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l B. Indústr. anim., SP, 32(1) :1-8, jan./jun., 1975 SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO FARELO DE ALGODÃO, EM NíVEIS CRESCE~TES, POR MISTURA DE MELAÇO- URÊIA PARA BOVINOS MESTIÇOS EM REGIME DE CONFINAMENTO (*) (Partial substitution of cottonseed oil meal by increasing levels of a sugar molasses-urea mixture for crossbred bulls in feedlot) MÁRCIO POMPÉIA DE MOURA (1), CELSO BOIN (1) e GERALDO LEME DA ROCHA (2) RESUMO Quarenta e oito bovinos não castrados, mestiços europeu x Zebu, sem grau de sangue definido e idade média aproximada de 18 meses, após o período de adaptação de 26 dias, foram utilizados para testar a substituição parcial do farelo de algodão por uma mistura melaço- uréía (9,1:0,9) isonitrógena ao farelo de algodão utilizado (base de MSJ. O peso médio inicial dos animais era de ± 251 kg e o experimento prolongou-se por 112 dias. Usou-se o delineamento de bloco ao acaso, com 4 tratamentos, 4 repetições e 3 animais por parcela. O tratamento testemunha (A) constou de sílagem de milho à vontade, 1 kg de rolão de milho e 1,65 kg de farelo de algodão. O farelo de algodão foi porcialmente substituído por níveis crescentes da mistura melaço-uréia, de acordo com as seguintes quantidades: Trat. A r-r- 0,00 kg; Trat. B - 0,310 kg ; Trat. C- 0,620 kg e Trat. D- 0,930 kg (peso seco/peso seco). Para os tratamentos A, B, C e D respectivamente, o ganho de peso vivo Ckg/animal/dia) foi de: 1,102; 1,100; 1,091 e 1,034 ± 0,026; a ingestão de matéria seca (kg/100 kg de peso vivo/dnr)- foi de 2,61; 2,55; 2,54 e 2,49 ± 0,02; a conversão (kg MS/kg ganho- de- peso vivo) foi de 7,54; 7,37; 7,40 e 7,59 ± 0,16. Somente os dados referentes a ingestão de matéria seca apresentaram significância estatística quando submetidos à análise de regressão. INTRODUÇÃO Tradicionalmente os animais mestiços eram considerados um entrave para os pe- cuaristas leiteiros. Atualmente, inúmeros trabalhos experimentais têm evidenciado o grande potencial de ganho de peso desses animais. Segundo VILELA et alii 13 os bezerros mestiços das raças leiteiras estão sendo vendidos logo após o nascimento, ou logo após a desmama, para fábricas de produtos de origem animal, corn visível prejuízo para a economia do criador e do Estado. Sabe-se que tais bezerros podem ser transformados em novilhos para abate com relativa facili- «) Parte do Projeto IZ-S33, realizado com recursos parciais do Projeto IX-6/ZV/3 - SASP/IZ/ DNAP. (1) Da Seção de Nutrição de Ruminantes, Divisão de Nutrição Animal e Pastagens - BOlsistas do CNPq. r:' (2) Da Divisão de Nutrição Animal e Pastagens - BOlsista do CNPq. - 1-

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SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO FARELO DE ALGODÃO,EM NíVEIS CRESCE~TES, POR MISTURA DE MELAÇO-URÊIA PARA BOVINOS MESTIÇOS EM REGIME DE

CONFINAMENTO (*)

(Partial substitution of cottonseed oil meal by increasinglevels of a sugar molasses-urea mixture for crossbred bulls

in feedlot)

MÁRCIO POMPÉIA DE MOURA (1), CELSO BOIN (1) eGERALDO LEME DA ROCHA (2)

