TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a...

23
TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM MACAPÁ Uma Visita ao Terreiro São Lázaro de Mãe Kátia Obaluaê MARCOS VINICIUS DE FREITAS REIS 1 FABILSON DA COSTA SILVA 2 JOSÉ NOGUEIRA LIMA JÚNIOR 3 DIOVANI FURTADO DA SILVA 4 Resumo No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de Macapá AP. Inicialmente recuperamos historicamente seu surgimento no município, suas principais características e sua importância no contexto religioso macapaense. Para isso, visitamos tal instituição religiosa no intuito de entender melhor seu funcionamento e sua inserção no campo religioso do Estado do Amapá. Quais as principais características do tambor? Quais sãos os significados da festa? Qual o sentido para a os adeptos? Palavras-chaves: Sincretismo Religioso, Tambor de Mina, Religiosidade no Amapá. 1 Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Membro do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP-UFSCAR/CNPq). Pesquisador do Observatório em Direitos Humanos da Amazônia (OBADH-UNIFAP/CNPq), Líder do Centro de Estudos Políticos, Religião e Sociedade (CEPRES- UNIFAP/CNPq). 2 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá. 3 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá. 4 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá.

Transcript of TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a...

Page 1: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM MACAPÁ Uma Visita ao Terreiro São Lázaro de Mãe Kátia Obaluaê

MARCOS VINICIUS DE FREITAS REIS 1 FABILSON DA COSTA SILVA 2

JOSÉ NOGUEIRA LIMA JÚNIOR 3 DIOVANI FURTADO DA SILVA 4

Resumo

No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de Macapá AP. Inicialmente recuperamos historicamente seu surgimento no município, suas principais características e sua importância no contexto religioso macapaense. Para isso, visitamos tal instituição religiosa no intuito de entender melhor seu funcionamento e sua inserção no campo religioso do Estado do Amapá. Quais as principais características do tambor? Quais sãos os significados da festa? Qual o sentido para a os adeptos?

Palavras-chaves: Sincretismo Religioso, Tambor de Mina, Religiosidade no Amapá.

1 Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Membro do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política (NEREP-UFSCAR/CNPq). Pesquisador do Observatório em Direitos Humanos da Amazônia (OBADH-UNIFAP/CNPq), Líder do Centro de Estudos Políticos, Religião e Sociedade (CEPRES-UNIFAP/CNPq). 2 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá. 3 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá. 4 Aluno do curso de Especialização História e Historiografia da Amazônia da Universidade Federal do Amapá.

Page 2: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

2

Introdução

Ao analisar as religiões de matriz africana presentes na realidade macapaense, coube

revisar a história do culto afro-brasileiro5 com a função de desmistificar verdades creditadas,

como universais, mas que foram culturalmente difundidas com base na visão eurocêntrica do

colonizador português. Do descobrimento à colonização, as raças formadoras da nação

brasileira passaram por um processo de aculturação forçada, que teve por base a visão

européia judaico-cristã como única, cabendo aos indígenas (legítimos donos da terra) a

destruição de sua cultura, valores e religiosidade.

Coube aos negros, trazidos da África escravizados e despersonalizados a reinvenção

de cultos, ritos e crenças que persistem até nossos dias, apesar das discriminações,

perseguições realizadas pelas elites do poder com base no desconhecimento das tradições

religiosas e numa visão eurocêntrica que sempre destinou aos negros e a sua cultura um papel

irrelevante.

O imaginário presente na sociedade em geral e na sociedade macapaense,

especificamente, associa as religiões de matriz africana às coisas do mal, sendo retratadas,

mesmo nos meios de comunicação de forma jocosa, pejorativa, perpassadas pelo preconceito

relacionadas ao atraso, superstições e ignorância.

O chamado povo de terreiro, tanto no passado como na atualidade continua sendo

exposto e ridicularizado e muitas vezes impedido pela força policial, de realizar seus rituais

em vias públicas apesar de também ter-lhes sido negado sistematicamente a construção de um

espaço público para ritos religiosos. A exemplo disso são os terreiros que geralmente se

localizam atrás das residências dos pais de santo, bem como, em pontes e baixadas. Como é o

caso do terreiro visitado pelos pesquisadores que fica em uma área de ressaca em uma ponte

do Bairro Novo Buritizal, Zona Sul de Macapá.

5 Culto afro-brasileiro - valemo-nos do conceito empregado pelo estudo de CAMPELO (2006), que diz: deve-

se registrar que as religiões afro-brasileiras (atualmente ditas religiões de matriz africana) são elas comunidades nas quais se desenvolvem ações essenciais à vida humana. Confirmado nos escritos de LOPES: traços culturais determinantes da Africanidade no Brasil provem basicamente, depois de dois grandes extratos civilizatórios: Bantus e Sudaneses.

Page 3: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

3

Apesar da existência de marcos legais que descriminalizam os ritos e cultos e da

propalada laicidade do Estado persistem situações que interferem no direito de liberdade

religiosa, principalmente voltadas aos adeptos das religiões de matriz africana.

Na cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá foi pesquisada a existência de

casas de culto afro e o nível de preconceito e dificuldades sofridas pelos adeptos da religião

na prática de seus cultos e ritos. Na cidade grande parte de sua população é de negros ou afro-

descendentes, mas mesmo sendo os de pele escura grande parte da sociedade macapaense, a

cidade desenvolve frente aos negros um processo de invisibilidade que caracteriza-se como

mais uma forma de racismo6, tanto pessoal quanto institucional.

Em Macapá é comum o incentivo a “ser moreno”. Tal fato apresenta uma contradição

na medida em que o número de casas de santo é bastante expressivo, pois segundo Mãe Kátia

Obaluaê responsável pelo Terreiro São Lazaro, onde centramos a pesquisa, existem em torno

de 150 “terreiros” Tambor de Mina e Umbanda registrados legalmente, mas esse número pode

ser bem maior, pois ainda segundo a mãe de santo, muitos “terreiros” funcionam de forma

clandestina e não são registrados na Federação.

Antes da exposição dos resultados da pesquisa faremos uma discussão sobre a questão

do sincretismo religioso no Brasil.

O Sincretismo Religioso no Brasil

Nesta sessão, pretende-se abordar as práticas religiosas que assinalaram o período

colonial, como a fusão de elementos do culto afro com o castolicismo e a mistura de

elementos como a pajelança e as santidades católicas, de forma a qualificá-lo enquanto

sincrético. Desse modo, procuramos entender como um contato entre culturas tão distintas

possibilitou profunda hibridização, buscando conhecer suas formas características no que

compete a modos de culto, ao mesmo tempo em que analisa-se as formas de resistência e

aceitação às concepções religiosas e culturais da alteridade.

