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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS CENTRO DE BIOTECNOLOGIA MOLECULAR ESTRUTURAL TATIANE LUCIANO BALLIANO ESTUDOS EM BIOLOGIA ESTRUTURAL E QUÍMICA MEDICINAL NO PLANEJAMENTO DE NOVOS INIBIDORES DA ENZIMA GLICERALDEÍDO-3- FOSFATO DESIDROGENASE DE Trypanosoma cruzi São Carlos 2010

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS

CENTRO DE BIOTECNOLOGIA MOLECULAR ESTRUTURAL

TATIANE LUCIANO BALLIANO

ESTUDOS EM BIOLOGIA ESTRUTURAL E QUÍMICA MEDICINAL NO

PLANEJAMENTO DE NOVOS INIBIDORES DA ENZIMA GLICERALDEÍDO-3-

FOSFATO DESIDROGENASE DE Trypanosoma cruzi

São Carlos

2010

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TATIANE LUCIANO BALLIANO

ESTUDOS EM BIOLOGIA ESTRUTURAL E QUÍMICA MEDICINAL NO

PLANEJAMENTO DE NOVOS INIBIDORES DA ENZIMA GLICERALDEÍDO-3-

FOSFATO DESIDROGENASE DE Trypanosoma cruzi

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de concentração: Física aplicada- Opção Física Biomolecular

Orientador: Prof. Dr. Glaucius Oliva Co-orientador: Prof. Dr. Adriano Andricopulo

São Carlos

2010

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Informação IFSC/USP

Balliano, Tatiane Luciano Estudo em biologia estrutural e química medicinal no planejamento de inibidores da enzima Gliceraldeido-3-Fosfato Desidrogenase de Trypanosoma cruzi./Tatiane Luciano Balliano; orientador Glaucius Oliva ; co-orientador Adriano Andricopulo-- São Carlos, 2010.

112 p.

Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Física -

Área de concentração: Física Aplicada – opção Biomolecular) – Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo. 1. Trypanosoma cruzi. 2. GAPDH. 3. Inibidores. 4.Cristalografia. 5. Doença de Chagas. I. Título.

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A Mariano, companheiro de todos os momentos, felizes e

menos felizes. Por todo a força, alegria, amor, estímulo e

sobretudo, pela confiança ao longo desses anos, dedico.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por estar sempre a meu lado.

À minha avó Maria, minha mãe Josefa Maria, meu irmão Bruno e minha tia

Sônia, pelo carinho, estímulo e confiança que me dedicaram ao longo da vida e por

me ajudarem a superar a distância e a saudade.

Ao Prof. Dr. Glaucius Oliva pela oportunidade, orientação e exemplo de

liderança e comprometimento.

Ao Prof. Dr. Adriano D. Andricopulo pela convivência, orientação e muito

aprendizado.

Ao Prof. Dr. Rafael V. C. Guido pela ajuda constante durante esse doutorado

e sobretudo pela boa vontade e presteza.

Aos Profs Dr. Eduardo Horjales e Dr. Javier Ellena pelas discussões e dicas

de cristalografia.

Aos meus amigos de todas as horas, Prof. Dr. Mariano A. Pereira e Profa.

Dra. Valéria R. S. Malta, pelas discussões sobre os mais variados temas, incentivo,

confiança, diversão e amizade.

Aos meus amigos de Alagoas, Iris, Givanildo, Agnaldo, Weslany, Luciana,

Livinha, Lívia (Lilica) e Noélia que mesmo de longe me ajudaram a administrar a

enorme saudade.

Aos meus sobrinhos Ballianinho e Bruninho pela alegria e descontração que

trazem consigo.

Aos companheiros queridos, Dani B. B. Trivella, Ju, Lívia Salum, Deise

Moda, Heline Hellen, Cecília Carolina, Leandro Ribeiro e Rodrigo Corrêa.

Aos amigos e colegas de laboratório, Dani Trivella, Carol Figueira, Amanda

B., Lívia F., Lívia S., Lívia M., Renata, Mariane, Mariana, Gustavo Mercaldi, Gustavo

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(Batavo), Wanessa, Deise, Tiago, Rafael, Maria, Daiane, Marcos Michel, Humberto,

João Renato, Lucas B., Alessandro N., Bachega, Nayara, Kelven, Matheus,

Leonardo F., Leonardo G., Napoleão, Fram, Vivi, Tavin, Ana, Isabella, Bianca e

Suzana, pela agradável convivência ao longo desses anos.

A todos os professores, funcionários (especialmente ao Victor Luís Barioto

pela paciência durante o depósito dessa tese) e colegas do Centro de Biotecnologia

Molecular Estrutural do Instituto de Física de São Carlos.

Ao CNPq pelo auxílio financeiro durante este trabalho.

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"Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima."

(Louis Pasteur)

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RESUMO

BALLIANO, T. L. Estudos em biologia estrutural e química medicinal no

planejamento de novos inibidores da enzima gliceraldeído-3-fosfato

desidrogenase de Trypanosoma cruzi. 2010. 112f. Tese (Doutorado). Instituto de

Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.

A doença de Chagas é causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi e foi

descoberta em 1909 por Carlos Chagas. A doença atinge cerca de 18 milhões de

indivíduos na região das Américas, causando 50.000 mortes ao ano e deixando mais

de 100 mil pessoas sob risco de infecção. Os tratamentos disponíveis foram

desenvolvidos ainda na década de 70 apresentando baixa eficácia e fortes efeitos

colaterais. Assim, é extremamente importante o desenvolvimento de novos fármacos

mais seguros e eficazes para o tratamento da doença de Chagas. Uma importante

estratégia que pode ser utilizada para o planejamento de novas moléculas bioativas

é o planejamento baseado em um receptor-alvo. Nessa tese o alvo em estudo é a

enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) que faz parte da via

glicolítica do protozoário T. cruzi. Este trabalho compreendeu os estudos estruturais

e mecanísticos de quatro complexos cristalográficos da GAPDH na presença de

ligantes diferentes. As estruturas obtidas subsidiaram estudos que forneceram

informações importantes no planejamento de novos inibidores. Foi elucidado o modo

pelo qual os compostos alquilantes iodoacetamida e iodoacetato atuam causando a

inativação enzimática e as diferenças existentes nesse processo foram esclarecidas,

mostrando que é necessário a expulsão do NAD+ do sítio ativo para que a inativação

ocorra por parte do iodoacetamida. Além disso, o mecanismo de nitrosilação por

complexos de rutênio foi investigado fornecendo informações que contribuem para o

entendimento do mecanismo de inibição enzimática por parte dessa classe

compostos. Além disso, a partir de um dos complexos estruturais obtidos, foi

possível identificar a localização de um novo sítio alostérico que se forma na

superfície da proteína. Essa informação é extremamente importante, pois abre

novas perspectivas para o planejamento de novos inibidores mais potentes e

seletivos da enzima GAPDH de T. cruzi.

Palavras chave: Trypanosoma cruzi, GAPDH. Inibidores. Cristalografia. Doença de

Chagas.

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ABSTRACT

BALLIANO, T. L. Studies in structural biology and medicinal chemistry on the

new inhibitors design of the glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase

enzyme from Trypanosoma cruzi. 2010. 112f. Tese (Doutorado). Instituto de Física

de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.

Chagas’ disease, caused by Trypanosoma cruzi protozoan, was discovered in 1909

by Carlos Chagas. The disease affects about 18 million people in the American

region, causing 50,000 deaths per year, leaving more than 100 thousand people at

risk of infection. Available treatments developed in the 70 decade present low

efficiency and strong side effects. Thus, it is extremely important the development of

new drugs that safer and more effective. An important strategy used for the design of

new bioactive molecules is based on a macromolecular target. The goal of this thesis

is to study the glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase (GAPDH), an enzyme

that participates of the glycolytic pathway of the parasite T. cruzi. This work

comprised structural and mechanistic studies of four complex crystallographic

GAPDH in the presence of different ligands. The structures obtained subsidized

structural and mechanistic studies that provided important information for the design

of new inhibitors. It was clarified the way in which the alkylating agents

iodoacetamide and iodoacetate acts causing enzyme inactivation and the differences

in this process were resolved, showing that it is necessary the NAD+ is excluded of

the active site wherefore the inactivation occurs by the iodoacetamide. Moreover, the

mechanism of enzyme nitrosylation by ruthenium complexes was investigated,

providing information that contributed to the understanding of the mechanism of

enzyme inhibition by this class of compounds. Moreover, from the structural

complexes obtained, it was possible to identify the location of a new allosteric site

formed at the surface of the protein. This information is extremely important, because

it opens new perspectives for the design of new inhibitors that are more potent and

selective for the enzyme GAPDH of T. cruzi.

Keywords: Trypanosoma cruzi. GAPDH. Inhibitors. Crystallography. Chagas’

Disease.

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Lista de Figuras

Figura 1 Fontes de investimentos em pesquisa e desenvolvimento visando

a obtenção de novos fármacos para doenças tropicais no ano de

2007. 24

Figura 2 Mapa de distribuição geográfica de doenças negligenciadas. A

área em amarelo se refere à doença de Chagas e leishmania,

destacando as regiões de endemia. 25

Figura 3 Diferentes espécies do inseto barbeiro, principal vetor da doença

de Chagas. A) Triatoma infestans B) Rhodnius prolixus. 26

Figura 4 Ciclo de vida do parasita T. cruzi. (1) O parasita presente no

instestino do vetor ainda na forma epimastigota, se diferencia para

a forma tripomastigota (forma infectante) quando chega às fezes

do inseto, (2) que é levado à corrente sanguínea do hospedeiro

humano (3) invadindo as células e (4) multiplicando-se até o

rompimento das mesmas (5) quando novamente se diferencia para

tripomastigota, atingindo a corrente sanguínea e contaminando

novos tecidos. 26

Figura 5 Estrutura química dos fármacos utilizados no tratamento da

doença de Chagas. (A) - Beznidazol e (B) – Nifurtimox.. 27

Figura 6 Esquema do metabolismo da glicose e glicerol no glicossoma. As

enzimas constituintes do glicossoma são: 1. HK, hexoquinase; 2.