RESUMO

Quarenta e oito bovinos não castrados, mestiços europeu x Zebu,sem grau de sangue definido e idade média aproximada de 18 meses,após o período de adaptação de 26 dias, foram utilizados para testara substituição parcial do farelo de algodão por uma mistura melaço-uréía (9,1:0,9) isonitrógena ao farelo de algodão utilizado (basede MSJ. O peso médio inicial dos animais era de ± 251 kg e oexperimento prolongou-se por 112 dias. Usou-se o delineamento debloco ao acaso, com 4 tratamentos, 4 repetições e 3 animais porparcela. O tratamento testemunha (A) constou de sílagem demilho à vontade, 1 kg de rolão de milho e 1,65 kg de farelo dealgodão. O farelo de algodão foi porcialmente substituído por níveiscrescentes da mistura melaço-uréia, de acordo com as seguintesquantidades: Trat. A r-r- 0,00 kg; Trat. B - 0,310 kg ; Trat. C -0,620 kg e Trat. D - 0,930 kg (peso seco/peso seco). Para ostratamentos A, B, C e D respectivamente, o ganho de peso vivoCkg/animal/dia) foi de: 1,102; 1,100; 1,091 e 1,034 ± 0,026; aingestão de matéria seca (kg/100 kg de peso vivo/dnr)- foi de2,61; 2,55; 2,54 e 2,49 ± 0,02; a conversão (kg MS/kg ganho- de-peso vivo) foi de 7,54; 7,37; 7,40 e 7,59 ± 0,16. Somente os dadosreferentes a ingestão de matéria seca apresentaram significânciaestatística quando submetidos à análise de regressão.

INTRODUÇÃO

Tradicionalmente os animais mestiçoseram considerados um entrave para os pe-cuaristas leiteiros. Atualmente, inúmerostrabalhos experimentais têm evidenciado ogrande potencial de ganho de peso dessesanimais.

Segundo VILELA et alii 13 os bezerrosmestiços das raças leiteiras estão sendovendidos logo após o nascimento, ou logoapós a desmama, para fábricas de produtosde origem animal, corn visível prejuízo para

a economia do criador e do Estado. Sabe-seque tais bezerros podem ser transformadosem novilhos para abate com relativa facili-

«) Parte do Projeto IZ-S33, realizado com recursosparciais do Projeto IX-6/ZV/3 - SASP/IZ/DNAP.

(1) Da Seção de Nutrição de Ruminantes, Divisãode Nutrição Animal e Pastagens - BOlsistasdo CNPq. r:'

(2) Da Divisão de Nutrição Animal e Pastagens -BOlsista do CNPq.

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dade, dependendo da alimentação e manejoconveniente, principalmente na época daseca. VELLOSD& RDCHA11 obtiveram maio-res ganhos de peso vivo com mestiços quecom Nelores.

Muito se tem pesquisado sobre o quefornecer aos animais confinados durante aépoca da seca. O usual é fornecer um vo-lumoso (silagem ou feno), um concentradobasal (rolão) mais um suplemento protéico.Realmente a problemática, sob o ponto devista econômico, prende-se ao suplementoprotéico devido justamente ao seu altocusto.

Tentando sanar este problema, inúme-ros trabalhos, utilizando uréia como torne-

, cedora de nitrogênio, têm sido realizados.

Stangel (in PERRY, BEESON & MOH-LER3) revisou trabalhos com uréia de 1879a 1963, achando cerca de 1.535.

Zunt (in RICHARDSON& TSIEN S) mos-trou que os microrganismos eram capazesde sintetizar proteína a partir de nitrogênionão protéico.

Loosly (in RICHARDSON& TSIEN 8)mostrou que ruminantes alimentados comuréia como única fonte de nitrogênio foramcapazes de sintetizar cerca de 10 aminoáci-dos no rúmen.

Duncan (in RICHARDSON& TSIEN 8)usando animais fistulados e mantidos sobuma ração purificada, mostrou que os m!-crorganismos do rúmen sintetizaram os arrn-noácidos quando a uréia foi dada comofonte de nitrogênio.

Pearson e Smith (in REID,) afirmamque, na síntes; de pr?~eínas p:los :ni.cror-ganismos do rumen utilizando nitrogênio dauréia, certos aminoácidos eram formados eoutros não.

RALEIGH& WALLACE<l concluíram emseu trabalho que a ração com 12% de PBofereceu maior ganho de peso que as ra-ções com menor teor de PB e que, quandofoi fornecido somente feno mais uréia, houveproblemas de intoxicação. Neste caso, auréia representava 2,52% do total de ma-téria seca oferecida.

MORRISON1 afirma que a uréia temapresentado seus melhores resultados ao

substituir não mais de 113 da proteína dasrações e quando se fornecem, nessas rações,grandes quantidades de grãos de cereais.Essa afirmação já fora confirmada por MilIs(in VILELA et alii 13) que indicava a ne-cessidade da presença de carboidratos so-lúveis junto a amônia para a formação deproteínas.

