Suplemento Limites

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Limites 16h45 Um horário para ficar na memória Página 02 Sinais O professor que dá um show utilizando apenas gestos Página 04 Era uma vez... Uma serra, um pé de acerola e um coqueiro Página 06 Suplemento do Jornal Laboratorial InfoCampus - Edição 1 - Março de 2014

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Uma proposta de abordagem humanizada sobre os deficientes físicos e sensoriais de Barra do Garças

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Limites

16h45Um horário para ficar na memória

Página 02

SinaisO professor que dá um showutilizando apenas gestos

Página 04

Era uma vez...Uma serra, um pé de acerolae um coqueiro

Página 06

S u p l e m e n t o d o J o r n a l L a b o r a t o r i a l I n f o C a m p u s - E d i ç ã o 1 - M a r ç o d e 2 0 1 4

Certo dia, Surama, uma jovem de 16 anos, foi dormir. Quando acordou notou que algo estava diferente. Ela havia perdido a visão do olho esquerdo. Assustada, se fechou em seu próprio mundo, terminou com o namorado e não quis saber de nada. Além do apoio emocional, a família a levou para morar no Rio de Janeiro em busca de tratamento para curar a sua visão. Após dois anos, ainda na cidade, Surama descobriu que a visão do olho direito também estava prejudicada e que uma cirurgia deveria ser feita logo. Os médicos alertaram que se não operasse perderia a visão, mas existia o risco de que mesmo assim, poderia ficar completamente cega. A cirurgia deu certo, mas ela só enxergou por mais 15 dias. Sua retina descolou e naquela época não havia recursos para solucionar esse problema.

Adaptação“Não é fácil para um ser humano acordar sem estar enxer-gando. Mas, eu creio muito em Deus, Ele me deu muita força e eu superei”, recorda ela, agora com 43 anos, casada e mãe de dois filhos.Surama que é natural de Aragarças - GO, deixou o Rio após perder totalmente a visão e foi para um colégio para cegos em Goiânia - GO, onde ficou por sete meses. Lá, aprendeu o Braille, além de outras atividades como o tricô, o crochê, es-cultura de argila e a fazer tapetes de barbante. Em 1º de agosto de 1988, voltou para a sua cidade natal. No mesmo período, um jovem de 25 anos ficou sabendo de uma menina que havia perdido a visão e que, por coincidência, fre-quentava a mesma igreja que ele. Imediatamente se interes-sou por ela. Essa jovem era Surama Ribeiro da Silva Santos. O rapaz era João José dos Santos Filho, natural de Cícero Dan-tas – BA e conhecido em Barra do Garças como Joãozinho.Ele brinca que teve muito trabalho para conquistar Surama. O primeiro obstáculo foi conseguir encontrá-la, então a solução foi anunciar o nome de sua paixonite no rádio. “Ele é louco!”, diz Surama em tom brincalhão, ao recordar o acontecido. Não deu muito certo, então o jeito foi pedir ajuda ao pas-tor, que teve receio de que Surama não fosse gostar, já que para ela tudo ainda era recente. Assim, o primeiro encontro do casal demorou cerca de dois meses para acontecer e foi na casa de sua tia.

“Olha Surama, eu não tenho telefone em casa, mas tem o telefone do meu vizinho, se você quiser me ligar”. Foi o que João-zinho disse a ela no primeiro dia em que se encontraram.

