Sonho Da Injeção de Irma

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    Sonho da Injeo de Irma

    2. No se trata de exegetar:

    Quando Freud interrompe suas associaes, tem l suas ra!es. "le nos di! # $%ui, no posso di!er&lhes mais do %ueisto, no %uero contar&lhes as hist'rias de cama e penico # ou (em # $%ui no tenho mais )ontade de continuar

    associando. No se trata de exegetar ali onde o pr'prio Freud se interrompe* +acan, -/0&/1-2, p. -0. Somadoesse comentrio ao %ue )em em seguida, para o mesmo epis'dio +da entrada em cena condensada da amiga de Irma,acan atesta %ue se trata de um 3le%ue, %ue )ai desde o interesse pro4issional, o mais puramente orientado at5 todasas 4ormas de miragem imaginria*6 +p. -7, de algo em %ue, 3por 4im, as coisas se amarram e chega&se a sa(e&se l%ue mist5rio6 +p. 288.

    9ra, 5 completamente paradoxal )er a%ui o psicanalista renunciar ante 3resist;ncia6 ou mesmo 3recalcamento6 deseu paciente em anlise, ante %uesto da sexualidade.9 sonhador d todas as dicas disso: a con4essa,primeiramente, ter 4alseado algumas passagens +c4. acima< ( insere, no exato momento do segmento em %uecomenta a amiga +3a (oca a(re&se (em6, um corte altamente signi4icati)o no texto: uma nota de rodap5, na %ualadmite %ue a coisa iria (em longe # o 4amoso 3cordo um(ilical6 # %uase como uma (ali!a 4incada no terreno aindicar: eis a%ui a coisa < c lem(ra as simpatias %ue tem pela intelig;ncia da amiga, %ue acan acertadamente anota,e passa por cima, como 3jo)em mulher sedutora6 +p. -7< d e)oca as lem(ranas de exames m5dicos e de

    3pe%ue=os secretos, descu(iertos durante ellos para con4usion de m5dico > en4ermo6 +Freud, -881-7?, p. 0-0< e adentadura postia o remete a um elogio Irma, 3pero sospecho %ue encierra a@n otro signi4icado distinto. "n unanlisis nos damos siempre cuenta de si hemos agotado o no los pensamientos ocultos (uscados6 +Freud, -881-7?,p.0-0o %uisieratener como paciente en lugar de Irma, es tam(i5n una jo)en )iu)a6+Freud, -881-7?, p. 0-G.

    Hodas essas marcas do texto e contexto # o lugar singular da nota de rodap5, o teores signi4icati)os en)ol)idos, aposio sintxica dos comentrios e mesmo a pontuao exclamati)a # todos esses trechos nos re)elam retoricamenteo 4orte odor de sexualidade exalando pelos poros do discurso do sonhador.

    Fica pois di4Acil de concordar, e at5 mesmo surpreendente de constatar, a dessexuali!ao ou, no mAnimo, asu(limao desmedida %ue acan promo)eu na sua interpretao. Dara di!;&lo numa pala)ra, acan tomou a tela4ortemente colorida de sexualidade do sonho 4reudiano e a acin!entou, )ia di porre, mais uma )e!.

    ?. $ garganta de Irma. m 3espetculo medonho6, 5 o %ue acan 4a! Freud ter )isto: "is aA uma desco(erta horrA)el, a

    carne %ue jamais se );, o 4undo das coisas, o a)esso da 4ace, do rosto, os secretados por excel;ncia, a carne da %ualtudo sai, at5 mesmo o Antimo do mist5rio, a carne, dado %ue 5 so4redora, in4orme, %ue JsicK sua 4orma pr'pria 5 algo%ue pro)oca ang@stia.

    Liso de ang@stia, identi4icao de ang@stia, @ltima re)elao do 5s isto # 5s isto, %ue 5 o mais longAn%uo de ti, isto%ue 5 o mais in4orme. M diante dessa re)elao do tipo en5, Hhe%uel, Dharsin, %ue Freud chega ao auge de suapreciso de )er, de sa(er, at5 ento expressa no dilogo do ego com o o(jeto +acan, -/0&/1-2, pp. -7&-G,itlicos no original.Oesta 4eita, no)as 4ortes tintas acima continuam a colorir a interpretao: imagem horrA4ica +p.28-, aterradora, imagem da morte +p. 28G, re)elao do real, do real derradeiro, o(jeto de ang@stia por excel;ncia+p. 28. 9ra, o texto do sonhador no d indicaes seguras desse dramatismo in4lado, hiper('lico e densamentecolorido. $s @nicas expresses de susto, medo, a4lio ou temor de Freud so )oltadas ao )olume dos sintomas %ueIrma apresenta no sonho, s in4iltraes +in4eces, discusses so(re di4terites e di4terias, lem(ranas da doena da

    4ilha, atilde, da outra atilde, sua paciente, da sua mulher e de sua pr'pria sa@de, prescrio recriminada dacocaAna, en4im, s %uestes de conscienciosidade pro4issional, hesitaes no seu sa(er< a morte, sem d@)ida seapresenta a%ui como tema etc. G. $o contrrio do elenco dramtico e hiper('lico de )ises aterrori!antes imputadas

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    P %ue se pWr muito (oa )ontade e 4id@cia aguerrida no analista para )er no texto do sonhador lastro para tudo isso. 9negrito de uma 4'rmula %uAmica e seu semantismo mais imediatamente tra!ido como a aposta 4reudiana # asexualidade # aca(ou por 4icar apagado e enco(erto pelas cores 4ortes, religiosas, oraculares, islCmicas e mAticaspintadas por cima. M de se perguntar, mais uma )e!, se toda essa religiosidade est mesmo na esttua do sujeito, %uetem de aparecer per )ia di le)are, ou se aca(ou surgindo da paleta do pintor per )ia di porre.

    B. 9 sentido do sonho. Delo passeio %ue 4i!emos atra)5s da tela de acan, )rios sentidos so atri(uAdos ao sonho4reudiano. Isto j este)e pre)isto pelo pr'prio sonhador %uando monta o ta(uleiro de sua Hraumdeutung. 9 leitor)eri4icar, no entanto, %ue nem todos os sentidos, ou antes, as coloraes )eementes dadas a eles por acan, ti)eramsu4iciente lastro no texto do

    sonhador. No andamento da sua interpretao, acan )ai&nos apresentando os seus resultados: +a primeiramente, a)erdadeira signi4icao do sonho ou sua animao secreta 5 o desejo 4reudiano de se inocentar de tudo +-/0&/1-2,pp. -< 2-0

    < +( em seguida, o ultimo termo, isto 5, a%uele %ue est por detrs do trio mAstico, das tr;s mulheres condensadas+Irma, sua amiga e a Frau OoUtor, 5 3pura e simplesmente a morte6 +p. 288< +c depois, h %ue se destacar tam(5m arealidade secreta do sonho como 3o )erdadeiro

    )alor inconsciente6 do sonho de Freud, para acan, isto 5, a (usca da pala)ra, a (usca da signi4icao como tal: 3noh outra pala)ra&cha)e do sonho a no ser a pr'pria nature!a do sim('lico6 +p. 28?. $ paleta do sentido prossegue:+d a 4'rmula da trimetilamina surge para o analista 3no ponto em %ue a hidra perdeu as ca(eas, uma )o! %ue no 5seno a )o! de ningu5m*6 +p. 2-B,itlicos no original.-8 Dor 4im, +e a tela termina em clAmax:

    Sou a%uele, di! acan de Freud, %ue %uer ser perdoado por ter ousado comear a sarar estes doentes, %ue at5 agorano se %ueria compreender e %ue se proi(ia a si mesmo de sarar. Sou a%uele %ue %uer ser perdoado por isto. Soua%uele %ue %uer no ser culpado por isto, pois se 5 sempre culpado %uando se transgride um limite at5 ento imposto ati)idade humana. Quero no ser isto. "m lugar de mim h todos os outros. Sou aA apenas o representante deste)asto, )ago mo)imento %ue 5 a (usca da )erdade onde, eu, me apago. No sou mais nada. inha am(io 4oi maiordo %ue eu. $ seringa esta)a suja, sem d@)ida. " justamente na medida em %ue a desejei demais, em %ue participeidesta ao, em %ue %uis ser, eu, o criador, no sou

    o criador. 9 criador 5 algu5m maior do %ue eu. M o meu inconsciente, 5 esta 4ala %ue

    4ala em mim, para al5m de mim. +pp. 2-B&2-7, itlicos no original.

