Stanescon

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A ESPACIALIDADE DO POVO CIGANO NA ORLA DO ARPOADOR- RJ: DO PROFANO AO SAGRADO 1 Carliane Sandes Alves Gomes Universidade do Estado do Rio de Janeiro Resumo A religião pode ser compreendida com um “sistema solidário de crenças e de praticas relativas às coisas sagradas” (DURKHEIM, 1996, p, 32). O homem religioso favorece e possui significado, e é motivado pela fé em suas experiências de vida. Essa perceptiva identifica o homem religioso através das praticas religiosas que demarcam no espaço suas formas, suas funções através das quais são produzidas marcas que identificam a organização simbologia no espaço geográfico. A temática dos estudos urbanos está presente na história do pensamento geográfico em virtude de dimensões de análises diversas. Sendo assim, no presente histórico, principalmente nas últimas décadas, a geografia cultural tem ampliado o olhar das possíveis transformações impressas no espaço, no sentido de torná-lo mais inteligível. Este artigo trata das representações ocorridas no urbano em decorrência do poder do sagrado como elemento cultural. Deste modo, traremos a analise da transformação do espaço em que eles usam realizado na Praça Garota de Ipanema onde os Ciganos celebram a sua protetora, tal acontecimento ocorre durante todos os dias 24 de cada mês, tendo por ênfase o dia 24 e 25 de maio, considerado o Tempo sagrado entre os praticantes. Pois, é o dia de Santa Sara Kali. Destaca-se a importância daquele espaço para esse grupo social e a identidade religiosa desse povo. E a analisaremos a difusão ocorrida na historia do povo cigano. Interpretando as marcas do passado, para compreender o seu futuro. Palavras-chave: Espaço; Sagrado; Ciganos e Difusão Espacial. Grupo de trabalho nº 11 Práticas culturais na produção da cidade 1 Orientadora: Zeny Rosendahl – Professora do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Coordenadora do Programa de Extensão em Estudos Avançados em Geografia, Religião e Cultura (PEAGERC). E-mail: [email protected]

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  • A ESPACIALIDADE DO POVO CIGANO NA ORLA DO ARPOADOR- RJ: DO PROFANO AO SAGRADO 1

    Carliane Sandes Alves Gomes

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Resumo

    A religio pode ser compreendida com um sistema solidrio de crenas e de praticas relativas s coisas sagradas (DURKHEIM, 1996, p, 32). O homem religioso favorece e possui significado, e motivado pela f em suas experincias de vida. Essa perceptiva identifica o homem religioso atravs das praticas religiosas que demarcam no espao suas formas, suas funes atravs das quais so produzidas marcas que identificam a organizao simbologia no espao geogrfico. A temtica dos estudos urbanos est presente na histria do pensamento geogrfico em virtude de dimenses de anlises diversas. Sendo assim, no presente histrico, principalmente nas ltimas dcadas, a geografia cultural tem ampliado o olhar das possveis transformaes impressas no espao, no sentido de torn-lo mais inteligvel. Este artigo trata das representaes ocorridas no urbano em decorrncia do poder do sagrado como elemento cultural. Deste modo, traremos a analise da transformao do espao em que eles usam realizado na Praa Garota de Ipanema onde os Ciganos celebram a sua protetora, tal acontecimento ocorre durante todos os dias 24 de cada ms, tendo por nfase o dia 24 e 25 de maio, considerado o Tempo sagrado entre os praticantes. Pois, o dia de Santa Sara Kali. Destaca-se a importncia daquele espao para esse grupo social e a identidade religiosa desse povo. E a analisaremos a difuso ocorrida na historia do povo cigano. Interpretando as marcas do passado, para compreender o seu futuro.

    Palavras-chave: Espao; Sagrado; Ciganos e Difuso Espacial.

    Grupo de trabalho n 11

    Prticas culturais na produo da cidade

    1 Orientadora: Zeny Rosendahl Professora do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Coordenadora do Programa de Extenso em Estudos Avanados em Geografia, Religio e Cultura (PEAGERC). E-mail: [email protected]

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    Introduo

    Esta pesquisa trar as seguintes abordagens e conceitos sobre o espao e em

    analise da cultura, visando s transformaes espaciais que o homem religioso ao

    qualificar um espao em espao sagrado. A religio e sua organizao espacial, da

    qual tem fomentado muitas discusses em nossa sociedade. Visa-se religio como um

    sistema de aes simblicas e a dinmica da dimenso espacial da cultura. A

    materializao da f apresenta-se como tema de anlise cientfica mais recente entre os

    gegrafos. Interpreta estas experincias humanas repletas de significado, possui um

    carter importante de nossa analise. So as organizao espaciais religiosas e seus

    significados que permitem compreender nossa sociedade suas marcas espaciais que

    identificam sua organizao singular no espao geogrfico.

    Para os gegrafos que estuda a espacialidade da religio este tema de forte

    interesse e fonte de pesquisa aos estudos de geografia desde a 1 metade do sculo XX.

    A religio afeta o comportamento das pessoas e grupos social, e de interesse

    geogrfico entender estas aes comportamentais e seus arranjos de transformao do

    ambiente.

    Acabe ao geografo da religio a analisara as transformao ocorridas no espao,

    em nossa pesquisa analisaremos a Praa Garota de Ipanema onde localiza a gruta de

    Santa Sara Kali protetora os Ciganos. A transformao da praa em um ambiente espao

    sagrado acontece ocorre durante todos os dias 24 de cada ms, tendo por nfase o dia 24

    de maio, considerado o Tempo sagrado entre os praticantes. Pois, o dia de Santa Sara

    Kali. Destaca-se a importncia daquele espao para esse grupo social e a identidade

    religiosa desse povo.

    O povo cigano conhecido por ser um povo nmade. Detentores de uma cultura

    milenar possuem o mistrio e a magia como qualidades atreladas a sua imagem.

