Uma Interpretação de Pontos Controversos da Teoria Geral de ...
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SONESP - SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DIRETORIA 2005-2007Presidente: Dr. Francisco Carlos de Andrade Neto1º Vice: Dr. Juan Oscar Alarcon Adorno2º Vice: Dr. Milton K. ShibataSecretário: Dr. Sergio Listik2º Secretário: Dr. Rafi Felicio Bauab DauarTesoureiro: Dr. Emilio Fontoura2º Tesoureiro: Dr. José Paulo Montemor
COMISSÃO CIENTÍFICADra. Nelci Zanon-CollangeDr. José Oswaldo Oliveira Jr.Dr. Luiz Alcides ManrezaDr. Marco Antonio ZaniniDr. Wen Hung TzuDr. Mirto PrandiniDr. Aziz Rassi NetoDr. Guilherme Carvalhal Ribas
COMISSÃO DE DEFESA PROFISSIONALDr. Clemente PereiraDr. Cid Célio Jayme CarvalhaesDr. Modesto Cerioni Jr.Dr. Sylvio da Cunha MarrinsDr. Hiroshi NakanoDr. Adriano Yacubian Fernandes
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA E JULGAMENTODr. José Antonio RibeiroDr. Marcelo Ferraz de CamposDr. Antonio Sergio Barata CavalcanteDr. Carlos Tadeu Parisi de OliveiraDr. Walter Spinelli JuniorDr. José Lotfi Neto
CONSELHO DELIBERATIVODr. Fernando M. BragaDr. Benedicto O. ColliDr. Antonio E FerrariDr. Luiz Alcides ManrezaDr. Eduardo BiancoDr. Aziz Rassi NetoDr. Juan AdornoDr. Roberto C. GabarraDr. Miguel Giudicissi FilhoDr. Luiz Antonio Araújo Dias
PRESIDENTE CONGRESSO NEUROCIRURGIÃO JOVEMDr. Eduardo Vellutini
EDITOR BOLETIMDr. Roberto C. Gabarra
EDITOR SITEDr. Cláudio Correa
EDITOR REVISTADr. Benedicto O. Colli
PRESIDENTE REUNIÃO CONJUNTA SONESP E SOCIEDADE DA PROVÍNCIA DE BUENOS AIRESDr. Evandro de Oliveira
S E C R E T A R I A P E R M A N E N T E D A S O N E S PRua Leandro Dupret, 204 – Conj. 52 – Vila Clementino – São Paulo – SP – CEP 04025-010
Tel.: (11) 5083-6119 Site: www.sonesp.com.br E-mail: [email protected]
Apresentação
O craniofaringioma é um tumor relativamente incomum, porém, o seu tratamento ainda
é um dos assuntos mais controversos na literatura neurocirúrgica. Apesar de ser um tumor
histologicamente benigno, o que acena com a possibilidade de cura, a sua ressecção completa,
mesmo em mãos experientes, apresenta complicações e não afasta por completo a possibilidade de
recidiva. A morbi-mortalidade associada a esta conduta impulsionou o desenvolvimento de novas
opções terapêuticas como a radiocirurgia para pequenos tumores sólidos e a implantação de isótopos
radioativos para tumores císticos e, posteriormente, a quimioterapia intratumoral com bleomicina e
interferon alfa-2.
Neste trabalho é apresentada uma revisão da literatura para o tratamento do
craniofaringioma com uma análise detalhada dos vários procedimentos empregados, com ênfase na
conduta multidisciplinar padronizada para alguns tipos específicos (císticos, por exemplo), mas com
flexibilidade suficiente para ser individualizada para outros tipos como os predominantemente
calcificados. Com base na revisão da literatura e na experiência pessoal da autora são propostas
indicações para terapia intratumoral e indicações para a ressecção cirúrgica dos craniofaringiomas.
Além disso, é apresentada, como apêndice, as condutas adotadas pela Unidade de
Neuroendocrinologia da Divisão de Neurocirurgia Funcional do HCFMUSP, para as abordagens dos
pacientes submetidos a tratamento cirúrgico das lesões selares e para-selares, o que pode ser muito
útil para os neurocirurgiões que se propõem a tratar estas doenças.
Benedicto Oscar ColliEditor
Março de 2006
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica
Craniofaringioma: Atualização TerapêuticaNelci Zanon-Collange
Mestra e Doutora pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/EPMEspecialização em Neurocirurgia Pediátrica na França - MarseilleNeurocirurgiã Pediátrica e Preceptora dos Residentes de Neurocirurgia no Hospital SantaMarcelina-Itaquera e no Hospital da Beneficência Portuguesa de São PauloChefe do Plantão da Neurociurgia no Pronto Socorro do Hospital São Paulo / UNIFESPNeurocirurgiã Pediátrica no Hospital Samaritano e no Hospital Infantil Darcy Vargas.
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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Sinopse
O craniofaringioma é um tumor
relativamente incomum e poucos casos são
tratados anualmente mesmo em grandes centros
de neurocirurgia. A conduta terapêutica do
craniofaringioma permanece um dos assuntos
mais controversos entre os neurocirurgiões
pediátricos. O objetivo final é o controle de um
tumor histologicamente benigno com a
preservação das funções neurológicas,
comportamentais, visuais e endócrinas. A
ressecção completa de alguns
craniofaringiomas, tratamento ideal dos
tumores intracranianos, mesmo em experientes
mãos neurocirúrgicas, não é isenta de
complicações e não previne 100% das
recidivas. A morbi-mortalidade associada a esta
conduta impulsionou o desenvolvimento de
novas opções terapêuticas. Yasargil foi um dos
pioneiros no uso do microscópio cirúrgico,
possibilitando ressecções mais seguras. No
início da década de 1980, a radiocirurgia
começou a ser usada para tratar pequenos
tumores sólidos, entre eles o craniofaringioma
e isótopos radioativos para tratar
craniofaringiomas císticos. Na década de 1990
houve o pico do entusiasmo para a cirurgia do
craniofaringioma. Posteriormente, alternativas
com tratamentos mais conservadores passaram
a ser estimuladas e publicações referentes á
técnica de quimioterapia intratumoral foram
feitas por Takahashi et al. (1985) usando
bleomicina e por Cavalheiro et al., (2005),
usando o interferon alfa-2. O desafio é manter
uma conduta multidisciplinar para o
craniofaringioma, ao mesmo tempo
padronizada para alguns tipos específicos
(císticos, por exemplo), mas com flexibilidade
suficiente para ser individualizada para outros
tipos como os predominantemente calcificados.