    3"is o sentido deste sonho6 arremata, em seguida, para 4inali!ar. Vomo se );, o analista a(re no)a paleta de corespara o sentido da tela do sonho. No 5 4cil reconhecer, no texto de Freud, su4icientes traos para, al5m de extrair odesejo 3de no ser responsa(le del estado de Irma6 +-881-7?, p. 02-, conot&lo, %uase religiosamente, como umpecador penitente %ue 4a! sua contrio de humildade, de am(io e de culpa diante do Vriador, seja este o pr'prioinconsciente. $ min@scula aplicada ao termo 3criador6, por sua )e!, no apaga a conotao religiosa, nem o s5riopro(lema de um inconsciente Rtranscendental. Dor sua )e!, )olta o paradoxo: nessa tela 4inal 4icou no)amentedesaparecida a %uesto da sexualidade.

    Vomentrios de : $%ui tam(5m Ti!eU exercita o seu pincel: 3$lguns documentos recentemente pu(licados

    esta(elecem claramente %ue o )erdadeiro 4oco desse sonho era o desejo de sal)ar Fliess +* o )erdadeiro culpadopelo 4racasso da operao nasal de Irma6

    +288-, p. . 9 exercAcio pe duas cores no)as: primeiro, agrega +termo %ue Freud excluia de sua t5cnica anlise dotexto os tais documentos recentes, isto 5, algo 4ora da iman;ncia do discurso do sonhador, do mesmo modo comoacan incluAra a gra)ide! de Frau OoUtor 3por outros meios6 +c4. atrs< segundo, mesmo os tais documentos no sogarantia de nada. "m(ora a pung;ncia do 4racasso da operao nasal tenha sido o(jeto de correspond;ncia delicadaentre Freud e Fliess de 4e)ereiro de -G/, m;s da operao, at5 maio, portanto, (em passA)el de ocupar osantecedentes diurnos do sonho +julho, no parece ter sido Irma +$nna Pammerschlag madrinha de $nna Freud a)Atima, e sim "mma "cUstein +c4. a discusso so(re isso em asson, -G0, p. --, nota -. Oe toda 4orma, a @nica4iana da interpretao

    em psicanlise 5 o discurso em exame, no documentos exteriores. Imagine&se o %ue seria de uma clAnica a (uscardocumentos externos ou posteriores, 3por outros meios6 na anlise do paciente.-8 Nesse @ltimo aspecto, de)o manterem suspenso alguma apreciao mais a(ali!ada so(re o sentido Nemo, ou do sujeito Rac54alo %ue acan destila no

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    sonho de Freud, so(retudo por%ue me pareceu ter a)anado a interpretao a partir do comentrio ao texto so(re oNarcisismo e Dsicologia das assas +c4. p. 2-8 e -?. Se assim 4oi, no se mante)e alerta so(re a pr'pria precauo%ue ha)ia pregado no inAcio da interpretao, como )imos atrs: 4a!er o Freud do inAcio ter dito +ou sonhadoY coisas%ue s' o Freud posterior ter a)anado.

    $dendo: $%ui no estamos diante apenas de um pro(lema. Hrata&se de todo o pro(lema. M impossA)el conceptuali!ar

    algo em psicanlise ou em %ual%uer teoria sem de4inir, isto 5, nomear. m conceito, ao menos no %ue se re4ere adisciplinas no 3duramente6 cientA4icas, 5 o nome de uma regio semCnticade4inida na inter&relao com os outros. "nomear 5 esta(elecer di4erenas semCnticas entre os conceitos +real, go!o, letra*. M coloc&los de )olta no regimedas oposies de linguagem, )isto %ue no h metalinguagem a(solutamente exterior linguagem, 5 pois entrar decheio no regime do* sentido. Sem um pacto de sentido, no h como criar ou utili!ar um conceito, muito menosacionar %ual%uer transmisso disso. No se sa4a assim do sentido a (aixo preo, por uma simples induo 4'(ica ou4oracluAsta imputada ao ensino de acan. Oe modo %ue o primeiro pro(lema +no resol)ido de iller no 5 anomeao do real. 9 pro(lema inteiro e imenso est na pr'pria postulao do R4ora&do&sentido, para conceitos oupara a transmisso.

    $ pr'pria id5ia de algo 34ora&do&sentido6 s' 5 possA)el por%ue h uma linguagem %ue nos permite intuir o 34ora6, poroposio a 3dentro6 3acima6, 3a(aixo6 etc., todos plenamente carregados de* sentido. Quanto a isso, ento, oprimeiro acan le)a uma )antagem epistemol'gica Ampar so(re o @ltimo acan de iller:9 poder de nomear os

    o(jetos Jdi! acan no mesmo seminrio h pouco )istoK estrutura a pr'pria percepo. 9 percipi do homem s' podemanter&se dentro de uma !ona de nominao +*. $ nominao constitui um pacto, pelo %ual dois sujeitos,ao mesmotempo, concordam em reconhecer o mesmo o(jeto. Se o sujeito humano no denominar +* se os sujeitos noentenderem so(re esse reconhecimento, no ha)er mundo algum, nem mesmo percepti)o, %ue se possa manter pormais de um instante6 +acan, -/0&/1-2, p. 2-/. m segundo pro(lema a en4rentar 5 %ue, assim posta, apsicanlise 4ora&do&sentido, ela estar ineluta)elmente 4ora&da&linguagem, )isto %ue estar na linguagem humanaimplica sempre a malha di4erencial e opositi)a entre sentidos, sejam %uais 4orem seus limiares, parties eparticipaes. No se estar correndo a%ui o risco de postular a Rmeta&linguagem a(soluta, contra algum acan, escolhaY Vomo isso ainda no 4oi cogitado, temos de aguardar a soluo. m terceiro pro(lema tam(5m ronda. " omesmo iller se depara com ele: 3Isso est e)identemente em tenso com uma anlise, por%ue, na psicanlise, seconta hist'rias, a gente se conta em hist'rias, 4a!&se hist'rias6 +2882, p. -B. "spera&se %ue isso no seja mera %uestode detalhe, de modo %ue h %ue se resol)er ento a tenso de iller # na )erdade, a enorme aporia # de como ou)ir

    tais hist'rias 34ora&do&sentido6. Dor 4im, haja suor para coordenar todas essas di4iculdades com mais uma:9 @ltimoensino de acan tende, pelo contrrio, a aproximar a psicanlise da poesia, ou seja, de um jogo so(re os sentidossempre duplos do signi4icante. Sentido pr'prio e sentido 4igurado, sentido l5xico e sentido contextual, isso 5 o %ue apoesia explora para, como di! acan, 4a!er )iol;ncia ao uso comum da lAngua +iller, 288?, p. 20, itlicos nossos.

    M mesmo rdua a tare4a do pes%uisador interessado tentar concatenar,no mesmo suposto @ltimo acan de iller, acompleta incongru;ncia entre uma apologia do 4ora&do&sentido e, ao mesmo tempo, o elogio da poesia, jogo ecriao, por excel;ncia, de sentidos e e4eitos de sentido. Sentido pr'prio, 4igurado, l5xico e contextual, da @ltimacitao, nada mais 5 %ue a massa inteira, pesada, de todo o uni)erso do sentido. acan sai do epis'dio dessa leitura)estido com a mortalha am(ulante de um completo paradoxo.

