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Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Sr. Gerente,
O texto a seguir tem a finalidade de fornecer subsídios para instrução do Processo nº
12182/95-0, de 24/03/1995 que trata de Estudo de Tombamento da “Casa Amarela”, antiga sede
do Sitio Tangará, atual Reitoria do Centro Universitário Fundação Santo André e de toda a área do
Centro Universitário e da Fundação Medicina ABC.
A intenção é traçar um panorama da arquitetura moderna no Brasil, contextualizar o
momento em que se inserem os princípios da nova linguagem e demonstrar como o próprio
poder público se torna o elemento preponderante na difusão dos conceitos modernos, enquanto
patrocinador de obras que buscavam neles, um símbolo de progresso e modernidade.
Santo André, não diferente de outros municípios brasileiros, também possui um rol de
edifícios públicos e projetos viários, implantados nos preceitos da arquitetura e do urbanismo
modernos, a partir do final da década de 1940. Temos como exemplo de grande relevância dessa
arquitetura, os edifícios da Faculdade de Economia e Faculdade de Filosofia, implantados na área
da Fundação Santo André, objeto de estudo deste processo.
Santo André, 13 de setembro de 2010.
Arqta. Fátima Regina Tavella Leal
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Genealogia da Arquitetura Moderna
1- Referências técnicas e construtivas:
Perspectivas apontadas pela engenharia
2 - Referências teóricas:
As críticas de John Ruskin e as propostas de William Morris
A oposição entre máquina e a arte
John Ruskin (1819 – 1900) - Levanta a questão do papel social da arquitetura - Teórico
Willian Moris (1834 – 1896) - Seguidor das idéias de Ruskin – Coloca em prática as teorias
1862 – 1875 Laboratório de artes decorativas
1877 - “as formas artísticas só tem importância se todos podem dela partilhar”
1888 – Associação “Arts and Crafts” - Artes e Ofícios
3 - Referências estéticas:
idéias de rompimento com a estética dos revivalismos e um novo olhar para a natureza
Vanguardas européia: Labrouste meados do século 19
americana: “Escola de Chicago” a partir 1870
1ª e 2ª gerações
Manifestação da Vanguarda no final do século 19 e início do século 20 – O Modernismo
São as primeiras manifestações de uma arquitetura que rompe com as regras do neoclássico, do
neogótico. Rompe com o historicismo e com o revivalismo, em cada lugar foi recebendo nomes
diferentes:
Art Noveau 1892/93 - Bélgica
ferro, natureza, detalhe , movimento/ botânica
Liberty - Itália “Estilo Floreal”
Jungendstil - Alemanha “Estilo Jovem”
Secession – Viena
Modern Style - Inglaterra
Modernismo – Catalunha (Gaudí)
Início do século 20 na Alemanha a Deutscher Werkbund
Associação criada com a intenção de reunir arte, indústria e ofícios por uma qualidade de
desenho.
União de industriais, comerciantes, artesãos, arquitetos, artistas e o Estado.
Conceitos da Deutscher Werkbund SACHLICHKEIT (objetividade, essência, a coisa como ela é)
QUALITÄT (conhecimento eficiência)
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Atuação do Deutscher Werkbund
Arquitetos Produção
Peter Behrens - Dusseeldorf Fábrica de Turbinas - AEG 1914
Hans Poelzig – Breslau Formação da Escola de Artes Aplicadas
Henry Van de Velde – Weimar Exposição da Werkbund - Colônia
Difusão: Através das Publicações
Tinham o princípio de transformar a arte em uma coisa democratizada, queriam produzir objetos
de qualidade artística com preços acessíveis para atingir o homem comum.
Produzir em escala industrial produtos de qualidade o que se acreditava, até então, ser possível
apenas em escala artesanal.
Fusão de Escola de artes aplicadas de Weimar com a academia de Belas Artes de Weimar, que
dá origem à Bauhaus (Walter Gropius 1919)
O Ensino da Bauhaus
-aprender fazendo
-desmontar para remontar em outras bases
-visão dos ofícios como anteparo entre sensibilidade e produção mecanizada
-necessidade de interligação teoria e prática
-vida em comunidade
-não se fala em arte, mas o que se faz é reconhecidamente arte
-perspectiva construtivista, ou seja, da educação integral, crescimento do indivíduo como um todo
Períodos Bauhaus
Período Inicial Weimar 1919 – 1925
Criada e dirigida por Walter Gropius
Período Dessau 1926 – 1932
transferência para Dessau, Weimar é deposta pelos nazistas
Gropius até 1928
Hannes Meyer 1928 – 1930
Mies Van der Rohe 1930 – 1932
Período Berlim 1932 – 1933
Mies Van der Rohe
1933 – Bauhaus é fechada pelos nazistas
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Outros movimentos do início do século 20
Pré Primeira Guerra Mundial
Futurismo – Itália 1909
Marinetti – conjunto de idéias – não executa
Durante a 1ª Guerra Industrial
Neoplasticismo - De Styl – Holanda 1916/17
Graças a neutralidade da Holanda na primeira guerra, houve a oportunidade de rever todos os
conceitos de arte e estética.
Rietveld - ampliação do universo plano para tridimensional
Princípios:
“A arte precisa atingir o homem comum”
“Tentando se eliminar a subjetividade da obra, ela se torma mais objetiva possível”.
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Premissas do Modernismo no Brasil
São Paulo
As origens do “modernismo” no Brasil são marcadas pela dualidade de tentar sintetizar
preocupações ao mesmo tempo revolucionárias e nacionalistas. De um lado há a rejeição de
valores do passado, mas ao mesmo tempo os artistas se valem desses valores para exigir uma
expressão artística nacional.
Apesar do movimento da Semana de Arte Moderna, do ponto de vista objetivo, não ter exercido
influência direta sobre a arquitetura, possibilitou um ambiente para revisão de valores pré
estabelecidos. Aliado a isto, a semana trazia o apoio do rico cafeicultor e comerciante Paulo
Prado, o que significava a conversão de um dos membros da aristocracia paulista, assegurando
ao movimento a base financeira indispensável. Esse era o primeiro passo ao qual poderia se
seguir o surgimento de uma clientela interessada numa “nova arquitetura”.
Em meados dos anos 1920, Gregory Warchavchik, arquiteto russo com formação no Instituto
Superior de Belas Artes de Roma, publica no jornal “Il Piccolo”, traduzido e publicado no jornal
carioca “Correio da Manhã” como “Acerca da Arquitetura Moderna” um manifesto chamado
“Futurismo?”, propunha uma arquitetura racional e lógica, destituída de ornamentos sem imitação
cega de algum estilo. Dizia que a civilização do século XX, apoiada pelas tecnologias, deveria
extrair uma estética própria, os novos materiais, o ferro o vidro e, sobretudo, o concreto armado
dariam condições para um estilo do “nosso tempo”, uma nova arquitetura.
“O arquiteto educado no espírito das tradições clássicas, não compreende que o edifício é um
organismo construtivo cuja fachada é sua cara, prega uma fachada postiça, imitação de algum
velho estilo, e chega muitas vezes a sacrificar as nossas comodidades por uma beleza ilusória.
Uma bela concepção do engenheiro, uma arrojada sacada de cimento armado sem colunas ou
consolas que a suportem, logo é disfarçada por meio de frágeis consolas postiças, asseguradas
com fios de arame, as quais aumentam inútil e estupidamente tanto o peso como o custo da
construção.”1
Identifica-se no manifesto de Warchavchik argumentos da doutrina de Le Courbusier, elaborada
entre 1920 e 1925 e que já vinha surpreendendo a opinião pública na Europa.
Quinze dias antes da publicação do manifesto de Warchavchik, o jornal “O Estado de São Paulo”
publicou uma carta de Rino Levi, ainda estudante na época, enviada de Roma. Apesar de ter um
espírito diverso da publicação de Warchavchik, a carta de Rino Levi também propunha uma
arquitetura ditada pela praticidade e economia, redução de ornamentos, sendo que estes
deveriam responder a uma função.
