Surfactant Es

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Minatti, E. Interação entre Polímeros e Surfactantes TESE Doutorado Capítulo I - INTRODUÇÃO 2  I.1. SURFACTANTES Os surfactantes (do inglês surface active) são compostos que, como o nome indica, possuem atividade na superfície da interface entre duas fases, tais como ar- água, óleo-água, e na superfície de sólidos. Também são conhecidos como agentes tenso-ativos. Tais compostos caracterizam-se por possuir duas regiões distintas na mesma molécula: uma região polar (hidrofílica) e outra região não-polar (hidrofóbica). O Dodecil Sulfato de Sódio (SDS), cuja estrutura química está ilustrada abaixo, é um bom exemplo desta natureza ambígua dos compostos tenso-ativos. Este apresenta uma longa cadeia alquílica, praticamente insolúvel em água, ligada covalentemente a um grupo iônico, o sulfato de sódio. Esta particularidade na estrutura química dos surfactantes é responsável pelos fenômenos de atividade na tensão superficial de interfaces, pela micelização e solubilização. I.1.1. Classificação dos Surfactantes Os surfactantes podem ser iônicos ou neutros. Alguns são encontrados na natureza, enquanto que outros são sintetizados em laboratório. Os Surfactantes Aniônicos são surfactantes onde os ânions da molécula são a espécie tenso-ativa. Exemplos: laurato de potássio CH 3 (CH 2 ) 10 COO - K + decil sulfato de sódio CH 3 (CH 2 ) 9 SO 4 - Na +  hexadecilsulfonato de sódio CH 3 (CH 2 ) 15 SO 3 - Na +  O S O O O -  Na + Dodecil Sulfato de Sódio, SDS  “cauda” hidrofóbi ca  “cabeça” hidrofílica

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    I.1. SURFACTANTES

    Os surfactantes (do ingls surface active) so compostos que, como o nome

    indica, possuem atividade na superfcie da interface entre duas fases, tais como ar-

    gua, leo-gua, e na superfcie de slidos. Tambm so conhecidos como agentes

    tenso-ativos. Tais compostos caracterizam-se por possuir duas regies distintas na

    mesma molcula: uma regio polar (hidroflica) e outra regio no-polar

    (hidrofbica). O Dodecil Sulfato de Sdio (SDS), cuja estrutura qumica est ilustrada

    abaixo, um bom exemplo desta natureza ambgua dos compostos tenso-ativos.

    Este apresenta uma longa cadeia alqulica, praticamente insolvel em gua, ligada

    covalentemente a um grupo inico, o sulfato de sdio.

    Esta particularidade na estrutura qumica dos surfactantes responsvel pelos

    fenmenos de atividade na tenso superficial de interfaces, pela micelizao e

    solubilizao.

    I.1.1. Classificao dos Surfactantes

    Os surfactantes podem ser inicos ou neutros. Alguns so encontrados na

    natureza, enquanto que outros so sintetizados em laboratrio.

    Os Surfactantes Aninicos so surfactantes onde os nions da molcula so a

    espcie tenso-ativa. Exemplos:

    laurato de potssio CH3(CH2)10COO- K+

    decil sulfato de sdio CH3(CH2)9SO4- Na+

    hexadecilsulfonato de sdio CH3(CH2)15SO3- Na+

    O SO

    OO-Na+

    Dodecil Sulfato de Sdio, SDS

    cauda hidrofbica

    cabea hidroflica

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    Nos Surfactantes Catinicos, os ctions da molcula so a espcie tenso-

    ativa. Exemplos:

    brometo de hexadeciltrimetilamnio CH3(CH2)15N+(CH3)3 Br-

    cloreto de dodecilamina CH3(CH2)11NH3+ Cl-

    Os Surfactantes Anfteros (zwitterinicos) podem apresentar na estrutura,

    da espcie tensoativa, dependendo do pH da soluo, grupos aninicos, catinicos ou

    at mesmo no-inicos. A forma zwitterionica de N-dodecil-N,N-dimetil betana :

    Os Surfactantes No-inicos (neutros) possuem uma regio hidroflica com

    um ou mais grupos polares, tais como grupos teres e hidroxilas. Um exemplo o

    ter poli(oxietileno) p-octilfenil:

    I.1.2. Micelizao

    Uma das caractersticas comum a todos os surfactantes a capacidade de

    formar agregados em soluo aquosa a partir de uma determinada concentrao.

