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SOCIÓLOGOS DE DESTAQUE Professor Ricardo da Cruz Assis Sociologia - Ensino Médio

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SOCIÓLOGOS DE DESTAQUE

Professor Ricardo da Cruz AssisSociologia - Ensino Médio

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ALEXIS DE TOCQUEVILLE

GEORG SIMMEL

MICHEL FOUCAULT

NORBERT ELIAS

WALTER BENJAMIN

ANTHONY GIDDENS

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ALEXIS DE TOCQUEVILLE

“Creio que, em qualquer

época, eu teria amado a

liberdade; mas, na época

em que vivemos, sinto-me

propenso a idolatra-la”.

.

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Filósofo, pensador político, historiador e escritor francês.

Apesar de viver no mesmo período e mesmo contexto, não

partilha das mesmas ideias de Marx. Acredita numa saída

política para os novos desafios sociais, mas não acredita que a

revolução seja o caminho para mudar a realidade social.

Independente de ser burguesa ou proletária. Isso porque ele

carrega na memória as marcas da Revolução Francesa de 1789.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE

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ALEXIS DE TOCQUEVILLE

Não nega a importância da Declaração dos Direitos dos homens e

do cidadão, surgida no interior dessa revolução. Mas, também não

esquecia a violência sofrida pela sua família na Revolução

Francesa, no período do “grande terror”. Dentre os quais o avô, o

Marquês de Rosanbo, que teve a cabeça decapitada pela

Guilhotina e seus pais só não morreram porque o líder jacobino

Robespierre morreu, antes disso acontecer.

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As Memórias de Hervé de Tocqueville nos oferecem um quadrodos seus sentimentos sobre a revolução:

Em 20 de outubro [de 1794], fomos todos postos em liberdade:havia dez meses, dia após dia, que estávamos presos. [.] Comoo céu nos parecia sereno! como o ar nos parecia puro! como ohorizonte era vasto! Mas também como era doloroso opensamento que se instalava em meio à nossa felicidade e vinhaobscurecê-la! Éramos nove quando entramos naquela casa dador e saímos apenas quatro. Nossos pais, nossos amigos,haviam desaparecido e os cacos de duas famílias só tinham porchefe um jovem homem de vinte e dois anos que conheciapouco o mundo e tinha apenas a experiência da infelicidade.

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Em nome da Revolução, muita gente inocente foi condenada

com base em mera suspeita do líder revolucionário.

Fica então a pergunta: se a revolução não é caminho, qual é a

saída, segundo a sua visão?

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ALEXIS DE TOCQUEVILLE

Para Tocqueville, antes se deve encontrar um caminho para

conciliar o nosso desejo de liberdade com os ideais de

igualdade.

Em todos os seus livros, preocupou-se com isso. Tanto é que

passaram a chamar essa questão de dilema tocquevilliano:

conciliar a liberdade individual com a igualdade coletiva.

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ALEXIS DE TOCQUEVILLE

Tocqueville pensa que a mudança não deve vir por viarevolucionária, independentemente dos rótulos - burguesa ouproletária -, pois com muita facilidade desembocam em terror,subtraindo a liberdade.

A mudança deve vir por vias legais. Noutras palavras, o caminhoque se deve trilhar passa pelo aprimoramento das leis e docontrole sobre os governantes para que cumpram a função deconduzir responsavelmente a sociedade.

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Para encontrar uma resposta para o problemada democracia, fundada nos princípios daliberdade e da igualdade, Tocqueville visitou osEstados Unidos da América e analisou suaexperiência democrática;

Observou pormenorizadamente seus costumese fez análises comparativas com a experiênciafrancesa: sacrificar a liberdade individual paragarantir uma pretensa igualdade.

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GEORG SIMMEL

Georg Simmel nasceu na

cosmopolita Berlim de 1858 e veio a

falecer em 1918. Professor

universitário admirado pelos seus

alunos, sempre teve dificuldade em

encontrar um lugar no seio da rígida

academia do seu tempo.

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GEORG SIMMEL

Simmel preocupou-se em descobrir os padrões de interação quesubjazem às formações sociais mais latas (num registo a que hojechamaríamos "microssociologia").

A tarefa da sociologia seria não a de estudar globalidades mas simdeterminadas dimensões ou aspetos dos fenômenos que, nas suasformas particulares, são passíveis de ser encontrados nos diferentescontextos humanos. Ao fazer uma abstração do conteúdo concretodos fenômenos sociais e ao focalizar as formas que lhes subjazem,torna-se possível comparar fenômenos radicalmente diferentes noseu conteúdo mas similares na sua forma. Simmel está, deste modo,conotado com a chamada teoria formal.

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GEORG SIMMEL

Concebendo a sociedade como produto das interaçõesindividuais, Simmel formula o conceito de "sociação" paradesignar mais apropriadamente as formas ou modos pelos quaisos atores sociais se relacionam. É importante destacar que asinterações sociais e as relações de interdependência nãorepresentam, necessariamente, a convergência de interessesentre os atores sociais envolvidos.

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GEORG SIMMEL

Em seus estudos microsociológicos, Simmel demonstra que asinterações sociais podem prefigurar relações conflitivas, relaçõesde interesse mútuo e relações de subordinação (ou dominação).

O conflito, porém, é concebido por Simmel como algo benéficoporque é um momento que sinaliza o desenvolvimento datomada de consciência individual, que teria uma função positivapara sociedade como um todo, principalmente à medida que oconflito fosse superado, mediante acordos.

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GEORG SIMMEL

Por muito diferentes que sejam os interesses e os propósitosque levam os homens a associar-se, as formas sociais deinteração podem ser idênticas. Há processos de conflito ecooperação, de subordinação e poder, de centralização edescentralização que atravessam as mais variadas estruturassociais.