Sincretismo: (do grego συγκρητισµός, originalmente "coalização dos cretenses",

6 Racismo – doutrina que afirma a superioridade de determinados grupos étnicos, nacionais, lingüísticos, religiosos sobre os outros. O termo passou a designar as idéias e práticas discriminatórias advindas dessa afirmada superioridade (LOPES, 2004).

Page 4: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

4

composto de σύν "com, junto" e Κρήτη "Creta") é uma fusão de doutrinas de diversas origens,

seja na esfera das crenças religiosas, seja nas filosóficas. Segundo PLUTARCO (Séc. I)

MIRANDA (2000, p. 277):

A origem do termo sincretismo, encontra-se na antiga civilização de Creta na qual em vias de ataque de inimigos, as civilizações cretenses, normalmente inimigas, se uniam com o objetivo de fortalecer-se frente às ameaças externas, sendo que o prefixo grego syn significa união. A origem do termo denota, portanto, uma união de diversos em prol de um objetivo comum.

Na definição de DIAS (2010) "Sincretismos Religiosos Brasileiros" tem-se o

seguinte:

Sincretismo é a fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas quanto nas filosóficas. Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes ou a influência exercida por uma religião nas práticas de uma outra.

Segundo VALENTE, (1976), “o sincretismo é caracterizado por uma inter-

mistura de elementos culturais”, fato que julgamos estar ocorrendo com os Grupos em análise,

pois se percebe na realização de seus eventos a presença de elementos não somente de

culturas africanas, mas também da religião Católica e indígena. FRANCO (2006), ao definir o

sincretismo no Brasil compara o fenômeno ao ocorrido na idade média em Roma, onde

“Nesta ocorreu uma cristianização do paganismo e uma paganização do cristianismo, no

Brasil uma cristianização do culto africano e uma africanização do cristianismo (...)”

(FRANCO, 2006, p.170).

O Sincretismo no Brasil

Desde o período colonial o Brasil tem sido palco de um grande intercâmbio

cultural. Esse fator será responsável pela mistura de costumes e crenças religiosas de negros,

indígenas e católicos portugueses. Vale dizer que nenhum desses grupos se constituia em um

Page 5: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

5

bloco homogêneo, pois neste mesmo período, ambos os grupos étnicos já sofriam influências

de outras culturas, pois os portugueses trasiam consigo influência de judeus, árabes, asiáticos

e africanos. Os negros não se constituiam em uma só nação no continente africano, mas em

várias. Pois naquele continente haviam várias diferenças culturais como costumes, dialetos e

crenças religiosas além de rivalidades entre sí. A exemplo dos negros, neste mesmo período,

temos os ìndios que povoavam as Américas, onde possuiam sua forma característica de se

relacionar com o mundo físico (natureza) e metafísico (religioso), e que se dividiam em

milhares de tribos com costumes e linguas diferentes.

(...) ao pensar em sincretismo, pode-se pensar em: negociação, interação, confronto, transmissão, mistura, adaptação, assimilação, sondagem, transposição, identificação, simbiose, fusão, amálgama, alienação, dinamismo, confluência, interação (...) (FERRETI, 2008).

Como se pode ver será em meio a esta diversidade que terems-se o sincretismo no

Brasil, havendo um choque cultural onde o catolicismo se impõem ao culto e crenças dos

indigenas e negro africanos: de um lado vemos uma religião católica, tentando se fechar em

seus templos para as indesejáveis influências; de outro, percebe-se as crenças indígena e

africana adentrando a casa-grande e os recantos mais secretos da mente e vivência daqueles

que na colônia viviam, destronando promessas e penitências, louvando trabalhos e forças

mágicas. A religião no Brasil colônia, mesmo sob o olhar atento e punitivo dos jesuítas

inquisidores, guarda práticas sincréticas que nos foram legadas, preservando, mesmo que

inconscientemente, sua memória.

Para se viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo negro livre, era indispensável, antes de mais nada, ser católico. Por isso, os negros no Brasil que cultuavam as religiões africanas dos orixás, voduns e inquices se diziam católicos e se comportavam como tais. Além dos rituais de seus ancestrais, freqüentavam também os ritos católicos. Continuaram sendo e se dizendo católicos, mesmo com o advento da República, quando o catolicismo perdeu a condição de religião oficial (PRANDI, 2002, p.172).

O contato e a dominação entre povos distintos se deu através da expansão marítima

portuguesa em uma corrida imperialista que encontrou justificativa política, econômica e

religiosa para a conquista de novos territórios além mar. FRANCO (2006), sobre a referida

Page 6: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

6

expansão, o autor relata que para o colonizador estava em seu destino levar a civilização e

junto o conhecimento da verdadeira religião para àqueles povos tidos como infriores.

Foi na mentalidade materialista, justificada religiosamente, que desde fins da Idade Média levou o ocidente a conquista do mundo.(...) as cruzadas contra os mulçumanos quanto a conquista da América aos indigenas tiveram caráter de guerra santa e de obtenção de riquezas. No seculo XIX, a colonização da África e da Ásia era considerada ‘o fardo do homem branco’, ou seja, o dever dos ocidentais de levar a civilização para povos inferiores. Era o homem ocidental cumprindo o seu destino histórico (FRANCO,2006, p.163).

Que após valorosa descoberta das Américas tem-se a imprensão de se ter chegado ao

“Édem”, isto pelas belezas exuberante naturtais e da gente que vivia semelhante aos preceitos

do Gênesis no início da criação e que os desbaravadores comtemplaram no primeiro

momento, porém essa idéia tão sedo mudaria. Como nos diz SOUZA (1986, p.77): “O Novo

Mundo era inferno sobretudo por sua humanidade diferente, animalesca, demoníaca, e era

purgatório sobretudo por sua condição colonial”. Essa transição, de paraíso a inferno, ocorre

de maneira sutil, cotidiana, quando os lusos percebem que não seria tão fácil dominar as

consciências naquele mundo que eles haviam acabado de encontrar.

