresa que Weber elabore uma sofisticada abordagem sociolgica da vida econmica. Por esta razo, h at tericos

    10 que

    defendem que, em ltima instncia, toda obra de Weber no passa de uma teoria econmica, qual seja, uma viso scio-histrica da vida aquisitiva.

    Na sua primeira fase, seguindo a tradio marxista, Weber tendia a ver o capitalismo como um fenmeno especificamente moderno. J em sua tica Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo os fatores culturais da gnese da conduta capitalista, era esta viso que predominava. Mas, nas dcadas seguintes, ele romper com estas noes.

    Em primeiro lugar, ele insere o capitalismo (na sua fase "moderna") em um amplo processo de racionalizao da cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto fenmeno social, o capitalismo uma das expresses da vida racionalizada da modernidade Ocidental e similar, em sua forma racional, ao campo da poltica, do direito, da cincia, etc.

    Outra mudana importante que Weber rompe com a definio marxista de que o capitalismo um fenmeno exclusivo da era moderna: da a expresso capitalismo "moderno". Para Weber, o

  • 18

    capitalismo um fenmeno que atravessa a histria, pois a busca do lucro j pode ser localizada nas sociedades primitivas e antigas, nas grandes civilizaes e mesmo nas sociedade no-ocidentais.

    O ncleo estruturante da atividade capitalista a ''empresa'', pois a separao da esfera individual da esfera impessoal da produo permite a racionalizao da organizao do trabalho e mesmo das atividades de gesto destas organizaes.

    Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos ideais de capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de Estado, o capitalismo mercantil, capitalismo comercial, etc.

    As principais anlises de Weber sobre o campo econmico podem ser encontradas no segundo captulo de Economia e Sociedade, tpico em que ele discute a ordem social econmica.

    Ali ele destaca que o processo de racionalizao da atividade econmica tambm envolve a passagem de uma racionalidade material - na qual a vida econmica est submetida a valores de ordem tica ou poltica - para uma racionalidade formal, ou seja, na qual a lgica impessoal das atividades econmicas e lucrativas se torna predominante.

    Por estas razes, Max Weber considerado, atualmente, um dos precursores da sociologia econmica, conjunto de autores que se recusa a entender a vida econmica como relacionada apenas com o mercado, concebido de forma abstrata, separado de suas condies histricas, culturais e sociais.

    2. Sociologia Poltica

    Max Weber desenvolveu um importante trabalho de sociologia poltica atravs da sua teoria dos tipos de dominao.

    Dominao a possibilidade de um determinado grupo se submeter a um determinado mandato. Trata-se, portanto, de um tipo de relao social fundada na autoridade de um indivduo sobre outros.

    Isso pode acontecer por motivos diversos, como as leis, admirao, costumes e tradio. Weber define trs tipos de dominao que se distinguem pelo seu carter (pessoal ou impessoal) e, principalmente, pela diferena nos fundamentos da legitimidade. So elas: legal, tradicional e carismtica.

    Dominao legal: a obedincia est fundamentada na vigncia e aceitao da validade intrnseca das normas e seu quadro administrativo mais bem representado pela burocracia. A ideia principal da dominao legal que deve existir um estatuto que pode ou criar ou modificar normas, desde que esse processo seja legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma de dominao, o dominado obedece regra, e no pessoa em si, independente do pessoal, ele obedece ao dominante que possui tal autoridade devido a uma regra que lhe deu legitimidade para ocupar este posto, ou seja, ele s pode exercer a dominao dentro dos limites pr-estabelecidos. Assim o poder totalmente impessoal, onde se obedece regra estatuda e no administrao pessoal. Como exemplo do uso da dominao legal podemos citar o Estado Moderno, o municpio, uma empresa capitalista privada e qualquer outra organizao em que haja uma hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais pura de dominao legal a burocracia

    12 .

    Dominao tradicional: Se d pela crena na santidade de quem d a ordem e de suas ordenaes, sua ordem mais pura se d pela autoridade patriarcal onde o senhor ordena e os sditos obedecem e na forma administrativa isso se d pela forma dos servidores. O ordenamento fixado pela tradio e sua violao seria um afronto legitimidade da autoridade. Os servidores so totalmente dependentes do senhor e ganham seus cargos seja por privilgios ou concesses feitas pelo senhor, no h um estatuto e o senhor pode agir com livre arbtrio.

