Sorria, você está no Street View.
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>> Tudo começa com a coleta dasimagens, com a câmera 360 graus
instalada no topo dos carros. Nointerior dos veículos, um
computador armazena omaterial.
INFORMÁTICAE S T A D O D E M I N A S ● Q U I N T A - F E I R A , 7 D E O U T U B R O D E 2 0 1 0
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MMAATTÉÉRRIIAA DDEE CCAAPPAAFotos de crimes levam constrangimento à estreia do Google Street View no Brasil, mas serviço agrada a turistas virtuais. Reações das pessoas retratadas diferem e há quem adore virar celebridade
NA CENA, POR ACASO…FREDERICO BOTTREL
A despeito de um ou outro deslize oca-sional de flagrantes constrangedores, nãohá como negar que o Google Street Viewé ferramenta impressionante e divertida.Apertando setinhas que indicam os cami-nhos, é possível fazer verdadeiras viagensvirtuais, o que transforma o serviço emaliado incomparável para planejar via-gens ou mesmo incursões a bairros cujostrajetos não se domina.
As imagens que compõem a base dedados do Street View foram capturadasdurante ronda de carros do Google muni-dos de uma espécie de antena, no topo daqual estava instalada uma câmera de 360graus. Por onde o carro passou, em julhode 2009, capturou o que rolava na hora. (Apartir de agora, vai circular também oGOOGLE TRIKE, triciclo adaptado com omesmo equipamento. Como é mais leve esem motor, pode ir a parques, praças, orla eestádiosdefutebol,completandooserviço.)
Cento e cinquenta mil quilômetrosdepois, imagens tratadas e processadas,entraram no ar, há uma semana, os ma-pas interativos de mais de 51 municípiosbrasileiros – as capitais Belo Horizonte, Riode Janeiro e São Paulo e as cidades históri-cas mineiras, como Congonhas, Marianae Tiradentes, são os destaques.
Imagens como as da cena de crime noBarreiro, ou o rapaz VOMITANDO NASAVASSI, devem sair do ar tão logo a em-presa receba a denúncia, isso de acordocom o próprio Google. O corpo estiradona via pública, no Rio de Janeiro, flagradopelo Street View foi a primeira grande po-lêmica. “Foi uma infelicidade enorme,mas uma das coisas que aquilo demons-trou, apesar de ser experiência forte desa-gradável, foi o desejo e agilidade do Goo-gle em retirar do ar esse tipo de coisa”, de-fende Marcelo Quintella, responsável pe-lo Street View no Brasil.
A medida, na opinião do professorCarlos Falci, da Escola de Belas Artes daUFMG, não é ideal. “O Google apaga a ima-gem e é como se eximisse da responsabi-lidade. Na verdade o Street View é um des-ses mecanismos que produzem memória,produzem história, e apagar essa memó-ria não anula o que fizeram, uma vez quemuitas pessoas já viram os conteúdos an-tes da remoção”, acredita o pesquisadorde cultura, narrativas e meios digitais.
Para ele, uma das questões que a fer-ramenta incita é a discussão do espaçopúblico e do que chamamos de direito àprivacidade. As mazelas brasileiras mos-tradas no serviço também merecem aten-ção: se o país não é só corpo morto estira-do no chão e cena de investigação policial,não há como negar que também há issonas ruas brasileiras. “Seria interessante se,em vez de simplesmente retirar do ar oconteúdo, o Google abrisse um fórum dediscussão sobre tudo isso; a ferramentatambém tem esse potencial.”
De qualquer maneira, o serviço agregarecurso interessantíssimo ao Google Maps.Fácil de usar, o Street View ganha pontos nasimplicidade: a partir de uma pesquisa co-mum no serviço de mapas, basta arrastaro bonequinho amarelo conhecido comoPegman, ícone do serviço, e posicioná-lo notrecho que deseja visualizar, a partir doponto de vista da rua. O serviço abre o ma-pa tridimensional na mesma tela e, paranavegar, basta seguir as setas.
CONCURSO Por falar no boneco, o Googlelançou o concurso Encontre o Pegman. Opersonagem ficará escondido por um dianas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,dando pistas de seu paradeiro no twitter(@googlebrasil) e no blog oficial do Goo-gle (googleblog.blogspot.com). Quem en-contrá-lo deve mandar o link do GoogleMaps para um endereço que estará no si-te (www.exploreostreetview.com.br) epassará a concorrer a 20 smartphonescom sistema operacional Android.
SUGERE AÍ!Para tornar a ferramenta mais interativa, oGoogle aceitará sugestões dos internautassobre os locais que gostariam de vermapeados pelo triciclo. Sugestões podemser enviadas no sitewww.exploreostreetview.com.br. Os lugaresmais votados serão listados e terãoprioridade na captação das imagens.