Neste trabalho é apresentada uma
revisão da literatura para o tratamento do
craniofaringioma e acrescentada a experiência
acumulada nas teses de Mestrado e Doutorado
apresentadas pela autora à UNIFESP/EPM,
respectivamente em 1997 e 2003.
Palavras-chave
Craniofaringioma, tratamento cirúrgico,
radioterapia, bleomicina, interferon alfa.
Abstract
Craniopharyngiomas: therapeutic
actualization.
Craniopharyngioma is uncommon
tumor and a few cases are treated annually
even in the major neurosurgical centers.
Treatment of craniopharyngiomas remains one
of the most controversial topics among
pediatrics neurosurgeons. The goal of this
treatment is to control a histological benign
tumor with preservation of neurological,
behavioral, visual and endocrine functions.
Total resection of some craniopharyngiomas,
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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that is the ideal for intracranial tumors, even in
expert hands is not performed without
complications and do not prevent 100% the
recurrence. The morbi-mortality associated to
total resection stimulated the development of
new therapeutic options. Yasargil was one of
the pioneers to introduce the operative
microscope in neurosurgery, allowing more
safety resections. In the beginning of 1980th,
radiosurgery start to be used for treating small
solid tumor including the craniopharyngioma
and the radioactive isotopes start to be used for
treating cystic craniopharyngiomas. In the 1990
decade there was the enthusiastic peak for
surgical treatment of craniopharyngioma. After
that, more conservative alternative treatments
were more stimulated and reports on the
technique of intratumoral chemotherapy were
done by Takahashi et al. (1985) using
bleomicin and by Cavalheiro et al., (2005),
using the alfa-2 interferon. The challenged is to
keep a multidisciplinary approach for
craniopharyngiomas, at the same time adequate
for some specific types of tumors (cystics, for
example), but with flexibility enough for being
individualized for other types as that
predominantly calcified.
This paper presents a review of the
literature on the treatment of
craniopharyngiomas and the experience
accumulated in the Master and PhD thesis
presented by the author to the UNIFESP/EPM,
respectively in 1997 and 2003.
Keywords
Craniopharyngioma, surgical treatment,
radiotherapy, bleomicin, alpha-interferon.
Introdução
O craniofaringioma é um tumor
relativamente incomum e poucos casos são
tratados anualmente mesmo em grandes
centros de neurocirurgia. A conduta terapêutica
do craniofaringioma permanece um dos
assuntos mais controversos entre os
neurocirurgiões pediátricos (Tomita, 2005). O
objetivo final é o controle de um tumor
histologicamente benigno com a preservação
das funções neurológicas, comportamentais,
visuais e endócrinas. A ressecção completa de
alguns craniofaringiomas, tratamento ideal dos
tumores intracranianos, mesmo em experientes
mãos neurocirúrgicas, não é isenta de
complicações e não previne 100% das
recidivas.
Na tentativa de evitar as
complicações advindas da ressecção cirúrgica
completa do craniofaringioma, múltiplas
alternativas terapêuticas foram propostas, mas
nenhuma é universalmente aceita. Até o final
da década de 1970, a ressecção completa era o
objetivo em todos os casos de craniofaringioma
e nos casos em que era impossível, a
radioterapia convencional era o complemento.
A morbi-mortalidade associada a esta conduta
impulsionou o desenvolvimento de novas
opções terapêuticas. Yasargil (Yasargil et al.,
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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1990) foi um dos pioneiros no uso do
microscópio cirúrgico, possibilitando
ressecções mais seguras. No início da década
de 1980, a radiocirurgia começou a ser usada
para tratar pequenos tumores sólidos, entre eles
o craniofaringioma e isótopos radioativos para
tratar craniofaringiomas císticos. Na década de
1990 houve o pico do entusiasmo para a
cirurgia do craniofaringioma (Saint Rose et al.,
2005). Entre os neurocirurgiões pediátricos, os
fundadores da especialidade foram seus
maiores ícones e publicaram os resultados de
suas séries de craniofaringiomas tratados
cirurgicamente (Epstein, 1993; Hoffman, 1994;
Choux et al., 1991; Pierre-Khan et al., 1988;
Caldarelli et al., 1998). Eles mesmos
começaram a estimular alternativas com
tratamentos mais conservadores (Choux tratou
seus primeiros pacientes com bleomicina
intratumoral em 1990). Posteriormente outras
publicações referentes á técnica de
quimioterapia intratumoral foram feitas por
Takahashi et al. (1985) usando bleomicina e
por Cavalheiro et al. (2005), usando o
interferon alfa-2.
O desafio é manter uma conduta
multidisciplinar para o craniofaringioma, ao
mesmo tempo padronizada para alguns tipos
específicos (císticos, por exemplo), mas com
flexibilidade suficiente para ser individualizada
para outros tipos como os predominantemente
calcificados.
Neste trabalho é apresentada uma
revisão da literatura para o tratamento do
craniofaringioma e acrescentada a experiência
acumulada nas teses de Mestrado e Doutorado
apresentadas pela autora à UNIFESP/EPM,
respectivamente em 1997 e 2003.
Histologia
O craniofaringioma é um tumor da
região selar derivado da bolsa de Rathke. Ele
está classificado pela Organização Mundial da
Saúde como grau I, caracterizado como tumor
com baixo ou incerto potencial de
malignização ou malignidade limítrofe. A
origem do craniofaringioma é ainda discutida
na literatura. Em 1899, Mott & Barrett (apud
Carmel, 1996), propuseram uma teoria segundo
a qual esse tumor origina-se do ducto
hipofisário ou bolsa de Rathke. Em 1904
Erdheim (apud Carmel, 1996), descreveu
semelhanças histológicas entre o
craniofaringioma e os adamantinomas, tumores
primários da região bucal. Alguns autores
descreveram diferenças histológicas entre os
craniofaringiomas de adultos e crianças,
podendo indicar origens diversas (Kahn et al.,
1973). Para Pertuiset (1975), metade dos
tumores dos adultos é formada por epitélio
papilar escamoso. Em crianças, é descrita a
presença do epitélio sem paliçadas e sem outras
características dos adamantinomas.
Histologicamente as lesões císticas
na região da sela turca são classificadas em
cistos da bolsa de Rathke, craniofaringiomas,
cistos epidermóides e dermóides, cistos de
aracnóide e cistos epiteliais. Harrisson et al.
(1994) ao estudarem 19 casos destas lesões
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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epiteliais, publicaram as características
histológicas que as diferenciam:
Cistos da bolsa de Rathke: parede do cisto
de lesões selares e supra-selares;
componente epitelial não invasivo;
revestimento epitelial predominantemente
colunar, com vários graus de tamanhos dos
cílios, e células globosas.