    Perseguidos por intolerncia religiosa a sua trajetria marcada pela difuso espacial. A

    difuso espacial busca a compreender o caminho percorrido pelo individuo ou pelo

    grupo social, na investigao de compreende os motivos gerados que os levaram para

    uma mesma rea. Uma vez que este processo de deslocamento gera tambm ao mesmo

    tempo um deslocamento da cultura. Elementos como bens materiais/ imateriais, e os

    costumes adquiridos no seu lugar de origem. Passando ento criando nova forma de se

    organizar no espao.

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    Espao narrado pela cultura da f cigana.

    O olhar do pesquisador se torna um instrumento para a leitura da realidade.

    Interpretar as diversas espacialidades reconhecer a relao entre o homem e o seu

    mundo. Cada experincia se expressa de uma maneira nica no espao, onde descrito

    por suas metforas. As relaes espaciais se realizam atravs das mais variadas

    dimenses de ao do homem dimenso social, poltica, econmica e cultural. A

    geografia privilegia o estudo das diferentes (re)organizaes e transformaes que

    ocorrem no espao.

    Nada mais atuante na vida humana do que o espao. Para Santos O espao a

    matria trabalhada por excelncia. Nenhum dos objetos sociais tem uma tamanha

    imposio sobre o homem, nenhum est to presente no cotidiano dos indivduos.

    (SANTOS. 2005 p, 34). Pois, Eis o espao geogrfico, a morada do Homem. (Corra,

    2012). Atravs dessa concepo o conceito chave da geografia o espao - ter a sua

    leitura calcada na tica da Geografia Cultural ps- 1970. Esta pesquisa ir percolar o

    caminho de investigao do reconhecimento da dimenso cultural no espao.

    Demonstraremos como o aspecto cultural pode afetar e alterar tais estruturas moldando

    a paisagem atravs das experincias de um indivduo ou dos grupos sociais, a partir das

    suas experincias. A escolha de nossa anlise recai na dimenso religiosa, que

    estudaremos a espacialidade da f cigana, em particular como a sua manifestao

    assumem formas singulares no espao. Assim, as atividades religiosa imprimem no

    espao transformaes que esto fortemente relacionadas com os aspectos culturais da

    comunidade, de tal modo que o espao pode ser percebido de acordo com os valores

    simblicos ali representados. (ROSENDAHL, 1994).

    Ao habitarmos um espao geomtrico o homem delega ao espao sentido de

    valor atravs do seu uso. Atribuindo assim, um carece de espao geogrfico. O espao

    apropriado, transformado e utilizado de acordo com a necessidade, percepo e

    significados que o homem ou um grupo social atribui a essa estruturas fsicas. O

    espao impe a cada coisa um conjunto particular de relaes porque cada coisa ocupa

    um dado espao (SANTOS. 2005 p, 34). Assim, o objeto de analise geogrfico o

    Espao pode ser analisado pelo veis da dimenso da Cultural, j que os ambos

    sempre esto em processo de transformao deixando marcas significativas no tempo.

    rugosidade em tela permite a compreenso do passado em memoria, o presente

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    construdo e o futuro inacabado. Tais dinmicas sociais uma questo central na

    Geografia Cultural. Onde para os gegrafos a analise da configurao determina a

    pratica cultural impressa no espao.

    Diferentes significados so atribudos em diferentes espaos, ou no mesmo

    espao. A forma espacial pode apresentar valores distintos para cada grupo social que

    dele participa e nele vive. Os significados e valores atribudos ao espao pelo homem

    so baseados nas crenas e vises de mundo que cada sistema impe.

    Cabe ao geografo explorar o universo das representaes das marcas singulares

    no espao, dos quais os sentimentos, as experincias e os smbolos, so traos

    produzidos pela subjetiva entre a ligao do homem e o seu meio. Sendo assim o espao

    adquire o significado de espao vivido. Esse sentimento espacial a criao de uma

    relao entre um povo, grupo ou at mesmo um individuo sobre o espao a partir de sua

    experincia, onde nele produzem , vivem e conduzem as suas trajetrias. Com isso,

    existem vrios tipos de espaos, um espao pessoal, outro grupal, onde vivida a

    experincia do outro, e o espao mticos- conceitual que, ainda que ligado

    experincia (CORRA, 2012, p. 30) e para Santos (2006, p.167),

    [...] tarefa do gegrafo da religio procurar discernir, no conjunto dos fatores explicativos (sociais, culturais, econmicos, etc.) das transformaes do espao, quais so os elementos especificamente religiosos que a elas conduzem e qual o seu peso relativo nesse processo. Deve ter-se em conta que a religio no um fenmeno esttico, devendo ser situada no tempo e no espao, interpretando as mudanas temporalmente registradas e as mutaes espaciais da decorrentes.

    Para o gegrafo Cultural, o espao uma teia de movimento vivenciado no

    tempo-espao marcado pela afetividade produzida. O espao vivido gera significados

    impares de imaterialidade, imaginrio e mstico. Na leitura de geografo Corra (2012)

    em analise da obra de Tuan,

    O espao mtico tambm uma resposta do sentimento e da imaginao s necessidades humanas fundamentais. Difere dos espaos concebidos pragmtica e cientificamente no sentido que ignora a logica da excluso e da contradio (TUAN, 1983, p. 112)

    Na Geografia Cultural ps-1970, a manifestao espacial da cultura e dos

    elementos simblicos com a f, musica, dana, religio e outros componentes

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    imateriais, se destacam no campo cientfico. Agora conhecer o homem s na sua

    perspectiva do mundo, mas tambm no seu imaginrio, no meio que o cerca, tornando-

    se possvel as reflexes dos fenmenos. Onde para os gegrafos da religio atravs da

    analise dessas formas espaciais, possibilitou o diagnostico de padres da dimenso

    espacial da cultura, por marcas singulares de construo e representao, que tais grupos

    sociais se diferenciam uns dos outros. Dessa maneira a religio, pode ser percebida em

    suas formas, funes, processos e estruturas (SANTOS, 2006), uma vez que, cada

    religio expressa diferentes tipos de organizao e comportamento no espao.

