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    CONSELHO FEDERAL DE SERVIO SOCIAL

    GT DE EDUCAO

    Subsdios para o Debate sobre Servio Social na Educao

    Elaborado por:

    Edval Bernardino CamposCFESS

    Knia Augusta FigueiredoCFESS

    Maria Elisa dos Santos BragaCFESSMarylucia MesquitaCFESS

    Daniela MollerCRESS 11 Regio/PR

    Janaina Loeffler de AlmeidaCRESS20 Regio/MT

    Jurema Alves PereiraCRESS7 Regio/RJ

    Luciana Lisboa Menezes de MeloCRESS 13 Regio/PB

    Rita de Cssia de Moraes da Silva VieiraCRESS 25 Regio/TO

    Ney Luiz Teixeira de AlmeidaAssessor

    Braslia, junho de 2011

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    SUMRIO

    Apresentao .................................................................................................03

    I - Histrico do debate sobre Servio Social na Educao

    no Conjunto CFESS-CRESS.................................................................05

    II - Apontamentos sobre a poltica de educao no Brasil

    hoje e a insero dos/as assistentes sociais....................................12

    III - Levantamento sobre o trabalho do/a

    assistente social na educao ...........................................................28

    IV - Reflexes para subsidiar o debate da atuao

    do/a assistente social na rea de educao .....................................50

    V - Orientaes e proposta de minuta para a elaborao

    de projetos de Lei que regulamentem a insero dos/as

    assistentes sociais na educao bsica............................................58

    VI - Levantamento bibliogrfico sobre

    Servio Social e Educao..............................................................63

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    Apresentao

    O presente documento tem a finalidade de, a partir do acmulo terico e

    poltico da categoria, construdo em especial nas duas ltimas dcadas, sobre

    a insero do Servio Social na educao, contribuir para o aprofundamento

    da reflexo sobre uma concepo de educao coerente com o projeto tico-

    poltico profissional que, por sua vez, oriente o debate das particularidades do

    trabalho do/a assistente social nesta poltica pblica, assim como as aes

    profissionais, no sentido de fortalecer as lutas sociais em defesa de uma

    educao emancipadora.

    Essa discusso vem se configurando, ao longo da histria de

    constituio da profisso, como demanda constante e crescente aos/s

    profissionais de Servio Social, produzida com significativos e importantes

    avanos, porm permeada ainda por inmeras dificuldades e incertezas,

    sobretudo no que se refere forma de insero profissional na poltica social

    de educao e socializao do debate acumulado entre a categoria.

    Desta forma, o Grupo de Trabalho do Conjunto CFESS-CRESS sobre o

    Servio Social na Educao, vem apresentar este documento a fim de:

    a) mapear as experincias e prticas profissionais existentes e

    promover a reflexo sobre o Servio Social na Educao, visando a possibilitar

    a qualificao da insero profissional nesta poltica;

    b) apresentar produes tericas sobre a poltica social de educao e

    sobre as particularidades da insero do Servio Social nesta poltica, que

    subsidiem a pesquisa e o trabalho profissional na rea: apresentaes de

    trabalho nos ENPESSs, CBASs, publicaes na revista Servio Social e

    Sociedade e outras revistas acadmicas vinculadas ao debate da profisso,

    dissertaes, teses e livros publicados;

    c) apresentar orientao para a proposio de projetos de Lei sobre a

    insero do Servio Social na Educao;

    d) contribuir para a intensificao da luta pela educao como direito

    social e a consolidao do Servio Social nesta poltica pblica, a partir da

    participao em conferncias, conselhos de educao e conselhos da criana

    e do adolescente e articulao com os conselhos profissionais, sindicatos,executivo, legislativo, Ministrio Pblico e outras foras polticas;

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    e) apontar as reflexes tericas e polticas que permearam a

    constituio e histria do Grupo de Trabalho do Conjunto CFESS-CRESS

    sobre o Servio Social na Educao.

    Evidentemente, este documento no inaugura uma discusso sobre o

    assunto. Ao contrrio, parte de um conjunto de reflexes produzidas e

    sistematizadas sobre o Servio Social na Educao. Por este mesmo motivo, o

    documento no tem qualquer pretenso de encerrar o debate, nem de se

    configurar como sntese a ser utilizada como nica e ltima referncia ao

    exerccio profissional ou interveno poltica da categoria, mas de oferecer

    subsdios para o debate, a partir de um aprofundamento terico-metodolgico,

    um compromisso tico-poltico e uma qualificao tcnico-operativa, bem

    como reafirmar a perspectiva dos direitos inerente direo construda pelo

    Servio Social brasileiro.

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    I - Histrico do debate sobre Servio Social na Educao no Conjunto

    CFESS-CRESS

    A presena do/a assistente social na rea da educao remonta

    dcada de 1930, portanto, desde a origem dos processos scio-histricos

    constitutivos da profisso. No entanto, a partir da dcada de 1990, em

    consonncia com o amadurecimento do projeto tico-poltico profissional, que

    se visualiza no Brasil um considervel aumento do Servio Social na rea da

    educao. Uma das referncias desse processo histrico o crescente

    nmero de trabalhos inscritos nos Congressos Brasileiros de Assistentes

    Sociais desde 19951.

    Adensando a discusso nesta rea e a consolidao gradativa destecampo de atuao, podemos verificar que em muitos estados as

    particularidades da interveno do Servio Social na Educao ganharam

    destaque nos espaos de organizao e na agenda de nossa categoria

    profissional, especialmente no Conjunto CFESS-CRESS, dando origem s

    Comisses Temticas de Educao nos CRESS e s discusses, debates e

    proposies nos encontros nacionais da categoria.

    Assim, no 30 Encontro Nacional do Conjunto CFESS-CRESS 2001,pela primeira vez a categoria realizou proposies de mbito nacional. Neste

    mesmo ano, foi constitudo um Grupo de Estudos sobre o Servio Social na

    Educao2pelo CFESS, que construiu uma brochura intitulada Servio Social

    na Educao. O objetivo foi contribuir com o processo de discusso que se

    configurava no cenrio nacional. Neste documento, se problematizou a funo

    social da escola, a educao como um direito social, a contribuio do Servio

    Social para a garantia do direito educao e a escola como instncia deatuao do/a assistente social. Incorporou tambm o parecer jurdico nmero

    23/2000, da Dra. Sylvia Terra, assessora jurdica do Conselho Federal de

    1Cabe destacar que desde o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais de 1995, realizadoem Salvador, se introduziu a modalidade de apresentao de trabalhos a partir de grupostemticos. Nos dois primeiros congressos a produo sobre o Servio Social na educao ficoudiluda entre as sesses temticas existentes. Somente a partir do Congresso realizado no Riode Janeiro, em 2001, passou a existir uma sesso especfica em torno da temtica daeducao, evidenciando o interesse demonstrado pela categoria de que este recorte temticofosse includo no evento.2 Integraram o Grupo de Estudos as Conselheiras do CFESS, gesto 1999/2002, Brasil,mostra a tua cara: Carla Rosane Bressan (coordenao), Liliane Capil Charbel Novais, MariaAugusta da Costa Prola, Marylucia Mesquita, Vernica Pereira Gomes e Zita Alves Vilar.

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    Servio Social (CFESS), sobre a implantao do Servio Social nas escolas de

    ensino fundamental e mdio. Tal parecer aponta, dentre outros aspectos, o

    direito educao, bem como o acesso e permanncia nas escolas. E que a

    insero dos/as assistentes sociais nas escolas pertinente, face s

    atribuies atinentes atividade profissional respectiva, estabelecida nos

    artigos 4 e 5 da Lei nmero 8.662/1993. Tratou-se, tambm, das

    possibilidades legais dos projetos de lei para a implantao do Servio Social

    nas escolas e da discusso sobre a regulamentao da mesma nas instncias

    de poder municipal e estadual.

    No 31 Encontro Nacional CFESS-CRESS, realizado em 2002 em

    Braslia (DF), e no 32 Encontro Nacional CFESS-CRESS de 2003, realizado

    em Salvador (BA), apontou-se para a necessidade do mapeamento das

    discusses sobre a insero do/a assistente social na educao no cenrio

    nacional. Embora estivesse presente nos dois encontros, tal mapeamento no

    pde ser realizado. Outra demanda que surgiu nesses dois encontros e que

    permanece at o presente momento o acompanhamento dos projetos de lei

    e das legislaes j existentes no pas a respeito do Servio Social na

    Educao. Tal demanda tem sido, desde ento, permanentemente trabalhada

    tanto pelos CRESS como pelo CFESS.

    J no 33 e no 34 Encontros Nacionais, de 2004 e 2005

    respectivamente, foi indicada a construo de parmetros nacionais, a partir

    do levantamento das produes j existentes nas diferentes regies. Apontou-

    se, tambm, a necessidade da configurao de uma comisso de trabalho que

    no conseguiu se efetivar. Em 2004, o Conselho Federal de Servio Social

    solicitou ao professor Ney Luiz Teixeira de Almeida a elaborao de um

    parecer sobre os projetos de lei que versavam sobre a insero do/a

    assistente social na rea de educao. Naquela ocasio, foi ento elaborado

    pelo referido professor o documento intitulado Parecer sobre os projetos de

    Lei que dispem sobre a insero do Servio Social na Educao.

    No 35 Encontro Nacional/2006, em Vitria (ES), a proposta aprovada

    foi a de constituio de um Grupo de Trabalho, composto por um

    representante de cada regio (Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte)

    e mais quatro representantes do CFESS. Este Grupo foi constitudo, mas noconseguiu se reunir. Desta forma, a mesma deliberao permaneceu no 36

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    Encontro Nacional/2007. Com a mudana de gesto em todo o Conjunto

    CFESS-CRESS, este Grupo de Trabalho foi constitudo por novos membros3.

    Durante a gesto 2008/2011, o GT Servio Social na Educao

    constituiu-se e se reuniu com regularidade. No perodo de 2008 a 2009,

    sistematizou um quadro nacional referente aos estados e municpios que

    possuem legislao acerca da implementao do Servio Social na Educao,

    bem como dos projetos de Lei que estavam tramitando no mbito dos poderes

    legislativos municipais, estaduais e nacional. Alm disso, tambm solicitou aos

    CRESS que fizessem avaliao de contedo a respeito dos projetos de Lei em

    tramitao e interferissem nas incorrees conceituais, como a identificao do

    Servio Social com a poltica de assistncia social, bem como a necessidade

    da ampliao da concepo de Servio Social Escolar para Servio Social

    na Educao. E fez gesto frente aosProjetos de Lei (PLs) e Propostas de

    Emenda Constituio (PECs)que tramitavam no Congresso Nacional.

