Subjetividades e identidades desveladas - Léa Carneiro de · 2 Lasar Segall nasceu em 1891 em...

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1 Subjetividades e identidades desveladas na análise da produção artística Ensaio Crítico da obra Navio de Emigrantes de Lasar Segall FRANÇA, Léa Carneiro de Zumpano 1 Este ensaio crítico pretende construir algumas análises de uma entre as grandes obras de Lasar Segall 2 , bem como estabelecer conexões entre ela e a produção de alguns artistas brasileiros seus contemporâneos, e também de outras nacionalidades, em que é possível perceber as coincidentes angústias e temáticas propositivas em cada obra. A pintura Navio de Emigrantes (1939/41) encontra-se atualmente no Museu Lasar Segall – IPHAN / MinC 3 , tendo sido uma doação dos herdeiros. Esta obra é um óleo com areia sobre tela e mede 230 x 275 cm. Navio de Emigrantes 1939 (detalhe) Lasar Segall 1 Mestranda em Educação pela Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia. Professora de Ensino de Arte da Rede Pública Municipal de Uberlândia – MG. Formada pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, pós-graduada pela mesma universidade. 2 Lasar Segall nasceu em 1891 em Vilna, capital da Lituânia, que, na época, estava sob dominação da Rússia. Segall era de família judia, e o sofrimento judeu é um tema importante em sua obra. Aos 15 anos, Segall deixou Vilna e foi para Berlim, estudar na academia de Belas-Artes. Em 1913, ajudado por sua irmã Luba, que morava no Brasil, o artista montou exposições em São Paulo e Campinas. Ele se mudou definitivamente para cá em 1923. Aqui, conheceu artistas da Semana de arte Moderna de 1922. Mais tarde, transformou-se num dos grandes nomes do nosso Modernismo. Segall se impressionou com a paisagem brasileira. Quando chegou, passou a acentuar as cores de seus quadros. Pintou personagens sofridos, como prostitutas e pobres. Em suas obras, valorizou a figura do trabalhador.Ele faleceu em 2 de agosto de 1957, devido a problemas cardíacos. 3 IPHAN / MinC – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Ministério da Cultura. Cf. http://www.iphan.gov.br/bens/Museus/lasar.htm

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Subjetividades e identidades desveladas na análise da produção artística

Ensaio Crítico da obra Navio de Emigrantes de Lasar Segall

FRANÇA, Léa Carneiro de Zumpano1

Este ensaio crítico pretende construir algumas análises de uma entre as grandes obras

de Lasar Segall2, bem como estabelecer conexões entre ela e a produção de alguns artistas

brasileiros seus contemporâneos, e também de outras nacionalidades, em que é possível

perceber as coincidentes angústias e temáticas propositivas em cada obra.

A pintura Navio de Emigrantes (1939/41) encontra-se atualmente no Museu Lasar

Segall – IPHAN / MinC3, tendo sido uma doação dos herdeiros. Esta obra é um óleo com

areia sobre tela e mede 230 x 275 cm.

Navio de Emigrantes 1939 (detalhe)

Lasar Segall

1 Mestranda em Educação pela Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia. Professora de Ensino de Arte da Rede Pública Municipal de Uberlândia – MG. Formada pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, pós-graduada pela mesma universidade. 2 Lasar Segall nasceu em 1891 em Vilna, capital da Lituânia, que, na época, estava sob dominação da Rússia. Segall era de família judia, e o sofrimento judeu é um tema importante em sua obra. Aos 15 anos, Segall deixou Vilna e foi para Berlim, estudar na academia de Belas-Artes. Em 1913, ajudado por sua irmã Luba, que morava no Brasil, o artista montou exposições em São Paulo e Campinas. Ele se mudou definitivamente para cá em 1923. Aqui, conheceu artistas da Semana de arte Moderna de 1922. Mais tarde, transformou-se num dos grandes nomes do nosso Modernismo. Segall se impressionou com a paisagem brasileira. Quando chegou, passou a acentuar as cores de seus quadros. Pintou personagens sofridos, como prostitutas e pobres. Em suas obras, valorizou a figura do trabalhador.Ele faleceu em 2 de agosto de 1957, devido a problemas cardíacos. 3 IPHAN / MinC – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Ministério da Cultura. Cf. http://www.iphan.gov.br/bens/Museus/lasar.htm