Para Simmel, as formas sociais encontradas no real não sãonunca puras.

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GEORG SIMMEL

Consequências do dinheiro

O ensaio intitulado "A filosofia do dinheiro" ("Philosophie desGeldes") foi publicado no ano de 1900 e é considerado umestudo representativo da perspectiva sociológica adotada porSimmel. Neste estudo, Simmel procurou compreender quais asconsequências da invenção, introdução e difusão social dessemeio de troca (simbólica).

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A modernidade se caracteriza por traços intrinsecamente ligados avida monetária, como a aceleração do tempo, a monetarização dasrelações sociais, ampliação dos mercados, racionalização equantificação da vida e inversão de meios e fins.

O dinheiro é o deus da vida moderna.

Na modernidade tudo gira ao redor do dinheiro e, ao mesmo tempo,o dinheiro faz tudo girar.

Não se trata de afirmar que no mundo contemporâneo tudo édeterminado e explicado pela vida monetária, mas de perceber queesta é uma manifestação e encarnação de traços que caracterizamos traços sociais de nossa época. É neste sentido que a obra deSimmel é uma das grandes interpretações sociológicas do mundomoderno.

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GEORG SIMMEL

O dinheiro alterou enormemente as relações sociais, provocandoefeitos que convergiram para a individualização (ouindividualismo) numa fase da história em que as relaçõestradicionais ou pré-modernas (que se referem ao período dodeclínio do modo de produção feudal na Europa) estavam emvias de serem superadas pela emergência do modo de produçãocapitalista.

A difusão do dinheiro provocou uma série de conflitos na ordemsocial baseada nos costumes e nas relações pessoais, mas,como demonstra Simmel, o dinheiro era reflexo datransformação das interações sociais tradicionais que estavamse dissipando.

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GEORG SIMMEL

O dinheiro carrega o simbolismo do "impessoal", do "racional" edo "individualismo" e se ajusta à modernidade que estavasurgindo no mundo ocidental capitalista. O dinheiro desfezdeterminados tipos de dependência que se caracterizavam pelapessoalidade, mas criou outros, que se caracterizam pelaimpessoalidade.

Conforme demonstrou Simmel, a relação de tipo monetária quese tornou predominante na época moderna representa opatamar máximo da individualização humana.

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A metrópole e a vida espiritualDe 1903, traduzido para vários idiomas e considerado um dos textos fundadores dachamada sociologia urbana.

Como o dinheiro, a vida nas grandes aglomerações urbanas éoutro traço fundamental dos tempos modernos. Analisando seuimpacto sobre a sociabilidade e a individualidade, Simmeldestacou o fenômeno do embotamento dos sentidos.

A imensidade de estímulos gerados pelas intensas atividadesurbanas (intensificação da vida nervosa) tinham seu reflexo napersonalidade do indivíduo, gerando sujeitos que iam perdendosua capacidade de relação com seu meio circundante, tornando-se objetivos, impessoais, distantes e calculistas.

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Nas palavras de Simmel:

A pontualidade, a contabilidade, a exatidão, que coagem acomplicações e extensões da vida na cidade grande, estão nãosomente no nexo mais íntimo com o seu caráter intelectualísticoe econômico-monetário, mas também precisam tingir osconteúdos da vida e facilitar a exclusão daqueles traçosessenciais e impulsos irracionais, instintivos e soberanos, quepretendem determinar a partir de si a forma da vida, em vez derecebê-la de fora como uma forma universal, definidaesquematicamente."

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GEORG SIMMEL

A caracterização sociológica desta personalidadesocial é o indivíduo blasé, atomizado, indiferente edistante do ambiente social;

"A essência do caráter blasé é o embotamento frente à distinçãodas coisas; não no sentido de que elas não sejam percebidas,como no caso dos parvos, mas sim de tal modo que o significadoe o valor da distinção das coisas e com isso das próprias coisassão sentidos como nulos".

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MICHEL FOUCAULT

Embora não fosse um sociólogo, Michel

Foucault (1926-1984), marcou o campo das

ciências sociais com suas reflexões sobre a

relação entre verdade e poder.

Filósofo, historiador, crítico e ativista político

francês, desenvolveu uma teoria e um método

de pesquisa próprios, caracterizados por

aproximar história e filosofia. Suas ideias

inspiraram e influenciaram diversas áreas,

como a arte, a filosofia, a história, a

sociologia, a antropologia, dentre outras.

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Suas principais obras são: História da loucura na idade

clássica (1961), As palavras e as coisas (1966), Arqueologia do

saber (1969), Vigiar e Punir (1975), Microfísica do Poder (1979), o

projeto inacabado História da sexualidade: A vontade de saber

(1976), O uso dos prazeres (1984) e O cuidado de si (1984).

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Abordagem estruturalista ao estudo da História:

• Rejeita o mito do progresso: a continuidade na qual o homemocidental pretende representar seu glorioso desenvolvimento écontinuidade que não existe.

• “A história não tem sentido, a história não tem fins últimos.”

• “A história é, antes, descontínua.”

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O que é uma estrutura epistêmica (ou epistemas)?

“Quando falo de ‘epistemas’, entendo todas as relações que

existiram em certa época entre os vários campos da ciência.

Penso, por exemplo, no fato de que, a certo ponto, a matemática

foi utilizada para pesquisas no campo da física, de que a (...), a

semiologia (...), foi utilizada pela biologia (para as mensagens

genéticas), de que a teoria da evolução pôde ser utilizada ou

servir de modelo para os historiadores, os psicólogos e os

sociólogos do século XIX. Todos esses são fenômenos de

relações entre as ciências ou entre os vários ‘discursos’ nos

vários setores científicos que constituem o que chamo ‘epistema’

de uma época”

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Foucault chamou a ciência que estuda os ‘discursos’ e os‘epistemas’ de arqueologia do saber.