PGI, fosfoglicose isomerase; 3. PFK, 6-fosfofruto-quinase; 4.

ALDO, frutose-difosfato aldolase; 5. GDH, glicerol-3-fosfato

desidrogenase; 6. GK, glicerol quinase; 7. TIM, triosefosfato

isomerase; 8. GAPDH, gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase; 9.

PGK, 3-fosfoglicerato quinase. 29

Figura 7 (A) - Estrutura quaternária da gGAPDH de T. cruz16; (B) - esquema

da reação catalisada pela gGAPDH durante a glicólise. 31

Figura 8 Esquema do mecanismo de catálise da enzima GAPDH. 32

Figura 9 Esquema de reação catalisada por enzimas ilustrando sua ação

em relação ao substrato. 33

Figura 10 Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor

competitivo. 34

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Figura 11 Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor não-

competitivo. 35

Figura 12 Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor

incompetitivo. 36

Figura 13 (A) - Enzima conversora de angiotensina I, PDB: 1UZF; (B)

Complexo enzimático formado pela ECA I e o fármaco inibidor

captopril. Acima está a estrutura planar do captopril. 38

Figura 14 (A) Estrutura cristalográfica da enzima anidrase carbônica 4 (CA4),

PDB: 3FW3; (B) Complexo estrutural da enzima CA4/dorzolamida

mostrando as interações do fármaco com os resíduos do sítio de

ligação. A estrutura planar da dorzolamida é mostrada acima. 39

Figura 15 Gel de poliacrilamida 15% (SDS PAGE) referente à purificação da

GAPDH. 45

Figura 16 Espectros de absorção da reação catalisada pela GAPDH

proveniente de cada cromatografia realizada durante a purificação.

(A) Cromatografia hidrofóbica; (B) Cromatografia de troca

catiônica. 46

Figura 17 Estrutura química dos inibidores co-cristalizados com a GAPDH.

(A) Ácido iodoacético (1); (B) Iodoacetamida (2); (C) Complexo

metálico de rutênio - (3); (D) Derivado de ácido anacárdico (6). 51

Figura 18 Métodos de cristalização. (A) gota suspensa; (B) gota sentada; (C)

gota sanduíche. 53

Figura 19 (A) Cristais do complexo GAPDH/(1); (B) cristal do complexo

GAPDH/(2). 54

Figura 20 Padrão de difração dos complexos cristalinos GAPDH/inibidor. (6),

imagem obtida com rotação de 0,5 grau e 90 segundos de

exposição; (3), imagem obtida com rotação de um grau e 20

segundos de exposição; (1), rotação de 1 grau e 120 segundos de

exposição; (2) rotação de um grau e 30 segundos de exposição. 57

Figura 21 Ampliação das imagens de difração para melhor visualização das

reflexões coletadas para os quatro complexos cristalográficos. 58

Figura 22 Estrutura química dos inativadores (A) (1) e (B) (2). 62

Figura 23 Gráficos exibindo o mecanismo tempo dependente dos

inativadores (A) (1) e (B) (2) frente à enzima GAPDH. 63

Figura 24 Diagrama de Ramachandran dos modelos cristalográficos

referentes aos complexos (A) (1) e (B) (2), mostrando na porção 64

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vermelha dos gráficos os resíduos que se encontram nas regiões

mais favorecidas, em amarelo regiões adicionalmente permitidas,

em bege generosamente permitidas, e em branco regiões

desfavoráveis.

Figura 25 Modelos estruturais cristalográficos obtidos para os complexos (A)

GAPDH/(1) e (B) GAPDH/(2). Mapas de densidade eletrônica

2Fobs-Fcalc referentes ao sítio da GAPDH ilustrando o resíduo de

cisteína covalentemente ligada aos inativadores (1) - CCS166 - (A)

e (2) - ACM166 - (B), ambos com contorno de 1.0 σ. Em evidência

os principais resíduos, moléculas de água e NAD+ (para (A)) que

interagem com os inativadores. As ligações de hidrogênio estão

representadas por linhas tracejadas amarelas (A) e azuis (B). 67

Figura 26 Sobreposição dos complexos enzimáticos GAPDH/(1) em azul e

GAPDH/(2) em rosa. 68

Figura 27 Estrutura química dos complexos de rutênio inibidores da GAPDH.

(A) cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 – A; (B) cis-[Ru(NO)(bpy)2imN]PF6

– B e (C) cis-[Ru(NO)(bpy)2imC]PF6. 69

Figura 28 Diagrama de Ramachandran para o complexo cristalográfico

gapdh/(3). 71

Figura 29 Modelo cristalográfico obtido para o complexo GAPDH/(3). Mapa

de densidade eletrônica 2Fobs - Fcalc referente ao sítio da

GAPDH ilustrando o resíduo de cisteína covalentemente ligado ao

grupo NO (CysNO) presente no complexo de rutênio A. Contorno

do mapa de 1σ. Em evidência os principais resíduos, molécula de

água e NAD+ que interagem com o inibidor. As ligações de

hidrogênio estão representadas por linhas tracejadas azuis. 73

Figura 30 (A) Empacotamento cristalino evidenciando as ligações de

hidrogênio existentes no retículo cristalino; (B) representação

ORTEP mostrando todos os átomos não hidrogênios. Os

elipsóides desenhados com 50% de probabilidade. 74

Figura 31 Espectro de absorção obtido a partir do composto C em presença

da proteína GAPDH livre de qualquer tampão. 76

Figura 32 Espectros de absorção realizados com os compostos (3), (4) e (5).

(B), (C) e (D) - espectros dos compostos (3), (4) e (5).

respectivamente, na presença do tampão de ensaio cinético. (A)

espectro utilizado como referência para comparação dos 77

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resultados obtidos.

Figura 33 (A) Gráfico mostrando a atividade da enzima GAPDH quando em

tampão de purificação; (B) Gráfico que mostra a atividade da

GAPDH após a diálise. 77

Figura 34 Diagrama de Ramachandran para o complexo GAPDH/(6). 83

Figura 35 Estrutura química do inibidor derivado do ácido anacárdico (6),

mostrado no modelo bola e bastão. 85

Figura 36 Esquema mostrando a localização e a formação do novo sítio

identificado na enzima GAPDH. (1) Interface de três cadeias que

formam o bolsão onde o inibidor está localizado. Um círculo

enfatiza a localização exata de (6); (2) Interface de duas cadeias

na formação do bolsão de ligação. A parte do grupamento ácido do

inibidor se encontra exposta na ausência de um dos monômeros

que formam o novo sítio; (3) Interface de outras duas cadeias que

formam o sítio. Parte da cadeia alquílica se encontra agora

exposta com a retirada de um dos monômeros. 86

Figura 37 Principais resíduos que fazem parte do novo sítio identificado. Em

rosa são mostrados os resíduos que fazem interações polares e

em azul os resíduos hidrofóbicos que formam o novo sítio. As

esferas vermelhas representam as moléculas de água presentes

no sítio e as linhas tracejadas em azul claro representam as

respectivas ligações de hidrogênio. 87

Figura 38 Modelo cristalográfico obtido para o complexo GAPDH/(6). Mapa

de densidade eletrônica 2Fobs - Fcalc referente ao novo sítio

identificado na GAPDH ilustrando os principais resíduos que

colaboram para melhor acomodação e estabilização do ligante

nesse sítio. Contorno do mapa de 1σ. Em evidência os principais

resíduos, e moléculas de água que interagem com o inibidor. As

ligações de hidrogênio estão representadas por linhas tracejadas

azul claro. 88

Figura 39 Sobreposição de duas estruturas cristalográficas de GAPDH. Em

verde é mostrada uma estrutura obtida apenas na presença do co-

fator NAD+ e em rosa é mostrada a estrutura obtida na presença

do inibidor (6). Ambas são mostradas no formato de linha. 89

Figura 40 Modo de interação entre os homotetrâmeros no empacotamento

cristalino. (A) Estrutura que possui apenas NAD+ em sua estrutura; 90

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(B) Complexo GAPDH/(6).

Figura 41 Sobreposição da estrutura de GAPDH em que se liga o inibidor (6)

em lilás com a estrutura obtida apenas com o cofator NAD+ em

verde. 91

Figura 42 Estrutura cristalográfica da GAPDH mostrando o inibidor (6) e as

moléculas de água consideradas para os cálculos da relação

estrutura-atividade. 93

Figura 43 Estruturas resultantes dos cálculos de docking. Em (A) é mostrado

o derivado 1 acomodado na cavidade alostérica, evidenciando a

importância de um pouco maior da otimização da potência

inibitória; (B) o ligante 8e é mostrado como destaque para o

choque estérico que ocorre entre o substituinte mais volumoso do

anel aromático e uma molécula de água. 94

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Porcentagem de inibição das enzimas do glicossoma necessária para redução de 50% do fluxo glicolítico.

30

Tabela 2 Estrutura dos compostos utilizados nos ensaios de cristalização.

49

Tabela 3 Dados cristalográficos e estatísticas do refinamento das estruturas dos complexos GAPDH/(1) e GAPDH/(2).