    Freud letraNo pareo trair o consenso em psicanlise ao entender %ue os anos da in)estigao 4reudiana daHraumdeutung 4oram a sua tra)essia do Zu(ico. 9 alea jacta est 4reudiano 4oi o passo de adscre)er o sonho # e de

    resto, toda a psicanlise do inconsciente, uma )e! riscada por a%uele a estrada real de acesso a este # no registro daci4ragem e deci4ragem do sentido +psicol'gico. Foi assim %ue, na letra dos seus textos posteriores # cito logo a(aixouma passagem so(re os atos 4alhos # testemunha %ue pedira licena, por assim di!er, para retirar sua psicanlise doregistro 4isiol'gico ou (iol'gico, em prol do registro do sentido2:

    Si conseguimos demostrar %ue las e%ui)ocaciones orales %ue presentan un sentido, lejos de constituir una excepci'n,son, por el contrario, mu> 4recuentes, este sentido +* )endr a constituir el punto ms importante de la mismaJin)estigaoK > acapar todo nuestro inter5s, retra>5ndolo de otros extremos. Dodremos, pues, dar de lado todos los4actores 4isiol'gicos > psico4isiol'gicos > consagrarnos a in)estigaciontes puramente psicol'gicas so(re el sentido delos actos 4allidos< esto es, so(re su signi4icaci'n > sus intenciones +--/&-71-7?, p. 2-?G.

    $ssim como para o caso dos atos 4alhos, se %uisermos pegar o sonho 4reudiano pelo chi4re, pela ci4ra da sua letra, acoisa toma a mesma direo clara Rinterpretar un sue=o %uiere decir indicar su Rsentido +Freud,-881-7?, p. 08B &

    as aspas 4rancesas, no original, no me parecem simples ;n4ase, mas argumento de4init'rio. M desse modo %ue Freuda(re o segundo capAtulo do seu xadre! onArico, justo a%uele em %ue prope um m5todo para isso: "l m5todo de la

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    interpretaci'n onArica. M tam(5m, na )erdade, como ti)era j a(erto a pr'pria partida glo(al com estes auspAcios: at5cnica %ue desco(rira re)ela %ue cada sonho 5 3un producto psA%uico pleno de sentido6 .

    So in@meras as )e!es %ue o entusiasmado desco(ridor do enigma dos sonhos repete o lance: "l sue=o posee con4recuencia )arios sentidos. No s'lo pueden >uxtaponerse en 5l # como hemos )isto en algunos ejemplos # )ariasreali!aciones de deseos, sino %ue un sentido, una reali!aci'n de deseos puede encu(rir a otra +*. +-881-7?, p0G8,

    itlicos no original

    No %uer isso di!er %ue, uma )e! reconhecido como 4ato e)idente o pleno de sentido do sonho, as coisas 4i%uem4acilitadas. $o contrrio, 5 a pr'pria disposio das di4iculdades, justamente por%ue resulta um ac@mulo por demaisemaranhado de signi4icaes, a pedir paci;ncia de arteso ao int5rprete para deslindar a 4iao sutil do desejo:

    a acumulaci'n de signi4icaciones del sue=o es uno de los pro(lemas ms arduos > al mismo tiempo ms ricos encontenido de la interpretaci'n onArica. $%uellos %ue ol)iden esta posi(ilidad incurrirn 4cilmente en gra)es errores >sentarn a4irmaciones insosteni(les so(re la esencia del sue=o. Dero so(re esta cuestion no se han reali!ado a@n sinomu> escasas in)estigaciones +* +-881-7?, p. 0G8, em nota de rodap5.

    O sonho da injeo em Irma (de Freud) m grande salo # muitos con)idados %ue n's rece(emos # dentre eles,Irma, de %uem logo me aproximo, para responder sua carta e 4a!er&lhe recriminaes, )isto %ue ainda no aceita a

    Rsoluo. Oigo&lhe: 3Se ainda tem dores, a culpa 5 realmente sua6. "la respondeu: 3se sou(esses as dores %ue tenhona garganta, no estWmago e no )entre. Hudo me con4range6. "spanto&me e olho para ela. Darece plida e inchada.Denso: no 4inal, dou&me conta aA de algo orgCnico. e)o&a janela e olho sua garganta. "la apresenta algumaresist;ncia, como as mulheres com dentaduras postias. Denso comigo %ue a%uilo no 5 necessrio para ela. $ (ocaa(re&se (em, e eu encontro uma grande mancha, e noutra parte )ejo not)eis produtos enrugados, extensas crostascin!a&es(ran%uiadas, %ue e)identemente copia)a a concha nasal. Vhamo rapidamente o Or. ., %ue repetiu o examee o con4irmou* Or. . parece mais di4erente %ue nunca, est plido, claudica e est sem (ar(a no %ueixo* meuamigo 9tto est tam(5m de p5 agora perto dela, e meu amigo eopold a ausculta so(re o )entre e di!: 3ela tem uma(a4amento a(aixo es%uerda6, indica tam(5m uma parte da pele in4iltrada no om(ro es%uerdo +o %ue noto comoele, apesar da roupa* . 4ala: 3sem d@)ida 5 uma in4eco, mas no tem importCncia, so(re)ir uma disenteria e o)eneno ser eliminado6* n's tam(5m sa(emos de imediato de onde )em a in4eco. Quando ela no se sentia (em,o amigo 9tto, recentemente, deu a ela uma injeo com preparado de prolil, propileno, cido propiWnico*trimetilamina +)ejo sua 4'rmula, diante de mim, em negrito* no se 4a! injees to le)ianas* pro)a)elmente aseringa tam(5m no esta)a limpa.$ cada segmento do sonho acima anotado, o sonhador Freud o4erece um sem&n@mero de associaes, lem(ranas, circunstCncias, permeadas de suspenses, sentimentos a)aliati)os, comentrios margem, em nota de rodap5, marcas de exclamaes em lugares especialmente delicados. P truncamentos depassagens e de 3muchas indiscreciones6, omisses e e)itaes, at5 mesmo 4alsi4icaes +3suplantando algunascosas6 %ue Freud reconhece, j de antemo, como ine)it)eis, admitindo, por isso, 3perjudicar sensi(lemente6 o)alor dos exemplos com %ue %uer ilustrar +-881-7?, p. ?00 # Dre4cio -[ edio. 9ra, nada disso depe contra osonhador. Seu texto, ou sua 4ala, 5 so(erano, seu contexto imediato ou distante, as lem(ranas de sua mem'ria, amodulao de seu discurso, seus temores, ;n4ases, suspenses, 4alsi4icaes e mesmo a escolha dos momentos em%ue 4a! cortes, notas de rodap5, comentrios marginais, tudo constitui a iman;ncia do texto e contexto a ser)ir dematerial interpretao. Oe modo %ue, se algo no puder ser in4erido das marcas, linhas e entrelinhas do texto econteto, se algo no puder ser extraAdo da argamassa de pedra %ue esconde a esttua do+s desejo+s do sonhador, per)ia di le)are, no poder ser declarado como pertinente t5cnica da anlise. acan e Ti!eU no parecem ter, no

    epis'dio, cumprido os %uesitos.

    2.2 9 sujeito so(re %uem operamos em psicanlise s' pode ser o sujeito da ci;ncia\ +-B/, p. G7?

