SUGESTÕES DE EVIDENCIAÇÃO DA COMPETÊNCIA · independente para a definição dos tempos e das...
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SUGESTÕES DE EVIDENCIAÇÃO DA COMPETÊNCIA
• Explorar a forma como está organizado o local de trabalho e o modo como este poderá ser
alterado (ou não) para melhorar o desempenho profissional. Se desejar evidenciar competências
mais alargadas, comuns a diferentes áreas de competências e núcleos geradores, poderá realizar
um trabalho sobre a organização onde trabalha, tendo por base as sugestões apresentadas no
artigo “sugestões para a análise de uma organização/empresa” de Fhilippe Bernoux, apresentado
na página 32 deste recurso.
• Analisar as reações que teve perante transformações/reorganizações da instituição onde trabalha
e as eventuais dificuldades sentidas para acompanhar/enfrentar essas mudanças.
• Explorar situações no âmbito de conflitos/negociações de trabalho (atuação enquanto
sindicalizado ou não sindicalizado, papel dos sindicatos na vida das organizações e seus
contributos para a resolução de problemas, etc.).
Observações: Com a mesma situação de vida poderá evidenciar simultaneamente as competências CP2 DR2
e STC/CLC4 DR2, desde que tenha em atenção os respetivos critérios de evidência.
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GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Hoje estamos em plena “Terceira Revolução Industrial”, a caminho da Quarta. Mas para pensarmos as
mudanças na organização do trabalho temos de olhar para a
“Primeira Revolução Industrial”. Teve o seu início no final do
século XVIII e caracteriza-se pela extraordinária transformação,
nos métodos de produção, transportes e comunicações operada
através da substituição do trabalho manual por processos
mecânicos que produzem maior quantidade de produtos com
menores custos. Contudo, a partir aproximadamente de 1871,
ocorreu aquilo a que se pode chamar uma revolução dentro da
revolução.
A conquista, pela máquina, da velha ordem social foi um
processo contínuo, de tal modo que um passo na
industrialização levou imediatamente a outro. As máquinas
depressa se tornavam obsoletas: o uso do carvão deu lugar
ao uso do petróleo como fonte de energia; o vapor foi
largamente substituído pela eletricidade, surgiram novas
facilidades de transporte e de comunicação, a produção em
massa instalou-se e apareceram instituições financeiras
internacionais. Estas transformações tiveram tão influentes
repercussões que é justo usar as palavras "Segunda
Revolução Industrial" para as classificar.
A descoberta da energia nuclear, o desenvolvimento
tecnológico sem precedentes verificado no século XX, o
surgimento de novas tecnologias de informação e a combinação
da informática, da
eletrónica e das
telecomunicações, quer
nas indústrias, quer nos
serviços, indicam que
estamos hoje em plena
"Terceira Revolução
industrial".
Ora é bom ter em conta que todo este processo de
transformação teve e tem repercussões diretas no modo de vida
das sociedades e na organização de um dos seus elementos
fundamentais: o trabalho. Por outro lado, é também preciso considerar que o próprio conceito de
trabalho é complexo, envolvendo múltiplas dimensões – individual, coletiva, económica, social, moral,
física, psicológica, política, etc. – e múltiplas possibilidades de abordagem. (...)
O conceito de trabalho
Ainda que aparentemente óbvio, o conceito de trabalho não pode ser encarado fora dos contextos
históricos e filosóficos que o permitem entender. Assim, nem sempre fizeram parte do senso comum as
Disponível na Internet:
http://ahistoriaesuasdescobertas.blogspot.pt/p/blog-page.html
Disponível na Internet:
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?
Disponível na Internet:
http://www.ideafixa.com/150-anos-antes-do-skype-o-
sonho-do-videofone/
Disponível na Internet:
http://bancadadirecta.blogspot.pt/2012/11/como-vai-
portugal-46-ja-com-um.html
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ideias de que o trabalho é uma atividade dignificante, de que o trabalho realiza o homem, de que o
importante é preparar os cidadãos para o
mundo do trabalho, de que o trabalho tem
um sentido e um valor positivos.
Ao longo da história, vemos o trabalho
ser desvalorizado relativamente a outras
atividades humanas, a ser exaltado como
forma de realização do homem, a ser
analisado como fenómeno de exploração e
alienação, a ser associado a fenómenos de
sublimação, a ser pensado como via de
libertação.
Independentemente das conceções
filosóficas subjacentes às diversas conotações atribuídas ao conceito de trabalho, é certo que este não
pode ser considerado fora de um contexto societal. Em algumas das atuais sociedades, o trabalho aparece
distribuído por setores produtivos (agricultura, indústria, comércio e serviços) e a classificação das
profissões é objeto de análise minuciosa. Tal demonstra que não podemos dissociar o trabalho das
infraestruturas socioeconómicas, a partir das quais se organiza a vida coletiva. Do mesmo modo, não
podemos dissociar o trabalho do valor simbólico que lhe é atribuído. O tipo de trabalho que se
desempenha é sempre portador de um status social.
O trabalho e a sua organização: percurso histórico
Foi na época do trabalho doméstico que o trabalhador mais amplamente dominou o processo de
trabalho e o produto que fabricava. Até aí, ele era o senhor do seu tempo e do seu espaço, o qual, na
maior parte das vezes, coincidia com a sua própria habitação.
Com efeito, o artesão surge como estereótipo da relação de
trabalho ideal - uma espécie de idade de ouro do trabalho - em
que não estavam ainda dissociados elementos como a
criatividade, a iniciativa, a habilidade, o saber-fazer pessoais, o
controlo da produção, etc.
No entanto, a divisão do trabalho leva a que se quebre este
sincretismo. A divisão do trabalho, que é muito antiga, só
adquire realmente o seu sentido moderno (já não de divisão
social, mas de uma divisão técnica do trabalho) na aurora da
Revolução industrial.
A divisão do trabalho é um método que, partindo da individualização de todas as tarefas a realizar,
preconiza que cada indivíduo se deve especializar num determinado segmento do processo produtivo.
Visa dois objetivos fundamentais:
o de promover a competência e a eficácia do indivíduo, na medida em que este se especializa numa
só tarefa;
o de, aumentando a habilidade do operário, proporcionar uma economia de tempo. Está também
ligada à introdução das máquinas nos processos de produção, já que estas últimas consolidam e
potenciam os seus objetivos.
Disponível na Internet: http://www.vertentehumana.pt/clientes/trabalho-
temporario.aspx
Disponível na Internet: http://www.fisica-
interessante.com/aula-historia-e-epistemologia-da-
ciencia-11-crise-da-fisica-1.html
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A divisão do trabalho conduz ao abandono dos sistemas domésticos e artesanais de produção nos
quais o artesão e os seus familiares executavam a
totalidade do trabalho e leva à reunião de vários
trabalhadores num local de trabalho e à distribuição de
tarefas distintas por cada trabalhador. Este novo
esquema, já ao nível da manufatura, faz aumentar a
produtividade e proporciona um maior controlo do
empregador sobre o trabalhador, que assim passa a ver
vigiado o tempo e o ritmo do trabalho desenvolvido.
A introdução das máquinas e de automatismos no
processo de produção, derivado da fragmentação e da
simplificação das diversas operações, irá acentuar a
neutralização do saber do trabalhador e proporcionar a
gradual substituição deste pela máquina. Esta passagem do modo de produção manual à mecanização
em grande escala e à produção em série assinala, como
já se referiu mais acima, o período conhecido pelo
nome de "Revolução Industrial". Com ela surge uma
nova organização social – o trabalho de fábrica – em
que as máquinas são o elemento preponderante que
condiciona o processo de produção, exigindo que o
trabalhador se adapte às suas necessidades e se torne,
por assim dizer, um seu apêndice.
Para além desta dependência relativamente às
máquinas, que fazem das tarefas do trabalhador um
conjunto de movimentos repetitivos e mecanizados, o
trabalhador deixa de participar ativamente – com a sua
criatividade, imaginação inventividade, etc. – no processo de
produção, deixando de ter consciência deste processo enquanto
totalidade. Em suma, o trabalho despersonaliza-se, as tarefas a
executar convertem-se em movimentos apáticos e monótonos e
tendem, com o desenvolvimento tecnológico, a ser substituídos
por linhas de produção automatizadas.
A mudança tecnológica e a organização do trabalho estão, pois,
indissociavelmente ligadas e a primeira Revolução Industrial é
bem representativa dessa ligação. Caracterizada pelo
aparecimento de uma enorme variedade de empresas com
tamanhos diferenciados, pelo crescimento acelerado e
desorganizado dessas mesmas empresas e por uma concorrência
com tendências ainda mal definidas, a par da insatisfação generalizada dos trabalhadores que reagiam
contra as máquinas, cedo se colocou o problema do baixo rendimento da maquinaria utilizada.
A ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DO TRABALHO: TAYLORISMO E FORDISMO
A Revolução Industrial conduziu a uma complexidade administrativa e organizacional que não se
compadecia com os improvisos e com a utilização de métodos empíricos, suscitando uma abordagem
Disponível na Internet: https://prezi.com/ilsukul7bwcx/the-social-
impact-of-the-industrial-revolution/
Disponível na Internet: http://industrialrevolution.org.uk/factories-
industrial-revolution/
Disponível na Internet:
http://www.baguete.com.br/colunistas/colunas/47/r
oberto-cohen/30/11/2010/taylorismo-sobrevive-em-
nossos-help-desks
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científica da organização do trabalho. Tal abordagem foi empreendida por F. W. Taylor, um engenheiro e
economista americano que nasceu em 1856 e faleceu em
1915. No seu livro Principles or Scìentific Management
elaborou um sistema de organização científica do trabalho
(OCT) e a sua doutrina deu origem ao chamado taylorismo.
Debruçando-se sobre as razões da baixa produtividade da
mão-de-obra do seu tempo, Taylor concluiu que o problema
residia no conflito de interesses entre operários e
empresários. Os primeiros viam a sua segurança ameaçada
ao constatarem que o aumento de rendimento de cada
homem e de cada máquina levava ao despedimento de um
certo número de trabalhadores e procuravam defender os
seus postos de trabalho diminuindo deliberadamente o
ritmo de trabalho.
Por outro lado, Taylor refere que esta tendência comum
para trabalhar com lentidão acentua-se quando se reúne um
certo número de operários para efetuar um trabalho seme-
lhante, atribuindo-se a todos idêntico salário. Nesse sistema,
os operários melhores vão reduzindo gradualmente a sua
velocidade de trabalho até a adaptarem à dos operários piores
e menos produtivos.
Os empresários, por sua parte, pretendem uma crescente
produtividade e o desejo de maiores lucros levam-nos a pagar
o menos possível aos operários. Dá-se, pois, um conflito entre
a pretensão de segurança e maiores salários por parte dos
operários e o aumento dos lucros por parte dos empresários.
A organização científica do trabalho (O.C.T.) – foi qualificada
de científica porque a sua preocupação é a de ser objetiva,
isto é, não dependente de apreciações subjectivas – é a
resposta encontrada por Taylor para sanar este conflito e
atingir aquilo que parece ser a solução ideal: proporcionar
salários mais elevados aos trabalhadores e maiores lucros aos
empresários.
A O.C.T parte da análise detalhada, exaustiva e sistemática dos tempos de produção e dos
movimentos dos operários. Visa decompor ao
máximo todas as operações envolvidas no
processo de produção, analisar cada uma
dessas tarefas e estabelecer o meio mais eficaz
de a realizar. Procura-se assim suprimir
esforços inúteis, adequar os meios de produção
aos processos de produção (equipar
corretamente a empresa, quer do ponto de
vista tecnológico, quer do ponto de vista
humano, isto é, quer ao nível da maquinaria,
quer ao nível das competências daqueles que
operam com as máquinas) e, finalmente,
Organização científica do trabalho Designam-se por organização científica
do trabalho (O.C.T.) [em inglês, Scientific Management ou Scientific Administration] os esforços conduzidos a partir do fim do século XIX, em vários países, por diversas personalidades (dirigentes de empresas, engenheiros, por vezes sindicalistas... ), no sentido de substituir o empirismo e a desordem no funcionamento corrente das empresas por princípios gerais de fundamento científico, cuja validade possa mesmo estender-se a outros tipos de organizações.
Aspetos essenciais do taylorismo e do fordismo
O taylorismo e o fordismo são
correntemente reduzidos a três princípios: essenciais:
- a separação rigorosa entre a conceção das tarefas e a sua execução, com simplificação das tarefas;
- a existência de um sistema de peritagem independente para a definição dos tempos e das remunerações que escape por isso mesmo a toda a discussão;
- os sistemas de remuneração ligados ao estabelecimento de tempos e por isso mesmo também eles indiscutíveis em princípio, que estavam na base da atribuição de prémios de produtividade.
Disponível na Internet: http://nossointerativo.blogspot.pt/
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aplicar os princípios cientificamente estabelecidos de modo a obter um maior rendimento com um
menor esforço e um menor custo.
Esta perspetiva, eminentemente tecnicista e economicista, pensa o trabalho em função da otimização
dos processos de produção e procura encontrar na organização desses mesmos processos a chave do
problema. No entanto, este ponto de vista é, em certa medida, uma visão desumana e impessoal do
trabalho, ou seja, descura as múltiplas dimensões que o trabalho adquire quando tomamos em
consideração que os trabalhadores não são meras peças da engrenagem produtiva, mas, também, pessoas
envolvidas numa teia de relações que, enquanto tal, devem ser consideradas.
Adaptado de: Girão, José Manuel dos Santos; Grácio, Rui Alexandre Ensino profissional – Área de Integração, Vol. I.
(SD) Porto: Texto Editora
O Fordismo
O taylorismo ajudou a revolucionar o trabalho
fabril no começo do século XX. Esta forma de
organização de trabalho foi aprofundada pelo
fordismo termo que se refere ao sistema de
produção em massa de um determinado produto,
em linhas de produção. O Fordismo foi criado pelo
norte-americano Henry Ford, em 1914, que
revolucionou o mercado automobilístico e industrial
da época. O objetivo de Henry Ford era criar um
método que reduzisse ao máximo os custos de
produção da sua fábrica de automóveis,
consequentemente embaratecesse o preço dos
veículos para a venda, atingindo o maior número
de consumidores.
O fordismo tinha como princípio a especialização
que cada funcionário da empresa numa
determinada tarefa da linha de produção, sendo
responsável exclusivamente por essa etapa. Assim,
as empresas não tinham de se preocupar com a
contratação de profissionais altamente qualificados,
pois cada operário apenas precisava de aprender a
executar as funções inerentes a uma pequena parte
dentro da totalidade do processo de produção.
Resumindo, podemos enunciar as principais
características do fordismo: redução de custos na
linha de produção; aperfeiçoamento da linha de
montagem do produto; pouca qualificação dos
operários; divisão das funções de trabalho;
repetibilidade do trabalho; trabalho em cadeia; trabalho contínuo; especialização técnica de cada
operário de acordo com sua função; produção de produtos em massa, ou seja, em grandes quantidades;
grandes investimentos em máquinas e instalações nas fábricas; utilização de máquinas no processo
produtivo.
