TARITUBA um lugar com muitas conchas · Uma história de encontro da alteridade que virou...

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TARITUBA um lugar com muitas conchas Eleonora Gabriel Foi num banho de mar em Tarituba que a Companhia Folcló- rica do Rio-UFRJ revelou para si a possibilidade de transmis- são de saberes que vão e vêm como as ondas, levando à educa- ção e à arte um balanço de mãos dadas para dançar cirandas. Uma história de encontro da alteridade que virou diversidade, alegria e identidade na UFRJ e em Tarituba – um lugar com muitas conchas. Palavras-chave CIRANDAS, TARITUBA, UNIVERSIDADE. GABRIEL, Eleonora. Tarituba: um lugar com muitas conchas. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 117-36, 2006.

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GABRIEL, Eleonora. Tarituba

TARITUBAum lugar com muitas conchas

Eleonora Gabriel

Foi num banho de mar em Tarituba que a Companhia Folcló-rica do Rio-UFRJ revelou para si a possibilidade de transmis-são de saberes que vão e vêm como as ondas, levando à educa-ção e à arte um balanço de mãos dadas para dançar cirandas.Uma história de encontro da alteridade que virou diversidade,alegria e identidade na UFRJ e em Tarituba – um lugar commuitas conchas.

Palavras-chaveCIRANDAS, TARITUBA, UNIVERSIDADE.

GABRIEL, Eleonora. Tarituba: um lugar commuitas conchas. Textos escolhidos de culturae arte populares, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p.117-36, 2006.

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Textos escolhidos de cultura e arte populares, v. 3, n. 1, 2006.

Tarituba, distrito de Paraty-RJ. Maiode 1989. Festa de Santa Cruz.

Os habitantes de Tarituba sepreparam para mais uma festa de suapadroeira. Nesse ano, especialmente,sentem-se curiosos com a presença umgrupo de “artistas” universitários que,em acordo com a festeira, o capelão e osmestres de cantorias e danças, levariamà festa as cirandas e a folia de Santa Cruz(anteriormente pesquisadas) que durantemuitos e muitos anos fizeram parte dascomemorações e que, hoje em dia, nãoacontecem mais. Ou melhor, nãoaconteciam.

– Mas, e a viola? – disse seu João,esperançoso de que nosso plano (delestambém) seduzisse os jovens da cidade.

– Nós trouxemos – dissemos nós, re-ceosos do que poderia ser aquele mo-mento.

– Então eu puxo os versos da procis-são e bato o pandeiro. Vocês tocam a vi-ola, o violão, a caixa e fazem o coro. –disse seu João, bastante empolgado.

– Tá certo – respondemos, totalmen-te emocionados. E, pelas ruas e depoisdentro da igreja, cantamos a folia deSanta Cruz. Harmonizando as três vo-zes e acordes, as lágrimas, deles e nos-sas, corriam para os corações.

Naquele momento dois mundos vira-ram um: Brasil... Cercados de azul ebranco (cores da festa), cantamos jun-tos as histórias de toda uma história, eoutros puxaram do fundo de suas me-mórias e verdades um belo canto de lou-vor, que não os deixa esquecerem quemsão...

– Vocês vão dançar a chiba cateretê?– surpresos, perguntaram.

– Vamos mostrar como entendemose vocês nos ensinam como se lembram.Mas precisamos de alguém para tocar o“mancado” (caixote que é percutido comdois tamancos de madeira, “calçados”nas mãos, e acompanha as dançassapateadas).

– Eu toco – disse Inês (sobrinha-netado mestre de seu Chiquinho, na épocamuito doente, mas presente), nascida ecriada na cidade e que, agora, estuda emora em Angra dos Reis.

Seu João calçou o tamanco empres-tado, outros taritubenses cataram saias,chapéus e versos, e caíram no cateretê,mostrando pra gente o prazer de criar esapatear na beira das saias das mulhe-res, levantando areia do chão e como sãomais fortes e unidos do que realmentese lembravam.

A UFRJ, através da Companhia Fol-clórica do Rio – UFRJ, apreendeu e de-volveu esse saber popular à comunida-de, cumprindo seu papel de divulgar ecompartilhar o conhecimento produzi-do, reforçando sua função na transfor-mação social, e o sentimento, e ações decidadania e identidade.

Este artigo pretende contar mais umpouco dessa história que dura até hoje,2005, quando realizamos nossa últimavisita, e parece que, como o mar, nãotem fim.

Um pouco da história local e das ci-randas. A chegada desta pesquisadora,como aprendiz e curiosa, o que levou aCompanhia a essa experiência algum

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tempo depois. Daí toda uma trajetóriade encontros por meio da arte popularfoi-se desenvolvendo entre nós, ciran-deiros e comunidade universitária, em-balados pelas marolas taritubenses, sal,areia e muita música e danças. Nessa co-munhão dançante podemos percebervárias formas de transmissão de conhe-cimentos que os dois grupos vivenciam.

Parece que a linguagem artístico-cul-tural nos fez transpor as barreiras natu-rais da alteridade e criou diversidade,nos dois corpos, inspirados pela poesiaque veio do mar de Tarituba – um lugarcom muitas conchas.

Tarituba e suas cirandasO povo do lugar diz que Tarituba quer

dizer lugar com muitas conchas. Segun-do o Dicionário Tupi/Português, de LuisCaldas Tibiriça, itã significa concha, etyba, ajuntamento, conjunto. Talvez te-nha vindo daí esse nome. Muitos con-tam que lá existiam índios, “muito anti-gamente”.

Os Goianá estavam localizados naIlha Grande, em Angra dos Reis eParaty (...) foram exterminados,começando por aqueles que vivi-am no litoral (...) Hoje já não existenenhum falante da língua (...)goianá (Pro-Índio, 2002: 11-2).

Tarituba é o terceiro distrito de Paraty,município que fica no sul do Estado doRio de Janeiro, quase fronteira com o Es-tado de São Paulo. É uma enseada e umótimo porto, aonde, até a década de 1970,só se chegava por mar. A maioria da po-pulação é da família Bulhões ou Meira,

ou das duas, de procedência, tudo indica,portuguesa. Seus habitantes continuam apraticar a pesca como subsistência e tam-bém outras atividades, incentivadas peloturismo, cada vez maior.

O Município de Paraty teve grandeimportância na época do ouro, que trou-xe ao local portugueses, entre outrospovos europeus, e mão-de-obra escrava.Os taritubenses antigos contam quebrancos e negros descendentes se davammuito bem. João Bulhões, nosso princi-pal informante e grande amigo, conta:

Era muito bonito, Lola. Quandoalguém tava precisando, a gentefazia o mutirão. Era todo mundojunto, negro, branco, todo mun-do se dava muito bem, e dançavamuita ciranda no final (2003).

Este momento de solidariedade acon-tece quando um tipo de adjutório, trai-ção, treição (sic) é organizado,

um dia inteiro de trabalho cole-tivo e não-remunerado, pra queo “dono do mutirão” ponha emdia as suas terras e salve o tempode semear (Brandão, 1993: 17).