    A geografia da religio investiga a relao construda entre o homem e o as suas

    diferentes formas de se manifestar, e assim, o saber geogrfico tem como foco a relao

    espacial e o seu meio. A religio condiciona o comportamento das pessoas e grupos

    social, e de interesse geogrfico entender estas aes comportamentais e seus arranjos

    de transformao do ambiente. Por esse fato, entendemos que:

    a interao espacial entre a uma cultura e seu ambiente terrestre complexo e a situao espacial entre diferentes culturas. A geografia da religio investiga estas relaes, concentrando sua ateno sobre o componente religioso na cultura (ROSENDHAL 2002).

    O poder religioso nas estruturas espaciais est presente na maioria dos lugares

    no mundo, ora com mais, ora com menos relevncia. Podemos afirmar que a religio

    participa de forma ativa em vrios processos de construo e transformao do espao.

    Cabem aos gegrafos da religio investigao e a exposio entre diversas relaes

    entre o homem e a religio. E suas diferentes conjunturas e marcas da materializao e

    imaterializao, que cada religio traduz no espao formas especficas. Bem como a

    vivencia e a praticas religiosas como caracterizadoras dos espaos geogrficos. Pois,

    Todas as religies criaram, no curso de seu desenvolvimento, um cultus mais ou menos manifesto, sendo o mesmo espacial e temporalmente perceptvel atravs de eventos mgicos ou simblicos, de objetos e comportamentos, os fenmenos religiosos aparecem em relao com o real com a superfcie terrestre, podendo ser, portanto estudados geograficamente. (FICKELER 2008)

    O poder religioso nas estruturas espaciais est presente na maioria dos lugares

    no mundo, ora com mais, ora com menos relevncia. Podemos afirmar que a religio

    participa de forma ativa em vrios processos de construo e transformao do espao.

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    Mas do que um elemento da construo espacial, a religio ser examinada no

    contexto geogrfico relacionado apropriao de determinados segmentos do espao.

    Pois, o espao deixa de ser homogneo e passa a ter sua singularidade, e para o Homem

    religioso esse locus e no obedece a mesma escala, tanto na temporariedade quanto no

    espao. O homem religioso passa a distinguir o que sagrado do que espao ordinrio.

    E como toda ao humana, a religio expressa no espao uma ordem que reflexe atravs

    das formas simblicas e suas representaes.

    O espao transformado em um lugar simblico atravs de vivencia e afeto,

    impregnados de praticas espacial devocionais, que uma determinada Ordem religiosa

    expressa. O controle daquele recorte espacial limita-se, a ser organizar que acordo com

    a Instituio religiosa que o controla, dando-lhe caractersticas que s tem sentido para

    aqueles que o consagram, sendo assim, os significados e valores atribudos ao espao

    pelo homem so baseados nas crenas e vises de mundo que um sistema religioso

    possui representada por uma determinada religio.

    Para o homem religioso o espao no homogneo, ele necessita de um espao-

    tempo diferenciado do seu mundo cotidiano, um espao onde possam se destinado

    localizao do seu objeto sagrado, para realizao dos rituais religiosos. Um local

    impregnando e vivenciado pela experincia e manifestao da f. Sendo assim, o

    homem religioso, que por meio de sua crena, passa a emoldura o espao, demarcando-

    o e diferenciando no decorrer de sua vivencia.

    Vale salientar dizer que o espao deixa de ser apena uma superfcie, e passa se

    tornar palco das atuaes humanas. Com isso, o homem contribui para a formao dessa

    rea, pois, sua vivencia e o seu comportamento, do caraterstica prpria ao espao. Do

    qual o espao transformado pelos seus processos naturais e pelas aes humanas. O

    homem ocupa, cria relaes e se espacializa, fazendo o seu prprio movimento atravs

    de suas praticas. Dessa dinmica, iremos analisar atravs do espao, e no espao, as

    aes produzidas pela cultura cigana. Destacando as transformaes ocorridas pelas

    praticas espaciais devocionais da f cigana, que criam seus prprios ordenamentos no

    espao.

    Privilegiaremos a relao da vivencia dos ciganos na produo da paisagem.

    Pois, o espao transformado em espao sagrado se localiza no lcus do espao profano,

    na Praa Garota de Ipanema na orla carioca do Rio de Janeiro. E estudaremos como o

    aspecto religioso da cultura e os seus elementos so capazes de organizar o espao.

    Concluindo a importncia desse fenmeno para a importncia desses mecanismos e

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    estruturas, com a Forma e Funo; Fixos e Fluxos sendo fonte terica e emprica de

    estudos em nossa pesquisa.

    O homem religioso e o espao: do profano ao sagrado

    A temtica da religio vem sendo desenvolvida pela perspectiva da Geografia

    Cultura renovada tem como base de estudo e analise o sagrado e profano sendo o

    principal conceito na literatura atual nos estudos da geografia da religio. Atravs da

    dimenso espacial e da manifestao da f, entenderemos a relao dessa espacializao

    com a sociedade. Destacando o interesse na compreenso das dimenses espaciais das

    experincias religiosas, salientando suas diferenas com as experincias profanas do

    Mundo.

    A religio produz marca desigual no espao. Cada religio tem o seu modo de se

    orienta, organizar e de manter a sua estrutura. As configuraes espaciais so compostas

    pela essncia da comunidade social que ali pratica a sua devoo. Pois todos os

    smbolos, ritos e praticas religiosa tem um significado nico exclusivo daquele grupo. E

    de interesse dos gegrafos da religio interpretar essas diferente espacialidade da f.