65

Tabela 4 Valores de IC50 para os complexos de rutênio. 70

Tabela 5 Dados cristalográficos e estatísticas do refinamento da estrutura do complexo GAPDH/(3).

72

Tabela 6 Principais dados cristalográficos para o composto [Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 - (3).

75

Tabela 7 Estrutura química dos derivados de ácido anacárdico e seus respectivos valores de IC50 determinados frente à enzima GAPDH.

80

Tabela 8 Principais dados cristalográficos para o complexo formado entre a GAPDH e o derivado de ácido anacárdico (6).

84

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

2D Bidimensional

3D Tridimensional

aa Aminoácido

BPG 1,3 – Bisfosfoglicerato

CBME Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural

CEPID Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão

E Enzima Livre

ES Complexo Enzima Substrato

EI Complexo Enzima Inibidor

EC Enzyme Comission

FDA Food and drug Administration

G3P Gliceraldeído-3-fosfato

GAPDH Gliceraldeído-3-Fosfato Desidrogenase

HTS Ensaio Automatizado em Larga Escala

IC50 Concentração Inibitória 50%

IFSC Instituto de Física de São Carlos

Ki Constante de dissociação

LNLS Laboratório Nacional de Luz síncrontron

NAD+ Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo - forma oxidada

NADH Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo - forma reduzida

NCE Nova Entidade Química

OMS Organização Mundial da Saúde

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PDB Protein Data Bank

RMN Ressonância Magnética Nuclear

SAR Relação Estrutura Atividade

T-NAD+ Tionicotinamida Adenina Dinucleotídeo - forma oxidada

T-NADH Tionicotinamida Adenina Dinucleotídeo - forma reduzida

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

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UFSCar Universidade Federal de São Carlos

USP Universidade de São Paulo

UV Ultravioleta

Vo Velocidade Inicial

VMax Velocidade Máxima

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 23

1.1 O Panorama das Doenças Tropicais 23

1.2 A Doença de Chagas 24

1.3 Alvos Macromoleculares Empregados no Planejamento de

Fármacos 28

1.4 A Via Glicolítica 28

1.5 A Enzima Gliceraldeído-3-Fosfato Desidrogenase Glicossomal-

gGAPDH 30

1.6 Inibidores Enzimáticos 31

1.6.1 Inibidores Reversíveis 33

1.6.1.1 Inibidores Reversíveis Competitivos 34

1.6.1.2 Inibidores Reversíveis Não-competitivos 35

1.6.1.3 Inibidores Reversíveis Incompetitivos 36

1.6.2 Inibidores Irreversíveis 37

1.7 A cristalografia de Proteínas no Planejamento de Fármacos 37

2 OBJETIVOS 41

3 MATERIAIS E MÉTODOS 43

3.1 Expressão e Purificação da Enzima GAPDH de T. cruzi 43

3.2 Ensaios Bioquímicos com a Enzima GAPDH 45

3.2.1 Origem dos Compostos 45

3.2.2 Identificação de Inibidores da GAPDH 46

3.3 Co-cristalização de Complexos GAPDH/inibidor, Cristalização de

Inibidores, Processamento e Refinamento dos Dados

Cristalográficos 47

3.3.1 Cristalização de Macromoléculas 47

3.3.2 Complexos Cristalográficos da GAPDH 50

3.3.3 Cristalização de Complexos Proteina-Inibidor 51

3.3.4 Coleta e Processamento dos Dados 53

3.3.5 Resolução da Estrutura por Substituição Molecular e Refinamento.. 54

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3.3.6 Cristalografia de Pequenas Moléculas 57

3.3.7 Cristalização 58

3.3.8 Coleta de Dados, Processamento, Resolução da Estrutura e

Refinamento 58

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 60

4.1 Inativadores Enzimáticos 61

4.1.1 Iodoacetato e Iodoacetamida 62

4.1.2 Cinética Enzimática dos Inativadores Ácido Iodoacético e

Iodoacetamida Frente à Enzima GAPDH 62

4.1.3 Análise dos Complexos Cristalográficos GAPDH/(1) e GAPDH/(2).. 63

4.1.4 Interpretação dos Modelos Cristalográficos. 65

4.2 Complexos de Rutênio 68

4.2.1 Estudos Cristalográficos de Complexos de Rutênio Frente à Enzima

GAPDH 69

4.2.2 Análise do Complexo Cristalográfico GAPDH/(3) 70

4.2.3 Interpretação do Modelo Cristalográfico 72

4.2.4 Estudos Cristalográficos do Inibidor (3) 73

4.2.5 Análise Espectrofotométrica da Formação do Complexo CysNO 75

4.3 Complexo Cristalográfico GAPDH/Ácido Anacárdico 77

4.3.1 Produtos Naturais e o Ácido Anacárdico 77

4.3.2 Análise Cristalográfica do Complexo GAPDH/ácido anacárdico (6) 82

4.3.3 Interpretação do Modelo Estrutural para o Complexo GAPDH/(6) 83

4.3.4 Mudanças Conformacionais Induzidas por Efeitos Alostéricos 87

4.3.5 Análise da Relação entre a Estrutura e a Atividade dos Derivados

de. Ácido Anacárdico 91

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 94

REFERÊNCIAS 99 APÊNDICE 108

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Capítulo 1

INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O Panorama das Doenças Tropicais

As doenças tropicais são aquelas mais freqüentes na região dos trópicos e

seu surgimento e propagação está diretamente relacionada a condições ambientais

e socioeconômicas, afetando predominantemente países em desenvolvimento

atingindo principalmente as classes sociais menos favorecidas. É estimado

atualmente que mais de um bilhão de pessoas, ou seja, aproximadamente um sexto

da população mundial, sofre de alguma doença tropical1,2.

Atualmente as doenças infecciosas como malária, doença de Chagas,

doença do sono, leishmanioses, tuberculose, esquistossomose, oncocercose,

dengue, febre amarela e outras, tem sido alvo de grande preocupação para a OMS

(Organização Mundial da Saúde), principalmente, pelas altas taxas de mortalidade e

morbidade dessas enfermidades nas regiões afetadas3.

O tratamento e prevenção adequados para essas doenças constituem grave

problema, uma vez que os fármacos disponíveis em muitos casos exibem baixa

eficácia e fortes efeitos colaterais. Além disso, o surgimento freqüente de novas

cepas de parasitas resistentes afeta significativamente a eficácia desses

medicamentos. Portanto, seria de fundamental importância investimentos em novos

tratamentos e prevenção desses males. No entanto, os recursos disponíveis são

bastante limitados, sendo em grande parte provenientes de órgãos públicos

governamentais pois, em função da baixa relação benefício/custo, as indústrias

farmacêuticas exibem investimentos reduzidos, ou seja, somente 9% do total

investido em P&D - Pesquisa e Desenvolvimento para doenças tropicais vem de

fontes privadas (Figura 1)4,5.

Nesse panorama, diversas parcerias envolvendo o setor público e privado

tem sido estabelecidas com o propósito principal de desenvolver novas ferramentas

e tecnologias para o diagnóstico e controle de doenças; investir e incentivar a P&D

na criação de novos fármacos nos países em desenvolvimento, bem como, difundir

e transferir tecnologias e conhecimento. Entre as parcerias que deram certo

encontram-se: Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças

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Tropicais (TDR – Special Programme for Research & Trainning in Tropical Diseases)

da Organização Mundial da Saúde – OMS, Programa de Medicamentos para Malária

(MMV – Medicines for Malaria Venture), Aliança Global para o Desenvolvimento de

Fármacos para Tuberculose (GATB – Global Alliance for Tuberculosis Drug

Development), Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi –

Drugs for Neglected Diseases initiative), entre outros 5,6.

Figura 1 - Fontes de investimentos em pesquisa e desenvolvimento visando a obtenção de novos fármacos para doenças tropicais no ano de 20074.

1.2 A Doença de Chagas

A doença de Chagas, também chamada tripanossomíase americana, é uma

infecção parasitária que constitui um dos problemas médico sanitários mais sérios

na América Latina. Foi descoberta pelo médico brasileiro, Carlos Ribeiro Justiniano

Chagas - Carlos Chagas, em 1909. Estima-se que após 100 anos da sua descoberta

a doença ainda atinja cerca de 18 milhões de indivíduos na região das Américas,

manifestando-se endêmica em pelo menos 11 países, causando 50 mil mortes ao

ano e deixando 100 milhões de pessoas sob risco de infecção7,8(Figura 1).

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Figura 2 - Mapa de distribuição geográfica de doenças negligenciadas. A área em amarelo se refere à doença de Chagas e leishmania, destacando as regiões de endemia9.

O agente etiológico causador da doença de Chagas é o parasita flagelado

Trypanosoma cruzi pertencente à ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae

do gênero Trypanosoma10,11. Pode ser encontrado principalmente em países em

desenvolvimento, como os localizados na América Latina e algumas regiões da Ásia

e África, onde constitui um grande problema social e econômico7.

Uma das formas mais comuns de transmissão da doença é através da

picada do barbeiro, inseto hematófago de hábitos noturno, pertencente à ordem

Hemiptera; subordem Triatominae. Diversas espécies desse inseto podem ser

encontradas, sobretudo, no Brasil e na América Latina, entre as quais, a espécie

Triatoma infestans originária da Bolívia mas que disseminou-se por grande parte do

continente americano. O Rhodnius prolixus é também encontrada no Brasil,

principalmente na região amazônica. É a principal espécie do vetor na Venezuela,

Colômbia e parte da América Central. Apenas na região do cerrado e caatinga do

Brasil é possível encontrar mais de 15 espécies diferentes de triatomíneos, o que

torna o controle da doença algo extremamente difícil12 (Figura 3). Outras formas de

contaminação como transfusão de sangue, transplante de órgãos, ingestão de

alimentos e transmissão congênita também podem ocorrer, sobretudo em áreas

urbanas onde o contato com o principal vetor (barbeiro) torna-se mais difícil.