Imagem do Filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, 1936 Disponível na Internet: http://www.estudopratico.com.br/modos-de-
producao-capitalista-escravista-feudal-e-mais/
Linha de montagem de automóveis Ford. Disponível na Internet:
http://www.estudopratico.com.br/modos-de-producao-capitalista-escravista-
feudal-e-mais/
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O sistema fordista trouxe grandes vantagens aos empresários, mas o mesmo não se poderá afirmar
em relação aos trabalhadores: trabalho repetitivo, desgastante e baixos salários. No filme "Tempos
Modernos" (Modern Times, 1936), Charles Chaplin dá-nos uma visão satírica e crítica do fordismo.”
In Significados. Significado do Fordismo, disponível na Internet: http://www.significados.com.br/fordismo/
Uma avaliação do taylorismo
De acordo com o paradigma do racionalismo científico do séc. XIX, em que nasceu e se formou o seu
pensamento, Taylor parte do princípio de que o trabalho pode ser definido a priori. Por outro lado, a
organização é vista como uma grande relógio, um sistema mecânico em que todos os movimentos, todos
os gestos, todos os comportamentos se devem combinar em função do resultado final que é a produção.
Taylor introduz o cronómetro na fábrica e, com ele, a fixação de tempos elementares para a execução
do trabalho. Passa a ser possível, pois, a medição da produtividade individual.
Resumindo, eram seis os princípios
básicos da Organização Científica do
Trabalho” (OCT):
1- Parcelarização: uma tarefa – A
cada operador é atribuída apenas
uma tarefa ou um conjunto
restrito de tarefas simples em
detrimento de um conjunto
significativo, diversificado e
variado de atividades;
2- Especialização: um posto de
trabalho – Cada operador efetua
sempre o mesmo trabalho,
estando afeto a um determinado
posto de trabalho (fixo);
3- Individualização: um homem – Uma tarefa, um posto de trabalho, um homem. Ou seja, não há lugar
para a cooperação, a entreajuda, o trabalho em grupo ou equipa;
4- Imposição de tempos: um tempo-padrão – O tempo para realizar a tarefa foi previamente calculado
pelo gabinete de organização e métodos (ou serviço funcional equivalente) e serve de norma. O uso
do tempo de trabalho (ciclo operatório, ritmo, cadência, etc.) e de não-trabalho (pausas, descanso
suplementar, etc..) está estritamente regulamentado;
5- Separação das funções de controlo e das funções de execução: Um controlo especializado – Quem
executa, não controla ou avalia os resultados. Esta passará a ser uma prerrogativa da direção,
através dos serviços funcionais (staff);
6- Separação das funções de conceção, decisão e coordenação, das funções de execução: uma
hierarquização social – Quem executa, não concebe, não decide, não planeia, não programa, não
organiza, não coordena. Estas funções gestionárias competem à direção e ao seu staff.
O taylorismo tem, por outro lado, uma conceção redutora do homem no trabalho de tal modo que o seu
perfil é fácil de traçar:
Disponível na Internet: http://www.makingthemodernworld.org.uk/stories/manufacture_by_machine/01.ST.01/?sce
ne=10
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- baixo nível sociocultural;
- preguiça ou tendência para fazer cera (o célebre soldiering a que os franceses chamam flanerie);
- necessidade de um trabalho cujo ritmo e cadência o tirem da sua “apatia bovina”;
- necessidade de enquadramento e supervisão;
- premência das necessidades primárias ou de subsistência;
- reforço da motivação salarial através do trabalho ao rendimento.
De acordo ainda com esta lógica de organização do trabalho, a direção tem o monopólio do saber, da
sua produção, codificação e difusão. A produção caracteriza-se pela impossibilidade de acesso ao saber e
de criação de conhecimento e,
consequentemente, pelo não reconhecimento
de competências tácitas.
Cria-se assim um fosso intransponível
entre os vários tipos de saber, entre o saber-
saber e o saber-fazer, entre o conhecimento
teórico e o empírico, entre o especialista e o
leigo, entre o trabalho intelectual e o manual,
entre a norma e a evidência empírica. O saber
torna-se fonte de poder. O taylorismo
consagra, em definitivo, a expropriação do
saber do operário de ofício.
Repare-se que a substituição dos métodos
empíricos (que eram tradicionalmente os métodos do operário de ofício) por métodos ditos científicos veio
dar origem não só à separação do trabalho de conceção (intelectual) e do trabalho de execução (manual),
como também levou à decomposição do trabalho de execução em elementos simples. É o trabalho em
migalhas (en miettes), segundo uma expressão do sociólogo francês George Friedman (1956) que se tornou
clássica.
Por outro lado, o taylorismo, veio criar condições para o desenvolvimento da psicologia industrial e das
técnicas psicotécnicas, já que a seleção, a orientação e a formação profissionais passam a ser também uma
prerrogativa da direção.
O fosso entre a direção e a produção vai ter pesadas consequências na conceção e desenho das nossas
organizações:
- A comunicação‚ unilateral, fechada, de sentido único: a informação só desce, não sobe;
- Entre o topo e a base da organização, há um conjunto de relés parasitas, porteiros ou comutadores da
comunicação, todos eles perfeitamente hierarquizados (ou seja, em diferentes ‘andares’ ou níveis
organizacionais). Instala-se o controlo em cadeia, feito de cima para baixo, em linha. E esse controlo
não é apenas o do trabalho e dos trabalhadores, mas também o controlo dos controladores pelos
serviços de controlo central.
- Há uma diferenciação sócio-espacial, de que o organograma é uma representação gráfica.
A taylorização das empresas primeiro, de produção e, depois, de serviços (banca, seguros, grandes
superfícies comerciais, etc.) –, a racionalização da sua organização do trabalho de acordo com os princípios
do Scientific Management, acabou por levar a uma enorme centralização burocrática (graças justamente à
criação de uma série de serviços funcionais a quem passa a ser atribuída a organização do trabalho: o
serviço de planeamento, o gabinete de organização e métodos, o serviço técnico, o serviço de controlo de
Disponível na Internet: https://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_management
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qualidade, etc.) e a legitimar a estrutura hierárquica como norma das relações sociais na empresa e demais
organizações, na escola e na própria família, etc..
Taylor excluiu claramente o grupo do campo da organização do trabalho e da gestão da empresa. Para
ele, o trabalho individual era, definitivamente, "superior ao trabalho em equipa". A tarefa vai instaurar a
prática individual (ou a solo) do operário, e tentar destruir ou impossibilitar o trabalho de equipa bem
como a solidariedade de grupo, um e outro fortemente enraizados na cultura do operário de ofício.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
As novas formas de organização do trabalho
O Fordismo e Taylorismo tiveram o seu apogeu ao longo do século XX, passando a entrar em crise a
partir doa anos 70 do século passado. Mas a reação a estas formas de organização do trabalho,
considerado por muitos como desumano, surgiu por volta dos anos 40 do século XX, com a Escola das
Relações Humanas, a qual trouxe para o primeiro plano a importância do clima afetivo e das motivações
do indivíduo no trabalho. Esta tentativa no sentido de repensar a organização do trabalho, não apenas a
partir da otimização dos ganhos económicos, mas tomando também em consideração o papel das
motivações psicológicas no trabalho, prolongou-se na busca de novas formas de organização de trabalho
(N.FO.T.), cujo objetivo primordial era o de melhorar o nível de satisfação dos trabalhadores.
Foi pois a partir de 1940 que a Organização Científica do Trabalho (taylorismo e fordismo), sempre
muito praticada na indústria, mas também nos serviços, foi suplantada nos círculos intelectuais pelo
Movimento das Relações Humanas, que contestava a visão economicista do primado das precauções
económicas e do prisma individual, opondo-lhe o
sentimento de pertença ao grupo e a lógica dos
sentimentos. O movimento das Relações Humanas foi
buscar a sua inspiração na famosa experiência na fábrica
da Western Electric, situada no bairro de Hawthorne,
Chicago, com início em 1927, coordenada por Elton Mayo
e que passamos a descrever.
A experiência Hawthorne e a pesquisa da Western
Electric
“As oficinas Hawthorne da Western Electric Company ocupa-
vam, em 1924, cerca de 29.000 pessoas nas fábricas dos arredores de Chicago. Aí se fabricava tudo o que dizia respeito
e telefones. Todos os ofícios e categorias sócio profissionais estavam lá representados.
Apesar de boas condições materiais e vantagens sociais elevadas (salários superiores à média, restaurante da
empresa, enfermarias e hospital, serviços de orientação, etc.) e embora os assalariados se digam em geral satisfeitos
com a empresa, os sinais de descontentamento como absentismo, a travagem, a má qualidade eram numerosos.
A direção, com a colaboração de investigadores de tipo universitário, decidiu fazer um esforço para melhorar as
condições de trabalho, começando pela iluminação, verificando a sua relação com a produtividade. Decidiu-se então
melhorar a iluminação de um grupo de operárias que trabalhavam com luz artificial, observando um grupo idêntico,
chamado grupo de controlo, em que a iluminação não mudava. Os dois grupos estavam ao corrente da experiência.
Trabalhadoras na fábrica da Western Electric Company, 1924
Disponível na Internet: https://hbr.org/2008/07/a-field-is-born
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Observou-se que a produtividade do grupo experimental aumentava quando se melhorava a iluminação, o que
parecia evidente. Mas a produtividade do grupo de controlo aumentava também, o que o era menos. A melhoria da
iluminação teve lugar várias vezes e de cada vez o resultado era o mesmo: a produtividade continuava a aumentar nos
dois grupos. Um investigador teve então a ideia de diminuir a iluminação do grupo experimental. Resultado ainda mais
inesperado: a produtividade continuava a aumentar nos dois grupos. Só quando as operárias foram insuficientemente
iluminadas é que a produtividade baixou.
Havia portanto algo diferente dum problema de iluminação ou mais geralmente de condições de trabalho, que
influenciava a produtividade. Mas o quê?
A experiência da iluminação terá durado de Novembro de 1924 a Abril de 1927. Fez-se então apelo a uma equipa
de psicossociólogos que trabalhou no problema durante seis anos. Começaram pela investigação que se tornou célebre
pelo nome de “test room”; um grupo de operárias, voluntárias, aceitou ficar isoladas na oficina para continuar o
mesmo trabalho numa sala ao lado. Mudou-se sucessivamente um certo número de fatores que pareciam importantes
aos olhos dessas operárias, a saber o sistema de salário (individual, por equipa, à peça, horário, etc.), as pausas
durante o trabalho (uma ou várias, de duração diferente), os horários (redução dos horários, supressão do trabalho ao
sábado, retorno à situação inicial). Ora em cada mudança, qualquer que fosse o sentido em que se fizesse, a
produtividade aumentava ou mais raramente, estagnava. No total obteve-se, no fim da experiência que durou perto
dum ano, um aumento de produtividade de 20%.
A direção e os investigadores ficaram perplexos. Manifestamente as melhorias nas condições de trabalho primeiro,
depois nos domínios sociais objeto de reivindicações por outro, não arrastavam por si mesmos, melhoria dos
comportamentos no trabalho. A que eram devidos os aumentos de produtividade?
"O efeito Hawthorne", grupo e liderança
Dois fatores pareciam ter jogado um papel importante. Primeiramente, o facto de que, nas duas experiências, as
operárias tinham sido objeto de observação. Isso era evidente
no caso da iluminação em que a evolução dos dois grupos era
atribuível ao facto de que estes tinham sido escolhidos para um
estudo, pedido pela direção apoiada pelos membros da
universidade de Harvard. As operárias respondiam da maneira
que lhes parecia mais adaptada àquilo que, no seu espírito,
desejavam os experimentadores. Elas valorizavam-se assim. 0
grupo de controlo copiava o seu comportamento pelo primeiro,
porque se julgava grupo escolhido para que a experiência
pudesse desenvolver-se normalmente. O mesmo comporta-
mento manifestava-se na experiência do “test room” em que,
quaisquer que fossem as mudanças propostas, as operárias
aumentavam a produtividade quer quando se introduziam
mudanças quer quando se as anulava. Estava-se em presença de uma reação, chamada na sequência "efeito
Hawthorne" e que se pode resumir esquematicamente dizendo que as pessoas reagem positivamente ao facto de
que alguém se ocupa delas para melhorar a sua situação, e especialmente se elas estão numa posição baixa na
empresa. Este resultado é tido hoje por certo no meio dos investigadores que, em todas as suas pesquisas, controlam o
efeito Hawthorne.
Em segundo lugar, as experiências da Western Electric revelaram a importância da vida de grupo e a sua influência
sobre o comportamento de cada um dos seus membros. Isso via-se claramente na experiência do test room, em que
apercebeu-se uma certa unanimidade no nível de produção das operárias. Acontecesse o que acontecesse, em
particular durante as mudanças impostas, mas também por ocasião dum incidente qualquer, as operárias produziam
cada uma individualmente um número de peças idêntico ao das outras, mesmo sem comunicarem entre si. Existia uma
Trabalhadoras na fábrica da Western Electric Company, 1924
Disponível na Internet: https://hbr.org/2008/07/a-field-is-born
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norma informal de produção que constrangia cada uma a produzir tanto como as outras. Contudo, é a segunda
conclusão a propósito da vida de grupo, cada incidente ou cada tensão entre pessoas provocava um mal-estar que se
repercutia sobre o nível da produção. Havia dias em que "tudo ia bem", outros em que isso "ia menos bem". Se,
globalmente, a produção aumentava, incidentes ou tensões tinham uma incidência muito nítida sobre o seu nível. Uma
vida de grupo existia, sensível às tensões, clivagens, oposições entre pessoas, etc. Esta vida de grupo tinha uma
influência muito importante sobre a produção de cada uma das operárias.
A experiência do "test room" prolongou-se por uma série de outras experiências com diferentes grupos e seguida
duma grande campanha de entrevistas que
permitiu afinar os primeiros resultados.
Deu-se conta, com efeito, que se o "moral"
do grupo era um elemento determinante destes
resultados, este moral, que dependia do acordo
entre as operárias, estava igualmente ligado à
sua relação com o agente de mestria. À medida
que avançava a experiência do "test room", o
papel do contramestre modificava-se. Ele
apagava-se diante do observador para as
funções de controlo e de organização e, final-
mente, este último substituía-o praticamente.
Neste momento, não havia necessidade
nenhuma de comandar e de controlar as jovens
operárias: elas trabalhavam espontaneamente
melhor e mais, e declaravam não ter a sensação
duma fadiga suplementar. A função de
contramestre tornava-se de aconselhamento, de proposta e sobretudo de atenção, mais do que comando
propriamente dito. A campanha de entrevistas colocou bem em destaque esta função de atenção. Os investigadores e
a direção notaram com efeito um meIhor "moral" nas oficinas em que os assalariados tinham sido entrevistados. De
repente, notou-se que um bom agente de mestria deveria ser um animador de grupo, com uma função importante de
escuta, mais do que um "chefe" no sentido tradicional do termo. 0 seu estatuto, o facto de ser dispensável aos olhos
dos seus superiores pelo bom andamento do grupo e de ter uma delegação de poder (formal) para o fazer, as suas
competências técnicas, tudo isso era insuficiente para assegurar o seu êxito. Era preciso primeiro que ele fosse
conselheiro ouvinte e conselheiro ao mesmo tempo.
