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Edição e distribuição

Editora EMECaixa Postal 1820 – CEP 13360 ‑000 – Capivari – SP

Telefones: (19) 3491 ‑7000/3491 ‑[email protected] – www.editoraeme.com.br

Capivari-SP– 2013 –

Ficha catalográfica elaborada na editora

Nascimento, Eurípedes Costa do, 1968 Além da convivência / Eurípedes Costa do Nascimento – 1ª ed. nov. 2013 – Capivari, SP : Editora EME. 200 p.

ISBN 978‑85‑66805‑16‑1

1. Espiritismo. 2. Família. 3. O Livro dos Espíritos.4. Educação espírita. I. TÍTULO.

CDD 133.9

© 2013 Eurípedes Costa do Nascimento

Os direitos autorais desta obra foram cedidos pelo autor para a Associação Espírita Cáritas, de Passos – MG.

A Editora EME mantém o Centro Espírita “Mensagem de Esperança”, colabora na manutenção da Comunidade Psicossomática Nova Consciência (clínica masculina para tratamento da dependência química), e patrocina, junto com outras empresas, a Central de Educação e Atendimento da Criança (Casa da Criança), em Capivari-SP.

CAPA | Rafael Suzuki GattiDIAGRAMAÇÃO | Victor Augusto BenattiREvISÃO | Michelle Pozitano Lima Reis

1ª edição – novembro/2013 – 3.000 exemplares

Sumário

Apresentação ..............................................................................701 – No mundo espiritual ...............................................................1302 – A formação familiar .................................................................4503 – O período de gestação .............................................................7104 – Pai, mãe e filhos ......................................................................10105 – Semelhanças e diferenças ......................................................12306 – Desejos e fraquezas ................................................................13907 – Covardias morais ...................................................................15708 – Sintonia e prece ......................................................................175

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Apresentação

A proposta desta obra é refletir sobre a organização familiar segundo os ensinamentos dos espíritos superiores transmitidos a Allan Kardec no primeiro livro da codificação, publicado no ano de 1857 sob o título de O Livro dos Espíritos. Por ser “a fa‑mília” um assunto amplo e complexo em várias áreas das ciên‑cias humanas e biológicas, preferimos estruturá‑la a partir desse primeiro livro da codificação espírita, procurando sistematizar metodologicamente, através da técnica de análise de conteúdo1, as explicações dos espíritos superiores sobre o tema. A técnica da análise de conteúdo, muito utilizada em pesquisas sociais, es‑pecialmente na área da psicologia, consiste, resumidamente, em agrupar temas comuns em categorias e subcategorias interpreta‑tivas de forma que o conjunto das informações tenha coerência para que a soma das partes deem consistência ao todo.

A justificativa de elaborar esse livro sobre família se funda‑

1 Cf. BARDIN, L. análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

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menta na responsabilidade que nos foi confiada, pela programa‑ção doutrinária, de realização de palestras para o atendimento fraterno na Associação Espírita Cáritas de Passos (MG), institui‑ção a que estamos vinculados desde 2005. Na elaboração dessas atividades tivemos algumas dificuldades para concatenar ideias em torno desse assunto devido a certa escassez na literatura es‑pírita que aborde a família de forma clara, concisa e gradual. Sem querer desqualificar as publicações já existentes sobre o assunto, porque não temos autoridade moral para isso, acreditamos ser relevante refletir a família segundo O Livro dos Espíritos, uma vez que essa obra é referência fundamental para os trabalhos frater‑nos que se desenvolvem em toda casa espírita‑cristã comprome‑tida com a transformação do ser humano.

Por uma questão de estilo e fidelidade ao conteúdo do livro original em francês redigido por Allan Kardec, iremos utilizar a tradução realizada por Salvador Gentile para o idioma portu‑guês porque, dentre os vários tradutores brasileiros a que tive‑mos acesso e oportunidade de pesquisar, Gentile é aquele que, semanticamente, se aproxima mais do texto original do educador e mestre lionês. A tradução, no nosso entender, é extremamente importante, uma vez que as palavras interpretadas ou adaptadas ao nosso contexto linguístico podem perder seu sentido origi‑nal e nos dar certa imprecisão quanto ao seu conteúdo. Portanto, acreditamos que existe uma diferença entre traduzir e interpre‑tar. Enquanto a primeira transcreve o texto de um idioma para outro, respeitando o estilo e as palavras, a segunda abarca pon‑tos de vista particulares do intérprete que podem não condizer com o conteúdo linguístico original, tal como sucedeu com a Bí‑blia nas diversas adaptações efetuadas para os idiomas latinos.