Cistos epidermóides: qualquer localização;
componente epitelial não invasivo;
revestido pelo epitélio escamoso com uma
camada granular ceratohialina linear;
revestido também por um feixe de
queratina.
Cistos dermóides: cistos revestidos por
epitélio escamoso queratinizado; anexos da
pele presentes na parede do cisto; outros
tipos de tecido podem ser encontrados na
parede do cisto.
Cistos epiteliais: não têm localização
característica; cisto para-selar com epitélio
colunar ou cuboidal; sem evidências de
epitélio escamoso, formação de queratina
ou invasão. Não há evidência histológica de
sua origem.
Craniofaringiomas: composto por epitélio
escamoso ou adamantinomatoso;
componente epitelial invadindo o
parênquima cerebral adjacente; formações
de queratina; camada granular
ceratohialina, não linear e descontínua.
Embora existam dois tipos de
craniofaringiomas, o adamantinomatoso e o
papilar, descritos como lesões histologicamente
distintas, ocasionalmente um único tumor pode
ter focos separados de ambos os exemplares
histológicos (Petito et al., 1976). Nesses casos
os craniofaringiomas são classificados como
mistos (Weiner et al., 1994). Os
adamantinomas são apanágios das crianças
(Arita et al., 1986). O craniofaringioma papilar
ocorre quase exclusivamente no adulto, numa
faixa etária de 40 anos até 45 anos (Adamson
et al., 1990). Do ponto de vista citogenético,
estudos falharam em demonstrar ganhos ou
perdas na seqüência do DNA nos
craniofaringiomas (Yoshimoto et al., 2004)
.
Craniofaringiomas Adamantinomatosos
Macroscopicamente o tumor é
heterogêneo, com parte sólida e parte cística,
superfície lisa, irregularmente lobulada. O
líquido em seu interior é de aspecto marrom ou
amarelado, contendo cristais de colesterol. As
áreas sólidas têm consistência granulosa,
contendo micro cistos formados de queratina e
cálcio (Gambarelli & Perez-Castillo, 1991). O
tecido cerebral adjacente ao tumor é formado
por uma gliose densa, rica em fibras de
Rosenthal. Ele contém pequenas ilhas de
células tumorais, distantes do tumor principal,
responsável por uma exérese completa muitas
vezes difícil, explicando, em parte, as
recidivas.
Craniofaringioma Papilar
O aspecto macroscópico deste
tumor é de um cisto com paredes finas.
(Giangaspero et al., 1984). Histologicamente o
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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tumor é formado de cordões anastomóticos de
epitélio pavimentoso no interior de um estroma
de tecido conjuntivo frouxo. O epitélio achata-
se progressivamente da periferia para o centro,
onde são encontradas numerosas células
queratinizadas. Esse tipo de tumor não tem
nódulos queratóides, calcificações ou cristais
de colesterol. O tecido cerebral peritumoral é
formado por uma gliose discreta, mas
desprovido de células tumorais, o que explica a
menor freqüência de recidiva nesse tipo
tumoral (Gambarelli & Perez-Castillo, 1991).
Incidência e Localização
É a mais freqüente neoplasia
intracraniana não neuro-epitelial em crianças
(Adamson et al., 1990). Na literatura, a
incidência do craniofaringioma é variável,
podendo representar de 1,2% até 10% de todos
os tumores intracranianos (Adamson et al.,
1990, Buning et al., 1998). Nas crianças
japonesas a incidência é o dobro daquela
encontrada no ocidente (Kuratsu & Ushio,
1996)
A incidência do craniofaringioma
em adultos e crianças foi comparada entre
3.202 pacientes envolvendo 30 séries relatadas
na literatura, tendo sido encontrados 41,15%
dos craniofaringiomas em crianças e 58,85% na
população adulta (Choux et al., 1991). Raro,
mas não excepcional, o craniofaringioma pode
ter seu diagnóstico realizado intra-útero ou no
período neonatal (Freeman et al., 1988; Müller-
Scolden et al., 2000). O craniofaringioma
papilar ocorre quase exclusivamente no adulto,
numa faixa etária preferencial de 40 anos até
45 anos (Adamson et al., 1990; Crotty et al.,
1995). O craniofaringioma não apresenta
prevalência quanto ao sexo (Choux et al.,
1991). Os casos familiares são excepcionais
(Vargas et al., 1981; Combelles et al., 1984;
Green et al., 2002).
Quanto à localização, o
craniofaringioma é mais freqüentemente
encontrado na região supra-selar com
componente intra-selar. Tumores restritos à
região intra-selar representam apenas 5% dos
casos. Extensão para a fossa anterior ocorre em
30%, para a fossa média em 23% e retroclival
em 20% (Harwood-Nash, 1994) e para a fossa
posterior em 25% dos casos (Young et al.,
1987). O craniofaringioma também pode ter
localizações ectópicas, tais como região pineal,
osso esfenóide, fissura silviana, faringe e
ângulo pontocerebelar (Thapar & Kovacs,
1998). É raro que o craniofaringioma seja
puramente intraventricular (Rush et al., 1975);
nestes casos subentende-se intraventricular
como dentro do terceiro ventrículo pela
proximidade anatômica. Somente 22 casos
tinham sido descritos como unicamente
intraventriculares até 1990 (Ikezaki et al
(1990). Szeifert et al. (1990), descreveram o
caso de um craniofaringioma localizado dentro
do quarto ventrículo.
Manifestações Clínicas
O craniofaringioma é responsável
por um conjunto de sinais e sintomas que
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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envolvem predominantemente aspectos
endócrinos, visuais e do sistema nervoso
central.
O déficit endócrino está mais
associado ao craniofaringioma papilar do que o
adamantinomatoso (Yasargil et al., 1990). A
exploração das funções endócrinas revela
déficit corticotrófico em 32%, déficit
gonadotrófico em 65% em adultos, déficit
somatotrófico em 70% em crianças, déficit
tireotrófico em 30% e déficit da função
antidiurética em 17% (Van Effenterre & Boch,
1997).
O distúrbio visual é mais comum
no adulto do que na criança. Em algumas séries
as diferenças não são significantes, registrando
alterações em 55,5% nas crianças e 66,6% dos
adultos (Ribeiro, 2001). Outras séries
evidenciam detalhadamente cada segmento
visual alterado (Tabela 1).
O principal sinal neurológico
descrito é a hipertensão intracraniana, traduzida
por cefaléia e vômitos. O déficit cognitivo
também pode estar presente, manifestado
principalmente por apatia, distúrbios de
memória e alteração do comportamento.
