SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES … · por meio de diafragmas constituídos por...

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Morada: Avenida de Portugal, nº 36, Luanda Telefone e Fax: 00244 22239 51 52 Contribuinte nº 540 212 94 01 Data de Constituição: 10/2/2006 Capital Social 198.000.000Kz ($2.640.000 USD) Certidão do Registo Comercial de Luanda n.º 171-06 Certificado de Registo Estatístico nº 39308 Alvará de Construção Obras Públicas: 97/EOP/2006 Alvará de Industrial de Construção Civil: 579/ICC/2009 Alvará Comercial: 825/2007 Certificado de Autorização do Exercício da Actividade Comercial Externa 014013/04/2007 SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES DO EDIFÍCIO BAÍA

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Morada: Avenida de Portugal, nº 36, Luanda

Telefone e Fax: 00244 22239 51 52 Contribuinte nº 540 212 94 01

Data de Constituição: 10/2/2006 Capital Social 198.000.000Kz ($2.640.000 USD)

Certidão do Registo Comercial de Luanda n.º 171-06 Certificado de Registo Estatístico nº 39308

Alvará de Construção Obras Públicas: 97/EOP/2006 Alvará de Industrial de Construção Civil: 579/ICC/2009

Alvará Comercial: 825/2007 Certificado de Autorização do Exercício da Actividade Comercial Externa 014013/04/2007

SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES DO

EDIFÍCIO BAÍA

SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES DO EDIFÍCIO BAÍA EM LUANDA - ANGOLA

Pinto, Alexandre, JetSJ Geotecnia, Lisboa, Portugal, [email protected] Pita, Xavier, JetSJ Geotecnia, Lisboa, Portugal, [email protected] Teixeira, Nuno, Alves Ribeiro, S.A., [email protected] Rosa, Nuno, Construções ARC, S.A., [email protected] RESUMO No presente artigo são descritos os principais critérios de concepção e de execução adoptados nas soluções de contenção periférica e de fundações, implementadas no edifício Baía, localizado na zona baixa de Luanda. Em concreto, são abordados os principais condicionalismos verificados, designadamente a necessidade de construção de 5 pisos enterrados, as condições geológicas e hidrogeológicas (areias submersas) e as condições de vizinhança. São ainda descritos os princípios de dimensionamento das soluções adoptadas, nomeadamente a solução de contenção periférica por paredes moldadas, travada, durante os trabalhos de escavação, inferiormente por um tampão de fundo, constituído por colunas de jet-grouting, e superiormente, por dois níveis de bandas de laje e de treliças metálicas. Por último, são apresentados e analisados os principais resultados da instrumentação e observação da obra. 1. INTRODUÇÃO No presente artigo são apresentadas as soluções propostas e executadas para os trabalhos de escavação, contenção periférica e fundações, adoptados no âmbito da execução dos cinco pisos enterrados e vinte e quatro pisos elevados do edifício Baía, em construção na Rua Major Kanhangulo, junto ao Largo do Ambiente e bastante próximo da baía de Luanda em Angola. (Figura 1). A área de construção dispõe de uma configuração rectangular em planta de 36.5x26.5m2, perfazendo uma área 967.3m2 e dispondo de uma altura de escavação máxima de cerca de 12.0m. A informação geológico-geotécnica relativa aos terrenos ocorrentes no local da escavação, revelou a presença de solos incoerentes, de compacidade média e baixa e de média a alta permeabilidade, associados à presença de nível freático quase superficial. A experiência menos positiva recolhida em escavações com características semelhantes, na mesma zona da baixa de Luanda, tem confirmado a dificuldade associada à realização de ancoragens no ambiente hidro-geológico referido, bem como a dificuldade de controlar o afluxo de água pelo fundo da escavação. No sentido de facilitar os trabalhos de escavação abaixo do nível da água, procurou-se conceber uma solução de contenção periférica e de fundações que resultasse num processo construtivo menos susceptível de ser afectado pelo complexo cenário hidrogelógico, tendo-se definido em conjunto com o Dono de Obra, os seguintes princípios de concepção das soluções a propor:

- Não realização de ancoragens abaixo do nível freático; - Limitação e eventual eliminação do fluxo de água afluente pelo fundo da escavação.