Essa ciência “arqueológica” mostra exatamente que não háqualquer progresso histórico.

O que a arqueologia do saber mostra é uma sucessãodescontínua de epistemas, com a afirmação e a decadênciade epistemas em uma história sem sentido.

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Foucault fez uma “arqueologia” – uma investigaçãominuciosa da origem e do desenvolvimento histórico – detodos esses saberes:

Da medicina clínica, da psiquiatria, da criminologia etc. enão apenas isso como também se encarregou de formularuma crítica incisiva das práticas disciplinadoras – decontrole e adestramento – de cada uma das instituiçõesonde esses saberes são praticados e reproduzidos.

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Para entender a complicada relação entre verdade e poder, Foucault

pesquisou vários temas, mas um dos temas que mais se deteve foi a

questão da DISCIPLINA.

Como homens e mulheres aprendem a se comportar? O que acontece

quando não se comportam de acordo com o previsto? Em que tipo de

justificativas se baseiam as regras de comportamento? Em que lugares

os ensinamentos sobre o que é socialmente aceitável e não aceitável

são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados?

Para responder a essas questões, Foucault investigou a origem e o

desenvolvimento de várias instituições de controle, entre elas os abrigos

e as prisões.

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O PanópticoAs transformações trazidas pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa

possibilitaram o surgimento de novos hábitos e valores, novas estruturas de pensamento e

práticas sociais. Seu interesse se voltou, sobretudo, para as condições de surgimento de

novos saberes – ciências como a biologia, a economia política, a psiquiatria e a própria

sociologia – e novos dispositivos disciplinares. A influência desses novos saberes e

dispositivos por toda a sociedade levaram à consolidação de um modelo peculiar de

organização social: as “sociedades disciplinares” dos séculos XIX e XX.

A emergência desse novo formato de arranjo social, com suas lógicas de controle e

penalização, foi o tema central da obra Vigiar e Punir. Nela Foucault mostra como, a partir

do séc. XVII e XVIII, houve o “desbloqueio tecnológico de produtividade do poder”,

permitindo o estabelecimento de procedimentos de controle ao mesmo tempo muito mais

eficazes e menos dispendiosos, não apenas nas prisões, mas também em várias outras

instituições, onde a vigilância dos indivíduos é constante e necessária.

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“O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto devárias, maneiras: porque pode reduzir o número dos que o exercem,ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais éexercido (...) Sua força é nunca intervir, é se exercerespontaneamente e sem ruído (...) Vigiar todas as dependênciasonde se quer manter o domínio e o controle. Mesmo quando não hárealmente quem, assista do outro lado, o controle é exercido. Oimportante é (...) que as pessoas se encontrem presas numasituação e poder de que elas mesmas são as portadoras (...) oessencial é que elas se saibam vigiadas.”

As instituições panópticas são leves e fáceis de manipular, utilizamprincípios simples de correcção e adestramento. É uma espécie decampo experimental de poder, assegura a sua economia, a suaeficácia e o seu funcionamento.

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A base desta arquitetura institucional é o exame contínuo (a prova, o teste),

para controlar "à nascença" as causas dos desvios. O sujeito torna-se

culpado (ou "burro", ou louco, ou doente) até provar em contrário.

Em todos os dispositivos de disciplina, o exame, então, tem de ser

altamente ritualizado.

“O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que

normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite

qualificar, classificar e punir. estabelece sobre os indivíduos uma

visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados. É por

isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente

ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimónia do poder e a forma da

experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade (...)

A superposição das relações de poder e das de saber assume no exame

todo o seu brilho visível.”

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Foucault lembra que mecanismos de disciplina e controle já existiam antes

do surgimento de saberes como a economia ou a sociologia.

Na idade Média, por exemplo, todos os que fossem tidos como “dementes”,

eram confinados na “nau dos insensatos”; todos os criminosos eram

condenados à pena de morte; os deformados eram recolhidos aos mosteiros;

os que sofriam males físicos eram levados aos hospitais (“depósitos de

doentes”).

Mas, foi a partir do século XVIII que se iniciou um processo de organização

e classificação científica dos indivíduos, que veio a garantir uma nova forma

de disciplinar e controlar a sociedade. Cada “anormalidade” passou a ser

identificada em seus mínimos detalhes por um saber específico e a ser

encaixada em um complexo quadro de “patologias sociais”.

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O nascimento da medicina clínica e a criação do hospital tal como o conhecemos, por

exemplo, são fenômenos historicamente recentes. Foucault toma como exemplo o projeto

de criação de hospitais surgido na França em fins do século XVIII, em que pela primeira

vez foram expostas regras minunciosas de separação dos vários tipos de doentes.

O médico – e não mais qualquer “curandeiro” – passou a ser o responsável por essa nova

“maquina de curar”, que lembrava muito pouco aquele “depósito de doentes” medieval.

A medicina clínica passou a ter foco o corpo do doente e como objetivo trazer esse corpo

“DE VOLTA AO NORMAL”. Surgiram expressões como “temperatura normal”, “pulsação

normal”, “altura e pesos normais”.

Esse padrão de normalidade passou a ser um parâmetro para toda a sociedade – é claro

que há componentes culturais que determinam variações nesse padrão -, e a medicina

ganhou uma dimensão política de controle.

A Medicina

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A ideia de uma educação que não está a cargo dos pais, e sim do Estado,

que é oferecida a todos os cidadãos, que tem um conteúdo comum e

necessita do espaço da escola também é fruto dessas transformações de

que fala Foucault. Não por coincidência, a escola organizada de acordo com

parâmetros pedagógicos é uma invenção do fim do século XVIII e início do

XIX. Acreditamos que a escola tem o poder de saber quais são os

comportamentos desejáveis, quais são os conteúdos imprescindíveis e qual

é a didática adequada.