Crise convulsiva tem incidência
variando de 5% a 15% (Ribeiro 2001,
Matushita 1991). Quando associada a
hipertensão intracraniana pode chegar a 25%
(Adeloye et al., 1988)
Embora a hidrocefalia esteja
presente em muitos casos, apenas 25% deles
necessitam de tratamento cirúrgico (Choux
1991).
Figura 1. TC de crânio cortes axiais. A. Sem contraste, com umcraniofaringioma cístico supra-selar e calcificações periféricasFigura B. Após injeção endovenosa de contraste, com umcraniofaringioma cístico antes do tratamento.
Diagnóstico por Imagem
Excepcionalmente o diagnóstico
pode ser inferido incidentalmente numa
radiografia simples do crânio quando é
detectada uma modificação ou ampliação da
sela turca, destruição das clinóides anteriores
ou posteriores e a presença de calcificações na
região selar. Estes fatos ocorriam com
freqüência maior quando o diagnóstico era
tardio.
O craniofaringioma tem aspectos
clássicos na tomografia computadorizada (TC)
de crânio (Fitz, 1985). Na maioria das vezes a
localização é supra-selar e com calcificações
presentes em até 90% dos casos. Estas
calcificações podem estar em forma de uma
fina camada semelhante a um anel envolvendo
o tumor como se fosse uma cápsula tênue.
Neste caso o conteúdo geralmente é líquido e a
imagem é hipodensa. Após injeção intravenosa
de contraste iodado, a captação é anelar e o
conteúdo intracístico continua hipodenso
(Figura 1).
A B
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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BA
Figura 2. RM do encéfalo, cortes sagitais mostrando recidiva decraniofariongioma gigante predominantemente cístico. A. Semcontraste. B. Com contraste.
Nos casos em que o
craniofaringioma é sólido ou misto (parte
cístico e parte sólido), as calcificações podem
ser grosseiras e com distribuição irregular pelo
tumor. Nesses casos a imagem é heterogênea:
hipodensa em algumas partes e hiperdensa em
outras.
Na ressonância magnética (RM), o
craniofaringioma cístico pode apresentar
imagens de hiposinal ou hipersinal nas
aquisições ponderadas em T1. Os cistos podem
ser únicos ou múltiplos, mas respeitam o tecido
cerebral adjacente com um limite bem definido.
Nos casos em que o craniofaringioma cístico
apresenta-se com hiposinal nas aquisições
ponderadas em T1 mais escuro do que
normalmente, o diagnóstico diferencial com o
astrocitoma pode ser difícil (Barkovich, 1995).
Os cistos da bolsa de Rathke são lesões císticas
da região selar que também têm um hipersinal
nas seqüências ponderadas em T1, podendo
assim ser confundidos com o craniofaringioma
cístico. Embora os craniofaringiomas, tanto os
císticos quanto os sólidos, tendam a ter um
hipersinal nas seqüências ponderadas em T2, o
componente cístico tende a apresentar um
hipersinal mais evidente do que o componente
sólido. A porção sólida do craniofaringioma
tem uma captação heterogênea do contraste
paramagnético. As paredes finas das porções
císticas do tumor geralmente captam contraste.
A Figura 2 exemplifica um craniofaringioma
gigante pré e pós-injeção intravenosa de
contraste.
Avaliação Anterior à DecisãoTerapêutica
Além da avaliação clínica de rotina
com anamnese, exame neurológico e exames
complementares de rotina, todos os tumores da
região selar, em especial os craniofaringiomas
deverão ter avaliações endócrina e
oftalmológica. A avaliação endócrina, além da
análise laboratorial de rotina (GH, FSH, LH,
T3. T4, T4 livre, testosterona, prolactina,
cortisol plasmático e urinário, sódio e
potássio), decidirá pela necessidade ou não de
um megateste e deve incluir o RX das mãos
para avaliar a idade óssea. Além disso, irá
analisar a necessidade de tratamento
medicamentoso substitutivo e orientar na coleta
de exames laboratoriais no intra-operatório, no
pós-operatório imediato, na UTI, durante todo
o período de internação hospitalar e no
seguimento ambulatorial. A avaliação
oftalmológica de rotina inclui fundo de olho,
acuidade visual, campimetria e estudo da
motricidade ocular extrínseca. Mais
recentemente estuda-se a importância de um
exame neuropsicológico pré-operatório e,
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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periodicamente no acompanhamento
ambulatorial para detectar e tratar
precocemente as alterações psicossociais nestes
pacientes. Nem sempre conseguimos fazer a
diferença das manifestações ligadas ao
craniofaringioma daquelas advindas do
tratamento.
Este acompanhamento inicial
multidisciplinar, neurológico, oftalmológico e
endocrinológico continuará durante toda a vida
do paciente com craniofaringioma.
Dependendo das necessidades específicas,
ainda serão incluídos neurologistas clínicos ou
pediátricos, psicólogos, assistentes sociais e a
enfermagem hospitalar e / ou domiciliar.
Tratamento Clássico
É muito antiga a discussão entre
remoção total do craniofaringioma (Matson &
Crigler, 1960) versus uma conduta mais
conservadora com cirurgia parcial seguida de
radioterapia (Kramer et al., 1968).
Nas maiores séries pediátricas de
craniofaringiomas, a exegese foi possível em
55,3% a 90% (Yasargil et al., 1990, Choux et
al., 1991). As recidivas após tratamento
cirúrgico com ressecção completa do
craniofaringioma variam de 7% a 53%
(Yasargil et al., 1990; Hoffman, 1994;
Caldarelli et al., 1998; Sanford, 1994; Zuccaro
et al., 1996). Em praticamente todas as grandes
séries da literatura encontramos recidivas após
remoção total do tumor (Carmel, 1996). Até
2002 acreditava-se que o exame de RM da
hipófise, realizado de rotina no pós-operatório,
colocava em evidência potencialmente todos os
possíveis resíduos tumorais pós-operatórios.
Van Effenterre & Boch (2002) mostraram que
naqueles casos onde o cirurgião deixa
microfragmentos de resíduos tumorais que
invadiam o parênquima cerebral, a RM
realizada três meses após a cirurgia pode não
detectá-los em até 20% dos casos. A estimativa
do neurocirurgião quanto à qualidade da
ressecção no final da cirurgia, com o máximo
de magnificação possível pelo microscópio
cirúrgico, é o melhor parâmetro para
determinar se a ressecção do craniofaringioma
foi total ou subtotal. Na série destes autores, a
RM pós-operatória mostrou uma ressecção
total de 79%, considerando uma ressecção total
na descrição cirúrgica, em apenas 59% dos
pacientes.