Figura 1 – Localização da área de intervenção e corte tipo da solução No enquadramento descrito, optou-se por propor a execução de uma parede de contenção periférica, realizada pela tecnologia de paredes moldada, travada, durante a fase de escavação, por meio de diafragmas constituídos por bandas de laje e treliças metálicas. Para limitar a afluência de água ao interior da escavação e assegurar um travamento rígido das paredes, imediatamente abaixo da cota final da escavação, foi realizado um tampão de fundo, constituído por colunas de jet grouting (Figura 1). 2. PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS 2.1. Geologia e geotecnia As soluções desenvolvidas foram apoiadas num estudo geológico - geotécnico que consistiu na realização de 2 furos de sondagem à percussão acompanhados da execução de ensaios SPT e de permeabilidade tipo Lefranc. Devido à proximidade da baía, foi efectuada igualmente a leitura dos níveis de água numa das sondagens, durante vários dias consecutivos, de modo a aferir a influência das marés no nível freático. Os elementos obtidos com os trabalhos de prospecção permitiram definir a ocorrência de diversos complexos lito - geotécnicos com as características indicadas na Figura 2. Figura 2 – Principais parâmetros geomecânicos e correspondência com o zonamento geológico

2.2. Condições de vizinhança De acordo com a informação disponível, foi possível identificar as seguintes principais confrontações do recinto de escavação (Figura 1 e 3):

- Sul: Edifício “Clínica da Sonangol”, com 2 pisos elevados e 1 cave; - Norte: Rua Major Kanhangulo; - Poente: Largo do Ambiente.

Antes do início dos trabalhos foram ainda realizadas vistorias ao edifício vizinho, assim como executados poços de reconhecimento com vista à determinação da geometria e cota de fundação deste. As soluções adoptadas foram ainda concebidas tendo por base a necessidade de serem compatíveis com a preservação da integridade, antes, durante e depois dos trabalhos, de todas as estruturas e infra-estruturas vizinhas, bem como a de minimização das interferências com o funcionamento das mesmas.

Figura 3 – Principal condicionamento de vizinhança: edifício “Clínica da Sonangol” 3. PRINCIPAIS SOLUÇÕES 3.1. Contenção periférica De acordo com os condicionalismos descritos, no âmbito da solução estudada, propôs-se a execução da contenção periférica constituída por uma parede de betão armado, com 0,60m de espessura mínima. Esta parede foi executada de acordo com a tecnologia de paredes moldadas, recomendada em cenários com as características do presente, nomeadamente no que se refere às características geomecânicas e hidrogeológicas dos solos interessados, bem como às condições de vizinhança. A parede de contenção assumiu assim três funções simultâneas:

a) Elemento de contenção, de forma a permitir a realização da escavação na vertical, preservando a estabilidade das estruturas e infra-estruturas localizadas a tardoz do perímetro da escavação;

b) Elemento de fundação dos elementos estruturais verticais, localizados sobre a mesma parede periférica;

c) Elemento de limitação da afluência de água ao interior da escavação nas fases de

construção e de exploração, em conjunto com o tampão de fundo.

Por motivos de estabilidade da contenção e de fundação dos elementos que descarregam sobre a mesma, a ficha dos painéis foi prolongada no mínimo 8,0m abaixo da cota final da escavação.

