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Junho 2016 País do futebol das tribos Sempre aclamado como símbolo do país, o futebol começa a ver o brasileiro se identificar com outros esportes

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Projeto Integrado - Jornalismo Unasp 5º semestre 2016

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Junho 2016

País do futebol

das tribosSempre

aclamado como símbolo do país, o futebol começa a ver o brasileiro se

identifi car com outros esportes

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Junho 2016

COORDENADOR DO CURSO:Ruben Holdorf

COORDENADOR DO PROJETO: Allan Novaes

PROFESSORES RESPONSÁVEIS: Allan Novaes ,

Andreia Moura, Karla Ehrenberg,

Kenny Zukowiski, Tales Tomaz

DIRETORA DE REDAÇÃO: Camila Torres

EDITORA-CHEFE: Fernanda Sartori

CHEFE DE REPORTAGEM:Thamires Mattos, Juliana Dorneles

SECRETÁRIO DE REDAÇÃO: Leonardo Saimon

Revisores:Juliana Dorneles,Natanael Cunha, Thamires Mattos

CHEFE DE ARTE E FOTOGRAFIA:

Ariany Nascimento

EDITORES:Camila Torres

Emanuele FonsecaLaine Farias

Leonardo SaimonZilda Nogueira

Expediente

2

18 10

MACH POINTCAPA

18Tribos urbanasEntenda como o es-porte cria grupos de convivência e padrões de comportamento

10Super cinemaA cultura pop invade as telonas em 2016

36Esporte enferrujadoOs megaeventos esporti-vos no Brasil têm deixado marcas. Saiba quais são.

EM CARTAZ

MEMÓRIA

36O retrô está no arViaje no tempo com um esporte substituído e um produto reinventado

EDITORIAL

04Para vocês, para nósMensagem da chefe pra você

FALA AÍ

05A galera manifesta suas expectativas para ler

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DIAGRAMADORES:Ariany Nascimento,Fernanda Sartori, Gustavo Santos

INFOGRAFISTAS:Gustavo Santos,Larissa Zanardi,Maria Julia Magalhães,Quézia Salles, Sudaleif Alves

FOTÓGRAFOS:Maria Julia Magalhães,Quézia Salles, Sudaleif Alves

REPÓRTERES:Ana Maria Miguel,Ana Tália Rodrigues,Andrícia Rodrigues, Ariany Nascimento, Camila Torres, Emanoel Junior, Emanuele Fonseca, Fernada Sartori, Gabriel Dias,Gustavo Santos, Juliana Dorneles, Laiane Farias, Larissa Zanardi, Leonardo Saimon,Maria Julia MagalhãesMichelle FernandesNatanael CunhaOséias OliveiraQuézia Salles Sara Costa Soraya LaurianoSudaleif Alves Thamires Mattos Zilda Nogueira

Expediente

3

43 42

OPINIÃO

42Ciclo da mesmiceOs universos cinemato-gráfi cos compartilhados vieram para fi car?

FORA DA LINHA

30Por trás das piscinasVocê vai se surpreender com a história da ex-atleta parao-límpica Fernanda Lima

TOP CHARTS

06Confi ra os sucessos da literatura, música, cinema e TV

LUPA

46Análises de produtos culturais do momento

PALAVRA DE MESTRE

16800 metros do ouroConheça o medalhista panamericano Kleberson Davide

PASSO A PASSO

34Entenda a classifi cação indicativa na TV

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Para você, para nósEditorial

Meados de 2016 e um desa�io pela frente: produzir uma revista sobre esportes e cultu-ra que atraia o público – do qual nós fazemos parte. Já fomos cerca de quarenta alunos, mas hoje somos apenas vinte. Vinte histórias, vin-te sonhos e vinte incertezas. Sabe aquele dita-do “parece fácil, mas não é”? Então, falar com você, jovem, gente como a gente, não é fácil mesmo. Mas chegamos até aqui. Eis o fruto: a Staff Magazine. Você tem em suas mãos um suporte para ir além do comum.

Muita coisa passa despercebida nos bas-tidores da notícia. Trabalhamos para te levar ao mundo por trás das câmeras, aos proces-sos de produção e enxergar além do óbvio. Reinventar. Transformar. Sair da rotina. Você

vai perceber de cara a nossa identidade, por-que ela foi planejada para que os seus olhos desfrutem de uma experiência visual como nunca antes.

Queremos te levar para explorar o pas-sado e o presente. Você pode navegar pelas Atualidades culturais e esportivas, conhe-cer o Outro Lado de personagens incríveis e aprofundar seus conhecimentos em assun-tos que farão a sua cabeça �icar Ecoando os textos até a próxima edição.

Nós sentimos e falamos como você. A Sta-ff Magazine é um projeto idealizado por pro-fessores que acreditaram na nossa turma.

Ela é um pedacinho do terceiro ano de jornalismo do Unasp para você. Boa leitura!

Camila TorresDIRETORA DE

REDAÇÃO

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Fala aí...Ca, a ao leitor

A ideia da revista é inovadora e veio para

facilitar a vida dos aman-tes de esporte e cultura. Eu, normalmente, busco informações de séries e

sequências de fi lmes que gosto na internet. Agora

já sei onde encontrar conteúdo confi ável e de

qualidade.

Eu, como boa parte dos jovens, gosto muito de esporte e cultura. Sinto falta de uma revista que aborde estes assuntos com qualidade e de uma forma interessante. Espero que a Staff Magazine possa realmente “ir além do comum”.

Eu sou fã de esporte e sempre o que vejo em revistas é uma predom-

inância muito grande do futebol. Espero que a Staff Magazine venha

mudar isto, trazendo uma diversidade maior de

modalidades espor# vas. Tenho certeza que desta forma a revista será um

sucesso.

Amo descobrir como as coisas funcionam. É muito legal olhar para o relógio e saber ler as horas. Mas eu valorizei muito mais o meu relógio quando vi todas as engrenagens que são necessárias para que el e funcione. Espero que, através desta revista, pos-samos ver as engrenagens

do esporte e da cultura.

Sinto que temos perdido o conceito

de “cultura” por aqui. Não só a cultura bra-sileira, mas também a geral. Seria muito interessante resga-

tarmos o conceito e o interesse dos jovens

por ela. Apoio a ideia desta revista que veio para agregar

conhecimento.

[email protected]

(19) 38589072

(19) 38589372staffmagazine

staffmagazine.wordpress.com/contato

qualidade.

Gabriel do Valle

interesse por ela. Apo

desta veio par

conh

ssante. Staff

ossa

Áurea André Emily Priscila

a mu

moTefo

Mariana Herculino Guilherme Melo

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Na última semana de maio, há quase 100 dias para a abertura dos Jogos Paraolímpicos, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, inauguraram o Centro de Treinamento Paraolímpico Brasi-leiro. A obra, orçada no valor de R$ 264,7 milhões, começou em dezem-bro de 2013. O complexo foi cons-truído no Parque Estadual Fontes do Ipiranga em São Paulo e é um dos frutos do maior legado esportivo do mundo para os atletas paraolím-picos nacionais. O objetivo é que o centro seja o principal em excelên-cia do Brasil e da América Latina na modalidade.

Além dos atrasos, há quem ques-tione que o centro paraolímpico de-veria ser uma extensão da infraes-trutura erguida no Rio de Janeiro. Dessa forma, o governo conteria

gastos e reaproveitaria parte das obras cariocas. Contudo, segundo o Ministério de Esportes, o legado es-portivo não será apenas para o Rio de Janeiro, mas para todo o Brasil. “Não há um custo maior pelo fato de o Cen-tro de Treinamento Olímpico ter sido construído em São Paulo. Da mesma forma, não teria sentido concentrar todo o plano de legado da infraestru-tura esportiva em apenas uma cida-de”, defende.

A princípio, o empreendimento deveria ter sido inaugurado em maio de 2015, no entanto, o Ministério do Esporte e o Comitê Paraolímpico Bra-sileiro correm para entregar a obra antes das competições. A estrutura conta com uma área total de 94 mil m² e abrigará 15 modalidades es-portivas paraolímpicas, além de alo-jamento para 280 pessoas, pista de atletismo indoor, um centro de medi-cina e ciências do esporte, academia, vestiários e ambientes de apoio.

O portal da Secretaria do Estado de São Paulo apontou também que possui 45 mil alunos com de�iciência e, durante as paraolimpíadas esco-lares, foram descobertos atletas que representarão o Brasil nos jogos de 2016. O Governo Federal anunciou que a estrutura será utilizada para treinamentos, competições e inter-câmbios entre seleções, além de pos-sibilitar o desenvolvimento de novas gerações, a formação de pro�issionais e o avanço das ciências do esporte.

O Centro de Treinamento, inaugurado em São Paulo, será um dos legados aos paratletas

A obra, orçada no valor de R$ 264,7 milhões, começou em dezembro de 2013

Pronta entrega

Complexo na terra da garoa

L !"#$%! S#'(!"

A estru-tura conta

com uma área

total de 94 mil m².

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A 14ª Festa Literária Internacional de Pa-raty (29/06 a 03/07) contará com a presença da jornalista bielorrussa Svetlana Aleksié-vich, ganhadora do Prêmio Nobel de Litera-tura 2015. Svetlana lançará na Flip 2016 a obra A guerra não tem rosto de mulher, que relata a participação de mais de 500 mil so-viéticas na Segunda Guerra Mundial.

Em parceria com o Comitê Organizador Rio 2016, o Google Street View - pela primeira vez na história dos jogos - fotografou em 360° os locais onde acontecerão as competições olím-picas na visão dos atletas. As instalações ma-peadas incluem lugares abertos como o Centro Olímpico de BMX e a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Depois de mais de 80 anos, o rugby e o gol-fe estão de volta às competições olímpicas, com a estreia no Rio 2016. O estádio de Deo-doro, na Vila Militar, sediará as competições de rugby, além de outras três modalidades. Já a disputa de golfe acontecerá no Campo Olím-pico de Golfe, localizado na Barra da Tijuca.

Mesmo com a gravação completa e o lançamento marcado para dezembro deste ano, os executivos da Disney anun-ciaram a regravação do ilme Rogue One: Uma história Star Wars. O principal mo-tivo é a qualidade do material apresenta-do pelo diretor Gareth Edwards, que ica aquém quando comparado a Star Wars: O Despertar da Força.

Os apaixonados por futebol que não pode-rão ir ao Rio de Janeiro têm outras opções para assistir aos jogos fora das telas. As partidas se-rão realizadas em outras cinco cidades: Brasília (Mané Garrincha), Belo Horizonte (Mineirão), Manaus (Arena da Amazônia), Salvador (Arena Fonte Nova) e São Paulo (Arena Corinthians).