Mesmo se elas podem ser utilizadas num espírito manipulatório, estas descobertas são importantes. Mostraram
concretamente, pela primeira vez, o efeito do grupo sobre o comportamento do indivíduo. Este resultado prolongou-se
por um conjunto de pesquisas centradas no grupo. Inspirando-se noutras escolas, em particular a psicanálise, elas
colocaram o acento sobre as relações afetivas no interior de pequenos grupos.”
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
AS NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
“No seu sentido mais corrente, a expressão N.F.O.T. designa, na literatura da sociologia do trabalho e
da psicossociologia das organizações do trabalho, um conjunto de experiências e de outras iniciativas, em
Trabalhadoras na fábrica da Western Electric Company, 1924
Disponível na Internet: http://lunatractor.com/2013/02/20/is-the-impact-of-agile-just-a-
hawthorne-effect/
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geral de origem patronal, diversificadas no tempo e no espaço, tendo por objeto a reorganização do
trabalho e a participação dos trabalhadores na gestão da empresa.
São muito diversas essas experiências e iniciativas quanto ao seu enquadramento teórico e
metodológico. De qualquer modo, as N.F.O.T. surgiram, historicamente, num contexto que foi marcado
pela falência técnica e social dos
princípios do modelo clássico de
organização do trabalho,
consubstanciado no taylorismo-
fordismo. Essa falência (ou
simplesmente crise) tornou-se cada
vez mais evidente a partir dos 60
anos, primeiro nas empresas de
produção (e em especial da indústria
de montagem automóvel,
fortemente taylorizada) e mais tarde
nas empresas de serviços.
Em França, por exemplo, as
N.F.O.T. não se podem dissociar da
preocupação, mais geral, com a melhoria das condições de trabalho e a revalorização do trabalho manual. E
mais do que os acontecimentos de Maio de 1968, foi sobretudo o movimento grevista de 1971, na Renault,
em Le Mans (a famosa greve dos ouvrier spécialisé, de 29 de Abril a 25 de Maio de 1971), que veio fazer da
questão dos OS, do operário não-qualificado, uma verdadeira questão nacional, suscetível de mobilizar não
só os parceiros sociais (Estado, patronato e sindicatos) como a própria opinião pública. Na fábrica da
Renault, a palavra de ordem em 1971 era “Não ser O.S. toda a vida!”.
A própria Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou em 1976 o seu Programa Internacional
para a Melhoria das Condições de Trabalho, encorajando os seus Estados-membros a uma intervenção
concertada e integrada sobre o conteúdo e a organização do trabalho, e não apenas sobre os tradicionais
fatores de higiene e segurança nos locais de trabalho.
No entanto, a própria terminologia - N.F.O.T. - nunca foi (nem é hoje) pacífica, e muitas são as
expressões equivalentes, conforme os países, as escolas, os autores e as modas:
- Reestruturação do trabalho
- Recomposição do trabalho
- Alargamento de tarefas
- Enriquecimento de tarefas
- Grupos semi-autónomos de produção
- Trabalho em equipa
- Job design
- Democracia industrial
- Qualidade de vida no trabalho (QWL – Quality of Working Life, nos EUA)
- Humanização do trabalho (na Alemanha)
- Desenvolvimento organizacional (OD – Organizational Development)
- Grupos de desenvolvimento
- Grupos de progresso e de trabalho
- Grupos de expressão (em França)
- Círculos de qualidade
-TQM – Total Quality Management
Disponível na Internet: http://blog.somostecnologia.com.br/gestao-de-ferramentas-saiba-quais-implicacoes-a-
falta-deste-tipo-de-controle-pode-estar-gerando-em-sua-empresa-4/
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- Programas de sugestões
- Grupos de projeto
- Participação direta
- Lean production (Toyotismo – nos Estados Unidos e no Japão e mais tarde na Europa)
- Sistemas antropocêntricos de produção, etc.
Por detrás deste movimento de experimentação social ou de inovação socio-organizacional, que em
muitos casos foi (ou ainda é) perfeitamente localizado e setorial, houve sobretudo uma tentativa de
reabilitação do grupo no trabalho, das potencialidades resultantes da organização e animação de grupos
de trabalho, e nomeadamente do trabalho em equipa, pondo em causa o modelo clássico de organização
do trabalho e de gestão da empresa.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet: http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
Novas formas de organização do trabalho: a abordagem sociotécnica
Em termos simplistas, poderemos pois dizer que há duas lógicas radicalmente opostas de organização
do trabalho: o taylorismo e a abordagem
sociotécnica, esta simbolizada nos grupos semi-
autónomos.
Entre uma e outra situam-se formas
intermédias ou híbridas como, por
exemplo, o enriquecimento individual de tarefas,
uma forma de organização do trabalho
neotayloriista, uma vez que não faz a rutura com
alguns dos princípios fundamentais do taylorismo.
O modelo dos grupos semi-autónomos de
produção baseia-se na abordagem sociotécnica.
Vulgarizado na Europa do Norte (e sobretudo na
Noruega e na Suécia), este modelo obedece a uma lógica completamente distinta do taylorismo, a lógica
da aprendizagem, da autonomia, da flexibilidade.
Sabemos que os grupos têm características específicas que são distintas das características dos
indivíduos que os compõem. O grupo é maior do que a soma dos indivíduos que o compõem.
Curiosamente, o termo grupo aparece tardiamente na língua francesa, já no séc. XVII, e proviria da
palavra italiana grupo (pessoas esculpidas ou pintadas em conjunto).
Costuma-se distinguir dois tipos principais de interação grupal:
1- O grupo de encontro é uma reunião ou discussão: as pessoas juntam-se para discutir ideias, tomar
decisões, pedir apoio ou aconselhamento, desenvolver competências relacionais, etc.;
2- A equipa ou grupo de trabalho: as pessoas realizam em conjunto tarefas ou missões concretas.
Tanto num caso como noutro estamos perante exemplos de grupos primários ou restritos. Têm em
comum o facto de não serem naturais (como o é o caso, por exemplo, da família, da pequena comunidade
Disponível na Internet: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Training_meeting_in_a_ecodesign_stainless_ste
el_company_in_brazil.JPG
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aldeã, do grupo étnico, etc.), mas artificiais. No entanto, o grupo de encontro, reunião ou discussão é um
grupo primário momentâneo ou efémero, ou seja, é caracterizado pela sua limitação no tempo,
contrariamente à equipa de trabalho, que é um grupo primário persistente ou durável.
Uma ideia-chave no conceito de trabalho de equipa é a relação igualitária, não subordinada, não
hierárquica. Não basta a ação concertada de duas ou mais pessoas, trabalhando na solução de um
problema, em conjunto e de maneira concertada, é necessário que essa relação seja estabelecida numa
base de relativa igualdade, fora portanto da relação hierárquica. Essa relação traduz-se no espírito de
equipa.
Este é, quanto a nós, um outro aspeto fundamental, nem sempre explícito, na ideia de equipa de
trabalho, ou seja, o curto-circuito operado em relação à divisão social (ou vertical) do trabalho,
graficamente representada nos organogramas.
O grupo semi-autónomo de produção é basicamente uma equipa de trabalho.
O estudo dos pequenos grupos tem como marcos de referência, entre outros, Elton Mayo (1880-1949)
e seus associados, que nos anos 20 e 30 criaram a Escola das Relações Humanas.
Mayo mostrou, por exemplo, através de várias experiências em empresas que:
- os indivíduos, no seu local de trabalho, e
em torno das suas tarefas, tendem a
formar grupos informais;
- que há uma lógica dos sentimentos, da
afetividade, que seria tão importante
como a lógica da racionalidade técnica, e
que se exprime nos grupos informais;
- que as atitudes e comportamentos do
trabalho (a produtividade, a satisfação,
etc.) não são tanto influenciadas pela
remuneração e outras condições
objetivas de trabalho (iluminação,
temperatura, pausas, prémios, etc.)
como sobretudo pela perceção subjetiva que o indivíduo tem desses fatores enquanto estímulos;
- e que, finalmente, essa perceção é largamente induzida pelas normas e pelo clima psicossocial
desses grupos informais, donde se conclui que a produtividade e a satisfação do indivíduo
dependem, em grande parte, do grau de interação e de integração no grupo, de estilo de liderança,
etc.
Esta escola, a das Relações Humanas, contudo, não pôde (ou não quis) questionar os fundamentos da
organização científica do trabalho. E na esteira de Elton Mayo os psicossociólogos das organizações foram
acusados de apenas pretenderem melhorar o clima de trabalho, sem pôr em causa verdadeiramente a
lógica do sistema de organização de trabalho e da gestão da empresa.
Tiveram, no entanto, o mérito de mostrar que o organograma é apenas a parte visível do iceberg, e
que a par da organização formal do trabalho há uma outra organização informal, a do pequeno grupo
primário que se constitui por ocasião da realização das tarefas, e outra lógica, a da afetividade, que é o
reverso da lógica da racionalidade...
Na linha de Mayo, homens como Maslow (1943) e Herzberg (1968 e 1971), identificaram e
caracterizaram algumas das dimensões da satisfação do indivíduo no trabalho (necessidades de
segurança, de relação, de estima, de autonomia, de autorrealização, etc.), para além da simples
necessidade de subsistência que, para Taylor, era o único fator de motivação do seu homo economicus.
Disponível na Internet:
http://blogdojornalistaarnaldomoreira.blogspot.pt/2012_11_12_archive.html
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Herzberg e seus colaboradores vão privilegiar sobretudo os fatores intrínsecos de motivação, ligados
à satisfação das necessidades de estima, autonomia e autorrealização. A sua conhecida teoria da higiene-
motivação está na origem do job enrichment (enriquecimento de tarefas).
Kurt Lewin (1890-1947) e seus discípulos, por seu turno, com as suas experiências nos anos 30 e 40
puseram em evidência que o comportamento do indivíduo tem por objetivo manter um equilíbrio
dinâmico entre ele próprio e o seu meio ambiente exterior, ou seja, o pequeno grupo de que faz parte e
que constitui um campo dinâmico ou sistema de forças em equilíbrio. Mudando um dos elementos desse
campo— o líder, a tarefa, a composição do grupo, etc. – , modifica-se o equilíbrio de forças e provoca-se
uma reação. A palavra dinâmica vem, aliás, do grego e quer dizer força. Dinâmica de grupo tem a ver, pois,
com o estudo das forças que operam dentro de um grupo.
O grupo tende então a fazer pressão no sentido do conformismo, ou seja, de modo a impedir o
indivíduo de evoluir em sentido contrário ao do grupo. Do mesmo modo, o grupo pode conduzir o
indivíduo à mudança. E daí a importância do grupo de formação, o training group, o T-Group ou grupo de
treino em relações humanas.
Lewin e a dinâmica de grupo exerceram uma grande influência em autores e escolas que
posteriormente repensaram a organização do trabalho na empresa e o papel dos grupos, nomeadamente
a corrente do Desenvolvimento Organizacional e sobretudo a corrente sociotécnica, de que o Tavistock
Institute depois da 2.ª Guerra Mundial foi o pioneiro.
Por influência do Tavistock Institute, em particular na Europa a abordagem socio-técnica fez evoluir a
organização do trabalho para aquilo a que se hoje se chama os sistemas antropocêntricos de produção
(SAP) que pode ser definido “como uma organização descentralizada de tecnologias avançadas e de
recursos humanos qualificados em que no nível operacional se controlam a tecnologia e a organização do
trabalho”. Nos Estados Unidos a mesma abordagem vai ter lugar com o chamado job design. No Norte da
Europa, sobretudo da Suécia e na Noruega, idêntica abordagem vai dar origem a modelo de organização do
trabalho que ficou conhecido como de democracia industrial.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
Formas de reorganização do trabalho mais difundidas tendo por base a
abordagem sociotécnica
A organização do trabalho é apenas uma das variáveis (embora talvez a mais importante) que determina
a situação de trabalho. Outras igualmente importantes são a tecnologia, o próprio indivíduo, o grupo, a
cultura da empresa, o ambiente físico, etc.
A reorganização do trabalho consiste, basicamente, em mudanças feitas tanto a montante como a
jusante da produção, no sentido horizontal e vertical. Podemos dar alguns exemplos da indústria
transformadora, em vigor nos anos 70 e 80, sem a pretensão da exaustão:
1) Incorporação, nos postos de trabalho, de tarefas a montante ou a jusante da produção:
- preparação de matérias-primas;
- controlo de qualidade e retoques eventuais;
- acondicionamento e expedição do produto final;
- operações de manutenção, conservação e/ou reparação;
- regulação de máquinas e ferramentas, etc.
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2) Alargamento de tarefas por reagrupamento de operações até então atribuídas a postos de trabalho
vizinhos:
- montagem de um conjunto ou subconjunto com uma certa unidade operatória (no caso do
trabalho em linha de montagem mecanizada, tal implicaria o alongamento do ciclo operatório);
- atribuição, aos postos de
vigilância/controlo, de tarefas anexas,
tais como:
- regulação;
- manutenção /conservação);
- limpeza;
- microgestão, etc..
3) Trabalho em grupo (polivalente) ou em
equipa semi-autónoma.
Destacaremos algumas das formas mais
difundidas, com diferentes implicações para o
trabalhador e para a empresa
Rotação de tarefas (job rotation)
No modelo tradicional, o operário A fazia a tarefa a, o operário B fazia a tarefa b, o operário C fazia a
tarefa c, e por aí fora: Aa + Bb + Cc + …
A job rotation é simples: é trocar de posto e de tarefa. O operário A passa a fazer a tarefa b, o operário
B passa a fazer c, etc. : Ca + Ab + Bc + …
A mudança de posto de trabalho é vista pelo gestor
como um meio de:
a) Equalizar as qualificações;
b) Dar polivalência ao operário;
c) Evitar a rotina/monotonia, proporcionando maior
diversidade de tarefas;
d) Combater a desmotivação, o absentismo e o
turnover.
O médico do trabalho tende também a propor a rotação
de tarefas como forma de obviar os inconvenientes da
inadaptação do trabalhador a um dado posto de trabalho.
Mas na realidade não há uma alteração qualitativa na
situação de trabalho, nomeadamente em termos de
- enriquecimento do conteúdo;
- maior autonomia na preparação e controlo do
trabalho;
- oportunidades de entreajuda e cooperação, etc.