Figura 4 – Plantas dos travamentos, do tampão de fundo e das fundações 3.2. Travamento da contenção periférica durante a escavação Face ao já referido nível freático quase superficial e à dificuldade que, à partida, a execução de ancoragens em terrenos saturados e de elevada permeabilidade poderia oferecer, optou-se por conceber uma solução em que o travamento da contenção fosse conseguido à custa do tampão de fundo e diafragmas de travamento, constituídos por troços de laje horizontais e por treliças metálicas onde por razões arquitectónicas não puderam ser executadas as lajes horizontais. Procurou-se com a referida redução dos trabalhos de execução de ancoragens, bem como com a execução do tampão de fundo, garantir uma maior previsibilidade e controlo sobre o processo de escavação e a programação da obra. (Pinto et al., 2008 a e b). Os diafragmas referidos consistem assim num conjunto de vigas que, na globalidade, formaram um quadro fechado e rígido, à mesma cota, e desta forma resistiram aos impulsos actuantes na contenção. De modo a facilitar o processo construtivo e a permitir uma maior economia, adoptaram-se no referido quadro fechado, sempre que possível, elementos estruturais que integraram, na fase definitiva, a estrutura dos pisos enterrados do edifício. Em concreto, adoptaram-se troços das lajes dos pisos enterrados para constituir as vigas do travamento provisório da contenção.

Figura 5 – Vista do 1º nível de travamento e dos trabalhos de escavação

O tampão de fundo, para além da função de limitação da permeabilidade do fundo da escavação, desempenhou ainda uma função de travamento da contenção, materializando um apoio elástico localizado ao nível do fundo da escavação, e equilibrando assim, parte do impulso hidrostático e do terreno contido pela parede de contenção. Atendendo aos condicionamentos existentes, nomeadamente os condicionamentos geotécnicos e os de vizinhança, considerou-se necessário a realização de travamentos ao nível do piso -2 e do piso -4. A concepção geral destes travamentos, teve em conta não só a resistência e rigidez necessárias para garantir as condições de segurança, mas também o processo construtivo associado, quer à fase de escavação, mas também à fase de execução da estrutura dos pisos enterrados. Neste sentido, a geometria dos troços de laje foi definida de modo a interferir o mínimo possível com a execução dos pilares e outros elementos da estrutura dos pisos enterrados.

Figura 6 – Vistas da evolução da escavação em diferentes fases No enquadramento descrito, o travamento tipo da contenção consistiu num quadro fechado, constituído, em geral, por troços de laje com 0,30m de espessura e largura de 6,00m nos alçados

de maior dimensão e de 4,0m nos restantes. Os troços de laje foram apoiados, durante a fase de escavação, na parede de contenção e em perfis metálicos do tipo HEB, os quais foram instalados em conjunto com a execução das barretas de fundação, ficando embebidos no interior destas. Porém, no alçado confrontante com o edifício vizinho, considerou-se importante a realização de um nível de ancoragens, localizado na viga de coroamento e acima do nível freático, de modo a melhor controlar as deformações da parede. Em fase definitiva, no que toca ao equilíbrio das paredes de contenção, a própria estrutura das lajes das caves é responsável pela estabilidade da parede, face aos impulsos provocados pelo terreno, pelos edifícios vizinhos e pelas sobrecargas rodoviárias, sendo os sistemas de escoramento provisórios, com excepção dos troços de laje de travamento, desactivados após conclusão da referida estrutura. Os impulsos verticais ascendentes devidos à pressão hidrostática, actuantes ao nível da laje de fundo, são equilibrados pela laje de fundo, a qual apoia nas barretas de fundação, transmitindo a carga para estas. 3.3. Tampão de fundo Face à presença de nível freático elevado instalado em terrenos arenosos, de média e baixa compacidade e de média a alta permeabilidade, até cerca de 20.0m de profundidade, seria de esperar, à partida, um elevado caudal afluente ao interior do recinto de escavação. Com vista a garantir uma maior previsibilidade e controlo sobre o processo de escavação, optou-se por propor a realização de um tampão de fundo, de modo a limitar o afluxo de água ao interior da obra nas fases de obra e de exploração e a garantir um travamento rígido das paredes imediatamente abaixo da cota final da escavação (Pinto et al., 2008 c). O tampão de fundo foi definido de modo a equilibrar os impulsos hidrostáticos ascendentes devidos à cota elevada do nível freático. Em virtude das elevadas pressões hidrostáticas actuantes sob o tampão, previu-se que este fosse “pregado” tirando partido, para tal efeito, das barretas de fundação previstas para a laje de fundo e para a superstrutura. Figura 7 – Vista da execução da laje de fundo e do início da construção da estrutura dos pisos enterrados

