SOLO GRAMPEADO – MÉTODO EXECUTIVO 1 · executada em fases sucessivas de corte do terreno e...

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SOLO GRAMPEADO – MÉTODO EXECUTIVO 1 A técnica atual de solo grampeado como umas das soluções mais viáveis para as obras de contenção. Luiza de Fátima da Cunha 2 Orientador: Prof. Evangelista Cardoso Fonseca 3 RESUMO O objetivo deste trabalho é descrever a tecnologia usada para contenção de talude em solo grampeado, analisando os seus métodos executivos, vantagens e desvantagens de suas aplicações. Aponta-se com esse estudo uma técnica diretamente prática e que apresenta bons resultados nos estudos geotécnicos para estabilizações de taludes em situação de cortes e aterros. Essa técnica vem sendo empregada desde a década de 70 por construtores de túneis, contudo, essa experiência, tida como bem sucedida, só foi divulgada a partir da década de 90. Todavia, sua primeira aplicação foi na França sendo posteriormente aplicada em outros países. Este artigo inclui o relato da aplicação dessa técnica em uma obra na cidade do Salvador, Bahia. Palavras – chave: Solo Grampeado, Estabilização de Taludes, Muros de Arrimo. INTRODUÇÃO Este artigo apresenta a técnica de contenção pelo método de solo grampeado. A importância desta pesquisa justifica-se considerando que, em uma era marcada por imponentes mudanças tecnológicas, na qual as técnicas construtivas de contenção em corte, taludes e encostas devem-se mostrar cada vez mais viáveis e seguras. Com este trabalho, procura-se mostrar, de forma teórica e com exemplos na prática, os métodos executivos de solo grampeado como uma solução inteligente e bastante utilizada nos últimos anos. Segundo Schuwab (1987), os escorregamentos de terra bem como o rompimento de solo com conseqüências graves para a cidade Salvador, estado da Bahia, estão relacionados com as épocas de maiores precipitações pluviométricas que geralmente ocorrem nos meses entre de abril e junho. Com isso, ele considera que toda essa questão da instabilidade de taludes seja um problema de drenagem. 1 Artigo científico apresentado como avaliação da disciplina de Estágio III de Ensino Superior do curso de Engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador – UCSAL. 2 Luiza de Fátima da Cunha é estudante do curso de Engenharia Civil pela UCSal – Universidade Católica do Salvador. E-mail.: [email protected] 3 Evangelista Cardoso Fonseca (orientador) - Engenheiro Civil, M.Sc. Geotecnia, Prof. Escola Politécnica/UFBA. E-mail [email protected]

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SOLO GRAMPEADO – MÉTODO EXECUTIVO1 A técnica atual de solo grampeado como umas das soluções mais

viáveis para as obras de contenção. Luiza de Fátima da Cunha2

Orientador: Prof. Evangelista Cardoso Fonseca 3

RESUMO

O objetivo deste trabalho é descrever a tecnologia usada para contenção de talude em solo grampeado, analisando os seus métodos executivos, vantagens e desvantagens de suas aplicações. Aponta-se com esse estudo uma técnica diretamente prática e que apresenta bons resultados nos estudos geotécnicos para estabilizações de taludes em situação de cortes e aterros. Essa técnica vem sendo empregada desde a década de 70 por construtores de túneis, contudo, essa experiência, tida como bem sucedida, só foi divulgada a partir da década de 90. Todavia, sua primeira aplicação foi na França sendo posteriormente aplicada em outros países. Este artigo inclui o relato da aplicação dessa técnica em uma obra na cidade do Salvador, Bahia. Palavras – chave: Solo Grampeado, Estabilização de Taludes, Muros de Arrimo.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta a técnica de contenção pelo método de solo grampeado. A importância desta pesquisa justifica-se considerando que, em uma era marcada por imponentes mudanças tecnológicas, na qual as técnicas construtivas de contenção em corte, taludes e encostas devem-se mostrar cada vez mais viáveis e seguras. Com este trabalho, procura-se mostrar, de forma teórica e com exemplos na prática, os métodos executivos de solo grampeado como uma solução inteligente e bastante utilizada nos últimos anos.