16h45Este era o horário combinado em que Sura-ma ligava para Joãozinho todos os dias. Como ele não tinha telefone em casa, ela telefonava para ele em uma farmácia. Era só dar o horário, que Joãozinho corria até lá, para não perder a chance de conversar com a sua paquera. 17 dias depois do primeiro encontro, Joãozinho resolveu dar o próximo passo na relação:- Surama... Você quer namorar comigo? Não precisa me dar a resposta agora. - Se você quiser a resposta agora, eu te dou!- Não! Pensa, você vai me dar uma resposta melhor e eu também não quero arriscar a nossa amizade por isso, se você não quiser namorar comigo. Enquanto esperava a resposta, Joãozinho mal imaginava que o primeiro encontro dos dois havia sido marcante para Sura-ma. Ela conta que quando foram se des-pedir Joãozinho pegou em sua mão, e não esquece de ter ficado sentindo o toque da mão de seu futuro marido até o dia seguinte.Depois de uns dias Surama retornou a li-gação:- Eu vou na tua casa, te dar a resposta...O sim veio no dia 29 de outubro de 1988 e eles, finalmente, começaram a namorar.

‘Eu não mudaria uma vírgula da

minha vida’

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O casamento

Quando faltavam 9 dias para completarem 2 anos juntos, Joãozinho e Surama se casaram. No começo os pais deles ficaram assustados, pois achavam que não daria certo por serem deficientes visuais.A insistência do casal valeu a pena, tanto que estão juntos há 23 anos e essa foi uma das datas mais especiais na vida de Surama, que recorda emocionada: “Um dos dias mais felizes da minha vida foi no dia em que eu me casei. Uma das coisas que eu mais queria era ter me visto de noiva”. Antes do casamento, Surama passou por um teste proposto por Joãozinho. Uma semana antes, com os olhares atentos da mãe e da irmã, ela preparou sozinha a refeição na casa onde iriam morar e, como era esperado, a comida saiu devidamente bem feita.Como toda dona de casa, Surama quis organizar cada cômodo do novo lar. Ajudou a lavar a casa, pediu para colocarem as coisas nos lugares em que queria e guardou toda a louça nos armários.

FilhosApós três anos de casados, Joãozinho e Surama tiveram o primei-ro filho, Alisson, hoje com 20 anos e depois de um ano nasceu Alif, o caçula de 19. Quando ainda eram bebês, Surama recebia o auxílio da mãe e da irmã durante o dia, e a noite ela e o marido cuidavam das crianças. Hoje, a relação de Surama e Joãozinho com os filhos é bem tranquila. Além da ajuda com os afazeres domésticos, os filhos também auxiliam na escolha das roupas. Surama faz a opção do modelo e deixa que os filhos decidam a cor. Quando vai cortar o cabelo, ela avisa o jeito que prefere e os meninos escolhem o corte final, que combine com a mãe.

SonhosAo relembrar o passado, Surama afirma, convicta, que não mudaria nada do que aconteceu em sua vida. “De tudo que eu passei, se fosse para eu passar de novo, eu não mudava uma vírgula da minha vida. Eu perdi a minha visão, mas eu despertei outros lados”, revela Surama.Seu grande sonho é ter os filhos Alisson e Alif for-mados. Joãozinho diz que gostaria de ter um car-ro, pois os filhos possuem carteira de habilitação. De todos os sonhos que o casal possui, voltar a enxergar não é um deles. “Eu nunca vi o mundo, mas pelo o que eu es-cuto das pessoas, ouço na televisão e tudo mais, se fosse para mim escolher hoje, eu não teria vontade de enxergar. Porque tem muita maldade”, explica Joãozinho. Surama tem o mesmo pensamento e confessa: “Eu não me arrependo de nada do que eu tive depois que eu perdi a visão também”.