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MICHEL FOUCAULT

O mesmo se dá com o conjunto das instituições de justiça e punição,que encontra nas prisões seu espaço de realização. O grupo dos“maus” desdobra-se em uma série de subgrupos de “personalidadescriminosas”, que passa a ser objetivo de um saber específico: acriminologia.

A reclusão, a partir do século XVIII, substitui em muitos países daEuropa a pena de morte. Acreditamos que o sistema judiciário tem opoder de vigiar e punir (com a morte, se necessário) porque tem opoder de saber distinguir entre os inocentes e os criminosos.

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MICHEL FOUCAULTAs formas de curar, educar e punir não foram as únicas a ter seus

princípios alterados na modernidade.

Foucault mostra que as maneiras de produzir e os lugares da produção

também passaram por um sério processo de especialização e controle. As

fábricas reproduzem a estrutura da prisão. Colocam os indivíduos,

separados segundo suas diferentes funções, sob um rígido sistema de

vigilância.

Para Foucault não podemos entender as relações de poder reduzindo-as à

sua dimensão econômica ou à esfera do Estado. As estruturas do poder

extrapolam o Estado e permeiam, de forma difusa e pouco evidente, as

diversas práticas sociais cotidianas. Ninguém é titular do poder, porque ele

se espelha em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na casa,

no mundo público e nas relações afetivas.

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Foucault persiste: “existe uma forte correlação entre saber e poder. Instituições

como a escola, o hospital, a prisão, o abrigo para menores etc. nem são

politicamente neutras, nem estão simplesmente a serviço do bem geral da

sociedade. Nós é que acreditamos que elas são neutras, legítimas e eficazes

porque acreditamos na neutralidade, na legitimidade e na eficácia

dos saberes científicos – como a pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social

– que lhes dão sustentação”.

Foucault nos ajuda a perceber, portanto, que há relações de poder onde elas

não eram normalmente percebidas. O conhecimento não é uma entidade neutra e

abstrata; ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência moderna se apresenta

como um discurso objetivo, acima das crenças particulares e das preferências

políticas, alheio aos preconceitos, na prática, ela ajuda a tornar os “corpos

dóceis”, para usar outra de suas expressões.

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O poder, tal como Foucault o concebe, não equivale à dominação, à

soberania ou à lei. É um poder que se faz aceito porque está

associado ao conceito de verdade: “Somos submetidos pelo poder à

produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a

produção da verdade”.

Para Foucault, é a crença nessa verdade que independe das

decisões humanas que nos autoriza a julgar, condenar, classificar,

reprimir e coagir uns aos outros.

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BiopoderEm seus últimos escritos, Foucault dedicou-se a examinar com o

poder baseado no conceito de disciplina, surgido no século XVIII,

foi se sofisticando e adquirindo contornos ainda mais complexos

ao longo do século XX. Ao poder disciplinar veio somar-se o

“biopoder”. O primeiro tem como alvo o corpo de cada indivíduo, o

biopoder dirige-se à massa, ao conjunto da população e ao seu

hábitat - a metrópole, sobretudo. Isso porque o processo de

especialização, deflagrado com a divisão do trabalho, exige cada

vez mais que a população como um todo seja racionalmente

classificada, educada e controlada para ser, por fim, transformada

em força produtiva.

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O Biopoder é exercido toda vez que, com base na voz dosespecialistas, é feito um controle do comportamento dacoletividade. Foucault não se preocupou em dizer se essecontrole é positivo ou negativo. Interessou-se pelo processoque levou as pessoas a depositar sua confiança nessasvozes especializadas e pela maneira como isso alterou odesenho das sociedades.

O objeto do biopoder são fenômenos coletivos, como osprocessos de natalidade, longevidade e mortalidade, que sãomedidos e controlados por meio de novos dispositivos, comoos sensos e as estatísticas.

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O Biopoder mede, calcula, prevê econtrola, mas como processo decontrole não depende necessariamenteda repressão direta do Estado. Asinstituições de educação, saúde, osmeios de comunicação etc. passam aproduzir discursos que nós introjetamoscomo verdades absolutas e não comoconvenções históricas e socialmenteestabelecidas.

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NORBERT ELIAS

Sociólogo alemão (1897- 1990),considerado um dos mais importantespensadores do século XX. A partir de umintenso diálogo com a história da cultura,Elias situa os diferentes padrões derelações sociais nos seus devidoscontextos históricos e culturais.

Para ele, a vida em sociedade écomposta de padrões gerados nasinterações entre indivíduos ligados poruma relação de interdependência.

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Suas principais obras: O Processo Civilizador (1939), Asociedade de corte (1969), O que é sociologia? (1970), Asociedade dos indivíduos (1987).

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Norbert Elias nos ensina a perceber que há aspectos da sociedadeque julgamos ter sempre existido, mas que passaram por um longoprocesso de desenvolvimento até tomar a forma que conhecemos.Isso vale para as formas de governo, para os modelos de família etambém para as boas maneiras e os costumes.

As normas são criadas e recriadas para conter os impulsos ou açõesinstintivas das pessoas e permitir que a sociabilidade ocorra dentro deuma linguagem comum a todos (os códigos de civilidade). Essasnormas estão presentes em diversos aspectos da vida social, comonos esportes, na arte, nas relações entre os Estados nacionais etc.Por meio da civilidade, o individuo aprende a lidar com os integrantesde grupos diferentes do seu.

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A sociedade do presente que interessa a Elias é a que floresceu emalguns países da Europa Ocidental e disseminou uma maneira própriade se pensar, de se apresentar diante das outras, de se auto-olhar.Nesses países desenvolveu-se uma ideia de civilização que obrigouhomens e mulheres a mudar sua conduta no dia-a-dia.