Segundo Schuwab (1987), os escorregamentos de terra bem como o rompimento de solo com conseqüências graves para a cidade Salvador, estado da Bahia, estão relacionados com as épocas de maiores precipitações pluviométricas que geralmente ocorrem nos meses entre de abril e junho. Com isso, ele considera que toda essa questão da instabilidade de taludes seja um problema de drenagem.

1 Artigo científico apresentado como avaliação da disciplina de Estágio III de Ensino Superior do curso de Engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador – UCSAL. 2 Luiza de Fátima da Cunha é estudante do curso de Engenharia Civil pela UCSal – Universidade Católica do Salvador. E-mail.: [email protected] 3 Evangelista Cardoso Fonseca (orientador) - Engenheiro Civil, M.Sc. Geotecnia, Prof. Escola Politécnica/UFBA. E-mail [email protected]

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A forma do relevo também se mostra como um fator importante em Salvador. Para o mesmo autor, o relevo local apresenta-se bastante marcado por uma falha, que divide a cidade em alta e baixa.

Considerando tal contexto apresenta-se, como alternativa, o uso de Novas Tecnologias para contenção de taludes, ao invés da solução em cortina atirantada, que se tornaria mais onerosa e com estrutura de construção mais pesada.

Para realização deste trabalho, foram delineadas as seguintes ações:

a) Coleta de informações obtidas do Plano Diretor de Encostas (PDE), no qual se verificou que, em 2007, foram realizadas 40 obras de contenção de encostas, sendo que 26 foram realizadas com a técnica de solo grampeado, ou seja, 65% de toda a execução desse tipo de serviço na cidade de Salvador – Bahia.

b) Pesquisa bibliográfica com a leitura de artigos relacionados ao tema. (vide bibliografia).

c) Entrevista com Engenheiros geotécnicos que estudam e executam projetos e obras em solo grampeado.

A relação que o solo grampeado e cortina atirantada exercem no meio geotécnico, se dá de forma direta, por apresentarem, a primeira vista, grande similaridade, entretanto, grandes são as diferenças entre as duas técnicas utilizadas. Daí a necessidade de que se mostre a importância do solo grampeado frente à execução da cortina atirantada.

Nas cortinas atirantadas, a estabilidade do maciço é obtida por tensões induzidas através do contato face-solo; já no caso do solo grampeado, essa estabilização acontece através do atrito desenvolvido pelo entre o grampo e solo circundante.

Para isso, neste trabalho é feita uma exposição sobre os conceitos que envolvem o solo grampeado e suas diferenças diante da cortina atirantada. Também será descrito o método executivo de uma estrutura em solo grampeado aplicado a uma obra desse tipo. Finalmente, apresenta-se uma análise dos resultados obtidos na aplicação desta técnica e a questão fundamental do presente estudo; o solo grampeado com uma solução vantajosa.

COMPARAÇÃO DO SOLO GRAMPEADO E CORTINA ATIRANTADA

De acordo com Ehrlich (2002), o solo grampeado se configura como um método de reforço “in situ” (Fig. 01) para estabilização de taludes que podem ser naturais ou escavados. Ele é constituído a partir da introdução de inclusões passivas (hastes semi-flexíveis) no solo e, em sua maioria, por uma proteção da face do talude.

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Figura 1 – Estabilidade de taludes (ORTIGÃO E SAYÃO, 1999)

O processo construtivo para uma obra de solo grampeado geralmente é constituído por três etapas principais e executadas sucessivamente. A primeira é a escavação do talude, que pode ser realizada por processo mecânico ou manual, sendo realizada em sucessivas fases de cima para baixo.

Posteriormente, realizam-se as inclusões que, geralmente, são compostas por barras de aço, podendo também ser de outro metal ou de fibras sintéticas, posicionada no solo em um ângulo que varia de 5° a 15° com a horizontal. Essas barras serão envolvidas por uma calda de cimento. A todo esse conjunto vamos dar o nome de grampo. Esses grampos são distribuídos no talude após um estudo da geometria do mesmo e dos parâmetros de resistência do solo. A distância entre esses grampos estão entre 0,80m e 1,40m. Nesse momento também são criadas estruturas de drenagem, que podem variar conforme as condições do maciço.