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Figura 3 - Diferentes espécies do inseto barbeiro, principal vetor da doença de Chagas. A) Triatoma infestans B) Rhodnius prolixus13.

O ciclo biológico do parasita é bem complexo e se apresenta basicamente

através de três formas distintas, a epimastigota presente no intestino do vetor, a

tripomastigota que é aquela encontrada na corrente sanguínea e capaz de infectar

as células e por último a amastigota que é a morfologia na qual o parasita se

multiplica no interior celular5,11 (Figura 4).

Figura 4 - Ciclo de vida do parasita T. cruzi. (1) O parasita presente no instestino do vetor ainda na forma epimastigota, se diferencia para a forma tripomastigota (forma infectante) quando chega às fezes do inseto, (2) que é levado à corrente sanguínea do hospedeiro humano (3) invadindo as células e (4) multiplicando-se até o rompimento das mesmas (5) quando novamente se diferencia para tripomastigota, atingindo a corrente sanguínea e contaminando novos tecidos11.

A doença pode apresentar alguns sintomas ainda na fase aguda, como

perda de apetite, dores de cabeça, febre e o mais característico que é o chamado

sinal de romaña, que consiste na inflamação da mucosa ocular em decorrência do

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contato das fezes do vetor com os olhos da vítima. A maioria desses sintomas logo

desaparece e são bastante parecidos com os de outras doenças. Sendo assim, o

mal de Chagas em geral não é identificado em sua fase aguda, vindo se manifestar

já depois de alguns anos após a infecção através das diversas conseqüências já

estabelecidas, como cardiopatias, e outras complicações do sistema digestivo12.

Atualmente, a quimioterapia disponível para o tratamento da doença, limita-

se ao Benznidazol (Rochagan®, da Roche) - N-benzil-2-nitroimidazol e o nifurtimox

(Lampit®, da Bayer) – 3-metil-4-(5´-nitrofurfurilidenoamino)tetra-hidro-4H-1,4-tiazina-

1,1-dióxido (Figura 5). Ambos foram lançados no mercado ainda na década de 70,

sendo que o nifurtimox foi descontinuado em alguns países da América Latina em

conseqüência de sua toxicidade. Esses fármacos exibem melhores resultados

quando utilizados em pacientes ainda em fase aguda. Além disso, apresentam fortes

efeitos colaterais e tem sua ação comprometida por fatores como idade e

localização geográfica dos pacientes8.

Figura 5 - Estrutura química dos fármacos utilizados no tratamento da doença de Chagas. (A) - Beznidazol e (B) - Nifurtimox

Nesse cenário, fica evidente a necessidade do planejamento de novas

moléculas quimioterápicas para a doença de Chagas que apresentem boa eficácia e

efeitos colaterais controláveis. Sendo assim, a identificação de um alvo

macromolecular adequado constitui uma interessante estratégia, bem como o estudo

das interações envolvidas no reconhecimento molecular subjacentes à

macromolécula biológica e a pequena molécula em estudo.

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1.3 Alvos Macromoleculares Empregados no Planejamento de Fármacos

O processo de descoberta e desenvolvimento de um novo fármaco passa

por um grande número de etapas, podendo em cada uma delas serem utilizadas

diversas estratégias. Uma das abordagens consiste na identificação e validação de

um alvo macromolecular que seria empregado em ensaios bioquímicos com o

objetivo de identificar moléculas capazes de modular sua atividade biológica. Entre

os alvos biológicos envolvidos nesse processo, as enzimas são as biomoléculas que

mais se destacam14.

Enzimas são macromoléculas biológicas capazes de catalisar uma vasta

quantidade de reações bioquímicas complexas que levaria muito tempo para ocorrer

sem a sua atuação15. Entre as macromoléculas biológicas estudadas para o

planejamento de fármacos, as enzimas são as que recebem maior atenção. Isso

acontece devido ao fato de que essas biomoléculas participam de mecanismos

bioquímicos relacionados a diversas patologias. Além disso, como catalisadores,

possuem determinantes estruturais muito importantes no que diz respeito à inibição

de sua atividade catalítica, pois moléculas pequenas (de baixo peso molecular) e

muitas vezes com estruturas simples, são capazes de interferir em sua atividade

enzimática tornando-as inativas. Com base nessas considerações, as enzimas são

atualmente os alvos macromoleculares mais empregados pelas indústrias

farmacêuticas no planejamento de fármacos16,17.

1.4 A Via Glicolítica

A glicólise é o mecanismo pelo qual uma seqüência de reações enzimáticas

são catalisadas no citoplasma da célula a partir de uma molécula de glicose

resultando na produção de piruvato e ATP. No caso do T. cruzi e outros

tripanossomatídeos, a glicólise ocorre no interior de uma organela especializada

denominada glicossoma localizada no citosol, com a participação de nove enzimas

nas referidas reações15,18,19. Estudos anteriores já demonstraram que essa via

metabólica é a principal fonte de obtenção energética para tripanossomatídeos na

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forma tripomastigota, ocorrendo a morte dos parasitas na corrente sanguínea a partir

do bloqueio da glicólise in vitro20.

Figura 6 - Esquema do metabolismo da glicose e glicerol no glicossoma. As enzimas constituintes do glicossoma são: 1. HK, hexoquinase; 2. PGI, fosfoglicose isomerase; 3. PFK, 6-fosfofruto-quinase; 4. ALDO, frutose-difosfato aldolase; 5. GDH, glicerol-3-fosfato desidrogenase; 6. GK, glicerol quinase; 7. TIM, triosefosfato isomerase; 8. GAPDH, gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase; 9. PGK, 3-fosfoglicerato quinase.

Este contexto sugere que a interrupção da via glicolítica levaria o parasita a

uma condição metabólica bastante precária e possivelmente letal. Dessa forma, as

enzimas que fazem parte das reações na glicólise se mostram como alvos de

interesse no planejamento de novas moléculas bioativas através da inibição seletiva

(Tabela 1)21, 22.

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Tabela 1 - Porcentagem de inibição das enzimas do glicossoma necessária para redução de 50% do fluxo glicolítico.

Enzima Inibição necessária (%)

Transporte de glicose 51

Hexoquinase 93

6-fosfofruto-quinase 93

Frutose-difosfato-aldolase 76

Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase 84

3-fosfoglicerato quinase 85

Glicerol-3-fosfato desidrogenase 83

Os dados apresentados na Tabela 1 exibem a inibição de algumas enzimas

que participam da glicólise mostrando a importância de cada uma delas nesse

processo. Além disso, estudos recentes in vitro com Trypanosoma brucei

demonstraram por meio de experimentos com RNA de interferência – RNAi, que o

déficit das enzimas GAPDH e ALDO na glicólise compromete o crescimento celular

levando à morte os parasitas ali presentes e validando essas enzimas como alvo

para o planejamento de novos candidatos a fármacos antiparasitários23,24-27. Deve-se

considerar ainda estudos que indicam que mais que 95% de inibição de GAPDH em

eritrócitos não leva a prejuízos clínicos, reforçando assim seu papel importante como

alvo macromolecular21.

1.5 A Enzima Gliceraldeído-3-Fosfato Desidrogenase Glicossomal- gGAPDH

A enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) (EC 1.2.1.12), é

um homotetrâmero (figura 6a) que possui 359 resíduos de aminoácidos por

monômero e peso molecular de 156.000 Da. Catalisa a fosforilação oxidativa do seu

substrato - gliceraldeído-3-fosfato (D-G3P) - convertendo-o em 1,3-bisfosfoglicerato -

(1,3-BPG) (Figura 6b) na presença de fosfato inorgânico (Pi) e do cofator

nicotinamida adenina dinucleotídeo na forma oxidada (NAD+)28

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Figura 7 - (A) - Estrutura quaternária da gGAPDH de T. cruzi16; (B) - esquema da reação catalisada pela gGAPDH durante a glicólise.

Além do substrato D-G3P e do cofator NAD+, o resíduo de cisteína 166

(Cys166) presente no sítio catalítico tem papel fundamental no mecanismo de

catálise (Figura 8)

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Figura 8 - Esquema do mecanismo de catálise da enzima GAPDH

O esquema da Figura 8 mostra em detalhes as etapas envolvidas na reação

de catálise da GAPDH, onde em (1) ocorre a formação de um grupo hemitioacetal

em conseqüência da ligação covalente formada entre o substrato D-G3P e o grupo

sulfidrila - SH da cisteína 166 presente no sítio catalítico da enzima, em seguida (2)

o cofator NAD+ é reduzido e um intermediário tioéster é formado, (3) uma molécula

de NADH é liberada e entra uma outra molécula de NAD+ (4) fosforilação do

intermediário tioéster ocorrendo a formação do produto 1,3-bisfosfoglicerato e (5)

sua liberação juntamente com a enzima livre15,18,28.

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1.6 Inibidores Enzimáticos

As enzimas desempenham atividades catalíticas que dependem da atuação

de seu substrato e/ou de um determinado co-fator para que a reação possa

acontecer. No entanto, essa atividade catalítica pode ser interrompida na presença

de determinadas substâncias capazes de bloquear parcial ou integralmente a

atividade da enzima, denominados inibidores enzimáticos15.

Uma reação enzimática pode ser expressa por:

Figura 9 - Esquema de reação catalisada por enzimas ilustrando sua ação em relação ao substrato.