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A obra supracitada será analisada por meio dos elementos formais, portanto, pela

presença forte e marcante das duas linhas inclinadas em sentido contrário, que se

encontram no centro e que parecem despertar uma grande ação sobre o olhar do

espectador. Dessa forma, é possível constatar que a estrutura da composição centra-se

nessas duas linhas inclinadas, iniciadas na metade das laterais da obra e que convergem

para um único ponto, que considero como ponto de fuga. As linhas fortes e rígidas, criadas

pelas massas de cor, parecem ter a intenção de conduzir o olhar do espectador e centralizá-

lo no espaço que se forma entre tais linhas, como se levasse o olhar para esse ponto de

fuga. Ainda, se for traçada uma linha dividindo a obra na horizontal na altura do meio,

pode observar-se que o maior número de elementos encontra-se na metade inferior da obra,

sendo equilibrados pelo movimento das linhas curvas externas às duas linhas inclinadas e

também pela linha do horizonte ao fundo, que parece acalmar o olhar.

No que se refere ao tratamento dado à cor, pode-se observar que ela é um elemento

que parece ser determinante para a expressão do artista. Essa é uma pintura

monocromática, que resulta numa obra expressiva, carregada de sentimentos, na qual o

artista faz uso das tonalidades de marrons e ocres, a pintura foi a técnica escolhida pelo

artista como forma de expressão.

A temática para Lasar Segall é a da dor, da solidão, do sofrimento, da esperança, da

desesperança. Nesse sentido, a dimensão da obra é um elemento do qual o artista faz uso

como meio de expressão para, supostamente, atingir os seus propósitos junto ao

espectador. Considerando a proporção de suas telas, esta dimensão pode ser analisada em

duas perspectivas: a dimensão social da existência humana e o impacto que a obra pode

causar na relação obra – espectador – artista.

Lasar Segall (detalhe)

Desta forma, as questões relacionadas à coletividade e, neste caso especificamente, à

condição do emigrante, não impedem que o artista ao mesmo tempo trabalhe a dimensão

3

individual das pessoas, ainda que sejam todos emigrantes, pois cada um possui uma

história de vida própria.

É nesse momento que as dimensões da obra4, como tamanho, são uma escolha que

parece atender à expressividade do artista, pois, diante da obra em tamanho real, é possível

constatar as histórias, os rostos, as famílias e as mães, de maneira bastante legível, o que

nem sempre é possível quando se está diante de algumas reproduções da obra.

Desde seus tempos de estudante, na Europa, Segall5 dedicou-se a retratar, em

pinturas, desenhos e gravuras, a miséria humana em todos os seus aspectos, físicos e

morais, bem como a angústia dos humilhados e ofendidos, a estupidez das guerras e a

violência dos preconceitos raciais. Nesse sentido, o próprio artista registrou: Meus temas –

enquanto certamente pensados como forma e expressos como forma – inserem-se dentre os

mais humanos: homem, mulher, criança, animal em relação um ao outro e em relação ao

seu ambiente. (arte br, 2003).

Por outro lado, pretendo, como já mencionei inicialmente estabelecer algumas

conexões, não só por meio da análise formal, mas também da comparativa, da temática,

entre a obra analisada de Segall e obras de outros artistas.

Sendo assim, inicio concentrando o olhar na linha do horizonte, espaço e

movimento, onde o mar se torna infinito, lugar onde, provavelmente, se faz uma interface

com os sonhos, os desejos e os projetos de vida dos viajantes do navio. Sendo assim, é

possível estabelecer também um diálogo entre Navio de Emigrantes e a obra de Géricault6

A jangada da Medusa (1818 e 1819)7, em que o artista retratou os sobreviventes em um

naufrágio num momento cruel de falsa esperança, quem sabe, a mesma sentida pelos

emigrantes de Segall. Se observada com um olhar atento e decodificador, na verdade o que

se percebe são agrupamentos de pessoas, amontoadas sobre a jangada, onde cada qual