A última etapa é descrita pela aplicação de uma armadura (em tela metálica, fibras de aço ou de polipropileno), e posterior aplicação do concreto projetado, com espessura prevista em projeto para proteção do talude ou corte, já que no caso de solo grampeado a face tem uma importância secundária.

Em Ortigão (1993) a técnica de solo grampeado como estrutura de reforço, deve executada em fases sucessivas de corte do terreno e colocação do grampo, do topo em direção ao pé do talude. Nesse caso, a massa do solo é gradualmente reforçada durante a construção. Se o material da região escavada for estável, os grampos poderão ser imediatamente instalados, caso contrário, deve-se aplicar uma fina camada de concreto projetado, a fim de evitar que o talude sofra deslocamentos inadmissíveis.

Segundo Schlosser (1982), quando a técnica em solo grampeado for utilizada como estrutura de contenção ou em estabilização de escavações, os grampos deverão ser geralmente posicionados horizontalmente e, os esforços principais considerados serão, predominantemente, de tração nos grampos. Ao contrário, quando essa técnica for utilizada para estabilização de taludes naturais ou não, os elementos de reforço deverão ser geralmente verticais ou perpendiculares à superfície potencial de ruptura e os esforços de cisalhamento e momentos fletores não devem ser desprezados.

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Devido ao seu método executivo, conforme descrito anteriormente, o solo Grampeado é comparado imediatamente com estruturas em cortinas atirantadas mesmo sendo as duas bem distintas. (fig. 2 e 3)

2)Esforço de uma cortina atirantada

3) Esforço em um solo grampeado Figuras 2 e 3 – Comparação Solo Grampeado – Cortina Atirantada (EHRLICH, 2002)

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Na visão de Ehrlich (2002), em cortinas atirantadas, a estabilidade do talude é obtida pelas tensões induzidas no contato solo face, as quais, em última análise, elevam o fator de segurança da superfície potencial de ruptura. Isso é possível através da protensão de tirantes que devem ser compostos por um trecho livre, a partir da face externa do talude, e um trecho injetado com calda de cimento, após a superfície potencial de ruptura. O dimensionamento estrutural da cortina é muito importante, haja vista o punsionamento causado pela aplicação de elevadas cargas nos tirantes, desde 150KN atingindo, em casos especiais, até 1000KN. No caso da cortina atirantada, a execução é feita por etapas. Somente a primeira linha é escavada. Em seguida, são feitas as perfurações e a inserção dos tirantes, que são chumbados em nichos no fundo do orifício. Cada tirante é pintado com tinta epóxi anticorrosiva e envolvido em um tubo de borracha individual. O conjunto de tirantes é inserido num tubo coletivo e, já dentro do orifício, é revestido com calda de cimento. As placas são acondicionadas e os tirantes protendidos. Em seguida, é feita a escavação da segunda linha. A carga de protensão aumenta conforme a profundidade. Cargas muito altas podem causar rupturas. Os tirantes se localizam a uma distância que varia entre 1,20 e 1,40 m. Apesar de exigirem menos cuidados, é necessário avaliar se os tirantes estão intactos e se não há vazamentos. Com a movimentação do maciço, as variações de temperatura e a eventual infiltração de água por trás do maciço, o concreto pode fissurar e provocar infiltrações e vazamentos. Além disso, o tirante poderá oxidar. Por utilizar o terreno vizinho para o apoio, também é essencial a autorização do proprietário para a execução da obra. Tanto por questões legais quanto para evitar que os tirantes sejam removidos em caso de obras futuras.

As duas técnicas se aplicam a reforço de solo e suas semelhanças são tanto conceituais como na análise prática, entretanto, uma das principais diferenças está no seu método construtivo, visto que o solo grampeado, nesse quesito, torna-se mais vantajoso por ser, consideravelmente, mais econômico, pois utiliza equipamentos mais leves e de maior produtividade, podendo adaptar-se às condições locais.

No caso do solo grampeado, Ehrlich (1996) afirma que os esforços de cisalhamento e fletores podem se apresentar de forma importante e dependem do tipo de movimento da massa de solo, da inclinação e rigidez do grampo.

