Sorria, você está no Street View.

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>> Tudo começa com a coleta das imagens, com a câmera 360 graus instalada no topo dos carros. No interior dos veículos, um computador armazena o material. INF ORMÁTICA ESTADO DE MINAS Q U I N T A - F E I R A , 7 D E O U T U B R O D E 2 0 1 0 5 4 MATÉRIA DE CAPA Fotos de crimes levam constrangimento à estreia do Google Street View no Brasil, mas serviço agrada a turistas virtuais. Reações das pessoas retratadas diferem e há quem adore virar celebridade NA CENA, POR ACASO… FREDERICO BOTTREL A despeito de um ou outro deslize oca- sional de flagrantes constrangedores, não há como negar que o Google Street View é ferramenta impressionante e divertida. Apertando setinhas que indicam os cami- nhos, é possível fazer verdadeiras viagens virtuais, o que transforma o serviço em aliado incomparável para planejar via- gens ou mesmo incursões a bairros cujos trajetos não se domina. As imagens que compõem a base de dados do Street View foram capturadas durante ronda de carros do Google muni- dos de uma espécie de antena, no topo da qual estava instalada uma câmera de 360 graus. Por onde o carro passou, em julho de 2009, capturou o que rolava na hora. (A partir de agora, vai circular também o GOOGLE TRIKE, triciclo adaptado com o mesmo equipamento. Como é mais leve e sem motor, pode ir a parques, praças, orla e estádios de futebol, completando o serviço.) Cento e cinquenta mil quilômetros depois, imagens tratadas e processadas, entraram no ar, há uma semana, os ma- pas interativos de mais de 51 municípios brasileiros – as capitais Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo e as cidades históri- cas mineiras, como Congonhas, Mariana e Tiradentes, são os destaques. Imagens como as da cena de crime no Barreiro, ou o rapaz VOMITANDO NA SAVASSI, devem sair do ar tão logo a em- presa receba a denúncia, isso de acordo com o próprio Google. O corpo estirado na via pública, no Rio de Janeiro, flagrado pelo Street View foi a primeira grande po- lêmica. “Foi uma infelicidade enorme, mas uma das coisas que aquilo demons- trou, apesar de ser experiência forte desa- gradável, foi o desejo e agilidade do Goo- gle em retirar do ar esse tipo de coisa”, de- fende Marcelo Quintella, responsável pe- lo Street View no Brasil. A medida, na opinião do professor Carlos Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, não é ideal. “O Google apaga a ima- gem e é como se eximisse da responsabi- lidade. Na verdade o Street View é um des- ses mecanismos que produzem memória, produzem história, e apagar essa memó- ria não anula o que fizeram, uma vez que muitas pessoas já viram os conteúdos an- tes da remoção”, acredita o pesquisador de cultura, narrativas e meios digitais. Para ele, uma das questões que a fer- ramenta incita é a discussão do espaço público e do que chamamos de direito à privacidade. As mazelas brasileiras mos- tradas no serviço também merecem aten- ção: se o país não é só corpo morto estira- do no chão e cena de investigação policial, não há como negar que também há isso nas ruas brasileiras. “Seria interessante se, em vez de simplesmente retirar do ar o conteúdo, o Google abrisse um fórum de discussão sobre tudo isso; a ferramenta também tem esse potencial.” De qualquer maneira, o serviço agrega recurso interessantíssimo ao Google Maps. Fácil de usar, o Street View ganha pontos na simplicidade: a partir de uma pesquisa co- mum no serviço de mapas, basta arrastar o bonequinho amarelo conhecido como Pegman, ícone do serviço, e posicioná-lo no trecho que deseja visualizar, a partir do ponto de vista da rua. O serviço abre o ma- pa tridimensional na mesma tela e, para navegar, basta seguir as setas. CONCURSO Por falar no boneco, o Google lançou o concurso Encontre o Pegman. O personagem ficará escondido por um dia nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, dando pistas de seu paradeiro no twitter (@googlebrasil) e no blog oficial do Goo- gle (googleblog.blogspot.com). Quem en- contrá-lo deve mandar o link do Google Maps para um endereço que estará no si- te (www.exploreostreetview.com.br)e passará a concorrer a 20 smartphones com sistema operacional Android. SUGERE AÍ! Para tornar a ferramenta mais interativa, o Google aceitará sugestões dos internautas sobre os locais que gostariam de ver mapeados pelo triciclo. Sugestões podem ser enviadas no site www.exploreostreetview.com.br. Os lugares mais votados serão