A partir da técnica linguística da análise de conteúdo, pu‑

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demos verificar que o assunto família encontra-se inserido nos quatro livros que compilam O Livro dos Espíritos, a saber: livro primeiro: as causas primeiras; livro segundo: mundo espírita ou dos espíritos; livro terceiro: leis morais; e livro quarto: esperanças e consolações. Portanto, nossa intenção foi juntar todos os temas sobre família numa sequência lógica e gradual visando facilitar sua abordagem. Desse modo, compreender a família, sua função e responsabilidade, as ligações de simpatia e antipatia estabele‑cidas, as provas, as expiações e todas as vicissitudes e tendências a que estamos sujeitos torna‑se imprescindível no contexto social contemporâneo se, de fato, quisermos adquirir consciência espi‑ritual de nossas obrigações, para acolher aqueles com os quais nos encontramos matriculados no ambiente doméstico.

Esse livro está dividido didaticamente em oito capítulos, con‑forme apresentados no sumário. Assim, o capítulo 1, “No mun‑do espiritual”, aborda assuntos referentes aos antecedentes da reencarnação no corpo físico, pois para compreender as finali‑dades da vida em família é importante conhecer as nossas rela‑ções no plano espiritual e que explicam as nossas convivências no cenário do mundo material. O capítulo 2, “A formação fami‑liar”, procura esclarecer como acontece a formação desse núcleo social, focalizando a importância do casamento e seus laços de afinidade, além de refletir sobre as simpatias, antipatias e os con‑flitos cravados pelas experiências mal-sucedidas em existências anteriores. O capítulo 3, “O período de gestação”, visa analisar como acontece a união da alma e do corpo, a influência do orga‑nismo, o sexo nos espíritos, além do parentesco, da filiação e da relativa hereditariedade transmitida pelos pais aos filhos.

O capítulo 4, “Pai, mãe e filhos”, trata de assuntos referentes às relações estabelecidas entre estes, com ênfase na missão dos

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pais de educar os filhos no caminho do bem e da moral, além de abordar algumas nuances da infância e seus desdobramentos na vida adulta. O capítulo 5, “Semelhanças e diferenças”, procu‑ra refletir a respeito das aparências, que abarcam as qualidades físicas e morais, bem como das faculdades intelectuais trazidas pelo espírito ante as experiências vividas na poeira do tempo. Da mesma forma, o capítulo 6, “Desejos e fraquezas”, discute as imperfeições e tendências de nosso caráter e os cuidados que se deve ter para a sensualidade maliciosa e o desejo pessoal de sa‑tisfação imediata não corroerem o caráter e vulnerabilizarem as possibilidades dos reajustes necessários ao progresso moral de cada criatura encarnada.

O capítulo 7, “Covardia moral”, aborda um assunto delica‑do, envolvendo os atos desvairados diante da vida e suas conse‑quências para o espírito após a desencarnação, tais como o sui‑cídio e o aborto criminoso, que postergam a evolução espiritual devido às expiações pelas quais se deve submeter em reencarna‑ções futuras, para o reajuste do organismo perispiritual. Enfim, o capítulo 8, “Sintonia e prece”, analisa as influências espirituais a que podemos estar sujeitos quando cometemos faltas graves ou quando abrimos o pensamento ao negativismo e às lamenta‑ções, mostrando os meios eficazes de se combater tais desajus‑tes mentais.