O Nobel e a Guerra

Com outros olhos

Golfe e rugby nas Olimpíadas

Uma História Star Wars

Olimípiadas além do Rio

Pronta entrega

Foto: Google street view

Foto: starwars.com

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O universitário José Neto é jovem, mas já via-jou para universos paralelos e grandes con�litos: desde criança, acompanha a saga de heróis mu-tantes “X-Men”, criados pela editora norte-ameri-cana Marvel. Até hoje, lê as histórias em quadri-nhos e assiste desenhos animados sobre o grupo. Para ele, o dia 24 de março foi especial, pelo lan-çamento do �ilme “X-Men: Apocalipse”. Segundo o site especializado Box Of�ice Mojo, a arrecada-ção internacional de X-Men está acima de 400 milhões de dólares, e a exibição nem terminou seu primeiro mês. Uma parte das economias de Neto está nessa estatística: assistiu ao longa no dia da estreia e planeja revê-lo. “Gastar com um �ilme desses é investimento”, brinca.

No Brasil, �ilmes do mesmo nicho de “X-Men” estão quebrando recordes: em março, “Batman v. Superman: A Origem da Justiça” (BvS) teve a bilheteria mais lucrativa da história do país: 44 milhões de reais ganhos, número que deixou produções como “A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2”, “Vingadores: Era de Ultron” e “Velozes e Furiosos 7” para trás. Menos de um mês depois, o longa da DC Entertainment foi desbancado por “Capitão América: Guerra Civil”, “Mogli – O Me-nino Lobo” e “O Caçador e a Rainha do Gelo”. Os dados são da empresa de consultoria ComScore.

A fascinação de fãs como Neto pelo �ilme se deve às batalhas épicas, vilões sem escrúpulos e heróis capazes de fazer qualquer coisa para sal-var a Terra. Contudo, Hollywood parece encan-tado com o mercado da cultura pop por outra razão: dinheiro. Só nesse ano, são 17 os lança-mentos baseados em histórias em quadrinhos, sagas literárias, games, séries televisivas de su-cesso ou longa-metragens que fazem parte do

imaginário nerd. Os que já terminaram suas exi-bições nos cinemas (Deadpool, BvS) obtiveram alto desempenho nos caixas: mais de 1,6 bilhão de dólares em conjunto.

Crescimento do setor

Em comparação com o ano passado, o mer-cado de �ilmes adaptados de conteúdos audio-visuais, quadrinhos, games e séries literárias de �icção jovem-adulta cresceu mais de 30%. Mesmo com o aumento do nicho, o publicitário Gabriel Ferreira acredita que o cinema não está reinventando o modo de consumir conteúdos, e sim aproximando a relação entre o público e per-sonagens. Ferreira acredita que a criação de um novo gênero será necessária devido à populari-dade dos longas relacionados à cultura pop.

Já Thiago Borbolla, editor do portal de cultu-ra pop Judão, discorda. “‘Super-herói’ não é um gênero cinematográ�ico. São comédias, dramas, suspenses, aventuras que, por acaso, tem um su-per-herói como protagonista”. Ele ressalta que o desempenho e qualidade dos �ilmes crescem por causa de adaptações satisfatórias, pois as histó-rias em quadrinhos não são simplesmente “jo-gadas” nas telas de cinema, e sim adaptadas de acordo com o público.

Mesmo com o boom em 2016, a “pavimenta-ção” desse setor pop deve ser creditada à 2015: das cinco maiores bilheterias do ano, três foram de franquias nerds. Até meados de dezembro, a liderança era de Jurassic World, seguido por “Ve-lozes e Furiosos 7” e “Vingadores: Era de Ultron”. No entanto, o ano acabou com “Star Wars: O Despertar da Força” quebrando recordes: foram

O despertar de Hollywood Em comparação com o ano passado, o mercado de fi lmes “nerds” cresceu mais de 30%. Especialistas acredi-

tam que o mo" vo do aumento é claro: rentabilidade

Em ca, az

E(#") * +!", -# T.#('$ , M#//!,

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mais de dois bilhões de dólares faturados ao redor do mundo.

Estereó0 po de herói?

Além do dinheiro, “O Despertar da Força” trouxe inovações para a franquia: pela primeira vez, o clás-sico trio de heróis de Star Wars tem um ex-storm-trooper negro e um piloto de traços hispanos. No entanto, a “força” está com uma mulher: Rey. Interpretada pela britânica Daisy Ridley, a personagem foi de!inida por J. J. Abrams (diretor, produtor e co-rotei-rista do !ilme) como um elo entre as mulheres do século 21 e a “galáxia muito dis-tante”, além de indicar que ela seria tão capaz quanto homens em batalhas.

Fãs sugerem que a estratégia deu certo: o programador Henri-que Costa acompanha a saga criada por George Lucas, e assegura que Rey e Imperatriz Fu-riosa – de “Mad Max: A Estrada da Fúria”, criada por George Miller – estão entre as melhores perso-nagens das telonas em 2015. “Com a discussão de igual-dade entre gêneros cada vez maior, era importante uma franquia do tamanho

dólares faturados ao

espertar da Força” trouxe pela primeira vez, o clás-

Wars tem um ex-storm-de traços “força”

Rey. ica em

ams tei-elo

o s-e

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de Star Wars ter uma protagonista feminina de

verdade”, frisa, ao lembrar que as trilogias an-

teriores contaram com a presença feminina de

modo coadjuvante. Ele salienta que a protago-

nista faz sucesso, a�inal, “muitas meninas vão a

eventos com seus pais vestidas de Rey, e as lojas

de brinquedos tiveram os estoques do boneco

da personagem esgotados rapidamente. Já José

Neto relata que, além de se impressionar com

Rey em “O Despertar da Força”, aprova a perfor-

mance de Gal Gadot como Mulher-Maravilha em

BvS. “Ela não representa uma mulher perfeita, e

sim poderosa”, re�lete.

Mesmo assim, outras franquias não têm in-

vestido tanto em personagens fora do padrão

homem-branco-heterossexual. Para Gau Effe,

ilustrador e quadrinista, a Marvel Entertainment

tem sido comedida na abordagem das minorias

sociais.  Como exemplo, cita a hashtag “#Whe-

reIsNatasha”, lançada por fãs da heroína Viúva

Negra, cuja representatividade �icou restrita aos

dois longas de “Os Vingadores” (com pontas em

“Capitão América: O Soldado Invernal”).

Isabel Wittmann, colaboradora do site de crí-

tica Cinema em Cena, constata que a Viúva Negra

teria potencial para um �ilme solo, o que não está

nos planos da Marvel. “Em termos de represen-

tatividade, alguns passos já foram dados, mas há

um longo caminho pela frente”, prevê.

Na telinha

O aumento da produção de séries provocou

uma separação maior da audiência. Hoje, são

criadas séries para diversos nichos. O Internet

Movie Database (IMDb) é um portal sobre con-

teúdo audiovisual que oferece aos usuários a

possibilidade de classi�icar conteúdos por nota.

Dos 100 seriados mais populares no site, 15 são

provenientes de produtos da cultura pop. Entre

eles, se destacam com o público Game of Thro-

nes, Sherlock e The Flash – todos atingem mé-

dias maiores que oito.

A série Game of Thrones, exibida pela HBO, é

baseada nos livros da saga “As Crônicas de Gelo e

Fogo”, escritos por George R.R. Martin. Lançada

em abril de 2011, quebrou recordes de audiên-

cia: o portal de crítica especializada Adorocine-

ma estima que 7.490.000 pessoas assistiram ao

primeiro episódio da sexta temporada.

Já “Sherlock” é baseada nos contos e roman-

ces de Sir Arthur Conan Doyle sobre o famoso

detetive britânico Sherlock Holmes. O diferen-

cial da adaptação da BBC é a roupagem moderna

que os crimes e os personagens ganham. As três

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Foto: Divulgação/cinemaiscom

ic.com

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Mesmo com o boom em 2016, a “pavimenta-ção” desse se-tor pop deve ser creditada à 2015: das cinco maiores bilhete-rias do ano, três foram de fran-quias nerds.

““

temporadas da série possuem, cada, três episó-dios de uma hora e meia, e um especial foi lança-do na virada do ano de 2015 para 2016. Esse epi-sódio contou com exibições na BBC e em diversos cinemas espalhados pelo Reino Unido e Estados Unidos.

Das três, “The Flash” é a que possui menos or-çamento de produção – mas está em segundo lu-gar entre as mais populares – perde apenas para Game of Thrones. Os episódios semanais lança-dos pela emissora-irmã da HBO, CW, contam a história de Barry Allen, um cientista forense que ganha supervelocidade após ser atingido pelo raio de um acelerador de partículas. Allen/Flash e outros personagens da trama são provenientes das HQs da DC Comics.

Sucesso atemporal

Mesmo com as discussões que rodeiam o seg-mento audiovisual nerd e os montes de dinheiro que as acompanham, há quem acredite que o cres-cimento dessa indústria não é de hoje. Robledo Milani, editor do portal Papo de Cinema, crê que as relações estreitas entre cinema e cultura pop existem há tempos. Como exemplo, cita “O Mágico de Oz”. O livro foi publicado em 1900, e a adapta-ção para os cinemas já tem quase 80 anos. “Mes-mo assim, as pessoas ainda se encantam”, opina.

Ele acrescenta que os longas mais rentáveis da cultura pop são os produzidos pela Marvel. As maiores bilheterias do segmento foram registra-das em “Os Vingadores” (2012) e “Vingadores: Era de Ultron” (2015). Restringindo a pesquisa para produções da DC, é possível constatar que “O Ca-valeiro das Trevas Ressurge” (2012) e “O Cavalei-ro das Trevas” (2008), da trilogia protagonizada por Batman, foram os maiores sucessos da com-panhia, faturando mais de um bilhão de dólares cada. No entanto, Milani acredita que esse merca-do ainda se expandirá: “Hollywood percebeu que a indústria está sempre aberta para produções desse segmento. Quando elas são bem-feitas, têm um público afoito, que ultrapassa gerações. ”

Foto: Divulgação/cinemaiscom

ic.com

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Palavra de mestre

A 800 metros do ouro Kleberson Davide Krasucki comenta os desafi os e vitórias que tem conquistado

ao longo da carreira de atleta

Nogueirense de origem humilde, Kleberson Davide Krasucki, 30 anos, deixou os pomares de laranja, onde trabalhava, para se dedicar ao Atle-tismo, uma decisão que lhe rendeu bons resulta-dos. Ao ser levado, aos 12 anos, pelo ex-treinador de futebol para um teste de atletismo, ele teve o primeiro contato com o esporte, e tempos depois o atletismo tornou-se pro�issão.

Kleberson já representou o Brasil em grandes competições a nível internacional. Só em campeo-natos mundiais, participou de cinco. Em uma opor-tunidade, esteve na Copa do Mundo de atletismo. O atleta também marcou presença em dois Pan-A-mericanos, dois jogos olímpicos, seis vezes partici-pou do Troféu Brasil CAIXA de Atletismo, no qual é campeão consecutivo desde 2007. Por ultimo, também participou de dois campeonatos Íbero-A-mericanos.

Recentemente conquistou a classi�icação para os jogos Rio 2016, com índice olímpico. A marca registrada foi de 1m45s73 na prova dos 800m, que lhe garantiu a medalha de prata. Na mesma com-petição, outro brasileiro conquistou o ouro, garan-tindo mais uma vaga brasileira. Atualmente Kle-berson ocupa a vice-liderança no ranking mundial de atletismo na categoria dos 800 metros. Como atleta, o maior desa�io é superar os seus limites, dando sempre o máximo de si nos treinos e bus-cando alcançar melhores resultados.