Nessas reações ocorrem a associação da enzima (E), substrato (S) e

produto (P), formando espécies transientes (E‧S), (E‧P) que se dissociam liberando

o produto (P) e a enzima livre para reiniciar todo o processo, ou seja, a

transformação de uma outra molécula de substrato em produto. Durante o processo

em que os complexos transitórios (E‧S) e (E‧P) estão formados, diversas interações

envolvendo enzima, substrato e produto permeiam a reação. No entanto, a catálise

se dá sem modificações estruturais na enzima, sendo dessa forma, as interações

não covalentes as responsáveis pela formação dos complexos (E‧S) e (E‧P). Não

obstante, os inibidores enzimáticos podem interagir com as enzimas através de

ligações covalentes ou interações não-covalentes, sendo estes por esse motivo

classificados como inibidores irreversíveis e reversíveis respectivamente16, 17.

1.6.1 Inibidores Reversíveis

Os inibidores reversíveis exercem sua função a partir de interações não

covalentes, podendo se ligar no sítio ativo ou em outros sítios da enzima. A partir

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dessas considerações, os inibidores reversíveis são classificados como:

competitivos, não-competitivos e incompetitivos.

1.6.1.1 Inibidores Reversíveis Competitivos

São inibidores que realizam interações intermoleculares não covalentes no

sítio ativo da enzima e dessa forma competem com o substrato pelo sítio de ligação.

Comumente possuem estruturas análogas à do substrato e embora a inibição ocorra

de maneira rápida, esse tempo pode ser um pouco maior a depender da afinidade

do inibidor pelo sítio ativo, sendo suficiente para a interrupção da formação do

complexo enzima-substrato (E‧S), bem como da atividade catalítica dessa proteína

que ficam comprometidos em conseqüência da ação do inibidor, ocorrendo hora

interações do substrato, ou do inibidor, ao sítio ativo da proteína15 (Figura 10).

Figura 10 - Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor competitivo

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1.6.1.2 Inibidores Reversíveis Não-Competitivos

Os inibidores não-competitivos se ligam por meio de interações não

covalentes ao complexo (E‧S) ou também à enzima livre (E), mas não se ligam ao

sítio ativo, dessa forma a inibição ocorre independente da presença do substrato e

pode resultar no complexo (E‧S‧I) ou simplesmente (E‧I), ambos cataliticamente

inativos (Figura 11).

O sítio no qual o inibidor interage pode estar localizado em qualquer região

da enzima e é denominado de sítio alostérico. A interação do inibidor em quaisquer

dos casos (E‧S‧I) ou (E‧I), resultará em variações conformacionais na enzima de

forma a diminuir a capacidade de interação do substrato no seu sítio dificultando a

acomodação do mesmo17,29.

Figura 11 - Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor não-competitivo.

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1.6.1.3 Inibidores Reversíveis Incompetitivos

Os inibidores incompetitivos somente possuem afinidade pelo complexo

enzima substrato, dessa forma não interagem com nenhum outro sítio da enzima na

ausência do substrato. Sua atuação resulta na formação do complexo (E‧S‧I)

cataliticamente inativo.

Figura 12 - Esquema cinético do mecanismo de ação de um inibidor incompetitivo.

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1.6.2 Inibidores Irreversíveis

Nem todos os inibidores enzimáticos interagem com seu alvo de forma

reversível. Em algumas situações, enzimas podem ser definitivamente inativadas por

substâncias com caráter inibitório, vindo assim a resultar em complexos covalentes

conseqüentes de modificações em aminoácidos, co-fatores ou substratos que

tenham importância crítica para a atividade catalítica da proteína. Portanto,

juntamente à inativação enzimática, deve-se observar a ocorrência de ligação

covalente entre enzima e inibidor ou entre o inibidor e o substrato. Dessa forma, a

inativação completa de uma determinada enzima dependerá do tempo em que a

mesma fica exposta à presença do inibidor, fazendo desse um mecanismo de

inibição dependente do tempo.

1.7 A Cristalografia de Proteínas no Planejamento de Fármacos

A descoberta de novos fármacos para diversas doenças tem sido um grande

desafio em química medicinal, constituindo um processo demorado, caro e bastante

arriscado. Estima-se que o custo para o desenvolvimento de uma nova entidade

molecular (NCE – New Chemical Entitie) desde a sua descoberta até a

comercialização, seja de US$ 802 milhões podendo chegar até US$ 2 bilhões 30,31.

Os progressos da ciência e os investimentos em inovação e tecnologia tem

direcionado cada vez mais o processo de descoberta de fármacos através de

múltiplas abordagens. Nesse sentido, técnicas como ressonância magnética nuclear

juntamente com outros métodos espectroscópicos, calorimetria e métodos

computacionais, vem subsidiando conhecimentos mecanísticos de elevada

importância. No entanto, a esses métodos pode ser integrada a cristalografia de

raios X, que além de ser útil na identificação de novas substâncias bioativas, é

capaz de fornecer estruturas que revelam os critérios subjacentes às interações que

relacionam fármaco e receptor, fornecendo dessa forma informações importantes

requeridas no processo de planejamento32,33.

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Atualmente, entre as tecnologias utilizadas em pesquisa de novos fármacos,

o planejamento de novas moléculas baseado em informações estruturais tanto do

ligante quanto do receptor, é uma das abordagens mais empregadas e poderosas34.

Diversos fármacos que hoje são comercializados foram resultado do planejamento

baseado na estrutura tridimensional-3D de seu alvo biológico, como exemplo tem-se

o captopril que é um fármaco utilizado no tratamento da hipertensão e atua na

enzima conversora de angiotensina I - (ECA) para impedir a sua conversão em

angiotensina II, interferindo no sistema renina-angiotensina para desempenhar seu

papel terapêutico. A Figura 13 ilustra a estrutura cristalográfica do complexo formado

pela enzima conversora de angiotensina I e o fármaco (captopril) atuando no sítio

ativo da mesma35,36. Um outro exemplo é o dorzolamida que é utilizado na clínica

médica em pacientes com glaucoma. Esse fármaco interage com a proteína

anidrase carbônica 4 (CA4) que catalisa a hidratação reversível de dióxido de

carbono37. A estabilização da molécula no sítio da enzima ocorre por meio de

interações não covalentes, como ligações de hidrogênio, van der Waals e contatos

eletrostáticos que puderam ser descritas e identificadas com a obtenção da estrutura

cristalográfica (Figura 14)38.

Figura 13 - (A) - Enzima conversora de angiotensina I, PDB: 1UZF; (B) Complexo enzimático formado pela ECA I e o fármaco inibidor captopril. Acima está a estrutura planar do captopril.

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Figura 14 - (A) Estrutura cristalográfica da enzima anidrase carbônica 4 (CA4), PDB: 3FW3;

(B) Complexo estrutural da enzima CA4/dorzolamida mostrando as interações do fármaco com os resíduos do sítio de ligação. A estrutura planar da dorzolamida é mostrada acima.

Além de seu uso nas abordagens relacionadas ao planejamento de

fármacos, a cristalografia pode também ser uma importante ferramenta na

identificação de novas moléculas bioativas. Técnicas de high-throughput usadas

sobretudo na indústria farmacêutica tem sido muito úteis, pois embora a estrutura de

uma proteína nativa seja um ponto de partida muito bom na pesquisa farmacêutica,

a estrutura complexada com uma molécula protótipo torna-se muito mais atraente,

pois muitas vezes as proteínas sofrem modificações conformacionais com a entrada

de uma molécula em seu sítio ativo, evento este algumas vezes difícil de ser predito

somente com a estrutura da proteína nativa. Portanto, a descoberta de compostos

líderes baseada em fragmentos, bem como sua otimização, são abordagens no

planejamento de fármacos que são amplamente auxiliadas pela cristalografia.

Nesse contexto, a cristalografia foi a ferramenta principal que propiciou o

desenvolvimento dos trabalhos que serão aqui expostos, permitindo a elucidação de

complexos macromoleculares e a descrição das interações envolvidas no

reconhecimento molecular subjacentes aos modelos estruturais aqui obtidos,

colaborando para a determinação do mecanismo de ação das moléculas estudadas.

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Capítulo 2

OBJETIVOS

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2 OBJETIVOS

Os objetivos fundamentais dessa tese de doutorado foram:

I. Identificação de novos inibidores da enzima GAPDH de T. cruzi;

II. Cristalização e estudos cristalográficos de complexos entre inibidores e a

enzima GAPDH de T. cruzi;

III. Caracterização das interações enzima-inibidor em nível molecular;

IV. Proposição do mecanismo de ação dos inibidores identificados a partir das

estruturas cristalográficas e de ensaios de cinética enzimática;

V. Investigação do modo de ligação através da difração de raios X de inibidores

já identificados e com mecanismo de ação elucidados através de estudos de

cinética enzimática.

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Capítulo 3

MATERIAIS E MÉTODOS

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Expressão e Purificação da Enzima GAPDH de T. cruzi

Durante esta tese foram realizados inúmeros experimentos de cinética

enzimática e co-cristalização utilizando a enzima GAPDH de T. cruzi. Para tanto, foi

indispensável a obtenção da proteína enovelada e ativa, em quantidades

satisfatórias e com grau de pureza elevado. No processo de expressão e purificação

um protocolo previamente estabelecido39 foi aplicado com pequenas alterações.