Quando estranhamos maneiras de

ser distintas das nossas, que

aceitamos e aprovamos, podemos

ser tentados a definir nosso jeito de

ser como bom, desejável, melhor, e a

classificar o que é diferente, distante,

desconhecido, como “ruim”,

“atrasado”, “decadente”, “selvagem”,

“rude”.

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NORBERT ELIAS

Olhamos o mundo a partir do que consideramos melhor, e o queconsideramos melhor é o que nos acostumamos a ser, a ter, asaber.

Quando uma pessoa faz uma avaliação de outros grupos,costumes, etc fazendo uma escala do melhor para o pior, de seupróprio ponto de vista, e com base nele emite um julgamentosobre o outro. Do ponto de vista sociológico, estamos tomando odiferente não pelo o que o faz diferente, senão por aquilo que odistancia daquilo que o grupo a que pertencemos consideramelhor, ou mais evoluído, ou mais desenvolvido.

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NORBERT ELIAS

A esse efeito indesejável do processo civilizador os antropólogoschamaram de etnocentrismo (etn(o) – também presente em etnia, quequer dizer cultura, e centrismo que indica centro): que quer dizer: toma-se a própria cultura como centro de referência para medir as demaispor comparação.

Noutras palavras, etnocentrismo é uma visão de mundo em que opróprio grupo é tomado como centro de referência, e o diferente é vistode forma depreciativa. As fronteiras entre os civilizados e os bárbaros(ou selvagens) foi o que marcou a história ocidental no períodomoderno – é só lembrar os desdobramentos históricos do contato entreos brancos europeus, de um lado, e os negros africanos os indígenasamericanos, os orientais e outros grupos étnicos, de outro.

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A atitude etnocêntrica implica uma desvalorização do que édiferente da nossa própria cultura. O etnocentrismo indica queum determinado grupo étnico se considera superior a outro, jáque o diferente é visto como inferior. Provoca uma atitudepreconceituosa em relação ao diferente, e pode mesmo gerargestos de incompreensão diante dos modos e comportamentosde outras culturas.

A xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o racismo (classificaçãodos povos segundo raças e defesa da superioridade de umadelas) são exemplos desses possíveis desdobramentos.

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Em geral, a atitude etnocêntrica reduz as diferenças quandodefine um determinado modelo como aquele que deve prevalecer.Além de reduzir as diferenças porque não as aceita, elege umadeterminada visão de mundo, de cultura, de jeito de ser comoaquela que deve ser universalizada, ou seja, que deve valer paratodas as situações.

O etnocentrismo se apoia em outra noção também muitopoderosa: a de estereótipo. O estereótipo possui duascaracterísticas básicas: é ao mesmo tempo generalizante eredutor. Exemplo: “todo brasileiro gosta de futebol”. Trata-se deum estereótipo. Primeiro, porque nem todos os brasileiros gostamde futebol, segundo porque os brasileiros não gostam apenas defutebol.

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“A imagem do homem como ‘personalidade fechada’ é substituída aqui pela ‘personalidade aberta’,

que possui um maior ou menor grau (mas nunca absoluto ou total) de autonomia face a de outras

pessoas e que, na realidade, durante toda a vida é fundamentalmente orientada para outras pessoas

e dependente delas. A rede de interdependência entre os seres humanos é o que os liga. Elas

formam o nexo do que é aqui chamado configuração, ou seja, uma estrutura de pessoas

mutuamente orientadas e dependentes. Uma vez que as pessoas são mais ou menos

dependentes entre si, inicialmente por ação da natureza e mais tarde através da aprendizagem

social, da educação, socialização e necessidades recíprocas socialmente geradas, elas existem,

poderíamos nos arriscar a dizer, apenas como pluralidades, apenas como configurações. Eis o

motivo porque... não é particularmente frutífero conceber os homens à imagem do homem individual.

Muito mais apropriado será conjecturar a imagem de numerosas pessoas interdependentes

formando configurações (isto é, grupos ou sociedades de tipos diferentes) entre si...O conceito

de configuração foi introduzido exatamente porque expressa mais clara e inequivocadamente o que

chamamos de ‘sociedade’ que os atuais instrumentos conceituais da sociologia, não sendo nem

uma abstração de atributos de indivíduos que existem sem uma sociedade, nem um ‘sistema’

ou ‘totalidade’ para além dos indivíduos, mas a rede de interdependência por eles formada.

Certamente, é possível falar de um sistema social formado de indivíduos, mas as conotações

associadas ao conceito de sistema social na sociologia moderna fazem com que pareça forçada

essa expressão. Além do mais, o conceito de sistema é prejudicado pela idéia correlata de

imutabilidade (...)”. (ELIAS, 1994[1]: 249)

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O conceito de configuração difundido nos trabalhos de Norbert Eliasenfatiza as ligações entre mudanças na organização estrutural dasociedade e mudanças na estrutura de comportamento e naconstituição psíquica, pretendendo escapar do monismo metodológicoque dicotomiza o indivíduo (encapsulado) e sociedade (ente externo),assim como a tendência parsoniana de pensar a estrutura social como“estado” em equilíbrio ou “sistema social”.

Fazem parte da configuração os jogos de distinção social e os grausde controle de impulsos, cuja dinâmica está relacionada ao modo comose avançam as relações de interdependência com a divisão do trabalhona sociedade.