Segundo entrevistas, era muito co-mum em Tarituba. No final do dia o “pa-trão” servia comida e bebida e, comoconta Brandão, sobre a mesma situaçãonuma cidade de Goiás:

Os homens afastaram os poucosmóveis e formaram as duas filasde uma dança chamada “catira”.Puxados pelos cantos e toques deum par de violeiros, repetiramnoite adentro os entremeios depalmeados e sapateios” (id. ibid.:20).

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Como em Tarituba. Parece que essatroca de bens e serviços entre as pessoastem uma coreografia de eventos: a sur-presa (ninguém pede para ser ajudado,no máximo convida), o trabalho coleti-vo, a comida e a festa. Pena que hoje emdia pouco vivemos esse momento soci-al, mas também sabemos que, de quan-do em vez, amigos se reúnem para “vi-rar uma laje” ou pintar a casa de alguémquerido, mesmo na cidade do Rio deJaneiro.

Toda a região manteve por muito tem-po várias manifestações folclóricas re-veladas nos mutirões e outros momen-tos de vida social dos três grupos quehistoricamente se encontraram por lá:índios, negros e brancos. Possivelmen-te, por ser local de difícil acesso. Mas,depois da construção da estrada Rio-San-tos, a cultura popular local foi bastanteafetada. Aliás, muitas transformaçõesaconteceram. Sem dúvida, a obra trou-xe melhorias e avanços para Tarituba,mas parece que a notícia desse empre-endimento fez com que vários interes-sados na compra de terras se antecipas-sem. Algumas terras da família Bulhõesforam vendidas a particulares, e outrasda família Meira, ao Hotel Luxor. Ludi-briados, com problemas para pagar osaltos impostos e acreditando que pode-riam ficar eternamente em suas casas,como o prometido, os pescadores de Ta-rituba têm, há anos, sofrido com a pos-sibilidade de despejo. Além da real ame-aça de construções empresariais inade-quadas. O caso tramita na justiça, masnada trará de volta a paz e tranqüilida-de de outrora, quando todos os morado-

res tinham laços de parentesco ecompanheirismo.

A comunidade, de alguma forma, semantinha auto-suficiente, mas a facili-dade de abastecimento de alimentos eserviço hospitalar nas cidades maioresfez com que o povo abandonasse a agri-cultura e a medicina popular, e se tor-nasse totalmente dependente de Angrae Paraty. A pesca, apesar de continuarsendo de subsistência, divide lugar como turismo. E, talvez, se não fosse a es-trada, não tivessem resolvido construiruma usina nuclear bastante próxima deTarituba. São os inevitáveis opostos doprogresso!

E as cirandas? Aparecida, filha deTarituba que escreveu monografia de seucurso de História sobre a cidade, diz:

Por algum tempo a população foiperdendo o apreço por suas dan-ças. (...) Esta concepção só irá semodificar, já na década de 80,quando um grupo folclórico daUFRJ estuda e apresenta a comu-nidade a riqueza de sua cultura.Surge, então uma reação com areativação de um grupo folclóri-co (...) e figuras como a de “Mes-tre Chiquinho”, mestrecirandeiro, tornam-se orgulho dacomunidade” (Souza, 1994: 20).

O baile em Tarituba chama-se ciran-da, chiba ou cateretê. Ciranda e chiba-cateretê são, também, nomes de duasdanças desse conjunto de coreografiasfixas, de pares dependentes, isto é, comcoreografias marcadas em que todos exe-cutam os mesmos movimentos a maio-ria do tempo, umas sapateadas e outras

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não; e danças com os casais enlaçadosexecutando coreografia livre, dentro doritmo específico.

Seu João conta que “muita coisas denamoros, paixões, eram reveladas nosbailes”. Quem queria namorar comquem, quem amava e não era correspon-dido, e até pedidos de casamento, tudono verso. Arantes cita Malinowski, quedesenvolve o argumento de que

o amor, as aproximações sexuais,o erotismo, combinados com amagia do amor, são apenas fatoscostumeiros (...) constituem umgrande sistema de parentesco,que controla as relações sociais(...), domina a sua economia, pe-netra a sua magia e mitologia eentra em sua religião e mesmoem suas produções artísticas(Malinowski, apud Arantes,1982: 37).

Frade reafirma dizendo que

esse baile favorece a manutençãodos laços familiares e de cama-radagem (...) a ciranda propiciaa ampliação da rede de relaçõessociais (Frade, 1986: 70).

Em Tarituba, geralmente, o baile co-meçava com o (ou a) chiba cateretê, atéhoje tida como a dança mais importan-te, com muito sapateado e palmeado.Dançam também as mulheres, que nãosapateiam nem batem palmas, mas ro-dopiam, fazendo girar suas longas sai-as. Seu João diz: “As mulheres rodampara fazer uma cortesia aos cavalheiros”(2003). O chiba-cateretê e a tontinha deTarituba são danças sapateadas com ta-

mancos de madeira, tamancos de “por-tuguês”. Seu João lembra que:

Todo pescador tinha um taman-co que a gente mesmo fazia demadeira de laranjeira e couro decotia, que tinha muito aqui, eeram bem resistentes. Usava pratrabalhar (2001).

Os taritubenses escolhiam a casa dealguém que tinha um chão de madeira,“ensoalhada”, para fazer bastante baru-lho.

A gente batia com tanta força! Seo tamanco tava apertado e ma-chucava o dedo, ninguém liga-va, nem sentia. Uma vez o negroFelipe perdeu o dedo mindinho,e nem viu. O pessoal de outroslugares que tavam passando, ou-viam lá do mar o sapateado dagente. Aí vinham também. Che-gavam ficavam olhando, apren-dendo, depois entravam na brin-cadeira. Deixavam de pescar pravir brincar. O negócio era bom(2001-2003).

Continua dizendo que, hoje, o pesso-al bate muito fraquinho e não tem o âni-mo de antigamente. Rodrigues diz queo esforço, empregado pelos pés na rela-ção com solo, varia nas danças popula-res, e essa variação também é simbóli-ca. Em relação ao esforço máximo – queé o caso do sapateado –, na linguagemdos pés, significa penetração,enraizamento e, diz a autora:

estremece a terra e arranca de seuinterior a força (...) numa entre-ga absoluta que todo corpo parti-cipa. A imagem é de que a terrase move em resposta a este cha-

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mado, impulsionando os pés devolta (...) os pés transpõem asfronteiras e nos revelam a sua ca-pacidade de articular significadose de se interligarem emocional-mente à terra (Rodrigues, 1997:47-8).

Será que isso explica a afirmação deseu João e marca a diferença de execu-ção?

No cateretê de Tarituba, o mestrecantador orienta a dança dando ordenspara a hora do sapateado, do palmeadoe para formar o círculo. Diz seu Joãoque o chiba levava horas, e depois vi-nham as outras danças para descansar.