    Sujeito %ue surge na hist'ria como a%uele %ue a partir do %ue Dascal chama de sil;ncio eternos do uni)erso, no podemais se orientar por noes %ualitati)as %ue ordena)am o mundo antigo. Vomo aponta acan:

    9 mundo, )emos %ue ele no se agenta mais, pois mesmo no discurso cientA4ico 5 claro %ue no h mais mAnimomundo. $ partir do momento em %ue )oc;s podem ajuntar aos tomos uns troos %ue se chama %uarU, e %ue 5 ali %ueo )erdadeiro 4io do discurso cientA4ico, )oc;s t;m de %ual%uer modo %ue se dar conta de %ue se trata de outra coisa%ue no um mundo +-72&7?, p. /-.

    as %ual mundo no 5 mais tratado pelo discurso cientA4icoY 9 mundo antigo, no %ual noes %ue eram oriundas da

    Nature!a ou de uma Heologia orienta)am os homens. Vom o ad)ento da ati)idade cientA4ica, esse mundo %ualitati)odesa(a e aparece um no)o modo de conce(er os pro(lemas %ue no indicam mais %ualidades. M a esse sem%ualidades %ue Dascal se re4ere %uando 4ala em sil;ncio. as nesse uni)erso em sil;ncio um pro(lema grita: o da

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    ao. "is a ra!o de acan a4irmar %ue a ci;ncia 4oraclui o sujeito, uma )e! %ue a ci;ncia no pretende tratar de%uestes %ue sejam relati)as ao pro(lema da ao. Dois o %ue se pretende com o termo sujeito 5 pensar apossi(ilidade de uma ao %ue possa ser )lida no somente pela )ia da indi)idualidade, mas %ue ganhe o aspecto deuni)ersalidade. M a %uesto colocada por Oescartes ao tentar 4ormular os princApios dessa ao em princApios %ue4ossem indu(it)eis, a sa(er: como de)o me condu!ir na )ida. 9u nos termos de $rist'teles retomados por acan noseminrio so(re a 5tica: como encontrar o ]em Supremo, %ue est para al5m de todos os (ens empAricosY "ssa

    de4inio de sujeito pela )ia da 4iloso4ia nos ajuda a especi4icar o campo de pro(lemas: tratar do ]em supremo ou daao moral le)a&nos diretamente para o registro da 5tica. No entanto, a ci;ncia no segue esse modo de tratar ospro(lemas, %ue 5 a (usca de um indu(it)el. 9nde temos a (usca de um indu(it)el, temos a promoo de um ideal.$ ci;ncia no (usca o ideal, e sim o real. Se a psicanlise, ao contrrio da 4iloso4ia, surge no mesmo mundo em %ueaparece tam(5m a ati)idade cientA4ica, 5 por no seguir tam(5m a (usca de um ideal. ]uscar na 5tica um ideal 5 algo%ue no podemos considerar como algo compatA)el com o pensamento cientA4ico. " por %ue noY Dor%ue um idealpressupe princApios indu(it)eis. " nada mais a4astado da prtica cientA4ica do %ue essa (usca. Oo mesmo modo emFreud: se ele (uscasse um ideal para o sujeito no poderia ter lanado mo da associao li)re. " por %ue noY Dor%uea associao li)re pressupe tr;s aspectos: o primeiro 5 %ue no temos mais um sa(er so(re o sujeito do lado doanalista< em segundo lugar, pressupe %ue os signi4icantes em torno do %ual giram as %uestes do sujeito not;msigni4icao em si, mas ganha algum sentido em 4uno do modo como se arranjam< e em terceiro, %ue algo se produ!nessa associao, de modo %ue ela s' 5 li)re para comear, mas %ue depois perde cada )e! mais li(erdade ao secon4igurar uma rede de repeties. " nesses tr;s aspectos no podemos salientar nem a exist;ncia de princApios apriori, nem de ideais reguladores. Oesse modo, temos uma de4inio de 4uncionamento %ue 5 para al5m dosprincApios %ue comandam o sistema consciente, como o princApio de no&contradio e o princApio de identidade. "onde Freud sustenta %ue h pensamento %ue no se ampara em Andices de no contradio e %ue depende umaalteridadeY No inconsciente. 9ra, se a psicanlise trata de um sujeito, e esse sujeito no pode se situar nem como umprincApio a priori nem como a%uele %ue (usca um ideal, ele s' pode ser um sujeito do inconsciente. " como a4irmaacan...

    2.? 9 estatuto do inconsciente, %ue eu lhes indico to 4rgil no plano Wntico, 5 5tico\ +-B0, p. ?7 $ psicanlise 5compatA)el com o pensamento cientA4ico no somente na %uesto da produo de um real. as tam(5m na de4iniodesse real como um impossA)el. M pela )ia do %ue 5 declarado como impossA)el %ue a ci;ncia se reali!a. Foi pelaproduo de uma 4Asica matemati!ada %ue era declarada impossA)el pelo aristotelismo %ue algo se produ!iu. Oomesmo modo podemos pensar no sintoma em psicanlise: 5 a reali!ao do %ue 5 declarado impossA)el pela censura

    %ue se reali!a no sintoma, a partir do tra(alho do inconsciente. No entanto, se 4alamos em compati(ilidade 5 para no4alar em reduo de pro(lemas o(jeti)os a pro(lemas 5ticos. Dois a tentati)a de redu!ir o sujeito a um pro(lemao(jeti)o como )emos hoje em empreendimentos di)ersos +s' para citar um, a reduo de pro(lemas de sujeito a redesneuronais e produ!ir um hA(rido chamado neuropsicanlise 5 justamente no %uerer encontrar o sujeito +iller,-G, p. 2?B. Dois a %uesto primordial %ue o sujeito se coloca 5 so(re %uem sou eu. Questo colocada de)ido aoproduto do inconsciente como algo estranho ao sujeito. Vomo di! ^ean&ouis _ault +288B, a hip'tese doinconsciente introdu!ida por Freud )isa, apesar deste carter de aparente exterioridade, a por o sintoma a cargo dosujeito\. DoderAamos at5 4ormular a %uesto do sujeito de outra maneira: como posso me situar 4rente ao 9utro uma)e! %ue em mundo a4etado pela ati)idade cientA4ica s' temos signi4icantes sem %ualidades. OaA a necessidade de nocon4undir os campos de pro(lemas e acan especi4icar %ue o estatuto do inconsciente 5 5tico< pois a4inal, o %ue 5 oinconsciente seno o discurso do 9utro, um discurso %ue ultrapassa o sujeito e o coloca descentrado em relao a simesmoY No podemos es%uecer %ue essa de4inio do estatuto do inconsciente como 5tico 5 4eito a partir do%uestionamento da possi(ilidade ou no de cienti4icidade da psicanlise. Dois se a relao da psicanlise com aci;ncia 5 uma relao de excluso Antima, e isso le)a acan ao mesmo tempo em %ue se re4ere ci;ncia a especi4icarum campo de pro(lemas para ela, 5 por seguir o "spArito VientA4ico de4inido por _aston ]achelard: 5 justamente essesentido do pro(lema %ue caracteri!a o )erdadeiro espArito cientA4ico\ +-B, p. -G. 9s conceitos psicanalAticos s'ad%uirem sentido em relao ao sentido do pro(lema %ue 5 5tico.

    9ra, em um pro(lema de4inido dessa maneira, %uais conse%;ncias podemos tirarY _ostarAamos de apontar %ue asconse%;ncias %ue so coordenadas do mundo em %ue a psicanlise 5 possA)el. $creditamos %ue, em primeiro lugar,de)emos a(rir mo do discurso nostlgico de um mundo em %ue ha)ia orientaes e ideais, e a(rir mo tam(5m deum discurso acusat'rio de %ue a ci;ncia 4oi respons)el por essa %ueda. $companhar esse discurso 5 aliar&se dealgum modo a uma 5tica do ideal %ue nunca acompanhar o real da ci;ncia e sustentar um discurso %ue produ! uma5tica supereg'ica. Dois uma 5tica %ue pretende esta(elecer um ideal 5 uma 5tica %ue %uer especi4icar o possA)el. 9ra,a psicanlise, no di!er de acan, 5 uma clAnica do real como impossA)el de suportar.

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    $ segunda conse%;ncia 5 relati)a de4inio de signi4icante. m signi4icante 5 o correspondente ao sem %ualidadesdo mundo cientA4ico. m signi4icante no tem signi4icado nele mesmo, mas s' produ! e4eitos a partir da articulaocom outros signi4icantes. Nesta articulao entre os signi4icantes, %ue independe de um signi4icado, de %ualidades,indica para o %ue desde Freud 5 conhecido como tra(alho do inconsciente< no temos mais um sentido orientando osujeito, mas uma s5rie de operadores # condensao e deslocamento em Freud +-88< met4ora e metonAmia emacan +-/7 #, %ue tem como e4eito a produo de um sujeito. M deste modo %ue acan 5 le)ado a de4inir o

    inconsciente como sa(er %ue no pensa, nem calcula, nem julga, o %ue no o impede de tra(alhar +no sonho, porexemplo\ +288?, p. /-7. "ste tra(alho, como aponta ilner +-B, 5 um tra(alho sem %ualidades, em %ue nopodemos mais 4alar em uma l'gica geral de produo de sujeito id;nticos, mas em uma l'gica 4ragmentria, plural.