Disponível na Internet: https://maroskukan.wordpress.com/2014/10/16/security-series-part-
6-compliance-and-operational-security/
Disponível na Internet: http://blogdojornalistaarnaldomoreira.blogspot.pt/2012_11_12_archive.html
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A polivalência, por seu turno, pode constituir uma arma de dois gumes e ser percebida pelo trabalhador
como um risco acrescido de carga física e/ou mental de trabalho. Além disso, é tradicionalmente combatida
pelos sindicatos, os quais de resto tem sido muito críticos, nalguns países, em relação às implicações das
NFOT (por exemplo, na Holanda).
Alargamento de tarefas (job enlargment)
O job enlargment consiste basicamente na integração das tarefas (ou dum conjunto de tarefas) da
mesma natureza (v.g., montagem de peças de um motor de automóvel). Trata-se sobretudo de um
alargamento horizontal. Tem algumas implicações positivas, do ponto de vista da melhoria das condições
de trabalho:
a) Maior variedade e diversidade no trabalho;
b) Maior duração do ciclo de trabalho;
c) Maior flexibilidade do operador e da organização do trabalho.
Para Herzberg (1971), tanto a job rotation como o job enlargement são um mero paliativo com
resultado incerto. Em termos de rendimento psicológico, de motivação e satisfação no trabalho, o
resultado é zero (0 + 0 = 0).
A rotação de tarefas e o alargamento de tarefas não são verdadeiramente novas formas de organização
do trabalho, isto é, alternativas em relação à OCT. São formas taylorianas ou neotaylorianas:
a) Continua a haver fragmentação das tarefas embora se procure fazer face à excessiva atomização a
que levou a OCT sobretudo no trabalho em cadeia, nos sistemas de produção de grande série.
b) Continua a ser pensado em termos do indivíduo e não do grupo;
c) A organização do trabalho continua a ser uma prerrogativa da direção, continuando a haver um
dicotomia entre quem pensa e quem executa, ou quem planeia, controla e avalia e quem faz.
Enriquecimento de tarefas (job enrichment)
O job enrichment consiste basicamente na adição de novas tarefas qualitativamente diferentes. Por
exemplo:
Disponível na Internet: http://igcsebusiness.weebly.com/motivation-at-work.html
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- preparação do trabalho, execução,
- controlo (qualidade e/ou quantidade),
- programação/regulação da máquina (ou até mesmo a sua conservação/manutenção) pelo próprio
operador, etc.
Trata-se, no essencial, de uma alargamento horizontal e vertical de tarefas, segundo um esquema deste
tipo: Processo de trabalho = 1 (Preparação) + 2 (Produção) + 3 (Conservação/reparação) + 4 (Controlo)
Geralmente, o enriquecimento de tarefas tem implicações ao nível do controlo do tempo pelo próprio
operador, pondo em causa um dos aspetos centrais da OCT (Organização Científica do Trabalho) sem
todavia romper com o taylorismo.
O job enrichment consiste em modificar cada tarefa individual de maneira a adquirir certas
características correspondentes aos fatores de motivação como, por exemplo:
a) Suprimir determinados controlos, sem sacrificar a produtividade;
b) Aumentar o grau de iniciativa no trabalho;
c) Atribuir um conjunto significativo de tarefas e não uma parte restrita;
d) Delegar autoridade, aumentando assim o grau de liberdade e de responsabilidade do operador;
e) Proceder à avaliação periódica do trabalhador e dar-lhe feedback;
f) Introduzir novas tarefas, de maior complexidade;
g) Afetar o trabalhador a funções específicas que lhe permitam tornar-se um verdadeiro perito na sua
área.
No dizer de Ortsman, o movimento do enriquecimento de tarefas trouxe, em relação às abordagens
tecnocráticas anteriores (taylorismo, relações humanas, etc.), uma preocupação nova, a da metodologia de
implementação. Por exemplo, os postos de trabalho a enriquecer, devem obedecer a alguns critérios, tais
como:
a) A reestruturação do posto não deve implicar modificações técnicas e organizacionais muito onerosas;
b) O pessoal dos postos a reestruturar deve ser passivo e desmotivado;
c) A melhoria das condições de trabalho - os factores extrínsecos ou higiénicos - começam a ter um
custo elevado; e, finalmente,
d) É de esperar um aumento da performance (quantidade e qualidade do trabalho).
Em todo o caso:
- o papel do especialista continua a ser fundamental;
- a lógica taylorista de 1 homem/1 posto de trabalho não é posta em causa; e, por fim,
- a organização do trabalho continua a ser dicotómica.
Grupos semi-autónomos
A lógica dos grupos semi-autónomos baseia-se
nos seguintes princípios:
1- Os membros do grupo aprendem a conhecer
a realidade organizacional
através nomeadamente do controlo, logo na
fonte, dos problemas da produção bem
como através das dificuldades (relacionais,
humanas, culturais, etc.) do próprio trabalho
em equipa; Disponível na Internet: http://thebusinesscourier.co.uk/category/biznes-
recomendacii/
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2- As condições de funcionamento da empresa são objeto de negociação entre os grupos semi-
autónomos e entre estes e a direção, partindo-se sempre do pressuposto que os interlocutores
são pessoas responsáveis mas com objetivos, valores e interesses por vezes divergentes ou pelo
menos diferentes, e que essas diferenças devem ser tidas em conta com vista à otimização
dos resultados;
3- Os membros dos diferentes grupos participam, ao lado dos quadros, na tomada de decisão e
resolução dos problemas que lhes dizem respeito; é esta participação - negociada com a empresa e
com os representantes dos trabalhadores, os sindicatos locais - que lhes permite ao mesmo tempo
compreender os constrangimentos que têm de defrontar.
A implementação de grupos semi-autónomos de produção pretende ser, pelo menos em teoria, uma
verdadeira rutura em relação aos seis princípios básicos da OCT.
Há, contudo, bastantes críticas sobre a natureza dos grupos semi-autónomos, incluindo o “mito” da sua
capacidade de auto-regulação. Para os sindicatos (e nomeadamente os da Europa do Sul),
sempre houve explicita ou implicitamente o receio de que os trabalhadores acabassem por perder, em
termos coletivos, no balanço do deve-e-haver destas experiências de reorganização do trabalho e de
participação do indivíduo.
O Toyotismo (Lean Manufacturing)
Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo japonês Taiichi Ohno e implementado nas
fábricas de automóveis Toyota, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Na década de 70, no meio de uma crise internacional, o modelo Toyotista espalhou-se pelo mundo. A
ideia principal era produzir somente o necessário, reduzindo os stocks (flexibilização da produção),
produzindo em pequenos lotes, com a máxima qualidade, trocando a padronização pela diversificação e
produtividade. As relações de trabalho também foram modificadas, pois agora o trabalhador deveria ser
mais qualificado, participativo e polivalente, ou seja, deveria estar apto a trabalhar em mais do que uma
função.
As principais características do modelo toyotista
são:
Flexibilização da produção – produzir apenas
o necessário, reduzindo os stocks ao mínimo.
Automatização – utilizando máquinas que
desligavam automaticamente caso ocorresse
qualquer problema, um funcionário poderia
manusear várias máquinas ao mesmo tempo,
diminuindo os gastos com pessoal.
Just in time (na hora e na quantidade certa) –
sem espaço para armazenar matéria-prima e
mesmo a produção, criou-se um sistema para
detetar a procura e produzir os bens, que só
são produzidos após a venda.
Team work (trabalho em equipe) – os trabalhadores passaram a trabalhar em grupos, orientados
por uma líder. O objetivo é de ganhar tempo e liminar os “tempos mortos”.
Disponível na Internet: http://www.producaonobrasil.com/noticia/475-toyota-
apresenta-novo-sistema-de-producaohttp://www.producaonobrasil.com/noticia/475-
toyota-apresenta-novo-sistema-de-producao
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Controlo de qualidade total – todos os trabalhadores, em todas as etapas da produção são
responsáveis pela qualidade do produto e a mercadoria só é libertada para o mercado após uma
inspeção minuciosa de qualidade. A ideia de qualidade total também atinge diretamente os
trabalhadores, que devem ser “qualificados” para serem contratados. Dessa lógica nasceram os
certificados de qualidade, ou ISO.
Embora possa parecer que o modelo toyotista de produção valorize mais o trabalhador do que os
modelos anteriores (fordista e taylorista), que substituiu um pouco por todo o mundo a partir da década
de 1980, tal impressão é uma ilusão. Na realidade da fábrica, o que ocorre é o aumento da concorrência
entre os trabalhadores, que disputam melhores índices de produtividade entre si. Tais disputas
sacrificam cada vez mais o trabalhador, e tem como consequência, além do aumento da produtividade, o
aumento do desemprego.
Adaptado de: InfoEscola, Toyotismo. Disponível na Interne: http://www.infoescola.com/industria/toyotismo/
AS MAIS RECENTES TENDÊNCIAS AO NÍVEL DA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
A democracia industrial
A democracia industrial, desenvolvido na Noruega, nos anos 60, tem subjacente uma crítica profunda
à forma tradicional de organização do
trabalho e de gestão das empresas nas
sociedades industrialmente avançadas.
Este programa nasceu dentro de um
espírito de concertação social quando
alguns sociólogos, empresários e
sindicalistas começaram a refletir sobre a
democracia no trabalho. Estavam de
acordo em pontos fundamentais como:
a) A participação na empresa, a
democracia no trabalho, não se
decretava;
b) Também não se podia reduzir a uma
única variável ou dimensão;
c) A sua introdução deveria começar por fazer-se a nível local e segundo um dupla perspetiva
(reformista e experimental);
d) O papel do especialista-podo-poderoso tinha de ser posto em causa;
e) As experiências deveriam fazer parte do processo de aprendizagem da democracia na empresa
(aprender fazendo);
f) As mudanças a operar teriam de ser planeadas e seguir uma metodologia participativa.
Com fracassos e sucessos, a experiência norueguesa foi rica de ensinamentos e conhecimentos para
outros países escandinavos.
Disponível na Internet: https://en.wikipedia.org/wiki/League_for_Industrial_Democracy
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Esta experiência acabaria por alargar-se à Suécia (onde houve centenas de casos), à Dinamarca e à
Holanda (Philips, por ex.). Neste último país, os sindicatos mostraram-se críticos em relação aos grupos
semi-autónomos, chamando a atenção para o risco de sobrecarga de trabalho, de pressão do grupo sobre
o indivíduo e de supressão de postos de trabalho.
A Suécia, nomeadamente, conheceu um notável surto de experiências, mais locais, mas mais dinâmicas,
de reorganização do trabalho (através da introdução de grupos semi-autónomos de produção) e de
participação dos trabalhadores na gestão da empresa, participação já não apenas baseada no direito à
informação, consulta ou protesto como sobretudo no direito a veto, à co-decisão e decisão em matérias de
fulcral importância para o futuro da empresa e dos trabalhadores.
Hoje, e nomeadamente na União Europeia, o termo novas formas de organização do trabalho
continua a suscitar interesse, curiosidade e expectativas. No entanto, a expressão é ainda mais difusa e
abrangente. O termo N.F.O.T. abrange um leque muito variado de inovações, introduzidas pelas
empresas, em sete grandes áreas:
1- Novas estruturas organizacionais (unidades de negócio orientadas para o processo; grupos semi-
autónomos de produção);
2- Métodos de trabalho mais flexíveis e menos hierárquicos (horários de trabalho mais flexíveis;
“multi-skilling”);
3- Novas culturas de empresa (maior
atenção nas pessoas, clientes, serviço
pós-venda, qualidade);
4- Novas práticas de negócio (programas
de gestão da qualidade);
5- Crescente investimento em educação
e formação (maior participação dos
trabalhadores; programas de
desenvolvimento pessoal)
6- Novas técnicas de avaliação da
performance ou desempenho (objetivas
e indicadores não-financeiros para as
equipas e para os indivíduos);
7- Novos sistemas de remuneração (participação nos lucros e no capital).
A participação nos lucros e no capital foram duas formas encontradas, nomeadamente pelas empresas
do Reino Unido sob o tatcherismo, para encorajar a identificação dos trabalhadores com a cultura da
empresa. Vulgarizada na Europa nos anos 90, contudo, a democracia económica (ou a participação
financeira) parece ter pouco a ver com as formas e o nível de participação dos trabalhadores, a nível do
trabalho e da organização do trabalho.
Mais do que formas de organização do trabalho - novas, é certo, e portanto, em rutura com um
modelo de referência ou paradigma que continua a ser o taylorismo -, as N.F.O.T. são um método, ou
melhor, devem ser vistas como parte de uma metodologia para repensar e mudar a organização do
trabalho.
Disponível na Internet: https://www.primecursos.com.br/seguranca-do-trabalho/
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A abordagem sociotécnica, a que o Tavistock Institute e o programa de democracia industrial na
Noruega e na Suécia deram um impulso decisivo, não é um manual de receitas nem se resume à pura
instrumentalidade das técnicas. Hoje continua a pensar-se, contra a corrente, que “there is no single
format or right way of doing things” ou seja, contrariamente ao que pensava F.W. Taylor, não há "one
best way" em matéria de organização do trabalho e gestão das empresas.
Se formos às origens, constatamos que a abordagem sociotécnica pretendeu sobretudo dar origem a
dinâmicas de aprendizagem e a explorar, com a participação ativa dos atores na empresa (direção, quadros,
trabalhadores, e seus representantes), a possibilidade de se criar e implementar novos valores e novas
regras de jogo que permitam o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos colaboradores e
contribuem decididamente para a melhoria da qualidade de vida no trabalho bem como da performance
socioeconómica da empresa.
Na procura da melhoria da produtividade, os empresários, os gestores e os trabalhadores terão que
ter em conta que esta não depende só dos investimentos em capital físico, em capital humano e em
tecnologia feitos pelas empresas ou pelo esforço coletivo em infraestruturas, educação, formação, I & D,
etc.. Hoje sabe-se que a produtividade diferencial depende também de outros fatores, incluindo o
desenho organizacional da empresa e a maneira como esta organiza o trabalho.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet: http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
O caso português
Em Portugal, não tem havido propriamente
lugar à experimentação (generalizada) de N.F.O.T., à
parte uma ou outra intervenção de tipo não-
tecnocrático em empresas de produção nos anos 80
e algumas tentativas de introdução de círculos de
qualidade ou de programas de sugestões nalguns
empresas, sobretudo de origem multinacional.
É certo que o nosso país não conheceu, em
devido tempo, o movimento de racionalização do
trabalho que teve, historicamente, como referência
os nomes de Taylor e Ford. A organização do
trabalho das nossas empresas foi durante muito
tempo empírica e pré-tayloriana, o que teve a ver
com as características periféricas do nosso
capitalismo industrial.
Um dos problemas que têm sido levantados pelos sociólogos é que as potencialidades das novas
tecnologias não foram (ou não estão a ser) devidamente exploradas no caso do nosso país, não tendo
grande impacto na produtividade, nomeadamente devido ao facto de, no processo da sua introdução,
continuar a dominar o modelo de determinismo tecnológico e ser baixa a participação dos trabalhadores e
seus representantes.