    Em 2010, o GT apontou a necessidade de assessoria para aprofundar

    o debate e possibilitar maior efetividade de seu trabalho. Nesse sentido, foi

    indicado pelo GT e aprovado pelo Conselho Pleno do CFESS a assessoria do

    prof. Ney Luiz Teixeira de Almeida. A partir de ento, foi elaborada uma

    metodologia que envolveu as seguintes fases: (a) produo de roteiro para

    levantamento da insero dos/as assistentes sociais na educao no Brasil;

    (b) elaborao de ficha de identificao para mapear em quais modalidades da

    educao o/a assistente social est inserido/a; (c) produo de um roteiro para

    orientar a discusso do Servio Social na Educao nas regies; (d)

    levantamento das produes tericas, entre o perodo de 2000 a 2010, acerca

    da temtica, na Revista Servio Social e Sociedade e nos anais dos CBASs;

    (e) produo do documento Subsdios para o Debate sobre Servio Social na

    Educao, para servir de base e de anlise durante a realizao de debates

    estaduais e municipais em 2011.

    3Passam a compor o GT Servio Social na Educao: Edval Bernardino Campos (CFESS),Knia Augusta Figueiredo (CFESS), Maria Elisa dos Santos Braga (CFESS), MaryluciaMesquita (CFESS), Daniela Moller (CRESS 11 Regio/PR), Janaina Loeffler de Almeida

    (CRESS 20 Regio/MT), Jurema Alves Pereira (CRESS 7 Regio/RJ), Luciana LisboaMenezes de Melo (CRESS 13 Regio/PB) eRita de Cssia de Moraes da Silva Vieira (CRESS25 Regio/TO).

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    Neste processo, o GT tambm construiu uma proposta para 2011, que

    foi aprovada no 39 Encontro Nacional CFESS-CRESS, realizado em

    Florianpolis (SC) em 2010, e que segue abaixo relacionada:

    Dar continuidade ao Grupo de Trabalho do Servio Social na Educao

    com vistas a:

    Provocar a realizao de debates estaduais e municipais at o

    final do segundo semestre de 2011, a partir do documento

    Subsdios para o Debate sobre Servio Social na Educao,

    produzido pelo GT, a ser socializado em dezembro de 2010.

    Acompanhar e monitorar a tramitao dos PLs em nvel federal,

    estadual e municipal e fazer incidncia poltica para aprovao

    de seus contedos.

    Organizar o Seminrio Nacional do Servio Social na Educao

    para o primeiro semestre de 2012, antecedido de seminrios

    regionais.

    Atualizar a bibliografia e pesquisas sobre o tema.

    Incentivar a criao e a continuidade das

    comisses/ncleos/Grupos de Trabalho sobre Servio Social na

    Educao junto aos CRESS, estimulando a sistematizao das

    experincias.

    Publicar o documento final sobre Servio Social na Educao

    at o final do segundo semestre de 2012 aps a realizao do

    Seminrio Nacional de Educao.

    Para efeito de resgate da memria desta trajetria, apresentamos uma

    sntese das deliberaes sobre o Servio Social na Educao aprovadas nos

    Encontros Nacionais anteriores:

    30 Encontro Nacional CFESS-CRESS2001Belo Horizonte (MG)

    Que o CFESS encaminhe um documento sobre o tema, com

    orientaes para subsidiar as aes dos regionais nos estados,

    uma vez que existem demandas dos/as profissionais da rea.

    Convocar os/as assistentes sociais que trabalham na rea daeducao para discutir o tema nos regionais.

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    Registrar e socializar experincias na rea via CFESS.

    31 Encontro Nacional CFESS-CRESS2002Braslia (DF)

    Construir ao nacional sobre o tema Servio Social na

    Educao, com acompanhamento sistemtico pelo CFESS,

    mapeando as discusses, a atuao profissional e

    concretizaes nessa rea, a partir de dados e consideraes

    enviados pelos regionais.

    Utilizar, no mbito dos CRESS, os mecanismos legais para

    cumprir as legislaes aprovadas (leis e decretos) de insero

    da/o assistente social na poltica de educao.

    Intensificar o debate da atuao do Servio Social na Educao.

    32 Encontro Nacional CFESS-CRESS2003Salvador (BA)

    Elaborar um relatrio a ser organizado pelo CFESS, informando

    sobre o andamento da discusso no Legislativo, referente

    insero do/a assistente social na rea da educao e estimular

    essa discusso nos CRESS. Pressionar para a aprovao do

    Projeto de Lei e mapear as experincias e leis existentes no

    Brasil sobre o Servio Social na rea de educao. Participao

    do Conjunto CFESS-CRESS nos conselhos de educao nas

    instncias federal, estadual e municipal.

    33 Encontro Nacional CFESS-CRESS2004Curitiba (PR)

    Acompanhar o processo de normatizao do Servio Social na

    Educao, construindo parmetros nacionais, a partir de

    levantamentos (do que existe) efetuados pelos regionais e

    enviados ao CFESS.

    34 Encontro Nacional CFESS-CRESS2005Manaus (AM)

    Intensificar aes de acompanhamento do processo de

    normatizao do Servio Social na Educao, construindo

    parmetros nacionais a partir de levantamentos (do que existe)

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    efetuados pelas regionais ao CFESS, constituindo uma comisso

    composta por um/a representante de cada regio dos CRESS e

    representantes do CFESS.

    Acompanhar a tramitao e fazer gesto de modificaes ao

    Projeto de Lei n 837/2003, do Deputado Federal Durval Orlato,

    sobre a presena de assistentes sociais e psiclogos/as na

    educao. Articular com os legislativos estaduais, Conselhos

    Regionais e Federal de Psicologia para viabilizar ao conjunta.

    35 Encontro Nacional CFESS-CRESS2006Vitria (ES)

    Constituir um GT no Encontro Nacional CFESS-CRESS 2006,

    composto por um/a representante de cada regio dos CRESS e

    representante do CFESS, num prazo de 30 dias, para cada

    regio encaminhar o nome para o CFESS, para intensificar o

    acompanhamento do processo de normatizao do Servio

    Social na Educao, construindo parmetros nacionais a partir de

    levantamentos (do que existe) enviados pelos regionais ao

    CFESS, bem como fazer gestes na perspectiva de

    arquivamento do PL n 837/2003.

    36 Encontro Nacional CFESS-CRESS2007Natal (RN)

    Efetivar o trabalho do GT do Servio Social na Educao,

    apresentando seus resultados no Encontro CFESS-CRESS

    2008.

    37 Encontro Nacional CFESS-CRESS2008Braslia (DF)

    Efetivar o trabalho do GT do Servio Social na Educao,

    apresentando os resultados finais no Encontro CFESS-CRESS

    de 2009 e considerar as propostas no relatrio parcial.

    38 Encontro Nacional CFESS-CRESS2009Campo Grande (MS)

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    Efetivar o trabalho do GT do Servio Social na Educao,

    apresentando os resultados no Encontro CFESS-CRESS de

    2010.

    Deflagrar e aprofundar o debate sobre a incluso do/a assistente social

    na educao no mbito das regies.

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    II - Apontamentos sobre a poltica de educao no Brasil hoje e

    a insero dos assistentes sociais*

    Ney Lu iz Teixeira de A lmeida**.

    A educao, organizada sob a forma de poltica pblica, se constituiu

    em uma das prticas sociais mais amplamente disseminadas de internalizao

    dos valores hegemnicos na sociedade capitalista. A partir das lutas sociais,

    em especial da classe trabalhadora pelo reconhecimento de seus direitos

    sociais, tornou-se tambm condio importante nos processos de produo de

    uma conscincia prpria, autnoma, por parte desta prpria classe e de suas

    fraes. Um territrio disputado pelas classes sociais fundamentais, cujas lutas

    se expressam em diferentes contornos e processos que a poltica educacional

    assumiu ao longo da histria. Deste modo, compreender a trajetria da poltica

    educacional um esforo que requer mais do que o resgate de uma histria

    marcada por legislaes e mudanas institucionais intestinas, mas de suas

    relaes com a dinmica e as crises da sociedade do capital, a partir de sua

    singular inscrio nos processos de estabelecimento de consensos e de

    reproduo da fora de trabalho na realidade brasileira.

    Inegavelmente, os horizontes postos para a educao brasileira tm

    sido desenhados, em alguma medida, a partir do papel desempenhado pelos

    organismos multilaterais na formulao de diagnsticos da realidade social e

    educacional e das diretrizes para as polticas pblicas dos pases perifricos.

    Muito embora o papel do Banco Mundial, por exemplo, j se desenvolva desde

    os anos 1950, a partir das aes de financiamento ao desenvolvimento de

    projetos de educao no Brasil, sua atuao mais estratgica se afirma nas

    ltimas duas dcadas do sculo passado em funo do avano do iderio

    neoliberal (SOARES,1996).

    *Este texto apresenta uma verso resumida e modificada de parte da tese de doutoramento doautor. Cf. ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira de. Educao e infncia na cidade: dimensesinstituintes da experincia de intersetorialidade em Niteri. Tese de Doutorado apresentada noPrograma de Ps-Graduao em Educao da UFF. Niteri: UFF, 2010. (mimeo).

    **Professor Adjunto da Faculdade de Servio Social da UERJ. Mestre e Doutor em Educaopela UFF.

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    As diretrizes apontadas pelo Banco Mundial condensam um conjunto de

    interesses oriundos de diferentes fraes da burguesia internacional que, sob

    a hegemonia do capital financeiro, atuam na ampliao de seus negcios e

    que, por esta razo, necessitam de aparatos institucionais que situem sob

    novos patamares o papel dos estados nacionais. Concorrem para o novo papel

    assumido pelo Banco a combinao de um conjunto bem amplo de processos

    e necessidades econmicas, cada vez mais globais, dentre as quais

    destacamos: a forte expanso do setor privado de servios, a demanda por

    mo de obra mais qualificada, a consolidao de novos paradigmas de gesto

    da qualidade dos produtos e servios, a flexibilizao das relaes e

    processos de trabalho, uma nova dinmica de (des)territorializao das

    unidades produtivas e a disseminao de uma cultura de valorizao do

    consumo.