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1 WARCHAVCHIK, Gregori. Acerca da Arquitetura Moderna. In Bruand, Yves. A arquitetura Contemporânea no Brasil, São
Paulo:Perspectiva, 4º edição
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1º Nov. 1925
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Mesmo que a publicação dos manifestos tenha sido um fato isolado sem repercussão imediata, a
simples iniciativa de dois dos maiores jornais do país terem acolhido artigos sobre o assunto, era
um sinal de mudança no estado de espírito geral.
Dois anos após a publicação de seu manifesto, Warchavchik tenta colocar em prática seus
princípios teóricos, projeta e constrói, apesar de controversa, a primeira casa dita “moderna “ - a
casa da Rua Santa Cruz.
“Sua casa apresentava-se como um manifesto, desta vez de ordem objetiva, a favor de um novo
estilo. O impacto causado na opinião pública foi considerável, tendo os debates pela imprensa
contribuído decisivamente para isso.”2
A obra de Warchavchik é um marco no rompimento com a influência da tradição, e o
estabelecimento de um novo vínculo com as correntes da arquitetura internacional.
Após um período de grande produção entre 1927 e 1934 (dentre a produção citamos: Casa
Nordchild – Rua Toneleiros - RJ, Casa da Rua Itápolis - SP, Rua Bahia - SP), ele não consegue
impor a nova arquitetura de modo definitivo, mas a sua contribuição foi primordial na formação de
uma nova mentalidade nos jovens arquitetos, que alguns anos mais tarde, dariam um passo
decisivo no desenvolvimento desta nova arquitetura.
Rio de Janeiro
Com a eclosão da Revolução de 1930 e a tomada do poder por Getúlio Vargas, torna-se mais
clara a ânsia por mudança, que já vinha se manifestando há algum tempo no país, em todos os
setores da sociedade.
Uma das medidas do novo regime, que expressa o desejo de transformação completa, foi a
criação do Ministério da Educação, assumido pelo jurista Francisco Campos que por sua vez
nomeia Rodrigo Mello Franco de Andrade para chefe de gabinete. Rodrigo Mello, intelectual ativo,
consegue convencer o ministro a convocar o jovem Arquiteto Lucio Costa, figura destacada no
meio, que gozava de grande prestígio junto aos estudantes de arquitetura e aos recém-formados,
para a reforma de métodos e programas de ensino na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA).
A reforma da ENBA, até então dirigida por José Mariano Filho, pretendia disponibilizar aos alunos
uma opção entre o ensino catedrático e o ensino a ser ministrado por professores mais jovens
que se identificavam com o espírito moderno.
Lucio Costa foi nomeado diretor da ENBA, montou rapidamente a equipe de professores,
contratando dentre outros Buddeus e Warchavchik, este último, na época já conhecido pelo seu
manifesto futurista e pela construção de edifícios “modernos”.
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2 BRUAND, Yves. A arquitetura Contemporânea no Brasil, p 67, São Paulo: Perspectiva, 4º edição
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“No Brasil, a arquitetura moderna teve suas origens na parceria formada em meados dos anos
1920 entre Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, um arquiteto russo emigrado que havia sido
influenciado pelo Futurismo durante seus estudos em Roma e que foi responsável pelas primeiras
casas cubistas no Brasil. Com a revolução liderada por Getúlio Vargas em 1930 e a nomeação de
Costa como diretor da Escola de Belas Artes, a arquitetura moderna passou a ser acolhida no
Brasil como uma questão de política Nacional.” 3
A princípio o sucesso foi total, os alunos deixaram em massa as disciplinas tradicionais, voltando-
se para as novas, criando uma situação constrangedora para os catedráticos.
A reação foi imediata: embasados juridicamente, valeram-se das disposições legais resultantes da
unificação da Escola de Belas Artes à Universidade; o regulamento universitário previa que o
diretor de uma faculdade ou instituto deveria ser professor titular, o que não era o caso de Lúcio
Costa, que fora contratado para tal. Sendo assim, os conservadores conseguem afastá-lo de sua
função apenas 9 meses depois de assumi-la e ter dado início à reforma do ensino de Arquitetura.
Apesar do pequeno período da direção de Lucio Costa e das aulas com os jovens professores, a
influência exercida junto aos estudantes foi decisiva. A tentativa de introdução do ensino de
arquitetura moderna não fora frustrada, os alunos tomaram consciência da necessidade de
abandono das cópias de estilos passados e os mais dinâmicos não tardaram em se revelar
partidários da nova arquitetura.
O período de 1931 a 1935 foi um tempo de estudos e definições para os jovens arquitetos recém
saídos da Escola de Belas Artes. Dedicaram-se a complementar o conhecimento sobre o
movimento racionalista europeu examinando a doutrina dos grandes mestres – Gropius, Mies Van
der Rohe e Le Courbusier, sendo o último o que exerceu maior influência na produção
arquitetônica moderna brasileira.
“A obra de Le Courbusier transformou-se numa espécie de livro sagrado da arquitetura,
sistematicamente analisada e integralmente aceita. A sedução que ela exercia pode ser explicada
pela unidade do sistema proposto, que partia de argumentos de ordem econômica e social de um
lado, e de argumentos de ordem técnica de outro, culminando numa concepção artística. Seu
espírito dogmático atraía os jovens espíritos, um tanto desorientados, na procura de um caminho;
oferecia, ao mesmo tempo, um ideal, regras precisas e uma disciplina, que podiam servir de
referências e orientar os inseguros passos iniciais.”4
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3 FRAMPTON, Kenneth. História Critica da Arquitetura Moderna, p 310, 1º edição,São Paulo, 1997
4 BRUAND, Yves. A arquitetura Contemporânea no Brasil, p 74, São Paulo: Perspectiva, 4º edição
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No ano de 1935 foi promovido o concurso de anteprojetos para a sede do Ministério da Educação
e Saúde (MES), o projeto vencedor foi o de Archimedes Memória, professor catedrático da ENBA,
em estilo Marajoara. O então Ministro da Educação, Gustavo Capanema, premia os classificados,
mas recusa-se a executar um projeto que segundo ele tratava-se de um pastiche arquitetônico. A
construção do MES além de um caráter físico tinha um caráter ideológico que poderia ser
reafirmado com uma nova arquitetura, símbolo de modernidade e de progresso.
Pelo papel que Lúcio Costa havia desempenhado na tentativa de reforma da ENBA em 1930-
1931, Gustavo Capanema acreditava que ele fosse o nome de maior destaque entre os adeptos
da nova arquitetura e o convidou para elaboração de um novo plano para o ministério. Lucio
Costa por sua vez, propôs a formação de uma equipe com autores de 3 anteprojetos com
características modernas apresentados no concurso, sendo eles: Carlos Leão, Affonso Reidy,
Jorge Moreira. Desses quatro componentes, o grupo passa para seis, Jorge Moreira pleiteia a
inclusão de seu colaborador Ernani Vasconcellos, o que possibilita também a inclusão de Oscar
Niemeyer, auxiliar de Lúcio Costa, no grupo.
O ano de 1936 é um marco fundamental na história da arquitetura moderna brasileira. Le
Courbusier teve impacto direto sobre a América Latina quando convidado para atuar no Brasil
como consultor para o projeto do Ministério da Educação e Saúde. As experiências transmitidas
por Le Courbusier, nas seis semanas de trabalho com o grupo de arquitetos, influenciaram
profundamente os jovens modificando-os decisivamente. Dessa experiência resultou o edifício do
MES concluído em 1943, marco da transformação da arquitetura contemporânea no Brasil.
O estabelecimento da nova arquitetura
A arquitetura moderna brasileira é caracterizada pela conciliação entre os princípios da arquitetura
moderna mundial e a tradição local, transformando-se em uma expressão autônoma com maior
liberdade plástica, integração entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas, maior riqueza
material.