listados e terão prioridade na captação das imagens. SHOW DE HORRORES O blog www.googlestreetview.com.br se dedica a coletar imagens curiosas captadas pelas câmeras do Street View. Batidas policiais, acidentes e até o flagrante do carro da pitoresca desentupidora Rola Bosta mereceram destaque. Foi uma infelicidade enorme, mas uma das coisas que aquilo demonstrou, apesar de ser experiência forte desagradável, foi o desejo e agilidade do Google em retirar do ar esse tipo de coisa Marcelo Quintella, responsável pelo Google Street View no Brasil HISTÓRIA PARA CONTAR Até a semana passada, quem planejava uma viagem a Ouro Pre- to pelo Google Maps poderia esbar- rar em imprevistos chatíssimos, na forma das ladeiras que marcam os tortuosos caminhos da cidade his- tórica e que surgiam sem avisar no meio do passeio. Vistos de cima, os trajetos não denunciavam o relevo – elemento que, ali mais que em qualquer outro lugar, não pode ser ignorado. O Street View, que já trouxe no lançamento um conjun- to de cidades históricas mineiras, resolve isso brilhantemente. Na viagem virtual que o serviço propõe, é possível fazer os trajetos entre os principais pontos turísticos da cidade, como de praxe no Google Maps. A novidade é poder mergu- lhar no espaço e visualizar as atra- ções em detalhes – muitas delas, co- mo a Igreja de São Francisco de As- sis, em Ouro Preto, têm bancos de imagens adicionais, com fotos em 3D e em alta definição, que trazem detalhes sobre obras que ornamen- tam as fachadas, por exemplo. O material é fantástico para quem gosta de se planejar bem an- tes de uma viagem. Só não foram mapeadas as vielas por onde os car- ros não conseguiam transitar. Ago- ra quando encarar as subidas e des- cidas, o turista já pode ir preparado, sem surpresas no caminho. COMO FUNCIONA Cena do jovem se aliviando na Savassi e do corpo no chão no Barreiro poderão sair do ar, mas, para isso, é preciso que a Google receba denúncia de usuários Seria interessante se, em vez de simplesmente retirar do ar o conteúdo, o Google abrisse a discussão sobre isso; a ferramenta tem esse potencial Carlos Falci, professor da Escola de Belas Artes da UFMG MARIA TEREZA CORREIA/EM/D. A PRESS BETO MAGALHÃES/EM/D. A PRESS >> As fotos são tratadas nos EUA. Os rostos e placas de carros são borrados e um sistema processa o conteúdo, para a navegação em três dimensões. >> Já no ar, o sistema é atrelado ao Google Maps. Para usar, basta arrastar esse bonequinho amarelo, o Pegman, para o trecho do mapa que deseja visualizar. >> O Street View exibe um panorama da rua, navegável a partir das setas em círculo à esquerda. Para avançar, pode-se clicar nas setas do trajeto ou dar duplo clique em qualquer área da tela. Placas de carros e rostos borrados e retirada do conteúdo do ar após a re- clamação do usuário não eximem o Google da responsabilidade, caso a ex- posição no Street View fira a privaci- dade de alguém. Essa é a opinião dos especialistas com os quais o Informá- tic@ conversou sobre o assunto. “Tra- tar as fotos para embaçar os rostos po- deria resolver talvez só a questão da imagem do fotografado. O problema pode ser maior do que isso”, diz Ale- xandre Atheniense, advogado espe- cializado em direito tecnológico. Para o professor da Faculdade de Direito da UFMG Brunello Souza Stancioli, a questão começa no traba- lho de captura das fotos: “As pessoas não são informadas de que suas ima- gens estão sendo captadas naquele momento. Já começa pelo não con- sentimento”. O professor lembra o barulho causado nos EUA e Europa e aguarda, curioso, a repercussão no Brasill, embora seja um fã confesso do Google. “A privacidade não tem só a ver com o lugar em que a pessoa está, se é um lugar privado ou público. Por- que posso estar em um local público, como as ruas, e querer ter controle sobre as minhas informações – aon- de vou, por exemplo”, diz Stancioli. Atheniense completa: “Uma foto da casa da pessoa ou de alguém em um ambiente que seja inerente aos hábi- tos privados dela pode revelar ques- tões de esfera íntima, por mais que esteja vulnerável a ser descortinada no espaço público”. A questão é a transposição para a internet. “Quando você congela esse mundo real e coloca no virtual, dá acesso, em potencial, a toda a huma- nidade. E é possível congelar situa- ções que hiperexponham as pessoas. Para uma rede de conhecidos, mes- mo com rosto embaçado, é fácil reco- nhecer, por exemplo, um amigo sain- do do motel.” Além disso, depois de publicado, o