4 Para ilustrar foto de Segall trabalhando na obra que mede 230 x 275 cm, imagem do catálogo: Lasar Segall – Construção e Poética de uma obra, fotografia da capa: Segall pintando o óleo “Navio de Emigrantes”, c. 1940. Fotografia de Hildegard Rosenthal. 5 Contextualizar a obra de Segall, considerar que ele viveu o período entre as duas grandes guerras mundiais, como também o cenário político, social e cultural nos Estados Unidos após o crack da bolsa de Nova York em 1929 e a conseqüente depressão. No Brasil, a década de 1930 e a importante produção dos artistas e intelectuais que marcaram a época, a implantação da ditadura do Estado Novo em 1937. 6 Théodore Jean Louis Géricault, pintor romântico francês, nasceu em Rouen, 1791, Apesar da escassa extensão se sua obra, Géricault influenciou enormemente o movimento romântico, sobretudo Delacroix. Faleceu em 1824, convalescendo de um acidente, em París. Cf. http://www.livronet.com.br/arteyestilos/biografias/pintores/gericault.htm 7 Entre 1818 e 1819, Géricault realizou grande variedade de estudos para a pintura “A jangada do Medusa” (491 x 716cm), que naufragara, matou vários tripulantes. Além de recolher todas as informações publicadas nos jornais, ele entrevistou sobreviventes do naufrágio e o carpinteiro da barca, este último ajudou o artista a construir uma réplica em miniatura, na qual estudava os agrupamentos de figuras modeladas em cera.

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expressa, à sua maneira, o próprio desespero e o seu desejo de sobreviver, sendo que um

destes grupos de náufragos acenam para um navio que passa sem notá-los.

A jangada da Medusa 1818-1819 (detalhe)

Théodore Géricault

Na perspectiva de uma análise comparativa formal, considerando a estrutura linear da

composição, conforme abordei anteriormente, Navio de Emigrantes (1939/41) a meu ver,

dialoga com a obra As grandes banhistas (1898 – 1905) de Paul Cézanne8, com obras

anteriores e posteriores do próprio Segall, entre elas, Pogrom (1937) e Guerra (1942); com

imagens e fotografias da época da 2ª guerra, que remetem às cenas de corpos amontoados

após terem suas vidas tiradas nas câmaras de gás nos campos de concentração, como por

exemplo: o Holocausto9, bem como as cenas da atualidade que mostram multidões em

situações de conflito de poder, lutas de classe e manifestações de grupos sociais.

As grandes banhistas 1898-1905 Pogrom 1937 Guerra 1942 (detalhe) (detalhe) (detalhe) Paul Cézanne Lasar Segall Lasar Segall

8 O pintor francês Paul Cézanne (1839 - 1906) é um dos artistas de maior importância para o desenvolvimento da Arte Moderna. Sua influência pode ser notada em praticamente todos os movimentos vanguardistas europeus do século XX. É considerado um pós-impressionista e fez parte da geração de pintores que ajudaram a romper com as noções de arte tradicional pregadas pelas academias. Entretanto, apesar de sua importância, seu valor somente começou a ser reconhecido no final de sua vida. Cf. http://www.enciclopedia.com.br/MED2000/pedia98a/arte9hbn.htm 9 Entre as imagens selecionadas para esta análise, uma que retrata o holocausto, referência: image 011.jpg – Cf. http://www.laflecha.net/img/news/5/3/image011(1)_bg.jpg.

5

Image011(1)_bg.jpg (detalhe) Multidão (detalhe) laflecha.net Rubens Gerchman

É possível perceber, pelas datas das obras citadas, que Segall, nesse período em que

pinta Navio de emigrantes, dedica-se aos grandes temas universais, que a eclosão da

Segunda Guerra torna mais agudos. Em um catálogo da exposição de Segall, foi escrito

que, em suas “... telas grandiosas e dramáticas, tingidas por um colorido terroso e triste,

massas humanas se comprimem em composições piramidais, embarcadas no mesmo

destino trágico”10. Neste sentido, é possível relacionar esta obra com Pogrom11, do próprio

Segall, e Guernica12 de Pablo Picasso13, ambas de 1937, pois este também manifestou seu

horror em relação às atitudes dos homens frente à guerra.

Por outro lado, esse diálogo esta presente também pela opção monocromática dos

artistas. Sendo assim, da mesma maneira que em Segall, é possível observar outros artistas

que se apropriaram da monocromia, dos tons mais opacos de sua paleta, para tornar sua

obra mais expressiva e forte. Dentre eles, estão Picasso, com Guernica (1937); Cândido

Portinari14, com a série Retirantes (1944), a obra Café (1935); e Tarsila do Amaral15, com