O responsável pela brincadeiradava café duas vezes, com beiju,mistura (vários peixes pequenos)e farinha boa. Antes de ir embo-ra de manhãzinha, comia de novo(2001).

As outras danças são chamadas demiudezas e eram muitas. Frade contaque o mestre Francisco José de Bulhões,seu Chiquinho, pai de João, falava queeram mais de 50. “A não ser que a con-tagem do mestre Chiquinho seja ‘maisuma de pescador’” (Frade, 1986: 67).Frade descreve no livro Cantos do fol-clore fluminense, fruto de pesquisas emTarituba, no período entre os anos de1975 e 1984, além do chiba-cateretê(abertura) e tontinha (encerramento), asseguintes danças miúdas: zombador, flordo mar, mariquita, o limão, o arara, ochapéu, despedida de amor, marrafa,namorador, choradinha, cana-verde, ca-boclo “véio”, ciranda e caranguejo. Ou-tras informações sobre as danças podem

ser pesquisadas na publicação mencio-nada e na dissertação da autora.

Para onde foi a motivação desse povopara realizar suas rodas e sapateados?Contaremos agora um pouco da histó-ria do encontro do conhecimentotaritubense com a curiosidade acadêmi-ca da UFRJ.

O encontro

Num certo dia de maio, por volta dodia 3, dia da comemoração, de 1984,cheguei, pela primeira vez, a Tarituba,a fim de desenvolver uma pesquisa decampo para o curso de Especializaçãoem Folclore Brasileiro que estava reali-zando na Escola de Música da UFRJ, enão podia imaginar que ali começariauma história de vida, pessoal e profissi-onal tão intensa como a que vivo até hojejunto com a Companhia Folclórica doRio-UFRJ.

Ainda bem inexperiente em relaçãoà observação necessária a um pesquisa-dor, fiquei primeiramente maravilhadacom o lugar. Naquela época, Taritubanão tinha 500 habitantes ainda. A cida-de ficava aconchegada entre a Serra doMar, a Rio-Santos e o mar. Uma cidadeemoldurada pela natureza. Algumas ca-sas, uma pousadinha à beira da praia,um mar calminho com um píer de ma-deira e alguns barcos típicos da região.Encantei-me!

Era festa de Santa Cruz, padroeira dacidade, que estava embandeirada de azule branco. Cândida Gil Braz – donaVidoca – arrumava os anjinhos, muitos

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anjinhos, que “voariam” puxando a pro-cissão mais tarde.

Munida de um gravador de fita cas-sete e com máquina fotográfica, ambosbem arcaicos, eu registrava o que via.Uma coisa que muito me impressionoufoi a atuação de Cáscia Frade, professo-ra da Uerj e, na época, diretora da Divi-são de Folclore da Secretaria de Culturado Estado do Rio de Janeiro, que já háalgum tempo pesquisava na localidade.A intimidade com a comunidade e o jei-to carinhoso e relaxado da mestra comos mestres populares me fizeram apren-der uma metodologia que talvez nenhumlivro possa traduzir. Um misto de expe-riência e cuidado fraternal com os ma-nifestantes, que os fazia entenderem quetoda aquela expressão religiosa e de lazereram belas e importantes. Mas não pudedeixar de notar, também, que a pesqui-sadora tinha que se mobilizar muito paraque as danças realmente acontecessemdo jeito de outrora. Já naquela épocaquestionei até que ponto a motivação doagente externo influencia o desenrolardo evento popular.

Como já disse, naquele primeiro ins-tante, além de me levar ao balanço dascirandas, de ficar surpresa por haver umadança sapateada no meu estado, tive aprimeira vivência mais sistemática coma pesquisa. Carregava um questionáriopara colher as principais informações, epude entender que a pesquisa em cam-po, envolvendo uma história cultural,desenvolvida com laços de parentesco,como em Tarituba – enfim, muito ínti-ma das pessoas –, exigia do pesquisa-dor conhecimento acadêmico de técni-

cas de pesquisa e, sobretudo, muito afe-to. Será que isso impede o dito distanci-amento necessário do objeto pesquisado?Ou sem afeto não conseguiríamos con-quistar o íntimo, o subjetivo? A mestraCáscia transmitiu-me um saber que de-lineou muito das minhas ações enquan-to pesquisadora. Viva os mestres gene-rosos, de qualquer espaço e tempo!

Voltando a 1984, vivi e registrei afolia de Santa Cruz nas ruas e na igreja,e as cirandas no clube, isto é, Associa-ção Recreativa Folclórica de Tarituba,construída com o dinheiro arrecadadona gravação de um disco compacto, pa-trocinado pela Funarte e coordenadopela professora Cáscia Frade, na déca-da de 1970; e ouvi muitas histórias.

Contei tudo isso à minha turma da pós-graduação, e, dentro da minúscula salade Pesquisas Folclóricas da Escola de Mú-sica-UFRJ, simulamos um baile e leva-mos para aquele acervo mais esse produ-to cultural brasileiro. Foi um sucesso, e aprimeira vez que eu transmitia ao meioacadêmico esse saber popular.

O tempo, como sempre, correu!!!Quando do nascimento da Companhia

Folclórica do Rio-UFRJ, grupo universi-tário que integra pesquisa, ensino e ex-tensão sobre a cultura popular, em 1987,as cirandas e a folia de Santa Cruz deTarituba foram inspiração para nossasprimeiras montagens artísticas. Depois dealgum tempo, soubemos que os tarituben-ses não dançavam nem cantavam maisessas manifestações, então, combinamoscom os mestres uma ida à cidade, em1989, na época da festa da Santa Cruz,para apresentar nossa interpretação de sua

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cultura popular e, talvez, incentivar osjovens. Um plano louco, que causou umencontro maravilhoso!

Na época éramos todos jovens, até eue a professora Rosa Zamith, da Escolade Música-UFRJ. Estávamos muito ner-vosos! Fiquei imaginando o que um co-lega antropólogo ou sociólogo oufolclorista mais radical diria daquele“abuso”. Foi uma das primeiras viagenspara realização de pesquisa do nossoprimeiro projeto “Memória Cultural doEstado do Rio de Janeiro”, que resulta-ria, mais tarde, no espetáculo Riojanei-rices, que apresenta danças e folguedosfluminenses.

Talvez seja fácil imaginar esta situa-ção: a população de uma cidade de duasruas, recebendo 30 universitários queviriam dançar as cirandas e cantar a fo-lia deles. Surreal! Mas foi real a emo-ção que produzimos e sentimos!