estrago está feito. Retirar o conteúdo do ar, horas depois, não livra a barra do Google, de acordo com os especia- listas. O conselho de Stancioli, antes de o usuário reportar a denúncia, é fa- zer um print-screen da imagem, para se resguardar juridicamente, caso ha- ja necessidade de processar a empre- sa. (Colaborou Shirley Pacelli) PRIVACIDADE EM JOGO SORRIA, VOCÊ ESTÁ NO STREET VIEW! Se um carro com uma paraferná- lia de câmeras passou por você no úl- timo ano, acredite: seus 15 minutos de fama estão próximos. Depois do lançamento de algumas capitais bra- sileiras (dentre elas a mineira) no Goo- gle Street View, as descobertas de suas próprias imagens, no site, pelos belo- rizontinos estão "pipocando" e há quem adore esta novidade. É o caso do veterinário Bruno Galli, que define a ferramenta como fantástica e se entusiasmou ao se achar no site: "Saí e virei fã do Google", brinca. Um amigo de Bruno, que atualmente mora no Rio de Janeiro, postou numa rede social fotos da an- tiga casa dele em Minas. Todas tiradas pelo Street View. Depois disso, Galli se lembrou que o carro da empresa tam- bém havia passado por ele. O veterinário resolveu então se procurar pelo mapa e levou um susto quando realmente achou a imagem. "Há um tempo, num domingo de ma- nhã, um Doblô vermelho, parecendo um ‘carro espacial’, passou na rua a uma velocidade muito baixa, a uns 40km/h. Eu estava sozinho na rua sen- tado na calçada. Ainda me lembro de me questionar: o que o Google está fa- zendo aqui?", recorda. Bruno não se incomodou em apa- recer na web e, se questionado sobre a polêmica da privacidade, afirma: "Mesmo se estivesse em uma situação constrangedora, não é culpa do Goo- gle. Não posso responsabilizá-lo pelos meus atos. Estou na rua". Em defesa do Street View, ele enumera as vanta- gens da ferramenta: "Dá para mostrar aos amigos seu local de trabalho, sua casa e outros pontos de referência que só com o mapa não é possível", diz. Quem também destaca essa qua- lidade do site é o empresário Tiago Cussiol. "No mapa, as pessoas têm dificuldade de entender o caminho", explica. Ele foi outro belo-horizonti- no flagrado pelo Street View e gos- tou tanto que espalhou o link da imagem no Twitter. Teve mineiro até que foi flagrado longe de casa, no estado fluminense, durante as férias no início do ano. Ro- mulo Avelar, gestor cultural, saía com um amigo da estação de metrô de Ipa- nema, no Rio de Janeiro, quando viu o carro passando. As fotos mostram seu olhar seguindo o veículo nada discre- to. "Olha o carro do Google Street View!", sugere ele, como legenda da foto. Segundo o gestor, a imagem não o perturbou em nada, mesmo porque esfumaçaram o seu rosto para evitar a identificação. SEM CHANCE DE PROTEÇÃO Já Lucas Durães, estudante de arquitetura que também foi clicado pelo veículo, pon- dera a atuação da companhia. "Não cheguei a me incomodar com a foto, porque foi tirada numa situação coti- diana. Mas é um pouco de falta de pri- vacidade. Tem a questão do uso de imagem e, neste caso, não pedem au- torização para ninguém. Além disso, não vi nenhuma identificação do Google no veículo, para dar oportuni- dade de quem não quer aparecer na rede de se proteger", ressalva. O universitário foi surpreendido pela passagem do carro quando esta- va com amigos e um professor numa lanchonete. Na época, estava no 3º período, hoje já cursa o 6º. Apesar da inconveniência, o estudante conside- ra os benefícios que o site pode tra- zer, principalmente, para um curso de arquitetura. "Tinha uma professora que dava aulas de urbanismo. Ela falava do Street View em outros países e dizia que isso ainda iria mudar o mundo, que era um passo importante. Uma visão meio apocalíptica... O site iria me ajudar muito com a matéria de- la", conta Lucas. Houve também quem foi "clica- do" e ainda não ficou sabendo. Juliana Baeta, estudante de jornalismo, revela que achou a foto de sua mãe e uma amiga pelo Google Maps. Mas, como elas não acessam muito a web, prefe- riu não comentar a novidade. O universitário Lucas Durães foi surpreendido quando estava com amigos e um professor numa lanchonete na Savassi Romulo Avelar, gestor cultural, saía com um amigo da estação de metrô de Ipanema, no Rio de Janeiro, quando foi flagrado Bruno Galli se lembra de ter achado “estranho”passar um “carro espacial” pela rua JUAREZ RODRIGUES/EM/D. A PRESS MARCOS VIEIRA/EM/D. A PRESS MARCOS VIEIRA/EM/D. A PRESS FOTOS: GOOGLE STREET VIEW/REPRODUÇÃO DA INTERNET-5/10/10