Previu-se inicialmente que o tampão fosse constituído por colunas de 1100mm de diâmetro mínimo e 3,00m de comprimento (espessura do tampão), dispostas numa malha em quincôncio com 0,80m de afastamento de forma a acomodar um desvio de verticalidade máximo de

1%.durante a respectiva execução Porém, especificou-se que este diâmetro poderia ser incrementado, caso os resultados das colunas de teste assim o indicassem. Efectivamente, tal aconteceu, tendo a empresa adjudicatária dos trabalhos de jet-grouting, conseguido confirmar a realização de colunas de diâmetro 1500mm, o que veio traduzir-se num aumento do rendimento e da economia da obra. Numa óptica de optimização da contenção periférica, previu-se que a laje de tampão de fundo também fosse utilizada como travamento desta em conjunto com os troços de laje, constituindo em termos estruturais, um apoio elástico, de elevada rigidez, localizado na base da escavação, executado a partir da superfície (Figura 7). De forma a melhorar a eficácia das juntas dos painéis de parede moldada em termos de limitação da afluência de água, foram, sempre que possível, executadas colunas de jet-grouting como elemento de selagem das referidas juntas. 3.4. Fundações Atendendo ao cenário geológico da obra, assim como ao valor e tipo de cargas a transmitir pela superstrutura às fundações, foi estudada e adoptada uma solução de fundações dos pilares e paredes interiores através de barretas de betão armado. Esta solução permitiu a racionalização dos equipamentos mobilizados para a obra, uma vez que as barretas de fundação foram executadas pele mesma tecnologia das paredes moldadas. A disposição, dimensões e profundidade das barretas foi definida de modo a assegurar a eficaz transferências das cargas da estrutura do edifício aos estratos de fundação competentes, bem como a limitação das deformações do mesmo. Nesse sentido, foi adoptada uma entrega mínima de 5,0m no interior do estrato competente C2B (NSPT superior a 60 pancadas). Salienta-se que, durante a fase de escavação, as barretas desempenharam ainda, o papel de elementos de pregagem do tampão de fundo, resistindo aos impulsos hidrostáticos actuantes na base deste (Figuras 1 e 4). 4. DIMENSIONAMENTO O comportamento das estruturas de contenção e de fundação, em termos de esforços e de deformações, foi analisado, para todas as fases construtivas, através do programa de elementos finitos PLAXIS V8 Professional Edition, vocacionado para o efeito. A análise realizada consistiu no estudo das secções representativas de cada alçado da contenção, com o intuito de avaliar as deformações, estados de tensão e a estabilidade do maciço a conter, bem como estimar os incrementos de deformação em estruturas vizinhas à escavação. Esta análise permitiu ainda a determinação de esforços na parede de contenção e a avaliação das cargas que, em cada alçado, os elementos constituintes do quadro fechado de travamento estariam sujeitos. Já as estruturas de travamento, nomeadamente os troços de laje, que funcionam num sistema estrutural equivalente a um quadro fechado, foram analisados recorrendo ao programa de cálculo automático de estruturas SAP2000 v.14. As acções actuantes sobre os quadros fechados de travamento, foram as determinadas através de um processo em que, de forma simplificada, se procurou ter em conta a interacção entre a parede de contenção e os travamentos. Explica-se no ponto 4.1, o procedimento adoptado para a determinação destas acções.