    Os diferentes interesses em questo so incorporados nas diretrizes do

    Banco Mundial que apontam para a necessidade de adoo, por parte dos

    pases considerados em desenvolvimento ou perifricos, de medidas que

    visem uma ampla reforma educacional, sustentada em alguns pilares como:

    prioridade para o ensino fundamental; desenvolvimento de processos de

    gesto voltados para a qualidade e a eficincia da educao; conduo de

    reformas dos sistemas educacionais com forte nfase nas dimenses

    financeiras e administrativas; promoo da descentralizao e incentivo

    organizao de instituies escolares autnomas e responsveis por seus

    resultados; convocao de pais e da comunidade para exercerem maior

    responsabilidade sobre os assuntos escolares; incentivos expanso do setor

    privado e dos organismos no-governamentais (ONGs) como co-participantes

    dos processos educativos e das decises que lhes afetam; mobilizao e

    alocao de recursos adicionais para a educao bsica; definio de polticas

    e de prioridades baseadas em anlises econmicas; e, ainda, nfase no

    tratamento da educao numa perspectiva eminentemente setorial (TORRES,

    1996).

    Estas diretrizes, elaboradas para um amplo conjunto de pases, foram

    em grande medida incorporadas no Brasil a partir do governo de Fernando

    Henrique Cardoso e mantidas no governo Lula. Mas a sua adoo acabou porreforar processos de excluso j consolidados em nossa trajetria poltica e

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    educacional, o que revela que o processo de subordinao do pas nova

    ordem internacional, alicerada no plano poltico na expanso neoliberal e no

    plano econmico na flexibilizao dos padres de produo, tem ressonncias

    para alm daquelas que de imediato possam ser projetadas, visto que estamos

    lidando com uma realidade j marcada por profundas desigualdades sociais.

    O processo de mundializao do capital, ao longo dos anos 1990,

    produziu uma agenda ampla a partir das demandas geradas pela nova ordem

    econmica e poltica que foi incorporada pelos organismos multilaterais,

    pautando os debates dos fruns mundiais e regionais promovidos, sobretudo

    pela Organizao das Naes Unidas (ONU). Assim, alm do Banco Mundial

    conforme j destacamos , o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

    e o Banco Internacional para a Reconstruo e o Desenvolvimento (BIRD),

    representando as agncias de financiamento, como tambm os rgos de

    cooperao tcnica como o Programa das Naes Unidas para a Educao,

    Cincia e Cultura (UNESCO), a Organizao para a Cooperao e

    Desenvolvimento Econmico (OCDE), o Fundo das Naes Unidas para a

    Infncia (UNICEF) e o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    (PNUD) influenciaram decisivamente a poltica de educao no Brasil.

    As reivindicaes dos movimentos sociais no campo educacional em

    torno da democratizao do acesso e das condies de garantia da qualidade

    da educao pblica se confrontavam com verses tecnicistas forjadas em

    escala global e sintonizadas ao novo vocabulrio da hegemonia neoliberal. O

    Plano Decenal de Educao para Todos, a Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao (LDB), o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino

    Fundamental e de Valorizao dos Profissionais do Magistrio (FUNDEF) e a

    proposta governamental de Plano Nacional de Educao (PNE) expressam

    uma trajetria de acirradas disputas societrias, mas revelam, tambm,

    legislaes que acabaram sendo elaboradas em consonncia com as diretrizes

    dos organismos multilaterais e com as recomendaes e deliberaes oriundas

    de conferncias promovidas pelos rgos de cooperao tcnica sobre temas

    centrais para a conduo das polticas pblicas. Dentre elas, destacamos: a

    Conferncia Mundial sobre Educao para Todos, tambm conhecida como a

    Conferncia de Jomtien, em funo do local onde foi realizada (Tailndia, em1990); a Cimeira Mundial em Favor da Infncia (Nova York, em 1990); a

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    Conferncia Mundial de Direitos Humanos (Viena, em 1993); a Cimeira Mundial

    sobre Desenvolvimento Social (Copenhague, em 1995); e a Quarta

    Conferncia Mundial sobre a Mulher (Beijing, em 1995).

    Cabe destacar que, de um modo geral, as referidas conferncias

    abordaram questes que j constavam da pauta de mobilizao e luta dos

    movimentos sociais brasileiros e que parte das recomendaes aprovadas

    tambm coincidiu com os seus interesses, alm de representarem passos

    importantes para a construo de um reconhecimento, em escala mundial, dos

    direitos humanos e dos sujeitos sociais envolvidos. No entanto, as contradies

    deste processo so tambm muito flagrantes em razo da capacidade dos

    organismos multilaterais interferirem na produo das agendas governamentais

    e da sociedade civil e fornecerem os subsdios conceituais para a abordagem,

    muitas vezes genrica, dos problemas tratados. Alm de proporem formas de

    enfrentamento aliceradas em uma ao que no cobra a responsabilidade

    pblica do Estado e que apela participao comunitria, empresarial e

    familiar, esvaziou-se o contedo poltico e as condies de participao da

    sociedade civil organizada, conforme reivindicavam os movimentos sociais que

    atuavam no campo educacional.

    Nesse contexto que se deu a formulao o Plano Decenal de

    Educao para Todos (1993-2003) que, segundo Saviani, tinha como propsito

    servir de instrumento que viabilizasse a integrao das trs esferas

    governamentais no enfrentamento dos problemas da educao, contudo

    acabou adquirindo o sentido pragmtico de atender a condies internacionais

    de obteno de financiamento para a educao, em especial aquele de algum

    modo ligado ao Banco Mundial (2008: 183). Tratou-se, portanto, de um

    documento que serviu apenas para reafirmar algumas aes do governo

    federal, sem produzir qualquer outro impacto de maior alcance. Diferentemente

    de planos anteriores esse se voltou exclusivamente para o ensino

    fundamental4, incluindo a educao infantil, especialmente na faixa de 04 a 06

    anos, expressando sua forte inspirao nas deliberaes da Conferncia de

    4 Demerval Saviani destaca na anlise que produziu sobre o Plano que, seguindo asreferncias da Declarao Mundial sobre Educao para Todos, proclamada em maro de1990, em Jomtien, o mesmo se refere educao bsica como expresso equivalente deeducao fundamental (2008).

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    Jomtien (1990) e a preocupao em incorporar as prioridades alinhavadas

    pelos organismos multilaterais para o campo educacional.

    O impacto das diretrizes do Banco Mundial no campo educacional

    brasileiro se tornou bastante visvel a partir da aprovao da nova LDB, em

    1996. Ainda que sua implantao tenha se dado em um cenrio de

    resistncias, tanto no campo poltico como no educacional, e que sua estrutura

    em si no possa ser referida como aquela que determinou as mudanas mais

    significativas que a poltica educacional sofreu, trata-se de um marco que

    baliza o confronto entre projetos educacionais distintos. O prprio processo de

    sua tramitao no Congresso revelou uma conjuntura extremamente

    desfavorvel mobilizao empreendida pelos movimentos sociais e, em

    particular, da comunidade educacional em torno do Frum em Defesa da

    Escola Pblica na LDB, que reunia cerca de 30 entidades de mbito nacional

    (SAVIANI, 1997).

    Embora a LDB aprovada contemplasse algumas inovaes importantes

    e assegurasse certas conquistas no campo educacional5, acabou por favorecer

    a adequao da legislao educacional ao processo de flexibilizao da esfera

    da produo e s novas feies assumidas pelo Estado. A arquitetura da

    poltica educacional posterior aprovao da LDB se estruturou a partir de

    uma srie de legislaes complementares aprovadas, majoritariamente, na

    forma de decretos e portarias. Cabe destacar que a poltica de educao, em

    que pese a particularidade desta rea, no se distanciou do projeto de

    contrarreforma do Estado que se forjava no perodo e que forneceu

    caractersticas bem acentuadas organizao das polticas pblicas.

    Em geral, o PNE reafirmou o que j vinha sendo desenvolvido no mbito

    da poltica educacional no governo de Fernando Henrique Cardoso, perdendo,

    deste modo, a sua funo como instrumento de planejamento no campo

    educacional. O que ficou ainda mais acentuado, em funo do excessivo

    nmero de metas e da ausncia de clareza nas condies de seu alcance.

    Compartilhamos das reflexes produzidas por Demerval Saviani (2008) de que

    a indicao no plano de um grande nmero de metas vinculadas ao governo

    5Referimo-nos aqui, particularmente ao reconhecimento da educao especial e da educao

    infantil como reas da poltica educacional e que trilharam, historicamente, um caminho de lutaque no se esgota no seu reconhecimento legal, mas tem nele uma etapa importante destatrajetria de mobilizao social e educacional.

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    federal refora o papel centralizador assumido por esta instncia

    governamental, previsto para atuar na elaborao de documentos,

    instrumentos de avaliao e na definio de parmetros e condies de

    funcionamento, particularmente no campo da educao bsica, rea cuja

    prerrogativa no pertence ao governo federal, mas esfera municipal.

    A aprovao do FUNDEF, em 1996, atravs da Emenda Constitucional

    n 14 e regulamentado pela Lei n 9.424/1996 e pelo Decreto n 2.264/1997,

    que tambm se deu na esteira das orientaes dos organismos internacionais,

    se constituiu em uma interveno que assegurasse, do ponto de vista da

    adoo de um artifcio contbil na definio das bases de financiamento da

    educao, a prioridade de investimentos no ensino fundamental. Seus

    resultados apontam que, de fato, ocorreu um nivelamento de recursos por

    matrcula dentro de cada estado, um dos objetivos do fundo. Contudo, no

    representou acrscimo de recursos novos na rea de educao, em especial

    no que tange participao do governo federal, que atuou mais incisivamente

    na redistribuio de um conjunto de recursos j existentes (DAVIES, 2008).