Evidências histológicas de invasão
cerebral não estão relacionadas com um maior
índice de recidivas nos casos em que há uma
ressecção macroscópica total (Weiner et al.,
1994). Alguns autores relacionam um melhor
prognóstico do craniofaringioma papilar em
relação ao adamantinomatoso (Giangaspero et
al., 1984; Adamson et al., 1990), enquanto
outros não identificaram diferenças
significantes (Weiner et al., 1994; Crotty et al.,
1995). A tentativa de ressecção completa do
craniofaringioma pode resultar em dano para o
eixo hipotálamo-hipofisário. O sucesso na
ressecção total do craniofaringioma está
relacionado à experiência do neurocirurgião
(Yasargil et al., 1990; Hoffman, 1994; Carmel,
1996).
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
13
O pan-hipopituitarismo após a
ressecção do craniofaringioma ocorreu em
aproximadamente 80% dos casos (Paja et al.,
1995). Nesta série, o infundíbulo foi ressecado
em 48% dos casos, levando ao diabetes
insipidus em 100% desses pacientes. As lesões
maiores do que 6 cm de diâmetro tiveram pior
prognóstico. Considerando a mortalidade, os
tumores com menos do que 2 cm de diâmetro
têm mortalidade de 6,3% e os de tamanho
maior do que 6 cm de diâmetro tem
mortalidade de 87,5% (Yasargil et al., 1990).
Nas últimas décadas, a mortalidade do
craniofaringioma vem decrescendo. Num
seguimento de 15 anos, a mortalidade foi de
45% (Ribeiro 2001). De valores como 3,7% a
17% (Pierre-Kahn et al., 1988; Choux et al.,
1991; Matushita, 1991) até próxima de zero
(Albright et al., 2005; Marchal et al., 2005). O
controle hidro-eletrolítico adequado no pós-
operatório imediato pode minimizar a
mortalidade. Após o tratamento cirúrgico, a
maior causa de morbidade e mortalidade são os
distúrbios endócrinos (Tomlinson et al., 2001).
O ideal do acompanhamento são equipes
especializadas de neuroendocrinologistas em
unidades específicas de tratamento intensivo
neurológico, tanto pediátrica quanto em
adultos.
Mesmo com níveis hormonais
adequados logo após o tratamento, as
deficiências podem manifestar-se ao longo dos
anos subseqüentes. Essa é uma das razões da
recomendação do acompanhamento em longo
prazo, por equipe multidisciplinar envolvendo
pediatras, clínicos, endocrinologistas,
oftalmologistas e neuropsicólogos. A
obesidade hipotalâmica está descrita em 14% a
62% dos pacientes operados (Sorva, 1988; De
Vryes et al., 2003). Esta obesidade é resultado
de uma alteração da regulação do apetite.
Fisiologicamente, a produção de leptina
endógena inibe a sensação de fome. No
craniofaringioma, o hipotálamo é insensível a
leptina endógena e o nível sérico de leptina está
aumentado (De Ville et al., 1996).
A tendência atual é optar por
abordagens menos agressivas no tratamento do
craniofaringioma. O diagnóstico precoce
facilita uma melhor escolha terapêutica. Nos
tumores pequenos, com achados incidentais
envolvendo avaliações endocrinológicas,
oftalmológicas e neurológicas normais, é
possível optar-se por conduta expectante, desde
que com avaliações multidisciplinares e
exames de imagem periódicos muito próximos.
(Choux et al., 1991).
Radioterapia Convencional, Radio-cirurgia e Isótopos Radioativos
Alguns autores têm dúvidas quanto
à utilidade da radioterapia no craniofaringioma
(Weiner et al., 1994); outros a consideram útil,
principalmente após ressecção parcial do tumor
(Crotty et al., 1995; Mark et al., 1995; Voges et
al., 1997).
A dose total de radioterapia varia
entre 45 Grays (Gy) até 65 Gy (Habrand et al.,
1999). Porém, doses superiores a 51 Gy pode
causar danos hipotalâmicos irreversíveis
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
14
(Lusting 2003). Deficiência endócrina, neurite
óptica e demência foram descritas como
complicações relacionadas à radioterapia
(Carmel, 1979). A ocorrência de astrocitoma
anaplásico de 5 até 14 anos após radioterapia
para tratamento do craniofaringioma têm sido
relatada na literatura (Komaki et al., 1977;
Sogg et al., 1978; Maat-Schieman et al., 1985;
Ushio et al., 1987; Habrand et al., 1999;
Kranzinger et al., 2001). Recidivas têm sido
descritas num percentual de 15% até 60%
(Pierre-Khan et al., 1988; Tomita, 1988; Wara
et al., 1994; Caldarelli et al., 1998), sendo que a
maioria fica entre 20% até 30%.
Várias séries enfatizam o impacto
da radioterapia e os resultados mais favoráveis.
Para Regine et al. (1993), a sobrevida em 20
anos é de 78% quando a criança recebe
radioterapia logo após a primeira cirurgia sem
ressecção total e apenas 25%, quando a
radioterapia é feita na recidiva. Esses achados
não têm similar na população adulta. Em 2002,
Merchant et al. relataram que a cirurgia
(radical?) causou maior déficit neurológico
permanente (visual, motor e sensitivo) e piores
déficits endócrinos transitórios ou permanentes,
como o diabetes insipidus, do que a cirurgia
limitada seguida de radioterapia. Marchal et al.,
(2005), descreveram que a radioterapia
conformacional 3D é mais segura do que a
radioterapia convencional e poderá
eventualmente substituí-la. Outra opção de
tratamento para tumores pequenos ou residuais
(< do que 2,5cm) é a radiocirurgia (Ulfrarsson
e al., 2002), mantendo uma distância de 5 mm
de estruturas tais como tronco cerebral, vias
ópticas, nervos cranianos e retina (Habrand et
al., 1999).
Os craniofaringiomas císticos
correspondem a 60% dos casos de
craniofaringiomas (Miles, 1977; Cabezudo et
al., 1981). Embora séries mais recentes não
façam referência ao percentual de
craniofaringiomas císticos e sólidos, o uso
quase universal da ressonância magnética pré-
tratamento pode ter alterado esta estatística
para mais ou para menos. A primeira série de
pacientes com tumores cerebrais císticos
tratados por reservatórios subcutâneos foi
descrita por Ratcheson & Ommaya (1968),
com o relato de 60 casos. O tratamento
endocavitário do craniofaringioma cístico
começou em 1971 com Leksell, que colocou
fósforo radioativo (P32) intratumoral usando
estereotaxia. Desde então, outros autores
também publicaram craniofaringiomas tratados
com isótopos radioativos: Ytrium90 (Frank et
al., 1995) , Fósforo32 (Hasegawa et al., 2004) ,
Renium186 (Berenger et al., 1993, Marchal et
al., 2005). Os isótopos radioativos não são de
acesso universal e outras opções terapêuticas
foram desenvolvidas como a injeção
intratumoral de bleomicina (Takahashi, et al.,
1985) e mais recentemente o interferon alfa-2.