    Estes agregados so denominados micelas. A concentrao onde inicia o processo

    de formao das micelas (micelizao) chamada de concetrao crtica micelar,

    cmc, que uma propriedade intrnseca e caracterstica do surfactante. A figura I.1

    esquematiza o processo de micelizao do SDS:

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    Diversos so os modelos que tentam ilustrar a forma e comportamento de

    uma micela. Dentre os mais aceitos, destaca-se o modelo de Stigter78, figura I.2. Os

    monmeros, segundo Stigter, se organizariam em forma esfrica, onde todas as

    pores hidrofbicas do surfactante estariam voltadas para o centro, formando o

    ncleo, e os grupamentos hidroflicos na superfcie da esfera, formando a interface

    com a gua.

    cmc

    micela

    monmeros

    Figura I.1. Ilustrao do processo de micelizao do SDS em soluo aquosa. Na cmc os monmeros livres encontram-se em equilbrio com o

    SDS micelizado.

    Camada de Gouy-Chapman

    Camada de Stern

    Interface Micelar

    Ncleo Micelar

    modelo de Stigter

    Figura I.2. Representao de uma micela de surfactante aninico segundo o modelo de Stigter

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    O dimetro do ncleo micelar varia com o tamanho da cauda do surfactante,

    sendo de cerca de 3,6 nm para o SDS. O nmero de monmeros de surfactante que

    forma uma micela definido como nmero de agregao, n. A camada de Stern

    formada pelas cabeas inicas do surfactante e seus respectivos (1-)n contra-ons no dissociados (resultados recentes indicam que uma quantidade aprecivel de gua

    penetra na camada de Stern)5. A camada de Stern compreende a parte compacta da

    dupla camada eltrica que circunda a superfcie externa da esfera micelar; a outra

    camada, mais difusa, a qual contm os n ons remanescentes, demominada de camada de Gouy-Chapman.

    I.1.3. Fatores que alteram a cmc e o tamanho da micela

    Grupo hidrofbico

    Para uma srie homloga de surfactantes, inicos ou neutros, o aumento da

    hidrofobicidade do grupo no-polar leva a uma diminuio da cmc. O decrscimo da

    cmc ainda mais pronunciado para surfactantes no-inicos. O acrscimo de um

    grupo metileno regio hidrofbica faz com que a cmc seja reduzida a,

    praticamente, um tero do valor original.

    O aumento de hidrofobicidade gerado pelo incremento do comprimento da

    cadeia apolar tambm causa um aumento no tamanho da micela, isto , um maior

    nmero de agregao (ver figura I.3).

    Figura I.3. Variao do nmero de agregao (n) para micelas de n-alquilsulfatos de

    sdio3.

    0102030405060708090

    100

    6 7 8 9 10 11 12 14 16

    nmero de carbonos

    n

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    Grupo hidroflico

    Surfactantes no-inicos possuem cmc menor que o seus similares inicos,

    devido a menor solubilidade de seus monmeros em gua. A tabela 01 mostra o

    efeito do nmero de grupos ionizados em uma srie homloga cidos carboxlicos; o

    aumento do nmero de grupos carboxlicos gera um aumento da solubilidade do

    anfiflico, e um subsequente aumento da cmc.

    Tabela I.1 Efeito do nmero de grupos ionizados na cmc 5.

    Composto CH3(CH2)11COOK CH3(CH2)9(COOK)2 CH3(CH2)7(COOK)CH(COOK)2

    cmc (mol l-1) 0,0125 0,13 0,28

    A Tabela I.2 mostra que, em surfactantes no-inicos, o aumento do nmero

    de grupamentos polares tambm leva a um aumento da cmc.

    Tabela I.2 Valores de cmc e do nmero de agregao (n) para teres de hexadecil

    poli(oxietileno)5

    CH3(CH2)15(OCH2CH2)XOH

    x = 6 7 9 12 15 31

    106 cmc (M) 1.7 1.7 2.1 2.3 3.1 3.9

    n 2430 590 220 150 - 70

    Contraon

    A tabela I.3 contm valores de cmc para dodecilsulfatos na presena de

    diferentes contra-ons. Observa-se que quanto menor for o contraon, maior a cmc.