Trabalhadoras de fábrica de calçado Espírito Santo Disponível na Internet: http://cabresto.blogspot.pt/2013/11/exportacao-de-
calcados-produzidos-no-es.html
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Além do mais, as novas tecnologias de produção (como, de resto, as N.F.O.T.) não são
automaticamente sinónimo de melhoria das condições de trabalho.
Por condições de trabalho, deverá entretanto entender-se:
- tudo o que tem a ver com o trabalho em si (os fatores intrínsecos, associados ao conteúdo e à
organização do trabalho);
- tudo o que gira à volta do trabalhador (as demais condições materiais e imateriais de trabalho ou
fatores extrínsecos), do ponto de vista da sua incidência, não apenas negativa mas também
positiva, na saúde do trabalhador, a nível físico, psicológico, mental e social.
Em Portugal, o regime da segurança, higiene e saúde no trabalho veio apontar, aponta claramente,
para a necessidade de o empregador organizar o trabalho de modo a evitar os efeitos nocivos do trabalho
monótono e repetitivo sobre a saúde dos trabalhadores, ao mesmo tempo que institui formas de
participação dos trabalhadores e seus representantes em matéria de segurança e saúde no trabalho (por
exemplo, direito à formação e informação em
caso de introdução de novas tecnologias).
Falar de N.F.O.T. em Portugal é também
discutir a questão da centralidade do sistema
de gestão de recursos humanos (GRH). Tal
como uma equipa de futebol que tem o seu
plantel de jogadores, a empresa detém uma
certa quantidade de capital humano, que é
afinal os seus recursos mais importantes (ou
seja, um certo volume de trabalhadores,
quadros, gestores, etc., com uma determinada
estrutura demográfica, com um dado perfil de
qualificação, com diferentes necessidades e
expectativas). Esse capital humano pode aumentar ou diminuir, sofrendo todos os anos determinadas
depreciações, amortizações, reintegrações, etc., para usar termos da gíria contabilística. Isto é, pessoas que
saem, outras que entram, umas que recebem formação, outras que são promovidas, e outras ainda que
sofrem acidentes de trabalho e faltam ao trabalho, etc.
No entanto, a tendência é cada vez mais, a partir da década de 1980 e no início da década de 1990, no
sentido da compressão (e aparente desvalorização) dos efetivos, como resultado do downsizing, da
reengenharia, do outsourcing, da introdução de novas tecnologias e de novos métodos de gestão como o
lean production, o TQM, etc.
Analisando as mudanças organizacionais e tecnológicas operadas em Portugal nas duas décadas de 1970
e 1980, podemos concluir que eram ainda escassas as experiências realizadas, possibilitando a
participação dos trabalhadores e dos seus representantes por via da inovação técnica e organizacional.
Num inquérito sociológico que envolveu um universo de 198 empresas (correspondendo a 290 unidades
industriais e a uma população de mais de 115 mil trabalhadores), constatou-se que os objetivos a médio
prazo dos seus responsáveis eram, por ordem de importância, os seguintes:
1- aumento da produtividade (73%);
2- melhoria do nível tecnológico (48%);
3- crescimento equilibrado (47%);
Trabalhadoras de fábrica de automóveis Autoeuropa
Disponível na Internet: http://cabresto.blogspot.pt/2013/11/exportacao-de-calcados-
produzidos-no-es.html
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4- melhoria das condições de trabalho (35%).
Interrogadas sobre novas formas de organização do trabalho a implementar, as empresas portuguesas
tendiam a optar por processos mais convencionais de participação dos trabalhadores:
- círculos de qualidade (41%);
- comissões (paritárias) de higiene e segurança no trabalho (34%);
- enriquecimento de tarefas (ou job enrichment) (33%);
- mudança de posto de trabalho (ou job rotation) (27%);
- equipas semi-autónomas de trabalho (17%).
Novas tecnologias e organização do trabalho em Portugal Comecemos por destacar alguns aspetos referentes às novas tecnologias:
· Embora tenham vindo a aumentar
significativamente nas últimas
décadas, ainda é relativamente
reduzida a percentagem de
empresas que utilizam sistemas
informáticos associados apenas à
produção direta (máquinas-
ferramentas computorizadas,
manipuladores automáticos,
robots, etc.);
· A maior utilização de novas
tecnologias verifica-se nos
serviços de produção e
administrativos (processamento
de informação relativa a vendas e compras, salários, e ainda CAD - concepção assistida por
computador) e, principalmente, nos serviços administrativos.
Os objetivos que as empresas procuram atingir com a introdução de novas tecnologias por ordem de
importância são as seguintes:
· aumentar a produtividade
. aumentar ou manter a quota no mercado
· melhorar a qualidade
· abrir novos mercados
. reduzir os ciclos de produção
A introdução de sistemas tecnológicos avançados, para além de uma maior produtividade, precisão e
qualidade permite igualmente a flexibilização da produção de acordo com as necessidades do mercado,
nomeadamente, devido a:
· modificação frequente de modelos
· maior diversificação dos produtos
· atendimento de exigências específicas dos clientes
Disponível na Internet: http://noticias.rumonet.pt/2014/05/empreendedorismo-das-tic-em-
portugal/
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· limitação em volume e em tempo de stocks
· redução de prazos de entrega
Acontece frequentemente, não apenas em Portugal, mas também nos outros países, que as novas
potencialidades das tecnologias avançadas não são exploradas, e os resultados obtidos não compensam
o elevado custo do investimento. A desilusão
pode levar à conclusão que produzir com
tecnologias convencionais é mais rentável.
Quando os resultados ficam aquém do
esperado, a interrogação a colocar é a
seguinte: as pessoas e a organização do
trabalho foram preparadas para funcionar de
modo proveitoso com os novos equipamentos?
O exemplo de várias empresas (portuguesas
e estrangeiras) que conseguem tirar proveito
das vantagens das tecnologias avançadas
indica que, para a empresa ser competitiva,
não chega adquirir apenas novos equipa-
mentos. É também preciso introduzir formas
de organização do trabalho e formação
profissional adequadas às características das novas tecnologias. Por outras palavras, o cerne da
modernização das empresas é o desenvolvimento de uma organização de trabalho e de pessoas capazes
de explorar as novas potencialidades dos equipamentos flexíveis.
Nas empresas que introduziram novas tecnologias, existe uma certa tomada de consciência da
importância da organização do trabalho. De facto, a organização do trabalho é um dos factores
representativos das maiores dificuldades para as empresas. Os outros factores em ordem de importância
são os seguintes:
· organização existente no trabalho
· situação no mercado, concorrência
· custo de mão-de-obra e de energia
· situação financeira
· falta de empenhamento e motivações dos trabalhadores
· política económica do Estado
· nível tecnológico da empresa
O exemplo de empresas bem-sucedidas mostra que a flexibilidade operacional – tão crucial nas atuais
condições de concorrência – apenas e obtém com novos princípios de organização do trabalho, com
estruturas maleáveis e com um estilo de direção aberto à participação.
Os resultados de um inquérito realizado em Portugal junto das empresas industriais indicam,
relativamente à organização do trabalho, o seguinte:
. é muito reduzida a percentagem de empresas que utilizam novas formas de organização do trabalho
(N.F.O.T.), tais como: rotação de postos de trabalho, enriquecimento de tarefas, círculos de controlo de
qualidade ou equipas semiautónomas de produção;
. as novas formas de organização do trabalho preferenciadas em termos de implementação futura são: os
círculos de controlo de qualidade e o alargamento e enriquecimento de tarefas. As equipas
semiautónomas são as menos preferidas;
Disponível na Internet: http://www.entornointeligente.com/articulo/6134272/Mayoriacute;a-
de-empresas-informaacute;ticas-son-joacute;venes-pequentilde;as-y-esperan-crecer-en-
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. as razões indicadas para a implementação de novas formas de organização do trabalho são em ordem de
importância as seguintes:
- motivação dos trabalhadores
- aumento da produtividade
- flexibilização da mão-de-obra
- melhoria da qualidade
Pode-se notar aqui uma tomada de consciência de que a organização do trabalho existente,
frequentemente rígida, não é eficaz. A rigidez da
organi zação do trabalho pode ser caracterizada em
função das seguintes situações:
. as funções de concepção, controlo e execução são
rigidamente separadas
. as tarefas são definidas de modo rígido
. as tarefas são simplificadas com vista à eficácia
. atribui-se um posto de trabalho a um indivíduo
· as informações e decisões estão centralizadas
. mão-de-obra é pouco qualificada e especializada
apenas para certas tarefas existe supervisão da
execução das tarefas
Este tipo de organização do trabalho leva
normalmente a disfuncionamentos que implicam:
· paragens excessivas
· absentismo
· dificuldades de cooperação
. baixo nível de produtividade
· produção defeituosa
. inércia à mudança, isto é, falta de capacidade de adaptação
. rigidez de funcionamento, isto é, incapacidade de flexibilizar a produção
Por sua vez, a organização flexível do trabalho tem as seguintes características:
. divisão maleável e integração de funções de conceção, controlo e execução
. definição de tarefas de acordo com as circunstâncias e necessidades
. integração de tarefas para criar um trabalho 'completo' identificável e com resultados visíveis
. iniciativa, independência e discrição para o indivíduo programar o seu trabalho e determinar os
procedimentos na sua execução
. realização de tarefas e funções em grupos de trabalho, mão-de-obra qualificada e polivalente
. informações claras sobre os resultados obtidos no trabalho e autocontrolo
As grandes vantagens deste tipo de organização são cruciais do ponto de vista da competitividade:
. aumento do nível de produtividade
. melhoria da qualidade
. flexibilidade de funcionamento
. adaptação rápida às mudanças
Por exemplo, a informação e formação adequadas dos trabalhadores na definição dos critérios de
qualidade e a integração do primeiro controlo de qualidade no nível operacional, ou seja, a possibilidade de
Disponível na Internet:
http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/interior.aspx?content_id=3756580
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controlo sobre os fatores que influenciam a qualidade permite não apenas o aumento do interesse dos
trabalhadores pelo seu trabalho, mas igualmente a melhoria da qualidade através de um melhor
conhecimento dos critérios de qualidade e de uma capacidade de reacção rápida aos problemas que
possam estar na base de defeitos. (...)
Nas pequenas e médias empresas a organização do trabalho tem frequentemente um caráter misto,
isto é, em certos aspetos é rígida, enquanto noutros aspetos é flexível. E essa flexibilidade constitui uma
vantagem face às grandes empresas cuja organização do trabalho é mais rígida. Se as novas tecnologias
flexíveis acentuam mais a rigidez ou a flexibilidade da organização do trabalho nas PME, depende da opção
da própria empresa, uma vez que as novas tecnologias por si só não mudam a organização do trabalho. A
rigidificação ou taylorização da organização do trabalho significaria escolher um caminho errado na procura
da competitividade.
Se se optar pela maior flexibilização da organização do trabalho, a extensão de tarefas no nível
operacional exige uma formação profissional adequada, uma vez que são exigidas novas competências bem
diferentes das convencionais, de acordo com o quadro seguinte onde se comparam os dois modelos de
organização, o taylorista (ou tradicional), e o pás-taylorisla (ou flexível):
EXIGÊNCIAS DE QUALIFICAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS
Modelo Taylorista Modelo PÓS- Taylorista
· Capacidade de cumprir as tarefas prescritas
· Capacidade de realizar as tarefas simples e
repetitivas
· Disciplina e obediência às instruções
· Trabalho individualizado, isolado (espírito de
competição)
· Conhecimentos técnicos especializados e limitados
(...)
· Capacidade de iniciativa de tomar decisões e assumir
responsabilidade
· Capacidade de realizar tarefas variadas e complexas
· Capacidade de identificar e resolver problemas com base
numa compreensão global
· Capacidade de trabalhar em grupo (em equipa)
· Capacidade de adaptação às mudanças
· Nível elevado de conhecimentos técnicos
EXIGÊNCIAS ESPECÍFICAS DE QUALIFICAÇÃO NO NÍVEL INTERMÉDIO (CHEFIAS)
Modelo Taylorista Modelo Pós-Taylorista
· Capacidade de comando hierárquico
· Preparação, coordenação e controlo do trabalho dos
operadores Recolher e transmitir informações
· Conhecimentos de administração burocrática da
oficina
· Capacidade de servir de intermediário entre Direção e
operadores
· Animação, coordenação de responsabilidades
· Delegação de decisões
· Conhecimentos técnicos mais amplos
· Conhecimentos de Relações Humanas
· Capacidade de gestão da oficina
· Capacidade de desenvolver relações
interserviços
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O desenvolvimento de novas formas de organização do trabalho requer uma certa prudência e
preparação, tal como aliás a introdução de novas tecnologias. A imposição de mudanças na organização
do trabalho, isto é, a sua introdução repentina sem preparação leva à resistência e dificuldades de
adaptação dos trabalhadores. Não se trata tanto da dificuldade de os trabalhadores romperem com
certas rotinas adquiridas, mas mais do receio de pessoas não informadas e não consultadas, que se
sentem ameaçadas no seu emprego, no seu trabalho e nas suas relações de trabalho.
A preparação visa, por um lado, a formação de mudanças favoráveis à atitude pretendida da
organização do trabalho, e, por outro, a criação de capacidades de trabalharem novas formas de
organização do trabalho e com novos equipamentos. Assim, este Processo de Preparação pode incidir
sobre:
. informações em todos os níveis sobre a tecnologia e a organização pretendidas
. consulta a todos os grupos profissionais na empresa
. participação dos trabalhadores na decisão com vista a aproveitar sugestões
. formação com vista ao desempenho de novas tarefas e funções
Apenas de indivíduos informados e consultados se pode esperar que desempenhem no processo de
modernização das empresas, e quando virem garantidas a melhoria das condições de trabalho,
nomeadamente:
· melhoria no emprego
. aumento de qualificação
· aumentos salariais
· horário de trabalho mais adequado
Neste processo o papel da chefia directa é fundamental, mas, por vez, também tem de estar preparada
(informada, consultada e formada) para mudanças nas suas funções. Várias experiências para introduzir
novas formas de organização do trabalho falharam, precisamente por se ignorar o processo de preparação
da mudança.
PERFIS PROFISSIONAIS, CLASSIFICAÇÃO DAS PROFISSÕES E FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
Existe hoje uma estreita e forte
relação entre os princípios
tayloristas, por um lado, e o
estabelecimento e caracterização de
perfis profissionais e de profissões –
de extrema importância para efeitos
de certificação profissional, por
exemplo –, por outro.
Assim, a propósito do
estabelecimento de perfis
profissionais e das chamadas
profissões-tipo, podia ler-se numa
revista o seguinte: "encontramos (...)
a caracterização de dez profissões-
tipo que se reportam a 55 profissões,
Disponível na Internet: http://www.businessreviewbrasil.com.br/l%C3%ADderesempresariais/303/Os-perfis-mais-
procurados-pelas-empresas-brasileiras
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com as suas 123 tarefas devidamente analisadas num também elevado número de operações. Por exemplo,
a profissão-tipo serralheiro de tubos abarca cinco profissões, entre as quais a de canalizador, que é descrita
à custa de cinco tarefas e 38 operações".
