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Supervisão - Sobre comportamento e cognição

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Como terapeuta, tenho procurado me submeter à avaliação do outros profissionais,a fim de verificar se as conseqüências obtidas com as mudanças de comportamento dosmeus clientes estão ocorrendo em função dos meus comportamentos como terapeuta, e quais deles. Como supervisora em clínica a necessidade de conseguir compreender melhoro meu comportamento como terapeuta se torna ainda mais premente, pois preciso "ensinar"a "fazer". Esta é uma tentativa de descrever e explicar o que eu faço.

Do ponto de vista psicopedagógico, considera-se o processo ensino-aprendiza-gem como uma interação entre professor e aluno, com o objetivo de produzir mudanças nocomportamento do aluno, mas esta é uma afirmação vaga, que precisa ser melhor explicada.Em primeiro lugar precisamos definir o que é ensinar e o que é aprender. De acordo comos nossos conceitos tanto ensinar como aprender são comportamentos.

Para Skinner (1964) o termo comportamento refere-se à atividade dos organismos(animais, incluindo o homem) que mantém intercâmbio com o ambiente, e para se teruma formulação adequada das interações, entre um organismo e seu meio ambiente devemos especificar três coisas: (1) a ocasião na qual a resposta ocorre; (2) a própria

resposta e (3) as conseqüências reforçadoras. As relações entre elas constituem o queele denominou como as contingências de reforço.

Em 1989, Skinner nos permite esclarecer melhor nossa definição quando diz:

"A modolaçâo oporante e a auto-observação quo ela facilita parocom sercaracterísticas exclusivamente humanas.

Quando a musculatura vocal da espécie humana ficou sob controle operante, as pessoas se tornaram capazes de dizer e demonstrar a outrem o que fazer."

(Skinner 1989, p 46)

Podemos então definir: ensinar como comportamento operante humano, queocorre numa interação entre uma pessoa e outro organismo (animal ou homem). Levando-se em conta a relação, o que ó necessário à explicação de qualquer comportamento,temos que explicitar as conseqüências. Fazendo isso, temos uma primeira definição doprocesso ensino-aprendizagem: Ensinar é comportamento que tem como conseqüência ainstalação ou desenvolvimento de comportamento de aprender.

Para melhor compreensão desta relação, de acordo com Botomé, existem duas

palavras que costumam ser usadas para denominar o processo ensino-aprendizagem quesão: aptidão e habilidade. Elas são substantivos que devem ser transformados em verbos,podendo ser substituídas por: fazer com facilidade e eficácia. Desta maneira podemostraduzir a palavra ensinar como uma classe de comportamentos, que tem como função (edeverá ter, portanto, como conseqüência) a instalação ou desenvolvimento de outra classede comportamentos que chamamos de aprender, que por sua vez deverá ser traduzido pordesempenhar ou fazer, com facilidade e eficácia.

Definido desta forma o processo, podemos dizer que um Supervisor de Clínica sóestará se comportando adequadamente, se estiver tendo como conseqüência de seucomportamento a instalação ou desenvolvimento de uma classe de comportamentos, deseu aluno, que o permita fazer com facilidade e eficácia. Mas, fazer o quê?

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Skinner se refere ao uso dos métodos científicos da ciência do comportamento hu-mano na prática da psicoterapia, dizendo: “A coleção dos fatos ó o primeiro passo em uma análise científica. Demonstrar as  relações funcionais é o segundo". (Skinner ;1953, p.348)

Ele já nos indicou o caminho: a análise funcional é o instrumento básico de qualquer

analista do comportamento. Reconhecer a importância, no entanto, não é saber usar o instru-mento. Ele também assinalou a dificuldade de se fazer isso, quando diz que o comportamentohumano é, talvez, o objeto mais difícil dentre os que já foram alvos dos métodos da ciência,mas que sua complexidade não deveria nos desanimar. Talvez por isso ainda não tenhamosmodelos satisfatórios de como fazê-la, em situações não experimentais.

Na prática clínica o comportamento do terapeuta diferentemente do de um pesquisador,ocorre em função da demanda de seu cliente. Ele vem com uma queixa que precisa ser resolvi-da. A interação ocorre e os passos do processo dificilmente podem ser definidos a priori, comonum processo de pesquisa em laboratório, na qual a função específica é produzir conhecimento. Por isso é difícil separá-los e explicá-los, o que geralmente só pode ser feito depois de suaocorrência. Quando um terapeuta faz e descreve uma análise funcional do comportamento parao seu cliente, ele produz uma contingência que poderá funcionar como estímulo discriminativo,para que ele possa manipular variáveis das quais seu comportamento é função.