    A criao do FUNDEF foi mais um exemplo da prevalncia da

    racionalidade financeira no ordenamento da poltica educacional. No se trata

    de desqualificar a importncia dos recursos financeiros em qualquer setor das

    polticas pblicas, muito menos na rea de educao; contudo, o processo que

    se forjou no perodo e se estendeu pelo governo sucessor, ao no promover

    nenhum acrscimo de recurso novo para rea, alimentou a falsa tese de que

    no faltam recursos na educao e, sim, que se gasta mal. Assim, a eleio

    de prioridade para os investimentos no ensino fundamental, alm de atender s

    orientaes dos organismos internacionais, dada a definio das prerrogativas

    dos entes governamentais em cada nvel e modalidade de ensino definidas na

    Constituio Federal de 1988 e na LDB de 1996, evidencia que a perspectiva

    de descentralizao apontada pelos mesmos organismos tomou uma feio

    particular no Brasil, como demonstra o modelo de planejamento e

    financiamento adotado pelo governo federal. Ainda que tal escolha possa ser,

    em parte, compreendida pela dimenso federativa de nossa repblica, na qual

    cabe, de fato, Unio a responsabilidade de garantir condies de equidade

    no campo das polticas pblicas, o que se desenhou a partir deste formato deatuao na rea de educao revela que esta no foi a principal preocupao

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    do governo federal com a criao do FUNDEF. Observamos que o processo de

    descentralizao que se operou na rea de educao se deu atravs da

    diminuio da participao da Unio no montante de recursos e do aumento da

    participao de estados e municpios, alm de uma municipalizao induzida

    pela combinao entre as responsabilidades constitucionais de cada ente com

    a educao pblica e as novas condies de financiamento do setor.

    As propostas governamentais para o campo educacional no governo

    Lula foram construdas a partir de elementos que advinham da manuteno da

    estrutura neoliberal do Estado e da hegemonia do capital financeiro, assim

    como de uma agenda pactuada entre as foras de composio do governo em

    torno da necessidade de dotar as polticas pblicas de uma dimenso inclusiva

    com algumas caractersticas redistributivistas para o enfrentamento da

    excluso social. O que se expressa na extenso do FUNDEF com a aprovao

    do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de

    Valorizao dos Profissionais da Educao (FUNDEB), na elaborao do Plano

    de Desenvolvimento da Educao (PDE) e, mais recentemente, na deflagrao

    do processo de elaborao do novo Plano Decenal de Educao (PDE 2011-

    2020).

    O lanamento do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) se deu

    em 24 de abril de 2007 sob circunstncias bem particulares. Primeiro porque

    ainda se encontrava em vigncia o Plano Nacional de Educao elaborado

    para o perodo 2001-2010. Em segundo lugar, e talvez seja esta a razo mais

    importante, porque veio no bojo do lanamento do Programa de Acelerao do

    Crescimento (PAC), o que determinou a apresentao por cada ministro das

    aes que se enquadrariam nesse programa (SAVIANI, 2009). O Plano reunia,

    inicialmente, um conjunto de 30 aes, ampliadas para 41 j no incio de 2009.

    As anlises das aes do MEC e as propostas e programas do Plano foram

    reunidas em um livro denominado O Plano de desenvolvimento da educao:

    razes, princpios e programas, lanado em outubro de 2007 na abertura da

    30 Reunio da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em

    Educao (ANPED). A regulamentao das aes previstas no Plano se deu a

    partir de uma sequncia de dispositivos legais: Decreto Lei n 6.094, de 24 de

    abril de 2007, que institui o PDE; a Lei n 11.738, de 16 de julho de 2008, queinstitui o piso salarial do magistrio em todo territrio nacional; Decreto Lei n

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    6.093, de 24 de abril de 2007, que dispe sobre a reorganizao do Programa

    Brasil Alfabetizado; Decreto n 6.095, de 24 de abril de 2007, que estabelece

    diretrizes para a integrao de instituies federais de educao tecnolgica

    para fins de constituio dos Institutos Federais de Educao, Cincia e

    Tecnologia (IFET) no mbito da Rede Federal de Educao Tecnolgica;

    Decreto Lei n 6.096, de 24 de abril de 2007, que institui o Programa de Apoio

    ao Plano de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (REUNI);

    e a Lei n 11.788, de 25 de setembro de 2008, que regulamenta a realizao

    de estgio por parte dos estudantes do ensino superior, da educao

    profissional, do ensino mdio, da educao especial e dos anos finais do

    ensino fundamental, na modalidade profissional da educao de jovens e

    adultos.

    Trata-se de um Plano bastante abrangente e que envolve todos os

    nveis de educao. Dentre as aes diretamente relacionadas educao

    bsica esto: FUNDEB; Plano de Metas do PDE-Ideb; Piso do Magistrio;

    Formao; Transporte Escolar; Luz para Todos; Sade nas Escolas;

    Guia das Tecnologias Educacionais; Educacenso; Mais Educao;

    Coleo Educadores; Incluso Digital; Contedos Educacionais; Livre do

    Analfabetismo; PDE Escola; Proinfncia; Provinha Brasil; Programa

    Dinheiro Direto nas Escolas; Gosto de Ler; Biblioteca na Escola; Brasil

    Alfabetizado; e Literatura para todos, contemplando aes voltadas para a

    educao infantil, o ensino fundamental, o ensino mdio e a educao de

    jovens e adultos. No campo da educao especial as aes dirigidas foram:

    Sala de Recursos Multifuncionais, Olhar Brasil e Programa de

    Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanncia na Escola das

    Pessoas com Deficincia Beneficirias do Benefcio de Prestao Continuada

    da Assistncia Social. Em relao Educao Tecnolgica e Formao

    Profissional as aes previstas foram: Educao Profissional, Novos

    Concursos Pblicos e Cidades-Polo.

    O lanamento do PDE revela a perspectiva de tratar as questes

    referentes educao em uma dimenso, aparentemente, mais integrada, ao

    propor um leque de programas que contemple os diferentes nveis de ensino,

    muito embora sejam flagrantes as diferenas entre eles, como no caso daeducao infantil que s contou com o Proinfncia. Mas mantm e de

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    certo modo at amplia a racionalidade que orienta as aes no campo

    educacional desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, ao

    enfatizar a apresentao de metas numa pedagogia de resultados que

    expressa a expanso da lgica de mercado no mbito das polticas pblicas. A

    questo do financiamento da educao prossegue atrelada engenharia

    contbil, sem tocar em aspectos decisivos como o aumento efetivo dos

    recursos destinados educao, particularmente se considerarmos que o

    Brasil saiu da condio de devedor para credor do Fundo Monetrio

    Internacional (FMI) custa de um supervit primrio que sangrou anualmente

    mais de 4% do oramento e que atualmente so investidos em educao cerca

    de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que nos pases que mais

    investem em educao esse percentual circula na casa dos 8%, sem falarmos

    no exemplo da Coria do Sul, que durante mais de uma dcada investiu 10%

    de seu PIB em educao.

    O marco mais recente da poltica educacional est relacionado ao

    investimento do Governo Federal na elaborao do novo Plano Nacional de

    Educao para o decnio 2011-2020. O Conselho Nacional de Educao

    (CNE) atravs da Portaria n 10, de 06 de agosto de 2009, d publicidade ao

    documento produzido pela Comisso Bicameral visando subsidiar a elaborao

    do Plano. Este documento foi utilizado como referncia para a realizao das

    conferncias municipais e estaduais de educao ao longo do ano de 2009 e

    que deveriam levantar um conjunto de propostas para a elaborao do Plano

    Nacional, como tambm incorporar suas diretrizes ao processo de elaborao

    dos planos municipais e estaduais.

    O documento intitulado Indicaespara subsidiar a construo do Plano

    Nacional de Educao 2011-2020 est estruturado em quatro partes centrais:

    as consideraes iniciais, a educao bsica, a educao superior e as

    consideraes finais, que apresentam um histrico dos planos j elaborados e

    o significado deste instrumento de planejamento, diagnsticos e prioridades

    para a educao bsica e para a educao superior, bem como as

    recomendaes quanto ao processo de construo do prprio Plano.

    Compreendemos que as particularidades da poltica de educao ao

    longo das ltimas duas dcadas se relacionam diretamente como a insero dopas na dinmica de uma sociedade urbana mundializada a partir da adoo

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    dos condicionamentos apontados pelos organismos multilaterais, impondo-lhe

    uma racionalidade que combina um novo formato de financiamento com a

    definio de metas, construo de indicadores quantitativos de avaliao e

    programas com focos bem delimitados em relao aos problemas a serem

    prioritariamente enfrentados. Contudo, este enquadramento no se deu a

    despeito das condies polticas que caracterizam a realidade brasileira, dentre

    as quais ressaltamos o estabelecimento de um relacionamento entre o Estado

    e a sociedade civil que, embora tenha ampliado desde o perodo da ditadura a

    funo educativa do Estado e as experincias de constituio da esfera

    pblica, se deu sob a hegemonia de prticas e concepes privatistas, seja no

    sentido da subordinao das relaes sociais lgica do mercado, seja em

    relao valorizao dos interesses corporativos e o consequente loteamento

    das polticas pblicas pelas instituies filantrpicas, privadas empresariais e

    organizaes no-governamentais que atuam sem nenhum sentido de coisa

    pblica.

    No podemos deixar de destacar que, ao longo desse perodo, ns

    caminhamos para uma espcie de americanizao da vida partidria, visto que

    no perodo o processo de disputa pelo poder ficou polarizado entre o Partido

    Social Democrata Brasileiro (PSDB) e o Partido dos Trabalhadores (PT), cujas

    diferenas programticas se esvaneceram no trato da gesto pblica e na

    organizao do Estado. O que pode ser observado, entre tantos outros

    exemplos, com relao aprovao da Desvinculao de Recursos da Unio

    (DRU), um artifcio que subtraiu 20% do oramento da educao, assim como

    de todas as polticas pblicas, utilizado pelos dois partidos enquanto governo e

    que foi duramente criticado por cada um deles quando se encontrava na

    oposio. A mudana de rumo do PT com a eleio de Lula, em nome de uma

    suposta necessidade de se garantir as condies de governabilidade,

    impactou em diferentes horizontes, mas na educao teve um significado

    particular, dada a trajetria construda pelo partido enquanto um intelectual

    coletivo atuante nos anos 1980 e que contribuiu para a realizao de uma srie

    de experincias pioneiras no campo da administrao pblica local e na

    articulao da educao com este processo, como no caso das Prefeituras de

    So Paulo, Porto Alegre, Campinas e Belo Horizonte, entre outras as maisemblemticas.