Desde 2012, Kleberson é casado com Francie-le Krasucki, especializada em provas de velocida-de e medalhista de ouro no revezamento 4x100 metros feminino. Para o atleta, praticar o esporte junto com a esposa é prazeroso. “A gente se ajuda a encarar os treinos e competições” pontua. Em perguntas rápidas, o atleta relata pontos decisivos de sua carreira. Ele conta da marcante história das Olimpíadas de Londres, na qual �icou de fora, e da

conquista da medalha de ouro, em 2014, nos jogos Sul-Americanos. Conta ainda sobre o ciclo de lesões sérias, que quase o fez abandonar a carreira, sobre a sua preparação para as Olimpíadas Rio 2016 e re-vela sua opinião a respeito da estrutura do Brasil em relação a corrida e novos talentos.

Nos jogos olímpicos de Londres, em 2012, você chegou a se aquecer, no entanto, não realizou a prova por causa de um mal-estar. Como lidou com essa situação? Foi triste, pois treinei e me preparei muito para estar ali. A situação fugiu do meu controle e não tinha o que fazer. Mas nunca encarei isto como uma frustração, e sim, uma motivação a mais para estar nos jogos do Brasil e dar a volta por cima.

Nos jogos olímpicos de Londres, em 2012, você chegou a se aquecer, no entanto, não realizou a prova por causa de um mal-estar. Como lidou com essa situação? Foi triste, pois treinei e me preparei muito para estar ali. A situação fugiu do meu controle e não tinha o que fazer. Mas nunca encarei isto como uma frustração, e sim, uma motivação a mais para estar nos jogos do Brasil e dar a volta por cima.

Você enfrentou várias lesões sérias. Passou pela sua cabeça não voltar a compe0 r? Como foi a recuperação? Em alguns momentos sim, pois passavam vários pensamentos do 0 po “será que vou conseguir”? No entanto, nunca perdi o foco e a vontade de treinar. Isso foi muito importan-te para superar cada lesão.

Como você avalia a estrutura do Brasil para lan-çar novos talentos na corrida? Hoje está evo-luindo muito, e, através dos institutos, estão conseguindo descobrir novos talentos. Acre-dito que, depois dos jogos olímpicos aqui no Brasil, as crianças vão começar a se interessar mais pelo atletismo.

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Junho 2016 Davide conquistou a

vice liderança do ranking mundial de Atletismo, na

categoria 800 metros

Foto: Arquivo pessoal

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Foto: Maria Júlia Magalhães

Capa

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País do futebol onde, cara pálida?

Visto como o país do

futebol, o Brasil sempre

assumiu a paixão pelos gramados. Porém,

o brasileiro começa a se identifi car com outras

modalidades (e há um mercado que adora isso)

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O tempo passou e fenômenos sociológicos dos mais variados tipos aconteceram em 516 anos de Brasil. Formamos um país globalizado e miscige-nado. E, como é característico do próprio ser hu-mano se reconhecer em grupos, o brasileiro ur-bano também se agrupou em comunidades que ainda são chamadas de tribos. Para Michel Maffe-soli, autor do livro O Tempo das Tribos e professor da Universidade de Paris-Descartes, ao contrário das comunidades pré-modernas, esses grupos são bem �lutuantes: juntam pessoas unidas por uma paixão em comum, gosto em comum, uma comunhão emocional. “O esporte e a música são agregadores de comunidades, porque eles permi-tem a todos de expressar suas emoções, seus sen-timentos com os outros, ao mesmo tempo que os outros. Existem outros catalisadores, como uma luta, uma �iloso�ia ou uma crença em comum”, a�irma o sociólogo.

No Brasil, entretanto, sempre foi senso comum de que havia uma identidade cultural muito ho-mogênea, fazendo com que o País se tornasse uma só tribo, com interesses parecidos e hegemônicos, como o gosto pelo futebol. Mas será que realmente somos o país do futebol? Se não somos, qual a tribo dos brasileiros?

Até gringo sambou, tocou Neymar, é gol

Para entender como esse País continental e sua complexa identidade cultural se formaram, precisamos voltar alguns anos. Em 1950, o Brasil

sediou a Copa do Mundo de Futebol pela primeira vez e criou uma enorme expectativa nos torcedo-res. O professor aposentado Gesson Magalhães, de 81 anos, lembra que todos tinham a certeza de que seríamos campeões do mundo. Com gran-des goleadas nas Eliminatórias da competição, o Brasil era franco favorito. Seria a oportunidade de mostrar ao mundo nosso talento e a força da nossa miscigenação em campo. Seria. “Quando perdemos para o Uruguai em pleno Maracanã, o Brasil parou. Foi um choro só. Não se admitia que a seleção brasileira, que ganhara todos os jogos, perdesse para o Uruguai. Ainda mais sendo a dis-puta no próprio Brasil”, lamenta. A trágica derrota machuca até hoje. A população passou a se sentir inferior ao resto do mundo não só no futebol, e o escritor Nelson Rodrigues falou pela primeira vez em Complexo de Vira-Latas.

Chegamos, então, ao ponto culminante do amor entre brasileiros e o esporte bretão: 1958. Sob descon�iança do público nacional e interna-cional, o time principal desembarcou na Suécia sem ideia do que estaria por vir. Com a estreia de um menino de 17 anos chamado Pelé, o Brasil se consagrou campeão mundial com uma vitória na �inal por 5 a 2 sobre os donos da casa. “Pelé e Gar-richa eram os melhores do mundo, e nenhuma seleção, de qualquer país, nos superava”, comenta Magalhães. O título trouxe novamente o nome da seleção canarinho às capas dos jornais mundiais, que exaltavam o fato de um garoto negro parali-sar os marcadores suecos daquela forma. “A his-tória do nosso futebol é um capítulo das nossas histórias sociais de lutas e resistência contra as exclusões sociais”, a�irma o professor e sociólogo especializado em futebol Mauricio Murad. Era o início da identi�icação cultural do futebol no DNA do brasileiro.

Avançando alguns anos e estacionando em 1970, vemos um Brasil com 90 milhões em ação gritando “salve a seleção!”. O futebol, já associado ao samba e carnaval, resumia a identidade cultu-ral de todo o país. No universo dos esportes, o fute-bol conseguiu ir além da simples prática esportiva

Quando os portugueses aportaram no Brasil, encontraram na# vos e os chamaram de índios. Esses na# vos viviam em comunidades espalhadas pelo país, que se agrupavam e compar# lhavam afi nidades sociais.

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uma única tribo, identi�icada culturalmente no fu-tebol, no samba, no carnaval, feijoada, na Carmen Miranda. Mas como um esporte pode ser tão prati-cado ou admirado que resume a identidade cultu-ral de um país como o Brasil? O sociólogo acredita que, historicamente, toda sociedade tem pelo me-nos um esporte que lhe é marcante. Murad frisa que “o futebol está associado a inúmeras caracte-rísticas de nosso ethos, ou seja, de nosso per�il cul-tural. Por exemplo, a Música Popular Brasileira é uma das nossas mais fortes identidades culturais e acabou se aproximando do futebol, fazendo um link muito interessante, uma interação, uma in-�luência recíproca.”

Dos gramados para as ruas, praias e ringues

Esse processo de formação cultural e históri-ca de um país não é uma ciência exata. À medida que essas identidades se desenvolvem e entram em contato com outras culturas, elas se in�luen-ciam e se renovam. Com o fenômeno da globa-lização, o futebol deixou de ser uma “patente” brasileira e se tornou negócio mundial. O futebol inter-nacional se estruturou, criou ligas mais com-p e -

para se tornar uma paixão nacional. Bicampeão do mundo, atingiu seu auge no país com o incen-tivo de alguns presidentes, principalmente como estratégia política pelo General Ernesto Médici. Com bordões como “ninguém segura esse país” e “Brasil: ame-o ou deixe-o”, a seleção era patri-mônio nacional e não torcer para ela era símbolo de antipatriotismo. Até a linguagem se adaptou à cultura do futebol ao longo dos anos, adicionando várias expressões ao vocabulário do brasileiro. Dentro de campo, o espectador não via apenas onze homens jogando, mas via a si próprio: com a ginga do samba nos pés e com a alegria e es-pontaneidade que deixavam jogadores de outras seleções estupefatos. “Herdamos das culturas negras, índias e mesmo portuguesa, uma mo-vimentação corporal, um jeito próprio, que se manifestavam entre outras culturas, no samba e na capoeira”, propõe Murad, autor do livro Para Entender - Violência No Futebol.

Depois de 1958, o Bra-

sil se apre-sentou ao

mundo c o m o

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titivas e levou nossos principais jogadores. A seleção, antes nacional, passou a se resumir em um grupo de jogadores que atuavam por clu-bes grandes da Europa.

A globalização não só levou a cultura do fu-tebol para o mundo como trouxe outros espor-tes e suas culturas para o cardápio do brasilei-ro. De acordo com o Estudo sobre esportes no Brasil - Muito além do futebol, da consultoria Deloitte, o futebol ainda continua como o espor-te de maior interesse dos brasileiros, sendo o fa-vorito de 32% dos entrevistados. Porém, a mes-ma pesquisa aponta que os esportes que mais irão crescer nos próximos anos são rugby, lutas e vôlei, deixando o futebol em 4º lugar. As lutas, por exemplo, vivem seu momento de popula-rização no país, graças a um crescimento das modalidades em todo o mundo. Os espetáculos de vale-tudo brasileiro e do jiu-jitsu dos irmãos Grace resultaram no principal evento mundial de artes marciais mistas (MMA), o Ultimate Fighting Championship (UFC). A competição cresceu tanto que seu valor pulou de $2 milhões no início dos anos 90 para $1 bilhão, segundo a revista Forbes. “Estamos presenciando um novo e signi�icativo processo de massi�icação cultural típico das sociedades do consumo e do espetáculo. Na gênese do atual MMA, através das lutas de vale tudo, há marcas identitárias que injetam um valor de brasilidade ao esporte. Essa característica, somada ao fato de existi-rem ídolos brasileiros nos ringues, tem gerado um grande mercado consumidor de MMA no Brasil”, explica Álvaro Millen Neto, professor e pesquisador da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). Em 2012, o Brasil passou os Estados Unidos e se tornou o princi-pal mercado para o campeonato no mundo, gi-rando entre 27,7 milhões e R$ 73,9 milhões em cada cidade que passa.

Mais opções, mais iden0 dades

Com o interesse dessa nova geração por outras modalidades esportivas, o mercado esportivo se

ampliou no Brasil. Segundo pesquisa de 2015 do Instituto de Estudos e Marketing Industrial, só o setor de roupa esportiva cresceu 10% em rela-ção ao ano anterior, atingindo quase R$ 11,3 bi-lhões. Muitos desses esportes passam a compor a identidade das pessoas e geram uma gama de particularidades. O skate, nascido das pranchas de surf da Califórnia dos anos 60, é apenas um dos exemplos de esporte que formou uma legião de seguidores tão grande a ponto de formar uma cultura. Nascido para ser usado nas ruas, a práti-ca esportiva se dissemina durante a Guerra Fria e acaba se identi�icando com a contracultura, marcada pela oposição real de jovens da época à valores tradicionais da sociedade como o patrio-tismo, o trabalho e a ascensão social.