De acordo com Matos:

“Uma análise funcional nada mais ó do que uma análise das contingónclas responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse comportamento (sejam eles comportamentos problemáticos - como quebrar vidraças-, ou acei-

táveis - como estudar para o vestibular)." (Matos, M. A., 1999)

O terapeuta é uma pessoa que se comporta, está sob o controle de estímulos damesma forma que o seu cliente. O principal fator que coloca um terapeuta em posiçãomelhor que seu cliente é o desenvolvimento de seu repertório de análise funcional, o fatode que ele não está respondendo ás mesmas contingências que seu cliente e não tem amesma história de reforçamento.

Levando-se em conta que é tarefa de um supervisor criar contingências que pro-movam condições de instalação ou desenvolvimento de classes de comportamentos de

seus alunos, que permitam um fazer fácil e eficaz, bem como as enormes dificuldadesenvolvidas no fazer análise funcional num contexto clínico, somente dar o modelo (fazerpelo aluno) não é suficiente. Quando um terapeuta traz para a supervisão um caso clínicoé como um cliente que traz para a sessão terapêutica suas dificuldades. Cabe a umsupervisor em primeiro lugar, tentar fazer a análise funcional do comportamento do terapeutacom quem ele está interagindo no momento e também ajudá*lo a fazer a análise funcionaldo comportamento do cliente, de quem o terapeuta está falando. Num terceiro momento,tentar modelar o comportamento, operacionalizando o processo.

Fazer uma análise funcional é tentar identificar a função de um comportamento. É

fazer uma pesquisa de variáveis das quais este comportamento é função. Na análise

2 Ó 0 I <ii7 H . S. hmfirci

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funcional uma causa è substituída por uma mudança na variável independente (V.l.) e umefeito é substituído por uma mudança na variável dependente (V.D.). A análise funcionaltenta responder à questão: À que uma pessoa está respondendo (V.l.) quando se compor-ta de determinada maneira (V.D.).

De acordo com Matos ( 1999):

"Cinco passos sâo básicos para a realização de uma análise funcional do com-portamento.

1. Definir precisamente o comportamento de interesse.

2. Identificar e descrever o efeito comportamental.

3. Identificar relações ordenadas entre variáveis ambientais e o comportamento de inte-resse. Identificar relações entre o comportamento de interesse e outros comportamen-tos existentes.

4. Formular predições sobre os efeitos de manipulações dessas variáveis e desses ou-tros comportamentos sobre o comportamento de interesse.

5. Testar essas predições.”

No primeiro passo, definimos o episódio comportamental total e procuramos iden-tificar as respostas públicas ou encobertas. No segundo, identificamos e descrevemos osestímulos conseqüentes. No terceiro, os antecedentes e as relações ordenadas entreeles. É neste ponto que se apresenta a grande dificuldade de se fazer análise funcional do

comportamento, num contexto clinico. Em comportamentos complexos as respostas nãoapresentam correspondência ponto a ponto com os estímulos.

 A este respeito Catânia (1998/1999) se refere a Esteves (1971):

“Em seres humanos mais maduros, uma grande parto do comportamento instrumental e mais especialmente, do comportamento verbal está organizado em rotinas de ordem superior e é, em muitas instâncias, melhor entendido em termos de operação de regras, principios, estratégias e similares, do que em termos de sucessões de respostas a estímulos particulares... Nessas situações, é a seleção de estratégias, mais do que a seleção de relaçòes particulares a estímulos, que ó modificada pela experiência passada com conseqüências reforçadoras ou punitivas.” (Catânia, 1999, p. 172)

Quando uma pessoa se comporta ocorrem generalizações, discriminações eequivalência de estímulos, que não sáo processos do organismo e sim relações funcionais entre condições de estímulos e distribuição de respostas. São estas as relações quebuscamos identificar neste terceiro passo. Para fazer esta identificação, os Estímulos

 Antecedentes devem ser desmembrados em: História de Reforçamento, EstímulosContextuais, Estímulos Condicionais e Estímulos Discriminativos.