SHOW DE HORRORESO blog www.googlestreetview.com.brse dedica a coletar imagens curiosascaptadas pelas câmeras do StreetView. Batidas policiais, acidentes e atéo flagrante do carro da pitorescadesentupidora Rola Bosta mereceramdestaque.
Foi umainfelicidadeenorme, masuma das coisasque aquilodemonstrou,apesar de serexperiência fortedesagradável,foi o desejo eagilidade doGoogle emretirar do ar essetipo de coisa■■ Marcelo Quintella, responsável
pelo Google Street View no Brasil
HISTÓRIA PARA CONTARAté a semana passada, quem
planejava uma viagem a Ouro Pre-to pelo Google Maps poderia esbar-rar em imprevistos chatíssimos, naforma das ladeiras que marcam ostortuosos caminhos da cidade his-tórica e que surgiam sem avisar nomeio do passeio. Vistos de cima, ostrajetos não denunciavam o relevo
– elemento que, ali mais que emqualquer outro lugar, não pode serignorado. O Street View, que játrouxe no lançamento um conjun-to de cidades históricas mineiras,resolve isso brilhantemente.
Na viagem virtual que o serviçopropõe, é possível fazer os trajetosentre os principais pontos turísticos
da cidade, como de praxe no GoogleMaps. A novidade é poder mergu-lhar no espaço e visualizar as atra-ções em detalhes – muitas delas, co-mo a Igreja de São Francisco de As-sis, em Ouro Preto, têm bancos deimagens adicionais, com fotos em3D e em alta definição, que trazemdetalhes sobre obras que ornamen-
tam as fachadas, por exemplo.O material é fantástico para
quem gosta de se planejar bem an-tes de uma viagem. Só não forammapeadas as vielas por onde os car-ros não conseguiam transitar. Ago-ra quando encarar as subidas e des-cidas, o turista já pode ir preparado,sem surpresas no caminho.
COMO FUNCIONA
Cena do jovem se aliviando na Savassi e do corpo no chão no Barreiro poderão sair do ar, mas, para isso, é preciso que a Google receba denúncia de usuários
Seria interessante
se, em vez de
simplesmente
retirar do ar
o conteúdo,
o Google abrisse
a discussão sobre
isso; a ferramenta
tem esse potencial
■■ Carlos Falci, professor da
Escola de Belas Artes da UFMG
MARIA TEREZA CORREIA/EM/D. A PRESS
BETO MAGALHÃES/EM/D. A PRESS
>> As fotos são tratadas nos EUA. Osrostos e placas de carros são borradose um sistema processa o conteúdo,para a navegação em três dimensões.
>> Já no ar, o sistema é atrelado ao Google Maps. Parausar, basta arrastar esse bonequinho amarelo, oPegman, para o trecho do mapa que deseja visualizar.
>> O Street View exibe umpanorama da rua,navegável a partir dassetas em círculo àesquerda. Para avançar,pode-se clicar nassetas do trajeto ou darduplo clique emqualquer área da tela.
Placas de carros e rostos borradose retirada do conteúdo do ar após a re-clamação do usuário não eximem oGoogle da responsabilidade, caso a ex-posição no Street View fira a privaci-dade de alguém. Essa é a opinião dosespecialistas com os quais o Informá-tic@ conversou sobre o assunto. “Tra-tar as fotos para embaçar os rostos po-deria resolver talvez só a questão daimagem do fotografado. O problemapode ser maior do que isso”, diz Ale-xandre Atheniense, advogado espe-cializado em direito tecnológico.
Para o professor da Faculdade deDireito da UFMG Brunello SouzaStancioli, a questão começa no traba-lho de captura das fotos: “As pessoasnão são informadas de que suas ima-gens estão sendo captadas naquele
momento. Já começa pelo não con-sentimento”. O professor lembra obarulho causado nos EUA e Europa eaguarda, curioso, a repercussão noBrasill, embora seja um fã confessodo Google.
“A privacidade não tem só a vercom o lugar em que a pessoa está, seé um lugar privado ou público. Por-que posso estar em um local público,como as ruas, e querer ter controlesobre as minhas informações – aon-de vou, por exemplo”, diz Stancioli.Atheniense completa: “Uma foto dacasa da pessoa ou de alguém em umambiente que seja inerente aos hábi-tos privados dela pode revelar ques-tões de esfera íntima, por mais queesteja vulnerável a ser descortinadano espaço público”.
A questão é a transposição para ainternet. “Quando você congela essemundo real e coloca no virtual, dáacesso, em potencial, a toda a huma-nidade. E é possível congelar situa-ções que hiperexponham as pessoas.Para uma rede de conhecidos, mes-mo com rosto embaçado, é fácil reco-nhecer, por exemplo, um amigo sain-do do motel.”