Para tal empreendimento, a mão-de-obra utilizada num primeiro momento foi a

indígena, depois a negra africana. Viram-se, nesse momento, nobreza e clero unidos, pois se o

rei queria garantir seu espaço (riqueza nessa época era sinônimo de conquista e exploração de

terra), o Papa pretendia receber almas em seu rebanho, consolidando a hegemonia católica na

América. Acerca da doutrina cristã, passada pela Igreja Católica, pode-se lembrar alguns

dogmas, como a obediência à figura divina, representada no espaço terreno pelo Santo Padre;

confissão dos pecados a Deus através de seus mediadores; arrependimento dos desejos

sexuais exagerados (concupiscências); distanciamento de práticas ilícitas: adivinhações,

trabalhos encomendados, bruxedos e toda sorte de feitiços promovidos pelas criaturas hereges

que não herdariam o Reino dos Céus, límpido e santo. Logo a forma como viviam os nativos

e suas convicções religiosas, aos olhares inquisitores não agradava o clero que representava a

solução para a rebeldia dos nativos através da catequese que se tornou fator preponderante no

processo de dominação e sincretismo neste período.

Page 7: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

7

Dentro dos propósitos coloniais o negro africano foi arrancado de sua terra natal

com a finalidade de desenvolver as terras além mar. Interessante dizer aqui nessa discussão é

que a África guarda uma religião povoada por diferentes divindades e formas de adoração.

Apegados a crenças animistas, muitos povos africanos se colocaram como principais quando

o assunto é religião no Brasil Colonial ou mesmo em décadas do século XX. Devido ao

processo de mistura de culturas e crenças religiosas que ocorrera a partir desse período.

Todavia os negros não aceitaram a condição de escravos de bom grado, a exemplo disso

observou-se no aspecto religioso que dentro do candomblé seus deuses mais adorados entre os

negros que habitavam estas terras eram Ogum, o Deus da guerra; Xangô, da justiça; e Exu,

divindade da vingança, isso mostra o sentimento de revolta dentre esses subjugados. Como

podemos perceber, tais divindades remetem a sentimentos de contestação e revolta. Ora,

certamente os africanos também louvavam o amor, a paz e todas aquelas boas emoções

pretendidas pelos ideais católicos. A reação era cotidiana, burlando as imposições dos

senhores com estratégias sutis que freqüentavam inclusive a adoração aos seus deuses,

disfarçados em imagens católicas. Outro exemplo é o fato em que muitos ao fugirem,

buscavam refúgio em regiões distantes onde podessem fundar os quilombos (áres de

resistência) para viverem livres e professarem sua fé de acordo com suas convicções

religiosas, como é o caso do Quilombo de Palmares um dos mais conhecidos neste sentido e

que ficou marcado na história dos negros no Brasil. Assim, complementa Mary Pratt, ao firma

que: “(...) se os próprios povos subjugados não podem controlar facilmente aquilo que emana

da cultura dominante, eles efetivamente determinam, em graus variáveis, o que absorvem em

sua própria cultura e no que o utilizam” (PRATT, 1999).

Os Negros e sua Religiosidade.

No Brasil o sincretismo religioso é uma prática bastante comum desde 1500 ano de

sua descoberta, quando o território brasileiro tornou-se palco para o encontro de três grandes

tradições culturais: a ameríndia, nativa da terra; a européia, trazida pelos colonizadores

portugueses e mais tarde a africana, trazida pelos escravos bantos e sudaneses. Um encontro

que foi desde o início marcado pela imposição da cultura européia às populações indígenas e

Page 8: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

8

africanas. Veja como a religião dominante que seria a da classe dominante justifica esse fato

segundo Fausto.

(...) nem a igreja nem a coroa se opuseram à escravidão do negro. Ordens religiosas como a dos beneditinos estiveram mesmo entre os grandes proprietários de cativos. Vários argumentos foram utilizados para justificar a escravidão africana. Dizia-se que se tratava de uma instituição já existente na África, e assim apenas se transportavam cativos para o mundo cristão onde seriam civilizados e salvos pelo conhecimento da verdadeira religião (...) (FAUSTO, 2009, p.26)

O sincretismo é um fenômeno bastante comum no Brasil, mas é especialmente

relevante nas regiões onde os negros africanos na condição de escravos foram introduzidos

como força de trabalho, pois buscou-se adaptar nas crenças de religiões tradicionais africanas

os rituais da fé Católica, religião predominante no Brasil como forma de resistência à

preservar a cultura natal. Para BENISTE(2006, p.86), "valeu como poderosa arma para os

negros manterem suas tradições. Sem isso, provavelmente, nem mesmo teriam podido manter

os traços religiosos que ainda hoje se conservam".

Existem pesquisadores que afirmam que a assimilação Santo/Orixá era aparente

como forma de resistência e, inicialmente, serviu para encobrir a verdadeira devoção aos

Orixás, pois no caso dos cânticos, eram efetuados em língua materna da África e que

ninguém entendia. Dando ênfase nessa discussão podemos citar a adoração à Nanã, orixá do

candomblé, que é considerada a entidade mais antiga por excelência, devido sua história ser

um grande enigma e não haver concisão em seus relatos, havendo assim, vários mitos a

respeito de sua existência. Alguns deles nos conta que Nanã é mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê

e Oxumaré. É considerada a deusa mais velha do Camdomblé e respeitada como mãe de todos

os outros orixás.

Nanã no sincretismo religioso é associada a Sant’ Ana mãe da virgem Maria, avó

de Jesus, que também é comemorada no dia 26 de julho no calendário litúrgico. Segundo

(SARACENI, 2002), “(...) entender Nanã é entender o destino, a vida e a trajetória do homem

sobre a terra, pois Nanã é a história. A ela se resume o domínio da morte, da vida, da

Page 9: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

9

fecundidade e do renascimento”. É protetora dos professores e dos idosos, seu dia da semana

é terça-feira, cor preferida: azul anil, branco e roxo. Seu símbolo é o bastão de hastes de

palmeira (Ibiri), as folhas e flores, seus elementos são: terra, água e lodo.

Pode-se observar que a equivalência sincrética de Sant´ana e Nanã não é uma coisa

desinteressada ou por acaso, mas envolve toda uma simbologia mítica que as aproxima no

imaginário dos africanos e como forma de resistência temos a fusão de elementos de religiões

distintas e que podem ser observadas nas mais diversas festas religiosas Brasil a fora.

Em contra partida a esta teoria temos um fato histórico que pode opor-se a este

pensamento: é a criação das confrarias de negros a exemplo da Irmandade de Nossa Senhora

do Rosário dos Homens Pretos, na Bahia, totalmente composta por negros. Os negros haviam

realmente se convertidos à fé cristã e a instituição não era apenas uma fachada para

manifestação do culto afro.