ESTUDO DO PROJETO E MÉTODO EXECUTIVO

Os estudos geotécnicos para o desenvolvimento de um projeto em solo grampeado acontecem, inicialmente através do conhecimento da natureza geológica da região na qual irá implantar-se a obra, bem como, se há um leve movimento do talude, alguma ocorrência de fissuras e o estado das canalizações de águas pluviais (ou outras quaisquer), o que pode de certa forma inviabilizar a aplicação da contenção.

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Um dos métodos utilizados para o dimensionamento de um solo grampeado é o bishop, proposto por Bishop (1955), que se trata de um método simplificado para cálculo de estabilidade do talude.

Para Moliterno (1994), durante a fase de projeto, também é necessário que se observe, atentamente, o comportamento das construções similares já executadas, principalmente em terrenos com ocorrência de diaclases (superfícies de roturas de rochas) preenchidos com argilas e na parte inferior de montanha classificado como colúvio (Talus). A contenção de taludes com predominância desses materiais é ainda bastante experimental, conseguindo-se resultados satisfatórios desde que seja impedida a saturação (encharcamento).

Inicialmente, para execução desse tipo de contenção, são executadas as perfurações que podem ser mecanizadas com equipamentos, na sua maioria leves, que usam água ou ar, ou podem ser executadas com trados manuais, nesse caso não será necessário o uso de fluidos.

A escolha do método de perfuração deve ser aquele que mais se adequar ao talude em questão, visto que o furo deve permanecer aberto até a fase em que a injeção seja concluída.

Essas perfurações possuem diâmetros que podem variar em 75 mm a 100 mm e seus comprimentos são definidos de acordo com os estudos geotécnicos realizados na fase de projeto. Os furos são realizados com inclinações entre 5º e 15 º com a horizontal.

Antes da fase de perfuração, deve-se proceder com a fase de montagem e instalação das barras que irão compor os grampos. No caso de barras metálicas, essas peças deverão sofrer tratamento anti-corrosivo, que é dispensado em caso de barras de fibras. Essas barras possuem diâmetros que podem variar de 10mm a 38mm, e nelas são colocados dispositivos chamados de centralizadores ou espaçadores, que sevem para permitir o total cobrimento das barras de aço pela calda de cimento. Esses espaçadores ficam, em média, a cada 1,5 m fixados na barra. Essas barras também devem possuir uma dobra na sua extremidade, em forma de L, com aproximadamente 20 cm., no caso de barras com diâmetro superior a 20mm deverão ser parafusadas, devido a dificuldade em realizar a dobra. Os tubos de injeção (tipo manchete) que serão fixado junto à barra de aço, são geralmente de PVC 20 mm, composto por válvulas de 3 mm de diâmetro, que evitam a formação de vazios no momento da injeção da calda de cimento.

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Figura 3 – Detalhe da cabeça do grampo – Contenção em Solo Grampeado (HB Engenharia, 2007)

Concluída a fase de execução do grampo, procede-se com a colocação da armadura para compor a face em concreto projetado, que pode ser feito através do uso de tela eletro soldada ou com a aplicação de fibras (geralmente de polipropileno) que serão incorporadas ao concreto projetado na hora de sua aplicação.

Para Zirlis (1999), as telas eletro soldadas têm sido a armação convencional do concreto projetado, embora, a partir de 1992, têm-se utilizado em substituição às telas, trazendo resultados satisfatórios, fibras metálicas de aço ou de polipropileno. Essas fibras promovem uma redução da equipe de trabalho e espessura da parede e, conseqüentemente, economia de 20 a 40% por metro quadrado aplicado.

Finaliza-se o processo executivo do solo grampeado com a aplicação de uma camada de concreto projetado, com espessura que pode variar de 6,0cm a 10,0 cm, de acordo com a definição em projeto. O concreto projetado (mistura composta por cimento, pedrisco, água, areia e aditivos) é aplicado através de um equipamento de projeção, impulsionado por ar comprido, até o local onde será aplicado, através de mangotes (conduto transportador, geralmente de bocharra). Na extremidade final deste mangote existe um bico de projeção, onde o concreto se mistura á água, pois ele vem por via seca, sendo lançado em grande velocidade à face da contenção. Deve-se considerar sempre a reflexão do concreto, que se dá quando o concreto impacta a região a qual está sendo revestida. O forte impacto que o concreto exerce, faz com que parte dele sofra um rebote e caia no chão. Segundo Figueiredo (2005), os fatores que determinam a maior ou menor reflexão vão desde o traço concreto até a qualidade os materiais, bem como o ângulo de projeção.