    $ terceira conse%;ncia 5 relati)a maneira pela %ual podemos entender o sujeito uma )e! %ue a(raamos a hip'tesedo inconsciente. Se o estatuto do inconsciente 5 5tico, 5 por ele se re4erir a um sujeito. as se di!emos %ue apossi(ilidade de pensar o inconsciente e os e4eitos deste so(re o sujeito s' 5 possA)el em um mundo em %ue a ci;ncia5 possA)el, no podemos mais considerar o sujeito como um ponto a partir do %ual partem as intenes. $o contrrio,o sujeito, como e4eito do inconsciente, de)e ser lido a partir do %ue acan a4irma no capAtulo -8 do Seminrio --: oinconsciente 5 a soma dos e4eitos da 4ala so(re um sujeito, nesse nA)el em %ue o sujeito se constitui pelos e4eitos dosigni4icante\ +-B0, p. -22. 9u seja, o sujeito a%ui, longe de ser o 4undamento de uma ao, 5 um e4eito. 9 sujeito 5o %ue no se situa nem em um signi4icante nem em outro signi4icante, mas o sujeito no 5 outra coisa seno o %uedesli!a numa cadeia de signi4icantes\ +acan, -72&7?, p. BG. "sse desli!amento impede %ue possamos situar o

    sujeito como dotado de uma identidade.

    Oedicar&nos&emos na pr'xima seo a demonstrar como essas conse%;ncias de um sujeito no id;ntico a si mesmo,da 4alta de %ualidades %ue permeia a constituio do sujeito e do tra(alho do inconsciente ajudam a compreender %ueo campo do sujeito psicanalAtico 5 o campo dos pro(lemas 5ticos. Freud parte da clAnica, mas se ele se preocupa em4alar em sonhos, atos 4alhos e chistes no 5 somente por %ue ilustram o inconsciente, mas por %ue eles so da mesmatessitura do sintoma produ!ido pelo inconsciente: estruturado pela l'gica do signi4icante, %ue como indica ^ac%ues&$lain iller, no se preocupa com signi4icados, mas com o %ue se produ! a partir da relao dos signi4icantes. Doresta ra!o %ue na pr'xima seo consideraremos em demonstrar as teses a)anadas at5 a%ui a partir dos atos 4alhos,pois nele 4ica e)idenciada a dimenso de tra(alho, de no&sentido do signi4icante, dos e4eitos so(re o sujeito, eprincipalmente por%ue nos permite e)idenciar por esses traos a compati(ilidade l'gica da psicanlise com a ci;ncia.

    3. O campo tico de problemas e os atos falhos

    Na Dsicopatologia da )ida cotidiana +-8-, Freud a4irma %ue a psicanlise se de(rua so(re e)entos to presentes na)ida de %ual%uer sujeito e %ue a princApio ningu5m lhes d ateno, a sa(er, os atos 4alhos. $ ateno da psicanlise se)olta para esses 4enWmenos na medida em %ue eles demonstram, para al5m de uma l'gica meramente consciencial,um sentido produ!ido pelo tra(alho do inconsciente. 9s atos 4alhos, como uma das mani4estaes do inconsciente,so um elemento singular %ue nos permite dimensionar o campo 4reudiano como um campo 5tico. Dara tanto,partimos de uma a4irmao de ^ac%ues acan, em 9s %uatro conceitos 4undamentais da psicanlise +-B0, em %ueele a4irma %ue o estatuto do inconsciente 4reudiano 5 5tico. Hal a4irmao 5 4eita no momento em %ue acan sepreocupa em de4inir a dimenso de pro(lemas da %ual Freud se ocupa %uando ela(ora o conceito de inconsciente.

    acan acrescenta ainda %ue a hip'tese do inconsciente est intimamente relacionada s 4ormas de tropeo e de 4alha%ue Freud o(ser)a)a nas mani4estaes de alguns e)entos # sonhos, atos 4alhos, chistes e lapsos. Freud prope o

    termo atos 4alhos2 em suas Von4er;ncias introdut'rias so(re psicanlise +--B, com o o(jeti)o de tratar de algunsdesses e)entos dos %uais acan 4a! re4er;ncia. Nessas con4er;ncias, )emos Freud preocupado em demonstrar %ue osatos 4alhos so resultados do tra(alho do inconsciente, %ue segue operadores especA4icos # condensao edeslocamento #, ao contrrio do %ue geralmente pressupe a psicologia, %ue sempre procura redu!ir esses 4enWmenosa explicaes como a 4adiga ou a 4alta de ateno. $ partir dessas duas a4irmaes # de %ue o estatuto do inconsciente5 5tico e %ue suas 4ormaes so resultados do tra(alho desse mesmo inconsciente # 5 %ue podemos concluir %ue adimenso de pro(lemas da %ual Freud se preocupa no 5 a cientA4ica. ogo no inAcio de suas con4er;ncias so(re osatos 4alhos, Freud j nos d a pista: nada acontece em um tratamento psicanalAtico al5m de um intercCm(io depala)ras entre o paciente e o analista. 9 paciente con)ersa, 4ala de suas experi;ncias passadas e de suas impressesatuais, %ueixa&se, reconhece seus desejos e seus impulsos emocionais\ +--B, p. 2. Se h uma implicao do sujeitona 4orma como os atos 4alhos se mani4estam, por de4inio, no estamos mais em um campo cientA4ico de pro(lemas,mas sim em um campo de pro(lemas 5ticos, no %ual a %uesto gira em torno de uma deciso a ser tomada, e de umcon4lito decorrente dessa deciso, o %ue en)ol)e necessariamente um sujeito.

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    Oessa 4orma, partimos da tese de %ue a psicanlise no se a4irma como uma ci;ncia do psi%uismo, ou mesmo doinconsciente. 9 %ue no signi4ica %ue a psicanlise no seja compatA)el com o pensamento cientA4ico. " %uando4alamos em compati(ilidade 5 para no 4alar em su(ordinao< seja a su(ordinao de um sujeito a procedimentoso(jeti)os, seja a su(ordinao de pro(lemas o(jeti)os a crit5rios morais de um sujeito. Se na ati)idade cientA4icamoderna os o(jetos so produ!idos em 4uno de um pro(lema, no existindo uma realidade %ue se impe por simesma, da mesma 4orma a psicanlise a4irma %ue no h um sintoma anterior a certo tipo de organi!ao entre as

    representaes psA%uicas. m pro(lema, a partir de ento, s' pode ser considerado a partir de conceitos especA4icos%ue so produ!idos para explic&lo. Dodemos apontar, portanto, %ue uma preocupao de Freud ao postular a hip'tesedo inconsciente 5 de a4irmar %ue a topogra4ia psA%uica %ue apresenta do aparelho psA%uico no possui um tipo derelao com a estrati4icao anatWmica ou com as camadas histol'gicas. $ l'gica de 4uncionamento psA%uico propostapor ele no se estende nem se redu! ao domAnio (iol'gico. $o contrrio, Freud na anlise dos sonhos sempre rejeitouhip'teses %ue procura)am relacionar os atos 4alhos como uma reao de um 'rgo mental aos estAmulos 4Asicos aos%uais era su(metido em estado de sono. Dodemos di!er %ue seu interesse era outro, pois o pro(lema do %ual trata)a 5de outra ordem do %ue (iol'gica. $l5m disso, ao tratar dos sonhos +outra das 4ormaes do inconsciente, ele nuncase dete)e ao conte@do mani4esto do sonho, sendo o processo de de4ormao onArica e suas conse%;ncias, seu realinteresse. $ ela(orao onArica e o processo de 4ormao dos atos 4alhos condu!iram Freud a pensar uma ati)idadepsA%uica inconsciente mais importante e a(rangente %ue a ati)idade consciente, e ao mesmo tempo, estranha edesconhecida, 4a!endo apenas se conhecer por seus e4eitos. 9s sistemas %ue compem essa topogra4ia psA%uica # osistema Inconsciente e o Vonsciente # esto em constante con4lito. $s representaes inconscientes so impedidas deentrar diretamente na consci;ncia, sendo os processos de deslocamento e condensao respons)eis pelo conte@dodistorcido dos sonhos e dos atos 4alhos. 9 pensamento de Freud con)erge para a explicao desses 4enWmenos %ue at5ento eram designados patol'gicos, exatamente por serem condicionados a uma l'gica de 4uncionamento consciente.