No Sermão XIV, pregado aos negros de uma Irmandade do Rosário, em 1633, o

padre Antônio Vieira faz um lamento em favor da escravidão:

Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre! (VIEIRA, 1954, p. 26-27).

O Português e sua Religiosidade.

Os portugueses eram no séc. XV um povo que vivia na penísula Ibérica, e que

geograficamente possuia relações fortes com o mar. Neste periodo o mundo buscava através

do mercantilismo e de políticas imperialista assegurar novos territórios ou áres de influência

como forma a garantir os previlégios das cortes e consequentemente a egemonia econômica

dessas potências e junto dessa discusssão se tinha a igreja católica que assegurava a Portugal e

Espanha a legalidade divina e a soberania destas nações sobre os povos e áreas conquistadas e

como contrapartida abordo das naus luso portuguesas ou espanhola a companhia de jesus se

fazia presente como forma de se garantir novas almas para o rebanho.

Page 10: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

10

Culturalmente os lusos se constituiam em um povo híbrido devido ao contato com

culturas diferentes e ísso os faziam diferente dos demais povos da Europa, eram entendidos

como corajosos, aventureiros e sagazes, pois voltando ao pensamento da época pode-se ver

que para se lançar ao mar tenebroso como esses valentes assim o fizeram deveria se ter

bastante motivação e o desenvolvimento de tecnologia apropriadas para a época, feito que os

mesmos conseguiram graças ao desenvolvimento da escola de Sagres em Portugal e a forma

como se relacionavam com as culturas árabe, mulçumana na África, judeus, dentre outras.

Veja o comentário de Ricardo Benzaquem ao comentar o pensamento de Gilberto Freyre em

“Casa Grande e Senzala” e como esses definem o português no período de descoberta das

terras além mar.

(...) Essa redescoberta, aliás, começa pelo fato de que o primeiro grupo designado como mestiço em CGS é composto precisamente pelos próprios portugueses. Sublinhando o caráter de fronteira da península Ibérica, rota de passagem entre a África e a Europa e cenário de intercâmbios étnicos e sobretudo culturais, Gilberto vai convertê-los em um personagem híbrido, fruto de um amálgama que envolveu, entre outros, árabes, romanos e judeus, e que se iniciou muito antes do seu desembarque no continente americano ( ARAÚJO, 2009, p.2).

Como pode-se ver os portuguses possuiam suas convicções religiosas e as

impuseram como a dominante para os povos conquistados e colonizados que após subjugados

além de falarem o idioma da pátria mãe ainda deviam professar a mesma fé sob pena serem

herejes ou estarem praticando bruxararias. O importante nessa discussão é que esse mesmo

que se impõem como modelo a ser seguido outrora já sofrera influencias culturais de outro

grupos e povos modificando-se a através do discutido sincretismo, seja essas mudanças de

forma consciente ou não mais que será adicionada na bagagem cultural dos brasileiros após o

contato desses com indígenas e negros no decorrer da história desse país e que será objeto de

muitos estudos no sentido de compreender a identidade desse povo. “Às funções originais

[africanas] acrescentaram-se novas [afro-brasileiras], como as de contestação, de revolta e de

liberação dos negros de suas condições de serem escravos”. (CANCLINE, 2003, p.19 -27).

Page 11: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

11

Sincretismo à Brasileira

Como fala SOUZA (1986), o Brasil era como um Purgatório, terra de degredo das

bruxas e outros pecadores europeus, julgados pelos tribunais inquisitoriais, que vinham pagar

seus pecados sob esse sol impiedoso, que fazia corar as senhorinhas e suar os padres. A elite

luso-brasileira ou mesmo aqueles brancos pobres, se esforçavam para não se ligar de maneira

nenhuma às atividades mágicas. A Igreja Católica insistia ainda contra essas influências sob

um território que havia ajudado a povoar. Os padres e fiéis se esforçavam sobremaneira para

não ceder a nenhum capricho da carne, exposta aos desejos e ao convencimento pelo diabo.

As orações se faziam mesmo necessárias, elas santificavam, exorcizavam.

Promessas eram fundamentais, como forma de sobreviver ali, naquele ambiente quente,

semelhante ao inferno, repleto de abismos para a alma através do corpo. Por mais que tenha

havido uma tentativa de sobreposição católica como religião oficial até a primeira

constituição republicana, o contato com negos e indios e a resistência desses a esse processo

veio a consolidar o estado sincrético da religião no Brasil, percebido e estudado aqui neste

trabalho.

No séc. XVII, no íntimo das povoações indígenas, já acompanhadas de negros e

poucos brancos dissidentes, ocorriam rituais de transe místico, que trazem a complexidade

religiosa de grupos indígenas, guardadas de sua cultura, embora esta não esteja imune às

influência de outrem.

A santidade, movimento do século XVII, esteve presente entre grupos indígenas, sendo que a principal característica era a do culto a um ídolo de pedra. Outros movimentos de santidade foram desenvolvidos e, após um contato mais intenso com a religião católica, agregou elementos cristãos aos cultos. O principal ídolo era nomeado Maria, havendo ainda outros elementos, como estátuas, e o fato do culto ser realizado sob um templo, coisa que antes da chegada dos europeus não se costumava fazer, sendo as cerimônias ao ar livre. Para atingir o transe místico na santidade, era comum o uso de ervas.(BASTIDE,1960, p.244 )

Esse ritual indígena ganha novos adeptos: os negros africanos. Como relata

BASTIDE,1960, muitos deles, principalmente “os bantos, adoravam elementos naturais da

Page 12: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

12

paisagem onde haviam nascido. Com a saída forçada da terra natal, suas divindades não

podem acompanhá-los, pois estavam fixos na região”. O homem, no entanto, parece sentir a

necessidade de adorar um ser misterioso e agora satisfazem-se com rituais indigenas os quais

se assemelham às crenças natal. O mesmo acontece com aqueles negros, até então privados de

proteção, quase desprovidos de esperança e que se rebelam exigindo liberdade. A ordem

tradicional senhor e escravo começa a ser questionada. Negros que já haviam tentado sair da

condição de escravizados, uns conseguindo, outros não. Agora adquirem a esperança na

devoção a santidade, alimentada pela certeza de que um dia e definitivamente o senhor se

tornaria escravo e o escravo se faria senhor. Essa idéia maravilhava o espírito dos adeptos:

brasileiro, mestiço, humano e pensante da época.