(Cavalheiro et al., 2005).
Bleomicina
A bleomicina é um antibiótico e
antineoplásico obtido do Streptomyces
verticillus. Foi usado como droga
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
15
anticancerígena descrita por Umezawa et al.
(1966) contra carcinoma de células escamosas.
Hoje a bleomicina é uma droga antineoplásica
usada para o tratamento de muitos carcinomas e
linfomas. Acredita-se que a ação farmacológica
da bleomicina nestas doenças deva-se à divisão
oxidativa no ácido desoxirribonucléico (DNA)
das células tumorais (Kuramochi et al., 1981).
Takeuchi (1976) relatou que a bleomicina
aplicada intracisticamente diminuía a secreção
cística e causava a morte celular.
Takahashi et al., em 1985,
publicaram a primeira série de 7 pacientes com
craniofaringiomas tratados com bleomicina
intratumoral. Desde então, outras 10 séries
foram publicadas totalizando 99 pacientes
(Takeuchi, 1976; Broggi et al., 1989; Framk et
al., 1995, Zanon, 1999; Hader et al., 2000;
Mottolese et al., 2001; Jiang et al, 2002;
Hernandez et al., 2002; Park et al., 2002;
Cáceres, 2005). Num acompanhamento que
variou de 6 meses a 8 anos os resultados com
controle do craniofaringioma foram de 60 a
80% nas séries com maior tempo de
acompanhamento (Zanon, 1999; Mottolese et
al., 2001). Outros 7 casos foram publicados
individualmente (Haisa et al., 1994; Cavalheiro
et al., 1996; Sagoh et al., 1997; Rassi Neto et
al., 1998; Savas et al., 1999 e 2000; Alen et al.,
2002), 4 deles com sucesso no tratamento
(Cavalheiro et al., 1996; Rassi Neto et al.,
1998; Savas et al., 1999; Alen et al., 2002),
uma complicação reversível (toxicidade
hipotalâmica, Haisa et al., 1994), uma
complicação assintomática (estenose da artéria
cerebral posterior, Sagoh et al., 1997) e uma
complicação fatal (Savas et al., 2000). As doses
da bleomicina utilizadas variaram de 1 a 10 mg
ao dia totalizando 42 a 180 mg de dose
máxima. Os ciclos de bleomicina foram
distribuídos em diários, dias alternados ou
semanais.
Da série de pacientes originários do
Brasil e da França, estudados na nossa Tese de
Doutorado, 52 entraram no protocolo com
inserção do cateter intratumoral. Somente 39
pacientes receberam o tratamento proposto de
bleomicina intratumoral. A maioria das
exclusões foi ligada a problemas técnicos de
má colocação do cateter, cateteres inadequados
(por exemplo, cateteres ventriculares com
múltiplos orifícios em sua extremidade distal).
As recomendações para evitar os problemas
técnicos são: independentemente da técnica
cirúrgica utilizada, o cateter ideal é aquele com
um ou dois orifícios na extremidade distal ou,
na ausência deste, secionar os orifícios distais
do cateter do tipo ventricular reto com
múltiplos orifícios. Outra opção de cateter,
quando colocado através de craniotomia, é o
cateter ventricular de ângulo reto que, após
secção dos orifícios distais, deve ser invertido e
a porção angulada colocada dentro do tumor.
As vezes a porção angulada é muito longa e
deverá ser seccionada para não ficar colada na
parede contra-lateral do craniofaringioma. A
Figura 3 mostra a colocação do cateter por
craniotomia pterional e microcirurgia. A
Figura 4 mostra a marcação estereotáxica para
a colocação do cateter intratumoral.
Os reservatórios tipo Ommaya com
saída lateral são os mais indicados. O tamanho
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
16
BA
DC
grande tem um amplo domo, com superfície
plana para ampliar a área de punções (Figura
5). Deve-se evitar a colocação do reservatório
sob a cicatriz cirúrgica para facilitar as punções
de repetição e evitar problemas de pele. Os
reservatórios com saída inferior, dos tipos
Ommaya ou Rickhan, são mais indicados nas
trepanações, sejam elas para estereotaxia ou
para endoscopia
Dez a quinze dias após a colocação
do cateter (por craniotomia e microcirurgia,
estereotaxia ou endoscopia) é realizado um
teste com contraste intratumoral. Este teste
pode ser realizado com radiografias simples de
crânio, TC (contraste hidrossolúvel) ou RM
(gadolíneo). Para a aplicação da bleomicina
intratumoral, é necessário que o contraste fique
retido dentro do tumor. A Figura 6 mostra o
procedimento de aspiração percutânea do
líquido tumoral antes da injeção do agente
utilizado, seja contraste para teste do
reservatório, bleomicina ou interferon. Este
procedimento poderá ser efetuado
ambulatorialmente. Deve ser lembrado que a
assepsia deverá ser tão rigorosa como para um
procedimento cirúrgico para diminuir as
complicações infecciosas.
Caso haja vazamento do contraste
para o parênquima cerebral, ventrículos ou
cisternas da base, a aplicação de bleomicina
intratumoral estará contra-indicada por ser
neurotóxica. Na Figura 7 vemos TCs de crânio
realizadas 10 dias após a inserção do cateter
mostrando extravazamento do contraste
injetado. Nestas situações pode-se utilizar o
interferon ou outra abordagem terapêutica. O
contraste injetado através do reservatório
subcutâneo invade o parênquima no trajeto do
cateter na Figura 7A. Na Figura 7B, o contraste
preenche o IV ventrículo. Estes exames
impedem a realização da bleomicina
intratumoral por ser um quimioterápico
neurotóxico.
Figura 3. Fotos microcirúrgicas. A. Da esquerda para a direita:nervo ótico direito, tumor, artéria carótida Interna direita. B.Cateter em ângulo reto colocado dentro do craniofaringioma. C.Cateter intratumoral passando através da dura-máter para conectar-se ao reservatório subcutâneo. D. Reservatório de Ommayacolocado entre o osso e o pericrânio, fora do músculo temporalpara facilitar a punção percutânea.
Figura 4. Marcação estereotáxica para colocação do cateterintratumoral evitando-se a passagem pelos ventrículos laterais.
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
17
Figura 5. Resevatórios A. De Ommaya com saída lateral, tamanhogrande. B. Com menor área de punção. Neste caso, colocado porestereotaxia, não funcionou e foi substituído pelo da figura 5Aatravés de craniotomia. Paciente sem nenhum déficit endócrino.