    Hodos esses atos conscientes permanecero desligados e ininteligA)eis, se insistirmos em sustentar %ue todo atomental %ue ocorre conosco necessariamente de)e tam(5m ser experimentado por n's atra)5s da consci;ncia< poroutro lado, esses atos se en%uadraro numa ligao demonstr)el, se interpolarmos entre eles os atos inconscientesso(re os %uais estamos conjeturando. ma apreenso maior do signi4icado das coisas constitui moti)o per4eitamentejusti4ic)el para ir al5m dos limites da experi;ncia direta +Freud, --/, p. -2.

    9 relato de um sonho, ou a con4isso de uma inteno contingente para um ato 4alho, no podem ser consideradoscomo uma realidade mental redu!ida ao %ue 5 consciente. $ssim como a a4irmao de %ue a Herra 5 redonda no 5 um

    4ato em si, mas sim produto de um pensamento, Freud se es4ora para o reconhecimento de %ue o processo dede4ormao onArica j 5 em si o pr'prio tra(alho do inconsciente %ue tra(alha no atendimento de duas exig;ncias: ada pulso %ue exige satis4ao e uma segunda, do eu exigindo o recal%ue de uma id5ia %ue pertur(e o princApio deorgani!ao consciente. $4irmar %ue os sonhos e as parapraxias so produtos de certa l'gica 5 o interesse dapsicanlise, em contraposio psicologia dita cientA4ica, %ue relega a esses 4enWmenos uma especial condio deserem reais, e por isso, despro)ido de organi!ao. Se assim tratados, ou seja, se os sonhos e os atos 4alhos denotamuma experi;ncia real, todo o tra(alho do inconsciente 5 renegado, e o %ue Freud chama de processo primrio #deslocamento e condensao # 5 no mAnimo criticado por ser despro)ido de pro)as empAricas.

    9ra, a hip'tese do inconsciente no 4oi postulada por Freud anteriormente ao pro(lema %ue ele se coloca. No existeum inconsciente %ue precede e determina o sonho ou um ato 4alho. Se assim 4osse, um conceito sempre seriasu(ordinado materialidade do %ual 4oi produ!ido para explicar. $ di4erenciao entre uma hip'tese postulada e umaprodu!ida 5 es(oada por Freud em seu texto $lgumas lies elementares de psicanlise. Segundo ele, uma hip'tese

    postulada implica em uma su(ordinao do conceito realidade material, sendo a compro)ao dessa hip'tesenecessariamente de cunho empArico, em %ue o leitor ou o estudioso, a partir desse recurso +compro)ao empArica do4ato, segue o caminho ao longo do %ual o pr'prio in)estigador )iajou anteriormente\ +-?G, p. ?-/.

    ^ a hip'tese produ!ida sempre aparece como um e4eito de uma l'gica de pensamento. ma no)idade se esta(elece,uma )e! %ue esta hip'tese sempre se apresenta como uma concluso antecipada\ do %ue se segue posteriormentecomo explicao. 9 sentido do pro(lema no 5 mais de uma hip'tese real ou irreal, mas sim de um pensamento #uma )e! %ue uma hip'tese expressa o %ue se pode concluir de um pensamento #, %ue pode ser )erdadeiro ou 4also.

    Dortanto, o sentido de um conceito em psicanlise a4asta de imediato a id5ia de uma nature!a, ou mesmo de umarealidade, uma )e! %ue as relaes %ue este pretende explicar de 4orma alguma so consideradas reais, mas somente)erdadeiras # como aponta ]lanch5 +-?/. No se trata de um pro(lema a ser o(jeti)ado.

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    $l5m do mais, o conceito ela(orado por Freud de inconsciente no possui sentido isoladamente< ele s' chega a seconcreti!ar pela relao %ue este mant5m com outros conceitos psicanalAticos. No 4a! sentido 4alar em inconscienteem psicanlise sem mencionar os conceitos de pulso e sexualidade in4antil, por exemplo.

    9 inconsciente 4reudiano no opera so(re uma realidade< o inconsciente 5 um conceito %ue pretende explicar e darinteligi(ilidade s 4ormaes do inconsciente. Vom e4eito, %uando Freud a4irma ser o psA%uico inconsciente?, o uso

    da pala)ra inconsciente nos remete a uma id5ia de corte com o pensamento consciencial. Sua re4er;ncia ao psA%uicono su(ordina a psicanlise s ci;ncias psicol'gicas\. $o contrrio, a re4er;ncia ao psA%uico implica necessariamenteuma delimitao do sentido do pro(lema %ue est em jogo para a psicanlise, e se 5 possA)el 4alarmos de umadelimitao dos pro(lemas, 5 por%ue uma su(ordinao da psicanlise a %ual%uer tentati)a de o(jeti)ao 5injusti4ic)el. 0. Voncluso: Oessa 4orma, a maneira como Freud coloca o pro(lema dos atos 4alhos nos aponta paraum campo de pro(lemas %ue no pode ser de4inido pela (usca o(jeti)a de uma causa para o sujeito. 9 pro(lema no 5(iol'gico: a topogra4ia psA%uica %ue Freud apresenta no possui um tipo de implicao na anatomia cere(ral. Oamesma 4orma %ue a l'gica de 4uncionamento psA%uico %ue ele nos apresenta 5 dinCmica: o ato 4alho j 5 em si ume4eito do tra(alho do inconsciente no atendimento de duas exig;ncias # uma da pulso e outra do eu #, %ue socontradit'rias. 9 conceito de inconsciente na teoria 4reudiana encontra&se amparado por am(as as teses: no 5 umainstCncia %ue podemos locali!&la anatomicamente, por isso s' 4a!emos reconhecer suas mani4estaes. Oito de outramaneira, a pr'pria maneira 4reudiana de articulao dos conceitos nos indicam a dimenso 5tica dos pro(lemas dapsicanlise: Freud no (usca a partir da hip'tese do inconsciente traar um plano de orientao para um sujeito %ue

    so4re com os e4eitos dos atos 4alhos. $o contrrio, ele coloca o pro(lema de um so4rimento %ue s' existe a partir deum crit5rio de conduta %ue 5 assumido por um sujeito

    Dodemos di!er %ue a Anlise do !iscursose apresenta como uma 3teoria materialista dossentidos6 +"$NOZ9F"ZZ"IZ$, de!. 2880, p. ?. Sendo assim, englo(a a ideologia, os sujeitos, alAngua e a hist'ria. $ psicanlise, porseu turno, trata do inconsciente e do desejo, con)ocando osujeito desejante, o 9utro e sua relao com a linguagem.eandro Ferreira alerta para o perigo dedelimitar aproximaes redutoras entre conceitos comuns aos dois campos deexame +idi(id, p. ?.Dor isso, o o(jeti)o do presente tra(alho no 5 psicanali!ar a $O, mas apresentaralgumascontri(uies %ue conceitos lacanianos trouxeram para este campo do sa(er. Vontri(uies %ueajudaram adesconstruir a ma%uinaria discursi)a da $O&- e $O&2 e a dar inAcio $O&?. Nossa meta participar, por pouco %ueseja, dos 3)islum(res te'ricos penetrando a o(scuridade6 +_$O"H ` P$,-8. p.-0 da relao entrematerialidade hist'rica e o inconsciente lacaniano.