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O Diagrama fica assim:

HlstòfttMi tie

VtiU

l;.»tl<mili>«

Anle»eilentcn

V I

1'ithmilon(tin te «luma

(tm il iaonai*

K cupom« *

1’llltllVIU r I lKotlCTllU< -------->

CoiuictjUcntm

V 1) V I.

rmlmuliM

Dmrimmmivd»

Os passos 4 e 5 não fazem parte do diagrama, serão descritos depois, pois sópoderão ser dados a partir da análise funcional (são conseqüências dela).

 A descrição que se segue ó referente a uma sessão de supervisão na qual aterapeuta relata para o supervisor o caso de atendimento de seu cliente, numa primeirasessão. Deve-se, portanto levar em conta que as hipóteses que são levantadas nas aná-lises feitas, necessitam depois ser testadas para que possam ser validadas, ou não.

Dados do Terapeuta

F. é do sexo feminino, 28 anos, havia terminado seu mostrado em psicologiaclínica e já atuava como terapeuta há três anos. Havia se casado há sete meses e

mudado para sua cidade de origem onde começa a atuar profissionalmente. Fazsupervisão desde que começou a trabalhar em clínica. Traz para a sessão o primeiroatendimento do um cliente, que lhe foi encaminhado por seu marido. O marido do terapeutaó um profissional jovem e promissor na cidade e tem relações profissionais com o cliente,que lhe relatou estar passando por dificuldades, o que resultou no encaminhamento.

Relato do caso

O relato do caso é a descrição verbal do terapeuta, feita na sessão de supervisão:

 A cliente é arquiteta, bem sucedida, tem 44 anos, ó casada há 19 anos, tem doisfilhos, um menino de 16 anos e uma menina de 14 anos. Inicialmente, a cliente afirma quefaz terapia há cinco anos e percebe que não está resolvendo. Diz que já viveu metade desua vida e quer que a outra metade seja diferente, precisa de um tipo de terapia direta, queaponte caminhos e não fique trabalhando "no mundo das idéias".

M. conta que sua vida está desestruturada, que não tem mais nada. Afirma quenunca gostou do marido, que se casou por conveniência e há três anos não tem qualquerinteração com este, embora morem na mesma casa. Diz que deixou o quarto e atualmentedorme num colchonete no quarto do filho. Reclama que não pode ver TV a cabo, pois umafica no quarto do marido e a outra é monopolizada pelos filhos (parece não ter afeto pornenhum dos filhos).

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M. demonstra extrema ansiedade na sessão, diz que havia tomado Olcadil e quetoma freqüentemente, não consegue dormir sem tomar calmante, se acorda tem pensa-mentos aterrorizadores.

 A cliente afirma que o que mais a incomoda é que apaixonou-se por um homemcasado, com quem tem um caso há dois anos. Ela começou a freqüentar a Companhia

 Atlética e o conheceu lá. Desde então se encontram, no local duas vezes por dia. Ele tem38 anos, segundo ela, tem uma esposa loira de olhos azuis e mesmo assim "mantémesse relacionamento paralelo" (a cliente embora seja bem cuidada, não parece mais umamenininha). M. afirma que este homem é um galinha, que já teve outros relacionamentosextraconjugais e que a vampiriza, mas é a única coisa reforçadora em sua vida. O problemaó que ele a reforça intermitentemente, marca um programa e só quer conversar. Ela ficalouca, porque quer mesmo é ir pra cama, já que nunca se relacionou bem com o ex-marido. "Não sei o que acontece, eu estou em forma, faço de tudo e ninguém quer transarcomigo". M. afirma que não quer que ele largue da esposa, apenas que ele a procure commais freqüência para relacionamento sexual.

 A cliente também queixa-se de não ter amigos, não ter com quem sair. A únicaamiga que tem é bem mais velha que ela e a reprime (a cliente é criticada por esta amigae pela própria mãe por ter "mania de grandeza", querer sempre andar com pessoaselitizadas). De fato M. parece ser extremamente exigente, diz que tem um senso estéticomuito apurado e por isso odeia pobreza, negros etc. Acha um absurdo a amiga ter umCorsa, que é um carro chinfrim.

Enfim, ela queixa-se que não tem como conseguir outros homens concorrendocom mulheres mais novas, acredita que os que não estão casados são tranqueira (semcurso superior, sem dinheiro, sem cultura, feios, barrigudos...).