Esse grupo acabou desenvolvendo um com-portamento parecido, que dialoga diretamente com processos culturais dos centros urbanos. O músico Fábio Danilo tem 21 anos e anda de skate desde os quatro. A�irma ter feito muitos amigos através do esporte. “O skate é muito ligado à rua e aos movimentos vindos dela. Mesmo sendo um esporte individual, não existe competição entre os skatistas. Pelo contrário, existe muito respeito e vontade de ver o outro acertando as manobras.” Para o músico, o skate vai ao encontro de movi-mentos culturais urbanos que se diferenciam en-tre si, como o rap e o punk, atraindo a atenção da juventude.

Mesmo o skate fazendo parte de uma iden-tidade tão forte desses grupos, o mercado vis-lumbra nesse esporte uma tendência. A dona de uma loja de streetwear, Gabriela Garcez Duarte, comenta que as marcas focam nos pro�issionais, patrocinando-os, fazendo campeonatos e fazen-do com que eles testem seus produtos. ”Na hora das vendas, porém, a maior porcentagem é dos simpatizantes, aqueles que não praticam o espor-te mas gostam do estilo, da moda”, acrescenta.

Dentro desse mercado esportivo, o futebol é cada vez menos o centro das atenções dos brasi-leiros. Muitos se identi�icam com outros esportes por buscarem na prática esportiva mais ganhos

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mentais do que �ísicos. O heptacampeão brasilei-ro e bicampeão sul-americano Adilson Moreira Brito só queria aprender uma maneira de se de-fender após uma confusão com um irmão mais velho, mas aprendeu a essência do karatê. A arte marcial japonesa ensina que sua defesa era ape-nas um detalhe, pois o maior lutador resolve seus con�litos sem precisar lutar. “Acabei me tornando competidor, comecei a dar aulas e tenho o karatê como �iloso�ia de vida. Meu objetivo hoje é passar para meus alunos e essência desse esporte”, rela-ta. O medalhista também assume que, ao pensar na vida de lutador, não poderia deixar de mencio-nar as músicas do clássico �ilme “Rocky”, sucesso nas bilheterias de todo o mun-do. Esse movimento de cul-turalização dos esportes �ica visível no setor audiovisual, estimulado pelos megaeven-tos que tem sido estruturados no Brasil. Para o coordenador do projeto “Esporte e Arte: Diálogos” da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ), Victor Melo, uma prova disso é o material que tem sido produ-zido para canais de TV aberta e a cabo, bem como curtas e longas-metragens apresentados em festivais. “O esporte é um dos principais temas cinematográ�icos em alguns países, especialmente para os Estados Unidos, onde o basquete encontra um papel de destaque, a reboque na enorme importância que tem na cultura norte-americana”, ressalta.

O esporte exercita o corpo, a mente e o gos-to cultural das pessoas. Nas praias, onde o surf é marca registrada, a conexão entre homem e natureza é o estilo de vida compartilhado entre praticantes e simpatizantes. Para Jesse Mendes, bicampeão brasileiro e tricampeão paulista de surf, não há nada capaz de colocá-lo tão em con-tato com a natureza como pegar um tubo, por exemplo. A busca pela saúde, a forma de viver de bem com a vida e o amor pela natureza são ape-

nas alguns dos princípios relacionados ao esporte. “Ouço algumas bandas de surf music. É estimulan-te, instiga a pegar onda, te anima”, exclama. O gêne-ro surf music, voltado para esse público, atinge tan-to leigos quanto pro�issionais no esporte. Na hora da preparação, muitos sur�istas se concentram com batidas mais calmas, que remetem a um esta-do de contemplação, agradecimento e espirituali-dade. Para a prática do esporte, aparecem batidas mais rápidas, que geram adrenalina, dado que o surf envolve intenso esforço �ísico e perigos natu-rais como a força do oceano e animais. “São batidas mais tranquilas, pois o surf carrega um lado espiri-tual, ligado ao contato, comunhão com a natureza”,

relata Rodrigo Segabinazzi, autor do artigo “O estilo de vida da tribo do Surf e a cultura de consumo que a envolve”. O professor e pesquisa-dor destaca que a indústria perce-be esses movimentos, e empresas que comercializam o surf passam a usar esse tipo de música em suas lojas e anúncios como forma de reforço ao estilo de vida vendido. Ao se apropriar dessa realidade, o mercado passa a vender um estilo de vida idealizado.

Cardápio

Quando vai a um restaurante especializado em comida japonesa, o cliente não espera encon-trar uma feijoada ou um hamburguer servidos. Não se cobra variedade de quem se auto intitula especializado. Em alguns momentos da história, o Brasil se passou por especialista em futebol e toda a cultura que o entorna. Nem os brasileiros – muito menos os estrangeiros – esperavam en-contrar outros esportes sendo praticados com tanta paixão por aqui. Porém, como se cobra do “país do futebol” que seja o país só do futebol? A arte que nos deu cinco títulos mundiais não foi patenteada, e foi reinventada e melhorada algu-mas vezes por franceses, portugueses, holande-ses, argentinos e, principalmente, por alemães.

Brasil: prin-cipal mercado de campeona-tos do mundo

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Hoje, somos especializados em um pouco de tudo e temos novos ídolos. Para quem viu Pelé ser coroado Rei, é até estranho ver o menino Neymar dividir holofotes com Gabriel Medina, Cesar Cielo, Artur Zanetti, Anderson Silva e muitos outros. No cardápio do brasileiro agora, opção é o que não falta e a vontade de se identi�icar com alguma delas é inerente às novas gerações. Nascem todos conectados, sabendo da existência de alternati-vas. O futebol ainda é paixão nacional e pratica-mente uma religião para muitos. Só que o brasi-leiro consegue dividir a atenção e se apaixonar um pouquinho por todo mundo.

Enquanto os praticantes se envolvem e se encantam com novas possibilidades a cada dia, um mundo não tão encantador se forma para suprir as “necessidades” de públicos-alvo, de-�inidos por pesquisas de preferência e tendên-cias. A�inal, no mesmo mundo globalizado e informado, existe uma realidade cruel: o que não gera “necessidades”, não serve para gerar produtos e, consequentemente, riquezas.

Nossas identidades se misturam e se per-dem na multidão inidenti�icável e, na medida do possível, tentamos nos aproximar de uma cultura idealizada, que não tem formato nem voz própria. Talvez não sejamos mais as tri-bos que se agrupavam por a�inidade em 1500, nem 90 milhões em ação com uma preferência em comum. Em 2016, temos que conviver com mais de 7 bilhões de pessoas e in�initas possibi-lidades de a�inidades, sejam elas esportivas ou culturais.

O mundo já não nos enxerga como país do futebol, mesmo esse ainda sendo o esporte mais praticado e admirado do país. A cada dia que passa, o dono da bola percebe que não se trata mais de dividir seu valioso item, e sim de perceber que seu item não é mais tão valioso assim. Podemos ter donos de pranchas, skates, raquetes ou luvas, cada um com uma motiva-ção. Dentro de cada motivação, um contexto, uma realidade. Quem haverá de nos de�inir?

Na era da informação, as tribos tem dife-rentes caracterís0 cas e formações. Algu-mas delas se formam a par0 r de movimen-tos polí0 cos, es0 los musicais e contextos sociais. Porém, algumas tribos nascem de esportes. Comoocorre o processo de for-mação de tribos como essas? Contrariamente ao que muitas das vezes se a�irma, não é a técnica que imprime a evolução da sociedade, mas são os usos sociais que utilizam tal e tal técnica. Nes-se sentido, a Internet é um catalisador formidável do tribalismo, não a primeira causa.

O retorno do ideal comunitário (tri-balismo) é um fato inegável. Enquanto a sociedade moderna era organizada sobre o princípio do contrato social, unindo de maneira consciente e racional os indiví-duos, sujeitos autônomos e separados, a pós-moderna agrega incontáveis tribos.Ao contrário das comunidades pré-mo-dernas, essas são bem �lutuantes: juntam pessoas unidas por um gosto em comum, uma comunhão emocional. Assim, a mú-sica e o esporte são agregadores de comu-nidades,pois permitem a todos expressar suas emoções..

As tribos nascem em um momento e local. É a situação que cria a necessidade de estar junto e não uma iniciativa pensa-da, ao contrário do contrato social. A tribo sente, cria e sorrijunta. O cimento da tri-bo é a emoção do momento em comum, que pode ser muito efêmera.Dessa forma, durante uma competição esportiva,o-

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O sociólogo francês Michel Mafesoli é responsável por cunhar o conceito de tribo urbana. Sobre o tema, aceitou conversar com a Staff Magazine

correm muitos nascimentos de tribos, reunindo torcedores ocasionais que são levados por torcedores mais constantes.

Essas tribos que se relacionam diretamente com uma prá0 ca espor0 va desenvolvem merca-dos especializados que dialogam também com os simpa0 zantes de tal esporte. Onde ocorre seu conceito de “desindividualiza-ção e valorização do papel” que acontece nessas tribos?A A sociedade moderna estava sobre grandes bases: o principio individualista, o valor do tra-balho, o racionalismo.Ou seja, cada indivíduo era associado a uma identidade e só uma. Já na sociedade contemporânea, cada um não é mais associado a uma só identidade, mas se modi ica de acordo com os momentos e os locais a diversas identi ica-ções. É o que podemos nomear “desindividualismo”. Claro que o indivíduo como entidade ísica subsiste, mas ele não é associado a uma só identidade: ele se de ine pela sua identi icação a tal tribo, sendo que ela pode mudar – nós

podemos ser apaixonados pela arqueologia e amadores de fute-bol, pertencer a alguma associa-ção de antigos alunos de uma es-cola e frequentar uma tribo que dança tango.

“Je est un autre” (Eu sou um outro), dizia o poeta Rimbaud. Isso signi ica que eu não tenho mais uma só identidade, mas em que me de ino através dos outros em minhas tribos. Isso é marcado nem todo meu esti-lo de viver. Não é mais próprio de cada um, mas à tribo a qual pertence e ao momento. Assim, os limites dessas tribos podem ser bem variáveis. As tribos fe-chadas consistem nos grupos que só praticam um esporte, uma arte, fazem parte dela; mas tribos também podem ser mais abrangentes.No Brasil, se via uma iden0 dade cultural homogênea, do futebol relacionado ao samba, forman-do uma grande tribo. Hoje, po-rém, a diversidade das tribos é enorme. Esse fenômeno tem relação com o espírito de nossa época? Como a iden0 dade cul-

tural de um país fi ca perante essa pluralidade de iden0 da-des??Hoje, a junção de tribos forma uma sociedade. É normal que elas se fragmentem.Ao contrá-rio da época moderna, os dife-rentes indivíduos pertencem a várias tribos, e de maneiras muito diferentes: fãs de fute-bol não são necessariamente fãs de samba ou de caipirinha, cristãos não são necessaria-mente monoteístas, nem todos os brasileiros gostam de fute-bol, assim como nem todos os franceses gostam de camem-bert (queijo).Auguste Comte falava de reductio ad unum (redução a um só) – e isso de- iniu a modernidade. Em con-traponto, a pós-modernidade marca a volta do relativismo. Não existe uma verdade única. Cada verdade deve ser vincula-da à outras verdades.A coesão social não vem mais do univer-salismo, da homogeneização das situações da vida, mas da ligação de diversas tribos, dos seus gostos e crenças.