Desta forma não podería deixar de referir-se o ritual da jurema. Realizado por

grupos cariris. Essa prática envolve um universo mítico somado à perspectiva da santidade.

Diz a lenda que esse culto trazia a mais profunda crença indígena na inversão dos papéis entre

colonizador e colonizado. Acreditavam que um deus de pedra por eles cultuado far-lhes-ia

justiça um dia, colocando os brancos opressores no papel de dominados. Os que não cedessem

a esse novo modelo seriam transformados em seres inanimados.

(...) centralizando nossa análise no ritual da jurema, vemos uma prática já pintada com traços católicos, onde os principais cultuados assumiam denominações dessa religião, como a “Mãe de Deus” e o “Papa”. A jurema tem propriedades alucinógenas e, quando propriamente utilizada, promove o transe místico. Ele ocorre através do ajuá, beberagem da raiz da jurema, somada ao fumo da mesma planta. O que é importante ressaltar é o caráter hibridizado desse culto, que apesar de sua origem indígena, recebe influências religiosas africanas e católicas portuguesas. (BASTIDE,1960, p.244)

No entanto, muitas outras práticas de sincretismo se integravam ao cotidiano

colonial. Eram pequenas rezas para cura de doenças cotidianas que cismavam em perturbar a

vivência dos habitantes das terras sob domínio português. Eram feitiços para conseguir

paixões praticamente impossibilitadas, ou para adquirir algum benefício. Outra prática muito

comum era a adivinhação que consistia em conhecer o futuro, desvendar casos amorosos,

desenterrar botijas.

Page 13: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

13

Além dessas, tinha também a cura que, apesar de proibida era freqüente,

principalmente na figura das velhas rezadeiras, mestras no procedimento do curar. Aqui, a

terapêutica popular se aliava às artes obscuras das rezas que despediam dores de cabeça, dores

de dente, espinhela caída, sol na cabeça, feitiços, tosses, tudo através do saber daqueles que

rezavam e das orações que deviam acompanhar o processo, algumas invocando o Deus

cristão, outras mencionando diretamente o nome do diabo. Além disso, havia as benzeduras,

destinadas principalmente a animais adoentados ou para fazer-lhes mal. As três práticas foram

duramente perseguidas pelas autoridades católicas e governamentais.

A feitiçaria colonial se engastava na vida cotidiana da população, notadamente a das camadas mais pobres. Eram os vizinhos que se delatavam mutuamente, espiando o quintal alheio por sobre o varal de roupa ou através da cerca divisória, colando os ouvidos contra as paredes-meias, colhendo informações em conversas diárias na porta das vendas, da igreja, na esquina, na janela (BRASIL, 1997, p. 221-273).

A vivência no Brasil colônia inspirava muitas promessas. E cada indivíduo tinha

sua particularidade ao pedir. Porém hoje, já não nos é possível separar os povos que se

encontraram em terras ainda edênicas, pois já não são os mesmos. Mas, o produto do tão

comentado hibridismo: uns pedindo ajoelhados frente a altares, outros, com o auxílio de

orações de mandinga e outros ainda, ocupados em seus transes místicos, portais para um

mundo idealizado, sagrado. E é como se cada promessa, cada pedido, cada palavra dedicada a

Deus, Tupã ou a Ogum ou mesmo aos antepassados idealizassem um mundo, uma vivência.

A prática dos contatos híbridos era uma questão de tempo. As paragens

brasileiras proporcionavam um convite ao sincretismo, à mistura, ao convívio e já não

contempla-se mais uma homogeneidade nos ambientes, seja ela étnica ou religiosa, revelada

em momentos da história, onde percebe-se um africano rezando a Ave Maria, um índio

recebendo em seus cultos aos encantados um negro banto como líder, um português

encomendando um trabalho. Todos mensageiros da mestiçagem, arautos de uma identidade. A

coexistência inicial foi eficaz para que acontecesse essa bela mistura sob a iluminação

espetacular do Sol nos trópicos. Mistura essa presente no povoado de Ilha de Santana no

Page 14: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

14

século XVIII, e que será observada na festa de Sant’ Ana e discutida nos próximos capítulos

desse trabalho.

O TAMBOR: O SOM DO PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E PERSEGUIÇÃO

A realidade de Macapá não é muito diferente de outras cidades brasileiras, quando nos

referimos a Religiões de Matriz Africana. É grande o número de adeptos e faz com que nos

deparemos com um grande conjunto de casas de santo e ao mesmo tempo com alto nível de

preconceito. Buscar conhecer as dificuldades enfrentadas pelos adeptos de religiões de origem

africana é um desafio a qualquer pesquisador que vive nessa região. Onde situar a liberdade

religiosa apesar do seu arcabouço legal e em que medida existe a discriminação com relação

às práticas religiosas originadas dos povos africanos e seus descendentes?

Algumas hipóteses fazem com que nos deparemos com o preconceito, discriminação e

perseguições culturalmente vinculadas ao negro o que poderia ser à base da fragilidade na

auto-afirmação da identidade afro-religiosa deste povo. Existe o receio de se auto-afirmar

como adeptos da religião. Outro aspecto digno de nota é a vinculação das casas de santo às

seitas satânicas realizadas por não adeptos contando muitas vezes com o apoio da polícia que

desde os tempos coloniais era acionada para controle dos ritos e práticas dos povos africanos.

O presente trabalho levando em consideração os aspectos expostos tem como objetivo

analisar a relação entre o amparo legal que garante o direito de manifestação religiosa a todos

os brasileiros e os desafios que isto representa quando estes brasileiros são adeptos de

religiões de matriz africana. Os pesquisadores valendo-se de entrevistas, visitas às casas de

santo e observação participante em cultos e ritos em diferentes momentos puderam sentir a

dinâmica com que se expressa à religiosidade.

Independente dos inúmeros ritos de casas existentes na cidade de Macapá, optou-se

por estudar a experiência religiosa dentro do culto afro-brasileiro, mas precisamente no

Terreiro São Lazaro de Tambor de Mina Nagô7 da Mãe Kátia Obaluaê. Esta Casa que deriva

7 Tambor de Mina é a denominação mais difundida das religiões Afro-brasileiras no Maranhão, Piauí e na Amazônia. A palavra tambor deriva da importância do instrumento nos rituais de culto. Mina deriva de negro-mina, de São Jorge da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge da Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo,Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.