Dia a diaUm dos hobbies de Surama é assistir novelas mexicanas. Todas as tardes, ela deita em seu sofá, pega o controle e liga a televisão. Surama é uma noveleira, não perde um capítulo e até comenta com as visitas sobre o que está acontecendo em tal cena. Como já enxergou um dia, ela ouve atentamente o que os atores dizem e imagina o que está acontecendo na trama.Nas tarefas domésticas, Surama até conta com a ajuda dos filhos, mas é ela quem faz a maior parte das coi-sas, já que os meninos estudam e trabalham. Para fazer o almoço, ela já sabe a quantidade certa de cada ingre-diente. Utiliza, por exemplo, um copo americano como medida para preparar o arroz. Pelo som da fritura ela sabe que o alho já está dourando. Para facilitar o preparo de alguns alimentos, Surama tem alguns aparelhos. Um deles é uma máquina fritadeira sem óleo, na qual ela prepara frango e batata frita. A cozinha também tem um microondas, uma máquina de assar pães e um multi-processador. Surama já se acostumou a usá-los e faz isso com facilidade. Depois que perdeu a visão, ela apenas teve que se adaptar a nova rotina.No grupo católico São Pedro, do qual faz parte há 8 anos, Surama ajuda pessoas carentes e participa de reuniões sema-nais, em que ocorrem orações e a leitura da Bíblia. Ela e os outros participantes se juntam todo mês para comprar uma cesta básica e entregar a famílias neces-sitadas. No 1º domingo de cada mês, o grupo oferece um lanche no asilo da ci-dade.Como toda mulher vaidosa, Surama também cuida da aparência. Toda sema-na ela tira um dia para fazer as unhas. Quando está disposta a sair, vai ao salão, se não já tem uma amiga manicure que a atende em casa.

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Da sala de aula para o mundo

#OINÍCIO

Olha só, imagine a cena: você está andando na rua e, de repente, alguém começa a falar com você em uma língua que não entende nada. Você ficaria meio confuso, né?! Agora imagine uma pessoa que usa só as mãos para con-versar. Seria tão confuso quanto na primeira situação. É isso o que acontece com os brasileiros que se expressam através da Linguagem Brasileira de Sinais, ou Libras.

A Libras também é a profissão de algumas dessas pessoas, como o professor Paulo Ricardo Campos. Ele tra-balha na UFMT em Barra do Garças e, por incrível que pareça, dá aula para 8 cursos! Paulo nasceu com perda de audição profunda. Hoje, depois de ter passado por treinamentos, escuta 30% com o ouvido direito.

Por curiosidade, nos matriculamos em Libras para entender melhor esse universo. Durante 3 semanas assisti-mos as aulas que eram separadas entre teoria e prática. Na sala, o professor contou um pouco sobre a história da linguagem de sinais, suas aventuras em outras culturas, sempre com um toque de humor.

Logo na 1ª aula, ele já tinha conquistado os quase 40 alunos. Antes do encerramento, Paulo resolveu fazer uma brincadeira: dividiu a turma em duas e fez uma versão diferente do telefone sem fio. Ao invés de os alunos repe-tirem a palavra, eles demonstravam através dos sinais. Foi bem divertido e quebrou o gelo da sala.

Pena que não pudemos continuar com as aulas, mas 2 meses depois, voltamos para terminar esta reportagem. ;)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

#CHUVA

Era uma quarta-feira inusitada para os alunos do campus. Caía uma chuva super forte. Ela trouxe muita bagunça. #MEDO

O telhado de nossa biblioteca caiu e nos deixou assustadas. Quando a chuva diminuiu, fomos até o bloco de Letras, já pensando que não ia ter aula do Paulo.

Para a nossa surpresa, assim que entramos na sala vimos 12 alunos esperando a aula começar. Eram 7 e pouco da noite. Paulo parecia estar preocupado porque sua intérprete Mariene ainda não tinha chegado.

Antes dela chegar, Paulo resolveu começar a aula sozinho. Nessa hora, a sala já tinha uns trinta alunos, que não tiveram problemas para entender e fazer o que o professor pedia. =D

Paulo ensina o uso das mãos na comunicação em Libras

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

#LUGARES

Paulo gosta de conhecer culturas e lugares novos, por isso, não é fácil achá-lo em casa. O professor, que é de Santo Ângelo - RS, conhece vários lugares como MT, SC, PR, MS, MG e a capital Brasília, além de já ter viajado para Argen-tina, Paraguai e Uruguai (viajado, hein?).