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    Outro trao relevante a ser considerado em relao s particularidades

    da poltica educacional diz respeito ao processo de descentralizao. A

    Constituio Federal de 1988 e a LDB de 1996 estabeleceram

    responsabilidades para os diferentes nveis de governo com relao aos gastos

    do setor pblico com a educao e, mesmo diante da tendncia histrica de

    maior responsabilidade das esferas estaduais e, sobretudo municipal, com a

    oferta do ensino fundamental e de sua reafirmao nesses dois dispositivos

    legais, permaneceu inalterado o quadro de dualidade das redes educacionais,

    ou seja, no se determinou a exclusividade no oferecimento dos nveis de

    ensino (ARRETCHE, 2000). A ausncia dessa deciso em termos de

    planejamento se verificou tanto nos planos nacionais de educao quanto nos

    estaduais e municipais. Na verdade, essa questo comea a ser enfrentada

    pela via tortuosa do financiamento atravs da aprovao do FUNDEF e,

    posteriormente, do FUNDEB, determinando uma modalidade de

    descentralizao que se expressa, efetivamente, atravs de uma

    municipalizao induzida do ensino fundamental e da educao bsica.

    Apesar de constar da Constituio de 1988 que os municpios possam

    criar seus sistemas de ensino de forma autnoma em relao educao

    infantil e ao ensino fundamental, dadas as caractersticas histricas de

    organizao de muitos sistemas de educao vinculados ao governo estadual,

    a incapacidade de muitos municpios gerirem com recursos prprios suas redes

    educacionais e de servios sociais e ao insano processo de emancipao que

    se instaurou no pas nas ltimas trs dcadas, muitos municpios brasileiros

    no dispunham de um sistema prprio organizado. Para Donaldo Bello de

    Souza e Lia Faria (2003), a partir da aprovao do FUNDEF se observou uma

    corrida municipalizao, seja em decorrncia do carter contbil imposto pela

    lgica do fundo ou pela presso das secretarias estaduais de educao

    (SEEs) para que os municpios assumissem a responsabilidade pelas sries

    iniciais do ensino fundamental.

    Todavia, no se pode reputar apenas aos novos fundos a

    responsabilidade pelo atrelamento do processo de descentralizao ao de

    municipalizao. Os programas federais financiados pelo FNDE tambm

    adotaram o desenho da descentralizao, ainda que com dinmicas, alcancese limites bem diferenciados, como o Programa Nacional de Transporte do

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    Escolar (PNATE), o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)

    originalmente denominado Programa de Manuteno e Desenvolvimento do

    Ensino Fundamental (PMDE, 1995) , o Programa Nacional de Alimentao

    Escolar (PNAE) e o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD).

    Trata-se, portanto, de um modelo de descentralizao fortemente

    apoiado na questo do financiamento, previsto nas legislaes que orientam a

    poltica educacional, mas que tambm se deu sob a influncia do processo de

    democratizao e de ampliao das formas de participao e de controle

    sociais que a sociedade civil organizada conquistou. Mesmo diante da direo

    dada pela lgica do financiamento, o processo de descentralizao no mbito

    da poltica de educao representa tambm um espao de conquistas, disputas

    e contradies. Uma das principais decorrncias deste processo de

    descentralizao, para alm do emaranhado institucional e poltico que os

    fundos trouxeram para a esfera local, foi a sua valorizao como lcus de

    discusso e debates sobre a questo educacional, posto que a organizao de

    um sistema educacional municipal passou a tratar de questes como as

    normas e os princpios da gesto democrtica, a autonomia pedaggica e

    administrativa, a valorizao dos profissionais da educao, a participao da

    comunidade (pais, lideranas comunitrias e estudantes) nos rgos

    colegiados e nos processos decisrios do sistema escolar (VALLE, 2008).

    O processo de descentralizao foi construdo, assim, pela via dos

    nveis de educao e dos programas educacionais, ambos impulsionados pela

    lgica do financiamento, determinando, consequentemente, a criao dos

    chamados Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS). A partir

    de 2001 a legislao brasileira passou a exigir a criao desses conselhos, o

    que ocorreu em relao aos programas da rea de educao como o PNAE, o

    PNATE e o Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para a Educao de

    Jovens e Adultos (PEJA), sendo que esses dois ltimos foram acumulados

    pelos CACS do FUNDEF e, depois, do FUNDEB. Criou-se, deste modo, uma

    diversidade de conselhos na esfera local sem contar com o prprio Conselho

    Municipal de Educao.

    Os processos de controle social numa perspectiva democrtica so

    ainda muito recentes no Brasil e merecem todo o cuidado no trato daspossveis mudanas institucionais e legais. Nunca demasiado assinalar que

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    a constituio dos CACS, assim como a dos conselhos de polticas pblicas,

    so expresses recentes de um processo de ampliao do espao e da esfera

    pblica, e que a prpria sociedade civil comporta foras sociais muito plurais

    do ponto de vista de seus interesses e matiz poltico. Alm de que, a tradio

    dos conselhos na rea de educao, com exceo dos CACS, remete a um

    perodo anterior ao que deflagrou o perfil de constituio dos conselhos das

    demais polticas pblicas, o que se expressa em muitos casos em uma

    composio dominada pelas representaes governamentais e de instituies

    privadas de ensino e numa dinmica fortemente burocrtica, distante das

    possibilidades de fomentar debates e de se constituir de fato em espao de

    controle social. A descentralizao no campo educacional tende a se

    capilarizar ainda mais se considerarmos os conselhos Escola-Comunidade, os

    conselhos de classe e de srie, os grmios estudantis como espaos que

    podem produzir uma gesto participativa que conhea melhor a prpria

    comunidade escolar, seus saberes e prticas e que juntos podem fazer uma

    etnografia da escola e elaborar um projeto poltico-pedaggico renovados

    (GOHN, 2008:106).

    Considerando os efeitos do processo de descentralizao e suas

    contradies, observamos que as tendncias que se desenham na esfera local

    apontam para direes que no apenas aquelas que saram das agendas dos

    organismos internacionais. H um potencial que pode ser dinamizado ou no

    no mbito local, se os espaos pblicos de controle social se consolidarem e

    conseguirem romper com a fragmentao dos programas, dos nveis de ensino

    e, sobretudo, com a lgica de setorializao das polticas pblicas. A trajetria

    da poltica educacional brasileira nas ltimas dcadas revela, portanto, uma

    dinmica de lutas sociais travadas em diferentes instncias. Pensar a insero

    do assistente social no mbito desta poltica social situa como importante

    desafio a necessidade de compreender a complexidade de suas instituies e

    dos processos polticos que as particularizam.

    O Plano Nacional de Educao (2011-2020), que ainda tramita no

    Congresso Nacional, no aponta uma mudana de rumo das tendncias

    assinaladas. Depreende-se de sua anlise que a organizao de um efetivo

    sistema educacional ainda se encontra distante da formatao progressivadesta poltica em diferentes programas e que a problemtica da

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    universalizao do acesso educao pblica caminha para a bifurcao das

    preocupaes com a incluso educacional integrada ao esforo

    governamental de incluso social e de expanso das unidades educacionais

    que combina a ao estatal com processos diretos e indiretos de privatizao

    da educao.

    Deste modo, pensar a insero dos assistentes sociais na rea de

    educao nos coloca o desafio de compreender e acompanhar terica e

    politicamente como que as requisies postas a este profissional esto

    articuladas s tendncias contraditrias da poltica de educao de ampliao

    das formas de acesso e de permanncia na educao escolarizada diante de

    um cenrio em que a realidade local encontra-se cada vez mais imbricada com

    a dinmica de mundializao do capital. Para tanto, destacamos alguns

    fenmenos importantes que, a partir dessas tendncias, parecem incidir sobre

    as requisies de atuao do assistente social na educao:

    Os discursos e as prticas de valorizao de uma educao

    inclusiva e as consequentes demandas de articulao com as

    instituies e servios assistenciais.

    O processo de descentralizao da educao bsica e a maior

    autonomia da esfera municipal no desenvolvimento de programas

    de ampliao do acesso e garantia de permanncia na educao

    escolarizada.

    A ampliao e a interiorizao da rede de Institutos de Educao

    Profissional, Cincia e Tecnologia e as demandas por programas

    e aes de assistncia estudantil.

    A expanso do setor privado de educao e a demanda por aes

    de assistncia estudantil e de trabalho comunitrio como forma de

    justificar a iseno de impostos.

    A aprovao da Poltica Nacional de Assistncia Estudantil e a

    ampliao das formas de acesso educao superior pblica.

    A afirmao do direito educao de largos contingentes

    populacionais que se encontravam fora da escola e o

    acionamento de diferentes instituies do Poder Judicirio e do

    Executivo para assegurar e acompanhar as condies de acessoa esse direito.

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    26

    A organizao de programas de qualificao e de concluso da

    educao escolarizada de jovens com forte carter

    compensatrio.

    A expanso dual da rede de educao infantil (pblica e

    comunitria) com recursos pblicos e as requisies de

    gerenciamento da desproporcionalidade entre oferta e demanda

    de vagas.

    O aumento das aes e programas sociais dirigidos s famlias e

    das demandas de sua operacionalizao no mbito das

    organizaes no governamentais que atuam no campo

    educacional.

    A disseminao de programas e projetos sociais que articulam

    educao, esporte e cultura como forma de exerccio da

    cidadania e ampliam as aes de cunho educativo em

    articulao como o tempo e espao escolar.

    As condies de ampliao do espao ocupacional dos assistentes

    sociais esto diretamente relacionadas s tendncias contemporneas que

    marcam a relao entre o pblico e o privado na educao, revelando a

    dinmica contraditria deste processo de expanso, assim como das

    possibilidades de alargamento das interfaces desta rea com as demais

    polticas pblicas. Este processo, alm de situar expresses bem concretas em

    termos do reconhecimento e da visibilidade que a profisso passa a ter na rea

    de educao, merece ateno especial por encobrir sob os atrativos consensos

    produzidos em torno da incluso social e da valorizao da educa o e da

    cidadania, as desigualdades sociais que marcam as condies de acesso

    educao no Brasil e que a descaracterizam como uma poltica efetivamente

    pblica.