Page 15: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

15

da Casa das Minas do Maranhão, assim como outras no Estado do Amazonas e no Pará.

Segundo Mãe Kátia o Tambor de Mina Nagô chegou a Macapá pela década de 30/40 do

século passado por Mãe Dulce e retrata a origem dos escravos oriundos da costa do leste de

São Jorge da Mina, na atual República do Gana e também das Repúblicas de Togo, Benin e da

Nigéria, conhecidos como negros mina-jejes e mina-nagôs.

O Terreiro São Lázaro é filiado a Federação Cultural Afro-Religiosa de Umbanda e

Mina Nagô - FECAROMINA, entidade sem fins lucrativos que visa atender a comunidade no

aspecto social e cura espiritual pelos cuidados de várias Mães e Pais de Santo adeptos da

Umbanda e Mina. A FECAROMINA tem mais de 150 terreiros de Umbanda e Mina Nagô

filiados legalmente, mas esse número pode ser bem maior, pois segundo Mãe Kátia existem

muitos terreiros funcionando em Macapá de forma clandestina.

A busca do conhecimento da realidade das religiões neste espaço do norte do país

apresenta desafios inclusive teóricos na medida em que percebemos que é recente a tentativa

de uma ressignificação das religiões de matriz africana frente à população, em consequência,

a produção teórica existente é mínima, e mesmo na produção histórica é comum a inexistência

de dados sobre o problema investigado ou até mesmo sobre a população negra existente.

Considerando estes fatos, autores como Campelo , Sergio e Mundicarmo Ferretti,

Giordani, Lopes, Neto e Albuquerque, Prandi, Souza Junior e Verger foram fundamentais na

análise dos dados coletados durante a pesquisa de campo. Este estudo desvela a religião de

Matriz Africana Tambor de Mina Nagô e o comportamento contraditório da cidade de

Macapá frente a seus adeptos.

O CULTO E O OCULTO: A REALIDADE MACAPAENSE FRENTE AOS CULTOS AFRO-BRASILEIRO

O Tambor de Mina seja ele Jeje, Nagô, Cambinda, sofreu com movimentos

sincréticos, seja pela imposição ou de forma consciente, adquirindo para si manifestações

religiosas de origem indígena (Cura/Pajelança), outras tradições religiosas afros (Umbanda e

Candomblé) assim como elementos da religião católica (Santos e Orações).

Page 16: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

16

Apesar desse sincretismo as expressões afro-religiosas, como a Umbanda, Candomblé

e o próprio Tambor de Mina, sofrem discriminações desde a colonização e são rejeitadas em

todos os cantos da cidade de Macapá, principalmente por membros de Igrejas de origem

judaico-cristã e pelos meios de comunicação que estão sob a concessão de denominações ditas

evangélicas que usam desses mecanismos para difamar o culto alheio. Eles não percebem que

reforçam, incitam o ódio e a intolerância religiosa por não conhecerem o culto das religiões de

matriz africana.

Em entrevista aos pesquisadores Mãe Kátia relata sobre a forma que é recebida e

acompanhada quando vai ao Maranhão, a reverência e atenção que lhe é dada em todos os

eventos dos quais participa, diferente de algumas restrições vistas como perseguições que

recebe em Macapá. Ainda assim, o preconceito com que é vista a casa de Mãe Kátia é algo

presente no cotidiano de todas as casas, e não só durante os cultos como afirma a mãe de

santo:

“Uma vez fomos convidadas para um culto ecumênico dentro da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) a convite da professora Claudete (...) um padre e um pastor também foram convidados. Os dois sentaram bem longe de mim porque eu era “macumbeira”. Isso mostra o quanto de preconceito ainda existe em nossa sociedade. Talvez por falta de conhecimento de nossa religião”. (Mãe Kátia)

O preconceito e a discriminação se entrelaçam nas relações sociais dos cidadãos que

professam as religiões consideradas por parte da população leiga, como culto demoníaco.

Segundo Souza Junior:

a cosmovisão dos afro-religiosos e dos africanos requer compreender que o sagrado permeia toda vida, ou seja, ele se entrelaça com diversos aspectos da vida social (...) Neste sentido, a concepção de sagrado no continente africano, ao menos antes do contato com o cristianismo e o islamismo, ligava-se às maneiras de sentir, viver, sonhar, representar, intervir e estar no mundo, atitude esta que permeia toda sua vida através da ancestralidade e o culto aos orixás.” (SOUZA JUNIOR, 2004, p.124)

Page 17: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

17

VISITA AO TERREIRO: BANHOS, PASSES E FESTIVIDADE

No Tambor de Mina Nagô as distinções entre Voduns8 e Orixas9 (africanos), Gentis10,

índios11 e Caboclos12 interessam mais a antropólogos do que aos médius e pais-de-santo, estes

não sabem muito bem identificar essas entidades que são organizadas em nações e famílias, e

possuem diferenças de idade bem marcadas. Mas, embora as mais velhas sejam mais

prestigiadas, as mais novas (às vezes crianças) podem ser também “donas-da-cabeça” e

podem ser recebidas em todos os toques.

No Terreiro São Lázaro de Mãe Kátia a maioria dos adeptos são mulheres13 o que

também é observado por SOUZA JUNIOR (2004), que ao refletir sobre o Tambor de Mina,

diz que:

cerca de 90% dos participantes do culto são do sexo feminino e por isso, alguns falam num matriarcado nesta religião da qual começou com as Negras minas. Os homens desempenham principalmente a função de tocadores de tambores, isto é, abatás, daí a definição abatazeiros, também se encarregam de certas atividades do culto, como a matança de animais para oferendas e o transporte de certas obrigações para o local onde devem ser depositadas. É bom que fique claro que, a morte de um rioferendas ao demônio como popularmente é considerado. (SOUZA JUNIOR, 2004, p.)