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"Se um carro com uma parafernália de câmeras passou por você no último ano, acredite: seus 15 minutos de fama estão próximos. Depois do lançamento de algumas capitais brasileiras (dentre elas a mineira) no Google Street View, as descobertas de suas próprias imagens, no site, pelos belorizontinos estão 'pipocando' e há quem adore esta novidade".

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Page 1: Sorria, você está no Street View.

>> Tudo começa com a coleta dasimagens, com a câmera 360 graus

instalada no topo dos carros. Nointerior dos veículos, um

computador armazena omaterial.

INFORMÁTICAE S T A D O D E M I N A S ● Q U I N T A - F E I R A , 7 D E O U T U B R O D E 2 0 1 0

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MMAATTÉÉRRIIAA DDEE CCAAPPAAFotos de crimes levam constrangimento à estreia do Google Street View no Brasil, mas serviço agrada a turistas virtuais. Reações das pessoas retratadas diferem e há quem adore virar celebridade

NA CENA, POR ACASO…FREDERICO BOTTREL

A despeito de um ou outro deslize oca-sional de flagrantes constrangedores, nãohá como negar que o Google Street Viewé ferramenta impressionante e divertida.Apertando setinhas que indicam os cami-nhos, é possível fazer verdadeiras viagensvirtuais, o que transforma o serviço emaliado incomparável para planejar via-gens ou mesmo incursões a bairros cujostrajetos não se domina.

As imagens que compõem a base dedados do Street View foram capturadasdurante ronda de carros do Google muni-dos de uma espécie de antena, no topo daqual estava instalada uma câmera de 360graus. Por onde o carro passou, em julhode 2009, capturou o que rolava na hora. (Apartir de agora, vai circular também oGOOGLE TRIKE, triciclo adaptado com omesmo equipamento. Como é mais leve esem motor, pode ir a parques, praças, orla eestádiosdefutebol,completandooserviço.)

Cento e cinquenta mil quilômetrosdepois, imagens tratadas e processadas,entraram no ar, há uma semana, os ma-pas interativos de mais de 51 municípiosbrasileiros – as capitais Belo Horizonte, Riode Janeiro e São Paulo e as cidades históri-cas mineiras, como Congonhas, Marianae Tiradentes, são os destaques.