10 Frase retirada de um catálogo de exposição datado de março de 1995. Lasar Segall – Construção e poética de uma obra. Exposição de longa duração, Museu Lasar Segall, São Paulo, SP. Apresentado por Maurício Segall, Diretor Presidente. 11 Pogrom é um termo hebraico que significa linchamento ou perseguição pública. É entendido também como movimento popular de violência contra os judeus. A cidade natal de Lasar Segall, Vilna, capital da Lituânia, estava sob dominação da Rússia. A maioria da população de Vilna era composta de judeus, mas a população judaica era obrigada pelos russos a viver num gueto. Em diversas ocasiões, soldados russos promoveram massacres no gueto. Esses tristes acontecimentos foram chamados de pogrons. A família de Segall era ortodoxa e enfrentou as dificuldades do domínio russo. 12 Guernica (3,49 metros de altura por 7,76 metros de largura), obra pintada por Picasso em 1937 leva o nome de uma pequena cidade na Espanha bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola.Nesta obra, Picasso registrou a impressão sobre o acontecimento que destruiu tal cidade e mesmo após a sua reconstrução podem-se reviver os horrores da guerra diante desta obra, que é universal. 13 Pablo Ruiz Picasso (1881-1973), pintor e escultor espanhol, considerado um dos artistas mais importantes do século XX. Artista multifacetado foi único e genial em todas as atividades que exerceu: inventor de formas, criador de técnicas e de estilos, artista gráfico e escultor. Cf. http://www.historiadaarte.com.br/picasso.html 14 Candido Portinari (1903 – 1962) é um dos maiores pintores brasileiros. Em 1935, obtém a segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Instituto Carnegie de Pittsburgh, Estados Unidos, com a tela Café, que retrata uma cena de colheita típica de sua região de origem. Revela-se um artista muralista executando vários painéis e afrescos em edifícios públicos, entre 1936 e 1944. Estes trabalhos, como conjunto e como concepção artística, representam um marco na evolução da arte de Portinari, afirmando a

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Os Operários (1933), artistas e obras, com os quais serão construídos possíveis diálogos

com Navio de Emigrantes, bem como com outras obras do próprio Segall como Pogrom

(1937), Guerra (1942), Êxodo II (1949), Greve (1956); mediante um enfoque

expressionista16 e também da temática, a qual sustenta um discurso social.

Guernica 1937 (detalhe)

Pablo Picasso

Operários 1933 Café 1935 Retirantes 1944 Êxodo II 1949 (detalhe) (detalhe) (detalhe) (detalhe) Tarsila do Amaral Portinari Portinari Lasar Segall

opção pela temática social, que será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então. Os movimentos nazista e fascista, bem como os horrores da guerra reforçam o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries Retirantes (1944) e Meninos de Brodósqui (1946), assim como à militância política. Cf. http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/s_biogra.htm 15 Tarsila do Amaral (Capivari SP 1886 - São Paulo SP 1973). Foi pintora e desenhista. Em 1922, em São Paulo, forma o Grupo dos Cinco, com Anita Malfatti (1889-1964), Mário de Andrade (1893-1945), Menotti del Picchia (1892-1988) e Oswald de Andrade (1890-1954). Em 1923, em Paris, estuda com André Lhote (1885-1962), Fernand Léger (1881-1955) e Albert Gleizes (1881-1953). A partir da década de 1930, a vida de Tarsila modifica-se bastante. No primeiro ano da década, separa-se de Oswald. Na mesma época, ocupa, por um curto período, a direção da Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp. Viaja para a União Soviética no ano seguinte e expõe em Moscou. Em 1933, após viagem à União Soviética, influenciada pela mobilização socialista preocupada com as mazelas sociais, seu trabalho ganha uma aparência mais realista, inicia uma fase voltada para temas sociais com as obras Operários(1933) e 2ª Classe(1933). Cf. http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=1997&busca=tarsila&procura=Procurar&cd_tipo_materia=31519 16 O termo possui um sentido histórico preciso ao designar uma tendência da arte européia moderna, enraizada em solo alemão, entre 1905 e 1914. A noção, empregada pela primeira vez em 1911 na revista Der Sturm (“A Tempestade”), mais importante órgão do movimento, marca uma oposição ao impressionismo francês. À idéia de registro da natureza por meio de sensações visuais imediatas, cara aos impressionistas, o expressionismo contrapõe a expressão que se projeta do artista para a realidade. Cf. http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=1997&busca=expressionismo&procura=Procurar&cd_tipo_materia=31519

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Ainda na perspectiva de uma análise temática, a obra remete-nos a imagens

extremamente expressivas e de uma dramaticidade presente e significativa, entre elas,

novamente Guernica e também algumas obras da fase azul de Picasso, quando ele focaliza

pessoas marginalizadas pela sociedade: mendigos, artistas de circo e cegos. Há ainda

