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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA COORDENACAO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS A GRONOMICAS - CPCA Subprojeto: Pupunha: raças primitivas e parentes silvestres / PROBIO 2004 RELATÓRIO PARCIAL I I - ATIVIDADE 3: Segunda Expedição de Prospecção e Coleta de Pupunha Primitiva no Arco do Desmatamento em Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão Participantes Ronaldo Pereira Santos, Bolsista CNPq/Probio Dr. Evandro J. L. Ferreira, Pesquisador do INPA-ACRE Abril de 2005

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPACOORDENACAO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS A GRONOMICAS - CPCA

Subprojeto:

Pupunha: raças primitivas e parentes silvestres / PROBIO 2004

RELATÓRIO PARCIAL I I - ATIVIDADE 3:

Segunda Expedição de Prospecção e Coleta de Pupunha Primitiva no Arco do

Desmatamento em Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão

Participantes

Ronaldo Pereira Santos, Bolsista CNPq/Probio

Dr. Evandro J. L. Ferreira, Pesquisador do INPA-ACRE

Abril de 2005

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OBJETIVOS Este relatório destina-se a descrição das atividades de prospecção e coleta de pupunha primitiva ao longo do “Arco do Desmatamento” nos estados do Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão, além do registro da ocorrência das diferentes raças de pupunha cultivada nas mesmas áreas.

METODOLOGIA A prospecção foi realizada ao longo de regiões pré-selecionadas do “arco do fogo” ou “do desmatamento” e na Chapada dos Guimarães, ao norte da cidade de Cuiabá. Originalmente, o “arco do fogo” compreende a região leste do Acre, todo o estado de Rondônia, a região Noroeste-Norte do estado do Mato Grosso, a região Sul-Sudeste do Pará, o Noroeste do Tocantins e o Sudoeste do Estado do Maranhão (Fig. 1). Para a prospecção foram pré-selecionadas as regiões de Alta Floresta, Santana do Araguaia (PA), Redenção e adjacências (PA), Conceição do Araguaia (PA), Marabá e adjacências (PA), Araguaína (TO), Imperatriz e Açailândia (MA). A seguir serão descritas as atividades realizadas em cada uma das regiões visitadas.

MATO GROSSO

Chapada dos Guimarães e Alta Floresta

04/04 – Cuiabá e UH do Manso. A primeira atividade desenvolvida neste Estado foi uma visita ao Herbário da Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT para consulta à coleção de amostras botânicas de palmeiras do mesmo. Esperava-se obter antecipadamente informações sobre locais de ocorrência de espécies primitivas e mesmo cultivadas de pupunha no Estado. Havia interesse especial de se encontrar espécies primitivas na região da Chapada dos Guimarães tendo em vista que Barbosa Rodrigues (1898)

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encontrou e descreveu uma espécie, Guilielma mattogrossensis, que ele acreditava ser a progenitora da pupunha cultivada. Infelizmente não haviam amostras botânicas de “pupunha” primitiva ou cultivada na coleção da UFMT. Neste mesmo dia se percorreu em carro a rodovia MT 251 (asfalto) até a barragem da Usina Hidrelétrica do Manso. Esta barragem provocou a formação de um imenso lago que inundou grande parte das áreas visitadas por Barbosa Rodrigues. Ao longo da mesma se observou que nas planícies predomina vegetação tipo Cerrado, tanto aberto como mais denso. Poucas áreas são usadas em empreendimentos agropecuários. Nas encostas dos morros também predomina este tipo de vegetação. A espécie de palmeira dominante na paisagem do cerrado é a Macaúba (Acrocomia aculeata). Da Usina do Manso segui-se por cerca de 25 km em estrada de terra. A cerca de 5 km da barragem se adentrou em uma floresta de galeria com árvores de grande porte, com todas as características de mata amazônica. Infelizmente apenas uma espécie de palmeira foi encontrada no local, Attalea exigua. A maior parte da área ao longo desta estrada foi desmatada e é usada para a criação de gado ou cultivo de soja e arroz. A espécie de palmeira mais comum neste trecho deixa de ser Macaúba e passa a ser o Babaçu, que tem uma incrível capacidade de colonizar áreas pertubadas. Ao final do dia pernoitamos na cidade de Chapada dos Guimarães. 05/04 – Chapada dos Guimarães e áreas adjacentes. Na parte da manhã seguimos em carro na direção da cidade de Água Fria, a cerca de 60 km de Chapada dos Guimarães por estrada de terra. A intenção era chegar às margens do rio da Casca, mas se observou que não seria possível pois nesta região os rios foram “alagados” em razão do enchimento da barragem. Conversamos com moradores antigos e outras pessoas que conhecem bem a região e nenhuma delas lembra de ter visto qualquer palmeira semelhante à pupunha de Barbosa Rodrigues.