Faz 8 anos que ele viaja sem parar e diz que isso faz parte da identidade e da cultura de quem possui deficiência auditiva. Para eles é importante estar em contato com pes-soas portadoras de deficiência de outras regiões. É igual aos sotaques que variam de um lugar para outro, a Libras também tem gírias próprias de cada estado.

Faz quase 1 ano que o professor mora em BG com o pai. Ele pensa em mudar de cidade, já que aqui não existem muitas pessoas que conhecem Libras. Encontrou em Cam-po Grande muitos jovens fluentes na linguagem. Ficou até com vontade de ir, mas tem o trabalho e não quer deixar a cidade. Ele sabe que precisa ajudar, já que aqui não existe nenhuma associação para surdos. Este ano ele quer auxi-liar a organização de uma entidade desse tipo na cidade.

Antes de se mudar para BG, ele passou um tempo em Pri-mavera do Leste - MT. Nos 3 meses que ficou lá, esteve um pouco triste por não ter nada para fazer e porque a cidade não conta com muita acessibilidade. =(

segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014

#ALÍNGUADESINAIS

O primeiro contato com a Libras foi na 5ª série, quando conheceu um amigo que já sabia e quis aprender também.

Depois que ele teve contato com essa linguagem, as pessoas começaram a aceitá-lo melhor. Não que a discriminação tenha sumido de vez, Paulo se depara com todo tipo de opinião. Algumas pessoas acharam que a deficiência era doença e que poderia ser transmitida de uma pessoa a outra. Outras pessoas da igreja já chegaram a dizer que a surdez teria acontecido por algum pecado que ele tivesse cometido, e por aí vai...

Às vezes, a oralização, que ajuda a conversar com um ouvinte, é mais complicada. Ele tem que escrever no papel por não entender a palavra, mesmo que faça leitura labial e consiga falar algumas coisas.

O professor comenta que também é difícil ir ao banco ou a uma loja. A maioria dos bancos daqui não tem intérprete, somente na Caixa Econômica Federal que há uma funcionária que conhece um pouco a Libras.

Nas lojas pode ser ainda mais tenso. Lembra uma vez que uma vendedora, ao perceber que ele tinha deficiência auditiva, pediu para que outra pessoa o atendesse. Isso o deixou bem irritado. “Eu vou comprar, eu vou pagar, quero saber tudinho, tem que me explicar. Trocou, eu não aceito. Por que trocou?” ¬¬

#NAMOROS

Quando era adolescente o que Paulo gostava de fazer mesmo era namorar. Ele confessa que já namorou três meninas que estudavam na mesma sala. #BAFÂO

Paulo conta que saiu com as três no mesmo dia e acabou tendo que ir encontrar com uma de cada vez. Será que essa aventura de Don Juan deu certo?

Ele conta que suas namoradinhas brigaram por ele do lado de fora da escola. E diz que não se importou tanto com isso, afinal se elas o queriam o que ele poderia fazer? Haha

Depois de um tempo Paulo reencontrou um de seus amigos, que também possui deficiência auditiva, e andava junto com ele. Descobriu que ele havia se casado com uma de suas ex.

Hoje em dia, Paulo é mais de boa. Diz que não namora, só fica de vez em quando e que no ano passado teve poucos encontros, por não ser mais um garotinho.

Paulo já namorou tanto com surdas quanto com ouvintes. Ele explica que o relacionamento entre deficientes auditivos e ouvintes pode ser difícil. “Às vezes falta conhecimento da cultura do surdo”, explica. Para ele, o ouvinte tem querer se comunicar, além de fazer um curso de Libras para conversar melhor com o surdo. *-*

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 07 de fevereiro de 2014

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O trânsito e a cadeira de rodas

Para chegar até o lugar tranquilo em que Marilene mora, é necessário um cui-dado extra, pois o cruzamento que liga a avenida principal a sua rua é bem movimentado. A todo instante passam carros e motos numa velocidade assus-tadora, de deixar qualquer pedestre aflito.