Operários de Tarsila do Amaral, Os Retirantes e Café de Portinari, bem como Pogrom de

Segall, já mencionados anteriormente. Entretanto é importante evidenciar que esses artistas

têm seus olhares voltados para os problemas de algumas minorias que se constituem como

grupos sociais de um país e, ao mesmo tempo, são uma multidão no que tange ao número

de habitantes. Uma multidão de excluídos, que vivenciaram acontecimentos trágicos nas

suas histórias como sociedade. Nessa linha de pensamento, não posso deixar de ressaltar a

função social da arte como produção humana, representação de uma época e de um

contexto histórico-social, permanecendo, desse modo, em conformidade com Ernst

Fischer, quando declara que:

A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. (FISCHER, 1987 p.57)

Continuando o que foi exposto, o diálogo que as obras mencionadas estabelecem

entre si, na perspectiva desses diferentes artistas, parece ser o de denúncia em relação ao

trabalhador explorado em sua mão de obra, o emigrante, o retirante, o operário, o

trabalhador rural, que estão em busca de condições dignas de vida, tendo, no próprio

trabalho, produzido pelo seu corpo, a única forma de sobrevivência, pois não possuem

alternativas para sobreviver no sistema capitalista, em contraponto, são explorados pelos

que se constituíram como capital.

Mesmo após sua fixação no Brasil, as notícias dos acontecimentos advindos da

Europa em conflito, possivelmente, motivaram algumas das composições de Segall,

tornando-as ao mesmo tempo belas e trágicas, como se pode ver em Navio de Emigrantes

(1939/1941), Sobreviventes, Condenados (1950), Pogrom (1937), Campo de Concentração

e tantas outras obras-primas do artista.

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Condenados 1950 (detalhe)

Lasar Segall

Outro tema que percebo estar presente na obra de Segall é a maternidade, já que ele

retrata as famílias e, na sua maioria, com a forte presença da mãe e com a ausência da

figura paterna. Isto acontece, provavelmente, por Segall ter vivido a realidade da guerra,

quando as mulheres, muitas delas viúvas, assumiam a família após a morte dos esposos na

frente de batalha. Um exemplo disto é a sua obra Viúva e filho II (1920), cuja data coincide

com o término da 1ª Guerra Mundial. Deste modo, Segall mostra-se extremamente sensível

à maternidade, sendo esta também uma temática que emerge, em outras de suas obras,

carregada de sentimentos, como se pode observar em diferentes trabalhos ao longo de sua

vida, tais como: Mãe e Filho (1909), Mãe Preta (1930), Maternidade (1931), todas elas

com a figura materna expressando ternura, e apresentando uma relação de aconchego e

proteção para com a criança, uma relação de proximidade quando a abraça junto de si. A

mãe acolhe seu filho segurando-o sempre com as mãos e os braços, circundando-o, e ao

mesmo tempo, com a sua face recostada na cabeça da criança, aconchegando-a junto ao

peito.

Mãe e filho 1909 Mãe Preta 1930 Maternidade 1931 Maternidade 1938 (detalhe) (detalhe) (detalhe) (detalhe) Lasar Segall Lasar Segall Lasar Segall Tarsila do Amaral

Os rostos das mães emigrantes no navio de Segall também mostram uma grande semelhança com a esposa retratada por ele em Família do pintor (1931).

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Navio de emigrantes – detalhes Família do pintor 1931 (detalhe)

Lasar Segall Lasar Segall

Em determinada época, é possível que Segall tenha influenciado a artista Tarsila do

Amaral, pois podemos constatar grande semelhança entre algumas de suas obras. Para

justificar esta hipótese, seleciono as seguintes obras: a Maternidade de Tarsila do Amaral

(1938) e a de Segall (1936), que são homônimas, na qual observa-se que Tarsila apropria-

se da mesma estrutura utilizada por Segall para as figuras centrais da obra. Também na

obra, 2ª classe (1933) de Tarsila do Amaral, em que é muito forte a possibilidade de

diálogo com mais de uma dentre as obras de Segall.

Maternidade 1936 (detalhe) Maternidade 1938 (detalhe)

Lasar Segall Tarsila do Amaral

Dessa forma, ao observar a obra Viúva e filho II de Segall (1920) e um recorte feito

na obra 2ª Classe de Tarsila (1933) (fig.01), é possível ver, na janela do vagão, a figura de

uma mãe com o filho. Em ambas as pinturas, as semelhanças são muitas; os traços dos

bebês, a expressão fisionômica das mães, as tonalidades, o sentimento que perpassa as duas

obras.