Vale ressaltar, também, que as análises e discussões apresen‑tadas a partir das explicações dos espíritos superiores contidas em O Livro dos Espíritos foram complementadas, quando cabível, por outras obras de Allan Kardec, e por autores espirituais como André Luiz e Emmanuel, sob a psicografia de Chico Xavier, além de autores que deram suas contribuições para o aprofundamen‑to das ciências psicológicas contemporâneas, como Sigmund

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Freud, para o desenvolvimento da personalidade, Jean Piaget para as estruturas mentais do conhecimento, Melaine Klein para a psicanálise infantil etc. Como se trata de análises específicas, optamos por inserir as respectivas obras em notas de rodapé, para que o leitor tenha rápido acesso a essas referências2. Assim, esse livro tem como finalidade servir apenas como roteiro peda‑gógico para simpatizantes da doutrina e trabalhadores da casa espírita que atuam nas tarefas do esclarecimento e evangelização cristã de almas que acorrem ao atendimento fraterno em busca de respostas para seus dilemas, vivenciados não somente na fa‑mília, mas, também, nas labutas individuais travadas no dia a dia na expectativa de vencer os obstáculos e realizar os devidos reparos dos equívocos adquiridos em existências pregressas.

Esperamos que as análises apresentadas nesse livro pos‑sam contribuir para a compreensão da vida em família, e que sua leitura possibilite, também, reflexões esclarecedoras acerca dos laços de união no âmbito doméstico, a fim de emancipar a consciência dos grilhões enraizados no velho mundo, rumo a um mundo novo e repleto de sentidos morais em seu mais amplo aspecto. Desejamos que os conteúdos apresentados a seguir fa‑voreçam reflexões conscientizadoras que possibilitem esclarecer a importância da família em nossas vidas, para que ela se torne, ao espírito encarnado, um porto seguro e amável de ancoragem.

Passos, MG.

2 As obras mencionadas nas notas de rodapé desse livro seguem os padrões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) referentes à citação biblio‑gráfica (NBR 6023 e 10520).

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NO MUNDO ESPIRITUAL

A pergunta mais importante que incomoda a todos nós, em al‑gum momento da vida, é saber de onde viemos, para onde va‑mos e por que estamos aqui na existência física, alojados num corpo físico provisório, temporário e perecível no definhamento natural de sua força e vigor. Partindo da crença na admissão da pluralidade das existências, na qual o homem não tem apenas uma vida corporal, como defendem alguns segmentos cristãos merecedores de todo nosso respeito, a filosofia espírita nos es‑clarece essas questões de ordem ontológica e nos conforta, com a fé raciocinada, ao afirmar que somos espíritos milenares criados por Deus vivenciando várias existências sucessivas desde os pri‑mórdios da criação.

Fomos criados simples e ignorantes, mas sempre possuido‑res do princípio inteligente que nos move e nos faz progredir até atingirmos o estado de espíritos puros. Nos diversos estágios existenciais vivenciados nos rastros do tempo, fomos burilando nosso espírito selvagem até chegarmos à condição humana fa‑

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vorável para progredirmos na aquisição das qualidades morais. Sem adentrarmos na teoria evolucionista acerca da “origem das espécies”, tão bem fundamentada por Charles Darwin, o espíri‑to passa por uma transformação lenta e gradativa de sucessivos estágios no plano material, partindo do estágio mais simples em direção ao mais complexo através de sucessivas reencarnações1.

Após várias metamorfoses adaptativas rumo à aquisição da consciência, ainda em estado embrionário e pouco avançado no início, o espírito, criado simples e ignorante, adquire a emanci‑pação no pensamento e começa seu estágio na condição humana para o aperfeiçoamento moral rumo ao encontro com Deus. En‑tretanto, todo esse processo evolutivo talvez não ocorresse se não fosse a participação de outros espíritos que, agrupados por laços de afinidade das vivências em comum registradas nas páginas esvaecidas da história da civilização, estão juntos na longa mar‑cha do aprimoramento moral desde o princípio do surgimento da vida no planeta, há alguns bilhões de anos.