Sobre a história de vida, M. conta que morava em Vitória, a família era de classemédia, tinham sempre carros novos, mas a mãe sempre a boicotava, dizendo que ela nãodevia andar com os filhos de médicos, que deveria andar com gente de classe mais baixa."Tudo o que eu desejava a minha mãe dizia que não era para mim, que eu deveria aspirarmenos" (M. acabou se casando com um médico).

Procedimento do terapeuta

Eu disse a ela (foi difícil, ela não parava de falar) que ela estava vivendo uma situa-

ção muito aversiva, já que tinha perdido muitas coisas. Afirmei que tudo continuará semsaída se ela não variar o próprio comportamento. Por exemplo, em casa. Questionei o fatode ela dormir com o filho, sugeri transformar a sala de TV num quarto (já que ela disse queo apartamento que pretende comprar só fica pronto daqui um ano e meio e que pagaraluguel, nem pensar). M. afirma que não pode fazer isso, que tiraria o espaço das criançase que a situação da moradia é suportável, desde que ela tenha outra coisa para animá-la.

 Afirmei que o cara com quem ela tem um caso é um manipulador e o melhor seriaela encontrar outra pessoa, começar a freqüentar a academia em outros horários, diferen-tes dos dele. Ela afirma que gostaria de lutar por ele, mesmo que depois chegue á conclu-são que não era o que ela queria (ela costumava manipular os rapazes dessa forma na

 juventude). Sobre mudar o horário da academia, ela afirma que isso atrapalharia o seutrabalho.

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Sugeri que ela venha duas vezes por semana, pra trabalhar com relaxamento, jáque a ansiedade é extrema. Ela concordou, embora tenha achado caro.

Senti que as poucas dicas que eu dei foram refutadas por ela. Ao mesmo tempoque ela quer que aponte caminhos, parece ter sempre urna resposta pra manter a situaçãocomo está. O que eu poderia sugerir pra ela conseguir novos amigos, aumentar o

repertório? A auto-estima dela é baixíssima...Para operacionalizar a análise ela deverá ser colocada dentro do diagrama na

seqüência indicada:

3° Passo

1° Passo 2" Passo

Rcuposlns Islii/ltilosPúliliais c l;nu>hcrtiifi ( '<msci|ilcntcs

V I ) <   -------->

1 2

Análise funcional do comportamento do terapeuta (F.)

1° Passo: Respostas públicas e encobertas

Vamos definir como comportamento de interesse o comportamento de F., queocorreu durante a sessão de supervisão, que são descrições de seu comportamento edo cliente, durante a primeira sessão de atendimento.

• Respostas que formam uma classe de comportamentos, cuja função é fazer análisedo comportamento do cliente:

"Eu disse a ela (foi difícil, ela não parava de falar) que ela estava vivendo uma situação

muito aversiva, já que tinha perdido muitas coisas. Afirmei que tudo continuará semsaída se ela não variar o próprio comportamento."

"Afirmei que o cara com quem ela tem um caso é um manipulador..."

• Respostas que formam uma classe de comportamentos, cuja função é ofereceralternativas para alterar contingências:

"Questionei o fato de ela dormir com o  filho, sugeri transformar a sala de TV num quarto (já que ela disse que o apartamento que pretende comprar só fica prontodaqui um ano e meio e que pagar aluguel, nem pensar)."

"...e o melhor seria ela encontrar outra pessoa, começar a freqüentar a academia emoutros horários, diferentes dos dele."

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• Respostas que tem como função alterar a contingôncia (ambiento intorno privado) docliente e que faz parte da mesma classe de comportamentos anterior:

"Sugeri que ela venha duas vezes por semana, pra trabalhar com relaxamento, já quea ansiedade é extrema."

• Respostas de descrição de comportamentos encobertos (sentimentos e pensamentos):

"Senti que as poucas dicas que eu dei foram refutadas por ela. Ao mesmo tempo queela quer que aponte caminhos, parece ter sempre uma resposta pra manter a situaçãocomo está."

O pensamento é uma avaliação de que seu próprio comportamento não produziuas conseqüências esperadas.

Os sentimentos, como foram desencadeados por frustração podem serinterpretados como de raiva, medo, angustia, etc. (Isto é discutido com o cliente).

• Respostas que tem como função de mando para o supervisor, que teria como conseqü-

ências mudar suas próprias contingências, a fim de alterar o comportamento de seucliente:

"O que eu poderia sugerir pra ela conseguir novos amigos, aumentar o repertório? Aauto-estima dela é baixíssima..."