    Pois a f corresponde marcas singulares no espao. Assim, As imagens espaciais

    desempenha um papel importante na memoria coletiva, porque cada aspecto, cada

    detalhe desse lugar possui um sentido que s inteligvel para os membros do grupo.

    (ROSENDAHL 2002, p, 34) e para Santos (1987, p.34) a religio compreendia como

    um sistema que molda e modifica a vivencia humana no espao.

    Todas travaram um combate singular, porque alicerado na f, para plantar nos espritos, com as sementes da crena, um cdigo de convivncia social e, ao mesmo tempo, uma moral particular, a cuja obedincia todos deviam se inclinar em nome dos homens e de Deus.

    Na presente pesquisa estudaremos as dimenses de analise as espaciais da f

    cigana, que se localiza na Praa Garota de Ipanema, no Arpoador, na cidade do Rio de

    Janeiro. Onde atravs das experincias religiosas os devotos imprime no espao um

    extraordinrio estado de efervescncia religiosa. por meio dessa vivencia com o

    sagrado que o peregrino pode ter acesso a uma realidade que transcende este mundo.

    (ROSENDAHL 2012, p. 173). Assim, atravs da sua f o homem religioso qualifica

    aquele espao com o um espao sagrado. Modificando assim a paisagem do espao

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    profano.

    O ser humano carece de explicao para compreender o seu entorno, o mundo

    em que vive. Pois, nossas aes deixam marcas no espao, que os qualificam de forma

    diferencia de acordo com as nossas realidades. assim o mundo para o homem

    religioso, pois o mundo sagrado determinado por o espao no homogneo. Com a

    definio proposta pelo filosofo Mircea Eliade,

    o espao apresenta rotulas, quebras: h pores de espao qualitativamente diferente das outras. [...], portanto, um espao sagrado, por consequncia forte, significativo, e h outros espaos no- sagrados, e por consequncia sem restrutura nem consistncia. (2010, p. 25).

    Porm, para os indivduos descrentes dessa fora imaterial o homem profano

    , no existes essa distino de espao nesse mundo. Para ele o espao neutro e

    homogneo, sendo apenas diferenciado atravs de suas praticas cotidianas. Para tal o

    espao consiste em um elemento simples. componente espacial de uma viso de

    mundo, a conceituao de valores locais por meio da qual as pessoas realizam suas

    atividades praticas. (TUAN 1983, P.97). Para o homem profano h apenas um tipo de

    ruptura da neutralidade no espao. Essa no- homogeneizao esta atrelada a vivencia

    relaciona a momentos em que o indivduo atravs experincias afetivas qualifica e

    transforma o espao de uma maneira diferenciadas, sobrepondo esse lcus ele aos

    demais espaos, destacando-o em entretimento as suas experincias extra- cotidiana.

    Dessa maneira para Eliade (2010)

    Contudo, nessas experincias do espao profano ainda intervm valores que, de alguma modo, lembram a no- homogeneidade especifica da experincia religiosa do espao. [...] Todos esses locais guardam, mesmo para o homem mais fracamente no religioso, uma qualidade excepcional, nica.

    O sagrado uma massa, uma fora extraordinria repleto de mistrio que contem

    atributos ligados realidade que no pertence ao nosso mundo o Mundo profano. De

    acordo com Tuan (...) O sagrado uma onda mansa de vida, induzindo no devoto um

    sentimento de serenidade e bem- estar. E so essas implicaes que tornam esse

    universo alvo de interesse de analise para o geografo da religio. Analisar o que

    sagrado e como ele se manifesta no espao. E essa espacialidade que o qualifica o

    espao dando-lhe um carter de espao sagrado. Entender como se constri tal espao e

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    porque ele se torna qualitativamente diferente do espao profano que o envolve. Pois,

    como toda construo humana, o sagrado dotado de uma espacialidade que se traduz

    por atributos prprios e est inserida na espacialidade humana (ROSENHDAHL 2008,

    p.9).

    Em oposio para o profano; O que sagrado atrai e possui um valor

    incomparvel, mas no mesmo instante isso parece vertiginosamente perigoso para esse

    mundo claro e profano onde a humanidade situa seu domnio privilegiado

    (BATAILLE, 1993, p. 18). O sentimento que o sagrado apresenta para o homem no-

    religioso evidentemente ambguo, por se tratar de uma onda de fora imaginaria, s

    sentida por aqueles que possuem f. Nesse caso, o homem profano entende que haja

    esse movimento. Porem, no vivencia.

    Ao tratar da concepo do sagrado no espao nota-se que essa manifestao

    produz uma dinmica prpria expressada por uma ordem diferenciada. esse poder que

    o sagrado investido, que ao se manifestar transmite uma ordem no espao. De acordo

    com ROSENDAHL (2002),

    O espao um campo de fora e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existncia. por meio dos smbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua funo de mediao entre o homem e a divindade. (ROSENDALH, 2002. P, 30).

    O que h de particular nos espao sagrado? O que torna esse espao nico? Tais

    indagaes Rosendahl (2012, p 173) faz em leitura de Halbwachs, (1968, p.165)

    descreve que, que, embora Deus esteja em todas as partes, h locais privilegiados em

    que Ele se manifestou e basta que os fieis queiram comemorar tal evento para que essas

    lembranas efetivamente sejam preservadas no imaginrio religioso.