Contudo, apesar deste tipo de caracterização e de classificação das profissões, tem vindo a surgir uma
filosofia que advoga uma formação profissional cada vez mais ampla e adaptada às necessidades de
acompanhar as rápidas mudanças que se vão verificando.
Se vivemos ainda na era dos especialistas e da especialização, nem por isso a necessidade de uma
formação integral dos indivíduos tem emergido
como um dos vetores fundamentais nas atuais
filosofias de formação profissional, facto que se
encontra ligado à consideração do estatuto e do
valor do conhecimento na sociedade
contemporânea.
Com efeito, constatamos que, nos nossos
dias, a formação de base é cada vez menos
duradoura; a velocidade com que surgem novas
tecnologias e novos perfis de formação conduz ao aparecimento de uma nova filosofia assente em palavras
de ordem, como: formar para o futuro, aprender a aprender, a desaprender e a voltar a aprender, pondo-se
agora a tónica nas competências, nas capacidades e nas atitudes e não tanto na mera habilidade para a
execução de tarefas. Fala-se hoje de sentido de cidadania e de responsabilidade, de valores, de
capacidade de reflexão e de diálogo, de espírito pluralista, de sentido crítico. Associa-se, desta maneira,
uma dimensão ética e filosófica - e não apenas técnica - ao desempenho do trabalho.
Parece, assim, que os modelos estáticos de formação deram lugar aos paradigmas do dinamismo, dos
processos abertos e inacabados, do pluralismo das perspetivas, da multiplicidade de pontos de vista e da
capacidade de lidar com situações diversificadas. Num mundo problemático e em constante
transformação, o importante é saber equacionar os problemas, avaliá-los, compreendê-los e saber viver
com eles, ser capaz de negociar e imaginar as eventuais soluções. E estas ideias parecem imprimir, de
facto novos rumos nos caminhos da formação profissional, conferindo ao fator "pessoa" e à capacidade
relacional uma nova e importante dimensão. Aliás, não será por acaso que, em plena era de massificação,
se assiste à necessidade de romper com o anonimato relacional que lhe é característico e se constate cada
vez mais a valorização da "personalização" das relações no mundo do trabalho.
Kovács, Ilona "Novas tecnologias e organização do trabalho", in Dirigir, n.º 14, Ago./Set./Out., 1990,
O QUE É UMA ORGANIZAÇÃO?
De forma clássica, caracteriza-se as organizações pelos traços seguintes:
- divisão das tarefas
- distribuição de papéis
- sistema de autoridade
- sistema de comunicações
- sistema de contribuição-retribuição.
Vejamos de que maneira são utilizados pela análise estratégica.
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A divisão das tarefas. Ela é um princípio da organização e fundamenta a diferença entre um grupo
estruturado e o que não o é, como uma multidão. Numa organização, com efeito, a divisão das tarefas
pressupõe precisão e duração. O trabalho a executar pode ser formalizado por escrito ou não, deve ser
repartido entre os indivíduos duma maneira suficientemente clara para que um não tropece no outro. É
dado para uma duração determinada àqueles que o executam. Nas empresas modernas, pode existir uma
lista das tarefas a executar afeta a cada responsável desta
tarefa.
A distribuição dos papéis. É um dos riscos principais
da definição das organizações. Cada membro da
organização vê atribuída uma tarefa, mais ou menos
definida como acabámos de o ver. Mas acrescentar que
se trata de papel significa que cada um pode executar
esta tarefa duma forma particular. A palavra "papel" que
remete para a de ator. Uma peça de teatro - pelo menos
no sentido clássico - cada ator tem um texto definido para
dizer e não deve afastar-se dele. Mas pode
interpretá-lo duma maneira particular, nenhum
ator interpreta o seu papel da mesma maneira
que outro.
Remeter para imagens de teatro a propósito da
empresa não será um paradoxo? Poderá a empresa, lugar de trabalho, reino dos constrangimentos, ser
comparada a um espetáculo? Se não pode sê-Io no seu objeto, é-o seguramente sob a perspetiva dos
papéis desempenhados. Cada um, numa empresa, sabe por experiência que, quando uma função lhe foi
entregue, nunca a cumpre exatamente da mesma maneira que o seu predecessor. Mesmo se a definição do
posto ou da função não muda, o novo titular não a executa exatamente da mesma maneira que o antigo:
há outros centros de interesse, julga diferentemente a importância das diversas tarefas contidas na
definição da sua função, em resumo comporta-se interpretando de maneira forçosamente diferente uma
função idêntica.
Dito doutra maneira, qualquer membro duma organização comporta-se como um ator, capaz - e
muitas vezes mesmo encarregado - de interpretar duma forma nova um papel idêntico.
A análise estratégica, ao chamar atores aos membros da organização, coloca o acento mais sobre a sua
autonomia do que sobre os constrangimentos objetivos que definem os seus papéis. Quaisquer que eles
sejam, não dispensam nunca o ator de escolha, e é fazendo-as
que ele orienta a política da organização.
O sistema de autoridade. O seu fim é zelar pela adequação
do comportamento do indivíduo aos objetivos que os
organizadores fixaram para a organização. Em conformidade
com o que acaba de ser dito sobre o ator e o seu papel, os
defensores da análise estratégica recusarão falar sobre os fins
da organização. Estes não existem em si mesmos, só têm vida
nas diretivas concretas dos responsáveis. Notemos de
passagem a rejeição duma filosofia comunitária e,
concretamente, o abandono dum vocabulário que invoca os
"fins comuns" da empresa. Não há fins comuns, mas os
objetivos dos dirigentes. A consequência disso é uma
dessacralização da autoridade, cujas diretivas são entendidas Disponível na Internet:
http://www.dmsempresarial.com.br/
Disponível na Internet: http://www.manutencaoesuprimentos.com.br/conteudo/
4052-etica-nos-negocios-e-responsabilidade-social/
Disponível na Internet: http://www.sbcoaching.com.br/blog/carreira/importancia-da-organizacao-
no-trabalho/
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como escolhas feitas por atores e não impostas por uma necessidade.
Acrescentemos que o sistema de autoridade funciona numa empresa com base no modelo da carreira.
Ser nomeado para uma função de autoridade não funciona por si, mas uma vez nomeado, e a função não
sendo eletiva, aquele que a ocupa, deve, depois de ter cumprido um tempo mais ou menos longo, deve
progredir na carreira.
É inconcebível que ele "marque passo". Nas
cooperativas podem funcionar modelos diferentes,
em que a autoridade "circula" entre certos do nível
hierárquico mais competente. Ao invés, o sistema que
consiste em permitir ao operário de fabricação avisar
diretamente um colega da manutenção é sem dúvida
mais flexível e mais rápido, mas obriga a arbitragens
nem sempre fáceis nos níveis mais baixos e introduz-
se sem dúvida menos racionalidade na escolha dos
meios de reparação. Os dados são diferentes em cada
empresa e cada um deverá por isso reagir de maneira
particular, mas cada responsável deve ter em mente a
importância do problema da comunicação e tratá-lo
com seriedade. Neste domínio, parece que se está muitas vezes em presença de hábitos e rotinas que
tornam difícil a solução dum problema cuja existência cada um finge ignorar. O “bom senso” ou a “ a
aprendizagem da vida” encarregam-se de suprir as lacunas.
Um sistema de contribuição-retribuição mais ou menos elaborado, que define o que os membros
devem dar e o que devem receber. Toda a questão incide aqui sobre a definição e a precisão dos termos
da troca. O direito ao trabalho prevê que o assalariado se coloque sob a autoridade daquele que o
emprega; está dependente do empregador, o qual lhe dá ordens. Em troca do que o empregador é
obrigado a pagar-lhe um salário, definido às vezes legalmente, ou convencionalmente, ou fixado consoante
o caso oralmente ou por escrito. Isto resume as relações formais ou legais entre o contributo do assalariado
(o seu tempo, as suas capacidades) e o do empregador (um salário, ordens). Mas isso não diz nada das
razões pelas quais tal assalariado se emprega em tal empresa, nem das do empregador.
Ora estas razões, estes objetivos são uma das molas do bom ou mau funcionamento duma empresa.
Porque será que tal empresa recebe um "bom" ou "mau" contributo dos seus assalariados, melhor ou pior
que uma empresa do mesmo tipo? Porque será que grupos, oficinas, sociedades “funcionam bem", e
outras menos bem? Questões aparentemente ingénuas: se uma resposta lhes fosse dada, saber-se-ia. Mas
questões que é preciso ter em tanta consideração como a própria organização. Um fracasso neste domínio
revela escolhas, um funcionamento, um sistema de relações, comportamentos, numa palavra a própria
organização e não constrangimentos externos. O fracasso ou o êxito é certamente sancionado por estes
constrangimentos, mas é o resultado da atividade do grupo humano junto na empresa organizada. É por
este lado que é preciso procurar a resposta.
O ORGANIGRAMA A empresa tem características formais cujos princípios é necessário conhecer. É um método útil
começar com o organigrama, na condição de não se ficar por aí. Com mais ou menos rigor, uma empresa
deve definir as funções de cada um, as suas relações, o papel da autoridade, etc.: quem faz o quê, quem
comanda quem, quem transmite ordens ou comunicações a quem, etc..
Disponível na Internet:
http://www.manutencaoesuprimentos.com.br/conteudo/4052-etica-nos-negocios-e-responsabilidade-social/
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Em certas empresas, as funções podem ser definidas até ao seu mais pequeno detalhe com muita
minúcia. Noutras, pelo contrário, deixa-se cada um suficientemente livre para improvisar a sua conduta
segundo as circunstâncias, ou seja pegar no trabalho que chega ou passá-Io a outro. (Caso frequente, por
exemplo, nas jovens sociedades de serviços de informática compostos de maneira relativamente
homogénea por engenheiros ou técnicos. Mas, paradoxalmente outras sociedades, também jovens e tendo
o mesmo objeto, são muito estruturadas e formalizadas.)
A organização é uma ideologia, no sentido em que as representações dos responsáveis sobre o que
devem ser as relações humanas dão rosto às estruturas. É preciso poder ler, ou pelo menos explicitar, o
lugar de cada um e a sua função. É o papel do organigrama.
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
SUGESTÕES PARA A ANÁLISE DE UMA ORGANIZAÇÃO/EMPRESA
A. Descrição global da organização
1. O produto (de forma simplificada)
Convém partir de uma descrição rigorosa do produto. Este
pode ser um produto industrial clássico, mas também um serviço
comercial ou não (gestão de valores comerciais tanto como o
funcionamento de um hospital, etc.). Descrever o circuito do
produto (movimento, matérias, informação) dentro da empresa
e/ou fora da empresa se houver intermediários exteriores na
cadeia de produção. Destacar bem as operações valorizadas
pelo meio ou pelos atores dentro da empresa.
2. Dados gerais.
Ramo, tamanho, situação jurídica, localização geográfica,
dados económicos, etc..
História da empresa, a tradição, os acontecimentos
recentes, a cultura, ou seja o sistema concreto das relações, no setor do observador ou mais amplamente
se for possível. Fusão, absorção, diversificações, etc.
As estratégias da empresa, as ameaças e oportunidades que pesam sobre o setor. As potenciais
escolhas possíveis, as que deveriam ser adotadas, as que são apoiadas por este ou aquele ator (um
decisor, o chefe, assalariados numa situação estratégica, etc.)
Assalariados: idade, sexo, antiguidade, origem, qualificação, mudanças recentes.
Sindicalismo e relações profissionais. Descrever o tipo de gestão do pessoal. Avaliar o clima social.
O mercado e a pressão da concorrência. Os elementos de variação devidos ao mercado, às tecnologias,
à mudança de organização, etc..
B. Descrição da organização formal
1. Descobrir:
- o sistema de divisão do trabalho e de repartição das tarefas. Quem faz o quê?
Organigrama, ou organograma, é a representação esquemática da distribuição dos órgãos e das funções da empresa, bem como da forma como estes se interrelacionam. Num organigrama existem vários níveis, os quais se dominam níveis hierárquicos. Os organigramas podem assumir as mais variadas representações (circular ou pendente). Existem organigramas que identificam os responsáveis pela função (nominativo) e aqueles que apenas referem a função (simples). Órgão é o conjunto dos mios materiais e humanos ligados à realização de um determinado objectivo. Relações hierárquicas são as que se estabelecem entre órgãos e que vão dando consistência à empresa / organização.
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- a definição dos estatutos e dos papeis a desempenhar, a definição das funções: a sua precisão ou
ausência de precisão.
- o sistema hierárquico.
- as comunicações.
- o sistema de contribuição-retribuição. Em
particular o sistema de sanções ou a sua ausência.
Tentar saber em que medida ele funciona.
Para descobrir estes elementos, o mais simples é de
partir do organigrama. Fazê-lo para a parte da empresa
observada pelo candidato ao processo de RVCC.
2. Analisar o circuito oficial dos procedimentos. Por
exemplo, uma encomenda ou uma entrega, ou a
execução de uma peça.
Quem deve receber o pedido, deve ou não deve
discuti-lo. A quem é transmitido (frequentemente
várias pessoas em causa)? Quem é responsável por quê? Há comunicações entre os diferentes responsáveis
pela execução? A quem é preciso dar satisfação? etc.
Fazer esta análise dos estatutos dos membros com quem interage com mais frequência. Como é que as
coisas acontecem no caso de uma substituição, de uma promoção ou de uma transferência? Quem deve
ser informado, quem deve decidir, quem é
consultado?
É sempre interessante analisar de perto o
sistema de avaliação do trabalho, o da
promoção e, eventualmente, a formação
dada, na altura de uma promoção. Com que
critérios, um superior é promovido? Há um
sistema de regras implícitas e/ou explícitas,
formas e/ou informais, permeáveis ou rígidas,
burocráticas ou não, etc.?
Há, de facto, empresas que escolhem não
ter organigrama. Se for o caso, perguntar-se
porquê? Por exemplo, numa empresa média,
de tipo paternalista, o dirigente pode preferir
ter o organigrama na cabeça e não querer
comunicá-lo.
C. Descrição do funcionamento informal.
Aqui, vamos tentar compreender como é que as coisas se passam realmente, e medir a distância entre
formal e informal.
1. Depois de ter visto os circuitos reais e conservando-os bem em mente, analisar uma relação imprevista,
por exemplo, uma encomenda não habitual, ou uma avaria excecional, etc. Ver, então, como as relações
formais são desfeitas ou não o são, o que se passa, como funcionam os sistemas hierárquicos e de
comunicação.
Disponível na Internet: http://pt.dreamstime.com/fotos-de-stock-royalty-free-organograma-image32768508
Disponível na Internet: http://sintesecba.com.br/novo2/?p=92
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Analisar um acontecimento que deu origem a uma relação conflitual. Por exemplo, ordens mal
transmitidas levando a uma má produção. Descrever como as coisas se passaram, quem arbitrou e em que
sentido.