2° Passo: Estímulos conseqüentes

Identificar e descrever estímulos conseqüentes.

- Diante das análises e sugestões de F. o cliente:

"M. afirma que não pode fazer isso, que tiraria o espaço das crianças e que a situaçãoda moradia é suportável, desde que ela tenha outra coisa para animá-la."

"Ela afirma que gostaria de lutar por ele, mesmo que depois chegue á conclusão quenão era o que ela queria..."

"... ela afirma que isso atrapalharia o seu trabalho.” (mudar horário da academia)

"Ela concordou, embora tenha achado caro." (relaxamento)

Todas as respostas do cliente têm função de esquiva 

3° Passo: Estimulos Antecedentes

Tentar identificar os Estímulos Antecedentes para fazer a análise funcional, iden-tificar as relações, ou seja, tentar responder à questão: A que estímulos F. estava respon-dendo quando se comportou daquela maneira?

3.1. Histórico de vida (histórico de reforçamento de F.):

F. é jovem, formada há três anos, trabalha como terapeuta e faz mestrado. Na sessãofaz análises pertinentes. Estes dados demonstram que é uma pessoa com bom repertório

teórico nas que não se sente suficientemente segura de suas intervenções. O fato de fazer 

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supervisão há trôs anos, demonstra seu empenho em desenvolver um bom trabalho. O supervisortambém tem dados anteriores que demonstram que F. ó uma pessoa exigente consigo mesmae muito responsável. O comportamento de F. na sessão confirma estes dados: diante dadificuldade com a cliente, F. vai procurar ajuda na supervisão (não se esquiva). Repertóriodesenvolvido de seguir regras e de lidar com contingências (seguir suas próprias regras).

3.2. Estímulo Contextuai:• Está trabalhando como terapeuta, em sua cidade de origem há pouco tempo;

Nesta situação (mudança do ambiente profissional), manter clientes parece ter umvalor reforçador especial, ou seja, isto poderia ser também considerado como uma OperaçãoEstabelecedora;

- O seting terapêutico, ou seja, a situação específica que determina a função do comporta-mento do terapeuta, ou seja, atender às demandas do cliente.

3.3. Estímulo Condicional:

• Condição sócio econômica do cliente que ó uma pessoa com boa posição na cidade o quede várias maneiras pode interferir no desempenho do terapeuta. Pode ser um estimulo quesinaliza tanto reforçador como aversivo, na medida em que o terapeuta "precisa estar aaltura do cliente". Pode ser um estímulo que sinaliza reforçador, na medida que pode lhetrazer novos encaminhamentos;

• Características do encaminhamento. O terapeuta estará respondendo também ao seupróprio marido, que encaminhou o cliente.

3.4. Estímulo Discriminativo:

• Todo o relato do cliente sobre suas dificuldades;

• Comportamento ansioso do cliente na sessão;

 Atenção especial às falas:

(mando) “...precisa de um tipo de terapia direta, que aponte caminhos e não fique trabalhando “no mundo das idéias".

"...diz que havia tomado Olcadil e que toma freqüentemente, não consegue dormir semtomar calmante, se acorda tem pensamentos aterrorizadores."

"...foi difícil, ela não parava de falar..."

Com esta identificação podemos formular hipóteses a respeito das funções docomportamento de F. (4“ Passo)

- Ela esteve sob controle dos estímulos descritos, mas respondeu principalmente aos Estí-mulos Condicionais, ou seja, respondeu à si mesma (aos seus próprios motivos) e não àdemanda do cliente. Isto fica claro no fato de que usa seu referencial teórico topografica-mente adequado, mas não funcionalmente adequado, ou seja, não produz as conseqüên-cias desejadas e que o estimulo discriminativo que controlou foi o mando inicial do cliente:"preciso de uma terapia..." e não à descrição da queixa ou comportamento ansioso nasessão.

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Com esta análise funcional, F. pode ter conhecimento da funçáo de seu própriocomportamento e tentar alterar as contingências, para conseguir conseqüências maisreforçadoras. (4o Passo)

Análise funcional do comportamento do terapeuta

3° Passo

Kstlmulos 

Anlcccdcnte.s  

V I

Histórico de Vidti: 

I ormada há 3 anos;

Hom repertório teórico; 

lixiHcntc, responsável.

hstimulos ( ontextuais: 

Trabalha em clinica lui ^ anos,

- Setinu terapêutico

Kstinuilos ( ’oiulicionais:

- ( 'ondiçtko sociocconftmica e 

características do cliente,

- Marido encaminhou o cliente.