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L)/#

B���� - desistir de uma luta quando o dano �ísico é muito grande

S�� !�� - lutador que prefere lutar em pé, usando socos

G"��#� - Quando a luta prossegue em pé e as mãos �icam posicionadas para proteger o rosto

R�$%�&�' - quando a luta vai para o chão e o lutador que está por baixo inverte a posição

S)$+

T"() - manobra em que o sur�ista �ica dentro da onda se fechando

V�*� - levar um tombo da prancha

D�)% - quando se desce da onda da crista (topo) até a base. Grande aproveitamento da onda

S+� � - sequência de ondas

F)/ 7!*

B�,.� �� - Estar em posição de impedi-mento

F��,&) - Bola facilmente defensável e que entra no gol

G)/ )/0'% *) - Gol marcado em cobran-ça direta de um escanteio. Tem esse nome porque o primeiro gol marcado dessa maneira ocorreu nos Jogos Olímpicos de 1924

T� 1�/� - Chute dado com efeito utili-zando o lado externo ou interno do pé

GLOSSÁRIO

19

T�

zand

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S<#/

S���� - madeira do skate,a tábua onde você coloca os pés

T !"# - eixos que icam em baixo do skate

S$ ��$ - estilo de manobras que usam objetos da cidade como obstáculos

R%&' - passear, sair

O&&(� - Manobra mais básica do skate

B#,=) /

B ("# - Arremesso forte ou “tijolada”

H�)* $(+� - Tempo de duração que um jogador perma-nece no ar no ato de um arremesso

H%%� - Aro ou cesta

T%"% - Ato de impedir que o adversário conclua a jogada

O,� $(+� - Prorrogação, tempo extra

B�).�/� - Movimento de “deixar” bola na cesta

objetos da cidade como obstáculos

R%&' - passear, sair

O&&(� - Manobra mais básica do skate

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A história por trás das piscinasA"# M#$'# M'>) * Z'*%# N!>) '$#

Conheça as ou-tras faces da

campeã de bra-çadas que aos 18 anos passou por uma reviravolta

que mudaria seus planos

Fora da linha

CCoo

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Nascida em família de classe média dos anos 80, Fernanda Luiza de Azevedo Lima, ou melhor, “Fer”, teve uma infância relativamente normal, acompanhada pelos pais, tios, dois irmãos mais novos e um cachorro. Fernanda, que é natural de São Paulo, foi aquela típica criança “compor-tadinha” que não se sujava, tirava boas notas na escola, era muito tímida e desde bem cedo anda-va com amigos mais velhos. Segundo a avó, Fer-nanda já “nasceu sendo velha”, a�inal era muito nova e ao mesmo tempo adulta para a sua idade. Seus pais tinham programas bem tradicionais que uma família de classe média pode ter. Todo sábado tinha aquela pizza e no domingo o tra-dicional macarrão. Era sempre a mesma coisa, todo �im de semana. Sua rotina era tão habitual que Fernanda não se lembra de ter vivido gran-des aventuras durante a infância.

Apesar de boa aluna, as dúvidas quanto ao futuro pro�issional eram contínuas. Fernan-

da nunca teve uma vocação evidente. De uma coisa ela tinha certeza: era apaixonada pelo inglês e queria inserir o idioma em sua vida de alguma forma. Foi desse amor à língua que surgiu a ideia de passar um ano na Inglaterra. O plano era retornar ao Brasil para ingressar na faculdade. Quando os pais decidiram apoiá-la, Fernanda mal pôde acreditar, em poucos meses estaria realizando um sonho que pare-cia distante. “Sonhava acordada. Nunca havia viajado sozinha nem pra Santos e, agora, cru-zaria o Atlântico”, conta.

Enquanto ansiava pela viagem, ela conse-guiu um emprego como professora substitu-ta de inglês. Quem podia imaginar que aquela garotinha que tinha pavor de falar em público se tornaria uma professora? Nem ela mesma sonhou em viver essa experiência. Aquele cargo foi seu primeiro desa�io no mundo adulto. Nes-se período, começou a se interessar pela área de

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o paradoxo que estava diante de si. Era jovem demais para suportar aquela sensação de incer-teza quanto ao futuro.

Como dizem, a vida é uma caixinha de sur-presas. Ela não imaginava o que lhe estava reservado. Nesse período conheceu Jacke. A amiga que ela precisava veio no momento mais oportuno. Em sua companhia, Fernanda supe-rou muitos desa�ios e voltou a fazer atividades que não fazia desde o acidente. Jacke foi como um anjo. Nessa mesma época, a convite de uma educadora �ísica, Fernanda começou a nadar. A natação, apesar de familiar, não estava na sua

lista de metas a essa altu-ra do campeonato. Ela só pensava em voltar a andar. Mas não se mostrou indife-rente ao convite. O início foi marcado por adaptações. O esforço com os braços pre-cisava suprir a de�iciência das pernas. Não seria uma tarefa simples. Mas basta-ram apenas as primeiras braçadas... Ah, como es-quecê-las? Fernanda viveu um momento mágico. Há muito tempo não tinha essa sensação de liberdade, de

independência. Ela mal podia imaginar, mas a partir daquele momento seus horizontes se es-tenderiam e uma nova realidade estava por vir. A força que descobriu ter foi dissolvendo sua fragilidade. O medo passou o bastão à coragem.

Embora não fosse um treino pro�issional, pois a piscina servia para hidroterapia, Fernan-da começou a praticar natação na AACD. A mãe mais uma vez foi o seu braço direito nessa fase. As duas acordavam às cinco horas da manhã para estar às sete no treino. Em seu primeiro campeonato, o Paradesportivo Regional de São Paulo, para a admiração de todos, Fernan-da ganhou a medalha de ouro dos 50 metros

turismo. Ela passou a projetar essa ideia, a�inal, tudo parecia estar se encaixando. A língua in-glesa seria perfeita para o trabalho.

Entretanto, algo inesperado estava por vir: a tão sonhada viagem à Inglaterra não acon-teceria. Antes de partir, Fernanda sofreu um acidente que mudou radicalmente sua vida. O ônibus em que estava viajando, retornando de Campos do Jordão, saiu da pista, capotando em direção ao precipício. No hospital ela percebeu que havia perdido o controle sobre os membros inferiores. Ao voltar para casa, depois de passar 20 dias na UTI, precisou de tempo e paciência consigo mesma para lidar com essa nova realidade. A independência se desfez. A vida social acabou. Que período di�ícil e doloroso foi aquele! Trocar de roupa ou tomar banho se torna-ram tarefas extremamente complicadas. A jovem de 18 anos passou a ter a agilida-de de um bebê. Cada dia, um sacri�ício. Cada sacri�í-cio, uma vitória. A mãe foi uma companheira e tanto. E o que falar da avó Eda? Foram duas heroínas!

Sua nova rotina dali pra frente se resumiu a �isioterapia. Passou a frequentar a Associação de Assistência à Criança De�iciente (AACD). Du-rante os três primeiros anos, Fernanda se viu esperançosa. Em vez de se revoltar, permane-ceu otimista. Acreditava que a medicina pudes-se dar um passo que até hoje não foi dado. “Pra que chorar hoje, se eu posso voltar a andar ama-nhã?”, era o pensamento da jovem sonhadora de apenas 21 anos. As coisas acabaram não fun-cionando como suas aspirações mais otimistas tinham previsto. A conclusão veio: ela não vol-taria a andar. Veio junto o desespero, a angústia e mais uma vez as dúvidas. Ela precisou aceitar

“A de!iciência

de nenhuma for-

ma é um obstá-

culo para que se

viva uma vida

feliz”

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borboleta e ainda bateu o recorde nacional da prova. Inacreditável! Quando saiu da piscina, foi tietada por um rapaz que nunca havia falado com ela. Ele pediu fotos e até autógrafo. “Eu não sabia que você era tão boa”, dizia. E ela pensava: “Poxa, nem eu!”. Tudo mudou. A medalha lhe colocou em outro patamar. Daquele momento em diante, pôde compreender melhor o mun-do Paradesportivo. Trocou de equipe. Passou a treinar no Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) e conseguiu chegar ao ponto mais alto que um atleta nessa condição pode chegar: a se-leção brasileira paralímpica de natação.

Foram cinco anos sendo atleta pro�issional. Participou de campeonatos nacionais e inter-nacionais. Conheceu muitas pessoas, foi um período fantástico. Na última competição da

carreira, nadou em cinco provas. Em todas, ga-nhou a medalha dourada. Durante esse tempo o recorde dos 50 metros borboleta permaneceu com ela. Seu tempo era o décimo melhor do mun-do e o quarto melhor das Américas. Conquistou 23 medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze, sem contar os títulos regionais. Ela se recorda com entusiasmo dessa fase. “Através do esporte, eu me reintegrei à sociedade”, destaca. A natação, além de auxiliar no seu aspecto �ísico, foi um professor da vida que lhe ensinou a dar o seu melhor em tudo. Hoje ela trabalha como con-sultora de inclusão de pessoas com de�iciência na empresa Talento, em São Paulo. Mesmo com desa�ios, se diz privilegiada. “A de�iciência de ne-nhuma forma é um obstáculo para que se viva uma vida feliz”, conclui.

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O preço de um legado

Quando, em 2002, o Rio de Janeiro foi escolhi-do como sede dos jogos Pan Americanos de 2007, a cidade maravilhosa havia deixado para trás San Antônio, no estado do Texas, Estados Unidos, re-duto eleitoral do então presidente americano, na época, George W. Bush. Na ocasião, o Brasil já via uma possível campanha para sediar as Olimpía-das, o maior evento esportivo do mundo. Sete anos mais tarde, em Copenhague, na Dinamarca, veio a con�irmação: o país seria o primeiro da América

do Sul a sediar um evento desse porte. A cidade es-colhida: o Rio de Janeiro, a capital carioca.

Os jogos pan-americanos foram vistos de tal forma a alavancar a economia da cidade. Eram esperados investimentos em diversas áreas: nas instalações para o evento esportivo, no transporte público, meio-ambiente; havendo uma moderni-zação do projeto urbanístico da cidade. Mas para que isso pudesse acontecer era preciso, segundo o economista João Daniel Quagliato, planejamen-to. “Para que haja oportunidade de crescimento e de desenvolvimento é necessário planejamento,

Match Point

Gastos para readequações de complexos espor" vos do Pan

oneram economia nacional

O Engenhão, principal construção do complexo de obras do Pan, foi interditado em 2013 com problemas na cobertura

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principalmente, no que se refere à infraestrutura que será montada para atender às necessidades do evento. Se bem planejados, poderão ser úteis quan-do a cidade voltar à sua rotina normal”, explica.