Mostrar como, concretamente, o organigrama funciona. As disposições formais são respeitadas? E, se não
porquê? A benefício de quem?
2. Um método de aproximação desse informal pode consistir em partir das relações afetivas entre os
indivíduos e principalmente entre os grupos. Tal grupo é indiferente, agressivo e hostil, simpático
relativamente a tal outro grupo? Os julgamentos de competência cobrem verdadeiras incompetências ou o
desejo de políticas diferentes? A hipótese subjacente a esta aproximação é que uma relação de competição
que não é reconhecida formalmente, origina uma tensão muito forte que se traduz por uma grande
agressividade: esta não é, então, utilizada como o indicador de uma afinidade natural mas como o
indicador de uma relação de poder.
D. Os trabalhadores e o sistema.
Afinal de contas, tratar-se-á de
descrever a empresa ou o setor, em
termos de sistema e de sistema
interdependente. O que,
concretamente, significa descrever
como, através de que ajustamentos,
através de que conjunto de regras
formais e informais se resolvem os
problemas quotidianos da empresa.
1. No início, fazer uma lista dos
atores. Mas os atores não são, forçosamente, pessoas físicas individualizadas. Um ator pode ser um serviço
ou uma equipa ou uma secção sindical ou um grupo de pessoas. Se queremos analisar o conjunto, é preciso
fazer listagem exaustiva dos atores (mais uma vez, no setor observado). Se queremos analisar uma ação (tal
decisão ou tal mudança), só devemos fazer a listagem dos atores que nela participaram.
Tentar definir os seus objetivos e as suas apostas. Os objetivos são os fins que eles se propuseram
atingir e que podem ser explicitados dentro da organização. A aposta é o que o ator pode esperar ganhar
ou perder com a ação que desenvolve, e a importância desse lucro ou dessa perda para ele. Por exemplo, o
objetivo pode ser realizar uma determinada produção difícil, o objetivo pode ser realizar uma determinada
produção difícil, num tempo recorde e com uma qualidade superior, enquanto a aposta pode ser a
valorização do serviço, de um equipamento novo do qual se quer comprovar a rentabilidade.
2. As relações entre os atores e as suas alianças constituem sistemas de ação concretos. Determiná-las.
Podemos, de novo, utilizar o organigrama, lá descrever as relações afetivas, a seguir as comunicações
concretas e, portanto, as relações. Trata-se, portanto, de mostrar o funcionamento real da empresa, quer
seja harmonioso, quer conflitual.
3. Os atores impõem-se numa estratégia de poder, quando controlam uma zona de incerteza, esta é
uma zona de decisão mal definida ou que ainda não estabilizou ou cujo funcionamento habitual é posto em
questão.
Disponível na Internet: http://www.cncursosmt.com.br/
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É necessário, portanto, defini-las. Pode tratar-se da introdução de uma inovação tecnológica, de uma
nova máquina, ou de pôr em causa as regras de funcionamento. Por exemplo, a introdução da utilização da
informática, ou de uma máquina com comando numérico; ou a criação de um novo setor, num serviço, etc.,
que modifica os estatutos, os papéis e consequentemente, a repartição do poder.
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
GESTÃO: O NOVO FASCISMO
As histórias falam de medo, de isolamento, humilhação, perda de autoestima, de sentido e de
identidade, falam de morte.
Nos últimos 20 meses, houve
25 suicídios entre os empregados
da empresa francesa de
telecomunicações
France Telecom. O último foi
na semana passada, mas o caso
já estava há semanas nas páginas
dos jornais (desde o vigésimo
suicídio) e já tinha desencadeado
uma vaga de condenação, à
medida que se iam tornando
conhecidos pormenores sobre as
condições de trabalho da
empresa e as histórias pessoais
dos suicidas, além de se ter sabido da existência de várias tentativas de suicídio frustradas.
Num clima de crescente indignação, as centrais sindicais francesas marcaram para hoje “uma jornada de
luta” na France Telecom para exigir medidas “suscetíveis de modificar de forma durável e profunda a
organização, o conteúdo e as condições de trabalho” na empresa e instaram os trabalhadores “a agir de
todas as formas” possíveis para mostrar a sua recusa das condições de trabalho desumanas a que são
submetidos.
Apesar de tudo isto, aquilo que sabemos das condições de trabalho e da chamada “gestão dos recursos
humanos” na France Telecom não parece diferente, em essência, daquilo que se passa em milhares de
outras empresas.
A própria France Telecom tem aliás referido, em sua defesa, que a percentagem de suicídios é a normal
e que o elevado número é de esperar numa empresa de 100.000 trabalhadores. Onde o spin é mais difícil
de aplicar é nas mensagens deixadas por alguns dos suicidas, onde o ambiente desumanizado da empresa e
a pressão colocada sobre os trabalhadores é responsabilizada diretamente.
As histórias que ficámos a saber sobre a France Telecom nos últimos dias são terríveis: trabalhadores
obrigados a mudar constantemente de posto e de funções contra sua vontade em nome da
“flexibilidade”; a quem são impostos objetivos irrealistas e que são penalizados por não os atingir;
destruição sistemática de equipas de trabalho e do espírito de equipa em nome da “adaptabilidade”;
empregados que se vão buscar à casa de banho porque ultrapassaram os dez minutos da pausa-chichi;
esquemas de “autoavaliação” que apenas servem para intimidar os trabalhadores e para os obrigar a
reconhecer que falharam e a aceitar penalizações; total ausência de discussão ou sequer de explicação
Disponível na Internet: http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-economia/47014-nova-vaga-de-suic%C3%ADdios-na-france-telecom.html
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dos objetivos da empresa, sempre impostos de cima; pessoas mantidas isoladas por medidas de
“mobilidade” que destroem as relações pessoais entre trabalhadores; obrigadas a competir com os
colegas para evitar a “redundância” e o despedimento; com medo da delação dos colegas e das punições
dos capatazes, desconfiadas.
As histórias falam de medo, de isolamento, de humilhação, de perda de confiança, de ausência de
solidariedade, de perda do gosto no trabalho, de perda de autoestima, de sentido e de identidade, falam
de morte. E, no entanto, repito, nada disto é novo, nada disto é diferente. Cada vez mais as empresas se
parecem mais com isto, cada vez mais este discurso da competitividade desumana ganha direito de
cidade, cada vez mais o stresse e o burnout se consideram como o preço justo a pagar pelos elos mais
fracos da cadeia, cada vez mais o discurso da “aposta no capital humano”, da “promoção da criatividade”
e da “prioridade à inovação” esconde uma prática esclavagista, desumana, repressiva, atentatória dos
direitos, da liberdade e do espírito humano.
Cada vez mais as empresas são exemplo de uma prática ditatorial, esmagadora das liberdades, da
crítica, da expressão e dos indivíduos que, se acontecesse cá fora, na rua, no espaço público, todos
julgaríamos inaceitáveis. Dentro da empresa, em nome da competitividade ou por medo do desemprego,
aceitamos o fascismo.
Malheiros, José. Publicado no jornal Público em 2 de outubro de 2009
RAREFAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA
O desenvolvimento das tecnologias de
informação e de comunicação, a terciarização da
sociedade e a globalização conduziram a a1terações
no mundo do trabalho. A sociedade pós-industrial
tem sido marcada pela crescente desindustrialização.
O setor secundário, em consequência da automação
industrial e da informatização, tem visto o número
de operários diminuir. Além do mais, a
deslocalização das empresas nacionais e trans-
nacionais tem contribuído para aumentar o
desemprego industrial. As transformações ocorridas
com a liberalização do mercado de trabalho são
também responsáveis pelo fim da ideia de "emprego
para a vida". Os trabalhos temporários e precários,
sem garantia de segurança social, generalizaram-se
no mundo laboral, cada vez mais flexível.
A sociedade pós-industrial, fortemente
terciarizada, assenta essencialmente na produção de
serviços e de informação, sendo frequentemente
denominada de "sociedade de conhecimento". o
operário, no sentido herdado do século XIX, é uma
figura social cada vez mais rara.
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da História 12.º ano. 2015. Porto: Areal Editores
A desindustrialização
A classe operária está a desaparecer rapidamente na Grã-Bretanha, segundo um inquérito (...). Quando questionados para se identificarem com uma classe social, apenas 24% disseram pertencer à classe operária, contra 67% no final da década de 80 (...). A maior parte das pessoas da classe operária sente-se cercada [...]. Sentem pouco orgulho em pertencer à classe operária (...). "Pertencer à classe operária costumava ser uma escolha - 0 trabalho manual, o trabalho honesto, o ser-se despretensioso, jogar futebol. Agora, pertencer à classe operária significa ser pobre (...). O estudo sugere que a classe operária perdeu a sua ênfase no discurso político, nas últimas décadas, pois parte-se do princípio de que todos querem ter uma vida de classe média. (...) Os elementos da classe operária descrevem os políticos como "miúdos ricos da classe média". Os Trabalhistas são vistos como a "esquerda caviar", os Conservadores são "exatamente o mesmo, mas com uma cor de fato diferente", e os Liberais Democratas "dizem qualquer coisa para chegar ao poder". [...] As mudanças no mercado de trabalho minaram toda a solidariedade da classe operária [...]. "Agora já não existem sindicatos" (...). A emigração, especialmente da Europa Central, é responsável pela redução dos salários. "Não há sindicatos porque há muitos estrangeiros a trabalhar no país. Eles trabalham por cêntimos. Estão a matar a força de trabalho britânica.
John RentouL, "Threatened, isoLated, under siege: the UK's
working class today",
The Independent, 10 de janeiro, 2015 (tradução adaptada).
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O TELETRABALHO
A disseminação de tecnologias de informação, a rápida evolução no domínio das telecomunicações e
a crescente concorrência e competitividade entre empresas, levam a que estas procurem cada vez mais
obter vantagens competitivas sobre os concorrentes, acompanhando as tendências de descentralização
decisional, relocalização da produção, reengenharia de processos e redução de custos. A adopção do
teletrabalho poderá ser uma medida importante para facilitar o alcance destes objectivos por parte das
empresas.
O teletrabalho poderá ser entendido como um modo flexível de trabalho, cobrindo várias áreas de
atividade, em que os trabalhadores podem desempenhar as suas funções remotamente a partir de casa
ou de um local de trabalho (telecentro), numa determinada percentagem dos seus horários de trabalho.
As telecomunicações e as tecnologias de informação constituirão cada vez mais ferramentas indispensáveis
no desempenho do trabalho remoto, quebrando barreiras geográficas e permitindo a partilha de
informação num ambiente eletrónico disperso.
A possibilidade de uma pessoa poder
trabalhar em casa ou noutro sítio qualquer
através de um terminal móvel, ou ainda num
telecentro comunitário local (através do qual
os recursos tecnológicos e organizacionais
são partilhados por um grupo de
utilizadores) perto da residência, evita um
gasto diário financeiro e de tempo em
transportes, com benefícios ambientais
evidentes, e permite a flexibilização total do
horário de trabalho para que se estabeleça
uma melhor integração com os restantes
aspetos da vida de cada um.
O teletrabalho pode ser, no entanto, um meio de precarização do emprego, caso não veja associados
meios cautelares de promoção da segurança na relação de trabalho. Pode igualmente potenciar o
isolamento dos indivíduos, e há que encontrar uma solução eficaz para que essa forma de trabalho possa
ser negociada e estudada nas suas diferentes dimensões.
Será necessário, por conseguinte, encontrar meios de regulação destas formas de trabalho, de modo a
evitar os efeitos negativos que elas podem
produzir quando forem aplicadas de modo
indiscriminado e sem controlo. A adoção
deste novo regime de trabalho pelas
empresas está ainda longe de poder ser
massificada, quer pelos custos das
tecnologias envolvidas, quer pela falta de
perceção dos benefícios que poderão advir
da sua implementação como uma prática
corrente nas empresas. Uma
sensibilização, no seio das empresas e dos
trabalhadores, das vantagens que o
teletrabalho poderá trazer, obviará
certamente a essa falta de perceção.
Imagem disponível em: http://casadaconsultoria.com.br/carreira-e-vida-
pessoal-impactos-do-teletrabalho/
Imagem disponível em: http://www.caiocesarferreira.com.br/culpa-e-
mesmo-da-segunda-feira/
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Por outro lado, os custos envolvidos nesta transição estão em constante redução. Torna-se importante,
nesse sentido, ganhar algum contacto e experiência com o teletrabalho antes de se tomarem posições
radicais de adoção ou de recusa perante esta evolução dos métodos de trabalho.
Hoje está relativamente demonstrado que, com a
implementação do teletrabalho, as empresas podem
alcançar maiores níveis de eficiência e flexibilidade, bem
como redução de custos, nomeadamente em instalações e
logística, permitindo um aumento global da
competitividade. De facto, com uma percentagem de
empregados a trabalhar remotamente, a empresa poderá
passar a dispor de instalações de menor dimensão, ao
mesmo tempo que poderá implementar sistemas rotativos
de trabalho nas instalações, por exemplo a não distribuição
fixa de secretárias pelos seus empregados. Por outro lado,
a qualidade do trabalho é melhorada, uma vez que os
teletrabalhadores poderão alcançar elevados níveis de
concentração, nem sempre possível no local habitual de
trabalho, acusar menos fadiga, uma vez que não se
deslocam, e ter a possibilidade de gerir o seu próprio
tempo, escolhendo os seus horários e períodos mais
produtivos.
O teletrabalho poderá funcionar como um estímulo importante no desenvolvimento económico e
tecnológico das empresas, sobretudo nas de pequena e média dimensão, que desta forma poderão
competir melhor com as empresas maiores que não optem por métodos de trabalho inovadores, mais
flexíveis e económicos. Por outro lado, o teletrabalho será também fundamental como um pólo
descentralizador dos locais tradicionais de trabalho, concentrados nos grandes centros urbanos.
A prática de teletrabalho numa empresa poderá também representar um modo de conseguir manter
empregados qualificados, como por exemplo mulheres em período pós-parto, que podem necessitar de
maior tempo em casa e com a família (crianças e/ou idosos), ou, em geral, quadros retidos em casa, por
razões de doença ou familiares. Com a implementação do teletrabalho, as empresas conseguirão também
melhorar as funções de recrutamento de empregados e
criar novas oportunidades de emprego incluindo cidadãos
com deficiências, o que lhes poderá trazer incentivos
fiscais importantes. Por outro lado ainda, o teletrabalho
poderá ser utilizado para formação dos empregados,
permitindo à empresa maximizar o retorno de
investimento em ações de formação.
A adoção do teletrabalho permite ainda a uma
empresa dispor de uma reserva de força de trabalho
potencial, em que é possível reunir rapidamente equipas
para objetivos específicos e pontuais, potencialmente
compostas por trabalhadores altamente qualificados e
dispersos geograficamente. A constituição destas equipas com recurso a redes de teletrabalho poderá ter
custos muito inferiores aos resultantes da concentração geográfica e temporal, no modelo tradicional.