Istlmulos Discriminativos. 

Mando do cliente,

Relato do solhmcnto,

( 'omportaincnto ansioso do  

cliente.

1° Passo / v.i). 2° Passo

I Analisa o

comportamento do

cliente;

Respostas de

2. Oferece alternativas; esquiva do cliente

V Keuçóc*. corporais

de ansiedade.

Análise funcional do comportamento do cliente (M.)

1° Passo: Respostas públicas e encobertas

Unidade de análise - comportamento do cliente na sessão.

Respostas descritas (públicas e privadas)

• Relato de seu relacionamento com homem casado que está se esquivando;

“A cliente afirma que o que mais a incomoda ó que apaixonou-se por um homem

casado (...) marca um programa e só quer conversar"• Relato de sentimento de que ele é a única coisa reforçadora na vida dela;

"M. afirma que este homem é um galinha, que já teve outros relacionamentos extra-conjugais e que a vampiriza, mas ó a única coisa reforçadora em sua vida"

• Relato de reações corporais de ansiedade;

"(...) diz que havia tomado Olcadil e que toma freqüentemente, não consegue dormirsem tomar calmante, se acorda tem pensamentos aterrorizadores"

• Relato de que tenta se manter em forma física mas que isto não está sendo suficiente

para produzir reforçadores;

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“Não sei o que acontece, eu estou em forma, faço de tudo e ninguóm quer transar comigo"

• Comportamento ansioso na sessão.

“(...) ela não parava de falar”

2° Passo: Estimulos Conseqüentes

• Sentimento de que está perdendo o amante;

• Percepção da dificuldade em atrair outros homens "reforçadores";

• Sentimento de baixa auto-estima;

• Sentimentos de frustração, raiva e impotência diante da situação, descritos como senti-mentos de ansiedade e angústia.

3° Passo: Estimulos Antecedentes

3.1. Histórico de vida (História de Reforçamento):

• Repertório afetivo pobre: com marido, filhos, familiares e amigos, tanto descritos nainfância, como atualmente;

• Baixo repertorio social;

• Regras sobre relacionamento social e afetivo, que demonstram que, para ela, os estímulosreforçadores são: posição social, aparência e poder econômico;

• Sentimento de menos valia como pessoa e nenhum valor reforçador para estímulos afetivos;

• Única estratégia encontrada para conseguir reforçadores na classe de comportamentosde sedução e sexualidade.

3.2. Estimulo Contextuai:

• Fase da vida: Idade do cliente, baixo repertório de relacionamento afetivo com o marido ecom os filhos adolescentes, e social.

3.3. Estimulo Condicional:

• Aparência física do cliente que embora bem cuidada não parece mais uma "menininha";

Como, pela história de reforçamento, a estratégia para conseguir reforçadores enfocaos atributos físicos, ela sente como se estivesse perdendo com o tempo (e está), a possibilidade de continuar  a consegui-los da mesma maneira;

Tem também um repertório muito pobre para conseguir novos reforçadores, quealiado à esquiva do amante, pode ser também considerado como Operação Estabelecedora,que faz com que este reforçador (o amante) passe a ter um valor tão aumentado que ela

o descreve como se fosse sua última possibilidade (reforçadora).

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3.4. Estímulos Discriminativos:

- Amante está se esquivando de relações sexuais.

Análise funcional do comportamento do cliente

3o Passo

iNlimuloH

Anleccifcnlcs 

V I

Histórico de Vida 

KeperliSrio afetivo pobre, 

Unix«) irpcrtíSno social, 

IU 'kihs  c prccimccitoH.

listlmulos Contextuais 

I iihc (lii vidu, idade, 

rclacioniiiiwntoK *oci*l e 

atctivo.

I .Nllimiliis Condicionais

- Sua aparência tlmca

I n II i ih i Io h   D i s c r i m i n a t iv o *

- r s i | i i i v i i t io a m a n t e

1° Passo / v.i). 2° Passo

1 Kelucinnanicnlo 1 Kcnlmicnto ilc i|iic onIA

com homem casado, pcrdctulo o Miimnte,

que CNtá k c

ettquiVHiulo,2. Dilïculdiule em atruir 

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2. SciUimcnto de que "rclurviidori-.s".