2ª classe 1933 Viúva e filho II 1920 Fig. 01 - 2ª Classe 1933 (detalhe) (detalhe) (detalhe) Tarsila do Amaral Lasar Segall Tarsila do Amaral

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Ainda, na obra 2ª classe (1933) de Tarsila, podemos ver rostos expressivos que,

recortados em detalhe, possibilitam melhor visibilidade das semelhanças entre as pessoas

retratadas. Um exemplo disto pode ser observado em Judeu em orações (1930), de Segall,

e o recorte feito no senhor ao fundo na porta do vagão, em Tarsila (fig 03); como também

em Meus Avós (1921), de Segall, e casal de avós à direita do quadro em 2ª classe (fig 04).

Nesta perspectiva, é possível afirmar que uma imagem propõe diversos percursos, que

permitem levar o espectador a inúmeras possibilidades de interpretações e, pela

diversidade de características presente em cada pessoa, as histórias podem cruzar-se, sendo

possível ao observador ver-se ou colocar-se em algumas delas.

Judeu em orações 1930 Fig. 03 2ª Classe 1933 Meus avós 1921 Fig 04 2ª Classe 1933 (detalhe) (detalhe) (detalhe) (detalhe) Lasar Segall Tarsila do Amaral Lasar Segall Tarsila do Amaral

Por outro lado, rostos expressivos acompanham Segall em grande parte de sua

trajetória artística, o que pode ser percebido por meio de algumas obras selecionadas, tais

como: Mãe (1909), Mãe Preta (1930), Meus Avós (1921), Judeu em Orações III (1930),

até Greve (1957). Entre os rostos retratados pelo artista, o seu próprio rosto também é

muito expressivo, o que pode ser apreciado em alguns de seus auto-retratos: Auto-retrato II

(1919) e Auto-retrato III (1927). Novamente, é possível visualizar pontos comuns entre os

rostos dos emigrantes no navio e outros rostos já retratados por Segall. Um exemplo disto é

o Retrato de Lucy (1935) e um dos rostos femininos em um recorte de Navio de

Emigrantes (fig.02), em que ambas as pessoas estão com o rosto na mesma posição, como

também os cabelos, a boca, e a expressão facial, podendo-se supor que representasse a

mesma personagem.

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Greve 1956 Auto-retrato III 1927 Auto-retrato II 1919 (detalhe) (detalhe) (detalhe) Lasar Segall Lasar Segall Lasar Segall

Retrato de Lucy I 1935 (detalhe) Fig. 02 Navio de emigrantes (detalhe)

Lasar Segall Lasar Segall

Nesse momento em que abordo a expressividade nos rostos retratados por Segall,

quero registrar um rosto brasileiro que também considero significativo para dialogar com

Navio de Emigrantes de Segall é o de Betinho de Souza17. Foi retratado por Siron Franco18

na técnica do mosaico trabalhado com sementes de várias espécies na construção e na

criação do expressivo retrato do sociólogo, com toda a significação que carrega como

imagem pela sua obra e vida, pela luta para concretizar seus projetos direcionados para os

desejos de uma minoria excluída.

17 Herbert de Souza (Betinho, 1935-1997) tornou-se conhecido nacionalmente por sua campanha contra a fome. Em 1993 organizou uma entidade governamental, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, e uma não-governamental, a Ação da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida. Cf. http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/autores/hsbetinh.htm 18 Siron Franco é um artista muito ligado às questões sociais, nasceu em Goiás Velho (GO), em 26 de julho. Muda-se para Goiânia em 1950. Cf. http://www.pinturabrasileira.com/artistas_bio.asp?cod=31&in=1

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Betinho de Souza - Siron Franco (detalhe) Fotografia revista Veja (detalhe)

Retomando, como já foi mencionado inicialmente, na estrutura formal da composição

da obra analisada, parece haver uma intencionalidade que faz com que o nosso olhar se

direcione entre as linhas inclinadas, remetendo a uma perspectiva tal como se fosse um

ponto de fuga. No entanto parece que o artista quer que o espectador detenha seu olhar

sobre a imagem e, sobretudo, nas pessoas retratadas, para que possa refletir sobre a

temática desenvolvida.