4.1. Interacção parede moldada/troços de laje O estudo do travamento da parede de contenção foi efectuado tendo em conta, de forma simplificada, a interacção entre a parede moldada e as bandas de laje que constituem o travamento. De modo a concretizar este objectivo, foram introduzidos apoios elásticos no modelo de análise da contenção periférica, cuja rigidez permitiu simular o efeito do quadro fechado constituído pelos troços de laje de travamento. As forças a que estes apoios elásticos ficavam sujeitos no decorrer das análises levadas a cabo no modelo bidimensional da contenção, eram posteriormente introduzidas no modelo do quadro fechado (sob a forma de cargas distribuídas no plano do quadro), tendo-se obtido assim, e de forma coerente e compatibilizada, os esforços de dimensionamento dos elementos que o constituem (figura 8). Figura 8 – Principais modelos de cálculo e Plano de Instrumentação e Observação 5. INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO Tendo por base o enquadramento da obra, assim como o tipo de soluções adoptado, foi implementado um Plano de Instrumentação e Observação (PIO), com o objectivo de assegurar a realização dos trabalhos em condições de segurança para a obra e para as estruturas e infrastruturas vizinhas, bem como para validar os pressupostos de dimensionamento, através do comportamento da estrutura. No âmbito descrito, foram instalados os seguintes aparelhos:

- 18 alvos topográficos, distribuídos pela parede de contenção periférica e pela fachada do edifício vizinho;

- 1 célula de carga (C), numa das ancoragens do alçado que confronta com o edifício vizinho;

- 1 inclinómetro (I), a tardoz da contenção periférica. Os aparelhos instalados foram lidos com uma periodicidade quinzenal durante os trabalhos de escavação e de construção dos pisos enterrados. A partir dos resultados dos cálculos realizados para o dimensionamento das soluções foram definidos critérios de alerta e de alarme, assim como medidas de reforço, caso os referidos critérios viessem a ser atingidos. Verificou-se que, na sua generalidade, os critérios de alerta não foram atingidos, tendo sido apenas ultrapassados, embora ligeiramente, no que toca aos deslocamentos verticais ascendentes da contenção, tendo

tal sido verificado nas fases finais da escavação (movimento máximo de 18mm no alçado confrontante com a construção vizinha) podendo estes ser atribuídos ao aumento da resultante do impulso vertical, devido à redução do peso de terras (acção descendente) em relação ao impulso hidrostático instalado. Contudo, a evolução destes deslocamentos verticais apresentou uma tendência de estabilização, e inversão com o início dos trabalhos relativos à construção da estrutura do edifício, pelo que esta situação, apesar de inspirar um acompanhamento atento, não se revelou crítica. A referida interpretação foi reforçada pelas leituras da instrumentação referentes aos deslocamentos no plano horizontal, quer da contenção, como da construção vizinha, as quais revelaram movimentos abaixo dos limites de alerta (movimentos máximos de cerca de 7mm no edifício vizinho e movimentos máximos de cerca de 10mm na parede de contenção - Figura 9). Figura 9 – Principais resultados do Plano de Instrumentação e Observação Ainda no âmbito da observação da obra, embora não directamente relacionado com a instrumentação, refere-se que durante os trabalhos de escavação, nomeadamente nos últimos níveis de escavação, foram detectadas, isoladamente, algumas aberturas no tampão de fundo, as quais terão sido consequência, à partida, de deficiências ocorridas durante a implantação das colunas de jet-grouting. Dado o carácter pontual das aberturas, estas foram eficaz e prontamente colmatadas, permitindo o prosseguimento dos trabalhos, tal como planeado.