PACHECO et alii ", trabalhando comzebus confinados, ofertou rações com 3 ní-veis de uréia: O; 2,5 e 5,5'% em relação aoconcentrado. Os ganhos obtidos foram res-pectivamente 0,656; 0,479 e 0,075 gramaspor dia por animal. Concluíram os AA. quea uréia fornecida como única fonte de ni-trogênio não dá resultados satisfatórioscomo quando misturada ao farelo de algo-dão.

VILELA et .alii 13 citam que a uréia,como principal fonte de nitrogênio, deter-minou as menores taxas de ganho e a quan-tidade de 150 g de uréia não 'afetou oconsumo de alimento.

VELLOSO; ROCHA; MOURA12 fornece-ram silagem de milho à vontade mais 2 kgde feno de soj a perene e 100 g de uréia e300 g de melaço por dia por animal. Osanimais (Nelore de 2 anos de idade) res-ponderam com ganhos de 0,500 g/dia.

VELLDSO10 forneceu cerca de 120 g deuréia por dia por animal, mais 1,080 kgde melaço mais 0,5 kg de torta de algodãoe silagem de milho à vontade obtendo ga-nhos de ordem de 0,654 g/dia.

SANTANA & CALDAS9 forneceram, anovilhos mestiços confinados, rações comvários níveis de uréia: 0,3; 0,4; 0,5 e 0,6%,o que representou em gramas de uréia poranimal as quantidades de 82, 113, 136 e166 respectivamente. Além da uréia os ani-mais receberam, em todos os tratamentos,capim colonião à vontade (picado), mais2 kg de melaço por animal e por dia. Osganhos obtidos foram de 0,902; 0,875; 0,839e 0,839 respectivamente, em g/dia.

Embora o número de trabalhos comuréia em nossas condições seja relativamen-te grande, são bastante escassos dados so-bre a influência da substituição parcial emníveis crescentes do farejo de algodão poruma mistura isonitrógena de rnelaço-uréiasobre ingestão, ganho de peso e conversão

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alimentar de bovinos mestiços, em regimede confinamento. O presente trabalho foiplanejado e executado com o objetivo de

obter dados que possibilitem uma análiseeconômica da substituição de farelo de al-godão por uma mistura de melaço-uréia.

MATERIAL E M~TODOS

O presente trabalho foi realizado naEstação Experimental de Nova Odessa, daDivisão de Nutrição Animal e Pastagensdo Instituto de Zootecnia.

Foram utilizados 48 animais não cas-trados mestiços, sem grau de sangue defi-nido, com idade média de 18 meses apro-ximadamente. Os animais eram origináriosda região de Igarapava.

O experimento teve a duração de 112dias divididos em 4 períodos de 28 dias.Houve um período prévio de adaptação de26 dias, no qual os animais foram dosifi-cados, vacinados contra aftosa, receberamuma dose de vitaminas A, D e E, corno tam-hém foi realizado o teste da tuberculina.

As pesagens foram efetuadas a cada28 dias com jejum prévio de 18 horas cas rações controladas diariamente.

O concentrado e a mistura melaço-uréiaeram fornecidos duas vezes ao dia: às 8: 30e 13 :00 horas.

A silagem era oferecida 3 vezes ao dia:às 8:30, 13:00 e o restante às 16:00 horas.Diariamente, pela manhã, eram pesadas assobras. A uréia era dissolvida em água le-vemente aquecida e esta solução misturadacom melaço na proporção de 1: 1 .

O quadro I mostra a quantidade dosingredientes para cada um dos 4 trata-mentos.

QUADRO IComposição das rações

Ingredientes

Tratamentos

A B C D

----Silagem de milho à vontade à vontade à vontade à vontade

Rolão de milho :;":

(kg/ an./ dia) 1,0 1,0 1,0 . 1,0Farelo de algodão

(kg/an./dia) 1,650 1,300 0,950 0,600Melaço-uréia **

(kg/an./dia) 0,400 0,800 1,200Uréia .(kg/an./dia) 0,036 0,072 0,108

* Grão + palha .+ sabugo (moídos)** Relação 9,1: 0,9Nota: Sal míneràlízado foi fornecido à vontade.

A relação da mistura melaço-uréia(9,1 :0,9) usada foi a que apresentava omesmo teor de PB do tarelo de algodãoutilizado.

, Os tratamentos foram balanceados paraapresentar o mesmo teor de proteína bruta(-+- 12% ), baseando-se numa' análise pre-liminar de cada ingrediente das diferentes

rações. A substituição do nitrogênio do fa-relo de algodão pelo nitrogênio da misturamelaço-uréia foi calculada em O; 21,2; 4~,4e 63,6 %, respectivamente para os trata-mentos A, B, C e D. As relações de subs-tituição (farejo de algodão por misturarnelaço-uréia) peso seco/peso seco foram0,0; 0,31; 0,62 e 0,93 %, respectivamentepara os tratamentos A, B, C e D.