    Referncias bibliogrficas.

    ARRETCHE, Marta. Estado federativo e polticas sociais: determinantes da

    descentralizao.Rio de Janeiro: Revan; So Paulo: FAPESP, 2000.

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    27

    DAVIES, Nicolas. FUNDEB: a redeno da educao bsica? Campinas:

    Autores Associados, 2008. (Coleo Polmicas de Nosso Tempo).

    GOHN, Maria da Glria. Conselhos municipais de acompanhamento e controle

    social em educao: participao, cidadania e descentralizao. In:

    SOUZA, Donaldo Bello de (org). Conselhos municipais e controle social:

    descentralizao, participao e cidadania.So Paulo: Xam, 2008. p.97-

    113.

    SAVIANI, Demerval. A nova lei da educao. LDB, trajetria, limites e

    perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 1997. (Coleo

    Educao Contempornea).

    _________________. Da nova LDB ao FUNDEB: por uma outra poltica

    educacional. 2. Ed. rev. e ampl. So Paulo: Cortez, 2008. (Coleo

    educao contempornea).

    _________________. PDEPlano de Desenvolvimento da Educao. Anlise

    crtica da poltica do MEC.Campinas: Autores Associados, 2009. (Coleo

    Polmicas de Nosso Tempo, 99).

    SOARES, Maria Clara Couto. Banco Mundial: polticas e reformas. In: DE

    TOMMASI, Lvia; WARDE, Mirian Jorge e HADAD, Srgio (orgs). O Banco

    Mundial e as polticas educacionais. So Paulo: Cortez: PUC-SP, 1996. p.

    15-40.

    SOUZA, Donaldo Bello de e FARIA, Lia C. M. de. O processo de constru o

    da Educao Municipal ps-LDB 9.394/96: polticas de financiamento e

    gesto. In: SOUZA, Donaldo Bello de e FARIA, Lia C. M. de (orgs).

    Desafios da Educao Municipal.Rio de Janeiro: DP&A, 2003. P. 45-84.

    TORRES, Rosa Maria. Melhorar a qualidade da educao bsica? As

    estratgias do Banco Mundial. In: DE TOMMASI, Lvia; WARDE, Mirian

    Jorge e HADAD, Srgio (orgs). O Banco Mundial e as polticas

    educacionais. So Paulo: Cortez: PUC-SP, 1996. p. 125-193.

    VALLE, Bertha de Borja Reis do. Controle social da educao: aspectos

    histricos e legais. In: SOUZA, Donaldo Bello de (org). Conselhos

    municipais e controle social: descentralizao, participao e cidadania.

    So Paulo: Xam, 2008. p.53-74.

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    28

    III - Levantamento sobre o trabalho do/a assistente social na educao

    A realizao de um levantamento sobre o trabalho do/a assistente social

    na educao constava como uma das principais atividades a serem

    desenvolvidas pelo GT de Educao no ano de 2010. As discusses voltadas

    para a conduo deste processo e de elaborao do instrumental de coleta de

    informaes sobre a insero dos/as assistentes sociais na rea de educao

    teve incio ainda no final de 2009, sendo o levantamento realizado no primeiro

    semestre de 2010 e a anlise e sistematizao dos dados no segundo

    semestre do mesmo ano. Deste modo, por meio de um ofcio, foi enviado aos

    conselhos regionais uma Ficha de Identificao das instituies e equipee

    um Questionrio com roteiro, que deveriam ser distribudos aos/s

    assistentes sociais envolvidos/as diretamente com a rea da educao, a partir

    de diferentes estratgias: encontros, malas diretas, comisses e grupos de

    trabalhos organizados em cada regio. As fichas e questionrios deveriam ser

    remetidos novamente aos Conselhos Regionais pelos/as assistentes sociais e

    posteriormente encaminhados para o CFESS aos cuidados do GT. Foram

    devolvidas ao GT 116 Fichas de identificao das instituies e da equipe ,

    distribudas da seguinte forma por estado/regio:

    Quadro 1

    Distribuio das fichas de identificao por regio e estado.

    Regio Estados

    Norte Acreno enviou

    Amapno enviou

    Amazonas enviou aps reunio do

    GT e no pde ser contabilizado

    Par no enviou

    Rondniano enviou

    Roraimano enviou

    Tocantins02

    Nordeste Alagoas02

    Bahia02

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    Cear22

    Maranhono enviou

    Parabano enviou

    Piau02Pernambucono enviou

    Rio Grande do Norteno enviou

    Sergipeno enviou

    Centro-Oeste Distrito Federal03

    Gois07

    Mato Grosso02

    Mato Grosso do Sulno enviouSudeste Esprito Santo03

    Minas Gerais02

    Rio de Janeiro 45

    So Paulo13

    Sul Paran07

    Rio Grande do Sulno enviou

    Santa Catarina04

    Fonte: fichas enviadas pelos/as assistentes sociais

    Deste modo, constavam do instrumental de coleta de dados duas partes.

    A primeira era uma Ficha de identificao das instituies e da equipe,

    contendo informaes bsicas que permitissem a identificao: do estado de

    origem e da respectiva regio do CRESS, da instituio e de sua localizao,

    da natureza jurdica da mesma (pblica federal; pblica estadual; pblica

    municipal; filantrpica; privada ou ONG), da poltica social qual se vincula

    diretamente (educao; assistncia social; criana e adolescente; cultura;

    esporte e lazer ou outra), do setor ao qual a instituio se vincula (secretaria,

    rgo, setor ou diviso), do nvel ou modalidade da poltica educacional ao qual

    6Cabe destacar que no caso do Rio de Janeiro o levantamento foi realizado tambm a partir dedistribuio de uma ficha similar que foi enviada pelos conselhos regionais, mas sem a parte

    referente ao questionrio, durante a realizao do I Encontro Regional de Servio Social eEducao, em junho de 2010, no Rio de Janeiro.

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    se vincula (educao infantil; ensino fundamental; educao especial;

    educao de jovens e adultos; educao profissional e tecnolgica; educao

    superior e educao indgena), do nmero de assistentes sociais que

    compem a equipe, da oferta de estgio supervisionado ou no, do informante

    e do tempo de atuao do mesmo na educao.

    A segunda parte do instrumental era constituda de um questionrio

    que privilegiava informaes de contedo, que deveriam ser produzidas

    pelos/pelas informantes sobre o prprio trabalho ou da equipe de Servio

    Social qual pertenciam. Nesta direo, foi elaborado um roteiro com

    perguntas que possibilitassem a apreenso: das concepes de profisso e de

    educao que orientam o trabalho do/a assistente social; das formas de

    insero deste trabalho nas instituies; das condies de consolidao do

    projeto tico-poltico; das particularidades das aes desenvolvidas; das

    articulaes interinstitucionais e com o sistema de garantia de direitos e da

    relao com os/as demais profissionais. Para tanto, foram elaboradas 9

    questes, acompanhadas de breves indicaes de que as respostas pudessem

    ser acompanhadas de algumas ilustraes. As perguntas que compuseram

    este roteiro foram assim apresentadas:

    Roteiro

    1) Qual a c on cepo d e educao q ue or ien ta as exp erinc ias d e tr abalh o d o/a

    assistente social?

    2) Qu al a c oncepo de Servio Soc ial na Educao que o rient a as exp erinc ias

    de trabalho do/a assistente soc ial?

    3) Quais as c on dies (possib ilid ades e entr aves ) para a material izao do

    pro jeto tic o poltic o p ro fis si on al nas exp erinc ias de Serv io Social naEducao?

    4) Caracteri ze a insero do Serv io Social no mb ito ed uc acio nal, cons iderand o

    as partic ularidades do trabalh o do/a assistente soc ial e tendo c omo refernc ia

    os seguintes focos:

    a) garantia de acesso da popul ao educ ao fo rm al e no fo rm al;

    b) garan tia da p ermannc ia da pop ulao n as instit uies educac ionais e

    naque las v incu lad as Educ ao no f orm al ;

    c) garantia da qual idade do s servios prestados n o s istema educ acional;

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    d) g arant ia da ges to democ rtica e partic ipat iva da popu lao no campo

    educacional.

    Obs.: c aso as exp erinc ias pro fissio nais no estejam contempladas nos itens

    destac ados , descrev a a partir d a sua realidade.

    5) O Servio Soc ial no c ampo educacional integra equipes mult idiscip l inares

    e/ou interd iscip linares? De que forma e em quais c ondies (pos sibil idades e

    en tra ves ) acont ece es sa relao?

    Obs.: c aso as experinc ias pro fissio nais no estejam co ntemp ladas no s iten s

    destac ados desc reva a partir da sua realidade.

    6) Qual a leitu ra qu e os/as demai s pr ofi ssi onais de educao tm do Serv io

    Social nest a rea?

    7) Identi f ique as p rinc ipais exp resses da qu esto so cial pres entes no camp o

    educacional.

    8) Exi stem aes in teri ns tit uci onais e de arti cu lao das poltic as pb licas de

    educao com out ras p oltic as, como sade , assi stnc ia so ci al, cu ltu ra,

    hab itao, ju stia, espo rte e lazer, tr abalh o e rend a, meio amb ien te? De q ue

    forma acontece?

    Obs.: c aso as experinc ias pro fissio nais no estejam co ntemp ladas no s iten s

    destac ados desc reva a partir da sua realidade.

    9) Qua is as es tr atgias do Serv io Soc ia l par a art ic u lao e mobil izao dosis tema de garant ia de dir eito s e pro teo so cial?

    A anlise do material enviado pelos/as assistentes sociais que atuam na

    educao para os conselhos regionais de Servio Social exigiu, primeiramente,

    uma apreciao por parte dos membros do GT de Educao com relao s

    diferentes formas de apresentao das informaes solicitadas. Neste sentido,

    o grupo empreendeu um grande esforo de organizao do corpus do

    levantamento e de leitura do mesmo, estabelecendo procedimentos de

    identificao, tabulao, classificao, categorizao, anlise preliminar e

    forma de apresentao da anlise.