    Este fato atribudo ao maior grau de hidratao para ons menores (mais

    eletropositivos), tornando maior o trabalho eltrico para a formao da camada de

    Stern e, consequentemente, da micela55.

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    Tabela I.3. Variao da cmc (em gua a 25oC, (M)) para lauril sulfatos em funo do contraon55

    Dodecil Sulfatos cmc

    Li+ 8.92

    Na+ 8.32

    K+ 7.17 (32oC)

    Cs+ 6.09

    (CH3)4N+ 5.52

    (C2H5)4N+ 3.85

    (n-C3H7)4N+ 2.24

    Efeito Salino

    A adio de sal a uma soluo contendo surfactante inico causa uma

    blindagem das foras de repulso eletrostticas existentes entre os grupos

    carregados na camada de Stern. Este fenmeno favorece a micelizao do

    surfactante (ocorre uma diminuio da cmc), e permite a formao de micelas

    maiores (maior nmero de agregao).

    I.1.4. Algumas propriedades fsico-qumicas de solues de surfactantes

    Os surfactantes, quando em soluo aquosa, alteram muitas das propriedades

    fsico-qumicas da gua, tais como sua condutividade eltrica, sua tenso superficial

    e sua viscosidade. Os mtodos para determinao da cmc acompanham as

    mudanas em uma determinada propriedade fsico-qumica da soluo, detectando,

    portanto, a regio onde o processo de micelizao ocorre.

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    Condutividade

    A condutivididade a medida da mobilidade das espcies inicas em soluo.

    A condutncia G de uma soluo o inverso de sua resistncia R. Resistncia

    espressa em ohms, ; logo, sua condutncia expressada em -1, unidade tambm conhecida como siemens, S, sendo que 1 S = 1 -1.

    A resistncia de uma amostra cresce com a distncia entre os eletrodos

    (comprimento l ) e decresce com sua rea A. A equao, entretanto, :

    A constante de proporcionalidade chamada de resistividade da amostra. A condutividade, , o inverso da resistividade, ou seja:

    Com a resistncia em ohms e as dimenses em centmetros, as unidades da

    condutividade so S.cm-1. Como o aparelho utiliza a mesma cela de condutividade

    para vrios experimentos, conveniente medir a constante da cela C, determinada

    pela calibrao do instrumento com uma soluo de KCl. A condutividade de uma

    amostra, ento, obtida simplesmente atravs da diviso da constante de cela pela

    resistncia da soluo:

    RlA

    =

    RlA

    = 1 =lRAou

    Equao I.1

    Equao I.2

    = CR Equao I.3

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    [surfactante], M

    S.cm2.mol-1

    cmc

    Figura I.4. Ilustrao de uma titulao condutivimtrica com um surfactante inico. O ponto de inflexo das retas fornece a cmc.

    A condutividade de uma soluo depende do nmero de ons presente, por

    isso conveniente se introduzir a condutividade molar, m, a qual definida como:

    onde c refere-se a concentrao molar do eletrlito adicionado. As unidades para m expressa em S.cm2.mol-1. Para eletrlitos fortes, a concentrao de ons na soluo

    diretamente proporcional concentrao de eletrlito adicionado soluo,

    enquanto que para eletrlitos fracos, a concentrao de ons na soluo depende de

    seu equilbrio de dissociao: a condutividade depende do nmero de ons presente

    na soluo, e, portanto, do grau de ionizao do eletrlito. A condutividade molar m medida na soluo de um eletrlito fraco , na verdade, a condutividade resultante da frao da concentrao total de eletrlito adicionado.

    m c = Equao I.4

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    Os surfactantes inicos possuem dois tipos de comportamento em soluo

    aquosa. Abaixo da cmc os monmeros comportam-se com eletrlito forte. Aps a

    micelizao, cada monmero adicionado contribui para a formao de micelas. A

    micela no completamente ionizada, apenas uma frao de ons fica livre na soluo - este , portanto, o comportamento esperado para um eletrlito fraco. Esta

    mudana de propriedade da soluo observada em uma titulao condutivimtrica

    (figura I.4). Aps a cmc o incremento da condutividade da soluo com a adio de

    surfactante menor. O ponto de encontro das duas retas corresponde cmc.