Agora, imagine atravessar tal avenida sem faixa de pedestre, semáforo, com calçadas irregulares, próxima a uma rotatória em uma cadeira de rodas?! Pois bem, isso é o que Marilene enfrenta todos os dias, seja para ir ao centro resolver as coisas do dia a dia ou à aula no curso técnico de Administração.

Não bastando a dificuldade de acesso do local, ela ainda tem que lidar com a falta de compreensão de motoristas, que chegam ao cúmulo de estacionar em frente às rampas de acesso.

Do lado de dentro

Com cinco cômodos, a casa é adaptada de acordo com algumas necessidades de Marilene. O banheiro, por exemplo, é maior que os convencionais, possibilitan-do que ela se locomova melhor com a ca-deira de rodas. A pia também é mais baixa e pode ser usada sem ajuda.

A única televisão da casa fica em seu quar-to, assim como seu notebook que ela usa para fazer trabalhos e navegar na inter-net. A varanda é o local preferido da famíl-ia. Lá é onde recebem as visitas e passam a maior parte do tempo conversando e tomando suco fresco de acerola.

Muitas histórias são contadas. Mas a forma com que a tratamos é que faz a diferença. Elas podem ser ditas em sequência, de trás para frente ou em pedaços que juntos formam uma grande narrativa. A história que você acompanhará agora é a de Marilene, uma barragarcense de 38 anos, que aos 11 meses de vida perdeu os movimentos das pernas, hoje vende cosméticos e estuda para ser técnica em administração.

Na sala de aula

Quem vê Marilene nas ruas de Barra do Garças, vendendo cosméticos nem ima-gina que existe ali uma mulher com um espírito empreendedor. Em 2015, ela finaliza seu curso técnico em Adminis-tração.

Na época em que começou a estudar, lá pelos 8 anos de idade, a mãe a levava to-dos os dias para a escola. Mas, conforme ela foi crescendo, dona Petronilha sentia dificuldades em locomover a filha, o que a fez parar de estudar por um tempo.

Por volta dos 15 anos, voltou a estudar e começou a frequentar a APAE, entidade que atende pessoas com deficiência. Foi lá que participou de oficinas de serviços manuais e desenvolveu mais a sociabi-lidade, ao conviver com outras pessoas. “Eu era um pouco fechada. Aí conforme a convivência no meio da sociedade você vai se abrindo”, explica.

Era uma vez... Marilene!

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A serra, um pé de acerola e um coqueiro

Uma rua calma, pertinho da Serra Azul, com o sutil barulho das águas da cachoeira ao fundo e o canto dos pássaros durante todo o dia.

Ao sentar na varanda, você tem o privilégio de observar várias espécies de plantas, como pés de acerola, manga e romã, uma diversidade de flores, além de coqueiros espalhados pelo quin-tal, dando a sensação de estarmos diante de uma verdadeira obra de arte natural.

Cercada por natureza exuberante, a casa chama a atenção pelo aspecto rústico e inspirador. Na vizinhança, as pessoas são gentis com os que por ali passam, distribuindo acenos simpáticos.

É nesse ambiente tranquilo e aconchegante que Marilene vive com a família, seu cachorrinho Valzinho e Nina, a sua gatinha de estimação.

Primeiros sinais

Em 1976, quando tinha apenas 11 meses de idade e estava começando a dar os primeiros passos, veio uma forte convulsão enquanto estava brincando. Começou a tremer, o corpo amoleceu e finalmente caiu. Esses eram os sinais de que seu sis-tema nervoso estava contaminado pelo Poliovírus, causador da Poli-omielite, também conhecida como Paralisia Infantil. Marilene perdeu os movimentos das pernas.