Pela tarde resolvemos seguir por outra estrada em direção à localidade de Peba, a cerca de 60 km da cidade de Chapada. De lá seguimos até a margem do rio da Casca, distante 12 km de Peba.

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Nestas localidades não existem alagamentos da barragem. A vegetação predominante é de Cerrado aberto. Com esta visita ficou patente a grande improbabilidade de encontrarmos a pupunha em ambiente naturais na referida região. Talvez futuras explorações devam ser dirigidas em direção ao Município de Nobres. Pernoitamos em Chapada dos Guimarães.

06/04 – Cuiabá e Alta Floresta. Retornamos a Cuiabá onde embarcamos em um vôo para o município de Alta Floresta, no extremo norte do Estado de Mato Grosso. Inicialmente foram visitados supermercados para descobrir se frutos de pupunha são vendidos na cidade. A partir das indicações dos vendedores fizemos uma visita ao escritório local da CEPLAC e ficou acertada uma visita à Estação Experimental da mesma no dia seguinte. No final da tarde foi realizada uma visita a uma chácara nas cercanias da cidade onde existe um plantio de pupunha para palmito e para produção de frutos. Foi verificado que a pupunha é do tipo Yurimáguas (sem espinhos), com alguns indivíduos com espinhos. Existe ainda um plantio de açai-de-touceira no local. Em ambos os casos, as sementes foram repassadas pelo escritório da CEPLAC (Fig. a-b).

a b

a a b

Figura 1. Palmeiras em sítio nas cercanias da cidade de Alta Floresta – MT. a. Matrizes de

pupunha usada para a extração de sementes; b. Frutos de pupunha sem sementes;

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07/04 – Alta Floresta. Saímos de Alta Floresta em direção à Estação Experimental da CEPLAC (9o 53’51”S e 56 o 17’ 07”W), que fica localizada no km 30 da Rodovia MT 208. Observamos que a vegetação local é tipicamente amazônica, com floresta de grande porte e elementos florísticos tipicamente amazônicos, como Cecropiaceae em áreas de regeneração e Castanheiras nas áreas florestadas e nas pastagens.

a b

c d

Figura 2. (a-d) Pupunha primitiva nas cercanias da cidade de Alta Floresta - MT.

Na estação da CEPLAC foi realizada uma breve incursão pela mata virgem do local e também se encontrou pupunha selvagem. De acordo com

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Evandro Ferreira, a quantidade e densidade das plantas na floresta é bem maior do que verificado nas florestas do Acre. Não foi possível coletar frutos porque o período de frutificação tinha se encerrado cerca de 2-3 semanas antes. Por esta razão foram coletadas apenas sementes para fins de confirmação da espécie (Fig. 3 a-b). Quatro amostras de folhas jovens colhidas na estação da CEPLAC acondicionadas em tubos plásticos com Sílica gel para posterior extração de DNA.

b a

Figura 3. (a-b) Estação da CEPLAC, Alta Floresta – MT. Comparação entre o endocarpo de sementes de pupunha cultivada (maiores, acima) e de pupunha primitiva (menores, abaixo).

Vale ressaltar a excelente recepção que tivemos do pessoal da

CEPLAC, que demonstrou interesse em participar de trabalhos com pupunha na região. A tarde embarcamos em um vôo para Cuiabá onde pernoitamos. 08/04 - Viajamos para Belém onde aguardamos o vôo para o interior do Pará, previsto para a madrugada do domingo, 10/04.