Imagens como as da cena de crime noBarreiro, ou o rapaz VOMITANDO NASAVASSI, devem sair do ar tão logo a em-presa receba a denúncia, isso de acordocom o próprio Google. O corpo estiradona via pública, no Rio de Janeiro, flagradopelo Street View foi a primeira grande po-lêmica. “Foi uma infelicidade enorme,mas uma das coisas que aquilo demons-trou, apesar de ser experiência forte desa-gradável, foi o desejo e agilidade do Goo-gle em retirar do ar esse tipo de coisa”, de-fende Marcelo Quintella, responsável pe-lo Street View no Brasil.

A medida, na opinião do professorCarlos Falci, da Escola de Belas Artes daUFMG, não é ideal. “O Google apaga a ima-gem e é como se eximisse da responsabi-lidade. Na verdade o Street View é um des-ses mecanismos que produzem memória,produzem história, e apagar essa memó-ria não anula o que fizeram, uma vez quemuitas pessoas já viram os conteúdos an-tes da remoção”, acredita o pesquisadorde cultura, narrativas e meios digitais.

Para ele, uma das questões que a fer-ramenta incita é a discussão do espaçopúblico e do que chamamos de direito àprivacidade. As mazelas brasileiras mos-tradas no serviço também merecem aten-ção: se o país não é só corpo morto estira-do no chão e cena de investigação policial,não há como negar que também há issonas ruas brasileiras. “Seria interessante se,em vez de simplesmente retirar do ar oconteúdo, o Google abrisse um fórum dediscussão sobre tudo isso; a ferramentatambém tem esse potencial.”

De qualquer maneira, o serviço agregarecurso interessantíssimo ao Google Maps.Fácil de usar, o Street View ganha pontos nasimplicidade: a partir de uma pesquisa co-mum no serviço de mapas, basta arrastaro bonequinho amarelo conhecido comoPegman, ícone do serviço, e posicioná-lo notrecho que deseja visualizar, a partir doponto de vista da rua. O serviço abre o ma-pa tridimensional na mesma tela e, paranavegar, basta seguir as setas.

CONCURSO Por falar no boneco, o Googlelançou o concurso Encontre o Pegman. Opersonagem ficará escondido por um dianas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,dando pistas de seu paradeiro no twitter(@googlebrasil) e no blog oficial do Goo-gle (googleblog.blogspot.com). Quem en-contrá-lo deve mandar o link do GoogleMaps para um endereço que estará no si-te (www.exploreostreetview.com.br) epassará a concorrer a 20 smartphonescom sistema operacional Android.

SUGERE AÍ!Para tornar a ferramenta mais interativa, oGoogle aceitará sugestões dos internautassobre os locais que gostariam de vermapeados pelo triciclo. Sugestões podemser enviadas no sitewww.exploreostreetview.com.br. Os lugaresmais votados serão listados e terãoprioridade na captação das imagens.

SHOW DE HORRORESO blog www.googlestreetview.com.brse dedica a coletar imagens curiosascaptadas pelas câmeras do StreetView. Batidas policiais, acidentes e atéo flagrante do carro da pitorescadesentupidora Rola Bosta mereceramdestaque.

Foi umainfelicidadeenorme, masuma das coisasque aquilodemonstrou,apesar de serexperiência fortedesagradável,foi o desejo eagilidade doGoogle emretirar do ar essetipo de coisa■■ Marcelo Quintella, responsável

pelo Google Street View no Brasil

HISTÓRIA PARA CONTARAté a semana passada, quem

planejava uma viagem a Ouro Pre-to pelo Google Maps poderia esbar-rar em imprevistos chatíssimos, naforma das ladeiras que marcam ostortuosos caminhos da cidade his-tórica e que surgiam sem avisar nomeio do passeio. Vistos de cima, ostrajetos não denunciavam o relevo

– elemento que, ali mais que emqualquer outro lugar, não pode serignorado. O Street View, que játrouxe no lançamento um conjun-to de cidades históricas mineiras,resolve isso brilhantemente.