    A religio para muitos se torna um sentido, um rumo, a razo pela qual permite

    aos indivduos a sensao de se sentir pleno, de enxergar o caminho que direciona a sua

    vida. Na maior parte das religies essa relao ocorre entre o devoto e uma forte ligao

    intima com o objeto que estima ser sagrado. Essa atmosfera mstica permite ao religioso

    experimenta a sensao de esta o mais prximo do seu credo. Em muitos casos, essa

    relao pode ocorrer entre um santo, uma pessoa, uma cruz de madeira, uma fotografia

    e outros objetos cultuados. Para Rosendahl (2002) H uma aptido do homem em

    reconhecer o sagrado, como que uma disponibilidade ao divino. O homem religioso

    busca um poder transcendente que o sagrado contm.. A vivncia no espao sagrado

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    permite ao devoto sensao de pertencer e ter o maior contato com o divino em sua

    exteriorizao no espao. O espao religioso existencial ou seja abertura para o Outro por excelncia que Deus, no compartilhar da f e em sociedade com os outros homens. Assim, o espao religioso no uma representao possvel de seu analisado pelo espao geomtrico. Ele um movimento da existncia que se direciona, se projeta, em torno da espacialidade religiosa vivida pelo homem, situando no mundo com os outros homens. ( CAPALBO 1999, p. 228)

    O espao sagrado constitui-se como uma rea de referencia para o homem

    religioso, um ponto fixo que marcado por uma hierofania, tornando-se um eixo central

    para todas as orientaes futuras. Surgir com um rumo na vida do devoto, onde apenas

    naquele espao se manifesta o culto ao sagrado, mantende assim intimidade do homem

    e sua f. Assim,

    espao sagrado tem um valor existencial para o homem religioso; porque nada pode comear, nada se pode fazer sem uma orientao prvia e toda orientao implica a aquisio de um ponto fixo. por essa razo que o homem religioso sempre se esforou por estabelecer-se no Centro do Mundo. Para viver no Mundo preciso fund-lo e nenhum mundo pode nascer no caos da homogeneidade e da relatividade do espao profano (ELIADE 2010, p. 26).

    Vale salientar que nem toda espao sagrado de consagra sagrado a partir de uma

    hierofania, ele pode ocorre tambm atravs de um ritual de construo. Como no caso

    do espao sagrado que estamos analisando. Pois, ele se tornou um lcus para adorao

    Santa Sara Kali, devido aos elementos simblicos envolve a cultura cigana. Estes

    conjuntos de elementos colaboram harmonicamente para a construo do sagrado para

    os ciganos, j que faz referencia aos mistrios e atrelado da sua origem. A gruta se

    localiza em um espao aberto cercado elementos como a terra, a mata, o mar, a rocha

    me, qualifica aquele espao atravs de um campo de fora extraordinria imaterial em

    que a f cigana se manifesta.

    Ao retornar-se para o ponto fixo, o espao sagrado. O homem religioso busca

    estabelecer uma renovao o do seu lao de intimidade com a sua f. Dessa maneira o

    homem religioso se sente mais prximo da sua divindade. O devoto se torna revigorado

    e purificado para enfrentar os desafios que a vida oferece. Assim, buscando mais

    segurana e conforto para um futuro prospero. Do qual investido pela sua f o homem

  • 11

    religioso se sente mais forte para a relao com o mundo profano. Pois, ele carrega o

    seu Deus.

    Assim tambm a relao do homem religioso na construo do espao

    sagrado. Essa construo para o religioso no considerada uma obra humana. Ao

    consagrar o espao, o homem religioso revela necessidade de participar da sacralizao

    do mundo. O homem crente de sua f acredita que tal espao constitudo de poder

    nico, capaz de interligar, de se a conexo entre ele e os seus deuses. Pois;

    O espao sagrado o lugar do santo, o lugar superior e no profano, no qual ocorre visivelmente o encontro simblico do santo com o povo, num contato direto, sem intermedirios. O espao sagrado o local em que o crente entra em comunicao mais completa com o divino. (ROSENDAHL 2012, p 173)

    Dessa maneira o devoto sente a necessidade de participar de sua obra, por

    acreditar que esse trabalho no realizado pela sua prpria fora, mas sim, da fora de

    seu Deus. Na medida em que ele reproduz a obra do seu deus, ele sente mais

    purificado. Outra estrutura que atrelada construo do espao sagrado, esta ligada a

    ideia da repetio da primeira hierofania. Onde para o religioso este momento garante, a

    sua atuao na obra divina, na atmosfera do sagrado. Fato este que refora ainda mais o

    valor existencial, que aquele lcus o seu referencial.

    Em oposio ao que se estabelece para o homem no- religioso esse ponto fixo

    no existe. Pois na sua experincia profana o ponto fixo aparece e desaparece de acordo

    com as necessidades mundanas. No estabelece um ponto fixo de origem, esse homem

    se torna fraco mediante ao caos.

    O espao sagrado apresenta trs dimenses de analise, o poder central esta

    localizada no (1) ponto fixo; espao qualificativamente mais forte, onde o sagrado

    ocupa um lugar de destaque, espao de maior sacralizao, geralmente encontra o objeto

    do qual se o sagrado se manifesta, exemplo uma estatua de um Santo. (2) Diretamente

    ligado ao sagrado; podendo ser mvel, esse espao corresponde a uma rea devoo,

    das realizaes dos ritos e pratica espaciais ligada a f. (3) Indiretamente ligado ao

    sagrado; espao que margeia, limita o contato com o mundo profano. No limite do

    espao sagrado se localiza o espao profano onde no existe nenhum elemento

    simblico ligado ao sagrado.

    No caso da nossa pesquisa, a rea do entorno a rea que mais sofre alterao,

    por ser o espao mais flexvel para atente e ser vivamente utilizada para o crente realizar

  • 12

    suas praticas religiosas e o roteiro devocional. Assim, o espao diretamente atrelado ao

    sagrado, e o indiretamente sofrem alterao de acordo com a temporalidade das

    realizaes dos cultos devocionais. A organizao espacial se diferencia uma da outra,

    obedecendo ao tempo de maior sacralidade do culto de sua f. Sendo assim, obtendo

    uma maior ampliao na sua rea de abrangncia do poder do sagrado sobre o profano,

    o tempo de maior sacralidade corresponde ao dia 24 do maio dia de Santa Sara Kali, ,

    ou se mantendo restrito nos dias 24 dos outros meses correspondente as oraes para

    Santa Sara.