PARÁ

Marabá, Eldorado do Carajás, Curionópolis e Parauapebas

10/04 – Marabá. Visitamos as duas principais feiras livres da cidade de Marabá. Foi verificado que a safra estava no final e os cachos que encontramos à venda possuíam todas as características de pupunha de Yurimáguas. Vendedores e consumidores informaram que a comercialização de frutos é muito restrita tendo em vista que poucas pessoas conhecem bem

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os frutos da espécie. A maioria dos informou que existe uma forte migração de maranhenses para a região de Marabá, o que em parte explica a falta de popularidade da espécie. 11/04 – Marabá. Pela manhã visitamos o escritório local da Emater, cujo pessoal foi muito atencioso. Entretanto, não souberam indicar locais onde pudéssemos encontrar pupunha cultivada ou selvagem. Apenas sugeriram que seguíssemos pela rodovia em direção a Eldorado dos Carajás. A conversa com os técnicos da Emater deixou claro que existe um forte movimento na região, mesmo entre os pequenos agricultores, de praticar a pecuária em detrimento ao cultivo de espécies alimentares.

Ainda pela manhã partimos, em carro, na direção sul de Marabá pela rodovia PA 150. Predomina vegetação tipicamente amazônica, porém foi observado ao longo da rodovia que o desmatamento atingiu proporções nunca observadas por um dos participantes da excursão (Evandro). Nem mesmo as castanheiras, nativas da região, foram deixadas no pasto como manda a legislação. Existe uma forte concentração de terras e por este motivo, nos cerca de 60 km entre Marabá e Eldorado não foi possível visitar sequer o quintal de moradores ou pequenos colonos, que não existem ao longo de todo o trecho. Paramos em uma casa abandonada à margem da estrada onde constatamos o antigo morador cultivava pupunha da raça Pará. Não havia frutos maduros. Em Eldorado do Carajás fizemos uma breve busca pelos quintais das residências em busca de pupunha cultivada e não encontramos. Seguimos então na direção oeste (direção da Amazônia central), pela estrada que vai para Parauapebas. Em Parauapebas tivemos a oportunidade de encontrar pupunha cultivada em um mercado local. Era material sem sementes, provavelmente da raça Pará.

Ao longo da rodovia que vai de Eldorado para Parauapebas foram encontradas duas plantas. Uma foi identificada positivamente como pupunha primitiva (Fig. 4 a-f) (6o5’31”S e 49o43’17”W, 236 m altitude). Ela foi encontrada a cerca de 19 km da cidade de Parauapebas (sentido Eldorado do Carajás), crescendo em uma pastagem, bem ao lado da estrada. Foram

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coletados dois cachos, dos quais foram extraídos os frutos e obtidos dados de peso (80 g/100 sementes) e medidas de diâmetro e comprimento (6,0 mm comprimento x 4,8 mm de largura). A outra planta foi encontrada a cerca de 8 km da cidade de Parauapebas e não apresentava frutos. Não possível dizer se a mesma era cultivada, pois foi encontrada próxima a uma chácara (Fig. 5 a-d). De ambas as plantas foram coletadas folhas jovens para posterior extração de DNA.

b a c

e d f

Figura 4. Pupunha primitiva encontrada a cerca de 25 km de Parauapebas - PA. a (hábito);

b. Detalhe do cacho na planta; c. cacho com frutos maduros; d-e. Imagem ampliada dos frutos; f. Comparação entre o cacho da pupunha selvagem e da cultivada.

De positivo pudemos constatar que a mata original na região pode ser

encontrada na Reserva Florestal do Carajás, com administração conjunta do

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IBAMA e CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), onde o acesso é rigidamente controlado. Esta mata, com milhares de hectares, fica localizada a cerca de 25 km do local onde coletamos a pupunha primitiva. Por isto acreditamos que será possível encontrar grande número de indivíduos da espécie na Reserva do IBAMA/CVRD. À noite retornamos para pernoitar em Marabá.

a b c d

Figura 5. Pupunha cultivada ou selvagem encontrada nas cercanias de Parauapebas – PA. a. Hábito; b. Detalhe da copa; c. Detalhe do tronco; d. Detalhe da bráctea peduncular.