Um outro elemento preponderante para a afirmação do Modernismo Brasileiro foi o próprio
Estado, enquanto patrocinador de obras que buscavam na arquitetura um símbolo de progresso e
modernidade vinculado aos seus ideais.
A nova arquitetura, assim como outras manifestações culturais, acabou sendo utilizada como
propaganda nacionalista pelo Estado Novo, com a finalidade de impulsionar a sociedade na
busca do novo homem brasileiro e da verdadeira nacionalidade.
“Como instrumento para a formação do novo homem e da nacionalidade, contava o MES com o
Departamento de Propaganda, que atuava pedagogicamente através da música, educação física,
cinema, rádio e habitação. Desempenhava a música, em especial o canto orfeônico, forte papel
na tentativa de educação popular: Villa-Lobos regia centenas de pessoas – em ginásios, estádios
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de futebol e praças públicas – na procura de incorporar cantos tradicionais da área rural à música
erudita. Atribuía-se à educação física enorme relevo na obra de construção do povo brasileiro, ou
seja, na formação “eugênica” das massas (Peregrino Júnior:1942, apud Lima: 1979). Encarava-se
o cinema como forte instrumento para influir beneficamente sobre as massas populares,
instigando os belos entusiasmos e ensinando as grandes atitudes e as nobres ações.” (Gustavo
Capanema: 1934, apud Schwartzman et al: 1984).
“O rádio era visto como elemento educador por excelência, devendo ter, fundamentalmente, uma
aplicação pedagógica. A habitação era outro setor essencial: as doenças, a preguiça e o
desanimo do trabalhador eram atribuídos às más condições de higiene da moradia. ”5
É nesse contexto político e social que a arquitetura moderna se impõe no país, como uma
questão de bem nacional, acaba sendo reconhecida e atinge maturidade em meados dos anos
1940 com o coroamento das primeiras tentativas, e se firma após 1945 com o surgimento de uma
clientela privada adepta ao movimento, para em meados dos anos 1950 tornarem-se o símbolo
da nova sociedade brasileira, com a construção da nova Capital Federal: Brasília.
Brasília
Juscelino Kubitschek assumiu a presidência do país em 1955, instituiu o Plano de Metas com o
objetivo de realizar em 5 anos um crescimento de um país que, sem planejamento, levaria 50
anos para atingi-lo. Eram 31 metas enfocando: energia, transportes, indústria pesada e
alimentação, sendo que a meta síntese do plano era a construção de uma nova Capital Federal,
símbolo do novo e da nova sociedade brasileira, que marcaria o ingresso do país na
modernidade.
Mais uma vez na história da arquitetura moderna brasileira, observamos a superposição de
objetivos de renovação política e arquitetônica. O arquiteto, além de assumir a responsabilidade
de construção de uma nova estética que simbolizaria a autonomia técnica brasileira, assume
também um papel político, na medida em que era exigida dos profissionais a competência para
traduzir o anseio de transformação da sociedade e do país.
“A Arquitetura e o Urbanismo eram vistos como meios para realizar o sonho de um domínio
racional do futuro em substituição ao caos das cidades capitalistas. A repetição do gesto fundador
da cruz aludia a um novo processo civilizatório, tão importante como o descobrimento, a partir da
nova capital no centro do Brasil.” 6
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5 CAVALCANTE, Lauro. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-1960), pg 34, Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed.,2006
6 CAVALCANTE, Lauro, Brasília: a construção de um exemplo in: Miranda, Wander Melo et al. Anos JK - Margens da Modernidade, p
95, São Paulo Imprensa Oficial do Estado, Rio de Janeiro:Casa de Lucio Costa, 2002
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Juscelino repete a parceria da Pampulha nos anos 1940 e convida Oscar Niemeyer para projetar
tanto os edifícios públicos quanto o projeto urbanístico da nova capital. Niemeyer, por sua vez,
prefere se encarregar somente dos projetos dos prédios, sugerindo o estabelecimento de
concurso para a escolha do plano urbanístico, o que acontece em 1957.
“Tratava-se de um concurso de idéias com um programa bastante vago; baseado no fato de que
a capital visava fixar um exemplo para o desenvolvimento ulterior do país, o edital não exigia
nenhum estudo geográfico ou sociológico prévio. A única recomendação dizia respeito a uma
população de 500.000 habitantes e a indisponibilidade de uma zona próxima ao lago artificial, já
tomada pelo palácio presidencial e um hotel que estavam sendo construídos. Projetados ambos
por Niemeyer.”7
Vinte e seis projetos foram apresentados, estando representada toda a elite da arquitetura
brasileira, afinal projetar a Capital Federal, colocar em prática todos os preceitos do urbanismo e
da arquitetura moderna, sem ter que se preocupar com estruturas pré-existentes era o sonho de
qualquer arquiteto modernista.
Além do plano vencedor de Lucio Costa mais dois se sobressaíram: o dos irmãos Roberto e o do
Arquiteto Rino Levi, que se classificaram em segundo e terceiro lugar respectivamente, pela falta
de monumentalidade proposta.
Ao contrário dos outros dois planos, o de Lucio Costa propunha a monumentalidade e a
valorização dos edifícios administrativos, a escala monumental garantiria a singularidade e a
distinção da cidade em relação a outras. O monumento, segundo ele, prenunciaria uma nova era
de maior equilíbrio, mais senso comum e lucidez.
O plano urbanístico partia de um gesto simbólico: o sinal da cruz, feito pelos descobridores para
marcar a posse da terra e o início da nova civilização. A cruz representava dois eixos que se
cruzariam: o monumental que abrigaria todos os edifícios públicos de poder e burocrático, e o
outro, arqueado para melhor adaptação à topografia do terreno; o da asa sul e da asa norte,
neles estaria o setor residencial, sendo que na intersecção de ambos eixos se localizaria a
estação rodoviária e os setores de diversão e comércio.
Apesar de Lúcio Costa tentar descontextualizar o plano urbanístico da nova capital da corrente do
urbanismo moderno, fica claro que o plano para Brasília seguia todos os postulados ditados por
aquela corrente. Não diferente do pensamento dos outros modernistas, para ele a arquitetura e o
urbanismo eram vistos como meios para realizar o sonho do domínio racional do futuro em
substituição ao caos das cidades capitalistas.
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7 CAVALCANTE, Lauro, Brasília: a construção de um exemplo in: Miranda, Wander Melo et al. Anos JK - Margens da Modernidade, p
93, São Paulo Imprensa Oficial do Estado, Rio de Janeiro:Casa de Lucio Costa, 2002
A rua, elemento urbano, com cruzamentos, multidões, que juntamente com os pedestres propicia
o caos, foi eliminada para dar lugar às pistas, vias, passeios, eixos; o automóvel é a base central
em Brasília. Essa valorização do automóvel em relação ao pedestre, vinha de encontro também
com o programa das ações governamentais de modernização do país, já que uma das principais
metas de JK era canalizar investimentos para o setor dos transportes, principalmente o rodoviário
com a expansão da malha, e incentivar a indústria automobilística.
“Mas Brasília foi, antes de tudo, planejada como ponto central do sistema viário brasileiro,
devendo interligar, por meio de uma rede de rodovias, os principais centros urbanos do país. As
rodovias permitiriam a circulação das riquezas entre as áreas rurais e os principais centros
industrializados do sudeste brasileiro. Juscelino Kubitschek afirmava, em ‘Por que construí
Brasília’, que o plano viário vinculado à construção de Brasília era ‘um verdadeiro tecido
conjuntivo de artérias e veias de intercomunicação interna que realiza verdadeira costura do Brasil
por dentro’ ”.8
O setor residencial, localizado nas asas sul e norte, propunha a criação de novas formas de
associação coletiva, os apartamentos seriam de propriedade pública e deveriam ser distribuídos
aos moradores de diversas camadas sociais, cabendo ao Estado o papel transformador, capaz de
alterar a realidade e promover novas formas de organização da sociedade.