O mestre Francisco José de Bulhões,seu Chiquinho, tinha sofrido um derra-me e não conseguia mais tocar e cantar.Esse e outros eventos históricos, que vi-nham acontecendo há algum tempo, pro-vavelmente, tinham provocado a para-da da execução das cirandas e folias,como: a abertura da Rio-Santos, quetransformou toda a vida da região, in-clusive em relação à posse das terras; odesejo e necessidade dos jovens de estu-dar e trabalhar em outras localidades (aescola de Tarituba só vai até a quartasérie do ensino fundamental); e, princi-palmente, o acesso aos meios de comu-nicação da cultura massiva. Mas, comtodos estes fortes motivos, acredito quea morte ou doença de mestres seja, tal-

vez, o mais contundente. Como o criarversos, se encontrar para contar históri-as, dançar, mesmo em Tarituba, já nãoeram tão comuns, a presença do indiví-duo que é o artista, o que tem o dom damúsica, da memória, da alegria e tam-bém da liderança e admiração dos de-mais, como nosso saudoso mestre Chi-quinho, se faz determinante na persis-tência da manifestação. Parece que essepersonagem é o mediador entre o passa-do e o presente, a inspiração e a criaçãoartística, a natureza e o homem,

“Dono” do terno e senhor de sua arte epalavra, o mestre, o chefe, o capitão équem o mantém unido, quem ordena osensaios e zela pela qualidade do desem-penho do canto e dança de “sua gente”.Dele se espera a memória para reprodu-zir o conjunto do “cantório” ou a sabedo-ria do improviso, no momento em que épreciso criar no ato um verso novo quesaúde na rua ou na casa de alguém, umapessoa, um santo festejado ou um aconte-cimento inesperado. (Brandão, 1987: 4)

Seu Chiquinho como o transmissordo conhecimento, como detentor da ex-pressão de arte da comunidade, prova-velmente foi o criador de muitos versosreproduzidos até hoje

A criação do folclore é pessoal.Alguém fez, em algum dia. Massua reprodução ao longo do tem-po tende a ser coletivizada, e aautoria cai no chamado domíniopúblico (Brandão, 1993: 34).

Mas não existiriam outros? Isso é quevamos constatar no final desse primeiroe quase indescritível momento.

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Como já narrei, participamos da pri-meira procissão do sábado, cantando etocando junto com o senhor João Meirade Bulhões – um dos mentores do planoem ação, filho de Chiquinho, aquelecharmoso informante de 73 anos, de quefalei acima – a folia de Santa Cruz. Afolia, conta Brandão, foi uma dança po-pular, profana, costumeira em Portugalnos séculos XVI e XVII, dançada porrapazes com guizos, caixas, adufes (pan-deiros artesanais) e violas. Desde os pri-meiros séculos do cristianismo, houvedanças dentro de locais de culto cristão.As folias ocorriam também nas procis-sões. No Brasil, eram muito comuns pro-cissões em que

as irmandades católicas desfila-vam festivas, ocupando alas ale-góricas e, ricamente fantasiadas,cantavam e dançavam e represen-tavam cenas da vida dos santospadroeiros (...) estudiosos do Car-naval brasileiro admitem queuma das origens remotas das es-colas de samba foram as grandesprocissões da época da Colônia(Brandão,1993: 59-60).

Desde aí são conhecidos atos de bis-pos e padres que queriam controlar ouproibir expressões populares dentro daIgreja, acusadas de inadequadas e sen-sualmente inaceitáveis. Muitas manifes-tações foram atingidas, e ainda o são,mas outras continuaram, criando umareligiosidade popular brasileira, que,permitida dentro das igrejas ou não,mantém sua força de fé. E o padre Mar-celo Rossi? Parece que a Igreja católica

teve que se flexibilizar para manter seusfiéis. Os taritubenses hoje também fa-zem gestos na cantoria litúrgica, tocadaem vários ritmos. Será que por isso nãoprecisam mais das folias, que são sómusicais?

Ao som da viola, violão, pandeiro ecaixa, chegamos à capela da Santa Cruzde Tarituba cantando e chorando a fo-lia. Seu Chiquinho estava sentado no al-tar esperando aquele acontecimento. Vi-mos que muitos ainda se lembravam deversos e do coro em três vozes. Seu João,em entrevista em 2001, diz sentir faltado “triple” na folia – uma voz muito agu-da, feita por uma mulher, uma criançaou um homem habilidoso e que tem vá-rios nomes no Brasil. Essa estrutura detríade de timbres sonoros é muito co-mum na cultura popular. O que muitome impressionou foi a habilidade de seuJoão em criar versos na hora, até com omote daquele encontro que estava acon-tecendo ali, o que já o caracterizavacomo herdeiro, também nesse sentido,do mestre seu pai. Aliás, nosso povo époeta de norte a sul do Brasil, improvi-sando, rimando, encantando, tudo e to-dos, e pouco utilizamos este dom na edu-cação ou escolas de arte. Burke fala so-bre a arte de improvisar e cita um artis-ta do período que estudou:

Como as expressões ou motivosestavam ligados, quer por livreassociação, ou através de esque-mas (tradicionais), o executantenão tinha dúvida sobre o que vi-ria a seguir: as coisas vêm na mi-nha cabeça como se eu estivesseolhando para elas, e antes de aca-

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bar uma palavra, a próxima já es-tava ali em ordem (1999:168).

Complementa dizendo que, na épo-ca, e acredito para sempre, os dotadosfazem uma “associação de palavras oumotivos com partes de um edifício realou imaginário”, a arte da memória, quefacilita o improviso e a transmissão dosaber. Os versos de seu João contaram anovidade, a tradição e o encontro.

Quando olhei para seu Chiquinho, eleestava “somatizando” não só a doença,mas um tremor de alegria, pois, mesmona face um pouco deformada, um sorri-so cheio de luz surgiu, e as lágrimas vi-eram lembrar a todos que estávamos vi-vendo a memória eternizada e em mo-vimento, naquele instante. Todo meucorpo virou som e integração com aque-la capelinha à beira do mar, cheia degente que parecia já conhecer e de genteque estava ali pelas minhas mãos, deeducadora, artista e apaixonada. O queserá que estávamos fazendo?

Voltando ao sábado de maio em 1989,terminada a “parte religiosa” – se é quepodemos dividir uma festa, de padroei-ra ou outra, em sagrada e profana – che-gou a hora das danças. Que danças? Umtecladista, deficiente visual, aliás, mui-to bom, já estava pronto para animar obaile, tocando e cantando músicas comobolero e samba. Brandão faz uma ima-gem tão linda da bricolagem da festa,que reproduzo integralmente, por acre-ditar que a dança das palavras que crioué única...

Um momento do olhar na praçade uma cidade em festa poderiaoferecer o ilusório espetáculo de

uma combinação de corpos, degestos, de vestimentas e de situ-ações (...) É preciso guardar asproporções e as diversidades re-gionais, mas o sentido e a estru-tura variam muito pouco. A festaé uma viagem: vai-se a ela e alitransita-se entre seus lugares. Porisso o desfile, o cortejo, a procis-são, a folia e tudo o mais que pos-sibilite fazer deslocar, entre aspessoas e pelos lugares que a pró-pria festa, simbolicamente rees-creve e redefine: sujeitos, cerimô-nias e símbolos (Brandão, 1993:13).