Os investimentos feitos com vistas a atender o padrão olímpico passaram dos R$ 3 bilhões. No entanto, a adequação das obras, de acordo com o padrão das Olímpiadas, �icou apenas no papel. O Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, principal construção do complexo de obras do Pan – avaliado em R$ 380 milhões –, e sede das com-petições de futebol e atletismo, foi interditado em 2013 com problemas na cobertura. A decisão foi tomada após um estudo feito pela empresa alemã Schlaich Bergerman und Partner (SBP), indicando o risco de a cobertura ceder com ventos acima de 63km/h. O histórico de problemas na construção do Engenhão é longo. Em 2007, durante os prepa-rativos para os jogos pan-americanos dois muros da área interna desabaram.

Na época da interdição, os problemas também podiam ser vistos em outros pontos. O sistema elétrico do estádio estava de�iciente, a parte hi-dráulica enferrujada, os equipamentos eletrônicos apresentaram defeitos e azulejos despencavam devido à baixa qualidade da argamassa. Hoje, o es-tádio passa por reformas para as adaptações aos padrões olímpicos a um custo de R$ 52 milhões para os cofres públicos.

Ao fazer uma análise destas questões, Quaglia-to a�irma que esses reparos são onerosos para a economia do país. “Retrabalho sempre foi um fator de acréscimo de gastos desnecessários, tanto na iniciativa privada, como na pública”, a�irma. Mas o caso do Engenhão não foi isolado. Várias limita-ções foram detectadas na infraestrutura do Pan, o que resultou em mais gastos para que esses locais estivessem prontos para as Olimpíadas.

Outros projetos tiveram que passar por ade-quações para compor a infraestrutura das Olim-píadas. Ao todo, sete dos dez projetos construídos para os jogos pan-americanos sofreram altera-ções para as Olimpíadas. A lista inclui o Estádio

de Remo da Lagoa, o Parque Maria Lenk, o Parque Aquático Júlio Delamare, o Maracanãzinho, o Es-tádio João Havelange, a Marina da Glória e o Com-plexo Esportivo de Deodoro. O Centro de Hipismo, por exemplo, que �ica no Complexo Esportivo de Deodoro, custou R$ 177 milhões para o Pan, e foi reformado a um custo de R$ 157 milhões. Outras obras como o Velódromo do Pan, de R$ 21 milhões, foi descartado e deu lugar a uma nova instalação, construída no Parque Olímpico da Barra, que cus-tou R$143 milhões. Todas as adaptações das obras do Pan para as Olímpiadas do Rio-16 vão custar aos cofres públicos R$ 376 milhões de reais.

Para o estudante Carlos André Moyano, que mora em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Ja-neiro, o legado do Pan no Rio também podem ser vistas em obras de mobilidade urbana realizadas nos bairros. “Além das obras esportivas, também, tiveram obras nos bairros. Renovação do asfalto e laterais das pistas. Essas bene�iciaram a comuni-dade”, explica. Já o técnico de enfermagem Marcelo Lanzetti acredita que o legado �icou muito aquém do prometido, mas, pelo menos, trouxe algum bene�ício no transporte. “Os trens antigos foram substituídos por novos. Antes não tinha ar condi-cionado nos trens, agora tem”, conclui.

Contudo, Moyano reforça que a comunidade não tem acesso as obras do complexo esportivo. “O Parque Maria Lenk é utilizado apenas por atle-tas pro�issionais, a comunidade não consegue”. Há ainda os desvios de função em alguns projetos como, por exemplo, a Arena Multiuso da Cidade dos Esportes, em Jacarepaguá, que deixou de ser utilizada para atividades esportivas e passou a ser casa de shows.

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Se as obras do Pan-Americano do Rio de Janeiro tivessem sido construídas de acordo com o padrão olímpico, hoje, os R$ 376 milhões de reais usados para readequar as construções esportivas do Pan poderiam ser investidos em outras formas de be-ne�ícios ao contribuinte brasileiro.

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O professor de educação �ísica Cristiano Nascimento acredita que as verbas gastas com as readequações poderiam ser convertidas no esporte à nível local. “O esporte traz bene�ícios enormes para as comunidades. Mas o Rio não tem um incentivo ao esporte. Não como deve-ria. Se as obras fossem feitas no padrão olímpi-cos, iriamos gastar menos e investir no princi-pal que é educação e a saúde”, a�irma.

Para Quagliato, eventos como o Pan-Ameri-cano e as Olímpiadas, para países subdesenvol-vidos ou em desenvolvimento, como o Brasil, trazem apenas visibilidade internacional e o país precisa pensar, primeiro, em resolver seus problemas econômicos antes de sediá-los. “Pelo tamanho da dívida �inanceira e social em que estamos mergulhados as nossa ações deveriam estar norteadas para que o país encontre o seu rumo. Em linhas gerais, esses eventos, contri-buem para dar visibilidade internacional ao país que os promove. Penso que antes devería-mos fazer a lição de casa” explica.

Mas essa, não é uma regra a ser seguida somente pelos países de terceiro mundo. Na Grécia – berço dos jogos olímpicos – os inves-timentos feitos para as Olimpíadas de 2004 são apontados pelos economistas europeus como parte dos problemas que levaram o país a atual crise econômica. Outro exemplo vem do Canadá. Os jogos de Montreal, em 1976, le-varam 30 anos para serem pagos, pois a cam-panha olímpica não teve o apoio �inanceiro do governo canadense, �icando a cargo da prefei-tura do Quebec bancar todas as despesas dos jogos. Além disso, o evento foi marcado por um legado esportivo de pouca expressão para a cidade e suspeitas de corrupção e superfa-turamento nos projetos.

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Semelhante ao que ocorreu no Rio de Janeiro com o Pan-Americano, a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 representaria

um legado de avanços na infraestrutura dos ae-roportos, estádios e na melhoria do transporte das cidades sedes. Passados quase dois anos do mundial, o conjunto de obras que deveriam ser entregues as 12 cidades-sede dos jogos ainda não foram concluídos. Estima-se que sua con-clusão ocorra, apenas, em 2017, três anos após a realização do evento esportivo.

A maior parte dos atrasos estão relaciona-dos a construções que deveriam melhorar o trânsito e o transporte público, bem como ser-vir de legado para a população das cidades que foram sedes das partidas da Copa como: Trens VLT (trens leves sobre trilhos), monotrilhos, corredores de ônibus BRT (ônibus especiais em corredores); investimentos que deveriam aten-

O Velódromo do Pan, de R$ 21 milhões, foi descartado e deu lugar a uma nova instalaçãono Parque Olímpico da Barra, que custou

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O Velódromo do Pan, de R$ 21 milhões, foi descartado e deu lugar a uma nova instalaçãono Parque Olímpico da Barra, que custou R$143 milhões

der milhares de pessoas diariamente. A justi-�icativa para os atrasos nas obras permanece a mesma, em todos os casos: abandono das empreiteiras na metade do projeto. Algumas delas seguem envolvidas em escândalos de corrupção nos contratos com a administra-ção pública. Para o contador Jó Simei Martins, não houve planejamento e integração entre os governos federal, estadual e municipal, as-sim como falta de �iscalização do processo de serviços para a infraestrutura da Copa. “Na Copa do Mundo, o Brasil inventou um mode-lo de dispensa de licitação chamado de RDC – Regime Diferenciado de Contratação – onde poderia se contratar grandes serviços sem a burocracia da licitação”, explica.

Na Grécia os investimentos feitos para as Olimpíadas de 2004 são apon-tados pelos economistas europeus como parte dos pro-blemas que le-varam o país a atual crise eco-nômica.

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Spotify e o retorno da Fênix

Reza a lenda grega que a Fênix era um pássaro que, durante a morte, entrava em autocombustão e, depois de algum tempo, renascia das próprias cinzas. Alguns podem argumentar que a inspiração mitológica vinha dos egípcios, que acreditavam em Bennu, ave semelhante a garça que surgiu na cria-ção do mundo. Verdade ou não, voltamos à velha teoria de que nada se cria – tudo se transforma. No universo da música, a lógica é a mesma. Só para se ter ideia, de acordo com o Wall Street Journal, so-mente nos Estados Unidos, 9,2 milhões de LPs fo-ram vendidos em 2014. Parece que em plena era do Spotify, te-mos uma Fênix do século 21.

Respirando o ar do apogeu e declive da Segunda Guerra Mun-dial, surge em meio aos fogos do holocausto o LP jogando por terra o disco de 78 rpm. Tempos antigos? Talvez! Pre�iro acreditar que a onda tecnológica (se é que pode ser chamada de “onda”) não liga para tempos ou datas: ela simplesmente acon-tece. É algo que está mais para tsunami da tecnolo-gia. Esse fenômeno varre o passado e traz o futuro para o presente. Aí, era uma vez seja lá o que for. Nesse caso, era uma vez o LP, que em 30 anos foi ultrapassado pelo compact disc (CD) dos alemães.

Pobre tio Sam. Achou mesmo que só porque os alemães estavam distraídos pelo muro de Berlim não teriam capacidade de se reerguer? Pois eles ocuparam os armários e as prateleiras das residên-cias. Com um espaço de tempo menor – 20 anos – os CDs se tornaram obsoletos. Os tempos não são tão antigos, mas a tecnologia não liga para isso. Agora é hora de mudar. É a vez da nossa geração resgatar as memórias e relembrar os “velhos tempos” dos CDs. Apesar da nostalgia, a moda agora são os serviços

de streaming, como o Spotify. Desde 2009, o serviço vem se consolidando no mercado, mas com apenas seis anos de existência, agora ele é al�inetado pelo retorno do LP. Quanta reviravolta! Parece novela mexicana.

Quem diria que, depois de um hiato de quase 15 anos, o LP, a nossa Fênix, que surgiu durante a primeira vez dos fogos de guerra, agora ressuscita em pleno vigor – de forma tímida, mas ganhando a cada ano uma legião de fãs. Acredite se quiser, mas Arctic Monkeys, Lorde, Lana Del Rey e Lady Gaga

são apenas algumas das mais diversas personalidades que apostam no CD e no disco de vinil e, ao mesmo tempo, atraem o público mais jovem em todo o mundo. O século 21 tem espaço para o Spotify e para LPs. Dá até pra apli-car conceitos nietzschianos: o que não mata um serviço o torna mais forte.

Contudo, alguns acreditam que a revolução do LP nos últimos anos sur-ge da necessidade que o ser humano

sente de ter um ícone palpável. A sensação de pegar um LP e pôr em um toca discos nos dá a leve im-pressão de que estamos sendo transportados para uma novela de época escrita por Walcyr Carrasco.

Somos construtores do presente que anseiam pelo futuro. Que não conseguem ir para frente sem desapegar do passado. Vá do Oiapoque até o Chuí e, ainda assim, continue marcando a sua tradicional ceia de Natal na casa da avó, porque é lá que estão suas eternas lembranças, resgatadas por uma ca-deira de balanço ou por disco de vinil. É algo que não se esvai de suas mãos, como os serviços de streaming, mas que transcende. Talvez seja por isso que essa Fênix sobrevive: não porque surgiu das cinzas de uma guerra, mas porque ela ressurge no calor das nossas sensações.