Figura 6 - A. Aspiração percutânea de um craniofaringioma císticogigante utilizando escalpe nº 25. B. Fotografia do líquido tumoral(70 ml) aspirado do craniofaringioma gigante da Figura 2.
Figura 7. TCs do crânio, cortes axiais, após a injeção de contrasteintratumoral. A. Extrazamento de contraste no trajeto do cateterfrontal direito. B. Extravazamento para e espaço ventricular:contraste no IV ventrículo.
Figura 8 - A. Controle imediato com contraste intratumoral(escopia intra-operatória) mostrando que não houveextravasamento de contraste. B. Rx simples de crânio comcontraste intratumoral no 15º pós-operatório de colocação docateter itratumoral. Não há extravazamento de contraste fora dotumor.
Figura 9. RM do encéfalo, cortes sagitais em T1 A. Sem injeçãoendovenosa de contraste. Craniofaringioma antes do tratamentocom bleomicina. B. Com injeção endovenosa de contraste.Craniofaringioma antes do tratamento com bleomicina. C.T1 cominjeção endovenosa de contraste. Craniofaringioma após o términodo 1º ciclo de bleomicina intratumoral.D. T2, recidiva cística docraniofaringioma 1 ano após tratamento com bleomicinaintratumoral. E. RX simples de crânio, após injeção de contrasteintratumoral sem extravazamento, antes do 2º ciclo de bleomicina.F. TC de crânio, após injeção de contraste intratumoral semvazamento, antes do 2º ciclo de bleomicina.
Figura 10. RM do encéfalo, cortes sagitais. A.T1 logo apóstérmino do 2º ciclo bleomicina. B. T2, 1 ano após 2º ciclo debleomicina intratumoral. C. RM do encéfalo, cortes sagitais T1, 3anos após 2º ciclo bleomicina intratumoral D. T1, 10 anos após 2ºciclo com bleomicina intratumoral.
BA
BA
BA
BA
BA
C D
E F
D
BA
C
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
18
Figura 11. RM do encéfalo, cortes coronais. A. Craniofaringiomasem tratamento prévio em 1997. B. Mesmo paciente de A, apóstratamento com bleomicina mostrando quase desaparecimento docraniofaringioma em 2005.C. Paciente 9 anos após o tratamentocom bleomicina intratumoral recebendo apenas suplementaçãocom hormônio tireóideo e cortisona. Na foto, com a filha de 1 anoem 2006.
Figura 12 - A. TC do crânio em cortes coronais mostrando umcraniofaringioma calcificado numa adolescente que só tem queixade obstrução nasal. B. RM do encéfalo, corte sagital da mesmapaciente da figura A, um craniofaringioma com pequenos cistos e amaioria da lesão é sólida. C. RM do encéfalo corte sagital. Terceirarecidiva de um craniofaringioma ressecado inicialmente, recidivacística tratada com bleomicina intratumoral e nova recidiva sólida.
Na Figura 8A, realizada com a
escopia no centro cirúrgico, vemos a colocação
adequada do cateter intratumoral. Este teste
deverá ser repetido entre o 10º e o 15º dia pós-
operatório antes de iniciar o tratamento com
bleomicina intratumoral. Neste período ocorre
a cicatrização e a quase certeza do não
vazamento durante o tratamento. Na Figura 8B,
a radiografia simples do crânio realizado no
13º dia pós operatório mostra o contraste retido
dentro do craniofaringioma. Neste momento
pode-se confirmar esta imagem com
radiografia simples do ou TC crânio utilizando
este mesmo contraste injetado (Figura 9) ou
complementar o exame no dia seguinte com
aplicação de gadolíneo intra-reservatório,
seguido de uma RM do encéfalo.
A Figura 10 apresenta um exemplo
de um craniofaringioma pré e após o uso da
bleomicina intratumoral. Um ano após o
tratamento houve recrescimento tumoral
(Figura 10C) detectado num exame de rotina.
Novamente foi realizado o teste de
permeabilidade do sistema implantado (Figura
9) e após um novo ciclo de tratamento com
bleomicina, o craniofaringioma permanece
ausente nas imagens de controle seqüencial até
10 anos e sem déficit visual ou endócrino
(Figura 10). Outro exemplo de um
craniofaringioma tratado está na Figura 11. Em
1997, um craniofaringioma cístico abriu o
quadro com hipertensão intracraniana (Figura
11A). Aos 11 anos ele foi tratado com
bleomicina intratumoral, um único ciclo de
80mg. Desde então os exames mostraram
diminuição progressiva do craniofaringioma
A
C
B
A
B C
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
19
(Figura 11B). Agora, aos 20 anos, tem uma
vida independente, apenas com reposição de
hormônio tireóideo e hidrocortisona. Na Figura
11C ele está com a filha de um ano no colo. A
maioria dos adolescentes com craniofaringioma
tem atraso na puberdade. A taxa de fertilidade
sem tratamento específico não é conhecida. De
Vries (2003) relata 82,5% de déficit
gonadotrófico quando realizado o teste por
estimulação específica.
A dosagem da desidrogenase
láctica no líquido tumoral tem sido descrita
como um dos critérios de boa resposta do
tratamento com bleomicina intratumoral
(Takahashi et al., 1985; Mottolese et al., 2001),
mas não é consenso entre os autores (Zanon,
1999)
Os resultados completos deste
trabalho estão no prelo para publicação.
Uso do Interferon
O interferon alfa é efetivo, in vivo e
in vitro, contra várias lesões malignas,
incluindo tumores cerebrais (Waldler &
Schuwartz, 1990). Ele pode ser administrado
intratumoral ou por via endovenosa e é ativo
contra o carcinoma de células escamosas da
pele (Lippman et al., 1992). O
craniofaringioma e o carcinoma de células
escamosas têm a mesma origem embriológica
(Jakacki et al., 2000). Este autor descreveu 12
pacientes com recidiva de craniofaringioma
tratados com interferon alfa subcutâneo. As
respostas foram melhores nos
craniofaringiomas maiores e com componente
cístico. A toxicidade foi reversível. Cavalheiro
et al. (2003), trataram 9 pacientes com
interferon alfa intratumoral (36 a 108 UM) nos
craniofaringiomas císticos, com redução e / ou
desaparecimento das lesões.
Enquanto para o tratamento dos
pequenos craniofaringiomas ou os grandes
císticos temos várias opções menos invasivas
de tratamento com preservação de parte da
função visual e endócrina, para os outros tipos
de craniofaringiomas avançamos muito pouco
nas últimas décadas. Nos exemplos das Figuras
12A e B, o craniofaringioma é calcificado e no
exemplo da Figura 12C, o maior componente é
sólido. Nestes casos a abordagem direta da
lesão parece ser a melhor opção terapêutica no
momento. Acreditamos que a melhor resposta
para o tratamento do craniofaringioma ainda
está por vir.