Mas o povo estava curioso e paroupara ver o que aqueles universitários iri-am aprontar. Então reunimo-nos, muitagente da cidade e nós, na rua principal.Começamos explicando o que estávamosfazendo ali e que apresentaríamos asdanças como tínhamos entendido na pes-quisa em 84, e também baseadas na in-terpretação da professora Cáscia Frade,que já tinha publicado no livro Cantosdo folclore fluminense algumas das Ci-randas. E começamos!

A cada dança parávamos e pedíamosque eles nos ensinassem como lembra-vam das danças e a forma de tocar. Per-cebemos que alguns detalhes das coreo-grafias eram diferentes no entendimen-to dos jovens e no dos antigos, e que tam-bém se diferenciavam da nossa concep-ção. Quem estaria certo? Existe um cer-to? Entendemos que a nossa recriaçãopodia ser modificada, mas o que eles nosmostravam é que o dinamismo da cul-tura cria formas diferentes, mas o con-teúdo continuava o mesmo. A essência

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se manteve, e concretamente os passose distribuições espaciais modificarammuito pouco, nos três grupos. DizBrandão:

O ser humano é basicamente cri-ativo e recriador e os artistas po-pulares que lidam com o canto, adança, o artesanato modificamcontinuamente aquilo que um diaaprenderam a fazer. Essas são asregras humanas da criação e doamor (...) incorporar o velho nonovo e transformar um com opoder do outro (Brandão, 1993:39).

Hoje já podemos notar uma diferen-ça maior, e a concepção da CompanhiaFolclórica do Rio-UFRJ, em alguns as-pectos, está mais próxima da interpre-tação dos antigos. Que loucura!!!

Aquele baile, ali na rua, começou aser de todos. A arte nos uniu. Seu Quin-zinho, o senhor Joaquim Meira, pegouo pandeiro para mostrar aos nossos mú-sicos a batida tradicional e especial dascirandas, o neto dele pegou a viola de10 cordas e em pouco tempo a roda deciranda cresceu, misturando todos etudo. Parece que tinha dado certo nossoplano, mas só o tempo diria se haveriauma nova consagração das cirandas eda folia. Fomos para o baile do “Cegui-nho”, como era chamado o músico já co-nhecido da cidade e morador da região,na Associação Recreativa Folclórica deTarituba. Rimos, dançamos e começa-mos a nos entrelaçar afetivamente comos moradores descendentes das famíliasBulhões e Meira. Os jovens muito curi-

osos em saber por que nós do Rio de Ja-neiro, universitários, estávamos queren-do aprender o que eles achavam ser “coi-sa dos velhos”. “Coisa de cafona”, dizseu João (2003). Quanta dicotomia!

Fizemos parte de toda a programa-ção da festa, incluindo a principal pro-cissão, no domingo, cantando a folia deSanta Cruz. Essa procissão tinha anji-nhos envolvendo o festeiro que vinhacarregando a cruz que simboliza umahistória local muito antiga, vários de-votos carregando as bandeiras azuis ebrancas, dispostos em duas colunas; nomeio os músicos (taritubenses e cario-cas), e a Banda do Estaleiro Verolme,que fica ali perto. O som era de folia,músicas da Igreja e banda, cada um nasua vez. Um misto variado de músicasreligiosas e profanas, que dava um tommulticolorido à comemoração.

Após a procissão e a missa com pa-dre, o leilão, as brincadeiras infantis, osolhos de estranhamento, acredito nos-sos também, já estavam mais sorriden-tes e carinhosos. Continuando a brico-lagem de eventos em uma só festa, comodito acima por Brandão, os meninos daCompanhia foram convidados para jo-gar uma partida de futebol com o timeoficial de Tarituba, que fazia parte daprogramação da festa. E as mulheresenfrentariam o time feminino. Foi umvexame! Perdemos feio! Mas continua-mos participando, anualmente, dessesmomentos esportivos de integração ealegria, em que as diferenças talvez aca-bem mais facilmente, em que visitantese/ou pesquisadores são encarados comigualdade, e continuamos perdendo. Não

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tenho dúvidas de que o futebol encurtouas distâncias...e deixa a bola rolar!

À noite, no clube, repetimos o mes-mo que fizemos na rua no dia anterior.Mas até certo ponto. De repente, os tari-tubenses tomaram, com muito carinho,a viola, o pandeiro, violão, mancado, ostamancos, trouxeram suas saias e cha-péus, se organizaram, e mostraram atodos que as cirandas eram de lá, esta-vam lá, nos corpos de jovens e idosos.Caíram no cateretê e o chão do clubelembrou a razão de sua construção, aareia subiu, tudo estremeceu, principal-mente nossos corações. Viva a ciranda,viva a memória e a arte! Fomos convi-dados a entrar na dança e pudemos sen-tir o sentido da brincadeira, as forma-ções em linhas e rodas que imitam o vai-e-vem do mar, sem perder o contato, oolhar, do par, dos pares, num troca-tro-ca de gente, de corpos dançantes, de co-reografias que todos sabiam e criavam,conforme os versos do cantador, aliás,um neto de seu Chiquinho. O mancado,que é um caixote de madeira percutidocom um par de tamancos para acompa-nhar e dirigir (ao mesmo tempo) o sa-pateado dos homens, foi tocado por umasobrinha-neta do mestre, todos jovens,talvez substitutos do artista Chiquinho.E o difícil foi ir embora!

A arte nos uniu

Mantivemos contato pelo único tele-fone da cidade e voltamos por váriosanos à festa. Fizemos parte da progra-mação durante todo esse tempo, levan-

do espetáculos que mostravam váriasdanças folclóricas, frutos de nossas pes-quisas em outras cidades e estados. Essaera a nossa nova estratégia, levar até elesoutras expressões de outros povos, emostrar como eram bonitas e como, atra-vés delas, eles estavam ouvindo falar eadmirando outros lugares. E como ascirandas podiam, também, mostrar Ta-rituba, ser seu retrato na região, em ou-tras localidades e para si mesmo. SeuJoão, em entrevista em 2003, falando daCompanhia UFRJ, diz:

Eu falava: eles tão trazendo o quea gente tem também, eles tãolembrando que a gente tem quecontinuar. A gente tá esquecen-do o que é bom.

Levamos a eles tudo o que sabíamos:mineiro-pau e boi pintadinho de SantoAntônio de Pádua, jongo do Morro daSerrinha, pastoril pernambucano, reisa-do sergipano, samba carioca, carimbóparaense e tudo o mais que pesquisamose montamos. Era muito bom quando al-guém lembrava de alguma dança da re-gião, que parecia com aquelas. Até hojeas crianças da época, hoje adolescentese adultos, lembram-se das apresentaçõese têm um carinho enorme pelo grupo,que era mencionado como “o grupo defolclore, o grupo da Universidade”. Logono segundo ano, fomos dançar as ciran-das de Tarituba na festa do Divino emParaty, para divulgar o baile, que preci-sava de apoio das pessoas e da prefeitu-ra para ser retomado. Rompantes ques-tionáveis, mas que, parece, deram resul-tado, no médio prazo.