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A silagem de milho utilizada apresen-tava excelentes características organoléticase pH igual a 3,9 (3,90 + 0,05).

Os ingredientes das rações experimen-tais foram amostra dos semanalmente e com-binados em uma amostra composta paracada período de 28 dias. Nas amostras com-postas foram feitas as seguintes determi-nações: MS (matéria seca), PB (proteínabruta), FB (fibra bruta), EE (extrato eté-reo), MM (matéria mineral) e ENN (extra-tos não nitrogenados).

As sobras foram amostradas semanal-mente e combinadas por períodos de 28 dias.Nas amostras compostas da sobra foramfeitas determinações de MS (matéria seca)

e de PB (proteína bruta). As determina-ções foram realizadas nos laboratórios da'Divisão de Nutrição Animal e Pastagens.

O delineamento estatístico utilizado foio de blocos ao acaso, com 4 tratamentos,4 repetições e 3 animais por parcela. Foramfeitas análises por regressão pelo métododos .·polinômios ortogonais descrito porPIMENTEL GOMES4. Foi escolhido o nívelde 5% de probabilidade para a significân-cia das regressões.

O critério adotado para a formação dosblocos foi o peso vivo dos animais no iníciodo experimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro 11 apresenta a composiçãomédia dos ingredientes usados na prepara-

ção das rações experimentais durante aexecução do trabalho.

QUADRO II

Análises bromatológicas dos diferentes componentes das rações '"

Ingredientes MS % PB FB EE MM ENN(100"C) % % % % %

Silagem de milho 34,13 6,39 28,48 4,28 .4,58 56,27

Farelo de algodão 90,35 38,05 23,72 1,12 6,17 30,94

Rolão de milho 89,06 8,11 11,64 3,66 2,36 74,23

Mistura melaço-uréia,-água 38,64 36,99 10,36 52,65

Melaço 76,15 4,39 12,52 83,09

,;, Média de 4 amostras, uma de cada período.

A composição das rações experimentaisé apresentada no quadro III. Os teores dePB apresentados referem-se ao alimentoconsumido e os teores de FB, EE, MM eENN, ao alimento oferecido. Os teores dePB não apresentaram variações entre trata-mentos e foram praticamente iguais ao teorde PB inicialmente escolhidos para o expe-rimento (12 % ), baseado em trabalho deRALEIGH&: WALLACE6.

Usando-se os dados de ingestão dealimentos e os teores de nitrogênio dos in-gredientes e das sobras calcularam-se asporcentagens de substituição do nitrogêniodo farelo de algodão pelo nitrogênio da

mistura melaço-uréia e do nitrogênio totalpelo nitrogênio da uréia (Quadro IV). Asporcentagens de substituição do nitrogêniodo fareI o de algodão pelo· nitrogênio damistura melaço-uréia observados durante oexperimento (20,39; 41,2 e 62,4%) estãobem próximos das porcentagens de substi-tuição calculadas no início do experimento(21,2; 42,4 e 63,6%) respectivamente paraos tratamentos B, C e D. As porcentagensde substituição do nitrogênio total pelo ni-trogênio da uréia observados durante oexperimento foram: O; 9,8; 20,9; 30,1 %respectivamente para os tratamentos A, B,C e D. O nível de substituição do trata-mento D praticamente coincide com a reco-

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mendação da substituição de até 1/3 do encontrada em trabalhos americanos.nitrogênio total pelo nitrogênio da uréia

QUADRO mValores nutritivos das rações %

M.S. a 100"C

Tratamentos PB * FB ** EE ** MM ** ENN **

1 12,03 25,94 3,68 4,63 "53,722 12,02 25,05 3,63 4,78 54,523 12,01 24,16 3,59 4,93 55,314 12,10 23,15 3,53 5,10 56,12

* Alimento consumido:** Alimento oferecido

QUADRO IV

Porcentagens de substituição

Tratamentos N mistura melaço-uréiaN do farelo J N da iréia

N total

ABCD

o20,3941,2062,45

o9,78

20,9030,10

Dados referentes aos pesos inical efinal, ganho de peso vivo por dia, ingestãode matéria seca, e conversão alimentar sãoapresentados no quadro V.