Vale ressaltar que o espírito por si só não conseguiria atingir a perfeição moral sem o consórcio com outros espíritos que o antecedem e preparam as condições favoráveis para o seu nas‑cimento num meio conhecido, denominado família. vale enfati‑zar ainda que, ao longo da história da civilização, a família foi se transformando de uma união consanguínea, em que ocorria a aliança entre irmãos e irmãs no interior de um mesmo grupo para reprodução da espécie, para uma união não consanguínea, em que o casamento passou a ocorrer com pessoas de outro gru‑po familiar, dando origem à família nuclear ou monogâmica na

1 Cf. LUIZ, André (espírito). Evolução em dois mundos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo vieira. 25ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

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modernidade, compreendida como a união de duas pessoas com compromisso de coabitarem e vivenciarem experiências em co‑mum, além de cuidarem de seus descendentes, filhos biológicos ou adotivos, visando à continuidade da geração2.

Atualmente, a família nuclear pode ser dividida em dois sub‑grupos: a família ampliada, que consiste na inserção dos parentes diretos ou colaterais, onde ocorre uma extensão das relações en‑tre pais e filhos para avós, netos, sobrinhos e, em alguns casos, os próprios empregados domésticos ou, ainda, na junção de dois casais com seus respectivos filhos, advindos do casamento an‑terior, constituindo, assim, uma nova família. No segundo sub‑grupo temos a família alternativa, constituída por agrupamentos diferentes dos modelos tradicionais como é o caso das famílias homossexuais (união entre duas pessoas do mesmo sexo), que podem incluir crianças adotadas ou filhos biológicos de um ou de ambos os parceiros(as), provenientes do divórcio numa rela‑ção anterior.

Na perspectiva da filosofia espírita, a família pode ser com‑preendida como um agrupamento doméstico onde alguns es‑píritos se encontram para se aprimorarem e seguirem rumo ao aperfeiçoamento moral pelos laços de afinidade, simpatia ou an‑tipatia que os unem uns com os outros a partir de experiências vividas conjuntamente em encarnações anteriores. Nesse caso, o pai, a mãe e os filhos vão alternando seus papéis e responsabili‑dades em existências sucessivas conforme o seu grau de adian‑tamento moral. Assim, os filhos de hoje podem perfeitamente ter sido os pais ou irmãos de outros tempos, bem como um ami‑go ou inimigo, dependendo das circunstâncias que os atraíram,

2 Cf. SARACENO, C. Sociologia da família, Lisboa: Estampa, 1997.

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como a simpatia ou antipatia de pensamentos. Nesse sentido, poder‑se‑ia dizer, então, da família espiritual que, segundo Allan Kardec3, vai além da família corporal ou consanguínea, pois esta serve apenas para aquela se agrupar no mundo físico e expurgar suas imperfeições morais quando a união se estabelece por laços de afeto e não por interesses materiais, como ocorre em algumas situações da vida contemporânea.

Assim, aqueles que convivem conosco no meio familiar são, na maioria dos casos, espíritos que fazem parte de nossa história es‑piritual ao longo das existências sucessivas, e reencarnam no mes‑mo ambiente para prosseguirem juntos no encalço do aperfeiçoa‑mento que nos conduzirá um dia a um mundo superior, quando o egoísmo, o orgulho e a vaidade forem apagados de nosso arquivo mental pernicioso. É por essa razão que reencarnamos para os de‑vidos reajustes e aprendizados que nos facultem a posse das qua‑lidades morais necessárias a atingirmos a pureza espiritual e nos tornarmos mensageiros e ministros de Deus para a manutenção e a harmonia universal, como enfatizam os espíritos superiores na questão número 113 de O Livro dos Espíritos4.

A família pode ser compreendida, também, segundo as defi‑nições do espírito Joanna de Ângelis5, como a escola da educação moral e espiritual onde se lapidam os caracteres grosseiros da individualidade, além de transformar mazelas antigas em pos‑sibilidades preciosas para a elaboração de propósitos que nos

3 Cf. KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XIv. 316ª edi‑ção. Araras (SP): IDE, 2005.

4 Para nos referirmos a O Livro dos Espíritos, utilizaremos a sigla LE nas de‑mais citações de nosso texto.

5 Cf. ÂNGELIS, Joanna de (espírito). Após a tempestade. Psicografia de Dival‑do Pereira Franco. Salvador (BA): LEAL, 2009.