    Dominao carismtica: nesta forma de dominao os dominados obedecem a um senhor em virtude do seu carisma ou seja, das qualidades excepcionais que lhe conferem especial poder de mando. A palavra carisma de inspirao religiosa e, no contexto cristo, lembra os dons conferidos pelo Esprito Santo aos cristos. A palavra foi reinterpretada em sentido sociolgico como dons e carismas do prprio indivduo e, foi nesta forma que Weber a adotou. Weber considerou o carisma uma fora revolucionria na histria, pois ele tinha o poder de romper as formas normais de exerccio do poder. Por outro lado, a confiana dos dominados no carisma do lder volvel e esta forma de dominao tende para a via tradicional ou legal.

  • 19

    A tipologia weberiana das formas de poder poltico diferente claramente da tradio clssica, orientada pela discusso da teoria das formas de governo, oriunda do mundo antigo (Plato e Aristteles). Filiado tradio realista de pensamento, Weber tambm rejeita os pressupostos normativos e ticos da teoria do poder e procura descrev-lo em suas formas efetivas de exerccio.

    Ao demonstrar que o exerccio do poder envolve a necessidade de legitimao da ordem poltica e, ao mesmo tempo, sua institucionalizao por meio de um quadro administrativo, Weber apresentou os fundamentos bsicos da sociologia poltica da era contempornea.

    Alm de uma rigorosa e sistemtica sociologia poltica - alicerada em seus tipos de dominao - Max Weber foi um dos mais argutos analistas da poltica alem, que analisou durante o Segundo Imprio Alemo e durante os anos iniciais da Repblica de Weimar.

    Crtico da poltica de Bismarck, lder que, ao monopolizar o poder, deixou a nao sem qualquer nvel de sofisticao poltica, Weber sempre apontou a necessidade de reconstruo da liderana poltica.

    No escrito O Estado Nacional e a Poltica Econmica, de 1895, j mostrava como as diferentes classes sociais no se mostravam aptar a dirigir a nao, seja pela sua decadncia social (caso dos Junkers), seja pela sua imaturidade poltica (caso da burguesia e do proletariado).

    3. Sociologia da Estratificao Social

    Estratificao social a rea da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a posio dos indivduos na sociedade e explicitao dos mecanismos que geram as distines sociais entre os indivduos.

    Ao contrrio de Marx, que explicava estas diferenas apenas com base em fatores econmicos, Weber mostrou que as hierarquias e distines sociais obedecem lgicas diferentes na esfera econmica, social e poltica. Sob o aspecto econmico as classes sociais so diferenciadas conforme a chance de oportunidades de vida, escalonando os indivduos em grupos positiva ou negativamente privilegiados.

    Do ponto de vista social, indivduos e agrupamentos sociais so valorizados conforme atributos de valor, dando origens a diversos tipos de grupos de status. Diferente tambm a lgica

    do poder, em que os indivduos agregam-se em diferentes partidos polticos.

    A anlise weberiana demonstra que existem diferentes mecanismos sociais de distribuio dos bens sociais, como a riqueza (classe), a honra ou prestgio social (grupos de status) e o poder (partidos) e que cada um deles cria diferentes tipos de ordenamento, hierarquizao e diferenciao social.

    4. Sociologia do Direito

    Jurista de formao, a anlise da esfera jurdica no ficou de fora das preocupaes de Max Weber. Ele dedicou um amplo captulo de Economia e Sociedade a este tema.

    O pano de fundo de toda sua reflexo sobre a esfera das normas jurdicas a tese da racionalizao da vida social, da qual o prprio direito uma das expresses. Ao compreender historicamente a evoluo do direito, Weber destaca o crescente processo de racionalizao que lhe inerente.

    A racionalizao do direito pode ser compreendida a partir de duas variveis: seu carter material ou formal ou seu carter racional e irracional. So racionais todas as formas de legislao que seguem padres fixos, ao contrrio do carter aleatrio dos mtodos irracionais.

    Por outro lado, o contedo do direito pode ser determinado por valores concretos, especialmente de carter tico, ou obedecer a critrios de ordem interna, ligados a sistemtica e ao processo jurdico em si mesmo, ou seja, a sua forma.

    A apreciao weberiana do setor jurdico da vida social no se dedica apenas a entender esta esfera de forma isolada. O direito possui uma ligao direta tanto com a ordem poltica quanto com a ordem econmica.