Dando continuidade à riqueza de possibilidades de percursos sinalizados por Segall

mediante a temática escolhida, a emigração é uma realidade em muitos países e deve ser

considerada tanto sob o enfoque da pessoa que deixa o seu país e está indo começar uma

nova vida em outro lugar, quanto pelo lado de quem a recebe no seu destino. Esta é uma

realidade no Brasil, sobretudo, em São Paulo, na capital e no interior19, mas há também nos

estados do Sul do país a emigração de povos vindos de vários países. Entretanto, também

acontece a migração de pessoas que se mudam de um lugar para o outro internamente no

Brasil, à qual se refere Portinari em sua obra Retirantes (1944), fato que permanece bem

atual20. O espectador que comunga com o artista da experiência da emigração, da guerra e

da perseguição aos judeus21 fará uma leitura mais profunda de Navio de Emigrantes, no

entanto outro espectador, que não possua estas vivências, terá outras leituras,

provavelmente, ligadas ao coletivo das problemáticas sociais, ou simplesmente ao prazer

19 Tema que foi tratado em uma telenovela de época, Terra Nostra, produzida pela Rede Globo e escrita por Benedito Ruy Barbosa, foi transmitida em 1999-2000 e reprisada em 2004. A telenovela abordou a condição dos imigrantes italianos no início do século XX no Brasil. 20 Inclusive foi produzido pelo cinema nacional o filme O caminho das nuvens (Brasil, 2003) direção de Vicente Amorim, que retrata a história de uma família nordestina nessa condição. Baseado numa história real, o pai faz com que a mulher e os filhos embarquem numa viagem de bicicleta do interior do Nordeste até o Rio de Janeiro, com a esperança de conseguir um emprego que lhe pague R$ 1 mil mensais. Cf. http://cinema.uol.com.br/dvd/2004/08/17/ult2372u9.jhtm 21É o caso da Rússia, onde os pogrom ou matança de judeus empurram as massas à emigração, especialmente para os Estados Unidos contribuindo para o nascimento do Sionismo, movimento nacionalista judaico iniciado no século XIX, visando ao restabelecimento na Palestina, com um Estado Judaico que se fez vitorioso em 1948.

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de apreciar a obra pelos seus aspectos formais e iconográficos, ou mesmo como expressão

e linguagem, conforme afirma John Berger sobre a imagem: Sempre que olhamos uma fotografia tomamos consciência, mesmo que vagamente, de que o fotógrafo selecionou aquela vista de entre uma infinidade de outras vistas possíveis. Isto é verdade mesmo para o mais banal instantâneo de família. O modo de ver do fotográfo reflecte-se na sua escolha do tema. O modo de ver do pintor reconstitui-se através das marcas que deixa na tela ou no papel. Todavia, embora todas as imagens corporizem um modo de ver, a nossa percepção e a nossa apreciação de uma imagem dependem também do nosso próprio modo de ver. (BERGER (1983 p. 14)

Ainda que Navio de Emigrantes de Segall mostre uma coletividade, já que representa

um grupo de emigrantes, não se pode deixar de perceber que, ao mesmo tempo, ela

possibilita ao observador distinguir as diferenças entre todos os passageiros do navio

quando o artista trabalha as expressões dos rostos, as posições de proximidade entre eles, e

o aparente cansaço causado pela posição em que se encontram.

Navio de emigrantes - detalhes

Lasar Segall

Essa obra, como já foi dito, pode ser interpretada como um recorte de uma imagem

maior, na qual é possível fazer vários outros recortes menores, de rostos, de famílias, e que

vem carregada de um repertório próprio do artista.

Na perspectiva de outros recortes em Navio de Emigrantes, é possível propor uma

imersão mais intensa na obra, na observação da individualidade de cada emigrante, nos

seus pequenos mundos e nas suas famílias. Essa imagem oferece muitas pistas sobre os

personagens, posicionados como atores em uma cena que, pela maneira como estão

vestidos, demonstram a classe social a que pertencem, explicitando as suas atitudes e a

maneira como estão próximos ou isolados uns dos outros. A respeito do que trazem

consigo, vindos de outro lugar, talvez distante, parecem somente trazer a si mesmos e os

seus familiares carregando na bagagem a sua cultura, os seus saberes de uma vida inteira,

os costumes de um convívio social. São pessoas que estão unidas pelos laços de uma raça,

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de uma etnia, de um determinado grupo, que devem fortalecer-se, e trazem consigo a

expectativa de que possam concretizar seus desejos.