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Figura 4 - Construção de estrutura em solo grampeado em escavações com

equipamentos mecânicos (Zirlis et al., 1999).

A aplicação do concreto projetado deve ser feita por um especialista neste tipo de serviço, é o chamado mangoteiro, responsável pela aplicação do concreto, e, garantindo principalmente, o perfeito cobrimento do talude, bem como a espessura especificada anteriormente.

Segundo Zirlis e Pitta (1992), o revestimento do talude com concreto projetado é um ponto muito importante na implantação do solo grampeado, pois ele é o principal responsável pela estabilidade do talude em conjunto com os chumbadores. Sua aplicação depende do correto dimensionamento das redes de condução de ar, vazão e pressão do compressor e, principalmente, do ajuste da bomba e da projeção manual.

Para o processo de drenagem, é necessário a realização de um prévio estudo no local, para que a estrutura seja adequada corretamente ao talude. Atualmente são mais utilizadas as fitas sintéticas conhecidas como geodrenos, que se estendem ao longo do talude, da sua crista ao pé, de forma vertical. Mas, também, podem ser necessários o uso de DHP’s (drenos sub-horizontais profundos), que são tubos plásticos, variando de 32mm a 50mm, perfurados, envoltos com tela de nylon ou geotêxtil não tecido, que se introduzem no solo, em perfuração que varia de 75mm a 100mm de diâmetro. O uso de canaletas, moldadas no terreno e revestidas com concreto projetado, também poderão ser criadas no pé ou na crista do talude, para disciplinar a água (incidentes) incidente no terreno.

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No caso de extensões maiores que dez metros, devem existir juntas de dilatação, para minimizar os efeitos da dilatação térmica. Segundo Moliterno (1994), nesse caso, os espaços vazios podem ser preenchidos com mastiques ou silicones e espessuras da ordem de 25mm.

Durante a obra deverão ser executados ensaios de arrancamento de grampos, que terão a finalidade de avaliar a adesão (atrito) desenvolvida entre o grampo e o maciço reforçado, sendo o seu resultado um balizador dos parâmetros de adesão solo-grampo adotados na fase de projeto.

Para Ortigão e Sayão (1999), ensaios de arrancamento devem ser realizados durante o desenvolvimento da obra, em pelo menos dois grampos ou em 1% dos grampos para que sejam confirmados os valores especificados em projeto.

ESTUDO DE CASO

Para executar esse estudo, realizou-se um acompanhamento direto de uma obra até que a mesma tivesse todo o seu processo construtivo finalizado.

A área experimental para esse estudo foi a Avenida Mário Leal, conhecida como Avenida Bonocô, no município de Salvador, estado da Bahia. Essa obra foi executada como parte dos serviços para implantação da via do metrô na cidade que até a presente data não foi ainda finalizada. A referida obra se localiza na estação de transbordo do metrô.

Inicialmente, todo o projeto para essa obra foi concebido em cortina atirantada. Após uma série de estudos geotécnicos realizados, optou-se pela adoção de uma contenção em solo grampeado, tecnicamente viável e segura, e que também se mostrou como uma solução menos onerosa que a cortina atirantada.

Foram realizadas seções topográficas da encosta e com base nas informações coletadas das sondagens preliminares (Fig. 05) foram procedidas análises de estabilidade do maciço, que serviram como subsídio para definição dos trabalhos de terraplanagem.

Depois de executadas as primeiras linhas de grampos, foram coletadas amostra indeformadas que, em laboratório, foram submetidas a ensaios de cisalhamento direto lento, objetivando a obtenção dos parâmetros de resistência dos solos, quais sejam intercepto coesivo e ângulo de atrito interno. Esse procedimento foi adotado no decorrer da obra, tendo sido realizados ensaios em pelo menos quatro blocos indeformados, procurando, assim, caracterizar melhor os solos que constituem o maciço a ser contido.