    Tenso Superficial

    Os lquidos tendem a adotar uma forma que minimize sua rea de superfcie,

    numa tentativa de manter as molculas com um maior nmero possvel de vizinhos

    semelhantes. As gotas de lquidos tendem a assumir a forma esfrica, pois a esfera

    a forma com a menor razo superfcie/volume. Entretanto, podem existir outras

    foras presentes no sistema que competem contra a formao de superfcies ideais,

    tais como a fora gravitacional, que pode achatar as esferas em formas mais planas.

    O trabalho necessrio para se mudar a rea de superfcie de uma amostra por uma quantidade infinitesimal d pode ser escrito como:

    d = d

    O coeficiente chamado de tenso superficial; suas dimenses so energia/rea (d/d, ou seja, J/m2). Entretando, os valores de so geralmente expressos em newtons por metro (N.m-1, uma vez que 1 J = 1 N.m). Em condies

    de volume e temperatura constante, o trabalho para a formao da superfcie pode

    ser relacionado com a mudana na energia de Helmholtz (A), e pode ser escrito

    como:

    dA = d

    Como a energia de Helmholtz diminui (dA

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    Figura I.6. Representao esquemtica da orientao de R3N+(CH2)12N+R3 em soluo aquosa, onde R metil ou butil5. Note como os grupos apolares tendem a

    ficar na superfcie da gua.

    ar

    gua

    Quando um surfactante adicionado gua (=0.072 N.m-1), suas molculas tentam se arranjar

    de modo minimizar a repulso entre grupos hidrofbicos e a gua: os grupos

    polares do surfactante ficam na soluo aquosa, prximo superfcie, e os

    grupos apolares ficam na interface gua-ar, minimizando o contato com a gua

    (ver figura I.6). Isto gera uma diminuio na tenso superficial

    da gua, pois provoca um desarranjo de sua superfcie.

    Aps a cmc

    As micelas, ao contrrio dos monmeros,

    ficam dispersas em toda a soluo, no

    apresentando efeito sobre a tenso

    superficial da gua.

    Figura I.5. Ilustrao do comportamento de um surfactante em soluo aquosa antes e aps a cmc.

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    Em uma titulao tensiomtrica, a tenso superficial da gua medida em

    funo do aumento da concentrao de surfactante. A diminuio de ocorre at a cmc; deste ponto em diante a tenso superficial da soluo fica praticamente

    constante (ver figura I.7).

    log c

    mN.m-1

    72

    30

    cmc

    Figura I.7. Tenso superficial da gua em funo da concentrao c de surfactante

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    Sistemas Micelares no Corpo Humano

    Entre os exemplos de interao entre surfactantes e polmeros, destacam-se

    os encontrados em organismos vivos. Diversas atividades realizadas no corpo

    humano s so possveis graas a propriedades especiais de anfiflicos que,

    associados a protenas, desempenham diversas funes vitais. Entre outras,

    garantem s clulas um revestimento especial, com canais para comunicao com o

    meio extra celular que se abrem especificamente; conferem aos alvolos pulmonares

    a capacidade de expanso e contrao sem rupturas, alm de promover a

    solubilizao do oxignio; so os anfiflicos que preservam a umidade constante no

    tecido da crnea.

    a) o surfactante pulmonar

    Ns respiramos cerca de 10 vezes a cada minuto. Os alvolos pulmonares se

    expandem na inspirao e, na expirao, se contraem abruptamente, expelindo o ar

    dos pulmes. O tecido alveolar necessita de um mecanismo especial: paredes

    internas com grande elasticidade e que no sofram adeso quando contraidas. Tais

    propriedades so conferidas graas presena de uma camada de fosfolipdeos,

    lipdeos e protenas, que revestem internamente os alvolos (ver figura I.8). Esta

    mistura denominada surfactante pulmonar. Bebs prematuros podem apresentar

    deficincia na produo destes anfiflicos e serem acometidos de Angstia

    Respiratria dos Recm Nascidos, patologia que vem sendo tratada, no Brasil, por

    um substituinte sinttico do surfactante pulmonar, produzido pelo Instituto Butat, a

    partir de soro extrado do pulmo de sunos.

    O fosfolipdeo predominante no surfactante pulmonar o

    dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC), seguido do fosfatidilglicerol no saturado (PG).

    Durante a inspirao, as molculas de DPPC e PG so adsorvidas na superfcie do

    alvolo, diminuindo sua tenso superficial. Isto facilita a rpida expanso do alvolo.