Na viagem virtual que o serviçopropõe, é possível fazer os trajetosentre os principais pontos turísticos

da cidade, como de praxe no GoogleMaps. A novidade é poder mergu-lhar no espaço e visualizar as atra-ções em detalhes – muitas delas, co-mo a Igreja de São Francisco de As-sis, em Ouro Preto, têm bancos deimagens adicionais, com fotos em3D e em alta definição, que trazemdetalhes sobre obras que ornamen-

tam as fachadas, por exemplo.O material é fantástico para

quem gosta de se planejar bem an-tes de uma viagem. Só não forammapeadas as vielas por onde os car-ros não conseguiam transitar. Ago-ra quando encarar as subidas e des-cidas, o turista já pode ir preparado,sem surpresas no caminho.

COMO FUNCIONA

Cena do jovem se aliviando na Savassi e do corpo no chão no Barreiro poderão sair do ar, mas, para isso, é preciso que a Google receba denúncia de usuários

Seria interessante

se, em vez de

simplesmente

retirar do ar

o conteúdo,

o Google abrisse

a discussão sobre

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tem esse potencial

■■ Carlos Falci, professor da

Escola de Belas Artes da UFMG

MARIA TEREZA CORREIA/EM/D. A PRESS

BETO MAGALHÃES/EM/D. A PRESS

>> As fotos são tratadas nos EUA. Osrostos e placas de carros são borradose um sistema processa o conteúdo,para a navegação em três dimensões.

>> Já no ar, o sistema é atrelado ao Google Maps. Parausar, basta arrastar esse bonequinho amarelo, oPegman, para o trecho do mapa que deseja visualizar.

>> O Street View exibe umpanorama da rua,navegável a partir dassetas em círculo àesquerda. Para avançar,pode-se clicar nassetas do trajeto ou darduplo clique emqualquer área da tela.

Placas de carros e rostos borradose retirada do conteúdo do ar após a re-clamação do usuário não eximem oGoogle da responsabilidade, caso a ex-posição no Street View fira a privaci-dade de alguém. Essa é a opinião dosespecialistas com os quais o Informá-tic@ conversou sobre o assunto. “Tra-tar as fotos para embaçar os rostos po-deria resolver talvez só a questão daimagem do fotografado. O problemapode ser maior do que isso”, diz Ale-xandre Atheniense, advogado espe-cializado em direito tecnológico.

Para o professor da Faculdade deDireito da UFMG Brunello SouzaStancioli, a questão começa no traba-lho de captura das fotos: “As pessoasnão são informadas de que suas ima-gens estão sendo captadas naquele

momento. Já começa pelo não con-sentimento”. O professor lembra obarulho causado nos EUA e Europa eaguarda, curioso, a repercussão noBrasill, embora seja um fã confessodo Google.

“A privacidade não tem só a vercom o lugar em que a pessoa está, seé um lugar privado ou público. Por-que posso estar em um local público,como as ruas, e querer ter controlesobre as minhas informações – aon-de vou, por exemplo”, diz Stancioli.Atheniense completa: “Uma foto dacasa da pessoa ou de alguém em umambiente que seja inerente aos hábi-tos privados dela pode revelar ques-tões de esfera íntima, por mais queesteja vulnerável a ser descortinadano espaço público”.

A questão é a transposição para ainternet. “Quando você congela essemundo real e coloca no virtual, dáacesso, em potencial, a toda a huma-nidade. E é possível congelar situa-ções que hiperexponham as pessoas.Para uma rede de conhecidos, mes-mo com rosto embaçado, é fácil reco-nhecer, por exemplo, um amigo sain-do do motel.”

Além disso, depois de publicado, oestrago está feito. Retirar o conteúdodo ar, horas depois, não livra a barrado Google, de acordo com os especia-listas. O conselho de Stancioli, antesde o usuário reportar a denúncia, é fa-zer um print-screen da imagem, parase resguardar juridicamente, caso ha-ja necessidade de processar a empre-sa. (Colaborou Shirley Pacelli)

PRIVACIDADE EM JOGO

SORRIA, VOCÊ ESTÁNO STREET VIEW!