Quanto aos dados obtidos de ingestãode matéria seca, tanto baseados em pesometabólico (% PV em gramas/kg PVO,7:11/dia) como peso vivo (%PV), a análisemostrou que a regressão linear foi signifi-cativa estatisticamente, sendo que as equa-ções encontradas foram: Y = 120,03 -- 5,84 X, onde Y = gramas de MS/kg

Para os resultados referentes ao ganhode peso não houve significância estatísticadas regressões.

QUADRO VPesos iniciais, pesos finais, ganhos de peso diário, ingestões e conversões

CaracterísticasTratamentos

A B C D

248,9 251,5 251;5 252,1

372,3 374,4 373,9 367,9

1,102 1,100 1,091 1,033

2,60 2,55 2,54 2,49

7,54 7,37 7,40 7,59

s(~) C.V. %

Pesos iniciais (kg)

Pesos finais (kg)

Ganhos de peso(kg/an./dia) 1,087 0,026 4,81

Ingestão "(kg/100 kg P. V. 2,55 0,02

7,48 0,16

1,30

4,38Conversão **

., Em matéria 'seca a 100"C.':'* Quantidade consumida em kg de \MS. necessária para o ganho de 1 kg de P. V.

(MS = 100°C).

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PVo,731/dia, X = quantidade da misturamelaço-uréia e Y = 2,606 - 0,1258 X,onde Y = kg de MS/lOO kg de PV, X =

quantidade da mistura melaço-uréia,respectivamente.

Podemos notar que a íngestão . de ma-téria seca decresceu ligeiramente com oaumento da quantidade da mistura melaço-uréia na ração.

A conversão alimentar não apresentousignificância pela análise de regressão.

PRESTON &: WILLlS G, utilizando resul-tados de inúmeros experimentos, determi-naram que a conversão alimentar diminuià medida que aumenta a ingestão de nitro-gênio na forma de uréia. Entretanto, osmesmos AA. citam casos nos quais a con-versão não foi modificada ou mesmo au-mentou com a substituição do nitrogênioprotéico pelo nitrogênio da uréia. No pre-sente trabalho as conversões alimentarespara os tratamentos B e C foram ligeira-mente superiores que as do tratamento Ae D. A composição das rações experimen-tais apresentadas no quadro III mostra umdecréscimo do teor de FB e um aumentodo teor de ENN com o aumento da substi-tuição do farelo de algodão pela misturamelaço-uréia. Isto ocorreu porque a mis-tura melaço-uréia apresentava um teor deFB menor e um teor de ENN maior que ofarelo de algodão. A melhor conversão ali-mentar para es tratamentos B e C poderiaser atrihuída a esse teor de fibra e prova-

velmente ao fato das bactérias do rúmenusarem eficientemente para a síntese deproteína a amônia liberada pelo desdobra-mento de até 72 gramas de uréia. Referin-do-se ao tratamento D, as bactérias prova-velmente não foram capazes de utilizar todaamônia produzida pelo desdobramento de108 g de uréia o que, em combinação comuma menor ingestão de matéria seca paraesse tratamento, diminuiu ligeiramente aconversão alimentar em comparação aostratamentos B e C.

Os ganhos de peso vivo por dia obser-vados no presente experimento foram rela-tivamente altos para todos os tratamentos.No tratamento D, no qual os animais rece-beram 108 g de uréia associada com 1.092 gde melaço por dia, o ganho de peso obser-vado foi semelhante ao relatado por PRES-TON &: WILLIS" para mestiços Schwyz xBrahman não castrados, alimentados pelosistema desenvolvido em Cuba, com gran-des quantidades de melaço-uréia (-I- 5,4 kgde melaço e 100 a 110 g de uréia por- ani-mal por dia).

LEVANTAMENTO ECONÔMICO

Verifica-se no quadro VI, pelo levanta-mento econômico realizado, que o maiorlucro por animal por dia ocorreu para otratamento B, quando foram oferecidos 36 gde uréia mais 364 g de melaço por animalpor dia.