Além disso, depois de publicado, oestrago está feito. Retirar o conteúdodo ar, horas depois, não livra a barrado Google, de acordo com os especia-listas. O conselho de Stancioli, antesde o usuário reportar a denúncia, é fa-zer um print-screen da imagem, parase resguardar juridicamente, caso ha-ja necessidade de processar a empre-sa. (Colaborou Shirley Pacelli)
PRIVACIDADE EM JOGO
SORRIA, VOCÊ ESTÁNO STREET VIEW!
Se um carro com uma paraferná-lia de câmeras passou por você no úl-timo ano, acredite: seus 15 minutosde fama estão próximos. Depois dolançamento de algumas capitais bra-sileiras (dentre elas a mineira) no Goo-gle Street View, as descobertas de suaspróprias imagens, no site, pelos belo-rizontinos estão "pipocando" e háquem adore esta novidade.
É o caso do veterinário BrunoGalli, que define a ferramenta comofantástica e se entusiasmou ao seachar no site: "Saí e virei fã do Google",brinca. Um amigo de Bruno, queatualmente mora no Rio de Janeiro,postou numa rede social fotos da an-tiga casa dele em Minas. Todas tiradaspelo Street View. Depois disso, Galli selembrou que o carro da empresa tam-bém havia passado por ele.
O veterinário resolveu então seprocurar pelo mapa e levou um sustoquando realmente achou a imagem."Há um tempo, num domingo de ma-nhã, um Doblô vermelho, parecendoum ‘carro espacial’, passou na rua auma velocidade muito baixa, a uns40km/h. Eu estava sozinho na rua sen-tado na calçada. Ainda me lembro deme questionar: o que o Google está fa-zendo aqui?", recorda.
Bruno não se incomodou em apa-recer na web e, se questionado sobrea polêmica da privacidade, afirma:
"Mesmo se estivesse em uma situaçãoconstrangedora, não é culpa do Goo-gle. Não posso responsabilizá-lo pelosmeus atos. Estou na rua". Em defesado Street View, ele enumera as vanta-gens da ferramenta: "Dá para mostraraos amigos seu local de trabalho, suacasa e outros pontos de referência quesó com o mapa não é possível", diz.
Quem também destaca essa qua-lidade do site é o empresário TiagoCussiol. "No mapa, as pessoas têmdificuldade de entender o caminho",explica. Ele foi outro belo-horizonti-no flagrado pelo Street View e gos-tou tanto que espalhou o link daimagem no Twitter.
Teve mineiro até que foi flagradolonge de casa, no estado fluminense,durante as férias no início do ano. Ro-mulo Avelar, gestor cultural, saía comum amigo da estação de metrô de Ipa-nema, no Rio de Janeiro, quando viu ocarro passando. As fotos mostram seuolhar seguindo o veículo nada discre-to. "Olha o carro do Google StreetView!", sugere ele, como legenda dafoto. Segundo o gestor, a imagem nãoo perturbou em nada, mesmo porqueesfumaçaram o seu rosto para evitara identificação.
SEM CHANCE DE PROTEÇÃO Já LucasDurães, estudante de arquitetura quetambém foi clicado pelo veículo, pon-
dera a atuação da companhia. "Nãocheguei a me incomodar com a foto,porque foi tirada numa situação coti-diana. Mas é um pouco de falta de pri-vacidade. Tem a questão do uso deimagem e, neste caso, não pedem au-torização para ninguém. Além disso,não vi nenhuma identificação doGoogle no veículo, para dar oportuni-dade de quem não quer aparecer narede de se proteger", ressalva.
O universitário foi surpreendidopela passagem do carro quando esta-va com amigos e um professor numalanchonete. Na época, estava no 3ºperíodo, hoje já cursa o 6º. Apesar dainconveniência, o estudante conside-ra os benefícios que o site pode tra-zer, principalmente, para um cursode arquitetura.
"Tinha uma professora que davaaulas de urbanismo. Ela falava doStreet View em outros países e diziaque isso ainda iria mudar o mundo,que era um passo importante. Umavisão meio apocalíptica... O site iriame ajudar muito com a matéria de-la", conta Lucas.
Houve também quem foi "clica-do" e ainda não ficou sabendo. JulianaBaeta, estudante de jornalismo, revelaque achou a foto de sua mãe e umaamiga pelo Google Maps. Mas, comoelas não acessam muito a web, prefe-riu não comentar a novidade.
O universitárioLucas Durães foisurpreendidoquando estavacom amigos eum professornumalanchonetena Savassi
Romulo Avelar,gestor cultural,
saía com umamigo da
estação demetrô deIpanema,no Rio de
Janeiro, quandofoi flagrado
Bruno Galli se lembra deter achado “estranho”passarum “carro espacial” pela rua
JUAREZ RODRIGUES/EM/D. A PRESS
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