Foram executados aproximadamente 6.500 metros de grampos com comprimentos variando entre 6,0 a 12,0m, uma área de face em concreto projetado dosado com fibras de polipropileno estimada em um pouco mais de 1.500m², com alturas de até 18,0m.

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Fig.5 – Boletim de Sondagem a Percussão.

A obra teve uma duração média de cinco meses, incluindo o tempo necessário para elaboração de projetos e execução dos serviços em campo. A contenção seguiu as seguintes etapas executivas:

- Perfuração: A perfuração foi executada de duas maneiras. Em uma delas, utilizaram-se trados manuais, nesses casos os furos com comprimentos menores que 4,0m. Em paralelo, foram utilizadas perfuratrizes elétricas aproveitando como fluido a água. Ambos os furos foram realizados com diâmetro igual a 100 mm e inclinação de 15º com a horizontal, o que facilita a injeção de cimento por gravidade.

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Fig.6 – Detalhe da perfuração mecanizada

- Preparação e Montagem: A preparação das barras em aço CA-50 com seção de 20mm foi realizada antes do início das perfurações. A estas barras foi dado um tratamento anti-corrosivo com resina epóxi, aplicada com um pincel, sobre toda a barra, efetuada a dobra de 20 cm. Os comprimentos dessas barras variam de acordo com o projeto, e neste caso chegaram a até 12,0m. Finalizou-se a montagem das barras, anexando dois tubos pvc, chamados de tubos manchetes, de diâmetro igual a 20 mm por onde foi feita a injeção e re-injeção do grampo. As barras se fixaram ao furo através de uma calda de cimento (fator água cimento 0,5). Nesses tubos manchetes colocaram-se válvulas de mangueira cristal que, no momento da injeção, evitam os vazios entre as paredes dos furos e os chumbadores. Essas barras foram então instaladas nos furos com inclinação de 15º com a horizontal.

Fig. 7 – Detalhe do chumbador montado e instalado.

A figura 7 mostra o grampo (chumbador) instalado que é composto por uma barra de aço CA-50 de 20 mm de diâmetro, com dobra de 20 cm. Em sua extremidade, espaçadores e tubos de injeção/re-injeção de calda de cimento. Os tubos de injeção e re-injeção permitem a correta penetração da calda no preenchimento do furo e uma boa aderência da calda com a barra no interior do furo, originado o elemento chamado grampo ou chumbador.

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Na barra de aço CA-50, devem ser implantados espaçadores (Fig. 08), onde se realizam ranhuras verticais no tubo PVC com diâmetro maior do que o da barra aquecendo-o com a temperatura do fogo e em alguns instantes ele toma essa forma correta. Esses espaçadores foram dispostos a uma distância de dois metros.

Figura 8 – Espaçadores na barra de aço.

- Aplicação do concreto projetado: Na obra onde foi realizado o estudo de caso, para o sistema de solo grampeado, o revestimento utilizado foi o concreto projetado composto de brita 3/8, areia grossa lavada, cimento e fibra de polipropileno 40 mm (6 kg/m³) que foi misturada no momento da sua fabricação. O uso da fibra além de dispensar o uso da tela metálica, promoveu uma economia de tempo e redução da equipe de trabalho a dois operários para fazer a mistura do concreto a seco e um operário para aplicar na parede a ser moldada. Esse concreto tem resistência característica de 20 MPa, sem utilização de aditivos. O processo de fabricação do concreto projetado foi realizado por via seca, sendo a água adicionada no bico de projeção momentos antes da sua aplicação na parede a ser moldada. O concreto foi colocado na obra através de um caminhão do tipo betoneira. A espessura de face em concreto projetado foi definida com sendo 7,0cm.

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Fig. 9 – Detalhe do caminhão betoneira fornecendo concreto.

A figura 9 mostra o momento do caminhão tipo betoneira fornecendo o concreto para máquina de projeção chamada de CP-3. Daí, o concreto é impulsionado por um compressor até o bico de projeção, onde á água é adicionada e o concreto então aplicado. O bico de projeção se distancia da face em torno de 1,0m e a água é controlada pelo próprio operário, que deve ter experiência com esse tipo de serviço.