Na expressão, o vetor PET3a contendo a construção gênica que codifica a

proteína GAPDH foi transformado em células de Escherichia coli, da linhagem

BL21(DE3) gap-. As bactérias foram cultivadas em meio de cultura Luria Bertani

(meio LB contendo, 1% de triptona, 0,5% de extrato de levedura, 1% de NaCl, pH

7,5) contendo 100 µg/mL de ampicilina e 10 mg/mL de tetraciclina utilizados na

expressão da proteína na presença de pré-cultura de células crescidas por 16 horas

a 37 oC. A cultura de células cresceu nessa mesma temperatura, sob agitação

constante (250 rpm), até atingir a 600 nm uma densidade ótica (D.O.) de 0,6 a 0,8.

Após alcançar essa D.O., a expressão da proteína foi induzida com IPTG (Isopropil-

β-D-tiogalactopiranosídeo) 0,5 mM durante 14 horas a 20 oC.

Após o tempo de indução, o meio foi centrifugado a 6.000 rpm durante 30

minutos. O sobrenadante foi descartado e o pellet de bactérias precipitado no fundo

do recipiente foi ressuspendido utilizando-se o mesmo tampão (tampão B: 0,1M

trietanolamina - HCl pH 7,6, 1µM DTT (ditiotreitol), 1µM pepstatina, 1µM leupeptina,

1mM PMSF (fluoreto de fenilmetilsulfonil), 60 mM NAD+) empregado na primeira

cromatografia durante a purificação dessa proteína. O material ressuspendido foi

estocado a -20 oC ou usado imediatamente no preparo da extração da proteína.

Na lise celular, primeiramente foi adicionado lisozima que agiu por 30

minutos. Em seguida foram aplicados pulsos de ultrasom 6 vezes durante 1 minuto,

em banho de gelo a fim de manter a baixa temperatura. Após esse processo, o

material lisado foi novamente centrifugado a 4 oC, 14.000 rpm, durante 30 minutos.

Depois disso, foi adicionado ao sobrenadante 8,7 g de (NH4)2SO4 lentamente e sob

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 44

leve agitação a fim de precipitar proteínas de menor peso molecular. Essa mistura

foi centrifugada a 4 oC, 14.000 rpm, 30 minutos e o sobrenadante contendo a

proteína de interesse foi utilizado na sequência para a purificação.

Na primeira etapa de purificação, foi realizada uma cromatografia hidrofóbica

onde foi empregada a resina Phenil Sepharose CL-4B (Pharmacia). A coluna

contendo a resina foi primeiramente equilibrada com o tampão A (tampão B + 1,0 M

(NH4)2SO4) e em seguida a solução contendo a proteína foi aplicada na coluna. A

proteína foi lavada com tampão salino, uma vez que as interações que a mantinha

na resina eram hidrofóbicas. A eluição se deu por meio de gradientes dos tampões A

e B. A solução de proteína eluída foi dialisada a fim de retirar o sal ali presente.

Na segunda etapa foi utilizada uma resina de celulose fosfato de troca

catiônica, que substituiu a resina originalmente empregada (Phospho Ultrogel AGR /

IBF Biotechnics) nessa purificação. Nessa cromatografia, a resina possui cargas

negativas com as quais as cargas positivas da proteína irão interagir. Sendo assim,

primeiramente a coluna foi equilibrada com tampão B (sem sal) e só então a solução

protéica foi aplicada à coluna. Esse tampão também foi usado para lavagem. Na

eluição foi aplicado um gradiente dos tampões B e C (tampão C: tampão B + 0,5 M

KCl) até a retirada de toda a proteína. As etapas de purificação foram monitoradas

por eletroforese em gel de poliacrilamida 15% (SDS PAGE) (Figura 15) e ensaios de

atividade enzimática com as alíquotas obtidas após cada cromatografia (Figura 16).

A quantificação da proteína foi realizada pelo método de Bradford40 com o kit da Bio-

Rad Protein Assay de acordo com as especificações de fábrica. Quando necessário,

a proteína foi concentrada utilizando concentradores Centriprep com corte de 30

KDa.

Figura 15 - Gel de poliacrilamida 15% (SDS PAGE) referente à purificação da GAPDH.

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45 | M A T E R I A I S E M É T O D O S

Figura 16 - Espectros de absorção da reação catalisada pela GAPDH proveniente de cada cromatografia realizada durante a purificação. (A) Cromatografia hidrofóbica; (B) Cromatografia de troca catiônica.

3.2 Ensaios Bioquímicos com a Enzima GAPDH

3.2.1 Origem dos Compostos

Os compostos estudados nessa tese são de origem sintética ou natural e

foram gentilmente disponibilizados num grau de pureza de 90 % ou maior pelos

seguintes grupos de pesquisa:

Profa. Dra. Arlene Gonçalves Correa, Profa. Dra. Maria Fátima das Graças

Fernandes da Silva e Prof. Dr. Paulo Cézar Vieira - Universidade Federal de

São Carlos (UFSCar);

Dr. Jean Jerley - Instituto de Química de São Carlos - Universidade de São

Paulo (USP);

Prof. Dr. Nilo Zanatta, Prof. Dr. Hélio G. Bornacorso, Prof. Dr. Marcos A. P.

Martins e Profa. Dra. Mara E. F. Braibante - Departamento de Química -

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM);

Os Inativadores ácido iodoacético e iodoacetamida trabalhados nessa tese

são de grau analítico e foram obtidos da Sigma®.

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 46

3.2.2 Identificação de Inibidores da GAPDH

Os ensaios de cinética enzimática da GAPDH de T. cruzi foram realizados

de acordo com protocolo estabelecido em nossos laboratórios41. Esses

experimentos se mostraram muito importantes para o processo de triagem biológica

in vitro, permitindo a identificação de diferentes classes de inibidores para um estudo

mais completo.

Nos ensaios de atividade inibitória, o meio reacional empregado é

constituído dos seguintes componentes: 100 mM tampão TEA-HCl, 1 mM EDTA

dissódico, 1 mM β-mercaptoetanol, 1,4 mM dimetilsulfóxido (DMSO), 30 mM

arseniato de sódio, 0,4 mM NAD+, 0,6 mM DL-G3P, 15 nM de enzima, pH 7,5 a 25

oC. O volume final da cubeta foi de 1000 µL e a reação foi acompanhada durante 8

minutos sob agitação constante. O equipamento usado para as medidas foi um

espectrofotômetro VARIAN® modelo Cary 100 com controlador de temperatura. A

capacidade inibitória das moléculas em estudo foi verificada conduzindo o meio

reacional na presença do inibidor (em concentrações variadas) a ensaios de

espectrofotometria baseados na reação catalisada pela enzima-alvo GAPDH (figura

7) onde ocorre a redução do co-fator NAD+ para NADH, exibindo banda de absorção

no comprimento de onda de 340 nm.

Para a avaliação da atividade dos candidatos a inibidores foram seguidas

algumas etapas a fim de garantir a obtenção de resultados confiáveis. Dessa forma,

antes de iniciar a avaliação de atividade inibitória propriamente dita, foi feito uma

varredura de absorção no intervalo de 200 - 500 nm para cada substância a ser

investigada. Esse procedimento visa a identificação de qualquer interferência de

absorção nos comprimentos de onda onde as análises são realizadas (340 e 400

nm). Em seguida esse mesmo ensaio foi repetido com o candidato a inibidor na

presença de NAD+, dessa forma é possível verificar se o próprio inibidor é capaz de

reduzir o NAD+ e ocasionar a formação de NADH, contribuindo para obtenção de

falsos negativos e conseqüentemente resultados equivocados.

Ultrapassadas essas etapas, dá-se início à etapa de triagem (teste de dose

única), onde foram preparadas soluções à 200 µM em DMSO, com os compostos

que foram pré-selecionados nos testes anteriores. As moléculas que nessa etapa

apresentaram atividade inibitória > 30% foram selecionadas para a etapa

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47 | M A T E R I A I S E M É T O D O S

subseqüente que compreende a determinação de IC50 (concentração necessária

para reduzir 50% da atividade enzimática). Em todos os ensaios, foi empregado

como controle negativo o meio reacional acrescido de 10% de DMSO e como

controle positivo uma solução 200 µM de um inibidor padrão (cumarina sintética, IC50

= 64 µM).

Os valores de IC50 foram determinados a partir de 5 ou mais concentrações

do inibidor compreendendo um percentual inibitório entre 15-85%.

A taxa de inibição enzimática pode ser calculada comparando a atividade

enzimática na presença (Vi) e na ausência do inibidor (V0) através da equação (1).

% Inibição = (1 - Vi/Vo) x 100 (1)

Todas as medidas foram realizadas em triplicata. Os inibidores identificados

que tiveram sua potência determinada foram encaminhados para subseqüente

ensaio de co-cristalização (inibidor/GAPDH).

3.3 Co-cristalização de Complexos GAPDH/inibidor, Cristalização de Inibidores,

Processamento e Refinamento dos Dados Cristalográficos

3.3.1. Cristalização de Macromoléculas

Com o objetivo de esclarecer e determinar as interações intermoleculares

subjacentes ao processo de reconhecimento molecular e estrutural da enzima

GAPDH em relação aos inibidores previamente identificados nos ensaios cinéticos,

diversos experimentos de co-cristalização foram conduzidos na presença dos

diferentes inibidores. Segue na Tabela 2 uma lista com as moléculas as quais foram

co-cristalizadas com a enzima GAPDH.

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 48

Tabela 2 - Estrutura dos compostos utilizados nos ensaios de cristalização.