Saindo do sério Que atire a primeira pedra quem nunca perdeu a paciência na vida. Até Marilene, que é uma pessoa sorridente e bem humorada, já passou por maus bocados. Na escola mesmo, sofreu com a implicância de outra colega mais nova e não deixou barato. A menina em questão gostava de provocar, Marilene não aguentou e falou o que pensava.

Hoje em dia, o que a irrita é o descaso das pessoas quando ela precisa de ajuda. “O povo não respeita, eles estacionam carro, moto e ali você tem uma dificuldade imensa e não tem nem como ficar andando nos lugares”, diz. Às vezes fingem não ouvir quando ela pede auxílio e a deixam falan-do sozinha. Mesmo assim, Marilene não desiste. Ergue a cabeça e chama outra pessoa.

Era uma vez... Marilene!

A canoa que não virou

Como todo barragarcense que se preze, Marilene também gosta de ver o encontro dos rios Garças e Araguaia nas famosas es-cadarias do Porto do Baé.

Porém, sua experiência mais próxima com as águas do Araguaia não foi muito agradável. Acredite se quiser, Marilene teve que atravessar o rio de canoa e não foi tão divertido assim. Ela ficou aflita e com medo da canoa virar durante o trajeto. Esses foram os piores minutos da sua vida.

Na época, seu acompanhante não quis ir pela ponte para chegar à praia Quarto Crescente, em Aragarças – GO. Como ela não podia ir sozinha, por conta da cadeira de rodas, a opção foi atravessar de barco.

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Há nove m

eses nos foi dada uma tarefa, que tom

amos com

o uma im

portante missão. N

o início, essa missão

parecia (quase) impossível, m

esmo porque o tem

a que escolhemos não era fácil. Sabe aquela história de sair da

zona de conforto? Pois é, este suplemento nos desafiou a ultrapassar essa barreira.

Criar um

suplemento não foi tão sim

ples e ainda mais sobre deficientes físicos e sensoriais, parecia m

ais difícil ainda. A

ssim que a ideia surgiu, praticam

ente não tínhamos nada em

comum

com o assunto, m

as insistimos arduam

ente e pasmem

... conseguim

os!

Este produto foi fruto de pesquisas, tanto bibliográficas quanto de campo. N

as leituras pudemos ter um

a noção de como seria estar

frente a frente com um

portador de deficiência. Na prática, vivenciam

os o contato direto com essas pessoas e reconhecem

os que elas não são sim

plesmente portadoras de um

a deficiência, mas gente com

o a gente.

Após esses nove meses, ter o suplem

ento materializado em

mãos, é m

otivo de grande emoção e orgulho para nós. Sabem

os que to-das as leituras e pesquisas não teriam

sido suficientes sem a colaboração de algum

as pessoas: Surama, pela grande paciência em

nos receber tantas vezes em

sua casa; Marilene, pela enorm

e simpatia (e por nos oferecer deliciosas acerolas) e Paulo, pelo inesquecível

sorriso e bom hum

or. Muito obrigada a todos!

Esperamos que o suplem

ento Limites sirva de aprendizado e inspiração para outras pessoas e que venha

a ser um incentivo para que a sociedade enxergue a pessoa com

deficiência de forma m

ais humanizada.

M

ichelly Matos do N

ascimento (@

chellymatos)

Nahida A

lmeida G

hattas (@nah_ag)

Além

do Limites

Suplemento lim

itesExpediente:

Este suplemento foi produzido experim

entalmente com

o Trabalho Final de Graduação do curso de Jornalism

o da U

FMT- Barra do G

arças.Reportagem

, edição e diagramação: M

ichelly Matos do N

ascimento e N

ahida Alm

eida Ghattas

Fotografia: Michelly M

atos do Nascim

entoO

rientador: Gesner D

uarte PáduaC

olaboração: André Luiz Poyer Bittencourt e Eva Em

annuelly Miranda Silva

EDITO

RIA

L