Um dia, começamos a ter muita di-

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ficuldade para ir, por falta de ônibus eapoio ao nosso projeto pela UFRJ, queenfrentava dificuldades e até um inter-ventor. E, principalmente, por acharmosque já era hora de Tarituba consagrarsua cultura sem nossa presença.

Com muitos problemas, principal-mente pela falta de um mestre músicopara cantar, tocar e criar versos, eles con-seguiram reunir um grupo, ainda semapoio, mas que começou a se apresentarnas festas da região e sensibilizou a pre-feitura do município. E estão dançandoaté hoje.

Durante alguns anos ficamos sem irà cidade, mas eu, sempre que possível,visitava-os e sabia das novidades. Tari-tuba ficou sendo um lugar aonde levei elevo as pessoas que mais amo, para co-nhecer, curtir o mar e a tranqüilidade, ealgumas vezes fugir desta loucura urba-na. Então, nunca perdemos o contato.Sentia uma certa preocupação dos ami-gos de lá, em estar me dando algumasatisfação do andamento da proposta dereativar as danças. Um certo incômodode me contar as dificuldades que esta-vam tendo, e isso me intrigou. Sabia bemo que é ter um grupo, as implicações eentraves, e podemos facilmente imagi-nar como isso se processa num lugar tãopequeno, onde todos são de alguma for-ma da família. Sinto que Tarituba tentaadministrar a invasão inevitável da cul-tura massiva, o aumento do turismo, quemelhorou a economia da cidade, mastambém mudou ou colocou em crise al-guns conceitos, que mantinham os gru-pos locais. Vejo alguns amigos muitoqueridos de lá, muito estressados com o

excesso de trabalho, bebendo muito oucom síndrome de pânico. Analiso comouma crise de identidade. Hoje Taritubatem tudo o que uma metrópole tem empequena escala, e, pior, até uma sireneda usina nuclear de Angra, que apitaráse houver um vazamento ou outro peri-go qualquer. E a usina é muito mais pró-xima deles do que de Angra dos Reis.Não sei, e acho que eles também, se oprogresso (a Rio-Santos, o porto queagora escoa mercadoria para Paraty, aconstrução de novas pousadas na cida-de e nas ilhas em frente que aumentou oturismo que virou subsistência também,e afastou um pouco o homem da pesca)trouxe felicidade para o povo. Parece queas exigências do mercado do mundo ca-pitalista encontraram esse povo despre-parado e criaram um choque, principal-mente, cultural. Mas quem está prepa-rado? Arantes diz que as transformaçõesprovocadas pelo processo de urbaniza-ção, nas relações sociais, são sentidastambém no plano da cultura.

No caso específico das artes, mo-dificam-se tanto as atividades de-senvolvidas, quanto o modo peloqual se organizam, para sua pro-dução, os moradores da área(1982: 61).

Longe de achar que esta minha terraquerida deva ficar intacta, imóvel – oque eu até adoraria –, é claro que astransformações são inevitáveis, porémme preocupam algumas reações. Seráque as cirandas poderiam ajudar a darforma ao que o taritubense quer ser? Elastambém sofrem essa crise, ou são partedela?

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Em 2001, um pequeno grupo daCompanhia voltou à cidade. Chegamospara a festa de Santa Cruz na madruga-da de sábado. Para meu espanto – e juroque meu coração deu uma disparada –,lá da estrada já ouvia aos berros o “Bon-de do Tigrão”!!!! Em poucos segundosme culpei de não ter ido mais lá e re-pensei que nem eu nem a Companhiatínhamos esse poder ou até direito demudar o que se quer. Chegamos ao some vimos que estava armado um palco degrande porte no campo de futebol. E ofutebol? E que havia uma dúzia de pes-soas espalhadas. Fiquei mais aliviada,mas não entendi nada. O mar estava deressaca e cobriu todo o píer, e a água jáchegava à pracinha. Nunca tinha vistominha Tarituba assim! No dia seguintea festa aconteceu normalmente, com al-gumas variantes, mas com alegria e par-ticipação de muitos.

Sempre me questionei se a cidade en-tendia e valorizava o que a CompanhiaFolclórica do Rio-UFRJ estava desenvol-vendo ali. Não com o objetivo de “en-cher o nosso ego”, mas no intuito de sa-ber o que realmente o povo achava. En-tão esta pergunta fez parte das entrevis-tas que realizamos em 2001 e 2003:Vocês acham que a presença da Compa-nhia aqui ajudou neste processo dereativação das Cirandas? Meu amigoSeu João declarou:

A verdade bóia, a mentira afun-da, com certeza vocês terem vin-do aqui foi o que fez o povo que-rer dançar de novo. Como fracas-sou um pouco, quando vocês vi-eram com o grupo da Universi-

dade, animou muito. Deu forçapra continuar e ainda pegava ins-trução com a gente pra fazer. Eaquelas apresentações que vocêsfaziam, aquilo era lindo, não po-dia ter parado. Aí houve o afas-tamento. Deixa aí para eles fa-zer, mas não houve interesse.Agora sim tá fazendo outra vez.A minha neta quando te viu per-guntou logo se ia ter o Boi. Cha-mou muita atenção. Sem dúvida,sem demagogia sem nada. Deumuita força, Lola (2001).

Sibélia, em 2003, agradeceu muito àCompanhia, pois diz que a partir da nos-sa aparição, o grupo que ela por muitotempo coordenou, com muita dificulda-de, foi criado:

Comecei junto com o grupo devocês. Vocês foram muito impor-tantes na minha vida, na minhahistória. Espero que nunca mor-ra esta força, esta união do nossogrupo com o de vocês

Armamos tudo para voltar à cidade,em 2003. Antes de ir, telefonei a Sibélia,perguntando se estava tudo certo. Elarespondeu que sim e perguntei quandoeles iriam se apresentar, e ela me res-pondeu que não sabia, pois os festeirosnão tinham convidado o grupo de ciran-deiros e que no programa tinha nossonome e umas apresentações de dançascom o título em inglês, de que ela nãosabia nem falar as palavras. Fiquei pas-ma e pedi o telefone do festeiro! Nósduas combinamos que eu começaria aconversa perguntando quando os ciran-deiros se apresentariam. Foi o feito. Asenhora respondeu que não sabia, mas

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que o grupo não tinha dito nada. Aí en-trei com toda a minha chique e mater-nal indignação, dizendo:

Como vai ter uma festa de SantaCruz sem cirandas? Estou levan-do um ônibus cheio de gente daUniversidade para ver as ciran-das. E não sei se a senhora sabeque eles estão gravando um CD,que vai gente de Angra filmá-lose também o pessoal da Secreta-ria de Cultura de Paraty.

