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COLÓQUIO INTERNACIONAL CONHECIMENTO E CIÊNCIA COLONIAL Lisboa, 26-29 de novembro de 2013 Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical SUBALTERNIZAÇÃO DA MUNDIVIDÊNCIA AFRICANA E SUA IMPLICAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO COLONIAL MODERNO Martinho Pedro Faculdade de Ciências Sociais Universidade Pedagógica, Maputo [email protected] [email protected] Resumo O sistema colonial foi erigido num paradigma de conflitualidade cultural, com a imposição de modelos europeus concebidos unilateralmente como superiores sobre realidades pré-existentes nos outros continentes, tal como no africano. Este facto redundou na formatação de grupos periféricos, uma acção que, consequentemente, teve implicações nas diferentes esferas existenciais destes grupos, que, desde essa altura, longe de serem considerados, pelo menos, paralelos, foram constituídos como excêntricos, por isso, incapazes de se cruzarem com a filosofia existencial europeia então instituída. A par dessa realidade, foi desenvolvido um quadro conceptual também subalterno que, como no contexto inter- relacional geral, foi incomunicante com o paradigma dominante, por isso, excluído da funcionalidade de processos decorrentes durante o período colonial. Um desses domínios foi o do saber endógeno africano que, desde logo, com o desenvolvimento da ciência europeia, foi colocado num contexto subalterno, aliás como o tinha sido a sua auréola societal. Assim, tal como procuraremos demonstrar no colóquio, a falta de um discurso dialógico, nesse domínio, não só motivou que a ciência colonial em África fosse dominantemente aplicada, como veio a marcar um compasso no seu desenvolvimento em geral, tal como evidenciou-se no período pós-colonial, com a aplicação de ideais convergentes com realidades que, até a altura da colonização, sendo práticas no continente, foram negligenciadas pelo posicionamento subjectivamente construído para a África. Palavras-chave: subalternização, mundividência, colonização, ciência. Martinho Pedro, Doutor em Ciências do Tempo e do Espaço, Sector História e Civilizações: História dos Tempos Modernos, História do Mundo Contemporâneo e da Arte, pela Université de Poitiers França, é docente de graduação em Geopolítica na Academia de Ciências Policiais, de História e Antropologia Cultural de Moçambique na Universidade Pedagógica de Moçambique, onde também assegura, na pós- graduação, os Módulos “Dinâmicas Sociais de África” e “Territórios/Espaços Sociais”.

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COLÓQUIO INTERNACIONAL CONHECIMENTO E CIÊNCIA COLONIAL Lisboa, 26-29 de novembro de 2013

Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical

SUBALTERNIZAÇÃO DA MUNDIVIDÊNCIA AFRICANA E SUA IMPLICAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO COLONIAL MODERNO

Martinho Pedro

Faculdade de Ciências Sociais Universidade Pedagógica, Maputo

[email protected] [email protected]

Resumo

O sistema colonial foi erigido num paradigma de conflitualidade cultural, com a imposição de modelos europeus concebidos unilateralmente como superiores sobre realidades pré-existentes nos outros continentes, tal como no africano. Este facto redundou na formatação de grupos periféricos, uma acção que, consequentemente, teve implicações nas diferentes esferas existenciais destes grupos, que, desde essa altura, longe de serem considerados, pelo menos, paralelos, foram constituídos como excêntricos, por isso, incapazes de se cruzarem com a filosofia existencial europeia então instituída. A par dessa realidade, foi desenvolvido um quadro conceptual também subalterno que, como no contexto inter-relacional geral, foi incomunicante com o paradigma dominante, por isso, excluído da funcionalidade de processos decorrentes durante o período colonial. Um desses domínios foi o do saber endógeno africano que, desde logo, com o desenvolvimento da ciência europeia, foi colocado num contexto subalterno, aliás como o tinha sido a sua auréola societal.

Assim, tal como procuraremos demonstrar no colóquio, a falta de um discurso dialógico, nesse domínio, não só motivou que a ciência colonial em África fosse dominantemente aplicada, como veio a marcar um compasso no seu desenvolvimento em geral, tal como evidenciou-se no período pós-colonial, com a aplicação de ideais convergentes com realidades que, até a altura da colonização, sendo práticas no continente, foram negligenciadas pelo posicionamento subjectivamente construído para a África.

Palavras-chave: subalternização, mundividência, colonização, ciência.

Martinho Pedro, Doutor em Ciências do Tempo e do Espaço, Sector História e Civilizações: História dos Tempos Modernos, História do Mundo Contemporâneo e da Arte, pela Université de Poitiers – França, é docente de graduação em Geopolítica na Academia de Ciências Policiais, de História e Antropologia Cultural de Moçambique na Universidade Pedagógica de Moçambique, onde também assegura, na pós-graduação, os Módulos “Dinâmicas Sociais de África” e “Territórios/Espaços Sociais”.