Os blocos de apartamentos com gabarito de seis andares, em centro de gramado, compunham
as superquadras de 240 por 240 metros que, junto com o comércio, serviços, clubes e outras
superquadras formavam a unidade de vizinhança. Esperava-se que o convívio e o uso do mesmo
equipamento urbano criassem nas pessoas um laço e uma identidade de pertencimento à
comunidade que ultrapassasse as diferenças culturais e sociais.
Todo o destaque do plano piloto era realmente dado ao eixo monumental, com seus edifícios
administrativos. Os ministérios foram implantados costeando o eixo monumental, discretos e
iguais para dirigir o olhar, a perspectiva conduziria à Praça dos Três Poderes: o centro do centro
do País que se pretendia construir.
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8 Cavalcante, Lauro, Brasília: a construção de um exemplo in: Miranda, Wander Melo et al. Anos JK - Margens da Modernidade, p 95, São Paulo Imprensa
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Apesar de todas as distorções do plano “igualitário” de Brasília, como a criação das cidades
satélites antes mesmo da saturação do plano piloto, confinando os mais pobres na periferia; a
tentativa dos habitantes recriarem o elemento urbano ‘rua’ nas superquadras; a transformação de
vias originalmente destinadas à circulação de veículos pesados em vias comerciais; e,
principalmente, o fracasso da convivência de diferentes classes sociais nas superquadras.
Brasília foi um signo de desejo de modernidade de uma nação, que em escala menor foi
apropriado e repetido por todo país, seja na construção de Paços Municipais com referências à
Praça dos Três Poderes da Capital Federal, seja na utilização de formas da arquitetura de Brasília
na construção de residências, ou na implantação, por parte dos municípios e estados, de novos
planos urbanísticos completamente voltados ao automóvel, com um sistema viário que
contemplasse grandes avenidas de integração territorial.
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Santo André
Santo André, não diferente de outros municípios brasileiros, também passou a ter um rol de
edifícios públicos e projetos viários implantados nos preceitos da arquitetura e do urbanismo
modernos, a partir do final da década de 1940.
O poder público municipal, fortalecido com os tributos que as inúmeras indústrias pagavam
diretamente a ele, iniciou nesse novo momento da industrialização um processo de implantação
de infraestrutura urbana, para tentar suprir as deficiências decorrentes da expansão que o
município sofreu em um período muito curto de tempo.
“Após a Segunda Guerra, no final dos anos 1940, um novo impulso à industrialização se deu nas
terras da Região ABC, configurando o espaço da cidade do automóvel, quando ocorre a abertura
da Via Anchieta e a instalação de inúmeras fábricas montadoras de veículos e indústrias de
autopeças. Indústrias ligadas ao setor petroquímico, na produção de tintas, plásticos e outros
subprodutos do petróleo, se instalaram ao longo da estrada de ferro e das novas avenidas que se
abriam.
Ao longo da estrada de ferro e da via Anchieta, os novos edifícios industriais foram, então,
concebidos pela estética modernista, projetados por jovens arquitetos que bebiam das lições dos
dos arquitetos europeus e norte-americanos, lições que foram dadas por Le Courbusier aos
arquitetos paulistas e fluminenses durante suas várias estadas no Brasil para conferências e para
o projeto do edifício do Ministério Cultura ou Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro,
marco da arquitetura no Brasil, cuja construção se deu entre os anos 1937 e 1943.” 9
“Desde os anos de 1960, arquitetos como Rino Levi, Vilanova Artigas, Pedro Paulo de Melo
Saraiva, Jorge Wilheim, Paulo Bastos, Décio Tozzi, Godofredo da Silva Teles, Paulo Mendes da
Rocha, Jon Andoni Maitrejean, entre outros da vanguarda paulista estiveram nas cidades do
Grande ABC, especialmente Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul,
desenvolvendo projetos e acompanhando obras de indústrias, escolas para ensino público,
hospitais e centros de saúde, centros esportivos e estádios, centros comunitários e parques e
equipamentos de segurança como sedes de Batalhão da Polícia e do Corpo de Bombeiros.
Além de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul ganharam novos paços
municipais: em São Bernardo, o arquiteto Jorge Olavo Bomfim, morador da região, desenvolveu o
projeto em 1965; em São Caetano o novo paço teve projeto de Zenon Lotutto, arquiteto da equipe
de Oscar Niemeyer, e foi inaugurado em 1961.”10
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9 BRASILEIRO, Estúdio (org). Casa Oguy: arquitetura moderna na cidade de Santo André. Santo André: Estúdio Brasileiro, 2005
10 BRASILEIRO, Estúdio (org). Casa Oguy: arquitetura moderna na cidade de Santo André. Santo André: Estúdio Brasileiro, 2005
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Como exemplos de construções de grande porte dessa corrente da arquitetura em Santo André
podemos citar:
O Conjunto habitacional do IAPI Vila Guiomar projetado pelo Arquiteto. Carlos Frederico
Ferreira em 1942; incluindo a Escola Estadual Odylo Costa Filho, de autoria também do mesmo
arquiteto.
Conjunto IAPI, lembrança do IV Centenário - 1953. Construído na Vila Guiomar em meados da década de 40 para moradia de industriários - 1953. Reprodução Foto Elite Acervo MSAOAG
Foto aérea do Conjunto IAPI, na Vila Guiomar - 1955/60. Reprodução Foto Art Acervo MSAOAG
Centro Cívico de Santo André projetado pelo Arquiteto Rino Levi e Associados e Projeto
Paisagístico de Roberto Burle Marx em 1965.
Edifício Executivo, Legislativo, Teatro e Centro Cultural.
Vista aérea do Centro Cívico em construção, Praça IV Centenário, Correio, Instituto Américo Brasiliense e IESA. Entre as Ruas Bernardino de Campos, Av.Portugal e 15 de Novembro. 1969 Acervo MSAOAG
Vista do Paço Municipal. 18/09/1976. Acervo MSAOAG
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Edifícios da Faculdade de Economia, Faculdade de Filosofia, e Centro de Processamento
de Dados da Prefeitura, todos implantados na área do antigo Sítio Tangará, atual campus da
Fundação Santo André projetados por Jorge Bonfim, Walter Caprera, Nelson Batistucci e Roberto
Tross Monteiro em 1968.
Edifício da Faculdade de Medicina do ABC, implantado também, em parte do antigo terreno do
Sítio Tangará, projetado pelo Escritório Rino Levi e Associados em 1967.
Campus da Fundação Santo André na Vila Príncipe de Gales. Década 1970 Em primeiro plano edifício da Faculdade de Medicina, em segundo plano FAFIL, CPD e FAECO Acervo MSAOAG
Além destas implantações baseadas nos princípios da estética moderna, podemos também citar
projetos de menor escala, mas não menos importantes, dentro do município como hospitais,
escolas, avenidas, passarelas, praças, financiados tanto pelo poder público municipal, quanto
estadual, ou da parceria entre os dois.
Merecem também destaque edificações particulares, de uso comercial, residencial ou misto;
algumas por possuírem apenas detalhes estruturais e plásticos característicos da arquitetura
moderna como o edifício João Ramalho do arquiteto francês Jacques Pilon, de 1957, outras por
serem pioneiras da estética na cidade, como Edifício Quitandinha, Edifício do Carmo, precursores
e estimuladores de outras construções, concentradas em sua maioria, próximas à região central.
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Caracterização dos Edifícios de Linguagem Moderna dentro da Área em Estudo
Faculdade de Economia da Fundação Santo André (FAECO)
O projeto era caracterizado por seis grandes empenas de concreto, dispostas paralelamente, que
marcavam longitudinalmente o edifício e determinavam a sua modulação interna.