No terreiro de Mina em Macapá, o culto é visto com respeito e seriedade, pois, Mãe

Kátia faz questão de frisar que a casa é um templo sagrado e, seus filhos e filhas seguem a

risca a hierarquia imposta por ela, perpetuando assim os mistérios e os fundamentos de sua

nação, características herdadas pelas primeiras negras-minas, revelar isso antes do tempo pode

ser tornar um perigo, pois a autoridade maior na casa sabe muito bem dos cuidados que cada

8 Voduns – De modo geral, o termo vodum é usado para designar as entidades da encantaria africana (jeje, como

Dossu, nagô, como Xango, cambinda, como Vandereji) e, as vezes, de forma genérica, para desiguinar as entidades mais antigas e prestigiadas recebidas no Tambor de Mina. 9 Ver apêndice B

10 Gentil - O termo gentil designa encantados da nobreza européia, geralmente cristã associados a orixás e, às vezes também, santos católicos. Esses encantados são também classificados como nagô-gentil ou vodum-cambinda. Entre eles merecem destaque: Rei Sebastião, associado a Xapanã e a São Sebastião; Rainha Dina, associada a Iansã; Rainha Rosa, associada a Santa Rosa de Lima e a Oxum; Dom Luiz, Rei de França, associado a Xangô e a São Luís (Luiz IX). 11 Índios - Nos terreiros de mina a exibição de características selvagens: o uso de arco e flecha e de vestimentas de pena, por um médium incorporado, geralmente só aparecem em rituais feitos na mata como (Tambor de índio ou de Borá). Os Índios nos toques de mina que não se manifestam de modo selvagem são chamados de Caboclo Pena (índios aculturados). 12

Caboclo – O termo caboclo designa entidades distintas dos voduns africanos e dos gentis, mas, difíceis de serem definidas e caracterizadas. 13 Ver imagens iconográficas no apêndice A que confirmam a grande participação de mulheres nos cultos.

Page 18: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

18

filho de santo precisa. Cabe ressaltar que, de fato a presença masculina não é tão expressiva

como a feminina, sendo que hoje os homens também ocupam lugares no salão ao baiá, isto é,

dançar.

Baseada nessa afirmação é que trazemos o relato de Neto e Albuquerque que confirma

essa autoridade do chefe maior da casa de santo:

A autoridade e o poder da palavra podem ser institucionalizados na forma de cargos existentes na hierarquia da religião. A posição que um indivíduo ocupa na hierarquia da religião lhe dá atribuições específicas, deveres e direitos. O acesso diferenciado ao saber é também uma das dimensões presentes na distribuição dos cargos, o que significa, então, que saber e poder estão entrelaçados na religião, pois ao mesmo tempo em que o acúmulo de saber se institucionaliza na forma de cargos, a posição ocupada pelo indivíduo em seu cargo lhe dá acesso a novos saberes, logo, a um novo poder. (NETO e ALBUQUERQUE, 2008, p.16)

Um dado interessante observar é que, nas casas de santo, há uma relação muito forte

de parentesco, na qual são chamados de filhos, filhas, pais, mães, tios, tias, avós, avôs, isto é,

a forma como são organizados os laços familiares e rituais que são renovados e recriados a

todo instante, numa hierarquia milenar. O respeito à solidariedade remetem a laços de apoio e

auto afirmação que faz com que muitos filhos exercitem dentro da casa relações de

subordinação inexistentes no mundo exterior.

Outro referencial para se compreender as religiões afro-brasileiras é a sua dimensão

festiva. A festa não somente serve para rememorar as histórias, mas reforçar os laços de

solidariedade e também de afirmar a sua identidade afro-religiosa. Assim ressalta Giordani:

as religiões de matrizes africanas são organizadas em torno da noção de casa. Esta casa onde se realiza o culto pode possuir dimensões amplas, também conhecidas como terreiros. Os terreiros na verdade são espaços simbólicos construídos à luz das tradições africanas, à semelhança de reinos como o de Angola, Congo, Daomé, Oyó e outros, destruídos pela escravidão. Agora, nestes espaços, não são cultuados somente ancestrais de regiões específicos do continente africano, mas aqueles trazidos pelos diversos homens e mulheres que chegaram na condição de escravos durante mais de trezentos anos. (GIORDANI, 2004, p.68).

Nos terreiros a dança e canto também são fatores muito importantes, assim ressalta

Prandi (2004, p.424) onde diz que “para Voduns canta-se na língua africana e para encantaria,

em português”.

Page 19: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

19

É através da roda no terreiro onde se forma uma grande corrente de oração, que as

pessoas se tornam divinas, é onde acontece o grande momento vivido de forma particular,

quando os Voduns e Caboclos se mostram ou incorporam através do corpo de homens e

mulheres nos terreiros por um espaço de tempo curto ou longo até retornarem ao seu plano

espiritual. A chegada de uma entidade espiritual, no terreiro se dá com os pontos cantados ao

toque do tambor e quando a própria entidade pede ou recebe da mãe de santo ou pai de santo

ou da guia da casa, um pano que o identifique, traçando sobre o corpo da pessoa que a

incorporou, é o momento em que a pessoa entra em transe, ou seja, estado na qual a pessoa sai

de sí mesma, passando a assumir outra identidade.

Compreender este universo religioso não é tarefa fácil para o pesquisador, porque

exige de nós uma postura de desprendimento de nossos preconceitos, de nossas crenças e de

nossos medos, para assim, entender a experiência religiosa do culto afro-brasileiro, que traz

consigo toda uma história de lutas e resistências de seus antepassados que viveram num plano

terrestre e de que alguns que passaram para outro plano espiritual o qual chamamos de

encantaria. Estes encantados que podem vir de espaços diferentes como: povos da mata, das

ruas e das águas que quando incorporados em um pai ou mãe de santo, trabalham em favor da

cura espiritual e da caridade, passando banhos de descarrego para retirar da vida da pessoa

mal olhado, inveja e outras forças negativas, banhos de força para dar mais vigor, ânimo e

motivação às pessoas a fim de superarem suas tribulações e também banhos atrativos que

visam trazer saúde, amor, paz e pataco, isto é, dinheiro para quem necessita resolver questões

financeiras, dependendo do seu merecimento.

O Tambor de Mina em Macapá como as outras variantes do culto, sempre foram

espaços estratégicos da resistência negra no que diz respeito à difusão da própria cultura, do

saber popular, da oralidade, da convivência familiar, e da seriedade com que vem sendo

tratada cada casa de santo. Enfim, precisamos deixar claro que no coração da floresta, no

Norte do país se trabalha a religião de matriz africana.

CONCLUSÃO

A liberdade de expressão é um direito de todo ser humano, deve ser respeitada sem

distinção de cor, raça, gênero, orientação sexual e religião prevista em lei, contudo, deve ser

Page 20: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

20

assimilada e praticada no cotidiano de nossa sociedade que ignora às práticas do culto afro-

brasileiro que funciona como espaço de solidariedade, onde as pessoas buscam resolver seus

problemas existenciais. Como podemos observar, há uma complexidade muito grande em

entender em pequeno espaço de tempo o culto aos Orixás e Voduns, necessita de vivência e

disponibilidade para abrir-se para o novo e diferente. A disposição de que se espera de cada

um, pesquisador ou não é algo imprescindível para que cultivemos onde a convivência e a

diferença torne-se normal e possível.