Memória

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Ela res-surge no calor das sensasões

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Igual bola, Brasil

Ousadia. Cadê? Alegria, sumiu! Disseram que das margens do Ipiranga ouviram de um povo he-roico um brado retumbante. Você ouviu? Ouvi em 2002, crianças, pais, mães, avós, amigos, os próprios moradores das ruas bradando o penta. Na verdade esse brado já retumbou várias vezes, o que fez nosso Brasil um dia ser chamado de país do futebol. Mas de lá pra cá alguma coisa aconteceu com esse povo heroico. Eles perderam, foram derrotados. “Perder faz parte”, sempre ouvi, mas nunca contemplei. Na prática, os brasileiros não aprenderam a perder, quanto mais de sete. Saíram de-sapontados. Os alemães �icaram sem o aperto de mão de reconhe-cimento, e os brasileiros sem o espírito esportivo.

Brasil é samba, futebol e car-naval. É branco, negro, pardo e amarelo. Uma mistura que resul-tou em uma cultura envolvente, que vai do baiano ao carioca, do clássico ao hip hop, do açaí ao chi-marrão. No futebol não poderia ser diferente. Ro-naldo Luiz Nazário com sua audácia, ginga e atrevi-mento se fez fenômeno muito antes da conquista do penta. Quando ninguém botou fé, fez como Antônio Dias Cardoso, que com seus companheiros de ba-talha expulsou os neerlandeses de Pernambuco, e acreditou no que defendia. Na �inal contra a Alema-nha, �icou de frente com o melhor goleiro do mun-do até então, Oliver Kahn todo seguro e com a cara amarrada não pode evitar que Ronaldinho, com seu jeito brasileiro, colocasse a bola na rede duas vezes. Antônio Dias foi um dos heróis da Batalha dos Gua-rarapes, e Ronaldo Fenômeno o da �inal do mundial.

O funk de Mc Guimê fala de um país que mes-mo desigual sonha. Nele, o menino da favela que joga bola descalço almeja ser um grande jogador

no futuro. Tipo Neymar, sabe? Impossível não saber. Um dos poucos que ainda mantêm a manha de jogar como brasileiro, com ousadia e alegria. Será que o segredo está aí, Thiaguinho? “Lê, lêlê, lêlê, lêlê Ousa-dia pra vencer”

Tite, Muricy e Dunga possuem experiência, são bons técnicos. Mas ser bom no que faz aqui não bas-ta. O talento tem que vir junto com a mistura, essa que traz algo além, que só os brasileiros têm. Em suas atuações recentes percebe-se um posiciona-mento majoritariamente de retranca, e os jogadores

contratados na maioria das vezes são atletas que não rendem mais no exte-rior, e voltam para casa usufruindo da herança do pai. Os dotes da coroa. Por essas e outras o Brasil não é mais o país do futebol, mas isso não é de todo ruim. Pensando bem, somos um país de muitos: Tiradentes, Maria da Penha, Jô Soares, Elis Regina, Vital Brazil, Hebe Camargo, Lampião, Cazuza e tantos ou-tros, somos um país de todos. Somos

mestiços, somos mais que tudo isso. Só não somos mais do futebol, que será mais um esporte de quem o Brasil não é. Não somos do arco e �lecha, handebol, basquete, golfe, então que diferença faz?

Estamos treinando, se parar para re�letir. Le-vantamos em 2013 para lutar, mas não karatê, judô e muito menos UFC; para sermos melhores. Nossa arena é a rua e o adversário a corrupção, mas basta a corte bancar outro circo que sentamos para assis-tir. Ficamos igual bola, de cá pra lá. No reinado ser-viríamos como perfeitos bobos da corte. A terra do pau-brasil pode ser referência em muito mais do que imagina. Economia, educação, política e até mesmo no próprio esporte. Mas ela está preocupada em ser apenas do futebol, que foi pra onde o monopólio chu-tou sua atenção.

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Brasil é branco, ne-gro, pardo e

amarelo

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O ciclo da mesmice

Para os millenials, é praticamente impossível imaginar um mundo sem convergência midiática. O conceito desenvolvido por Henry Jenkins mos-tra que nossa sociedade tem sido moldada em ter-mos de consumo de mídia. A cultura pop é, prova-velmente, a maior expoente de toda essa “falação acadêmica”.

Traduzindo: convergência midiática foi exata-mente o que Matrix, dos irmãos Washowski, colo-cou em prática ao lançar histórias em quadrinhos e fóruns online logo após o boom do primeiro longa-metragem da franquia em 1999. Os produ-tos pertencem ao mesmo universo e fazem mui-to mais sentido se consumidos em conjunto. Suas histórias convergem, e se fortalece o relaciona-mento dos fãs com os personagens – a�inal, o con-tato deles não é mais só no cinema, e sim na tela de um computador: pessoal, acessível, confortável.

Ainda que pareça que o tempo pouco passou, já estamos na metade dos anos 2010. Diversas mu-danças sociais e tecnológicas aconteceram após a “onda Matrix”: popularização dos celulares, inven-ção dos smartphones, uso frequente da segunda tela (e, para alguns, da terceira, quarta e quinta) e o contato frenético com a web em alta velocidade (xô, discadores!). De acordo com o sociólogo po-lonês Zygmunt Bauman, nossa vida é líquida: não nos prendemos a identidades, tudo é rápido de-mais – e as novas tecnologias tem tudo a ver com isso. Nos idos de 1920, o alemão Martin Heidegger já �ilosofava sobre a relação entre humanos e téc-nica. Uma de suas conclusões foi uma quebra de paradigma: no �im das contas, não somos nós que controlamos as máquinas, e sim o contrário.

Mas o que tudo isso tem a ver com o cinema do século 21?

Absolutamente tudo.A verdade é que a geração Z (provavelmente a

sua, leitor) não tem mais paciência para consumir conteúdos isolados. Queremos muito, com fre-quência, velocidade e qualidade. O ritmo de vida que millenials adotam é marcado pelo turbilhão de experiências, sensações e ideias a que são ex-postos. Ao mesmo tempo, todo mundo curte ter uma tribo: pertencer a um grupo que possui inte-resses e traços parecidos é essencial para a sobre-vivência em meio ao mundo caótico. Essa mistura entre caos e tribo fortalece o boom cinematográ�i-co de hoje: universos compartilhados.

Ao contrário de franquias que �izeram sucesso no �inal dos anos 1990 e início dos 2000, como O Senhor dos Anéis, Homens de Preto, Homem-Ara-nha e a já citada Matrix, a vibe de hoje é outra. Os universos �iccionais compartilhados exigem mais tempo de produção e não se restringem apenas a �ilmes com continuações. Um bom exemplo é o Universo Cinematográ�ico Marvel (UCM): ele teve seu início em 2008, com o lançamento de “Homem de Ferro”, seguido por “O Incrível Hulk” no mesmo ano.

A Marvel interliga suas histórias. Já lançou 13 dos 22 �ilmes previstos em seu calendário. Além disso, concilia todas essas tramas com seus seria-dos: Agents of Shield e Agent Carter são produ-zidos pela ABC Studios (o último foi cancelado). Já Demolidor e Jessica Jones são séries originais Net�lix – quer um lugar mais propício para o con-sumo de mídia na era da convergência do que um serviço de streaming? De acordo com executivos da Marvel, número de séries só vai aumentar: mais uma será produzida pela ABC e outras qua-tro estão a cargo do Net�lix. Será praticamente im-

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Hollywood tem apostado muito em universos compar" lhados. No entanto,

até que ponto eles são posi" vos para a indústria audiovisual?

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possível assistir a todos os conteúdos do UCM logo que forem lançados.

A DC Entertainment não poderia �icar de fora dessa onda: seu universo cinematográ�ico expan-dido já tem dois títulos lançados e outros 10 pre-vistos. Além disso, possui o Arrowverse – compos-to por três séries live-action e uma animada, todas com a produção da CW – e as séries “Gotham” (Fox) e “Supergirl” (CBS).

Mas não são apenas os super-heróis de capa que possuem seus universos compartilhados. Franquias como Star Wars, LEGO, Anjos da Lei, Homens de Preto e até a Hanna Barbera (isso mesmo – aquele estúdio que produzia Scooby Doo, Flinstones, Corrida Maluca e a�ins) estão investin-do pesado em conteúdos “renovados”, cheios de crossovers.

Até aí, nada tão incomum assim. Se algo dá dinheiro, é por esse caminho que a maioria vai. O problema é que tudo se desgasta – inclusive os produtos culturais. A onda de universos cinema-tográ�icos compartilhados pode ser comparada a de �ilmes de faroeste. Esta aí durou bastante tem-po, mas caiu na mesmice e no desuso em cerca de 50 anos. Analisando o consumidor cultural de hoje, é fácil perceber que alcançar esse clássico ci-clo da chatice não vai demorar tanto tempo assim.

A indústria acha que esse tipo de problema se resolve com reboots. Novos atores, diretores e roteiristas podem sim ajudar a revitalizar certas franquias, mas a verdade é que a essência da his-tória sempre será a mesma. Se essa prerrogativa não for respeitada, problemas surgem: o universo compartilhado de monstros da Universal Pictures é a prova. Ao trocar a ênfase no terror pela aven-tura, Drácula não atingiu todo seu potencial – nem com o público, muito menos com os críticos.

As doses de universos compartilhados não têm sido homeopáticas. Grande quantidade vicia, mas também mata. Heróis mortos ou incapazes de agir não servem para muita coisa. Universos compar-tilhados são bons; no entanto, �ilmes isolados são ainda mais impactantes. O cinema millenial preci-sa de um pouco de individualidade.

A verdade é que a geração Z não tem mais paciência para consumir con-teúdos isolados. Queremos mui-to, com frequên-cia, velocidade e qualidade.

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Liberdade ou vigilânciaDilemas é" cos dão início ao maior confronto entre super-heróis já

visto nas telonas – Capitão América: Guerra Civil

Ter suas ações controladas pelo governo ou manter a autonomia de seus atos e ser considera-do um grupo criminoso? A adaptação ao cinema da série dos quadrinhos Guerra Civil tem sua trama iniciada quando um tratado que limita a indepen-dência dos super-heróis é imposto aos Vingadores. Os que não aceitassem estar sob supervisão da ONU, ao continuar agindo por sua própria vontade, seriam tidos como criminosos. Isto se dá pela fre-quência dos confrontos nos quais os Vingadores es-tavam envolvidos que acarretaram em mortes de civis. Diversos países entram em consenso de que os super-heróis não deveriam mais agir como bem entendessem. Esse dilema dá início ao maior con-fronto entre super-heróis já visto nas telonas.

Tony Stark (Robert Downey Jr.) protagoniza o grupo que decide assinar o tratado e cooperar com o governo. Junto com ele estão Pantera Negra (Chadwick Boseman), Viúva Negra (Scarlett Johans-son), Máquina de Guerra (Don Cheadle), Visão (Paul Bettany) e Homem-Aranha (Tom Holland). Já com o grupo que não aceita as imposições do tratado es-tão o Capitão América (Chris Evans), Soldado Inver-nal (Sebastian Stan), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Falcão (Anthony Mackie), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e o Homem-Formiga (Paul Rudd).