    -. Identi4icao Imaginria lacaniana na constituio do Sujeito OescentradoDro)a)elmente, a principal contri(uiodo conceito de identi4icao lacaniana para a $O 4oisacramentar o processo de 4ragmentao do sujeito da $O atra)5sdo assujeitamento do 3eu6 ao 9utro,sujeito inconsciente. 9 indi)Aduo 5 a4etado pelo inconsciente lacaniano e,conse%uentemente,3interpelado em sujeito pela ideologia6 +$lthusser de 4orma 4ragmentria. "m outras pala)rasseudiscurso 5 3heterogeneamente constituAdo6 +$HPI"Z&Z"LT, -8.$ princApio, o sujeito, para a $O, trata&sede uma posio material lingAstico&hist'rica.]usca&se compreender o modo de produo de sentidos resultantes dainterpelao ideol'gica. Dor seuturno, para a psicanlise, o sujeito 5 3produto da linguagem en%uanto e4eito darelao entresigni4icantes6 +ZI]"IZ9, de!. 2880, p.?8. acan escre)e:

    39 sujeito %ue nos interessa 5 a%uele %ue 5 4eito pelo discurso, no a%uele %ue 4a! o discurso, 5 a%uele %ue 5 4eitopelo discurso tal %ual um rato 5 preso numa ratoeira, 5 o sujeito da enunciao6 +$V$N +-B7, 288/, p./8. Oessa4orma, tanto a $O como a psicanlise no tratam de um sujeito cartesiano, autWnomo.

    Oo ponto de )ista lacaniano, o4ato de o sujeito 4alar como um 3eu&6 mostra %ue ele 3ostenta a linguagem6 e, aomesmo tempo,3nela se perde6. Hemos a%ui uma alteridade do sim('lico produ!indo o assujeitamento do sujeitoaocampo da linguagem e indicando %ue inconsciente e linguagem t;m a mesma estrutura. 3%uando 3o sujeito di!3eu6, o 4a! a partir de uma inscrio no sim('lico e inserido em uma relao imaginria com a 3realidade6, +... algoprodu!ido ap's a entrada do sujeito no sim('lico e impede %ue o sujeito perce(a ou reconhea sua constituio pelo9utro +....6

    $o mesmo tempo, pela inscrio no sim('lico o sujeito se mostra em sua insero na hist'ria,em outras pala)ras, 5a4etado ideologicamente.Neste ponto, podemos di!er %ue o ponto de partida do sujeito da $O 5 o 9utro, ou seja, o9utro da linguagem e da historicidade +$HPI"Z&Z"LT, de!, -8, p?. as, no %ue se constituiesse 39utro6YNo se trata do 3tu6, a %uem o 3eu6 se enderea na relao dial'gica. 9 9utro, responde acan, 35 o campo... onde osujeito tem %ue aparecer.\ +$V$N +-B?&-B0, -G, p. -? 9 sujeito como produto da interpelao ideol'gica e

    do inconsciente 5 (ase para uma 3teoria no&su(jeti)a da su(jeti)idade6 +DbVP", i(id, p. -??, %ue torna possA)el

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    3discernir de %ue modo o recal%ue inconsciente e o assujeitamento ideol'gico esto materialmente ligados, sem estarcon4undidos6 +_$O"H ` P$V, -8, p. -??&-?0.

    -.-. Interpelao ideol'gica 4ragmentada : $ interpelao do indi)Aduo em sujeito de seu discurso acontece pelaidenti4icao do sujeito enunciati)o com a 4orma&sujeito da 4ormao discursi)a dominante, delimitando 3o %ue podee de)e ser dito6 +D;cheux, i(id, p. -B8. $s 4ormaes discursi)as representam na linguagem as 4ormaes

    ideol'gicas %ue lhes correspondem +Idi(id., p. -B-. 9 tipo de relao entre o sujeito e as 4ormaes

    discursi)as +FO dora)ante podem ocorrer so( tr;s modalidades de tomadas de posio: na primeira, o

    sujeito identi4ica&se com a 4orma&sujeito da FO< na segunda, se contra&indenti4ica< na terceira

    modalidade, o sujeito se desidenti4ica. So as duas @ltimas modalidades, a contra&identi4icao e a

    desidenti4icao, %ue a(reiro espao para o desli!e de sentidos e polissemia no discurso. No se trata

    mais de uma 4orma&sujeito dotada de unicidade< h di4erentes posies&sujeito, %ue e)idenciam

    di4erentes 4ormas de se relacionar com a ideologia +INOZS, 2888, p.7B. Na $O&? as 4ormaes

    discursi)as so heterog;neas e suportam o con)A)io do di4erente e contradit'rio em seu interior. Oessa

    4orma, no se pode mais 4alar em sujeito centrado da ma%uinaria discursi)a. $o tomar di4erentes

    posies&sujeito numa dada FO, o sujeito re)ela&se 4ragmentado ideologicamente.

    "ssa 4ragmentao no 5 consciente. $o ser a4etado pelo 9utro, o sujeito so4re um processo de

    3es%uecimento6. Drimeiro, pelo es%uecimento n@mero -, o sujeito julga&se ser a origem do di!er e do

    sentido de seu discurso +_$O"H ` P$, i(id, p. -7Bss. Oepois, pelo es%uecimento n@mero 2, o

    sujeito pressupe a 3literalidade do sentido de seu di!er\ +idi(id., -BGss. $o colocar a unidade do

    sujeito em che%ue, D;cheux retoma da psicanlise a di4erena entre o sujeito +3je6 en%uanto e4eito do

    inconsciente, representado pelo signi4icante e o sujeito +3moi6 %ue se perde no engano de se julgar

    como unidade. +$ZI$NI, de!. 2880, p. 08

    9 es%uecimento - 5 inacessA)el ao sujeito e aparece como constituti)o da su(jeti)idade na

    lAngua. 3Oesta maneira pode&se adiantar %ue este recal%ue +... 5 de nature!a inconsciente\ +_$O"H `

    P$, -8, p. -77 e 5 resultado do 3processo de interpelao&assujeitamento do sujeito, %ue se re4ere

    ao %ue acan designa meta4oricamente pelo 9utro\ +idi(id., p.-77. $l5m disso, o 3recal%ue %ue

    caracteri!a o \es%uecimento n@mero-\ regula +... a relao entre dito e no&dito no \es%uecimento

    n@mero 2\, onde se estrutura a se%u;ncia discursi)a. Isto de)e ser compreendido no sentido em %ue,

    para acan, \todo discurso 5 ocultao do inconsciente\ +idi(id., p.-7G. "m outras pala)ras, o sujeito

    no se sa(e 4ragmentado de)ido ao a4etamento %ue so4re do 9utro e, por isso, so4re a necessria

    ilusof de ser a origem do di!er.

    -.2. $ F$H$ como tentati)a +inconsciente de reconstruo do sujeito

    Na 3necessria iluso 4undante6 +de sua unicidade e de ser origem do di!er, o sujeito se

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    reconstr'i como unidade no ato 4alho, %ue 5 de carter no pre)isA)el e %ue 3de algum modo mostra

    para o sujeito +moi a sua 4alta e a incompletude do sim('lico. $lgo %ue imediatamente 5 resgatado,

    imaginariamente consertado +... por essa instCncia do sujeito centrado +moi, %ue se representa

    +necessariamente como unidade indi)isa6 +$ZI$NI, jan. 288/, p. 08.

    9 ato 4alho re)ela a incompletude do sujeito. Dara acan, o sujeito tender a 3completar sua

    4alta6 +N$SI9, -7, p.-8G. 9 conceito de identi4icao imaginria lacaniana, %ue denomina essa

    relao entre o 3moi6 e o trao ausente, 5 a 4uso do eu com sua parte 4urada. +N$SI9, -7, p.--7.