    Na expirao, as paredes do alvolo se contraem e as molculas de DPPC e PG so

    expelidas para fora da interface, aumentando a tenso superficial das paredes do

    alvolo. Uma maior tenso superficial oferece maior resistncia ao colapso e

    adeso.

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    O surfactante pulmonar desempenha, ainda, outra funo vital: responsvel

    pelo transporte do oxignio, dos alvolos, para o sangue. Quando as molculas de

    DPPC e PG so expelidas da interface alveolar, elas formam micelas no interior do

    alvolo, capazes de solubilizar molculas gasosas, como o oxignio18. Ao voltarem

    para a interface alveolar, na inspirao, estas micelas desagregam-se, liberando

    estes gases na corrente41 e trazendo de volta o CO2.

    1 O ar entra pelos brnquios e desce at os alvolos, pequenas bolsas de onde o oxignio passa para a corrente sangunea

    2 Na expirao, os pulmes se esvaziam e os alvolos se contraem.

    3 Para as paredes no se colarem, elas so revestidas por uma camada de surfactantes (vide texto), que impede com que o alvolo se esvazie completamente

    Figura I.8. Representao ilustrativa dos alvolos pulmonares

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    b) Ouvido

    Os ouvidos so delicados aparelhos que medem pequenas variaes na

    presso atmosfrica. O Tubo de Eustquio um rgo cuja funo principal regular

    a presso interna do ouvido mdio com a presso atmosfrica externa. O tubo, que

    est geralmente fechado, abre durante expirros e bocejos. Bauer6 postulou que um

    sistema de anfiflicos semelhante ao encontrado nos alvolos pulmonares estaria

    presente na mucosa tubo de Eustquio, na interface com o ar. O trabalho de Bauer

    traz evidncias da atuao destes anfiflicos no mecanismo do tubo de Eustquio: a

    extrao dos anfiflicos, atravs de sucessivas lavagens com solues salinas,

    aumenta a presso necessria para a abertura do tubo.

    c) Olhos

    A crnea coberta com um filme muito fino, o qual constitudo por uma

    fase aquosa, de aproximadamente 10-3 cm de espessura, com uma camada de

    anfifcos e mucina adsorvida na camada externa (interface gua-ar) e com uma

    camada de mucina no lado interno do filme. A camada externa do filme hidroflica,

    permitindo o espalhamento efetivo da lgrima, mantendo o filme sempre mido34. O

    uso de colros inadequados pode comprometer o funcionamento da crnea: a

    adsoro de surfactantes catinicos, presente em alguns colrios, leva formao de

    um filme hidrofbico (os ctions do surfactante so atraidos eletrostaticamente pela

    camada de lipdeos e as cadeias hidrofbicas dos surfactante ficam voltadas para a

    interface), impedindo sua lubrificao.

    Wolken tambm demonstrou que os fotoreceptores do globo ocular - os cones

    e bastes retinais - so, basicamentes, estruturas lamelares de anfiflicos

    cristalina90.

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    d) Membrana Celular

    As clulas so envoltas pelas membranas celulares, uma esfera tridimensional

    formada por uma bicamada de fosfolipdeos, de aproximadamente 5 nm de dimetro.

    Esta estrutura separa a clula do meio externo intercelular, impedindo a dissipao

    dos cidos nuclicos (RNA e DNA) e outros constituintes, e evitando a entrada de

    molculas estranhas para o interior da clula.

    Esta impermeabilidade, porm, seletiva: a membrana celular permite a

    entrada de nutrientes e a sada dos metablitos. A aproximao de determinados

    grupos membrana pode, entretanto, desencadear um processo de rearranjo da

    estrutura de bicamada de fosfolipdeos, levando a abertura ou fechamento de

    canais especiais, por onde agentes transmissores, ons, e outros componentes

    passam. Certas protenas interagem com a membrana, fornecendo sustentao e

    resistncia forma da clula seletivamente (figura I.9). A investigao da interao

    entre polmeros e surfactantes pode auxiliar na compreenso do mecanismo de

    associao entre protenas e fosfolipdeos, in vivo.

    glicoprotenas

    protenas globulares

    fosfolipdeos

    microtubos

    glicoprotenas

    protenas globulares

    fosfolipdeos

    microfilamentos microtubos

    Figura I. 9. Diagrama ilustrativo de uma seco da membrana celular, formada por uma bicamada de fosfolipdeos.

    colesterol