Identificação dos

Compostos

Estrutura

Conjuntos

Coletados

Ácido iodoacético (1)

O

OH

I

1

Iodoacetamida (2) O

NH2

I

1

cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6(3)

N

N

RuN

N

ON

SO3

2

cis-[Ru(NO)(bpy)2imN]PF6 (4)

N

N

RuN

N

ONN

N

3

cis-[Ru(NO)(bpy)2imC]PF6 (5)

N

N

RuN

N

ONN

N

2

Ácido anacárdico (6)

CH3

O

OH

OH

4

Continua

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49 | M A T E R I A I S E M É T O D O S

Continuação

2g (7)

NCl

NN

F3C

OH

NO2

1

2f (8)

NCl

NN

F3C

OH

OMe

1

S-NAD (9)

N+

S NH2

O

OP

OP

O

O O

O

NN

NN

NH2

OHO-

OH OH OHOH

9

Substrato (10) O

H

O4P

2

40_1 (11)

N

NH

S

N

S

N

NH

1

RHO (12)

O

O

NH

S

N

S

N

NHS

CH3

O O

1

SEW (13)

NN

O NHS

SN

OCH3

CH3

CH3

OO

2

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 50

3.3.2. Complexos Cristalográficos da GAPDH

Nos experimentos de cinética enzimática foram identificados diversos

inibidores da enzima GAPDH com potência variada. Esses inibidores foram

utilizados em ensaios de co-cristalização com a GAPDH, no entanto após a

determinação estrutural dos supostos complexos, não foi possível observar a

presença desses inibidores ligados à enzima. Contudo, entre as moléculas

empregadas nos ensaios de co-cristalização, duas foram observadas em interação

com a GAPDH – um complexo inorgânico de Rutênio e um derivado de ácido

anacárdico (Figura 17). Esses inibidores foram empregados nos ensaios de co-

cristalização a fim de melhor descrever seus mecanismos de interação com a

GAPDH. Além desses inibidores, foi realizado um estudo com os inativadores

enzimáticos, ácido iodoacético e iodoacetamida (Figura 17). O estudo compreendeu

determinação de mecanismo por cinética enzimática e uma descrição detalhada dos

seus modos de interação com a enzima em estudo.

Figura 17 - Estrutura química dos inibidores co-cristalizados com a GAPDH. (A) Ácido iodoacético (1); (B) Iodoacetamida (2); (C) Complexo metálico de rutênio - (c-[RuIINO+]n+) (3); (D) Derivado de ácido anacárdico (6).

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51 | M A T E R I A I S E M É T O D O S

3.3.3 Cristalização de Complexos Proteina-Inibidor

O processo de cristalização de uma forma geral é uma seqüência de etapas

que ocorrem de forma conectada. Entretanto, para a obtenção de cristais é

necessário que o sistema seja levado a um estado de supersaturação para que

então se inicie as etapas que compreendem à nucleação e o crescimento dos

cristais42,43.

Não obstante, a cristalização, principalmente de macromoléculas biológicas

(por exemplo, proteínas) se mostra uma tarefa bastante complexa, pois envolve a

interferência de diversas variáveis como, estabilidade, grau de pureza, pH,

temperatura, agentes precipitantes, força iônica, entre outras. Dessa forma, torna-se

difícil a predição de condições específicas para a cristalização, fazendo com que

isso se torne um processo amplamente dependente de tentativas experimentais.

Nesse âmbito, existem técnicas de cristalização específicas tanto para macro quanto

para pequenas moléculas44-46.

A principal técnica de cristalização de macromoléculas é a difusão de vapor,

que consiste no equilíbrio entre duas soluções através da fase de vapor num

sistema isolado. Essa técnica pode ser aplicada de diferentes formas, entre as quais

se encontram os seguintes métodos: i) gota suspensa (do inglês, hanging drops); ii)

gota sentada (do inglês, sitting drops) e iii) gota sanduíche (do inglês, sandwich

drops)44, um breve esquema com esses métodos de cristalização é mostrado na

Figura 18.

Em todos os experimentos realizados nessa tese para obtenção de

monocristais de complexos proteína/inibidor, a técnica empregada foi a difusão de

vapor com a gota suspensa (Figura 18(A)).

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Figura 18 - Métodos de cristalização44,45. (A) gota suspensa; (B) gota sentada; (C) gota sanduíche.

Para todos os experimentos os reagentes empregados nas soluções de

cristalização (solução mãe) foram: 0,1 M tampão cacodilato de sódio, variando o pH

de 6,9 - 7,3, em intervalos de 0,2, 0,1M acetato de cálcio, 1 mM azida sódica, 16% -

18% PEG 8000. Os experimentos foram realizados numa sala com temperatura

controlada (19 oC). As gotas suspensas tinham volume de 10 µL que consistiam em

50% proteína mais 50% solução mãe. O experimento foi montado variando pH e

concentração de agentes precipitantes. O volume da solução mãe colocada nos

reservatórios das caixinhas de cristalização foi de 800 µL em todas as condições

testadas. A concentração de proteína empregada nos experimentos variou entre 9 e

12 mg/mL. Em todos os ensaios, a proteína foi pré-incubada com 10% de inibidor

Na cristalização dos complexos GAPDH/(1) e GAPDH/(2), foi utilizada

proteína na concentração de 10 mg/mL e 11 mg/mL respectivamente, e a

concentração dos inativadores foi de 5mM e 1 mM nessa ordem. A proteína foi pré-

incubada em banho de gelo com os inativadores por 30 minutos. Em seguida foram

montados os experimentos de cristalização. Foi possível observar a formação de

cristais de ambos os complexos em pH 7,3, entretanto, os cristais complexados com

(1) surgiram após uma semana, enquanto que o cristal de GAPDH/(2) só foi

observado depois de um mês (Figura 19).

Nos experimentos realizados com os inibidores (3) e (6), a concentração de

proteína empregada foi de 12 mg/mL para os dois complexos. Esses inibidores

foram pré-incubados junto com a enzima por duas horas em banho de gelo. A

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53 | M A T E R I A I S E M É T O D O S

concentração dos inibidores foi de 600 µM em água para (3) e 1mM em DMSO para

(6). Os cristais de GAPDH/(3) cresceram em dois dias e os cristais de GAPDH/(6)

formaram-se depois de 40 dias.

Figura 19 - (A) Cristais do complexo GAPDH/(1); (B) cristal do complexo GAPDH/(2).

Além da co-cristalização, outra técnica bastante utilizada para a obtenção de

complexos cristalinos é o soaking, onde cristais pré-formados são inseridos em

soluções contendo o inibidor ou o ligante, entretanto, essa técnica torna-se inviável

para a GAPDH, levando à ruptura dos cristais pré-formados. Isso ocorre porque a

ligação de inibidores nessa enzima está sempre associada a mudanças

conformacionais extensas, em geral relacionadas à rotação do domínio de ligação

do NAD+. Quando isso ocorre no cristal já formado, a rede cristalina é destruída. Por

esse motivo, a co-cristalização foi a técnica empregada em todos os experimentos.

3.3.4 Coleta e Processamento dos Dados

Após a obtenção dos cristais, os mesmos foram conduzidos ao Laboratório

Nacional de Luz Síncrontron (LNLS), onde foram submetidos à difração de raios X

nas linhas de luz de Cristalografia de Macromoléculas, MX147 (GAPDH/(1)) e MX248

(demais complexos). Para tanto, os cristais GAPDH/(1) foram resfriados a 100 K sob

fluxo contínuo de nitrogênio e armazenados em um dewar contendo nitrogênio

líquido. Os cristais dos demais complexos (proteína/inibidor) foram conduzidos ao

LNLS em sua própria caixinha de cristalização, que foi acondicionada em outra caixa

maior de isopor a fim de proteger as amostras cristalinas de possível choque de

temperatura ao longo da viagem (São Carlos - Campinas).

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 54

As imagens de difração foram coletadas à temperatura de 100 K utilizando

solução crio protetora (10 % glicerol adicionado à solução de cristalização). Ambas

as coletas foram realizadas utilizando o método de rotação - oscilação49, fazendo o

cristal girar sucessivas oscilações de 0,5 grau na coleta do complexo GAPDH/(6) e

um grau para os demais complexos, em torno do eixo perpendicular à direção do

feixe dos raios X incidentes.

As imagens de difração dos quatro conjuntos de dados foram indexados e

integrados com o programa MOSFLM50. O programa SCALA51 juntamente com o

módulo TRUNCATE52 foram aplicados durante o escalonamento e redução dos

dados, ambos fazem parte do pacote de programas do CCP4 (Collaborative

Computational Project Number 4)53 . Após a redução dos dados, é gerado um

arquivo contendo os índices de Miller (hkl), os módulos dos fatores de estrutura

(│Fhkl│) e suas respectivas incertezas (σ(F)). Este arquivo é empregado na etapa

seguinte do processo de resolução estrutural que é o faseamento e obtenção do

modelo cristalográfico.

3.3.5 Resolução da Estrutura por Substituição Molecular e Refinamento

Considerando-se que a estrutura cristalográfica da GAPDH de T. cruzi já

tenha sido previamente resolvida, o método então empregado na recuperação das

fases, foi a substituição molecular em todos os complexos discutidos nessa tese.

Dessa forma, o programa utilizado foi o MOLREP54 que também faz parte do pacote

de programas do CCP4. O modelo de busca empregado no faseamento encontra-se

disponível online sob código PDB, 1K3T e trata-se de um complexo molecular

formado pela enzima GAPDH e um inibidor da classe das cumarinas (chalepina)55.

Assim, foi utilizado o monômero na ausência do co-fator, das águas e do inibidor.

Nessa etapa, é obtido um arquivo contendo as coordenadas de cada átomo das

moléculas do complexo, bem como os valores para os fatores de temperatura.