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A noção de configuração possibilita que se pense a relação entrecontrole de instintos e impulsos instintivos não a partir de metáforasespaciais como “dentro” e “fora”, “casca” e “cerne”, pois, tal como anatureza, o ser humano não tem núcleo ou casca. Tais metáforas nãopodem ser aplicadas à estrutura da personalidade, pois todocomplexo de tensões – sentimentos e pensamentos, espontaneidadee comedimento – consiste em atividades humanas. Deste modo,como alternativa aos habituais conceitos-substância “sentimento” e“razão”, Elias prefere o conceito de atividade que, além de ajudar asuperar o monismo sociológico, possibilita livrar as investigaçõessociológicas de ideias preconcebidas que pensam a realidade a partirdo que ela deve ser e não a partir do que é. (ELIAS, 1994[1]: 223-226)

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HABITUSO conceito de habitus foi desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre

Bourdieu com o objetivo de pôr fim à antinomia indivíduo/sociedade dentro

da sociologia estruturalista.

Relaciona-se à capacidade de uma determinada estrutura social ser

incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir, pensar e

agir.

Em A Dominação Masculina, a construção do habitus é explicada por

Bourdieu da seguinte forma: “...o produto de um trabalho social de

nominação e de inculcação ao término do qual uma identidade social

instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística', conhecidas e

reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma

natureza biológica e se torna um habitus, lei social incorporada".

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O nosso habitus constrói-se no processo de socialização: um processo inacabado porque

nunca se extingue no decorrer da vida, mas não uniforme porque a socialização tem

múltiplos graus e matizes. É no nosso encontro com a sociedade que se cria o habitus, e é

ele que nos permite avançar em cada situação, já que é na sua constituição que

adquirimos todas as matrizes ou estruturas mentais para agir. No fundo, o habitus é uma

espécie de bússola social que nos foi oferecida pela própria sociedade; é uma

“competência prática adquirida na e para a acção”; é uma aptidão social incorporada,

durável no tempo mas não eterna.

O habitus fornece dois princípios, o de “sociação” e o de “individuação”, que demonstram a

razão pela qual este conceito é um mediador entre o social e oindividual. A “sociação”

prende-se com o facto de que as nossas categorias de juízo e de acção provêem da

sociedade e são partilhadas por todos aqueles que foram submetidos a condições

semelhantes. A “individuação” transporta-nos à ideia de que cada pessoa tem uma

trajectória e localização únicas no mundo, e por isso cada um de nós interioriza uma

composição de esquemas singular.

O habitus é estruturado nos meios sociais, e estruturante de acções e representações.

Ele é o “princípio não escolhido de todas as escolhas.”

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WALTER BENJAMINWalter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15

de julho de 1892 - Portbou, 27 de

setembro de 1940)

Ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e

sociológico da cultura, nasceu em Berlim, na

Alemanha. Esse pensador de origem judaica

deixou uma obra de difícil classificação, uma vez

que escreveu sobre temas variados, e muitos dos

seus textos não foram concluídos. Teve sua

trajetória intelectual ligada à Escola de Frankfurt,

que reunia pensadores voltados para o

desenvolvimento de uma teoria crítica social.

Expressões como “indústria cultural” e “cultura de

massa” são heranças diretas dos estudos da

escola de Frankfurt.

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Entre as obras de Walter Benjamin, as mais conhecidas são: A obrade arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936), Teses sobre oconceito de história (1940), a inacabada Paris, capital do século XIX ePassagens, compilação de escritos publicada postumamente.

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Poucos pensadores sociais tiveram igual sensibilidade para observar o

cotidiano da modernidade e decifrar as personagens da metrópole.

Walter Benjamin antecipou a reflexão crítica sobre a fotografia, o

cinema, as miniaturas, os brinquedos, a poesia, o flâneur, o ópio, a

prostituta – assuntos e personagens considerados “irrelevantes” ou

“indignos” por muitos de seus contemporâneos. Além disso, escreveu

vários textos em que tem a capital francesa como suporte para tratar de

temas como as reformas urbanas modernizadoras, a sociedade de

massas, a indústria do entretenimento, o surrealismo, entre muitos

outros. Seu interesse era retratar Paris, não apenas como ambiente

construído – suas avenidas, monumentos, praças -, mas também

como experiência urbana.

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WALTER BENJAMIN

Na paris do século XIX, dá-se o surgimento de novos valores enovos padrões de convivência. Benjamin chama atenção para osgrandes eventos históricos, mas também para pequenos detalhesque são reveladores. Observa que em 1824 somente 47 milpessoas eram assinantes de algum jornal em Paris; doze anosdepois o número aumentou para 70 mil e, na década seguinte,chegou a 200 mil. Para ele, o aumento significativo do número deleitores não tornou os jornais mais autônomos. A impressa passoua depender cada vez mais dos anúncios para sobreviver.

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Benjamin observa também que o surgimento dos cartazes que

começavam a aparecer nos muros de Paris reflete uma nova cultura

urbana associada ao entretenimento e ao consumo de produtos. Esse

meio de comunicação foi uma invenção do século XIX. Antes, não

existia o conceito de “propaganda”, até porque não havia uma

produção significativa de bens de consumo.

Além de associar o surgimento dos cartazes ao nascimento da

sociedade de consumidores, os vincula à chamada espetacularização

da política: “campanha publicitária” e “campanha política”. Ambas

dependem, para alcançar seus objetivos, da utilização de recursos de

comunicação que atinjam as massas urbanas. Assim, tanto as

mercadorias quanto os políticos precisam “aparecer”.

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O lado bom é que há um aumento do número de pessoas que

participam dos processos eleitorais.

É muito ruim, porém, que a política se tenha transformado em

“encenação”. A discussão dos projetos e ideias foi substituída por

um desfile de imagens produzidas para seduzir o eleitor, assim

como se procura seduzir o cliente por meio da embalagem de um

produto.

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Boa parte de reflexão de Benjamin sobre a modernidade se encontra no

livro Passagens – centenas e centenas de páginas que escreveu de 1927

até as vésperas de sua morte, em 1940.

Para ele, as passagens eram um “mundo em miniatura” em vários sentidos.