As salas de aula originalmente projetadas estavam voltadas para face oeste e leste com
aberturas para o exterior, através de grandes caixilhos protegidos por brises horizontais. Por toda
a extensão destas fachadas, uma viga calha captava as águas pluviais, antes depositadas em
grandes estruturas circulares de concreto que hoje se encontram sem função.
As empenas eram apoiadas ao terreno em três pontos, acompanhando seu perfil e criavam, na
concepção original do projeto, espaços livres, de convívio e de circulação no térreo, que era
parcialmente livre.
Condição Atual: Os fechamentos feitos no térreo para ampliação do número de salas e a
implantação de anexo, desconfiguraram completamente o partido arquitetônico adotado. Além
disso, o estado de conservação da edificação é ruim.
Perspectiva FAECO in Casa Oguy : arquitetura moderna na cidade de Santo André. Santo André: Estudio Brasileiro, 2005.
Elemento estrutural com detalhe calha captação de águas pluviais Foto CTPC julho 2010
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Elemento estrutural com fechamento posterior para ampliação de salas Fotos CTPC julho 2010
Fachada leste FAECO Fotos CTPC julho de 2010
Elemento estrutural interrompido pelo fechamento em alvenaria e estruturas circulares de concreto aonde eram depositadas as águas pluviais vindas da calha Foto CTPC julho 2010
Fachada Sul três apoios no perfil natural do terreno e o térreo semi livre, antes da intervenção. Reprodução da fotografia exposta no prédio FAECO
Faculdade de Filosofia da Fundação Santo André (FAFIL)
O prédio possui dois pavimentos sendo que na concepção original, parte do térreo era livre e
servia como área de convívio (fachada oeste), acompanhando o perfil natural do terreno. A 1,30
metros acima do térreo foram implantados os setores administrativos de atendimento público da
faculdade. (ver foto face leste).
As salas de aula eram todas no pavimento superior dispostas no sentido longitudinal do edifício e
possuíam aberturas para o exterior através de caixilhos, com desenhos diferentes que marcavam
a modulação estrutural, protegidos por brises pivotantes verticais.
A circulação no superior se dava em corredor paralelo às salas de aula e se voltava para o vazio
do pátio e seu anfiteatro em formato cônico. O acesso ao térreo era feito por dois jogos de
escada, que o atingiam tanto no lado esquerdo como direito. Uma laje grelha em concreto cobre
todo o prédio, com algumas aberturas para entrada de luz zenital.
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O projeto recebeu Menção honrosa na 10ª Bienal de São Paulo – Exposição Internacional de
Arquitetos – Categoria Ensino – 1969.
Condição atual: atualmente com o fechamento do térreo para ampliação de salas de aula a
concepção do projeto original foi perdida e o prédio está em estado de conservação ruim.
Corredores de acesso às salas de aula e jogo de escadas lado esquerdo do pátio Foto CTPC julho de 2010
Perspectiva do pátio e anfiteatro em formato cônico FAFIL in Casa
Oguy: arquitetura moderna na cidade de Santo André. Santo André: Estudio Brasileiro, 2005
Fachada leste FAFIL – Brises verticais para controle de raios solares Foto CTPC julho de 2010
Circulação do superior aberta para o pátio originalmente semi livre Foto CTPC julho 2010
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Escada do pátio de acesso ao intermediário e superior Foto CTPC julho de 2010
Pátio FAFIL, mostrando os três níveis, à esquerda auditório. Foto CTPC julho de 2010
Antigo Centro de Processamento de Dados da Prefeitura, atual Biblioteca da Fundação
Santo André.
A edificação que abrigou originalmente CPD foi implantada em cota inferior aos seus vizinhos
FAFIL e FAECO. A implantação das três edificações, à esquerda do edifício da Economia, à direita
o Edifício da Filosofia e o CPD ao centro em cota inferior, criou uma praça de integração entre
estes prédios e a “Casa Amarela”, antiga sede do sitio Tangará.
Quanto à construção em questão, trata-se de estrutura em um pavimento, composta por pórticos
convergentes à face leste e laje impermeabilizada, sendo seu fechamento feito por vidros e
concreto. Internamente o espaço não foi dividido por paredes em alvenaria ou concreto, o que
permitiu maior mobilidade diante das necessidades de uso.
Condição atual: Atualmente a edificação abriga a Biblioteca central do Centro Universitário da
Fundação Santo André e está em bom estado de conservação.
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Fachada leste do antigo CPD, pórticos convergentes. Foto CTPC julho de 2010
Detalhe dos pórticos e fechamento em vidro e concreto antigo CPD, atual biblioteca Foto CTPC julho de 2010
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Edifício da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC)
Projetado pelo escritório técnico Rino Levi e Associados em 1967, o programa para a Faculdade
de Medicina do ABC foi distribuído em três blocos: edifício para ensino, administração e biotério.
O edifício para ensino, originalmente, seria composto por dois corpos paralelos, ligeiramente
deslocados e articulados por anfiteatro. Respeitando a topografia do terreno, o corpo voltado para
a atual avenida Lauro Gomes (fachada oeste), por estar localizado em área do terreno em
declive, possuiria 3 pavimentos, enquanto que o outro corpo, a ser implantado em cota mais alta,
teria 2 pavimentos.
O bloco com três pavimentos possuiria térreo semi-livre e abrigaria cantina, entrada dos
estudantes, grêmio e outras facilidades.
Implantação do conjunto, o acesso dos estudantes seria feito pela avenida atingindo o térreo do primeiro bloco. Administrativos e professores teriam acesso e estacionamento separados, partindo da rua interna
In Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
Fachada oeste, voltada para a atual Avenida Lauro Gomes Nesta fachada o estudo de insolação indicou o uso de grandes balanços na estrutura, auxiliado por longas placas verticais de concreto A esquerda caixa de escada, à direita corpo administrativo, térreo semi livre que abrigaria facilidades à vida estudantil
In Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
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Os três blocos foram projetados com elementos pré-fabricados. Esse método construtivo foi muito
utilizado, principalmente na década de 1970, na construção de galpões, indústrias, escolas,
shopping centers, devido a sua praticidade e rapidez na montagem. Apesar de grande parte das
edificações construídas com este método não terem uma qualidade plástica, o plano projetado
para a Faculdade de Medicina do ABC se distingue dos demais; o jogo de volumes entre os
blocos de ensino, o uso de grandes balanços na estrutura auxiliado por longas placas verticais de
concreto na fachada, com finalidade de proteção da insolação, dão ao projeto características
peculiares que o difere dos tantos “caixotões” de concreto que não possuem nenhuma identidade
plástica. Nos diretrizes de publicação a respeito:
“Construtivamente, todo o conjunto foi projetado integralmente com peças de concreto pré-
fabricado: pisos, escadas, peitoris, quebra-sol, colunas, vigas etc. Essa decisão foi tomada
principalmente devido a dois fatores: urgência na construção e proximidade de uma usina de pré-
fabricação”. 11
Em primeiro plano, rua interna de acesso aos professores e funcionários. Em segundo plano, fachada leste do edifício de ensino localizado em cota superior, com 2 pavimentos; a esquerda bloco administrativo; à direita bloco do biotério
In Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
Em primeiro plano bloco biotério, Em segundo plano edifícios de ensino, rampa de acesso e caixa de escada.
In Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
Condição Atual: Aparentemente de todo o plano projetado pelo Escritório Rino Levi Associados,
somente um dos blocos de ensino foi implantado, o voltado para a atual Av Lauro Gomes, mas
encontra-se com o pavimento térreo totalmente fechado e com várias edificações posteriores,
implantadas muito próximas ao edifício, o que dificulta a sua leitura, principalmente da fachada
leste, que originalmente teria o anfiteatro, elemento de articulação entre os dois blocos de ensino
projetados.