Conclusões
O tratamento do craniofaringioma
continua a desafiar os neurocirurgiões. Para
avaliar a efetividade de um tratamento é
necessário um segmento de longo prazo. Com
as terapias intratumorais (bleomicina,
interferon ou isótopos radioativos) nos
momentos em que há recidiva clínica ou
imageológica, os ciclos de tratamento poderão
ser repetidos, sem cirurgias adicionais, desde
que o sistema implantado esteja funcionante.
Em 3 situações a ressecção cirúrgica ainda é a
melhor opção no tratamento do
craniofaringioma: quando não há componente
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
20
cístico, quando o cisto não diminui apesar do
tratamento intratumoral e quando o
componente sólido do tumor continua a crescer
apesar do tratamento intratumoral (Marchal et
al., 2005).
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Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
25
Agradecimentos:
Ao Dr. Maurice Choux que foi o mentor e Co-orientador do trabalho.
Agradeço aos colegas neurocirurgiões que gentilmente cederam os pacientes por eles tratados para
as minhas teses de Mestrado e Doutorado e parte deste material foi usado nesta publicação: Da
França, Dr. Alain Pierre-Kahn , Dr. Christian Saint Rose, Dr. Michel Zerah do Serviço de
Neurocirurgia Pediátrica do Necker Enfants Malades de Paris. De Goiânia, Dr. Paulo Ronaldo Jubé
Ribeiro. De Belo Horizonte: Dr. Gervásio Teles Cardoso de Carvalho e Dr. Geraldo Pianetti Filho.
De São Paulo, Dr. Mario Siqueira e Dr. Sergio Cavalheiro.
Ao Dr. Miguel Giudicissi Filho pela revisão final do texto.
Agradecimento especial à CAPES que patrocinou parcialmente o doutorado sanduíche na França.
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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Tabela 1. Alterações visuais em pacientes com cranifaringiomas, adultos e crianças (Chernikova et al., 1990).
Função Visual Alterada Crianças Adultos
Redução da acuidade visual 69,6% 81,8%
Déficit de campo visual 67,7% 81,8%
Papiledema 22% 12,5%
Atrofia óptica 52% 62,5%
Paresia de nervos cranianos 12% 16,7%
Nistagmo 8% 4,2%
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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Anexo I
Rotina do Serviço de Neuroendócrino da USPCondutas adotadas pela Unidade de Neuroendocrinologia da Divisão de Neurocirurgia Funcional do
HCFMUSPDra. Nina Musolino, Dr. Malebranche Cunha Neto, Dra. Jandimare de Melo
ABORDAGEM PERI-OPERATÓRIA DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIAHIPOFISÁRIA PELA VIA TRANSESFENOIDAL
1. EM TODOS OS CASOS:- Sempre deixar na prescrição: Hidrocortisona (Solucortef) 200mg IV se houver hipotensão
arterial sintomática ou vômitos persistentes.- Desmopressina (DDAVP) 1/8 ampola SC se houver sede intensa, associada à diurese >
600ml/2h, após a coleta de sódio. Nunca administrar DDAVP se houver hipotermia.
2. NO INTRA-OPERATÓRIO E NO PÓS-OPERATÓRIOA. Exceto Doença de Cushing:
- Se houver grande manipulação cirúrgica: tumores duros ou sangrantes ou cortisol basalpré-cirúrgico < 9mcg/dl, fazer hidrocortisona 200mg IV no intra-operatório e manterhidrocortisona 50mg a cada 8 horas. A partir do primeiro dia pós-operatório passa-se paraprednisona.
- 1º PO iniciar prednisona 5mg VO 2x ao dia (8:00h, 16:00h).- 2º e 3º PO passar para prednisona 5mg às 8:00h e 2,5mg às 16:00h.- 4º PO passar para prednisona 5mg às 8:00h e manter após a alta.- Ambulatorialmente suspender a prednisona por 5 dias para reavaliar a dosagem do cortisol.- Nos microadenomas ou pacientes com cortisol pré-operatório >13 mcg/dl, não administrar
glicocorticóide no intra e pós-operatório.- Se cortisol 9 a 13 mcg/dl, administrar hidrocortisona (Solucortef) 200mg IV na sala de
cirurgia e 50 mg IV de 8/8H, apenas no pós-operatório imediato.
B. Nos casos de Doença de Cushing:- Não há necessidade de glicorticóide no intra-operatório nem no PO imediato.- 1º PO iniciar prednisona 10mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h e 22:00h.- 2º PO prednisona 10mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h- 3º PO prednisona 5mg VO às 8:00h e 5mg às 16:00h- 4º PO prednisona 5mg VO às 8:00h (não dar à tarde)- 5º PO colher cortisol antes da dose de prednisona da manhã e dar alta com prednisona 5mg
às 8:00 e 2,5mg às 16:00h
3. NA INTERNAÇÃO. Checar:- T4L (para indicar reposição em caso de hipopituitarismo)- Prolactina (para afastar prolactinoma)- Último cortisol dosado para decisão de administração de corticosteróide intra e pós-operatório.
Colher cortisol na admissão, se não estiver em uso de glicocorticóide-
4. ALTA HOSPITALAR (5º PO)
Craniofaringioma: Atualização Terapêutica Nelci Zanon-Collange
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- No dia da alta colher sódio, cortisol, além do hormônio que o tumor produz (prolactina, nosprolactinomas, GH e IGF1 nos acromegálicos, FSH e LH nos gonadotrofinomas e cortisol nospacientes com doença de Cushing).
- No dia da alta todos os pacientes deverão receber o impresso de orientações pós-operatórias.Os casos de outros serviços deverão levar cópia do resumo de alta e da descrição cirúrgicapara seus médicos.
Nas cirurgias transcranianas em que há risco de hipopituitarismo (doença hipotálamo-hipofisária),colher os exames hormonais basais antes do início de glicocorticóide. Repor tiroxina quandonecessário. Durante o uso de dexametasona, comum nas craniotomias, não é necessário o uso deoutros glicocorticóides. Após a redução progressiva da dexametasona, passar para reposição comprednisona 5mg/8hs e 2,5 mg às16hs em adultos.
OBS: Para crianças a partir de 9 anos: A dose de glicocorticóide intra operatória e no PO imediato éa mesma utilizada para os adultos, a reposição na alta pode ser iniciada com prednisona 2,5mg/manhã ou 5mg para crianças maiores. Crianças menores ou com baixo peso devem ter avaliaçãode endócrino-pediatra.