12/04 – Santana do Araguaia. Chegamos nesta cidade pela manhã. Ela está localizada no extremo sul do Pará, a cerca de 300 km da fronteira com o Mato Grosso. A vegetação dominante é um misto de puro cerrado com manchas de floresta amazônica de médio porte. Na parte da tarde alugamos um carro e seguimos pela rodovia PA 150 em direção a Vila Rica por cerca de 20 km. Foi observado desmatamento ao longo de toda a rodovia. Pupunhas cultivadas foram encontradas apenas nos quintais da cidade. Todas aparentavam ser da raça Pará (Fig.6 a-b). Pernoitamos na cidade.

a b

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Figura 6. (a-b) Pupunha da raça Pará cultivada na cidade de Santana do Araguaia.

13/04 – Santana do Araguaia. Pela manhã seguimos pela rodovia PA 150, sentido Redenção por cerca de 50 km. Não foram observadas pupunhas selvagens e cultivadas. De novo foi observado o mesmo padrão de palmeiras, vegetação e posse da terra (grandes fazendas). Retornamos para a cidade na tarde para embarcar no vôo para a cidade de Redenção. 14/04 – Redenção e Conceição do Araguaia. Pela manhã seguimos pela rodovia PA 287 em direção a Conceição do Araguaia, que fica a cerca de 100 km Redenção. A paisagem é um misto de transição Amazônia-Cerrado, com predominância de elementos do Cerrado. Foi interessante observar que a maior parte da vegetação nativa está preservada. Na cidade de Conceição do Araguaia foi possível encontrar vários pés de pupunha cultivada nas residências locais. Embora não apresentassem frutos, pelas informações obtidas junto aos moradores, é possível concluir que são todas da raça Pará (Fig. 7 a-c).

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c b c a

Figura 7. (a-c) Pupunha da raça Pará cultivada na cidade de Conceição do Araguaia – PA..

Pela estrada ainda atravessamos a ponte que cruza o rio Araguaia, no Estado do Tocantins. Nenhuma pupunha foi encontrada crescendo espontaneamente na região. No retorno tivemos a oportunidade de visitar uma grande plantação de côco-da-bahia (Cocos nucifera), cujo proprietário mantinha uma pequena coleção de pupunha sem espinho (Yurimáguas) (Fig 8. a-b) para um provável plantio visando a extração de palmito. O projeto de cultivo de palmito está parado por falta de financiamento. No final da tarde retornamos a Redenção onde pernoitamos. 15/04 – Redenção. Pela manhã seguimos pela rodovia PA 150 em direção a Marabá por cerca de 65 km. Encontramos pupunha cultivada da raça Pará em quintais de residências (Fig 8 a-b). Ao longo da estrada foi observado que a região foi “muito bem” desmatada e, de longe, não era possível observar com clareza os remanescentes de matas. Tudo foi transformado em pastagem.

Na região de Redenção foi observado o maior nível de desmatamento entre todas as localidades visitadas. Existem poucos fragmentos florestais remanescentes, poucas matas de galeria nas regiões onde predominam áreas de cerrados e extensas pastagem para a criação extensiva de gado.

As possibilidades de se encontrar pupunha primitiva nesta região é muito remota, provavelmente em razão da grave destruição das florestas nativas. Um esforço de coleta mais aprofundado poderia eventualmente

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resultar na descoberta de raças primitivas visto que as mesmas foram registradas em São Feliz do Xingu, localizada a cerca de 200 km em direção oeste.

a b c

Figura 8. (a-b) Plantio de pupunha tipo Yurimáguas cultivada próximo a cidade de Redenção – PA.

Retornamos a Redenção no final da tarde, quando embarcamos em um vôo para Belém. 16 e 17/4 – Belém. Tivemos a oportunidade de nos encontrar com o pesquisador da EMBRAPA, João Tomé, quando discutimos possíveis iniciativas de projetos Conjuntos relativos ao cultivo de pupunha. No caso do Pesquisador Evandro Ferreira (Acre), existe interesse em levar material da raça Pará para cultivo na região de Rio Branco - AC.

Figura 9. Pupunha no mercado Ver-o-peso em Belém-PA.

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No domingo pela manhã estivemos no mercado Ver-o-peso para

observar o comércio de frutos de pupunha (Fig. 9). A safra estava começando e o quilo do fruto estava sendo vendido por cerca de R$ 2,00. A maior parte da produção estava vindo das “ilhas”, havendo, contudo, expectativa da entrada da safra que vinha de terra firme, ou das “estradas”, quando, provavelmente o preço iria cair consideravelmente.