    O espao sagrado e espao profano esto sempre vinculados a um espao social.

    O sagrado e o profano se opem e, ao mesmo tempo se atraem. Jamais, porem, se

    misturam. ROSENDAHL (2002) so essas organizaes espaciais que configura a

    paisagem moldado entre os espaos. Por Frangelli, 2012, p. 55

    no jogo de simblico espao- temporal entre espao sagrado e espao profano que o sentido religioso compreendido no dogma, na pratica, na vivencia da significao da vida do homus religiosus ou crente, ou mesmo no conflito com os no crentes se manifesta material e imaterialmente a religio.

    A f o elo entre o individuo e o mundo sagrado. So suas particularidades que

    criam novos desafios para os gegrafos. Ressalva existe um espao dotado de mistrio,

    onde atravs das simbologias, ritos e praticas devocionais, transforma toda a dinmica

    daquela paisagem. E um espao que h a ausncia desse poder. E todos esses espaos

    consistem de uma mesma massa.

    A dimenso simblica do homem e suas praticas subjetivas qualificando os

    espaos construdos ao longo da vivncia (Oliveira 2012, p 98). Vale salientar a

    constatao que o espao sagrado em analise, a Gruta de Santa Sara Kali foi construdo

    a partir de ritual de construo. Observamos que a partir da vivencia da f houve uma

    consagrao. Ento este espao tornou-se qualificativamente sagrado para os ciganos.

    Pois quantia elementos significativo para as praticas espaciais religioso do grupo

    Cigano. Ou seja, no fora construdo a partir de uma manifestao de uma hierofania.

    Mas Deus reservou aquele lugar, e consagrou em um espao sagrado.

    A religio esta inserida na logica do escopo social, e por traves das suas aes se

    esconde elementos fundamentais, na analise da compreenso do dinamismo espacial.

    Antes de analisarmos a espacialidade da f e da cultura cigana, devemos primeiro

    pensar como se realizou o contato desse grupo com a Praa Garota de Ipanema e as suas

  • 13

    diferentes funes. Investigaremos quais os motivos que teve na sua origem o processo

    de difuso espacial a trajetria geogrfica cigana .

    A difuso espacial a trajetria geogrfica dos ciganos no mundo.

    A teoria da difuso espacial elemento chave nas anlises geogrficas, pois

    possibilita a compreenso de como determinada configurao espacial alterada ao

    longo do tempo atravs da implantao das chamadas inovaes, sejam sociais,

    econmicas ou culturais, nesses espaos. Para os gegrafos o estudo da difuso espacial

    requer uma analise na dimenso espacial, pois preciso compreender como ocorreu este

    fenmeno e quais so as suas caractersticas buscando as singularidades. de interesse

    dessa pesquisa e analisar as trajetrias geogrficas do povo cigano. Identificando como

    vem sendo o seu deslocando pelo Mundo, e a sua disperso no Brasil, focando a Cidade

    do Rio de Janeiro. Onde se localiza a gruta de Santa Sara Kali, a protetora do povo

    cigano.

    Para os gegrafos culturais, essa dinmica releva a compreenso das heranas

    culturais que um grupo social, carrega consigo ao se deslocar de um local para o outro.

    E como essa herana se manifesta no espao que os acolhe. Assim, a difuso espacial

    torna-se o caminho para esse dialogo, entre o passado, o presente e o futuro.

    a difuso de processos sciais se constitui em importante rea de interesse da Geografia e de outras cincias scias. Apesar da relevncia da distribuio espacial dos fenmenos em um dado momento do tempo e sobre uma rea particular, torna-se imprescindvel resgatar os mecanismos que respondam pelas mudanas na distribuio desses fenmenos num determinado intervalo de tempo. Da a validade dos estudos tanto emprico quanto tericos relativos aos processos de difuso espacial das inovaes. ( SILVA 1995, p.25)

    Ao estudarmos a difuso espacial nas anlises sobre o pilar da cultura. Estamos

    reconstruindo o caminho percorrido pelo individuo ou pelo grupo social, na

    investigao de compreende os motivos gerados que os levaram para uma mesma rea.

    Uma vez que este processo de deslocamento gera tambm ao mesmo tempo um

    deslocamento da cultura. Elementos como bens materiais/ imateriais, e os costumes

    adquiridos no seu lugar de origem. Passando ento criando nova forma de se organizar

    no espao.

  • 14

    A atuao cigana na produo do espao tem com elemento matriz a difuso

    espacial do seu povo. A difuso espacial esteve sempre atrelada a historia do povo

    cigano. Pois, por ser tratar um povo conhecido pela sua caracterstica nmade, a sua

    historia tem como origem a trajetria baseado no deslocamento. Reza a lenda que

    contam a velha lenda de que, por terem recusado hospedagem Virgem Maria quando

    ela fugia, peregrinam sobre a terra dispersos, sem ptria, por todos os tempos.

    Os chamados ciganos, assim como so conhecidos, tem na sua denominao

    uma homogeneidade, porm um grupo muito heterogneo. Tendo na historia do seu

    povo uma lacuna, pois, suas origens so incertas, seus costumes e lnguas variam entre

    os muitos grupos em que se dividem. A histria desse povo, ou melhor, de um conjunto

    de comunidades, se torna algo de difcil compreenso de diagnostica o seu local de

    origem. Uns acreditam ser originrio do Egito e outros da ndia, uma certeza a sua

    disperso pelo mundo. E decorrente disso, em cada lugar foram sendo criadas novas

    comunidades, cls e assim, sua cultura fora crescendo e se dispersando.