    A evoluo do direito formal um aspecto essencial do progressivo processo de burocratizao do Estado, bem como a estabilidade das normas jurdicas foi fundamental para a consolidao de uma economia de mercado, pois esta requer uma ordem de obrigaes previsvel. Direito, economia e poltica so ordens sociais de vida que esto conectados e entrelaados de forma direta

    15 .

    Como terico da evoluo scio-histrica do direito, Weber um dos precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o direito formal como a forma mais avanada historicamente do sistema jurdico. Desta forma, Max Weber est na raiz de importantes tericos

  • 20

    como o prprio Hans Kelsen, por exemplo, considerado o maior terico dopositivismo jurdico.

    A Cincia como Vocao

    As anlises de Weber tambm contemplam o

    papel do conhecimento cientfico no mundo

    moderno. Na famosa conferncia A cincia como

    vocao, pronunciada em 7 de novembro de

    1917, em Munique, o pensador entendeu que a

    cincia era um dos fatores fundamentais do

    processo de desencantamento do mundo.

    Ele comparou a situao da universidade alem

    com a realidade dos Estados Unidos e advertiu

    seus ouvintes de que no futuro haveria um

    processo de americanizao da vida universitria,

    que seria cada vez mais parecida com empresas

    estatais: professores assalariados e separao

    entre o produtor e os meios de produo.

    De qualquer forma, a vida do cientista e suas

    chances de promoo profissional ainda so

    bastante determinadas pelo papel do acaso e da

    contingncia.

    Ao mesmo tempo, os acadmicos acabam sendo

    pressionados para conciliar a difcil vocao para

    a pesquisa e para o ensino, o que abre espao

    para demagogos e diletantes.

    Do ponto de vista pessoal, ele ressaltou que a

    vocao cientfica exige dedicao: quem no se

    especializa em alguma rea jamais pode almejar

    sucesso.

    Contudo, mais do que dedicao, a vocao para

    a cincia tambm exige paixo (dedicao

    causa) e, alm disso, inspirao para fazer uma

    obra relevante. Somente quem vive voltado para

    a cincia pode ser chamado uma personalidade.

    Do ponto de vista sociolgico, Weber mostrou

    que a cincia faz parte de um processo histrico

    geral de racionalizao e intelectualizao da

    vida. Atravs da viso cientfica, a realidade

    expurgada de seus elementos mgicos e o

    sentido ltimo da realidade retirado do mundo,

    ficando a cargo das religies ou da prpria

    conscincia do indivduo.

    Muitos autores apontam neste escrito os ecos da

    tese da morte de Deus, apresentada pelo

    filsofo Friedrich Nietzsche, embora a maioria dos

    comentadores reconhea que sua fonte de

    inspirao a diviso das esferas de valores

    proposta por Kant. Para Weber, a modernidade

    achava-se dilacerada por um conflito de valores -

    na linguagem de Weber, pela guerra dos deuses -

    e a escolha do sentido ltimo da vida era uma

    responsabilidade pessoal que no poderia ser

    credita cincia.

    Ao saber cientfico cabe a explicao dos

    mecanismos de funcionamento do mundo, e no

    a determinao do ser verdadeiro, da verdadeira

    arte, da verdadeira natureza, do verdadeiro Deus

    ou mesmo da verdadeira felicidade.

    Mas, apesar de retirar o sentido ltimo do mundo,

    Weber destacou que a cincia contribui com a

    vida do indivduo, ao oferecer-lhe meios de

    domnio prtico da realidade, a capacidade de

    avaliar meios e fins e, acima de tudo, clareza: ou

    seja, meios para pensar de forma lgica,

    sistemtica e clara.

    O destino de nosso tempo marcado pela

    intelectualizao e pelo desencantamento do

    mundo. Diante desta realidade, cabe ao indivduo

    escolher se quer permanecer imerso na esfera

    religiosa (o que exige o sacrifcio do intelecto) ou

    se prefere arcar com as consequncias de uma

    viso cientfica do mundo, na qual no existe

    qualquer sentido ltimo para a vida, o mundo e o

    indivduo.

    No mundo desencantando, o indivduo deve

    dedicar-se s tarefas do dia e assumir suas

    responsabilidades diante da vida: esta a nica

    forma de dar sentido prpria existncia.