    O primeiro momento do trabalho envolveu a identificao do material

    enviado por meio do relato de cada membro do GT sobre como se deu o

    processo de divulgao do instrumental de coleta de dados nas regies, assim

    como do acompanhamento realizado junto aos conselhos regionais e do

    processo de remessa para o Conselho Federal e para o prprio GT. Esta

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    primeira aproximao possibilitou ao grupo identificar as dificuldades

    enfrentadas em cada regio, tanto em relao ao processo de distribuio

    quanto de devoluo das fichas e dos questionrios, assim como a reflexo

    sobre o grau de adeso ao levantamento7. A partir do conhecimento que os

    membros dos GTs dispem sobre a dinmica das comisses ou grupos de

    educao que funcionam em alguns dos conselhos regionais e dos

    profissionais que esto inseridos na poltica de educao, ressaltamos duas

    observaes importantes: 1) comparativamente ao total de assistentes sociais

    que sabidamente atuam com a poltica educacional em vrias regies, o

    resultado do levantamento indica uma cobertura relativamente baixa; 2)

    tomando como referncia as dificuldades encontradas na conduo deste

    levantamento, h que se destacar o interesse de muitas/os assistentes sociais

    em contribuir com o esforo produzido coletivamente no mbito das entidades

    da categoria em relao ao processo de conhecimento, sistematizao e

    articulao das experincias nesta rea de atuao, sobretudo diante da

    possibilidade de superao do isolamento em que muitas/os profissionais se

    encontram.

    O momento de tabulaogerou a produo de um quadro sntese das

    informaes contidas na ficha de identificao, possibilitando uma visualizao

    geral do levantamento. A etapa posterior ao processo de identificao se deu a

    partir da verificao da diferena entre o total de fichas enviadas e de

    questionrios preenchidos, ou seja, com a parte mais qualitativa devidamente

    respondida8.

    Ainda nesta etapa do trabalho, as fichas de identificao e os

    respectivos questionrios foram separados por nvel ou modalidade da poltica

    de educao para a realizao do processo de anlise das respostas. Duas

    ordens de questes foram consideradas para que a anlise fosse conduzida

    sem deixar de reconhecer a complexidade do trabalho e a forma de

    apresentao das informaes: a primeira, referente particularidade de

    7 A deciso do GT foi estabelecer como amostra a totalidade do nmero deroteiros/questionrios enviados pelos CRESS que chegassem at a primeira reunio, datadade 27 agosto de 2010, de anlise do material.8 Esta diferena se justifica em funo de que alguns assistentes sociais s preencheram e

    enviaram a ficha e no o questionrio, ou em decorrncia de que um nico questionrio foipreenchido por uma equipe, embora mais de um dos assistentes sociais integrantes destamesma equipe tenham enviado suas fichas de identificao.

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    determinadas instituies nas quais as formas de insero profissional

    envolvem mais de um nvel ou modalidade de educao; neste caso, o grupo

    optou por escolher um nvel principal e sinalizar a existncia dos demais para

    que as informaes pudessem ser consideradas em um momento de anlise

    posterior; a segunda, quanto aos questionrios que foram apresentados,

    agrupando todas as respostas em um s questionrio, sem a identificao em

    separado de cada instituio.

    Cabe destacar que vrias instituies atuam em mais de um nvel ou

    modalidade da poltica de educao, em funo das caractersticas peculiares

    s suas unidades educacionais. Deste modo, o mapeamento produzido pelo

    GT apontou para a seguinte distribuio das fichas de identificao,

    considerando-se, para efeito de anlise, apenas um nvel ou modalidade

    tomada como prioritria na caracterizao das atividades desenvolvidas9.

    Quadro 2

    Distribuio das fichas de identificao por nvel ou modalidade da

    poltica de educao

    Nvel ou modalidade da poltica de educao Quantitativo de fichas

    de identificao

    Educao infantil 17

    Ensino fundamental 45

    Educao especial 06

    Ensino mdio 04

    Educao de jovens e adultos 06

    Educao profissional e tecnolgica 26

    Educao superior 11

    Educao indgena 01

    Fonte: fichas de identificao enviadas pelos assistentes sociais

    9Para tanto, o GT optou por distribuir os questionrios observando: o nvel ou modalidade quemais identificava a instituio frente ao perfil das atividades realizadas e o pblicomajoritariamente atendido.

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    O momento de classificao se apoiou neste trabalho de

    reconhecimento das caractersticas do corpus, gerando uma codificao para

    cada questionrio, que favorecesse diferentes formas de manuseio de acordo

    com as necessidades de leitura e de novos tipos de agrupamentos, sem que

    isso representasse qualquer risco ao processo de identificao e posterior

    arquivamento e consulta. A classificao se deu, considerando o registro em

    cada questionrio da regio, estado, nvel ou modalidade de educao principal

    e a vinculao ou no a outros nveis e modalidades.

    O processo de categorizaodo corpus foi conduzido a partir de uma

    orientao comum construda pelo GT, considerando-se a particularidade do

    contedo a ser abordado em cada quesito do questionrio enviado. Este

    processo foi desenvolvido da seguinte forma:

    1- leitura de questionrio por questionrio, por nvel ou modalidade da

    poltica de educao para identificar se as respostas apresentadas

    expressavam contedos pertinentes ao que foi solicitado;

    2- marcao, nos questionrios, quesito por quesito, das principais

    categorias contidas nas respostas, considerando como unidade de

    anlise expresses, trechos do texto e palavras;

    3- anotao, quesito por quesito, das observaes, contradies,

    vinculaes ou no ao campo educacional, destaques para a construo

    da anlise e referncias bibliogrficas, como sistematizao inicial

    necessria ao processo de anlise.

    Quadro 3

    Orientaes para o processo de anlise e categorizao dos

    questionrios por pergunta do roteiro

    Pergunta do roteiro Orientaes para a categorizao

    1) Qual a concepo de educao

    que orienta as experincias de trabalho

    do/a assistente social?

    Identificao das relaes entre as

    concepes de educao e a dinmica do

    mundo do trabalho e da cultura. As

    diferentes concepes de educao e

    suas relaes com as disputas em torno

    dos projetos societrios. As concepesde educao vinculadas ao pensamento

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    liberal e teoria do capital humanos e aos

    paradigmas da empregabilidade e do

    empreendedorismo. Identificao da

    perspectiva de totalidade na apreenso da

    relao entre trabalho e educao.2) Qual a concepo de Servio

    Social que orienta seu trabalho na poltica

    de educao?

    Identificao dos fundamentos scio-

    histricos que particularizam o Servio

    Social como profisso inscrita na diviso

    social e tcnica do trabalho e sua insero

    no trabalho coletivo prprio poltica de

    educao. Identificao de outras

    concepes que se distanciam da

    compreenso do sentido histrico da

    profisso construdo ao longo das ltimas

    dcadas.

    3) Quais as condies

    (possibilidades e entraves) para a

    materializao do projeto tico poltico

    profissional nas experincias de Servio

    Social na poltica de educao?

    Identificao dos elementos que

    sustentam o projeto tico-poltico da

    profisso e da pertinncia das questes

    apresentadas s condies institucionais

    e polticas do terreno da ao profissional.

    Identificao das dificuldades que

    particularizam a ao profissional, dadasua dimenso contraditria na dinmica

    das classes sociais. Identificao de

    obstculos que apenas traduzem as

    dificuldades inerentes aos processos de

    trabalhos institucionais.

    4) Caracterize a insero do Servio

    Social no mbito da poltica de educao,

    considerando as particularidades do

    trabalho do/a assistente social e tendo

    como referncia os seguintes focos:

    a) garantia do acesso da populao

    educao formal;

    b) garantia da permanncia da

    populao nas instituies de educao

    formal;

    c) garantia da qualidade dos

    servios prestados no sistema

    educacional;

    Identificao das diferentes atividades

    apontadas e de sua vinculao aos

    programas em curso na poltica de

    educao. Identificao de como se

    estabelece a relao das aes elencadas

    com a natureza poltica e pedaggica da

    ao profissional.

    Identificao das relaes existentes entre

    as aes apontadas e a dinmica

    particular das instncias de controle social

    e gesto democrtica na educao.

    Identificao da relao das estratgias

    profissionais com os processos sociais de

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    d) garantia da gesto democrtica e

    participativa da populao na poltica de

    educao.

    reconhecimento e mobilizao dos

    sujeitos coletivos.

    5) O Servio Social na poltica de

    educao integra equipesmultidisciplinares e/ou interdisciplinares?

    De que forma e em quais condies

    (possibilidades e entraves) acontece essa

    relao?

    Identificao das formas de organizao

    do trabalho coletivo no mbito dasinstituies e das lgicas que sustentam o

    trabalho dos/as diferentes profissionais.

    Identificao das imprecises que cercam

    as noes de interdisciplinaridade e da

    suposta condio de alternativa frente

    resoluo de problemas relativos

    dinmica institucional.

    6) Qual a leitura que os/as demais

    profissionais de educao tm do Servio

    Social nesta rea?

    Identificao dos elementos levantados

    frente s particularidades do trabalho do/a

    assistente social no campo das polticas

    sociais e no enfrentamento da questo

    social. Identificao das associaes mais

    usuais com as prticas assistenciais e

    com o enfrentamento da pobreza.

    7) Identifique as principais

    expresses da questo social presentes

    na poltica de educao.

    Identificao das formas de apreenso da

    questo social e de suas diferentes

    manifestaes no cotidiano educacional.8) Existem aes interinstitucionais e

    de articulao das polticas pblicas de

    educao com outras polticas, como

    sade, assistncia social, cultura,

    habitao, justia, esporte e lazer,

    trabalho e renda, meio ambiente? De que

    forma acontece?

    Identificao das referncias

    apresentadas s atribuies e

    competncias profissionais dos/as

    assistentes sociais no que se refere s

    polticas sociais e s articulaes entre

    elas.

    9) Quais as estratgias do Servio

    Social para articulao e mobilizao do

    sistema de garantia de direitos e proteo

    social?

    Identificao das mediaes necessrias

    ao reconhecimento do sistema de garantia

    de direitos a partir da insero profissional

    na educao.

    Fonte: Roteiro de categorizao elaborado pelo GT de Educao.