_____________________________________________________________________________
11 REIS F., Nestor, Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
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Do plano viário e dos acessos tanto de veículos quanto de pedestres, pensados à época do
projeto, podemos ainda verificar alguns resquícios, como a via principal de acesso à Fundação
Santo André, que pelo plano original daria acesso também aos professores e funcionários da
Faculdade de Medicina, na altura do Bloco administrativo. Neste local hoje existe um muro de
divisão entre a FSA e a FMABC. O acesso à medicina é feito logo após o portal do Campus da
FSA.
O acesso de pedestres pensado pela Avenida Lauro Gomes também deixou de existir. O único
acesso à FMABC, tanto de pedestres como de veículos, é feito pela cancela existente logo após o
portal da FSA.
O que também observamos, comparando o desenho esquemático de implantação da FMABC
feito à época do projeto, é a perda significativa de área para o sistema viário com a implantação
do anel viário metropolitano.
Implantação esquemática da Faculdade de Medicina ABC – 1967 Nota-se a rua principal da FSA,hoje o acesso projetado à Faculdade de Medicina, não existe mais neste local, devido ao fechamento com muro e implantação de edificações da FMABC de atendimento à população
In Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
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Fachada oeste
rampa
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Fachada Leste Edifício da FMABC, Térreo fechado Foto CTPC set 2010
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Dinâmica das Transformações - Diagnóstico
A área vem sofrendo uma ocupação gradual desde a década de 1960. Primeiramente foi doada à
Fundação Santo André, autarquia criada em 1962 e que gerenciaria a subvenção cedida pela
Prefeitura. Em 1968 houve uma subdivisão: grande parte da área foi doada a outra autarquia, a
Fundação Medicina ABC, Em 1971 foi cedido oficialmente o uso do terreno à Fundação Santo
André, por tempo indeterminado, além do direito de cessão de parte da área à Fundação
Medicina ABC. Nesse local instalou-se o Instituto Médico Legal - IML de Santo André e a casa
Ronald MC Donald’s.
Nos parece, s.m.j., que há evidente falta de coordenação no uso dos espaços, fato agravado por
um sistema de atribuições de propriedade ou concessão, e de instâncias administrativas. Assim,
tanto Centro Universitário da Fundação Santo André, quanto da Fundação Medicina ABC, IML,
buscam solucionar demandas de espaço individualmente em local à beira da saturação.
O recomendável seria a reunião de esforços com vistas a um plano geral de ocupação da área
que levasse em conta as necessidades específicas de cada unidade e buscasse equacionar as
que pudessem ser resolvidas em comum – estacionamentos, áreas ajardinadas.
Texto : Fátima Regina Tavella Leal
Fotos: CTPC julho 2010
Vistoria:
Arqto. Aguinaldo Gonçalves
Arqta. Fátima Regina Tavella Leal
Historiadora Suzana C. Skleeb
Estagiária de Arquitetura Aline Carvalho
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Bibliografia
BRASILEIRO, Estúdio (org). Casa Oguy: arquitetura moderna na cidade de Santo André. Santo
André: Estúdio Brasileiro, 2005
BRUAND, Yves. A arquitetura Contemporânea no Brasil, São Paulo: Perspectiva, 4º edição,
2002.
CAVALCANTE, Lauro, Brasília: a construção de um exemplo in: Miranda, Wander Melo et al.
Anos JK Margens da Modernidade, São Paulo Imprensa Oficial do Estado, Rio de Janeiro:Casa
de Lúcio Costa, 2002.
___________. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-
1960), Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2006
FRAMPTON, Kenneth. História Critica da Arquitetura Moderna, 1º edição, São Paulo, Martins
Fontes, 1997.
LEVI ASSOCIADOS, Rino (org). Rino Levi, Milano: Edizioni di Comunità, 1974
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
PARECER TÉCNICO DE PROTEÇÃO
Diante da proposta de tombamento, objeto desse processo Nº 12182/95-0, algumas observações
se fazem pertinentes. A primeira delas diz respeito ao tempo decorrido desde a primeira
solicitação de tombamento: 20/03/1995. Naquela primeira oportunidade, o interesse dos
dirigentes da Fundação Santo André em preservar a Casa Amarela foi fundamental para que a
casa não fosse descaracterizada com anexos espúrios ou outros que pudessem retirar sua
inteligibilidade. A segunda observação que se faz importante é que a solicitação de tombamento
incide sobre a edificação denominada Casa Amarela, sede do Sítio Tangará e local onde a família
se reunia para a prática de golfe e equitação, de propriedade de Charles Murray, investidor
brasileiro, (vide mais informações às páginas 11 e 12 dos apontamentos históricos “ O sítio
Tangará e a Vila Mimosa” apenso a esse processo).
No entanto, os anos em que o processo tem tramitado neste Comdephaapasa permitiram que se
fizesse um estudo mais aprimorado tanto do contexto físico da edificação em questão, de sua
inserção no contexto das edificações que se localizaram em seu entorno, bem como da
importância que as instituições que passaram a ocupar a área – de ensino e difusão do
conhecimento FAFIL, FAECO E FMABC – tiveram e têm para a cidade. Estes parâmetros, as
informações agregadas pelos estudos foram levados em consideração e não nos permitiriam
mais que apenas ficássemos atentos à edificação objeto inicial de estudo, ou seja, a Casa
Amarela.
Diante dessa reconfiguração do espaço e dos preceitos teóricos de patrimônio cultural, nos quais
nos respaldamos, entre eles a Carta Patrimonial R 95, de 11 de setembro de 1995 que trata sobre
as paisagens culturais e sua proteção, não podemos analisar o bem em si – Casa Amarela –
isolado de seu entorno, ainda mais nesse caso em que o entorno está interligado de forma
indissolúvel à edificação por força das circunstâncias históricas de ocupação do espaço.
Assim, propomos que se amplie a área de proteção do bem que deve contemplar a área do
Centro Universitário Fundação Santo André e a área da Faculdade Medicina do ABC/Fundação
do ABC (ver mapa anexo), remanescentes do antigo Sítio Tangará.
Esclareça-se que deste primeiro uso o remanescente físico mais evidente é a Casa Amarela, mas
a conformação geográfica do espaço deve ter se mantido, salvo eventuais modificações que
foram feitas para a construção das edificações das faculdades citadas. E esse remanescente da
conformação geográfica também é significativo para a compreensão das relações estabelecidas
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
entre a Casa Amarela e seu entorno imediato.
Também foi motivo de análise, as relações estabelecidas entre as novas construções, em
especial a FAFIL, FAECO e CPD que se conformaram em uma praça que foi organizada no
projeto de Jorge Bonfim, Walter Caprera, Nelson Batistucci e Roberto Tross Monteiro, arquitetos
responsáveis pela obra.
Outro aspecto digno de nota diz respeito à importância simbólica e histórica que a área se
revestiu por concretizar uma vontade e, mesmo, uma ação que vinha se organizando na cidade
desde a década de 1950. Trata-se da criação de um complexo inventário que abrigaria as
Faculdades de Ciências Econômicas, Filosofia e Letras e de Medicina. O assunto encontra-se
explanado no texto “O Sítio Tangará e a Vila Mimosa” anexo a esse processo, mas em linhas
gerais pode-se dizer que houve um movimento em prol da criação de escolas de ensino superior,
consolidados de forma paulatina desde 1953 com a criação da Faculdade de Ciências
Econômicas de Santo André, uma vez que “... houve um sensível alargamento do acesso ao
ensino de nível médio, e a oferta de cursos superiores na Grande São Paulo não tinha
capacidade de absorver estes contingentes.” (In: O Sítio Tangará e a Vila Mimosa,:33) Além disso,
a carência de mão de obra qualificada que pudesse atender às indústrias florescentes na cidade
também se mostrou como o motivador para tal ação. Outra característica que marcou
profundamente toda a história tanto dessa como das demais faculdades que seriam criadas, era
sua ligação com o poder público municipal que subvencionou a construção de suas sedes, bem
como suas necessidades financeiras durante vários anos e garantia a gratuidade dos cursos
ministrados.