Se um carro com uma paraferná-lia de câmeras passou por você no úl-timo ano, acredite: seus 15 minutosde fama estão próximos. Depois dolançamento de algumas capitais bra-sileiras (dentre elas a mineira) no Goo-gle Street View, as descobertas de suaspróprias imagens, no site, pelos belo-rizontinos estão "pipocando" e háquem adore esta novidade.

É o caso do veterinário BrunoGalli, que define a ferramenta comofantástica e se entusiasmou ao seachar no site: "Saí e virei fã do Google",brinca. Um amigo de Bruno, queatualmente mora no Rio de Janeiro,postou numa rede social fotos da an-tiga casa dele em Minas. Todas tiradaspelo Street View. Depois disso, Galli selembrou que o carro da empresa tam-bém havia passado por ele.

O veterinário resolveu então seprocurar pelo mapa e levou um sustoquando realmente achou a imagem."Há um tempo, num domingo de ma-nhã, um Doblô vermelho, parecendoum ‘carro espacial’, passou na rua auma velocidade muito baixa, a uns40km/h. Eu estava sozinho na rua sen-tado na calçada. Ainda me lembro deme questionar: o que o Google está fa-zendo aqui?", recorda.

Bruno não se incomodou em apa-recer na web e, se questionado sobrea polêmica da privacidade, afirma:

"Mesmo se estivesse em uma situaçãoconstrangedora, não é culpa do Goo-gle. Não posso responsabilizá-lo pelosmeus atos. Estou na rua". Em defesado Street View, ele enumera as vanta-gens da ferramenta: "Dá para mostraraos amigos seu local de trabalho, suacasa e outros pontos de referência quesó com o mapa não é possível", diz.

Quem também destaca essa qua-lidade do site é o empresário TiagoCussiol. "No mapa, as pessoas têmdificuldade de entender o caminho",explica. Ele foi outro belo-horizonti-no flagrado pelo Street View e gos-tou tanto que espalhou o link daimagem no Twitter.

Teve mineiro até que foi flagradolonge de casa, no estado fluminense,durante as férias no início do ano. Ro-mulo Avelar, gestor cultural, saía comum amigo da estação de metrô de Ipa-nema, no Rio de Janeiro, quando viu ocarro passando. As fotos mostram seuolhar seguindo o veículo nada discre-to. "Olha o carro do Google StreetView!", sugere ele, como legenda dafoto. Segundo o gestor, a imagem nãoo perturbou em nada, mesmo porqueesfumaçaram o seu rosto para evitara identificação.

SEM CHANCE DE PROTEÇÃO Já LucasDurães, estudante de arquitetura quetambém foi clicado pelo veículo, pon-

dera a atuação da companhia. "Nãocheguei a me incomodar com a foto,porque foi tirada numa situação coti-diana. Mas é um pouco de falta de pri-vacidade. Tem a questão do uso deimagem e, neste caso, não pedem au-torização para ninguém. Além disso,não vi nenhuma identificação doGoogle no veículo, para dar oportuni-dade de quem não quer aparecer narede de se proteger", ressalva.

O universitário foi surpreendidopela passagem do carro quando esta-va com amigos e um professor numalanchonete. Na época, estava no 3ºperíodo, hoje já cursa o 6º. Apesar dainconveniência, o estudante conside-ra os benefícios que o site pode tra-zer, principalmente, para um cursode arquitetura.

"Tinha uma professora que davaaulas de urbanismo. Ela falava doStreet View em outros países e diziaque isso ainda iria mudar o mundo,que era um passo importante. Umavisão meio apocalíptica... O site iriame ajudar muito com a matéria de-la", conta Lucas.

Houve também quem foi "clica-do" e ainda não ficou sabendo. JulianaBaeta, estudante de jornalismo, revelaque achou a foto de sua mãe e umaamiga pelo Google Maps. Mas, comoelas não acessam muito a web, prefe-riu não comentar a novidade.

O universitárioLucas Durães foisurpreendidoquando estavacom amigos eum professornumalanchonetena Savassi

Romulo Avelar,gestor cultural,

saía com umamigo da

estação demetrô deIpanema,no Rio de

Janeiro, quandofoi flagrado

Bruno Galli se lembra deter achado “estranho”passarum “carro espacial” pela rua

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