    A anlise preliminarfoi iniciada tomando por base todo o processo de

    categorizao. Neste momento, os questionrios foram analisados em seu

    conjunto, visando produo de um texto preliminar contendo uma abordagem

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    dos contedos abordados pelos informantes, considerando-se, quesito por

    quesito, as principais categorias e os significados que informam acerca do

    trabalho dos/as assistentes sociais. Para cada nvel ou modalidade, foi

    produzido um texto, privilegiando a anlise qualitativa, ainda que neles possam

    ser referidos alguns dados quantitativos sobre o levantamento realizado.

    A partir desta primeira etapa de produo da anlise, os textos foram

    ampliados a partir da articulao e cruzamento das informaes contidas nos

    questionrios que informam mais de um nvel ou modalidade de educao,

    para, em seguida, se produzir um texto articulador de todas as anlises

    produzidas, considerando-se, ento, no apenas os contedos e reflexes por

    nvel ou modalidade de educao, e sim uma abordagem mais geral sobre a

    prpria insero profissional na poltica de educao em geral.

    O momento final deste processo de anlise consistiu na produo do

    texto de apresentao da anlise, realizada entre setembro de 2010 e maro

    de 2011, visando a subsidiar a construo do item, constante deste documento,

    relativo s referncias e reflexes sobre o trabalho do /a assistente social na

    poltica de educao. Tanto a produo dos textos da anlise preliminar

    quanto de apresentao da anlise trataram os contedos presentes nos

    questionrios a partir da produo terica sobre o trabalho do/a assistente

    social na rea de educao, da produo terica da rea de educao sobre a

    poltica educacional no Brasil em seus diferentes nveis e modalidades e os

    projetos educacionais em disputa, assim como a partir das atribuies e

    competncias dos/as assistentes sociais previstas na Lei de Regulamentao

    da Profisso (Lei 8.662/1993) e dos debates e seminrios realizados nos

    estados e regies.

    1- Sobre a concepo de educao que orienta as experincias de

    trabalho do/a assistente social

    As respostas apresentadas no levantamento indicam,

    independentemente da rea de atuao, trs formas predominantes de

    compreenso sobre a concepo de educao que orienta as aes

    profissionais. Em uma primeira direo, as legislaes sociais, particularmenteas que regulam o campo educacional, como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB),

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    mas tambm o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), aparecem como

    aportes para a concepo de educao. Em outra direo , so apontados

    autores que servem de referncia para a formulao de uma concepo de

    educao norteadora do trabalho profissional. Neste caso, a indicao dos/as

    autores/as quase sempre revela ou o acmulo existente no debate sobre o

    Servio Social na educao ou a sua contribuio especfica nas reas de

    insero profissional dos/as assistentes sociais: educao infantil, ensino

    mdio, educao profissional e tecnolgica e assim por diante. O terceiro grupo

    indica, de forma mais precisa, embora no homognea, algumas reflexes em

    torno da educao como dimenso da vida social e relacionada aos processos

    sociais. Neste caso, a educao referenciada como um direito social a ser

    alcanado a partir das lutas sociais, da ao dos movimentos sociais, em sua

    perspectiva plural e na sua interface com outras polticas pblicas.

    H que se destacar que, por razes diversas, no se expressa na rea

    da educao um consenso em torno da concepo de educao que orienta o

    trabalho do/a assistente social, como se pode identificar em outras reas de

    atuao profissional. A prpria produo terica referida pelos/as assistentes

    sociais que responderam aos questionrios j reveladora de uma pluralidade

    peculiar ao campo educacional. Por outro lado, possvel observarmos que a

    tradio terica, poltica e profissional no mbito das polticas sociais contribui

    para um olhar particular no exame da educao e de seu entrelaamento com

    as demais polticas pblicas e com os direitos sociais e humanos. Ainda que

    este fato no chegue a configurar uma novidade na rea de educao, com

    certeza ajuda a estabelecer aproximaes importantes para a construo de

    espaos ocupacionais nos quais as aspiraes de nossa categoria profissional

    encontram possibilidades de articulao com as lutas travadas pelos diferentes

    sujeitos coletivos que atuam na poltica educacional.

    Adquirem uma feio mais preocupante as respostas que confundem

    referncias legais com aportes tericos e aquelas que no sinalizam de forma

    objetiva nenhum referencial terico a orientar o trabalho do/a assistente social.

    Sem que este fato possa ser tomado, para alm dos limites e particularidades

    do levantamento realizado, em propores que no correspondam realidade,

    cabe nos ocuparmos dos diferentes rebatimentos que podem ter na construode uma atuao profissional que busca alicerar-se sempre a partir de

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    parmetros tericos que no se encontram dissociados das dimenses ticas e

    polticas que devem pautar o exerccio profissional do/a assistente social.

    2- A concepo de Servio Social que orienta o trabalho do/a assistente

    social na poltica de educao

    A maior parte das respostas neste item aponta para a afirmao de uma

    concepo de profisso sintonizada s lutas sociais por uma nova ordem

    societria e que se traduz em aes que valorizam uma educao

    emancipadora. Para alm desta compreenso, so destacadas formas de

    conceber a atuao do Servio Social na rea de educao em articulao com

    os processos de controle social e luta pelos direitos sociais, assim como

    indicaes de ordem metodolgica. H de se observar a referncia insero

    do Servio Social na diviso social e tcnica do trabalho, a necessidade de

    aes investigativas e de desvelamento das mltiplas determinaes da

    realidade.

    Um conjunto bastante significativo de respostas, na medida em que no

    se contrapem ao teor acima descrito, aparece como texto complementar s

    consideraes mais gerais sobre a concepo de profisso, adentra a

    indicao de instrumentais de trabalho, programas sociais, projetos realizados,

    frentes de atuao, sumariando um diversificado leque de aes profissionais

    desenvolvidas pelos/as assistentes sociais. Atividades como: trabalho

    preventivo, por meio de encontros sobre o fortalecimento da relao escola-

    famlia encontros temticos; realizao de encaminhamentos institucionais

    com o intuito de enfrentar as situaes de risco e vulnerabilidade social;

    acompanhamento das condicionalidades dos programas sociais como a

    frequncia escolar (Programa Bolsa Famlia); promover articulao entre as

    polticas sociais, com vistas a desenvolver aes institucionais que colaborem

    para a incluso social; abrir canais de comunicao com os rgos de garantia

    de direitos, tais como conselhos de direitos, conselhos tutelares e Ministrio

    Pblico e realizar um trabalho com os/as professores/as, a fim de discutir sobre

    a educao na contemporaneidade; tambm aparecem com maior ou menor

    nfase nos diferentes campos de insero na rea de educao.

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    Ainda neste quesito, destacado o elenco de profissionais com os/as

    quais os/as assistentes sociais atuam na rea de educao e, particularmente,

    as dificuldades de relacionamento que marcam o trabalho em equipe.

    No obstante as particularidades que podem incidir e de fato incidem

    sobre o campo educacional, parece-nos bastante forte a marca que atravessa

    a profisso no tocante nfase na dimenso operativa do trabalho profissional,

    a ponto de que, em boa parte das respostas, a ideia de abordar a concepo

    de profisso tenha oscilado entre os discursos mais genricos sobre a

    dimenso poltica da profisso na diviso social e tcnica do trabalho na

    sociedade capitalista e a descrio das atividades realizadas e, sobretudo, dos

    recursos instrumentais mobilizados.

    Observamos que, dada esta autonomia que adquire a questo tcnico-

    instrumental nos processos de identificao do fazer profissional10, as

    referncias s concepes de profisso nem sempre apontam mediaes que

    permitam compreender quais particularidades podem ser destacadas em

    relao a este campo de poltica pblica.

    3 - As condies (possibilidades e entraves) para a materializao do

    projeto tico-poltico profissional nas experincias do Servio Social na

    poltica de educao

    As possibilidades apontadas nas respostas se situam no campo do

    reconhecimento da educao como um direito social e na articulao da ao

    profissional aos processos sociais de luta e valorizao da educao. Elas so

    expressas: pelos princpios do Cdigo de tica; pelo contato direto com a

    populao atendida, suas famlias, com a comunidade e com os/as

    profissionais da educao; pela autonomia que o/a assistente social tem com

    relao ao seu exerccio profissional; pelos processos de fortalecimento da

    participao da populao atendida na vida escolar; pela concepo de

    educao que defende a formao integral dos/as educandos/as; pelas

    polticas e aes de assistncia estudantil, como forma de viabilizar o acesso e

    10 Uma marca ainda bastante acentuada nos discursos que tomam a atividade profissionalcomo uma prtica e no inscrita em um processo de trabalho coletivo no mbito de umapoltica social particular, a de educao.

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    permanncia dos/as educandos/as; e pelo arcabouo legal que assegura os

    direitos sociais.

    J com relao aos entraves,quase metade das respostas aponta para

    elementos da prpria dinmica da poltica educacional, destacando-se as

    instncias de gesto da mesma. A poltica social, neste caso, no

    compreendida em sua dimenso contraditria, visto que tomada apenas

    como um impedimento conduo da prtica profissional do/a assistente

    social. Outros obstculos apontados dizem respeito: ultrapassagem dos

    limites impostos pelo pensamento conservador; efetivao dos direitos de

    cidadania daqueles/as que so marginalizados/as pela sua condio social ou

    pelo contexto familiar; aos limites impostos participao das famlias na

    gesto escolar e da poltica educacional; s poucas produes e estudos sobre

    o Servio Social na educao; precarizao dos recursos nas polticas

    sociais de um modo geral e falta de clareza dos/as demais profissionais da

    educao acerca do campo de atuao do Servio Social.

    Outras respostas indicam as tenses no interior das equipes

    multiprofissionais, com especial destaque para a pouca valorizao dos/as

    profissionais da rea de educao por parte das autoridades governamentais.

    H de se destacar dois aspectos centrais presentes nos questionrios.

    Em relao s possibilidades, as respostas parecem convergir para um

    elenco de condies j presentes nos processos de luta e de conquistas, tanto

    no campo dos direitos sociais quanto da poltica de educao. Contudo, em

    relao aos entraves, a poltica de educao assume uma feio esttica,

    pouco dinmica e sem contradies, como se fosse uma estrutura, por

    excelncia, impeditiva de avanos e da realizao de condies