Na oportunidade foram adquiridos alguns cachos de frutos selecionados como ideais pelo pesquisador da EMBRAPA (Fig. 10 a-d).

a b

d c

Figura 10. (a-d) Variedade de frutos de pupunha cultivada a venda no Mercado Ver-o-peso, Belém – PA. Observar que este é o padrão de frutos selecionados pela EMBRAPA para ensaios e posterior lançamento de variedades comerciais.

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TOCANTINS E MARANHAO Araguaína, Imperatriz e Açailândia

18/04 – Araguaína-Imperatriz. Chegamos a Araguaína – TO no meio da tarde, alugamos um carro e seguimos pela rodovia BR 010 (Belém – Brasília) em direção a Imperatriz – AM. Ao longo da rodovia observou-se a presença de pupunha cultivada nas casas de moradores de pequenos vilarejos. Todas as que observamos de perto eram da raça Pará. Conversa com uma moradora revelou que o material cultivado veio do Pará, o que nos faz supor que a maioria das pupunhas cultivadas na região provavelmente foram trazidas deste Estado. A vegetação é um misto de cerrado, com alguns elementos de mata amazônica. De uma maneira geral, a destruição da vegetação original não é tão extensa quanto no sul do Pará. Pernoitamos em na cidade de Imperatriz. 19/04 – Imperatriz-Açailândia (MA). Pela manhã visitamos a feira de Imperatriz e verificamos que não existiam frutos à venda. As informações que obtivemos com os feirantes indicam que a pupunha vendida na cidade vem de Belém pela BR 010. Ainda de manhã em direção norte pela BR 010 por cerca de 25 km, quando tomamos uma rodovia estadual em direção à divisa do Pará. Seguimos por cerca de 90 km até o município de São Pedro da Água Branca, que fica localizado a menos de 100 k,m da cidade de Marabá. Este trecho da viagem foi o local onde observamos a maior concentração de Babaçu durante toda a expedição. Retornamos para a BR 010 e seguimos até Açailândia – MA. Em todo o trajeto só encontramos pupunha cultivada na cidade de açailândia (onde foi difícil encontrar açaí cultivado ou nativo). Aparentemente o material era da raça Pará. Entre Açailândia e Imperatriz (cerca de 65 km), o desmatamento é muito extenso, similar ao verificado no sul do Pará.

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CONCLUSÕES 1. A busca pela pupunha primitiva da Chapada dos Guimarães - MT: apesar de termos percorrido mais de 600 km por toda a região não foi possível encontrar qualquer vestígio ou informação confiável que nos levasse a encontrar a Guilielma mattogrossensis de Barbosa Rodrigues. Expedições futuras à região deverão se concentrar em áreas localizadas a oeste da Chapada, depois da UHE do Manso, ao longo do rio Cuiabá, e talvez até a cidade de Nobres. Como sabemos, G. mattogrossensis foi coletada em mata de galeria e descrita sem amostras de flores e frutos. O fato de Barbosa Rodrigues ter, posteriormente, mudado de idéia e considerado sua Guilielma como uma espécie relacionada com Bactris riparia se deu porque os frutos que ele recebeu alguns anos depois, quando já tinha retornado ao Rio de Janeiro, eram semelhantes aos desta última espécie. É importante ressaltar que em toda a área visitada não encontramos vestígios de outros Bactris que lembrassem B. riaparia, cujo endocarpo pode apresentar fibras adnatas similares às encontradas no endocarpo dos frutos da pupunha primitiva (B. dahlgreniana). Outros Bactris encontrados na região foram o B. major, tanto em áreas de pastagens e cerrado como em matas de galeria. Não encontramos B. brongniartii, porém ela foi coletada na chapada por Barbosa Rodrigues. 2. A pupunha primitiva de Alta Floresta - MT e Parauapebas – PA: nas duas localidades onde encontramos a pupunha primitiva se verificou que o tipo de vegetação é predominantemente amazônica. O fato de termos encontrado numerosos indivíduos da espécie, tanto em pastagens como em área de floresta na região de Alta Floresta pode estar ligado ao fato do desmatamento no local não ser tão extenso e “bem feito” como no sul do Pará. Com relação à distribuição geográfica da espécie, podemos agora afirmar que existe uma tendência da mesma ocorrer na “periferia” leste da floresta amazônica, pelo menos até a região de Parauapebas-Marabá. Desta forma, é possível inferir que, com os dados que dispomos, o fator limitador