QUADRO VI

Lucro obtido por quilo de carcaça produzida

Trata- 54% do ganho Carcaça Carne Ração Lucro ou

mentes médio diário (Cr$/kg) produzida oferecida perda p/an./dia(kg) (Cr$) (Cr$) (Cr$)

-----_.A 0,595 8,00 4,760 2,620 + 2,140

B 0,594 8,00 4,752 2,550 + 2,202

C 0,589 8,00 4,712 2,529 + 2,183

D .0,558 8,00 4,464 2,459 + 2,005

O levantamento ainda mostra a econo-mia da substituição até o nível do trata-

mento C, no qual foram fornecidos 72 gde uréia mais 728 g de melaço por animal,

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QUADRO VII

Custo do arraçoamento

Trata- Ingredientes Oferecido Custo an./ diamento kg/an./dia Cr$

A Silagem de milho 18,592 1,115Rolão de milho 1,000 0,350Farelo de algodão 1,650 1,155

B Silagem de milho 18,167 1,090Rolão de milho 1,000 0,350Farelo de algodão 1,300 0,910Melaço 0,364 0,092Uréia 0,036 0,108

C Silagem de milho 18,003 1,080Rolão de milho 1,000 0,350Farelo de algodão 0;950 0,665Melaço 0,728 0,218Uréia 0,072 0,216

D Silagem de milho 17,298 1,038Rolão de milho 1,000 0,350Farelo de algodão 0,600 0,420Melaço 1,092 0,327Uréia 0,108 0,324

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por dia. O tratamento D mostrou uma que-da maior no rendimento econômico em re-lação aos outros tratamentos, sendo justa-mente o tratamento em que o nível de subs-tituição de nitrogênio protéico pelo não pro-téico está dentro dos limites preconizadose recomendados em citações da literaturasobre o assunto, ou seja, o uso de N dauréia perfazendo até 1/3 do N total.

Ressalte-se porém que os lucros dostratamentos B e C dependerão principal-mente dos preços relativos à uréia e farelode algodão. O quadro VII poderá ser facil-mente manejado com preços atualizados,levando em consideração os ganhos obtidose consumo de alimentos dos animais utili-zados neste trabalho.

O consumo de cada um dos ingredien-tes por animal por dia, assim como o custode cada um desses ingredientes são apre-sentados no quadro VII individualmentepara cada um dos tratamentos.

Para efeito de cálculo econômico fo-ram considerados os seguintes preços uni-tários para os ingredientes (setembro de1974) por quilo:

Silagem de milho .Rolão de milho .Farelo de algodão .. , .Melaço de cana-de-açúcarUréia técnica importada .

Cr$ 0,060,350,700,303,00

Custo totalcrs

2,620

2,550

2,529

2,459

CONCLUSOES

1. O nível de substituição da misturamelaço-uréia 9,1 :0,9) mais adequado, pelosresultados obtidos por levantamento econô-mico, foi o do tratamento C.

2. O tratamento D apresentou ga-nhos de peso satisfatórios, podendo-se afir-mar que a quantidade de 108 g de uréiapor. animal por dia não apresentou efeitonegativo no desempenho animal.

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SUMMARY

Forty-eight crossbred bulls (zebu x european)about 18 months old were used to test the partialsubstitution of cottonseed oil meal by increasinglevels of a isonitrogenous sugar cane mollasses-urea mixture (9:1:0.9>' The ration of the controltreatment (A) was: corn sílage ad libitum, 1 kgof ground ear corn/animal/day and 1.65 kg ofcottonseed oil meal/animal/day. In treatmentsB, C and D, nitrogen for the mollasses-ureamixture replaced respectively 21. 2; 42.4 and

63.6 of the nitrogen froro the cottonseed oilmeal.

Respectively, for treatment A, B, C and D,daily gains were: 1.102; 1.100; 1.091 and 1.034kg/anímal ± 0.026; dry matter intakes were2.61; 2.55; 2.54 and 2.49 ± 0.02% P.V. andconversion rates were 7. 54; 7.37; 7.40 and 7.59kg of DM/kg of live weight gains ± 0.16.Regression analysís was significant only, forintake.

AGRADECIMENTOS

A Pfizer Química Ltda. pelo fornecimentodas doses de vitaminas A, D, E injetável emul-sionável e à Baby Beef Rubayat S. A. Confina-

mento Técnico de Bovinos, pela cessão dos ani-mais para a realização do experimento.

REFERl:NCIAS 616L10GRAFICAS

1 - MORRlSON,F. B. - Alimentos e alimenta-ção dos animais. Trad. por J. S. VEIGA.2. ed. São Paulo, Melhoramentos, 1966.892 p.

2 - PACHECO,M. et alii - Substituição parciale total da torta de algodão pela uréía,no crescimento de novilhos zebus con-finados. Arq. Esc. Vet., Belo Horizonte,21:35-45, 1969.

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