Obviamente, a mulher falou que iaresolver tudo e se desculpou, pois nãolhe tinham falado nada. De novo, algunsestudiosos radicais do folclore teriam meexecrado, mas... Acredito, e sei que ou-tros pesquisadores me acompanham naidéia, que algumas interferências devemser feitas, pois a ignorância e toda amassificação que temos sofrido leva aspessoas a tomarem atitudes contra elase a coletividade de que fazem parte.Imagine a própria cidade não participardesse momento de conquista do grupode cirandeiros! Simone Bulhões, a atualcoordenadora do grupo, decidiu que elesse apresentariam de qualquer jeito. É afesta como espaço público. Mesmo osfesteiros sendo os responsáveis pela or-ganização, são os vários segmentos dacomunidade que fazem a festa aconte-cer. E houve ciranda no clube, sábado ànoite, com filmagem de profissionais deAngra, para o vídeo do grupo de ciran-deiros.

Brandão e Arantes apresentam ques-tões com as quais termino esta parte.Quando vamos a campo, às vezes, pare-ce que estamos nos dando com “obje-

tos”, diferentes, mais “puros”, sem tan-tos conflitos quanto a nossa realidade co-tidiana, imobilizados, a nosso disporcurioso e romântico de pesquisador. Naverdade, ali onde tudo parece ser trocassimples entre pessoas há, como acaba-mos de relatar, relações de poder. Exis-tem conflitos, oposições de interesse,problemas familiares. Por baixo da peledo corpo cultural vivo, “há sangue, os-sos, carne e nervos que são a vida socialque a pele da cultura estudada torna vi-sível” (Brandão, 1993:88). Arantes(1982) complementa: os símbolos cul-turais não estão vagando no vazio, elesse articulam em situações particularescolocadas pela estrutura de sua socieda-de, são produtos de homens reais.

Revivendo o baileComo podemos sentir, a produção

cultural e artística, apresentada nas dan-ças e folguedos tradicionais revela acomplexidade de cada detalhe cênicoexpresso através da coreografia, da mú-sica, da indumentária, do enredo, queformam a manifestação. O evento é te-cido pela história – não só a antiga, masa que está sendo escrita no cotidiano atu-al: o meio ambiente e a relação do ho-mem com ele, com a religião, com a his-tória de formação da comunidade, coma organização econômica e política, aproximidade aos grandes centros e ou-tros aspectos socioculturais que, de al-guma forma, ditam as concepções cêni-cas.

A transformação da funcionalidade damanifestação, com certeza, modificou a

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concepção cênica apresentada nos diasde hoje.

É possível preservar os objetos,os gestos, as palavras, os movi-mentos, as características plásti-cas exteriores, mas não se conse-gue evitar a mudança de signifi-cado que ocorre no momento emque se altera o contexto em queos eventos culturais são produzi-dos (Arantes, 1982: 20-1).

Era comum o baile acontecer em vá-rios momentos de folga da labuta no mar,nos mutirões, e em comemorações reli-giosas e de ritos de passagem, ou, ain-da, em qualquer momento em que se qui-sesse; quando todos dançavam juntos,sem separação entre dançantes e públi-co, ao contrário do que hoje acontece namaior parte do tempo. Mesmo no tempode seu Chiquinho já existia um grupoespecífico, que gravou o disco, mas acre-dito que a participação na dança era maiscomunitária, não só como uma apresen-tação.

O enfoque deste trabalho é sobre ogrupo atual, que existe já há algum tem-po, depois de nossa “intervenção”. Umgrupo de moradores de várias idades queexecutam as danças do baile como apre-sentação, e convidam o público a dan-çar, na hora da dança chamada ciranda(nome de uma das miudezas). Geral-mente, apresentam-se nas festas de SantaCruz, São Pedro, casamentos locais, ouquando se queira; em eventos nas cida-des próximas e onde são convidados, porexemplo, nos últimos anos vieram àUFRJ e à Casa França Brasil, na cidadedo Rio. Principalmente, a partir de vá-

rias situações históricas, observamos al-gumas diferenças na concepção cênicadas danças, que se adaptaram a um novocontexto, diferente de 1984, o qual, pro-vavelmente, continuará se dinamizan-do.

Algumas coreografias têm sido mo-dificadas ao gosto estético e habilidadedos dançarinos do grupo (muitos bemjovens), que hoje em dia têm a coorde-nação de uma moradora, SimoneBulhões, sobrinha-neta do mestre Fran-cisco Bulhões, seu Chiquinho, já faleci-do. O processo ensino/aprendizagem quedurante muitos anos foi o mais “natu-ral” possível através de observação evivência, hoje vem um pouco mais sis-tematizado, com reuniões e ensaios paraorganização e recriação das coreografi-as e das músicas. Brandão diz que o sa-ber popular, tradicionalmente, flui atra-vés de relações interpessoais.

Pais ensinam aos filhos e avós aosnetos. As crianças e adolescen-tes aprendem convivendo a situ-ação em que se faz aquilo queacabam sabendo. Aprendem fa-zendo, vivendo a situação da prá-tica, do trabalho cultural (1993:47).

Sobre as obras de arte da cultura oral,Burke comenta:

Eles aprendem ouvindo os maisvelhos e tentando imitá-los, e oque eles aprendem não são tex-tos acabados, mas um vocabulá-rio de fórmulas e motivos e asregras para a sua combinação,como uma espécie de ‘gramáticapoética’ (1999: 166).

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De alguma maneira o processo con-tinua sendo desse jeito, só que mais for-malmente organizado, mas, incentiva-do também por nós, com muita pesqui-sa com os antigos cirandeiros

Pela intimidade que tenho com o gru-po e com a coordenação, tive a “petu-lância”, de questionar a mudança na co-reografia da dança tontinha, na qual, asmulheres rodopiam como que querendo“ficar tontinhas”. Eles ouviram comatenção e continuaram fazendo do mes-mo jeito que recriaram. Recriar-se a todomomento, reproduz-se saber, crença ouarte enquanto é vivo, dinâmico e signi-ficativo. “Enquanto resiste a desapare-cer e, preservando uma mesma estrutu-ra básica, que a todo momento se modi-fica.” (Brandão, 1993:38). A formaçãoespacial e o movimento das danças, ob-servados por nós e confirmado em últi-ma entrevista com moradores, continu-am fazendo alusão ao movimento domar. São linhas e, principalmente, cír-culos que trazem formas ondulantes deir e vir, que demonstram a inspiraçãomarítima, da vivência e proximidade domar. A matéria, a essência cria as for-mas artísticas, diria Bachelard (2002).

Seu João afirma que o mar inspira:

Você está lá pescando trabalhan-do, aí você lembra de alguma coi-sa, vem aquela lembrança, a gen-te descobre as coisas, que é umcanto, e depois vem cantar, é umainspiração pra pessoa criar, avi-sar alguma coisa (2003).

Hoje os versos são em menor núme-ro, circunstanciais e de improviso, mas

bastante presentes, e são também os tra-dicionais, e alguns em relação ao mar.