    Marcelo Mauss

  • 21

    Nasceu em 1872 e morreu em 1950. Formado em

    filosofia e especialista em histria das religies,

    participou da gnese do que seria conhecida mais

    tarde como a Escola Sociolgica Francesa, da

    qual seu tio mile Durkheim foi criador. As ideias

    do grupo eram veiculadas pelo Anne

    Sociologique, peridico no qual Mauss publicou

    grande parte de seus textos, e do qual foi editor,

    aps a morte de Durkheim durante a Primeira

    Guerra.

    Foi professor de Histria das Religies dos Povos

    No-Civilizados na cole Pratique des Hautes

    tudes, colaborou na fundao do Instituto de

    Etnologia da Universidade de Paris, em 1925, e

    foi eleito, em 1930, para a cadeira de Sociologia

    do prestigioso Collge de France.

    Alm das atividades acadmicas e editoriais,

    nunca abandonou a militncia no partido de

    Jaurs, de quem foi amigo e colaborador. Mauss

    chamava a Etnografia de museu de fatos e o

    seu concorrido curso sobre a matria no Instituto

    de Etnologia, que teve Marcel Griaule, Michel

    Leiris, Roger Bastide, Louis Dumont e Claude

    Lvi-Strauss entre seus alunos, formaram os

    primeiros etngrafos da antropologia francesa.

    O grupo de Durkheim, matriz da chamada Escola

    Sociolgica Francesa, visava constituir

    uma cincia propriamente social.

    Leituras mais contemporneas a respeito de

    Marcel Mauss, entretanto, apontam para vrios

    deste frente ao mtodo racionalista de seu tio.

    Socilogo e antroplogo foram marcantes na

    sociologia e no antroplogo social contempornea

    e considerado como o pai da antropologia

    francesa.

    Sobrinho de mile Durkheim e nascido quatorze

    anos mais tarde e na mesma cidade, estudou

    com o tio e foi seu assistente, e tornou-se

    professor de religio primitiva (1902) na cole

    Pratique des Hautes tudes, em Paris. Fundou

    o Instituto de Etnologia da Universidade de

    Paris (1925) e tambm lecionou no Collge de

    France (1931-1939). Sucedeu o tio como editor

    da revistaL'Anne Sociologique (1898-1913),

    onde publicou um de seus primeiros trabalhos,

    com Henri Hubert, Essai sur la nature et la

    fonction du sacrifice (1899) e tambm Essai sur le

    don: forme et raison de l'change dans les

    socits archaques (1925), sua obra mais

    conhecida.

    Escreveu tambm numerosos artigos para

    peridicos especializados, especialmente os

    produzidos e publicados em colaborao com

    Henri Hubert (1899-1905) que reuniu em

    Mlanges d'histoire des religions (1909). Os

    trabalhos mais importantes do autor, que morreu

    em Paris, aparecem no livro Sociologie et

    antropologie (1960).

    Entre outros trabalhos de sua autoria ganharam

    notoriedade La sociologie: objet et mthode

    (1901), Esquisse d'une thorie gnrale de la

    magie (1902), Essai sur le don (1924), Sociologie

    et anthropologie (1950).

    Teoria

    A sociologia seria uma cincia distinta, por

    exemplo, da psicologia, cujos objetos so,

    segundo Mauss, as representaes individuais,

    enquanto que na cincia social os objetos so as

    representaes coletivas de carter autnomo e

    inconsciente para o prprio indivduo que as

    possui.

    Para o autor, o elementar das sociedades, em

    todos os tempos histricos, o intercmbio e a

    ddiva. Um de seus focos principais so

    as prestaes totais, atravs das quais "tribos" e

    "metades" intercambiam tudo que lhes

    importante: festas, comidas, riquezas, mulheres,

    crianas etc. As prestaes totais agonsticas

    acontecem quando um chefe ou grupo compete

    com outro sobre quem pode dar mais. Dar,

    receber e retribuir so, para Mauss, trs

    momentos distintos cuja diferena fundamental

    para a constituio e manuteno das relaes

    sociais. A ddiva opera uma mistura entre

    amizade e conflito, interesse e desinteresse,

    obrigao e liberdade. Tambm mistura as

  • 22

    pessoas que se presenteiam as coisas e as

    pessoas, as coisas e os espritos.

    ANOTAES

    ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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