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para a dispersão da espécie é o cerrado. Assim, o seu limite oeste no Brasil inclui todo o Estado do Acre, adentrando Rondônia até a altura do Município de Ouro Preto do Oeste. Nesta região a distribuição acompanha a floresta amazônica, que sobre na direção norte para o Amazonas e Mato Grosso. 3. A conservação do germoplasma da pupunha primitiva e o desmatamento no arco do fogo: as grandes extensões de áreas “bem” desmatadas no sul do Pará, aliada a uma tendência de intensificação do desmatamento em alta escala no norte de Mato Grosso, representam a maior ameaça à sobrevivência de populações nativas da pupunha primitiva. Embora a mesma tenha capacidade de colonizar pastagens com relativa facilidade, a cultura dos pecuaristas de manter seus pastos sempre “limpos” tem impedido a espécie de se estabelecer fora das áreas de floresta, como verificamos na região de Parauapebas. Um fator de risco que merece ser citado é o fato de que o norte do Mato Grosso irá sofrer um processo de desmatamento ainda mais intenso do que o sul do Pará. Afirmamos isso por que nesta região, a floresta está sendo eliminada para a implantação de campos de soja (no sul do Pará foi o gado), um cultivo que requer terreno livre de obstáculos. 4. A ocorrência da pupunha ao longo da estrada Cuiabá-Santarém e o impacto do futuro asfaltamento: é provável que a pupunha primitiva ocorra ao longo desta estrada, tendo em vista que já foi encontrada no Município de São Felix do Xingu. Com o asfaltamento da estrada teremos mais desmatamento e destruição gradativa do habitat natural da espécie. Uma alternativa para se garantir a preservação do germoplasma da espécie primitiva seria desenvolver um programa de pesquisa mais amplo que incluísse a identificação e a caracterização das populações nativas encontradas ao longo da referida estrada. Após isso seria recomendável a introdução do germoplasma em bancos espalhados pela Amazônia, especialmente aqueles mantidos pelas unidades da Embrapa e do INPA. Este último passo é o grande desafio visto que sendo selvagem, a conservação ex situ do germoplasma da espécie vai ter ser feita em estações experimentais.

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Como convencer produtores a participar da conservação de germoplasma de uma espécie selvagem cujos frutos e palmito não são comerciais? 5. A importância da difusão do cultivo de pupunha domesticada como estratégia para a conservação de populações de pupunhas primitivas: com exceção de Belém, todas as demais localidades visitadas durante a expedição não dispunham de oferta variada de frutos de alta qualidade. Em Marabá (PA), Parauapebas (PA) e Alta Floresta (MT), os frutos no mercado eram do tipo Yurimáguas, o pior do ponto de vista de sabor. A visita ao mercado do Ver-o-peso em Belém mostrou que existem numerosos materiais que poderiam ser introduzidos, sem compromissos comerciais com os potenciais plantadores ao longo da região visitada com apoio de instituições como Emater e CEPLAC. Em uma etapa inicial não vemos a necessidade de introduzir material da raça Pará no Mato Grosso visando unicamente o mercado. O público alvo deveria ser, inicialmente, os habitante das cidades, aquelas pessoas que plantam 1-2 pés nos seus quintais. Isso iria ajudar a difundir o consumo dos frutos e alertar a população da região sobre a importância de se conservar a pupunha primitiva.

Para finalizar, vale comentar que o fato da pupunha ser pouco cultivada no sul do Pará, Norte do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão é mais resultado da falta de acesso a sementes de material de boa qualidade do que propriamente da falta de “cultura cabocla” dos habitantes locais para consumir estes frutos. A ironia é que muitas pessoas possuem pés de acerola em seus quintais, e esta é uma espécie que sequer é nativa do Brasil ou da região. Por que foi tão fácil difundi-la? Porque as suas sementes podem ser obtidas com muita facilidade. Não seria esta a hora de se pensar em facilitar o acesso a sementes de pupunha por toda a região?