Os instrumentos continuam sendoviola de 10 cordas, violão, cavaquinho,pandeiros ou adufes (pandeiro artesanal)e, na chiba e na tontinha, o mancado,geralmente colocado no colo, ou entreas pernas, do tocador. Em 2003, numaapresentação no projeto Caiçara, da pre-feitura, que tem o intuito de incentivara cultura da região, por falta de caixoteo ritmo foi percutido num rolo de fio deluz, o que não mudou em nada a quali-dade do som. Cáscia Frade diz que

Os andamentos das músicas sãodefinidos pelos toques introdutó-rios dos instrumentos, orientadospela viola do mestre. Geralmen-te ocorre em andante (Frade,1986: 109).

Segundo seu João, o andamento, hoje,está mais rápido, mas a melodia é a mes-ma:

Dá pra entender mas está dife-rente. Acho que o pessoal tem quese dedicar mais, e ouvir mais odisco que meu pai gravou. Mastá bom, tá animando (2003).

Além do chiba e da tontinha, o gru-po atual dança algumas miudezas: ci-randa, chapéu, caranguejo, flor do mar,e os versos, muitas vezes, poetizam omar e a atividade de pesca, que conti-nua sendo a subsistência desse povo, cri-ando formas tradicionais de trabalho epoesia.

O poeta ordena suas impressõesassociando-as a uma tradição (...)

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o complexo de cultura revive erejuvenesce uma tradição.(Bacherlard, 2002: 19)

Os trajes são baseados nas lembran-ças dos mais idosos e tentam manter ascaracterísticas dos tempos antigos, comsaias longas, chapéus de palha e taman-cos, acessórios que não são mais usadosno cotidiano, mas são muito importan-tes na execução das danças. Como jádisse, a dança tida como mais impor-tante do baile, o chiba-cateretê, é umadança sapateada com tamancos de ma-deira, muito usados antigamente pelospescadores locais. Hoje, nossa Compa-nhia leva esses tamancos para eles, poisnão são encontrados nas redondezas, ea madeira da laranjeira não é mais tãocomum. Mas como um dos dançadoresé uma criança bem pequena, um mora-dor tem confeccionado esse acessório, ea forma de fabricação foi relembrada.

Nas montagens e ações pedagógicasda Companhia, o que mais nos importaem relação às cirandas de Tarituba étransmitir às pessoas o desafio desapatear e rodopiar, harmonizando omasculino e o feminino, e a alegria dedançar junto, num baile, num momentode reunião e reafirmação de identidade,além de valorizar e divulgar essa cultu-ra que se mantém viva, resistente, so-bretudo por administrar as mudanças dotempo, do espaço e dos desejos. Hoje,não só o povo de Tarituba brinca com ascirandas, nós também nos divertimoscom elas e transmitimos a várias crian-ças e adultos nossos alunos da rede mu-nicipal e da UFRJ, fora as inúmeras pes-

soas que encontramos em cursos portodo o Brasil.

O homem taritubense, sua corporei-dade e desejos mudaram, mas, entre in-fluências positivas e negativas inevitá-veis na pós-modernidade, o que pode-mos observar é que quando habitantes evisitantes são convidados a formar umaroda de ciranda (e vivemos isso em 2005,no terceiro milênio), a praça principalfica pequena, a areia sobe, o mar exalahistória de movimento e música, a ale-gria fica estampada em todos os corpos,e tradição e modernidade viram um sótempo e espaço.

A luta entre a tradição e a inova-ção, que é o princípio de desen-volvimento interno da cultura dassociedades históricas, só podeprosseguir através da vitória per-manente da inovação. Mas a ino-vação na cultura só é sustentadapelo movimento histórico totalque, ao tomar consciência de suatotalidade, tende à superação deseus próprios pressupostos natu-rais e vai no sentido da supres-são de toda separação (Debord,2000: 120).

Santo de Casa Também Faz Milagreera o título do cartaz que os cirandeiroscriaram para comunicar a todos que,hoje, Tarituba comemora a edição de li-vro, vídeo e CD sobre sua arte (assimentendida também por eles), com patro-cínio da Prefeitura de Paraty, pela lei deincentivo fiscal, projeto iniciado num se-minário da Secretaria de Educação deAngra dos Reis. Mil exemplares foram

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produzidos, a metade será distribuídanas escolas da região, que já dançam ascirandas, depois desse revival. E os ôni-bus que fazem os trajetos de Angra aParaty já estão exibindo o vídeo, o queenvaidece os taritubenses, que têm sesentido valorizados e conhecidos. Gran-de parte da comunidade colaborou napesquisa que foi feita pelos própriosmoradores, contando histórias, cedendofotos e outros documentos que ajudarama contar e eternizar essa história que,sem dúvida, fará esse povo não esque-cer quem é. Em 2005, o grupo de ciran-deiros de Tarituba foi um dos premia-dos pela Secretaria de Estado do Rio deJaneiro, no projeto Cultura Nota 10. Fi-camos muito felizes em, de alguma for-ma, fazer parte desse processo. Uma cri-ança de Tarituba já vivencia, de novo,essa herança.

Percebo que o novo grupo de ciran-deiros de Tarituba tem conquistado suaperformance, cada vez mais, através daslembranças que ainda circulam pelosseus corpos. A lembrança da tradição,da memória, da história, da saudade. Acada apresentação creio que uma cons-ciência vai se formando e trazendo umsentimento de pertencimento e persis-tência aos objetivos primários da orga-nização e realização das cirandas, queestão chegando nos movimentos execu-tados. Seu João diz:

Estas danças do folclore a gentefazia com tanto carinho e serviapra divulgar: o carnaval, o jon-go, as cirandas e, principalmen-te, Lola, o modo de convivência.

A pessoa fazia com amizade, comamor. Dançava todo mundo jun-to: criança, velho, num ficavaninguém no banco. Existia maisunião, sinceridade, simplicidadepra aparecer a brincadeira, não apessoa, o importante é aparecera brincadeira. A dança deixa apessoa alegre, com boa convivên-cia. A festa antigamente era prajogar a tristeza fora. A brincadei-ra era um amor. Tomara que osjovens de agora consigam isto(2003).

A inclusão, a solidariedade, a alegria,ao que me parece, se fazem presenteshoje, neste instante em que a participa-ção, organização, produção e realizaçãoda manifestação, de alguma forma, res-gatam esse divino prazer de estar crian-do, de estar dançando, brincando comum filho, com uma mãe, com os avós –que é o que acontece no novo grupo –,que fortalece laços de parentesco, tra-zendo o sentimento comum, comunitá-rio, social e político, no sentido do for-talecimento das relações internas do gru-po e nas relações com outros grupos, embusca de conquistas de direitos e defini-ção de deveres. Identificam-se e tradu-zem formas populares de resistência aum mundo massificado, capitalista, ne-gociando com ele através de um compo-nente terno e libertário, uma luta cons-tante, muitas vezes explícita, pela cons-tituição da identidade social, um sabertransmitido sempre e para sempre, ca-tando de volta as conchas desse lugarchamado Tarituba.

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Eleonora Gabriel é professora adjunta daEscola de Educação Física e Desportos-UFRJ, diretora da Companhia Folclórica doRio-UFRJ e mestre em Ciência da Arte, UFF.