Navio de emigrantes – detalhes

Lasar Segall

Navio de emigrantes – detalhes

Lasar Segall

Dessa forma, é possível analisar as obras de Segall já mencionadas na perspectiva da

tragédia, do drama e do retrato, abrindo possibilidades para pensar e refletir sobre uma

produção artística compromissada com questões ligadas à humanidade e ao próprio artista

individualmente.

A sua obra Visões de Guerra (1940/1943)22 propicia-nos considerar que Segall retrata

o que a sua retina capta, o que seus olhos vêem, observam e registram. Mas o artista vai

além, pois ele cria e interpreta o mundo resignificando-o, construindo novas visões. As

suas obras não se limitam a uma visão periférica do mundo, captada rapidamente por seus

olhos, mas ele emerge nessas imagens e consegue dar consistência à sua produção.

Visões de Guerra - Lasar Segall 1940-1943 (detalhe)

22 Lasar Segall, do caderno, Visões de Guerra (1940-1943), tinta preta a pena e aguada e tinta terra de siena aguada sobre papel. Imagem do Boletim Informativo 293 de março/ maio 2002, Museu Lasar Segall – IPHAN - MINC

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Outra interpretação é analisada na obra Visões de Guerra (1940/1943), Segall

representa o rosto de uma mulher, que parece estar desesperada por tantos motivos, com o

marido ou o filho nos campos de batalha. Também, supõe-se que esse trabalho seja um

auto-retrato de Segall, pela sua própria história de vida, já que ele é filho de judeu, é

emigrante e imigrante. Essa obra parece mostrar algumas das cenas que seus olhos já

presenciaram desde criança, quando vivia na pequena cidade de Vilna, na Rússia, onde

aconteciam os Pogrons, bem como vários outros momentos, igualmente trágicos

principalmente, no período entre as duas grandes guerras mundiais.

Quantos de nós já registramos tantos rostos cansados, sofridos no cotidiano de nossos

percursos, pelos caminhos de nossas vivências?

Do mesmo modo como acontece com Segall, o reflexo de nossas visões de um

cotidiano cheio de injustiças sociais, imagens que estão em nossos inconscientes, foram em

algum momento de nossas vidas, captadas por nossa retina. Entretanto parece que só muito

raramente nos permitimos percebê-las, já que nos causam sofrimento e a constatação de

nossa impotência.

Ouso dizer que todas essas obras me inquietam muito, pois, como espectadora,

comungo com os artistas, com cada um à sua maneira, da temática presente em todas elas.

As pessoas retratadas, as histórias registradas, as provocações realizadas por meio de cada

produção, de cada homem-mulher-artista, de cada homem-mulher-criança-personagem.

Dessa forma, a relação que se estabelece na apreciação das obras é muito forte e alimento-

me da atitude desses artistas que registram a nossa existência e nos mostram uma realidade

em frente da qual se precisa parar para observá-la, para compreendê-la e superá-la.

Quando nos afastamos, apesar do distanciamento, as imagens deixam um eco, que faz

com que continuemos a ouvi-las, vê-las e pensar sobre elas, em alguns momentos, vejo-me

virar para trás para dar uma última olhada e manter a esperança nos desejos mais

profundos de uma sobrevivência digna para cada ser humano.

10 de abril de 2005.

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Referência Bibliográfica

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FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

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ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ACEDI, Rosane e ARANHA, Cecília. Encontro com Segall. Belo Horizonte: Formato

Editorial, 2002.

CALABRIA, Paula Brondi. MARTINS, Raquel Valle. Arte, história & produção. São

Paulo: FTD, 1997.

2. Material Didático:

arte br. Instituto Arte na Escola. São Paulo, 2003. (Cadernos de Estudos do Professor: De

todos um pouco).

XXIV Bienal de São Paulo – Núcleo Educação. Percurso Educativo para Conhecer Arte.

Material de apoio educativo para o trabalho do professor com arte.

3. Boletins informativos e revistas:

Catálogo de exposição – 1995. Lasar Segall – Construção e poética de uma obra.

Exposição de longa duração, Museu Lasar Segall, São Paulo, SP.

Boletim Informativo nº 293. São Paulo: março/maio 2002, Museu Lasar Segall, IPHAN –

MINC.

Revista Veja. O articulador do possível. São Paulo, Editora Abril, 20 de agosto de 1997.

4. Internet - Sites selecionados

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