6. PRINCIPAIS QUANTIDADES As principais quantidades associadas aos trabalhos descritos são apresentadas na Figura 10. Figura 10 – Principais quantidades e vista da obra na fase final da construção dos pisos enterrados. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O recurso ao travamento de contenções periféricas tirando partido do efeito de diafragma proporcionado por troços de laje, apresenta-se como uma solução vantajosa e de maior previsibilidade de comportamento em cenários onde, por razões de natureza técnica e/ou administrativa, a realização de travamento generalizado das paredes com recurso a ancoragens, pode apresentar dificuldades ou até mesmo não ser exequível. A solução com recurso a travamentos interiores destaca-se ainda pela sua rigidez e, consequentemente, pelo controlo de deformações no interior e no exterior do recinto de escavação. O caso apresentado no presente artigo ilustra o cenário descrito, uma vez que a realização de ancoragens nas condições hidrogeológicas referidas (solos medianamente a muito permeáveis, associados com nível freático quase superficial) apresentaria, à partida, diversas dificuldades técnicas. A opção desta solução apresentou, para além de vantagens económicas, derivadas da maximização da integração na solução estrutural final de elementos utilizados na fase provisória da obra, não menos importantes, e já referidas, vantagens do ponto de vista de rigidez de travamento. Porém, importa referir que, uma vez que o travamento da contenção faz uso de elementos que são integrados na estrutura dos pisos enterrados, pelo que esta solução obriga uma imprescindível articulação entre as diversas especialidades, nomeadamente com o projecto de Estabilidade e com o projecto de Arquitectura. No caso descrito, a referida compatibilização determinou a instalação de uma treliça metálica, na zona das rampas de acesso aos pisos enterrados, bem como a limitação da largura das bandas de laje, no sentido de interferir o menos possível com a realização dos pilares e paredes dos pisos enterrados (Figura 7 e 9). A adopção do tampão de fundo em colunas de jet grouting, revelou-se como uma medida eficaz no controlo das deformações das paredes periféricas e, sobretudo, do afluxo de água ao interior da escavação, tendo permitido a realização da escavação dos pisos enterrados praticamente em condições “secas”, o que se traduziu num desenrolar mais facilitado e previsível dos trabalhos de escavação. Destaca-se, contudo, a grande importância da rigorosa implantação das colunas

de jet-grouting que materializam a laje de tampão de fundo, como factor crítico para o sucesso da solução. Atendendo à forma como decorreram os trabalhos de escavação da obra apresentada, validada pelos resultados da instrumentação da mesma, considera-se que a tecnologia de paredes moldadas, associada ao travamento com recurso a diafragmas rígidos, constituídos por bandas de laje, complementados pela execução de um tampão de fundo em colunas de jet grouting, constitui uma solução de comportamento previsível e, em geral, menos susceptível de ser afectada pelas vicissitudes relacionadas a execução de escavações profundas em cenários caracterizados por terrenos de permeabilidade elevada e nível freático quase superficial. REFERÊNCIAS Pinto, A.; Tomásio, R.; Xavier, P. (2008 a). Soluções de travamento de contenções periféricas recorrendo

a elementos estruturais. BE 2008 – Encontro Nacional de Betão Estrutural, Guimarães, pp. 409-410 (resumo), artigo publicado em CD ROM, Tema 7 – Realizações.

Pinto, A; Tomásio, R.; Cabaço, J. (2008 b). Edifício Centenário em Lisboa, Contenção Periférica e Recalçamento. Actas do 11º Congresso Nacional de Geotecnia - Volume 3, Taludes e Estruturas de Suporte: pp 67-74. Coimbra.

Pinto, A.; Pereira, A.; Cardoso, D.; Sá, J. (2008 c) - Sana Torre Vasco da Gama Royal Hotel: Soluções de Tratamento de Solos, Contenção Periférica e Fundações – Engenharia e Vida, nº49, Setembro 2008, pp. 22-31.