Era uma clara demonstração de que o poder público municipal entendia a necessidade desse tipo
de ensino na cidade, o que não era exatamente corriqueiro em outras localidades. Essa situação
tomaria outro rumo com a criação da Fundação Santo André, em junho de 1962, autarquia
municipal que teria o fim de arcar com as necessidades da Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas e outras propostas que estavam sendo gestadas.
Condicionantes de política municipal também foram relevantes para a mudança de status, mas
não será objeto desse parecer; no entanto, encontram-se explanados no texto já citado. O fato é
que na década de 1960, após tentativas fracassadas de federalização da Faculdade citada, as
vontades deslocaram-se para a criação de uma Universidade do ABC e da criação de um campi.
Para este, um local parecia interessante: o Sítio Tangará desapropriado, em parte, pelo Poder
Público em dezembro de 1963 (Lei nº 2159).
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Nesse novo contexto, com o intuito de se criar a Universidade do ABC, houve uma gestão entre
os três municípios: São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Santo André para a criação
do campi e de uma Faculdade de Medicina. Movimentação de estudantes e professores também
acenava com a necessidade de criação de uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. “A
nova faculdade visava preencher uma importante lacuna existente no ensino da região, com
grade de cursos não ‘tecnicistas’, uma vez que as principais propostas executadas quanto ao
ensino superior na região, nos anos anteriores, visavam atender principalmente as necessidades
de mão de obra especializada das indústrias aqui instaladas. Esta Faculdade ofereceria cursos de
Matemática, Ciências Sociais, Pedagogia e Letras Vernáculas, atendendo, sobretudo, às
demandas nascidas do substancial aumento populacional que vinha em curso na região, e
alargamento do acesso ao ensino de nível médio, como a formação de professores e cientistas
sociais “ (in: O Sitio Tangará e Vila Mimosa : 49).
Diante dessas necessidades, novamente o Poder Público Municipal se antecipou aos interesses
regionais e inaugurou em abril de 1966 a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Paralelamente, também, deu-se início a uma discussão inovadora na região para a criação de um
Centro de Processamento de Dados que seria utilizado por alunos e professores da Faculdade e
prestaria serviços para empresas e, em especial, para a Prefeitura de Santo André. Tal ação foi
empreendida em março de 1966 com a compra de computador de marca Burroughs do Brasil,
conforme texto O Sitio Tangará e Vila Mimosa, às páginas 51.
A proeminência dessa ação deve ser ressaltada pois apenas uma instituição de ensino possuía
equipamento de processamento desse porte. “O acesso dos alunos a essa tecnologia, fazia com
que, uma vez formados eles tivessem ingresso, imediato nas indústrias da região (...)”(in: O Sitio
Tangará e Vila Mimosa : 51), em especial alunos do curso de Matemática.
Paralelamente a essa situação, os demais cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
também vão estruturando suas grades curriculares com professores conceituados, em virtude da
boa remuneração, em virtude da boa remuneração que se propunha e dos conceitos que se
pretendiam programar. “A ‘Uspinha’ de Santo André, como por vezes era chamada a Faculdade
da Fundação de Santo André nasce, portanto, envolta em grandes expectativas por parte do
professorado e também dos alunos da instituição, se concretizando como uma escola respeitada
e bem e bem qualificada(...)” (in: O Sitio Tangará e Vila Mimosa : 54).
No bojo dessa discussão, foram contratados os arquitetos Jorge Bonfim, Walter Caprera, Nelson
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Batistucci e Roberto Tross Monteiro para a criação do complexo universitário que abrigasse a
Faculdade de Ciências Econômicas, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, bem como o
Centro de Processamento de Dados.
Outro movimento vinha se consolidando: a criação de uma Faculdade de Medicina, que tinha
particularidade de estar sendo gestada por uma vontade de três municípios da região: São
Caetano do Sul, São Bernardo do Campo e Santo André. Essa articulação, possivelmente,
estivesse associada à proposta antiga da criação da Universidade do ABC, do início da década
de 1960. Após conversações, em outubro de 1967 foi criada a Fundação Universitária do ABC,
que objetivava “o compartilhamento de ações públicas e privadas e de uma ideia pioneira na
época, a do consórcio entre unidades políticas autônomas, os municípios, para a realização de
projetos sociais de interesse comum.” (in: TEIXEIRA, Francisco. Fundação do ABC : 40 anos ,
São Paulo, Artemeios, 2007 : 33).
A Faculdade de Medicina foi criada oficialmente em7/03/1968 e o local para sua sede seria
inaugurado em 1971, mesmo ainda inacabado. E, esse local não poderia ser outro senão o
complexo universitário implantado alguns anos antes e que já possuía em sua área a Faculdade
de Ciências Econômicas, a faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e o Centro de
Processamento de Dados. E, lembre-se, área remanescente do Sítio Tangará.
Outras informações de cunho histórico estão elencadas em texto anexo ao presente processo e
em bibliografia apresentada, mas o que nos parece fundamental salientar para esse processo de
tombamento em curso diz respeito ao movimento de interface entre o poder público e a
sociedade civil, bem como as lutas e interações necessárias para a manutenção do Complexo
Universitário enquanto espaço de conhecimento e formação de profissionais desde meados da
década de 1960.
Cabe observar, também, o momento inicial de vontade política e orçamentária do município de
Santo André para garantir a execução das obras e a instalação das Faculdades. Dos anos 1960
até os dias atuais, novos condicionantes se interpuseram nessa vontade inicial. Anos em que
houve abandonos, retomadas, mudanças de rumo que caracterizam os movimentos históricos.
Diante do que foi explanado, clarifica-se, s.m.j., que a Casa Amarela por si só não teria a
capacidade de agregar todos esses elementos descritos. Apesar de ter sido utilizada como
espaço para a área administrativa e/ou cultural, é evidente que os projetos que se seguiram e que
estão presentes no campus complementam, ampliam e valorizam a proposta inicial de
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
tombamento, a história do ensino superior de Santo André, bem como a história do próprio Sítio
Tangará.
Essa proteção com efeito de tombamento, dar-se-á em diversas diretrizes, a saber:
a) o perímetro a ser protegido diz respeito às seguintes delimitações: inicia-se na Avenida
Prestes Maia com a Avenida Príncipe de Gales, deflete à direita na Avenida Príncipe
de Gales, deflete à direita entre o limite lateral do lote 121 e a área da Fundação Santo
André, deflete à esquerda entre o limite da área da Fundação e o limite dos fundos dos
lotes voltados para a Av Príncipe de Gales (lotes 121, 120) segue pelo limite dos
fundos dos lotes voltados para a Rua Vicente de Carvalho
45,44,43,42,41,40,39,38,37,36,35,34,33,69,68,31,30,29,58,27,26,25, 53,54,22, 52,51,
20,19,18, segue pela linha de divisa lateral do lote 65 voltado para a Rua Grã Bretanha
deflete à direita na rua Grã Bretanha, até o cruzamento com a Avenida Lauro Gomes,
segue por esta até o encontro com o acesso à Avenida Prestes Maia, contíguo ao lote
5, deflete à direita na Avenida Prestes Maia, segue por esta até o encontro com o
ponto inicial do perímetro.
b) Fica vedado o desmembramento da mesma, bem como interferências que alterem o
perímetro demarcado para uma área menor que a existente. As formas de acesso
atuais deverão permanecer inalteradas, sendo permitidas novas ramificações viárias
internas, desde que não interfiram na área de bosque (vide mapa anexo);
c) A cobertura vegetal deverá ser preservada pela sua importância como massa florestal
no contexto urbano atual. Deverá ser feito, a posteriori, um inventário dos indivíduos
arbóreos existentes. O eventual plantio e retirada de novos indivíduos, deverá ser feito
após apreciação e aprovação deste Comdephaapasa. Este Conselho poderá, a seu
critério, propor e participar da organização de um Plano de Manejo para a área, em
conjunto com o Centro Universitário Fundação Santo André, Faculdade de Medicina do
ABC/FUABC e demais instituições que integram o perímetro. As podas de limpeza
estão livres para que sejam feitas dentro dos preceitos preconizados pelo
Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de Santo André.