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rclorvmlorH cin suu 1 l la ixa Mulo-cMiiina,

viiln.4. Sentimento dr 

1 Kcuv<Vx corporaiH uiiNirdade c angimlia;

de aiixicdadv5 IlUHCll llT Iip ill

Análise das relações (4° e 5° Passos)

O cliente continua se comportando diante da nova situação (não é mais jovem eestá perdendo o amante) com o mesmo repertório que sempre usou para conseguirreforçadores, mas nestas condições o repertório não esta sendo funcional, ou seja, ela nãoestá mais tendo as mesmas conseqüências que tinha antes, pois as contingências mudaram.

Diante dessa situação sente-se em “desamparo" e vai em busca de ajuda (terapia).

O reforçador pra ela ó homem casado com mulher bonita que, seja rico, bem-sucedido e que queira se relacionar sexualmente com ela (talvez a função seja de esquivade enfrentar as novas contingências).

Função de procurar a terapia:

• Conseguir meios para manter o amante, ou seja, estratégias para obtor as mesmasconseqüências, diante da mudança nas contingências.

Previsão do comportamento do cliente:

• Dificuldade de manter este amante;

• Dificuldade de conseguir reforçadores desejados;

• Dificuldades de aprender a buscar reforçadores diferentes.

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Em termos de operações de regras, princípios e estratégias, este cliente (M)busca reforçadores tipo sexuais. Como nâo mantém vínculos reais com estas pessoascom as quais se relaciona, estes reforçadores só funcionam como tal durante a conquista,por isso, ela precisa sempre de mais uma relação e outra, parecendo que tem umanecessidade sexual exarcebada. Como está perdendo com o tempo os atributos necessáriospara continuar conseguindo estes reforçadores, vai se sentindo em desamparo. A buscapor uma "terapia direta que aponte caminhos”, como ela diz, é uma busca para encontraruma "fórmula mágica" para voltar a ser, como quando tinha 20 anos, ou seja, mudar umacontingência que não dá para ser mudada, como esquiva de mudar o seu própriocomportamento. É isto que ela deseja do terapeuta. Já o terapeuta, sob controle das suascondições, o que torna muito reforçador manter este cliente, usando seu referencial teórico,faz analises certas (pois verdadeiramente essa pessoa está em sofrimento por estar vivendouma situação muito aversiva, precisa variar seu próprio repertório, e aprender a buscarnovos e diferentes reforçadores), mas isto para este cliente é muito difícil e não é isto queo cliente busca no momento. Com sua baixa resistência à frustração ela deseja reforçadoresimediatos (repertório desenvolvido em esquema de reforço contínuo) por isso o uso freqüente

da medicação que abaixa a ansiedade imediatamente. Se continuar assim, possivelmenteaumentará ainda mais a freqüência do uso da medicação. Não tem repertório de comportar-se até conseguir reforçadores que se mantenham (reforço intermitente), por isso as esquivasdiante das alternativas oferecidas pelo terapeuta. Pelo menos na área das relaçõesinterpessoais. Pode ter repertório deste tipo desenvolvido na área profissional, já que éuma arquiteta bem-sucedida.

Em termos de previsão, pelo menos neste momento, dificilmente este cliente semanterá em terapia, mas pela sua dificuldade em formar e manter vínculos, dificilmenteo terapeuta conseguirá fazer um vínculo com ela, possivelmente se for investigado,

poderemos verificar que ela deve ter trocado de terapeutas, da mesma maneira quetroca de parceiros sexuais. Talvez só tenha mantido o relacionamento com este amantepor dois anos, pois já estava percebendo sua dificuldade em conseguir outros.Provavelmente ela deverá procurar outras estratégias formas, como por exemplo, cirurgiasplásticas, a fim de continuar conseguindo os mesmos reforçadores, sem mudar seucomportamento, até que talvez aumentado o sofrimento, ela venha a buscar uma terapiano sentido de tomar conhecimento da função de seus comportamentos e encontrar meiospara mudar suas contingências.

Referências Andery, M. A. P. A., Micheletto, N., & Serio, T. M. A. P. (2001). Análise Funcional na Análise doComportamento. In H. J. Guilhardi (Org.), Sobre Comportamonto e Cognição. Expondo a Vari-abilidade, Vol. 8 (1 st ed., pp.148-157). Santo André: ESETec Editores Associados.

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7/21/2019 Supervisão I

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