Fig. 10 – Aplicação do concreto projetado na face do talude.

Segundo Ehrlich (2002), é usual a aplicação de uma face estrutural leve, normalmente em concreto projetado, sendo o grampo ligado estruturalmente a esta. Para ele, as estruturas em concreto projetado são tomadas como uma simples proteção superficial do talude, inibidora de instabilidades localizadas na região da face do mesmo.

-Drenagem: A drenagem utilizada na obra visitada para realizar o estudo de caso foi composta por dreno linear contínuo ou geodreno (fig. 10), que é o resultado da instalação de calha plástica drenante, revestida por manta geotêxtil. Ele

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estende-se ao longo da direção vertical da crista até o pé do talude e, com espaçamento horizontal de 3 m, aflora na canaleta de pé e segue até o ponto mais próximo do sistema de captação de água. Houve também a utilização de drenos sub-horizontais profundos (DHP’s), que são tubos de PVC com D=40 mm, perfurados e envoltos com malha nylon para evitar a entrada de partículas carreadas de solo, diminuindo, assim, sua eficiência.

Fig. 11 – Detalhe da aplicação do geodreno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As novas tecnologias na área geotécnica abriram novas possibilidades de atividades e reestruturam as já existentes, como é o caso da técnica de reforço de terrenos através da instalação de inclusões mais rígidas que o solo no interior da massa de terra.

Com base neste trabalho, nota-se que a escolha adequada de um tipo de contenção a ser executada, depende de vários fatores, sendo eles, econômicos, facilidade de equipamento, versatilidade, tempo de execução, etc.

Pode-se concluir, após o estudo de caso, que a técnica de solo grampeado, em geral, é mais viável economicamente que as outras tais como alvenaria de pedra e cortina atirantada. Geralmente a contenção de pedra argamassada torna-se inviável economicamente a partir de alturas superiores a 4,50m.

Outra vantagem do uso do solo grampeado em relação à cortina atirantada é o emprego de andaimes, pois a montagem e desmontagem, reutilização em outras obras e a leveza dos andaimes representa uma melhor acessibilidade deste equipamento e facilidade da sua utilização com relação às fôrmas utilizadas nas cortinas atirantadas.

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Após o estudo de caso, pode-se concluir que, não poderia ter sido utilizada a alvenaria de pedra, pelo fato do talude possuir altura mínima em torno de 6,0m, o que propiciaria um alargamento da base do muro e de toda a estrutura, contribuindo, assim, para o custo muito elevado com perda de espaço físico horizontal.

Quanto à cortina, o seu custo correlacionado com solo grampeado é muito superior, sendo em média R$ 1.000,00/m² de face enquanto o Solo Grampeado custa em torno de R$ 300,00/m² tornando-se assim uma solução anti-econômica.

Segundo dados fornecidos pelo PDE (Plano Diretor de Encostas) citado anteriormente, houve, em 2007, um aumento considerável na execução de estruturas de contenção em solo grampeado.

Esse aumento, de acordo com Helvécio Barbosa, executor atuante na área geotécnica, deve-se ao fato de estruturas de contenções em solo grampeado serem mais econômicas e mais rápidas, além da alta versatilidade. Segundo ele, houve um grande crescimento em obras desse tipo e em poucos casos onde existia um projeto inicial em cortina atirantada, o mesmo foi reestudado em solo grampeado.

Ainda é, de certa forma, cauteloso o estudo em estruturas desse tipo. Deve-se observar cada passo da execução, bem como o estudo do projeto. Uma obra desse porte deve ser executada e estudada por profissionais experientes, para que não haja surpresas desagradáveis durante a execução da obra, como o desmoronamento do talude, que pode ocorrer por diversos erros e dimensionamento do projeto e do executor.

Com o estudo de caso apresentado procurou se demonstrar a importância de utilizar a técnica de solo grampeado em estruturas de contenções, mostrando de forma prática as vantagens que esse tipo solução pode trazer, diante de outras técnicas de contenção.

REFERÊNCIAS

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