Os irmãos Russo fazem um excelente trabalho na divi-

são do tempo de cena de cada um, de modo que ne-nhum dos 12 super-heróis

�ica apagado durante o �il-me. No con�lito, não existe um lado certo. Cada per-

sonagem tem suas mo-tivações para escolher

determinado time e o

espectador acaba torcendo pelo grupo com o qual mais se identi�ica.

Apesar de ter um lado cômico, a obra apresen-ta um ar mais sério do que o habitual encontrado em produções da Marvel. O principal responsável pelas risadas do �ilme é, agora em uma versão ado-lescente, o Homem-Aranha. Empolgado com todo esse novo universo de super-heróis do qual ele pas-sa a fazer parte, o personagem é uma das surpre-sas positivas e engraçadas que o �ilme traz. Outro personagem que chama a atenção é o Pantera Ne-gra. Chadwick Boseman convence na atuação e cria expectativa para seu �ilme solo, previsto para 2018.

O que dá início à Guerra Civil são os traços mais humanos dos super-heróis da Marvel. Suas carac-terísticas pessoais mostram que, apesar dos super-poderes ou habilidades excepcionais, eles sofrem com imperfeições comuns aos “meros mortais”. Suas crenças, ideologias e traços de personalidade fazem com que os “quase deuses” lutem entre si, fu-gindo do clichê de super-heróis mocinho vs. vilão.

Outra questão que o �ilme levanta é a autono-mia dos Vingadores. O que normalmente se vê nas telonas são super-heróis destruindo cidades e co-locando a vida de terceiros em risco para alcançar sua missão. Capitão América: Guerra Civil, que pre-para terreno para a sequência dos Vingadores, traz o questionamento de em até que ponto os super-heróis estão acima da lei. Essas questões éticas e morais agregadas a uma boa dose de ação e efeitos especiais fazem da obra cinema-tográ�ica a me-lhor já produ-zida pela Marvel.

Lupa

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Do YouTube para o papelO livro das crises é um livro da vida real

“Tá todo mundo mal” é o primeiro livro da you-tuber Julia Tolezano da Veiga Faria, conhecida como Jout Jout na internet. Ela nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, e é formada em jornalismo pela PUC-RJ. Ficou conhecida depois de gravar vídeos falando de assuntos sérios ou não, mas sempre com muito bom humor, para o seu canal – Jout Jout Prazer – no YouTube. Seu vídeo “Não tira o batom vermelho”, onde ela comenta sobre relacionamentos abusivos, fez seu canal bombar nas mídias em geral.

Para simpli�icar, o livro “Tá todo mundo mal” fala exatamente isso: todo mundo está mal, todos tem seus momentos complicados da vida. Até po-deria parar por aqui e você já entenderia o objetivo do livro, mas há muita coisa a falar desse lançamen-to da editora Companhia das Letras.

Julia fala de coisas que todo mundo um dia já passou: decisões a serem tomadas, relacionamen-tos entre família, amigos ou namoro, situações que você nem imagina e até aquelas do dia a dia. Jout Jout fala um pouco de tudo que já passou e ainda es-creve de um jeito simples e gostoso de ler.

No próprio livro a escritora conta suas crises para escrevê-lo, de como sempre sonhou em es-crever e como foi di�ícil enfrentar seus medos para concluir esse sonho. Além de falar sobre suas expe-riências na adolescência e os questionamentos de tudo que já veio a sua mente, Jout Jout comenta seus maiores desesperos. Em uma espécie de diário, ela narra fatos reais que aconteceram em sua vida.

A diagramação do livro é simples e as observa-ções da autora ao �inal de alguns capítulos não são nada discretas. Quando falam que um livro pode ser escolhido pela capa, o de Jout Jout com certeza se encaixa nessa de�inição. A capa amarela já faz o livro se destacar, mas a imagem de Julia em forma de desenho �ica de ponta cabeça e complementa

esse destaque. Faz qualquer pessoa, mesmo sem querer ler, pegar o livro e virá-lo, vendo assim o de-senho do rosto de Jout Jout pelo lado certo – uma maneira de despertar interesse.

O prefácio é escrito pelo namorado de Julia, Caio. Ele é citado no livro inúmeras vezes. Ao folhear as páginas, é possível notar que ele seria mesmo a pes-soa ideal para fazer esse trabalho. De uma forma di-ferente, Caio comenta o livro de Jout Jout, contando uma história de como foi di�ícil Julia deixa-lo ler o que ela escreveu durante algum tempo. Caio revela bastidores da criação do canal Jout Jout Prazer, e, no �inal, instiga o leitor a considerar o livro em situa-ções da vida cotidiana.

Quem lê “Tá todo mundo mal” se depara com a própria Jout Jout. Dá para se sentir em uma con-versa onde Julia conta suas experiências. Em um momento ou outro, o leitor faz paralelos com sua própria vida: no livro das crises, Julia conta histó-rias que já falou em seus vídeos, fazendo o leitor recordar e se sentir mais próximo de tudo o que já viu relacionado à Jout Jout. Com certeza há algo que combina com você.

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Superstar... ou nem tantoO erro do programa foi refl e" do nos índices de audiência, que caíram signifi ca" vamente;

Mesmo período em que foi veiculada a terceira temporada do The Voice Brasil

O Superstar é um programa de televisão com formato de show de talentos que foi ao ar pela pri-meira vez no dia 17 de setembro de 2013 em Israel. No Brasil, o programa foi lançado em 2014 pela Rede Globo. Desde então, está sob o comando de Fernanda Lima. Apesar de ser um programa musi-cal focado em interatividade com o público, acabou decepcionando devido a falhas no aplicativo para mobiles já na primeira temporada. O erro foi re�le-tido nos índices de audiência, que caíram signi�ica-tivamente. Por ser lançado no momento em que foi veiculada a terceira temporada do The Voice Brasil – o “queridinho” da emissora – muitas compara-ções surgiram. A apresentadora Fernanda Lima, ex-modelo, atriz e também âncora do programa “Amor e Sexo”, não teve muitas di�iculdades para ganhar a con�iança do público, embora, em certos momen-tos, se mostrasse um tanto impaciente com a falta de objetividade dos jurados.

Na primeira temporada o júri foi formado pelos cantores Dinho Ouro Preto, Ivete Sangalo e Fábio Júnior – um trio que não deu muito certo. Ivete, apesar de divertida, não contribuiu na avaliação musical de forma crítica, enquanto Fábio Júnior pouco comentava as apresentações. Dinho foi o

mais equilibrado, porém o público não perdoou.

O ponto forte da primeira edi-ção foi a Banda Malta, vencedora da temporada. O grupo se apre-sentou com composições próprias que embalaram o público na voz de Bruno Boncini, vocalista que se desligará este ano da banda para seguir carreiro solo. O sucesso foi imediato. A banda assinou contra-

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to com a gravadora Som Livre, e emplacou a música “Diz pra Mim” – trilha sonora da novela “Alto Astral” – como a mais tocada da empresa no ano de 2014.

A segunda temporada renovou os jurados. Dinho, Ivete e Fábio Júnior deram lugar a Sandy, Thiaguinho e Paulo Ricardo. Novamente a edição foi motivo de polêmicas, entre elas a votação da �inal que trouxe como vencedora a dupla Lucas e Orelha. O resultado foi questionado pelo público.

Atualmente está no ar a terceira temporada, que apostou em mais uma troca de jurados. Desta vez, Daniela Mercury foi a única novata a entrar para o time dos técnicos, substituindo Thiaguinho. Fernan-da Lima continua no comando, acompanhada pela repórter Rafa Brites, que �ica nos bastidores. Outra mudança nesta edição foi a idade mínima para par-ticipação: antes, apenas participantes a partir de 16 anos eram aceitos. Agora, o artista pode se inscrever com 11 anos.

Apesar de sofrer muitas oscilações, a audiência do programa se mostra crescente na atual tem-porada, apresentando resultados satisfatórios. Na maior parte dos domingos, o reality se manteve bem a frente dos principais concorrentes: SBT e Rede Record.

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Adeus, adolescênciaO irmão mais novo dos Jonas aprimora seu es" lo musical adulto

28 dias antes da estreia do álbum Last Year Was Complicated, Nick Jonas lançou o terceiro single para deixar o público com um gostinho do que viria no dia 10 de junho. A música Chainsaw (“serra elétrica”, na tradução para o português) vem para entrar na lista dos hits de sucesso do jo-vem cantor e compositor. Apenas vinte dias após o lançamento do single, já estava entre as cinco mais tocadas do artista no Spotify.

Nick lançou seu primeiro disco solo em 2005. Intitulado com o próprio nome, Nicholas Jonas, era um cd religioso – de quebra, os irmãos Joe e Kevin �izeram os back vocals. Nos oito anos se-guintes, ele se juntou com seus irmãos para for-mar a banda Jonas Brothers, que gravou quatro álbuns em estúdio e mais três ao vivo. A boyband foi um fenômeno adolescente, e teve participa-ções em trilhas sonoras como Camp Rock, Camp Rock 2 e Jonas L.A..

Em 2010, após uma pausa da banda, o irmão mais novo dos Jonas fez um projeto paralelo cha-mado Nick Jonas & The Administration. Dois anos mais tarde, o artista se arriscou na Broadway. Atuou em How to Succeed in Business Without Really Trying e em Les Misérables. Em ambos ob-teve boas críticas pelas atuações e performances vocais. Em 2013, após o lançamento de dois sin-gles inéditos dos Jonas Brothers, a banda anuncia abruptamente sua separação. Começa então a mudança no estilo de Nick, que 11 anos após seu primeiro cd solo, lança “Nick Jonas”. Fez a transi-ção do estilo pop rock adolescente, que cantava com seus irmãos, para a música pop, com letras mais sensuais. O resultado dessa mudança foi tão positivo que, no ano passado, ele lançou o mesmo álbum na versão Deluxe – com três novas faixas e mais alguns remixes de seus singles.

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Após a espera dos fãs, “Last Year Was Com-plicated” foi lançado no dia 10 de junho, acom-panhado de boas surpresas preparadas por Nick. Com dezoito faixas, sendo Jealous, Chains e Levels já conhecidas do público, pois faziam parte do álbum anterior, e Champagne Plo-blems, Close e Chainsaw também familiariza-das, visto que foram lançadas anteriormente como singles, o álbum tem dois terços de faixas totalmente inéditas.

A qualidade do CD é notória. Nick Jonas com-pleta sua transição de ícone adolescente para um dos principais nomes do pop. No entanto, quem não está familiarizado com seu trabalho pode se chocar: a banda faz inovações instrumen-tais, novos efeitos sonoros são agregados e, principalmente, o teor das canções – mais densas e explícitas – é de surpreender quem não escutou o ál-bum anterior. O sucesso de Last Year Was Com-plicated depende exclusiva-mente da recepção do público, já que contou com ou-sadia fora dos padrões de Nick – ele deseja de vez um “adeus” à adolescência mu-sical.

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