Imbuídos dos anseios do povo de santo da Casa de Mãe Kátia Obaluaê, seus filhos e

filhas querem ser respeitados na maneira pela qual eles professam o seu credo na sociedade

Macapaense. A pesquisa desenvolvida pretende dar além da visibilidade do Tambor de Mina

em Macapá, mas também reforçar a luta pela liberdade de crença e pelo combate a

intolerância religiosa. Não haverá democracia plena no Brasil enquanto houver ofensas e

discriminação de ordem social e cultural, baseada em religião ou crença.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Maurício de Almeida. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP, 2006.

ARAÚJO, Ricardo Benzaquen. Chuvas de Verão. “Antagonismos em Equilíbio” em Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freyre. In: BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lilia Morita. Um Enigma Chamado Brasil 29 Intérpretes e um País, São Paulo: Ed Companhia das Letras, 2009.

BASTIDE, Roger Bastide. As religiões africanas no Brasil. Tradução de Maria Eloísa Capellato e Olívia Krähenbühl. São Paulo: EDUSP, 1960. P. 244.

BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação : teoria e metodologia. São Bernardo do Campo. Ed. Universidade Metodista, 2004.

BENISTE, José. Ás águas de Oxalá: àwon omi Òsàlá. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

Brasil: Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Pp. 221-273.

CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp, 2003.

Page 21: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

21

CATHOLIC ENCYCLOPEDIA. Saint Anne. Disponível em: www.newadvent.org.Acessado em: 02/03/2007.

CAMPELO, Marilu Márcia. Cultura, Religiosidade Afro-brasileira e Educação formal no Pará – os valores culturais afro-brasileiros chegam às salas de aula?Dimensões da Inclusão no Ensino Médio: Mercado de trabalho, religiosidade e educação quilombola. Coleção educação para todos - MEC/SECAD. 2006.

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa. Editora: Verbo. Lisboa, 2001.

DIAS, Dernival Ribeiro. Minidicionário da língua portuguesa. Ed. DCL,São Paulo, 2010.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa, Martins Fontes, São Paulo, 1996.

DURKHEIM, Émile. «Détermination du fait moral», in: Sociologie et Philosophie. Paris, PUF, 1963, pp. 49-90 (p. 50). As traduções encontradas no texto são nossas.

ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, 2008.

EMBRATUR. Rio antigo: roteiro turístico-cultural do centro da cidade. Rio de Janeiro:AGGS, 1979.

ENDERS, Armelle. História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. -2. Ed.,reimp.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,2009.

FERNANDES, Francisco. Dicionário brasileiro globo. LUST, ed.Globo.São Paulo, 1991.

FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Repensando o Sincretismo: Estudo sobre a Casa das Minas. São Paulo/São Luis: Editora da Universidade de São Paulo/ FAPEMA, 1995, pp. 53.

FERRETTI, Sergio. TAMBOR DE MINA. https://ar. groups. yahoo. com/ neo/ groups/invisamayombe /conversations/topics/637. Acesso em 25 de marco de 2014. FERRETTI, Mundicarmo. TAMBOR DE MINA E UMBANDA: O culto aos caboclos no Maranhão. JORNAL DO CEUCAB-RS: O triangulo Sagrado, Ano III, n. 39 (1996), 40 e 41 (1997).

Page 22: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

22

FRANCO, Júnior Hilário. A idade Média, Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

FREIRE, Gláucia de Souza. Do Viver Ao Praticar: Sincretismo Religioso No Brasil Colonial. Universidade Federal de Campina Grande. 2008

GERSON, Brasil. História das ruas do Rio. Rio de Janeiro: Lacerda, 2000.

GIORDANI, Mario Curtis. História da África – anterior aos descobrimentos. Ed. Vozes – 4ª Edição. Petrópolis - RJ.

IPLANRIO. Guia das igrejas históricas da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:Secretaria Especial de Projetos Especiais, 1997.

LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.

MELLO, J. B. F. de. A humanização da natureza - uma odisséia para a (re)conquista do paraíso. IN: SILVA, S. T.; Viana, O. M. Geografia e questão ambiental. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.

MIRANDA, M.F. (2000). Inculturação da fé e Sincretismo religioso. In.: Revista Eclesiástica Brasileira. N°238, p. 275-293. Rio de Janeiro.

MORAIS, Paulo Dias. O Amapá na mira extrangeira: dos primórdios do lugar ao laudo suíço- Macapá: JM Editora gráfica, 2006.

NETO, João Colares da Mota e ALBUQUERQUE, Maria Betânia Barbosa. A educação no cotidiano de um terreiro do Tambor de Mina na Amazônia: por uma epistemologia dos saberes cotidianos. Artigo Científico. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA - 2008). ORIXÁS DA UMBANDA. Disponível em: << http://umbanda-orixas. info/ mos/ view/ Orix%C3%A1s _ da _Umbanda/>>. Acesso em 08 abri de 2014.

OTTO, Rudolf. O Sagrado: um estudo do elemento não-racional na idéia do divino e a sua relação com o racional. (tradução: Prócoro Velasquez Filho). São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985.

PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: EDUSC, 1999.

Page 23: TAMBOR DE MINA NAGÔ: DESCONSTRUINDO MITOS EM … · No texto pretendemos fazer uma discussão a cerca do Tambor de Mina Nagô localizado na cidade de ... Idade Média levou o ocidente

23

PRANDI, Reginaldo. Encantaria brasileira. O livro dos mestres, caboclos e encantados. RJ, 2004. 1ª edição. Editora Pallas.

SARACENI, Rubens. “Orixás- Teogonia de Umbanda”, ed. Madras: Rio de Janeiro, 2002.

SOUZA JUNIOR, Vilson Caetano de (org.) Nossas Raízes Africanas – das culturas africanas às religiões afro-brasileiras. São Paulo: 1ª Edição 2004. Centro de Estudos de Cultura Negra e Teologia.

SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

SOUZA, Laura de Mello e. Inferno Atlântico: Demonologia e Colonização Séculos XVI – XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

VALENTE, W. (1976). Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro. 2 ed. São Paulo. Editora Nacional, Brasília.

VERGER, Pierre. 1987. Fluxo e Refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos. Salvador: Currupio, 1987.