Ali se concentravam diferentes mercadorias, vindas dos lugares mais

remotos, principalmente das colônias francesas. Gente de toda parte vinha

admirá-las e consumi-las. Mas também porque permitiam perceber as várias

contradições entre abundância e escassez, entre império e colônia, entre

tempo útil de um produto e o tempo descartável da moda, entre os que

podiam entrar e consumir e os que ficavam do lado de fora sonhando.

PASSAGENS

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PASSAGENSAs passagens como locais de intensastrocas materiais e culturais, verdadeirosespaços de exposição de produtos e decorpos. Os consumidores “desfilavam”pelas galerias para ver e serem vistos.Alguns levavam para passeartartarugas com fitas de veludoamarradas ao pescoço! Esse hábito erauma maneira de forçar o passo lento.As pessoas estavam sendo “treinadas”para a incorporação de um hábito novo:o de “olhar vitrines” e assim desejar osupérfluo, a novidade por ela mesma.

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Benjamin nos ajuda a perceber a origem de uma poderosa

associação: aquela entre consumo e lazer. Hoje esse par nos

parece natural. Muitas vezes vamos ao shopping center só para

“nos distrair” ou “relaxar”. Acabamos, geralmente, comprando

uma coisinha, fazendo um lanche. Ou seja, acabamos

consumindo, quando a intenção era passear.

“Fazer compras” se tornou uma atividade privilegiada em nosso

tempo “livre”, o tempo do não trabalho.

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As passagens parisienses eram

espaços frequentados sobretudo

pelas mulheres da classe média e

das elites. Não se esqueça de que

durante muito tempo – e ainda

hoje nas sociedades mais

tradicionais – as mulheres

estiveram associadas ao espaço

doméstico.

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As passagens, assim como as lojas de departamentos no iníciodo século XX, vieram garantir às mulheres um espaço seguroonde podiam passear e se divertir sem serem “confundidas”.As passagens eram espaços ao mesmo tempo de opressão e delibertação. Eram opressoras porque impunham a ideologia doconsumo. Mas também carregavam em si o que ele chamou de“utópicas promessas de liberdade”, na medida em que apontavampara a possibilidade de se construir uma sociedade próspera edominada pela tecnologia, funcionando como verdadeiras “casasde sonhos coletivos”, conforme sua expressão. “Paris era acapital do sonho e o sonho do capital”.

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Benjamin manteve uma preocupação constante com as transformações

ocorridas em nossa maneira de perceber o mundo. Como os novos

recursos tecnológicos alteraram nossa maneira de perceber o que está

ao nosso redor? No ensaio a obra de arte na era da sua

reprodutibilidade técnica, escrito na década de 1920, afirma que o

processo das técnicas de reprodução e as alterações da percepção

começaram com a fotografia e se aprofundaram com o cinema.

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A fotografia faz circular a imagem de objetos, paisagens, figurashumanas, mas também obras de arte que são únicas e que só podiamser contempladas por poucos. Já o cinema aprofunda astransformações trazidas pela fotografia. Com suas técnicas dafilmagem, montagem e edição, câmera lenta, flash back etc., o cinemaaltera drasticamente nossa percepção do tempo. Com o cinema,aprendemos a incorporar descontinuidades e nos exercitamos comose estivéssemos numa verdadeira máquina do tempo.

Se as galerias eram “mundos em miniatura”, o cinema é “o mundo empedaços”. Um mundo de fantasia, de simulação, de reconstrução e dereapresentação da realidade.

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Benjamin estava interessado em pensar sobre as alteraçõesocorridas não apenas nas maneiras de produzir imagens, mastambém nas formas de perceber o mundo. Graças à invenção denovos instrumentos – espelho, gravador, microscópio, luneta, câmerafotográfica, cinema, computador

As novas tecnologias interessaram a Benjamin porque, além deoferecer respostas para múltiplas necessidades cotidianas,contribuem para alterar a apreensão do mundo pelos indivíduos.

A fotografia, a filmagem, a gravação de áudio e outras técnicas dereprodução foram objeto de reflexão de Walter Benjamin poralterarem a produção da memória coletiva nas sociedades modernas.

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Cada época histórica altera a percepção que os seres humanos podem ter da realidade.

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ANTHONY GIDDENS(18 de janeiro de 1938, Londres)

Sociólogo britânico, renomado por

sua Teoria da estruturação.

Considerado por muitos como o

mais importante filósofo social

inglês contemporâneo, figura de

proa do novo trabalhismo britânico

e teórico pioneiro da Terceira via,

tem mais de vinte livros publicados

ao longo de duas décadas.

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Do ponto de vista acadêmico, o seu interesse centra-seem reformular a teoria social e reexaminar a compreensãodo desenvolvimento e da modernidade.

As suas ideias tiveram uma enorme influência quer nateoria quer no ensino da sociologia e da teoria social emtodo o mundo. A sua obra abarca diversas temáticas, entreas quais a história do pensamento social, a estrutura declasses, elites e poder, nações e nacionalismos,identidade pessoal e social, a família, relaçõese sexualidade.

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ANTHONY GIDDENS

Foi um dos primeiros autores a trabalhar o conceitode globalização.

Mais recentemente tem estado na vanguarda dodesenvolvimento de ideias políticas de centro-esquerda,tendo ajudado a popularizar a ideia de Terceira via, comque pretende contribuir para a renovação da social-democracia.

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O Trabalho de Giddens abrange uma ampla gama de tópicos. Ele éconhecido por sua abordagem interdisciplinar, envolvendo asociologia, a antropologia, arqueologia, psicologia, filosofia, história,linguística, economia, serviço social, e ciência política.

Ele trouxe muitas ideias e conceitos para o campo da sociologia. Departicular importância são os seus conceitos de reflexividade, aglobalização, a teoria da estruturação, e da Terceira Via.