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levem ao crescimento interior, visando o amor transcendental. Entretanto, qual é o estado do espírito antes de nascer ou encar‑nar no meio familiar? Como acontece a escolha das provas? Qual a diferença entre alma e espírito? Quantas vezes iremos reen‑carnar ainda? É o que pretendemos refletir a seguir conforme as respostas dos espíritos superiores6 reveladas a Allan Kardec sobre essas questões, salientando que o LE é composto basicamente de perguntas e respostas.

O espírito antes da encarnação

224. Que se torna a alma nos intervalos das encarnações7?– Espírito errante que aspira a seu novo destino.– Qual pode ser a duração desses intervalos?– De algumas horas a milhares de séculos. De resto, não há, pro-priamente falando, limite extremo assinalado para o estado erran-te, que pode prolongar-se por muito tempo, mas que, entretanto, não é jamais perpétuo. O espírito encontra sempre, cedo ou tarde, oportunidade de recomeçar uma existência que sirva à purificação das anteriores.

226. Pode-se dizer que todos os espíritos, que não estão encarna-dos, são errantes?

6 Dentre os espíritos superiores que participaram de O Livro dos Espíritos, fo‑ram mencionados, nos “prolegômenos”, os nomes de: Santo Agostinho, São vicente de Paulo, São Luís, O Espírito de verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc.

7 Os números utilizados referem-se às perguntas que Allan Kardec fez aos espí‑ritos da codificação. Os textos grifados em itálico são as respostas deles às ques‑tões formuladas. Cf. KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 167ª edição. Araras (SP): IDE, 2006.

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– Os que devem reencarnar, sim, mas, os espíritos puros, que alcan-çaram a perfeição, não são errantes: seu estado é definitivo.

230. O espírito progride no estado errante?– Pode melhorar-se muito sempre segundo a sua vontade e o seu desejo; mas é na existência corporal que ele põe em prática as novas ideias que adquiriu.

Conforme podemos observar nessas respostas, boa parte dos

espíritos antes de nascer no meio familiar se encontra na errati‑cidade, ou seja, no mundo espiritual mais ou menos favorável segundo o estado evolutivo a que eles estão subordinados, con‑forme o seu grau de adiantamento na aquisição das qualidades morais. Nesse sentido, o estado do espírito na erraticidade varia, conforme foi explicado, de algumas horas a milhares de sécu‑los devido às escolhas que fez pelo uso de seu livre-arbítrio em existências anteriores. Por livre-arbítrio, devemos compreender a liberdade que o espírito tem para pensar e agir sob determinadas circunstâncias na qual se torna também o responsável por suas ações, boas ou más, no meio onde se encontra vinculado. Desse modo, a sua vida na erraticidade depende dessas ações e isso nos possibilita dizer que o local onde se encontra no mundo espiri‑tual, composto por cidades ou colônias espirituais8, é compatível e relativamente proporcional às ações realizadas por ele mesmo, no uso do livre-arbítrio. Assim, o período de uma vida corporal a outra depende também de seu estado evolutivo adquirido em suas sucessivas romagens terrenas.

8 Cf. LUIZ, André (espírito). Nosso Lar. Psicografia de Francisco Cândido Xa‑vier. 60ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

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O regresso às experiências no corpo físico varia conforme esse estado evolutivo, que pode durar algumas horas ou milhares de séculos dependendo da condição moral, pois quanto mais rebel‑de e endurecido for o espírito, mais tempo pode adiar o seu re‑torno ao mundo material, principalmente quando se compraz na maldade e no desejo de vingança alimentados pelo seu orgulho e egoísmo. Contudo, como foi revelado nas respostas, nenhum espírito fica perpetuamente estagnado no tempo e confinado à imperfeição absoluta, porque cedo ou tarde, ele precisa voltar às experiências do corpo para adquirir conhecimento e apren‑dizado visando à própria evolução através das depurações de si mesmo a partir das escolhas direcionadas no caminho do bem.

Todo esse processo depende, conforme já dissemos, da par‑ticipação de outros espíritos que, em condições semelhantes na marcha evolutiva, o antecedem no mundo material e preparam o ambiente para a sua vinda através da constituição familiar e, consequentemente, da procriação e descendência. Esse proces‑so de nascer e renascer novamente perdurará no espírito até o momento da depuração completa de todas as suas imperfeições morais, pois a evolução depende exclusivamente dessa condição para ocorrer e tornar o espírito puro, ou seja, aquele que alcan‑çou “a soma de perfeições de que é suscetível a criatura9”.