    Isso por%ue a 4alta 5 algo %ue nos completa pela aus;ncia. Dor isso, 5 algo constituti)o do sujeito

    ideol'gico e do sujeito do inconsciente, %ue se mo)e pelo desejo de completude. "sse inconsciente 5 o

    mesmo %ue aparece na materialidade lingAstica atra)5s dos acidentes da lAngua +lapsos, chistes e atos

    4alhos +"$NOZ9 F"ZZ"IZ$, 288/, p. -. Nasio lem(ra %ue 3o termo sujeito do inconsciente no

    designa a pessoa %ue se engana ao 4alar, nem tampouco seu eu consciente ou inconsciente, mas

    nomeia uma instCncia altamente a(strata e, 4inalmente no su(jeti)a6 +gri4o meu +N$SI9, -7,

    p. --?

    M a 4alta, mani4estada nos acidentes da lAngua, %ue a(re espao para o desli!amento de sentido,

    possi(ilitando a polissemia. M precisamente em torno dessa 4alta, o lugar do impossA)el na lAngua, %ue

    o inconsciente se estrutura. acan cunha o termo lalangue +alAngua para designar o lugar dessa 4alta.

    $ssim, lalangue, ao representar o lugar do impossA)el na ordem da lAngua, indica um 3real da lAngua

    sem (ordas suturadas, atra)essado por 4alhas, atestadas pela exist;ncia do lapso, do chiste +... %ue o

    desorgani!am1desestrati4icam sem apag&lo6 +DbVP", -GG, p./-.

    acan temati!a o real de dois modos: -& o real 5 o impossA)el de ser sim(oli!ado e 2& o real 5 o

    %ue retorna sempre ao mesmo lugar. Hudo comea a partir dele. eandro Ferreira escre)e %ue 3o real

    5, portanto, o n@cleo do inconsciente6 +"$NOZ9 F"ZZ"IZ$, de!. 2880, p. 07&0.

    $ (usca pela completude do sujeito tende ao in4inito +4a!er m. Vitando acan, 3s' h causa

    da%uilo %ue 4alha6, D;cheux dir %ue 3essa causa %ue 4alha6 se 3mani4esta6 incessantemente +o lapso,

    o ato 4alho, etc. no pr'prio sujeito, pois os traos inconscientes do signi4icante no so jamais

    3apagados6 ou 3es%uecidos6, mas atuam no sujeito 4ragmentado +$ZI$NI, 288?, p.2. $ mxima

    lacaniana \penso onde no sou e sou onde no penso\ +$V$N +-/7, -G, p. /2- atesta 3a

    impossi(ilidade de o sujeito tornar&se 3completo ao tentar 4a!er&m com a lAngua e %ue algo escapa ao

    di!er desse mesmo sujeito6 +$Z"$N9, 288G, D.--B. Nessa (usca in4inita pela completude +e na repetio in4initada 4alha, ocorre a irrupo do e%uA)oco, %ue 3a4eta o real da hist'ria6 e 3aparece como o ponto onde o impossA)el+lingAstico )em se conjugar contradio +hist'rica< o ponto onde a lAngua toca a hist'ria6 +DbVP", -G-, p.B2.

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    Dortanto, em )ista do %ue 4oi posto, podemos delimitar %ue o sujeito 5 4ragmentado +no

    apenas desdo(rado ideologicamente por um processo inconsciente de a4etamento pelo 9utro %ue

    impe, ao sujeito, a incessante (usca por completude e causa, conse%uentemente, a in4inita repetiodas 4alhas,mani4estadas na linguagem atra)5s do chiste, lapso, ato 4alho e e%uA)oco. M o e%uA)oco %ue

    tornar possA)el a polissemia e o desli!amento de sentidos, am(os constituintes de posies&autor

    di4erentes e1ou contradit'rias numa mesma 4ormao discursi)a. Dor isso, 5 possA)el di!er %ue o

    sujeito 5 4ragmentado ideologicamente, al5m de ser descentrado pela interpelao hist'rica e pelo

    inconsciente.

    ".3.#etero$eneidade %onstituti&a

    "ste sujeito 4ragmentado da $O&?, 5 a (ase da teoria da heterogeneidade constituti)a do discurso +e das FO. $ autoramostra %ue o di!er desse sujeito 4ragmentado sempre est carregado de um di!er %ue )em de outro lugar, 5 umdiscurso heterog;neo +$HPI"Z&Z"LT, -8.

    No entanto, essa heterogeneidade no 5 o mesmo conceito tra(alhado por ]aUhtin. Vomo destaca a autora, ]aUhtin

    ignora a cli)agem do inconsciente e o 9utro +id, 2888. Dara $uthier&Ze)u! o sujeito ser, 3assujeitado aoinconsciente e preso incessante tentati)a de 4a!er com a lAngua6 +$Z"$N9, 288G, p. --B. Nessa tentati)a,como )imos acima, o sujeito (usca preencher sua 4alta estruturante. M nessa (usca %ue o sujeito mostra&se4ragmentado e interpelado ideologicamente de 4orma heterog;nea.

    $uthier&Ze)u! +$HPI"Z&Z"LT, -G pre); uma heterogeneidade mostrada textualdiscursi)amente, %ue re)elaa presena do outro&discursi)o de 4orma marcada, como no uso de aspas, e uma heterogeneidade constituti)a. $autora lem(ra %ue o sujeito no 5 duplo mas di)idido, 5 um sujeito no&psicol'gico, expresso de uma di)iso."ntretanto, a 3iluso de unicidade6 permanece como categoria inerente constituio do sujeito, 3permitindo %ue osujeito 4uncione como no&6 +idi(id, -G, p. -G7. M na tentati)a de 4a!er& com a lAngua, %ue o sujeito re)ela

    um discurso heterogeneamente constituAdo, pois tenta tornar seu dito 4echado e transparente, ou seja, o sujeito cr; %uedomina seu di!er. Dor exemplo, na enunciao 3)oc; 5 uma deusa grega, como di!em nas no)elas, %uando usa esse)estido6, o termo 3como di!em nas no)elas6 mostra %ue algo 34ala, independentemente, antes e em outro lugar6.Oessa 4orma, o discurso mostra&se heterogeneamente constituAdo por uma 34ala anterior6, em termo de $O, ointerdiscurso, conjunto do j&dito, a4eta o intradiscurso, o 4io do discurso. "sse modo de negociao 5 assinalado porpontos de no&coincid;ncia ou de heterogeneidade do di!er. "ssa heterogeidade torna o discurso opaco, 3re)elando%ue h algo %ue o sujeito no domina e %ue se 4a! presente em seu di!er6 +$Z"$N9, 288G, D. -28. $ opacidadedo discurso re)ela o sujeito em seu desejo de 4a!er&m com a lAngua, +preencher sua 4alta, completando&se e suarelao com o 9utro. Voncluso "speramos no ter cedido, neste tra(alho, ao impulso reducionista de 3psicanali!arconceitos da $O.6 $o contrrio, mesmo de 4orma irris'ria e tAmida, 4oi nosso o(jeti)o participar dos3)islum(reste'ricos penetrando a o(scuridade6 +_$O"H ` P$, i(id. p.-0 da relao entrematerialidade hist'rico&discursi)ae o inconsciente lacaniano. Vremos ser possA)el sugerir %ue o a4etamento do sujeito pelo 9utro coopera na

    4ragmentao do sujeito. Oessa 4orma, o sujeito no 5 apenas desdo(rado, mas re)ela&se descentrado por um processode interpelao ideol'gica e assujeitamento inconsciente. M esse assujeitamento, o a4etamento pelo 9utro, %ue impe,ao sujeito, a incessante (usca por completude na (usca em 4a!er com a lAngua. "ssa (usca, por sua )e!, causa ain4inita repetio das 4alhas, mani4estadas na linguagem atra)5s do chiste, lapso, ato 4alho e e%uA)oco. 9e%uA)oco1ato 4alho torna possA)el, no discurso, a polissemia e o desli!amento de sentidos, am(os indicadores deposies&autor di4erentes e1ou contradit'rias numa mesma 4ormao discursi)a. Dor isso, 5 possA)el di!er %ue osujeito, ao tomar di4erentes posies&sujeito, re)ela seu carter 4ragmentado, causado pela interpelao hist'rica epela assujeitamento inconsciente.

    3No h ritual sem 4alhas6, j di!ia D;cheux ao citar acan... +D;cheux, -GG, p.?8-.