Imagem disponível em: http://portal.tjsc.jus.br/web/sala-de-imprensa/-/projeto-experimental-do-teletrabalho-
alcanca-bons-resultados-em-primeira-analise
Imagem disponível em: http://dinokasmonteiro.blogspot.pt/2012/02/teletrabal
ho.html http://dinokasmonteiro.blogspot.pt/2012/02/teletrabal
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O teletrabalho poderá também tornar possível a uma dada empresa uma recuperação mais rápida de
situações impeditivas de utilização das instalações habituais, como sejam desastres naturais, condições
climatéricas bastante adversas, greves de transportes, etc. Por outro lado, uma empresa com teletrabalho a
nível internacional conseguirá ultrapassar problemas resultantes.
A introdução do teletrabalho nas empresas está bastante relacionada com a disponibilidade de meios de
telecomunicações e tecnologias de informação, bem como com a capacidade da sua utilização por parte
dos trabalhadores. Parece assim natural que
sejam empresas nos setores das tecnologias
de informação e dos serviços, bem como
trabalhadores por conta própria, os
primeiros a aderir a práticas de
teletrabalho.
No entanto, as empresas deverão avaliar
e ponderar um conjunto de questões antes
de passarem a práticas de teletrabalho. Na
verdade, apesar de algumas das vantagens
mencionadas, o teletrabalho pode conduzir
a dificuldades na gestão e supervisão dos
trabalhadores remotos por parte dos
gestores e chefes atuais, a um sentimento de isolamento desses trabalhadores, bem como a uma
afetação da relação empresa/trabalhador.
Por outro lado, o teletrabalho poderá, para uma parte dos trabalhadores, ser sinónimo de actividades
temporárias e contratos a prazo, o que poderá levar a tensões nas relações de trabalho.
No domínio ambiental, o teletrabalho pode ter impactes benéficos, pois pode ser encarado como uma
fonte redutora de poluição, uma vez que reduzirá as deslocações diárias dos trabalhadores aos seus locais
de trabalho, ao mesmo tempo que conduz a diminuições significativas ao nível do congestionamento do
tráfego urbano.
As tarefas naturalmente mais indicadas para serem desempenhadas em regime de teletrabalho são
aquelas que dizem respeito ao manuseamento, processamento, transformação e disseminação de
informação. Exemplos de empregos clássicos em regime de teletrabalho são, por exemplo, a consultoria em
geral, consultoria em tecnologias informáticas e
programação, teleformação, ensino à distância,
planeamento, controlo e consultoria financeira,
publicidade, vendas, marketing, secretariado,
tratamento de texto, edição eletrónica, contabilidade,
agências de emprego, atendimento a clientes, entre
outros. É possível também criarem-se “centros de
teletrabalho locais” orientados para o autosserviço ou
para o trabalho comunitário.
O teletrabalho corresponde a uma importante
ferramenta de que as empresas poderão dispor no
contexto da Sociedade da Informação, em que cada vez
mais o acesso e troca de informação e o domínio das tecnologias de informação se tornam fundamentais e
sinónimos de vantagem competitiva. No entanto, as práticas de teletrabalho deverão ser gradual e
devidamente introduzidas no tecido empresarial, devendo haver uma ponderação e divulgação dos
benefícios tangíveis e não tangíveis, a fim de evitar situações disruptivas e prejudiciais, quer para as
Imagem disponível em: http://prorelp.blogspot.pt/2010/10/o-rapaz-chegou-para-
entrevista.html
Imagem disponível em: http://www.trabalhenasuacasa.com.br/tag/oportunidades-de-trabalho/
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empresas quer para os trabalhadores.
Um papel decisivo na introdução do teletrabalho deverá ser desempenhado pelo Governo, responsável
pela regulamentação e legislação, que deverá clarificar ou alterar a sua posição de forma a apoiar a adesão
ao teletrabalho, nomeadamente através da implementação do teletrabalho na Administração Pública. O
Estado, como grande empregador localizado predominantemente nos centros das grandes cidades, deve
ser o grande motor, da implantação do tele- trabalho como instrumento de desenvolvimento regional e de
melhoria das condições de vida nas Regiões metropolitanas, contribuindo ainda para reduzir as
necessidades em pesados investimentos, em infra-estruturas de transportes, parqueamentos, etc.
In TIC – Cadernos Técnicos. Associação Industrial do Minho [Consultado em 2015-10-05 15:23] Disponível na Internet
em: http://www.aiminho.pt/imgAll/file/Manuais/TIC.pdf, Adapatado
DECLÍNIO DA MILITÂNCIA POLÍTICA E DO SINDICALISMO
A sociedade contemporânea tem sido marcada por um afastamento cada vez maior dos cidadãos face
à política. São mú1tiplas as causas deste fenómeno. Há quem considere que não foram os cidadãos que se
afastaram da política, mas esta que se distanciou dos cidadãos. A atenuação de diferenças ideológicas
entre partidos políticos tem
contribuído para uma falta de
consciencialização ideológica e
política. A lógica eleitoralista,
tendo em vista a ocupação de
cargos políticos, com pouco
sentido de Estado e de serviço
à Nação, mas antes em nome
de interesses pessoais e
económicos, tem levado a que
a opinião pública olhe com
desconfiança para os políticos
e, em especial os mais jovens,
revelem desinteresse pela
política.
O eleitorado tem cada vez
mais dificuldade em
estabelecer as diferenças entre
a direita e a esquerda, ou seja, sobre as opções políticas em presença, com base em princípios ideológicos e
programáticos, claros e distintos. A ausência de definição de ideologias sólidas e o apelo ao voto útil têm
contribuído para a crescente descredibilização dos partidos e das eleições. As crises económicas resultantes
das políticas neoliberais e da globalização da economia provocaram desigualdades sociais e dificuldades
que os sistemas político-partidários nacionais têm sido incapazes de resolver, por inoperância, dificuldades
internas ou pelo facto de que muitas decisões são hoje, na era da globalização, condicionadas por
instituições supranacionais. O incumprimento de promessas eleitorais, a elaboração de programas vagos,
os escândalos e a corrupção que envolvem políticos, bem como a ausência de sentido de Estado
contribuem também para a alienação dos cidadãos face à vida política.
Imagem disponível em: http://ephemerajpp.com/2014/04/08/cgtp-manifestacao-de-activistas-
sindicais-lisboa-8-de-abril-de-2014/
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O sindicalismo conheceu um forte declínio, em grande medida devido às transformações laborais
decorrentes do neoliberalismo e da globalização. A terciarização da sociedade, a precariedade do
trabalho e os contratos temporários, a diminuição dos contratos coletivos de trabalho, a revisão da
legislação laboral e as regras da concertação social têm conduzido a uma perda de peso dos sindicatos e a
um decréscimo da sindicalização. Os trabalhadores vêem os sindicatos como instituições que não têm
eficácia na defesa dos seus interesses. De outro modo, os altos salários de determinados trabalhadores
leva-os a não se reverem na luta sindical como meio de melhoria das suas condições de trabalho e de vida.
Por tudo isto, tem-se assistido, no mundo ocidental, ao declínio da militância política e sindical.
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da História 12.º ano. 2015. Porto: Areal Editores
A PERDA DE PESO DOS SINDICATOS EM PORTUGAL
Portugal tem hoje a terceira mais baixa taxa de sindicalização da Europa dos Quinze, remetendo quase
para o esquecimento os tempos em que os
sindicatos chegaram a ser o elo mais forte nas
lutas de poder com os primeiros e frágeis
governos do pós-25 de Abril. Fervores políticos à
parte, a sua força tinha uma razão de ser: entre
1979 e 1984 os sindicatos representavam 1,7
milhões de trabalhadores, ou seja 59% da força de
trabalho. Hoje, só representarão 1,165 milhões, de
acordo com 0 observatório europeu das relações
laborais, o que quer dizer que, em pouco mais de
20 anos, perderam meio milhão de associados. (...)
De acordo com um estudo, de 2004 da
Comissão Europeia, a taxa de sindicalização dos
trabalhadores portugueses era de 24,3% em 1997, só acima da espanhola (15,7%) e da francesa (9,8%). E
muito abaixo da dos países nórdicos, que oscilava entre os 75% os 82%. As explicações para tão drástica
alteração do panorama só podem ser encontradas nas não menos expressivas mudanças do mundo laboral,
da economia, da política e da sociedade, que, entretanto, mergulhou na União Europeia. A força sindical
tinha as suas raízes mais fortes, para lá da
administração pública - onde ainda se mantém -, nas
empresas estatais e nos setores industriais. Uma
realidade que se alterou tanto com as privatizações
dos anos 90, e a generalização da lógica de gestão pri-
vada, como com o gradual declínio da indústria. E são
as atividades de mão de obra intensiva, que requerem
laboração contínua, como os industriais, que dão mais
margem de manobra aos trabalhadores na hora de
medir forças para atingir objetivos.
Hoje os serviços absorvem 57,5% da população
empregada, sendo que entre 1998 e 2005 os
indicadores mostram que o emprego se reduziu na
indústria transformadora a uma taxa média anual de 2,3%. Na indústria têxtil a redução foi ainda mais
Carlos Silva, presidente da UGT. Imagem disponível em:
http://rr.sapo.pt/noticia/36648/ugt_demarca_se_da_opiniao_do_seu_lider_sobre_governo_de_esquerda
Arménio Carlos, presidente da CGTP. Imagem disponível em: http://www.diarioliberdade.org/portugal/laboral-economia/32175-
marcha-contra-o-desemprego,-13-de-outubro-
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expressiva, da ordem dos 4,5%. E na agricultura verificou-se, na última década, uma quebra de 20 pontos
percentuais da população empregada. Se a estes indicadores juntarmos o facto de a estrutura empresarial
portuguesa ser dominada por pequenas e muito pequenas empresas e de os contratos a prazo estarem em
grande crescimento, pode concluir-se que "estas características afetam negativamente os sistemas de
representação de interesses, tanto dos trabalhadores como dos empregadores", como sublinha o Livro
Verde das Relações Laborais.
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da História, 12.º ano. 2015. Porto: Areal Editores
A CRISE DOS SINDICATOS É UM PROBLEMA DE TODOS
Segundo um relatório recente da OCDE, a proporção de trabalhadores sindicalizados em
Portugal caiu de 60,8% em 1978 para 15,3% em 2016. É a segunda maior queda entre os países
analisados. Há quem veja nestes dados um sinal de crise profunda do sindicalismo português, de
que os sindicatos e os seus dirigentes seriam os primeiros responsáveis. São conclusões
apressadas.
Há três dados que importa juntar àqueles para tornar este debate útil. Primeiro, em 1978 a taxa
de sindicalização em Portugal era quase o dobro da média da OCDE (60,8% versus 34%), sendo de
longe a mais elevada do sul da Europa e só tendo paralelo nos países escandinavos. Segundo, mais
de metade da queda registada desde 1978 aconteceu na década de 1980, tendo-se registado uma
estabilização do rácio na primeira década do século, seguida de uma nova descida a partir de
2012. Por fim, apesar da queda, a taxa de sindicalização em Portugal mantêm-se próxima da
média da OCDE (15,3%
versus 16,3% em 2016),
só tendo passado a ser
inferior a partir de
2014.
Em conjunto, os
dados apresentados
mostram que os
problemas do
sindicalismo não são
recentes, nem são um
exclusivo português.
Sugerem também que
as dinâmicas sindicais em Portugal na última década resultam de fatores que ultrapassam o
âmbito estrito dos sindicatos.
Há várias tendências internacionais que ajudam a explicar a queda nas taxas de sindicalização
nas economias mais avançadas: a desindustrialização, o crescimento das formas atípicas de
trabalho, a desregulamentação das relações laborais, ou a pressão concorrencial de países com
níveis reduzidos de salários e proteção dos trabalhadores. Todos estes e outros fatores dificultam
a capacidade de organização e de mobilização dos sindicatos, ao mesmo tempo que reduzem o
seu poder negocial.
Imagem disponível em: https://controversia.com.br/2017/02/01/licoes-da-crise-do-sindicalismo-dos-eua/
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Os fatores referidos permitem explicar as tendências observadas sem necessidade de recorrer a
argumentos mais costumeiros, como o individualismo reinante na sociedade contemporânea ou a
falta de capacidade das estruturas sindicais para responder aos novos tempos. Não é que estes
problemas sejam falsos - eles existem e colocam desafios acrescidos ao sindicalismo. Mas convém
lembrar que a capacidade de intervenção dos sindicatos não existe no vácuo.
A última década em Portugal - e noutros países do Sul da UE - ficou marcada por um aumento
drástico do desemprego, por uma maior precarização dos vínculos contratuais e pela perda de
eficácia da negociação coletiva, em resultado das alterações à lei laboral de 2012 (em particular, o
princípio da caducidade dos contratos coletivos de trabalho). Todos estes fatores retiraram ainda
mais poder de intervenção aos sindicatos e reduziram a sua capacidade para fazer a diferença na
vida das pessoas.
Os defensores da desregulação do trabalho olham para os sindicatos de forma desconfiada,
vendo-os como fonte de ineficiência (por quererem impor salários desalinhados com os níveis de
produtividade) e até de iniquidade (caso o aumento de salários nos setores com maior densidade
sindical se reflita em maiores desigualdades intersetoriais e em desemprego persistente).
Esta visão, que foi maioritária entre economistas durante muito tempo, tem vindo a ser
questionada por três motivos relacionados. Primeiro pelo reconhecimento crescente de que em
muitos mercados de trabalho os empregadores detêm um poder negocial que empurra os salários
para níveis injustificadamente baixos. Segundo, porque a ação dos sindicatos tem um impacto
relevante no combate às desigualdades de rendimentos por diversas vias, como
vários estudos têm vindo a confirmar. Por fim, porque é hoje cada vez mais claro que a
desigualdade de rendimentos tem um efeito prejudicial no crescimento económico.
Não surpreende, por isso, que o reforço da contratação coletiva e/ou do poder dos sindicatos
seja hoje uma preocupação no seio de várias organizações internacionais - não apenas
na Organização Internacional de Trabalho, mas também no FMI e na OCDE.
Há, com certeza, desafios internos que se colocam à ação dos sindicatos e aos quais os seus
dirigentes têm de conseguir responder: a dificuldade de atração de novos membros, a fraca
participação dos membros atuais, a organização dos trabalhadores precários, entre outros. Em
muitos casos isto pode ter de passar por mudanças como o reforço da democracia interna, da
transparência e prestação de contas, da presença nos locais de trabalho, da independência face
aos partidos ou do recurso a novas formas de comunicação.
Não menos importante é a necessidade de reforçar a atenção e importância que os partidos
atribuem ao movimento sindical em Portugal. As dificuldades do sindicalismo não são um
problema exclusivo dos sindicatos. A resposta a essas dificuldades também não.
Ricardo Paes Mamede Publicado no diário de Notícias em 11 de fevereiro de 2020
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