MEMÓRIA DESCRITIVA DA OCORRÊNCIA DE UMA RUPTURA LOCALIZADA

NO TAMPÃO DE FUNDO DO EDIFÍCIO BAÍA EM LUANDA

• DATA DA OCORRÊNCIA: 25 DE SETEMBRO DE 2009

• DESCRIÇÃO DA OCORRÊNCIA:

No dia 25 de Setembro de 2009, pelas 21:15 horas, quando estavam a ser realizados os

trabalhos de escavação de terras do último nível (cave -5), no âmbito dos trabalhos incluídos

na empreitada de “Contenções Periféricas em Parede Moldada, Barretas de Fundação,

Tampão de Fundo e Escavação do Edifício Baía em Luanda”, verificou-se uma forte entrada

de água pelo tampão de fundo, que havia sido construído em colunas de Jet-Grouting com 3

metros de espessura, resultando na completa inundação da plataforma de trabalho. A

entrada de água deu-se num local aonde ainda não se haviam sido iniciados os trabalhos de

movimento de terras daquele nível.

O tampão de fundo que deveria conferir uma impermeabilização do fundo da escavação em

conjunto com a parede moldada, rompeu localizadamente (com um furo que aparentava

visualmente uma secção de 50 cm de diâmetro) permitindo a entrada de água, que inundou a

plataforma de trabalho situada á cota -7,55m. Cerca de 15 horas depois, a água encontrava-

se à cota 0,50m, ou seja aproximadamente 8,05m acima da plataforma de trabalho.

Os procedimentos adoptados para a reparação foram os seguintes:

1. Rebaixamento o nível da água, através da mobilização de diversas bombas

submersíveis, até ao fundo da escavação, isolando a zona da rotura e

encaminhando a água para o poço de bombagem (26/09/2009 a 2/10/2009);

2. Remoção parcial de areias circundantes do buraco de passagem de água com o

auxilio de uma mini-giratória, para verificação da sua forma e diâmetro e para

certificação de se tratar de apenas um caso isolado (2/10/2009);

3. Após se verificar que o caudal de entrada de água através da passagem no

Tampão de Fundo era superior a 1000,00m3/h, abandonou-se a ideia de reparar

a passagem de água a seco, optando-se por deixar de bombear água, permitindo

que o nível da água subisse até à cota do nível freático. Decidiu-se que a

reparação da passagem de água seria efectuada com a plataforma de trabalho

submersa, com o auxílio de uma equipa de mergulhadores (3/10/2009 a

6/10/2009).

4. A equipa de mergulho (a mesma que interveio com sucesso no acidente do

metropolitano do Terreiro do Paço em Lisboa) começou por efectuar os

trabalhos de limpeza na zona a intervir, através da aspiração das areias com um

equipamento adequado. Após a limpeza da boca do furo, colocou-se uma

micro-estaca envolvida em obturadores, em toda a extensão da passagem de

água, envolvendo o topo por uma manta geotextil com o objectivo de manter a

passagem de água limpa, permitindo posteriormente o preenchimento do espaço

com calda de cimento (7/10/2009 a 13/10/2009);

5. Colocação de betão de limpeza para regularização da superfície, com o apoio da

equipa de mergulho e tubos trémis (13/10/2009);

6. Colocação de três níveis de anéis de metro em betão armado, com 1,5m de

diâmetro, com a respectiva armadura e betonagem submersa dos mesmos, com

o apoio da equipa de mergulho e tubos trémis (14/10/2009 a 15/10/2009);

7. Injecção com calda de cimento do orifício em toda sua extensão através da

micro-estaca e dos obturadores deixados conforma descrição efectuada no

ponto 4 (16/10/2009 a 17/10/2009).

8. Rebaixamento do nível freático com recurso ás bombas submersíveis e

colocação de uma retroescavadora na Plataforma de trabalho, repondo as

condições de trabalho anteriores á ocorrência (21/10/2009 a 23/10/2009);

9. Conclusão dos trabalhos de escavação e de execução da laje de fundo tal como

previsto;

10. Corte do maciço de betão, através de fio diamantado (11/02/2010 a

18/02/2010);

11. Betonagem da zona afectada no sentido de se concluir a laje de fundação

(18/02/2010).

Luanda, 8 de Abril de 2010