    Na leitura da trajetria geogrfica dos ciganos pelo Mundo, para nos gegrafos

    de difcil compreenso, pois a sua historia transmitida por oralidade passada de pai

    para filho. E como no se tem documentos escritos, o traado e analise da sua historia

    reque uma leitura de narrativas do seu povo. De acordo com a Cigana Mirian Stanesco

    nos diz que:

    No podemos lidar com a trajetria do povo cigano da mesma forma com que tratamos do percurso de outros povos, que possuem documentos e registros escritos. No nosso caso, precisamos lidar tambm com o imaginrio, que abrange lendas, fabulas, mitos representativos simblicos de fatos narrados e transmitidos por nossos ancestrais. J que nossa cultura oral, no atendo at hoje nada sido escrito por um autentico cigano, darei minha viso pessoal, baseada em tudo o que ouvi do mago do meu povo, inclusive divulgando historias do meu universo cigano, sabendo que para uns ser mera fico e para outros a realidade.

    A difuso se constitui no espraiamento de um processo, ou forma, no espao ao

    longo do tempo. Devemos ento reconhecer nesse processo os agentes difusores e as

    barreiras (fsicas ou sociais). Em analise da cultura atuante no espao. No caso dos

    ciganos, enumero foram os motivos que os trouxeram para o Brasil, em diferentes

    tempos. Mas na maioria dos casos vieram refugiados, devido a historia de o seu povo

    ser marcada por diversas perseguies, fruto de aes de intolerncia.

    O povo cigano carrega consigo elementos do seu lugar de origem, como a

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    lngua, a dana, e seus ritos, religio, cerimonias e entre outros. E so elementos que

    qualificam e diferenciam os cls. Dessa forma, diversos cls ciganos tiveram como

    destino o Brasil, mas vale salientar que em nossa pesquisa atentaremos apenas a

    trajetria geografia dos ciganos no Estado do Rio de Janeiro, que originou a presena do

    Grupo tnico Cultural, presente na Orla do Arpoador. De acordo com a Cigana Mirian

    Stanescon, os ciganos que precede no espao so de origem KALDERASH. Em seu

    relato; Sabemos que nosso povo dividido em sete ds. O meu o dos KALDERASH. Minha famlia chegou ao Brasil no sculo passado, representada pelo meu tatarav KAKU YORGULO. E junto com ele, varias outras famlias ciganas. Anos depois, chegava tambm a este hospitaleiro pais meus avs NICOLAS MICHAEL STANESCON e YORDANA STANESCON. Quando o mundo assistiu atnito a ecloso da Segunda Guerra Mundial, meus avs financiaram a vinda de vrios ciganos ultrajados e perseguidos pelo nazismo na Alemanha, formado da um grande acampamento no Rio de Janeiro e fixando na Baixada Fluminense o maior ncleo cigano deste pas. Por tudo isso, NICOLAS MICHAEL e YORDANA STANESCON foram considerados os maiores lideres ciganos que o Brasil j conheceu.

    Dada complexidade que envolve a analise do conceito da difuso espacial, que

    envolve a dinmica espacial de um determinado grupo social, necessrio entender e

    decodificar os elementos culturais que compem a identidade. E a religio uma forma

    dessas analise, tornando-se de interesse de investigao para os gegrafos a

    compreenso desse fenmeno. A Difuso espacial da religio um elemento de analise

    muito importante para nos gegrafos, Rosendahl em analise de Sopher (1967) afirma

    que:

    analisa as formas como a disseminao da mensagem de f pode ocorrer e propem que, partindo de seus lugares de origem, as religies difundiram sua mensagem por meio da converso de novos adeptos.

    O deslocamento do homem torna-se particularmente importante para gegrafa da

    religio principalmente, aquando este carrega consigo a f. Assim, a difuso da f reflete

    sobre o espao na expanso de ideias e comportamentos. A religio e os elementos

    culturais agregados a sua origem, afeta diretamente a relao do homem e o seu

    ambiente. Assim,

    A migrao de pessoas que transmitem sua cultura e a migrao de sistemas religiosos resultam em adaptao ou integraes de religio a

  • 16

    um determinado ambiente estranho, que pode alcanar um equilbrio ou desenvolver mecanismo de conquista. (ROSENDAHL, 2002 p. 53)

    Dessa maneira classificamos geograficamente a difuso da f, onde a religio

    atua como um sistema capaz de se imprimir no espao, se fundir no tempo suas ideias

    religiosas para uma nova organizao espacial. Com isso a difuso religiosa como a

    capacidade que uma religio tem se irradiar atravs do espao e sobreviver no tempo,

    interagindo com a cultura local encontrada (VASCONCELLOS 2001, p, 34).

    Tomando como base nas tipologias de difuso desenvolvidas por Rosendahl

    (1996), abordou trs tipos: (a) difuso por coexistncia pacifica, (b) difuso por

    instabilidade e competio e (c) por intolerncia e excluso.. No caso de nossa

    pesquisa iremos tratar da difuso por intolerncia e excluso. Assim, observamos que

    no caso dos Ciganos a um ndice altssimo de rejeio com os novos ambientes, onde a

    sua difuso gera uma resistncia nas reas de influencias. Os ciganos tambm sofrem

    com os conflitos e repudio da populao local, excluindo a integrao das culturas.

    Esses tipos de comportamentos de se diagnosticado pela analise da historia do seu povo

    cigano, trazer em suas trajetrias marcas de diversas perseguies, fruto de aes de

    intolerncia.