d) A edificação denominada Casa Amarela, objeto inicial desse processo de tombamento
deverá ser protegida integralmente. No seu interior deve ser protegido o aspecto geral,
volumetria dos espaços, detalhes decorativos, materiais constitutivos etc. No exterior
vale o mesmo nível de proteção integral, conforme o descrito para o interior da
edificação, estando, também, vedadas construções de anexos, acréscimos etc. Devem
ser preservados todos os aspectos relativos à volumetria e detalhes decorativos
móveis tais como lampiões ou outros materiais construtivos etc. Deverá ser feita,
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
imediatamente após o tombamento, uma descrição minuciosa das características da
edificação de forma que seja possível averiguar a manutenção e conservação
preventiva realizada a posteriori. Quaisquer modificações que se deseje realizar na
edificação, mesmo que manutenções internas ou externas deverão ser apresentadas
por escrito ao Corpo Técnico de Apoio ao Patrimônio Cultural, de forma que este possa
analisar e deliberar sobre o assunto. Se o Corpo Técnico de Apoio ao Patrimônio
Cultural avaliar que a manutenção proposta trará modificações na condição atual da
edificação, esta proposta de manutenção será remetida ao Comdephaapasa para sua
apreciação e deliberação. O Conselho poderá solicitar, se este for o caso, projeto da
manutenção pretendida. O Comdephaapasa proporá a realização de prospecção de
pintura da edificação, com vistas a realizar, em conjunto com o Centro Universitário
Fundação Santo André estudo para próxima pintura da edificação, levando-se em
consideração os resultados da prospecção citada.
e) Eventuais mobiliários que compõem a Casa Amarela e que comprovadamente tenham
feito parte da história da edificação, também deverão ser protegidos e preservados.
f) As edificações sedes da Faculdade de Filosofia (FAFIL), Faculdade de Administração,
Economia e Contabilidade (FAECO), antigo Centro de Processamento de Dados - atual
Biblioteca e o edifício projetado pelo escritório Rino Levi e Associados para a
Faculdade de Medicina do ABC (vide mapa anexo, números 1, 2, 3 e 4) deverão ser
preservados levando-se em consideração o que foi edificado dos projetos originais. As
demais construções realizadas junto a essas edificações e que não constam do projeto
original estão livres de proteção. Na área do bosque (vide mapa anexo) fica vedada a
construção de novos edifícios, bem como a ampliação dos edifícios existentes. No
caso das edificações números 2, 3 e 4 - Faculdade de Filosofia (FAFIL), Faculdade de
Administração, Economia e Contabilidade (FAECO), Antigo Centro de Processamento
de Dados, atual Biblioteca, ficam restritas novas subdivisões internas, sendo
necessária aprovação do Comdephaapasa
g) Todas as edificações do perímetro apresentado no inciso ‘a’, não citadas nesta
proposta de tombamento e não demarcadas no mapa anexo, serão consideradas
como área envoltória e estão livres de qualquer proteção no que diz respeito a obras
ou alterações de fachada. No entanto, fica vedada alteração de gabarito sem
aprovação do Comdephaapasa.
h) Demolições e novas construções no perímetro de proteção proposto devem ser objeto
de estudo e aprovação pelo Comdephaapasa, excetuando-se as observações
dispostas nos incisos acima.
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Sem mais, diante do exposto e apresentado, era o que tínhamos a considerar.
Estamos à disposição para outras informações que se fizerem necessárias.
Atenciosamente,
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
Sr Gerente,
Atendendo ao determinado em reunião do COMDEPHAAPASA de 25/11/2008 (fls 26 deste) em
que foi pedido que o processo de tombamento da “Casa Amarela” fosse ampliado para um estudo
sobre o Centro universitário Fundação Santo André e as diversas edificações e espaços livres
atinentes à ela, este corpo técnico apresentou em 13/09/2010 estudo de tombamento da área
proposta, parecer técnico de diretrizes para preservação e delimitação de área envoltória.
Em decisão do conselho de 30/11/2010 (fls 195 e 196 deste), tombou-se apenas a “Casa Amarela” e
ficou determinado que este corpo técnico apresentasse nova proposta de delimitação de área
envoltória e conjunto de diretrizes e parâmetros para a preservação do bem, conforme o que
determina a Lei 9.071/2008 artigo 15 inciso III.
Diretrizes para preservação do bem:
Tendo como base o parecer do Conselheiro relator às fls. 195 deste, que foca o tombamento apenas
na Casa Amarela, temos a colocar as seguintes diretrizes:
A edificação deverá ser protegida integralmente. No seu interior deve ser protegido o aspecto geral,
volumetria dos espaços, detalhes decorativos, materiais constitutivos etc. No exterior vale o mesmo
nível de proteção integral, conforme o descrito para o interior da edificação, estando, também,
vedadas construções de anexos, acréscimos etc. Devem ser preservados todos os aspectos relativos
à volumetria e detalhes decorativos móveis tais como lampiões ou outros materiais construtivos etc.
Deverá ser feita, imediatamente após o tombamento, uma descrição minuciosa das características
da edificação de forma que seja possível averiguar a manutenção e conservação preventiva
realizada a posteriori. Quaisquer modificações que se deseje realizar na edificação, mesmo que
manutenções internas ou externas deverão ser apresentadas por escrito ao Corpo Técnico de Apoio
ao Patrimônio Cultural, de forma que este possa analisar e deliberar sobre o assunto. Se o Corpo
Técnico de Apoio ao Patrimônio Cultural avaliar que a manutenção proposta trará modificações na
condição atual da edificação, esta proposta de manutenção será remetida ao Comdephaapasa para
sua apreciação e deliberação. O Conselho poderá solicitar, se este for o caso, projeto da
manutenção pretendida. O Comdephaapasa proporá a realização de prospecção de pintura da
edificação, com vistas a realizar, em conjunto com o Centro Universitário Fundação Santo André
estudo para próxima pintura da edificação, levando-se em consideração os resultados da prospecção
citada.
Eventuais mobiliários que compõem a Casa Amarela e que comprovadamente tenham feito parte da
história da edificação, também deverão ser protegidos e preservados.
Serão permitidas e até recomendáveis demolições de anexos e ampliações que tenham desfigurado
o partido arquitetônico original sem contribuir para a melhor adequação do espaço, sendo que essas
demolições não estarão isentas de aprovação pelo Conselho.
Com a finalidade de garantir a visibilidade e ambiência do bem, fica delimitada a seguinte área
envoltória :
Corpo Técnico de Apoio à Preservação do Patrimônio Cultural Gerência de Preservação da Memória SCELT – DDPC - PMSA
A área de praça criada entre o edifício da “Casa Amarela”, os prédios da FAFIL, FAECO e
Biblioteca (antigo CPD) não poderá conter edificações de nenhuma natureza.
Reformas que se limitem ao agenciamento interno dos edifícios localizados dentro da área
envoltória estarão isentas de aprovação.
Projetos de reforma externa e de novas construções dentro da faixa de área envoltória deverão
respeitar a manutenção do gabarito atual e deverão ser analisadas e aprovadas pelo
COMDEPHAAPASA.
Demolições dentro da área envoltória, deverão ser objeto de análise e aprovação do
COMDEPHAAPASA.
Eventuais situações não descritas acima, deverão ser analisadas e orientadas pelo
COMDEPHAAPASA.
Sem mais,
Santo André, 24 de janeiro de 2011.
Arq. Fátima Regina Tavella Leal Arq. Aguinaldo Gonçalves