Para o espírito atingir a perfeição precisa da encarnação e, consequentemente, da participação dos espíritos dos pais que se unem para também corrigirem equívocos ou desajustes cometi‑dos em existências anteriores. vale destacar que o lugar ocupado pelo pai e pela mãe nas experiências do corpo físico está sujeito

9 Maiores informações podem ser encontradas nas perguntas de números 100 a 112 do LE.

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às vicissitudes do processo evolutivo no plano espiritual, e não há uma hierarquia nas relações dessa natureza tal como enten‑demos a família consanguínea. Nas dimensões do mundo espiri‑tual o espírito que se coloca na posição de pai numa encarnação pode reencarnar na condição de filho, parente ou amigo próximo numa outra existência, conforme as suas necessidades morais de ajustamento porque todos precisam da encarnação para seguir no encalço da plenitude evolutiva.

Quando o espírito atinge, então, a perfeição absoluta, ele avança e migra para mundos superiores onde não há mais a ne‑cessidade do corpo físico para se manifestar. Cada mundo com‑porta características próprias, onde o corpo físico tal como o co‑nhecemos na Terra não suportaria um minuto sequer, como em relação à lei de gravidade, que nos prende ao chão e nos impede de alçar voos como acontece com os pássaros. Contudo, a voli‑tação em mundos mais evoluídos que o nosso parece ser uma condição natural dos espíritos evoluídos, pois, ao se despirem definitivamente de todas as impurezas morais, adquirem uma leveza espiritual e alcançam o conhecimento pleno. Tais conheci‑mentos englobam a benevolência, a sabedoria, a ciência e o amor ao próximo, porque os espíritos evoluídos percorreram todos os graus das experiências físicas e se despojaram de todas as vicissi‑tudes materiais às quais ainda estamos condicionados.

A erraticidade também parece ser uma condição relativa e transitória ao estado evolutivo do espírito. À medida que ele vai adquirindo novos conhecimentos nas colônias espirituais, nasce no plano físico para colocar em prática as instruções recebidas, quando bem desempenhadas, conquista novas qualidades que lhe acompanharão pelo resto de sua vida. O espírito não fica na ociosidade e todos têm funções a desempenhar para a ma‑

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nutenção e a harmonia universal quando superadas as barrei‑ras que as imperfeições morais nos impõem nas experiências da vida material.

A existência física nos convida a estar sempre em movimento para nos aprimorarmos, e aqueles que ficam na ociosidade do mundo perdem preciosas oportunidades de crescer espiritual‑mente e, com isso, retardam o seu adiantamento a mundos supe‑riores. Contudo, a ociosidade deve ser compreendida, em certos casos, como uma condição do espírito que, em encarnações ante‑riores, pode ter possuído muitas regalias em torno de si mesmo e retorna ao mundo físico para tentar superar esse condiciona‑mento psíquico presente em sua morada mental. Seja qual for a situação, o trabalho contínuo e perseverante no caminho do bem é a melhor medicação contra a ociosidade, porque aperfeiçoa a inteligência e desperta a possibilidade de se tornar útil e, dora‑vante, aperfeiçoar-se.

É importante os pais saberem discernir carinho e excesso de zelo na educação de seus filhos, para que estes não desenvol‑vam a ociosidade perene e aprendam a ser donos de si mesmos quando a maturidade intelectual lhes exigir decisões próprias nos emaranhados da vida, pois é muito comum os pais se preocupa‑rem demasiadamente apenas com o conforto material dos filhos, relegando o amparo espiritual a uma necessidade dos simples e miseráveis. As consequências dessas atitudes podem ser o desen‑volvimento de filhos rebeldes, dependentes, egoístas e presunço‑sos que desconhecem limites e não respeitam seus semelhantes pelo fato de terem aprendido a valorizar as aparências como uma condição sine qua non para a ascensão social e conquista da felici‑dade em função da essência ontológica e espiritual de si mesmo.

A existência não se resume somente nas coisas desse mundo