    Dessa forma, as barreiras sociais encontradas pela cultura cigana podem ser

    analisadas tambm pela sua religio que possuem poucos poderes polticos sofrem

    variados tipos de presses por parte daquelas que detm esses poderes, resultando na

    excluso ou converso. Assim, observamos o carter e influncia poltica da religio no

    espao, onde, segundo Rosendahl (2010), apesar de a distino religiosa ser apenas um

    elemento de diferenciao cultural, , em alguns casos, a raiz de conflitos dentro de

    Estados que buscam uma identidade nacional, com base em outras caractersticas

    culturais homogneas.

    Quando uma crena religiosa se difunde para um novo espao onde a populao

    que nele est possui seus valores e ideias religiosas bem estabelecidas o resultado um

    processo, ao longo do tempo de assimilao ou conflito, os ciganos sofrem com os dois

    comportamentos. Na Praa Garota de Ipanema, a aceitao da cultura cigana, porem,

    ainda h resqucio de intolerncia, pela sociedade. Devido s inmeras historias ligada

    ao povo cigano, recheada de preconceitos e ignorncia. A estratgica que os ciganos

    encontraro para se diminuir a perseguio e as aes intolerantes na regio acolhedora.

    Assimilao ou sincretismos foi maneira para encontrada pelo grupo tnico cultura

  • 17

    cigana para pode realiza suas praticas, ritos e hbitos da f cigana.

    A difuso religiosa est sempre relacionada experincia da f e sua expanso

    do sistema religioso e cultural, com isso cria-se um novo sistema de se relacionar com o

    ambiente receptor. Em leitura de Vasconcellos por Park (1994) existe ao abordar a

    expanso hierrquica, ou seja, aquela que se caracteriza por ser implantada no topo da

    sociedade e com a funo de atingir as demais camadas sociais. (2001, p, 35). Essa

    expanso ocorre no momento em que o grupo social alcanado por contato direto e

    pessoal.

    Os caminhos percorridos pelos os ciganos buscando a sua preservao enquanto

    grupo tnico cultural e a implementao de suas crenas, costume e sua f. Puderam

    assim marcar uma difuso diferenciada no tempo e no espao. Pois, sua forma de se

    relaciona possibilitou a uma manuteno enquanto uma cultura de praticas milenar

    coesa, como uma assimilao de alguns aptos da sociedade por onde passa. Buscando

    sempre a exposio de sua cultura e luta contra o preconceito e a intolerncia cultural,

    religioso que o seu povo vem sofrendo h sculos. Esta a semente trabalhada pelos

    gegrafos da religio em analise e construo de uma leitura do povo cigano.

    Para no concluir...

    A inteno em relacionar o sagrado e o espao na perspectiva cultural est,

    portanto, em visualizar o espao geogrfico como fruto de um trabalho fsico e

    imaginrio que responde h tempos, pretenses e complexidades plurais, no nos

    permitindo o lanamento de concluses generalizadoras. Como j foi explanado

    anteriormente o toda ao do homem compem de alguma forma a formao do espao.

    Assim, ao se especializar o no espao o homem o qualifica dando lhe sentido prprio

    atravs das vivencias ali estabelecidas. Formas e funes mostram a importncia de se

    estudar cada vez mais as marcas espaciais expressas da religio. A religio ocorre,

    condiciona e modula o lugar, o espao, o territrio e a paisagem atravs de praticas e

    aes devocionais.

    Ao compreender estas dinmicas de concepes podemos analisar o grupo social

    ali presente os ciganos que por meio de suas organizaes espaciais ali realizadas, atua

    no espao e o espao atua no grupo, criando um elo nesta relao.

    Para se fortalecer enquanto um grupo coeso no espao e no tempo, os ciganos

    realizam seus rituais e vivencias na Praa Garota de Ipanema, atribuindo neste lugar

  • 18

    caractersticas simblicas deste povo. A praa ganha um valor simblico que a

    caracteriza como um espao sagrado. Sendo assim, a religiosidade cigana se mantm

    com o eixo de encontro entre a f a Santa Sara Kali e a origem tnica- cultural cigana.

    Salientando a percepo na categoria de analisa da difuso espacial e sua

    importncia para analise do povo cigano, para a compreenso da historia desse povo.

    Pois, a difuso se constitui no espraiamento de um processo, ou forma, no espao ao

    longo do tempo. Devemos ento reconhecer nesse processo os agentes difusores e as

    barreiras (fsicas ou sociais). Em analise da cultura atuante no espao. No caso dos

    ciganos, enumero foram os motivos que os trouxeram para o Brasil, em diferentes

    tempos. Mas na maioria dos casos vieram refugiados, devido a historia de o seu povo

    ser marcada por diversas perseguies, fruto de aes de intolerncia.

    Referencia bibliogrfica

    Oliveira De R. Jefferson, Hierpolis Carismtica em Cachoeira Pulista: Cano Nova e as peregrinaes ps- modernas. Espao e Cultura. Rio de Janeiro. Edio n 28, pp 71 80. Dez 2010. ROSENDHAL, Zeny (Org). Geografia cultural: um sculo (3) Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002. CAPEL, Horcio. La Morfologia de las Ciudades. Barcelona, Ed. Del Serbal, 2002. CARLOS, Ana F. A. C. O Espao Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. So Paulo: Labur Edies, 2007. ______. A (Re)produo do espao urbano. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2008. ______. A Cidade. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2009. CLAVAL, Paul. Uma, ou Algumas, Abordagem(ns) Cultural(is) na Geografia Humana? In: SERPA, Angelo (Org). Espaos culturais: vivncias, imaginaes e representaes. Salvador: EDUFBA, 2008. ______. Terra dos homens: a geografia. Traduo de Domitila Madureira. So Paulo: Contexto, 2010. CORRA, Roberto Lobato. Trajetrias geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. ______. O Espao Urbano. So Paulo, tica, 1999.

  • 19

    ______. A Geografia Cultural e o Urbano. In: Introduo Geografia Cultural. R. L. Corra e Z. Rosendahl (Orgs.). Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.