A reflexividade é a ideia de que os indivíduos e a sociedade sãodefinidos não apenas por si, mas também em relação ao outro. Porisso, eles devem ambos redefinir-se continuamente em reação aoutros e para novas informações.

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A globalização, como descrito por Giddens, é um processo que émais do que apenas a economia. É "a intensificação de relaçõessociais mundiais que ligam localidades distantes de tal modo queos acontecimentos locais são modelados por eventos distantes e,por sua vez, acontecimentos distantes são moldadas poracontecimentos locais."

Giddens argumenta que a globalização é a consequência naturalde modernidade e levará à reconstrução das instituiçõesmodernas.

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A Teoria da Estruturação de Giddens argumenta que, a fim decompreender a sociedade, não se pode olhar apenas para asações de indivíduos ou as forças sociais que mantêm asociedade. Em vez disso, o que se deve é analisarprofundamente as forças que moldam a nossa realidade social.

Ele argumenta que, embora as pessoas não sejam totalmentelivres para escolher suas próprias ações, e que seuconhecimento também seja limitado, eles ainda são a agênciaque reproduz a estrutura social e levam a uma mudança social.

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Finalmente, a Terceira Via é a filosofia política de Giddens quevisa redefinir a social-democracia para um pós-Guerra Fria e a erada globalização.

Ele argumenta que os conceitos políticos de "esquerda" e "direita"são agora falhos, como resultado de muitos fatores, masprincipalmente por causa da ausência de uma alternativa clara aocapitalismo.

Em The Third Way, Giddens fornece um quadro em que a "terceiravia" é justificada e também um amplo conjunto de propostas depolíticas voltadas para a "centro-esquerda progressista" na políticabritânica.

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TERCEIRA VIA

A terceira via é uma corrente que surge no Distributismo e maistarde na ideologia social-democrata, porém, é tambémpromovida por alguns partidários do liberalismo social. Tentareconciliar a direita e a esquerda, através de uma políticaeconômica ortodoxa e de uma política social progressista. Àprimeira vista, parece ser uma corrente que apresenta umaconciliação entre capitalismo de livre mercado e socialismodemocrático. Entretanto, os defensores da terceira via veem-nacomo algo além do capitalismo de livre mercado e do socialismodemocrático. Esta afirmação baseia a concepção alternativa daterceira via como "centrismo radical".

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A terceira via tem sua origem no governo trabalhista queemergiu na Austrália no final da década de 1980.Popularizou-se durante o governo de Bill Clinton nosEstados Unidos, sendo também defendido pela esposa dele,Hillary, durante a campanha presidencial de 2008. Oprimeiro-ministro britânico Tony Blair e sua facção dentro doPartido Trabalhista, o New Labour, foram os defensoresmais entusiastas da corrente.

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Este pensamento defende um "Estado necessário", em que suainterferência não seja, nem máxima, como no socialismo, nemmínima, como no liberalismo. Também defende, entre outrospontos, a responsabilidade fiscal dos governantes, o combate àmiséria, uma carga tributária proporcional à renda, com oEstado sendo o responsável pela segurança, saúde, educaçãoe a previdência.

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As bases da 3ª Via

A base epistemológica deste projeto político é a Teoria da

Estruturação, que a partir das lições dos clássicos da sociologia,

rejeita a visão linear do progresso histórico presente no marxismo e

tenta captar a relação dialética entre solidariedade social (de

inspiração durkheimiana) e ação humana (de inspiração weberiana).

Sobre a forma de se pensar o social em termos classistas, Anthony

Giddens afirma: “A idéia do conflito de classes como mola da

história certamente deve ser rejeitada. Dizer que esse conflito é

a força motriz da mudança histórica não convence” (Giddens e

Pierson, 2000, p. 52).

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Ele não nega as diferenças classistas produzidas pelo sistemacapitalista, admitindo até que a globalização tenha ampliado asdesigualdades sociais. Mas o que ocorreu foram “novos processos deexclusão”, com a formação de uma classe cosmopolita global. Isto é:o aumento da “mobilidade do capital” frente ao trabalho fez com queo Estado perdesse funcionalidade e os posicionamentos políticos setornaram desvinculados das diferenças de classe.

Giddens, se diz descrente de uma ação política internacional apoiadanas classes dominadas, já que as forças básicas da economia nãoresultam de atividades de uma classe dirigente capitalista específica.“Ninguém controla os mercados financeiros” (idem, 53).

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O fato de vivermos uma “forma mais pura” de capitalismo não

significa que exista uma dialética da história condutora de uma

transição para algum tipo de socialismo mundial. E mesmo

que houvesse algum processo evolutivo, “o socialismo está

morto como modelo de organização econômica capaz” de

superar as limitações do capitalismo (idem, 54).

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Promover um arranjo político que consiga desenvolver umasociedade global cosmopolita, baseada em princípiosecologicamente aceitáveis, em que se produz uma geração deriquezas com controle das desigualdades. Uma política demanutenção do “espírito ético do capitalismo”.

Neste projeto, os agentes são: Estados, grupos de Estados,empresas, organizações internacionais, indivíduos e gruposcomunitários – todos conscientes da necessidade de umaregeneração da relação entre o global e o local, para se evitar ocolapso do Planeta.

O QUE É POSSÍVEL?

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

• Ecologicamente Correto;

• Economicamente Viável;

• Socialmente Justo;

• Culturalmente Diverso.

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Na concepção de Giddens, assume-seque o mercado gera desigualdades,mas, por não haver determinismo dequalquer espécie, o próprio capitalismotem condições de amenizá-las.Mas isto só poderá ocorrer se houveruma renovação na relação Estado/sociedade civil. O que, por sua vez,demanda um novo Estado.