Após a obtenção das fases, deu-se início ao processo de refinamento do

modelo obtido. Nessa etapa, os programas empregados foram o REFMAC53 contido

no pacote de programas do CCP4 e o PHENIX56 para a realização do refinamento

no espaço recíproco. Para o refinamento no espaço real, o programa empregado foi

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o COOT57. Durante o refinamento no espaço recíproco, os parâmetros posicionais e

os fatores de temperatura de todos os átomos não-hidrogênio, são ajustados a fim

de fazer com que os módulos dos fatores de estrutura calculados (FC) e dos fatores

de estrutura observados (Fo) (dados experimentais), se aproximem o máximo

possível. O refinamento no espaço real é direcionado pelos mapas de densidade

eletrônica, uma vez que o modelo teórico é ajustado a esses mapas. Sendo assim,

são realizados ciclos iterativos de refinamento no espaço recíproco de forma

alternada com o refinamento no espaço real até que haja convergência entre os

modelos teórico (FC) e experimental (FO). O refinamento foi monitorado a partir do

índice R (Rfactor) que determina a concordância entre os valores de FC e FO (eq. 2),

onde o intervalo de 10 a 20% é aceitável para macromoléculas e Rfree. O refinamento

foi conduzido até que não fosse mais observado variações nos valores de Rfactor e

Rfree. Em todos os modelos para o cálculo de Rfree foi utilizado 5% das reflexões

observadas, escolhidas de forma aleatória e distribuidas uniformemente no espaço

recíproco.

𝑅 = 𝐹𝑜𝑏𝑠 |−𝑘|𝐹𝑐𝑎𝑙𝑐 ℎ𝑘𝑙

|𝐹𝑜𝑏𝑠 |ℎ𝑘𝑙 × 100% (2)

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Figura 20 - Padrão de difração dos complexos cristalinos GAPDH/inibidor. Imagem obtida para o cristal do complexo GAPDH/(6) com rotação de 0,5 grau e 90 segundos de exposição; (3), imagem obtida com rotação de um grau e 20 segundos de exposição; (1), rotação de 1 grau e 120 segundos de exposição; (2) rotação de um grau e 30 segundos de exposição.

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Figura 21 - Ampliação das imagens de difração para melhor visualização das reflexões coletadas para os quatro complexos cristalográficos.

3.3.6 Cristalografia de Pequenas Moléculas

Foram conduzidos experimentos de cristalização apenas com o inibidor (3),

pois antes da obtenção do complexo GAPDH/(3) foram realizadas diversas tentativas

sem êxito. Dessa forma a cristalografia de pequenas moléculas nos permitiria

conhecer detalhadamente os comprimentos de ângulos e de ligação dessa molécula

e a importância desses parâmetros para a resposta biológica obtida frente a esse

inibidor.

Para a realização desse experimento foi necessário a cristalização da

molécula (3) da Tabela 2. Dessa forma, assim como para macromoléculas, existem

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M A T E R I A I S E M É T O D O S | 58

técnicas específicas para a cristalização de moléculas pequenas46, onde da mesma

forma envolve diversas variáveis como temperatura, concentração, pH, solubilidade

e etc. No entanto, para o caso das pequenas moléculas o processo torna-se um

pouco mais simples, pois contrário às macromoléculas biológicas, não há grandes

limitações com o uso de solventes, uma vez que essas pequenas moléculas não

sofrem desnaturação ou perdem sua atividade, como é o caso da maioria das

proteínas quando na presença de determinados solventes orgânicos.

3.3.7 Cristalização

As principais técnicas empregadas na cristalização de moléculas pequenas

são: i) evaporação lenta de solventes; ii) difusão de líquido-vapor; iii) difusão de

líquido-líquido46. No experimento realizado nessa tese, a técnica empregada foi a

evaporação lenta de solventes, que consiste em preparar uma solução em

condições de saturação com a amostra de interesse, deixando que ocorra

lentamente a evaporação do solvente empregado. À medida que o solvente evapora,

a saturação do meio é completamente alcançada e deve ocorrer a formação de

precipitados cristalinos. Nesse trabalho, o solvente empregado foi a isopropanona,

sendo observada a formação de cristais adequados à difração de raios X depois de

dois dias. O experimento foi realizado sob temperatura controlada de 19 oC.

3.3.8 Coleta de Dados, Processamento, Resolução da Estrutura e Refinamento

Após a obtenção do cristal do composto (3), foi coletado um conjunto de

dados num difratômetro Enraf-Nonius Kappa-CCD, utilizando radiação de molibdênio

(MoKα, λ = 0,71073 Å), com monocromador de grafite. Após a coleta de dados, os

parâmetros de rede foram refinados utilizando o programa COLLECT58. Os dados de

difração foram integrados e escalonados com o pacote de programas HKL Denzo-

Scalepack59. Para a resolução e refinamento o pacote de programas WinGX60 foi

empregado. A estrutura foi resolvida pelo método de Patterson usando o programa

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SHELXS-9761 e o refinamento foi realizado pelo método dos mínimos quadrados,

para tanto foi empregado o programa SHELXL-9762. Os átomos de hidrogênio foram

posicionados estereoquimicamente e refinados com o modelo rígido. O refinamento

foi finalizado quando a convergência entre os dados experimentais e calculados foi

alcançada. Após o refinamento os dados cristalográficos foram validados utilizando o

programa PLATON63. Para a construção da representação gráfica, os programas

ORTEP III64 e Mercury 1.1.265 foram empregados.

Para todos os experimentos de difração de raios X, uma tabela contendo as

estatísticas do processamento e refinamento dos dados, se encontra disponível no

capítulo IV.

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Capítulo 4

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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61 | R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Inativadores Enzimáticos

4.1.1 Iodoacetato e Iodoacetamida

Os compostos ácido iodoacético (1) e iodoacetamida (2) (Figura 22) são

amplamente descritos na literatura15,18, 66-68 como agentes capazes de alquilar vários

resíduos de aminoácidos causando modificações em grupos nucleofílicos,

principalmente, tióis (SH) de cisteínas presentes em uma variedade de enzimas,

inclusive na GAPDH de diversos organismos.

Figura 22 - Estrutura química dos inativadores (A) ácido iodoacético (1) e (B)

iodoacetamida (2)

Essas moléculas são freqüentemente, empregadas em estudos enzimáticos

que buscam compreender a importância de determinados resíduos de aminoácidos

no processo de catálise.

As espécies (1) e (2), quando interagem com cisteínas livres, modificam o

grupo tiol através de S-carboximetilação e S-carboxiamidometilação,

respectivamente, levando à formação de complexos covalentes que causam inibição

irreversível da atividade da enzima, fazendo com que a mesma se torne inativa.15,16

No entanto, embora essas duas moléculas provoquem o mesmo efeito

(inativação) na atividade de muitas proteínas, o mecanismo pelo qual esses

compostos exercem sua função, apresentam diferenças importantes em alguns

aspectos, tais como tempo de inativação e a dependência de alguns cofatores

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enzimáticos69. Essas considerações permanecem sem explicações claras e dessa

forma, dois complexos cristalográficos formados pela enzima GAPDH de T. cruzi e

pelos inativadores (1)70 e (2) foram obtidos e são aqui discutidos na tentativa de

suprir essa lacuna.

4.1.2 Cinética Enzimática dos Inativadores Ácido Iodoacético e Iodoacetamida

Frente à Enzima GAPDH

Os estudos de cinética enzimática foram realizados com os dois compostos

(1) e (2) a partir da metodologia descrita no capítulo anterior. No entanto, para a

determinação do mecanismo cinético de ação desses inativadores, foi empregada a

concentração única de cada composto, sendo de 200 µM para (1) e 300 µM para (2).

As soluções dos dois inativadores foram pré-incubadas junto com o meio reacional

contendo a enzima durante determinados intervalos de tempo, onde em seguida foi

realizada a leitura da atividade enzimática.

Como pode ser visto na Figura 23, o inativador (1) apesar de estar em

concentração menor que (2), foi capaz de inativar completamente a enzima em

apenas 10 minutos, enquanto que após 30 minutos de incubação com a enzima, o

inativador (2) inibiu 97% da atividade enzimática. Diante desses resultados,

prosseguiu-se com os estudos estruturais a fim de melhor compreender os requisitos

que determinam esses resultados.

Figura 23 - Gráficos exibindo o mecanismo tempo dependente dos inativadores (A) (1) e (B) (2) frente à enzima GAPDH.

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4.1.3 Análise dos Complexos Cristalográficos GAPDH/(1) e GAPDH/(2)

Dois complexos cristalográficos GAPDH/inativador foram obtidos como

descrito no capítulo 3 dessa tese. As estruturas foram resolvidas e após muitos

ciclos de refinamento, os modelos foram finalizados e depositados no banco de

dados para estruturas de proteínas - PDB (Protein Data Bank). Um resumo dos

dados cristalográficos referentes aos dois complexos obtidos é mostrado na Tabela

3.

As estruturas foram refinadas e em seguida a avaliação desses modelos foi

realizada com o programa PROCHECK (Figura 24) e mostra no diagrama de

Ramachandran71 que para o complexo GAPDH/(1), 1099 (87,2%) resíduos de

aminoácidos se encontram em regiões mais favoráveis, 149 (11,7%) em regiões

adicionais permitidas, 9 (0,7%) em regiões generosamente permitidas e 4 (0,3%)

resíduos em regiões desfavoráveis. Em relação ao complexo GAPDH/(2), foi visto

que 1119 (88,8%) resíduos estão em regiões mais favoráveis, 132 (10,5%) em

regiões adicionais permitidas, 5 (0,4%) em regiões generosamente permitidas e 4

(0,3%) em regiões desfavoráveis.

Figura 24 - Diagrama de Ramachandran dos modelos cristalográficos referentes aos complexos GAPDH/(1) em (A) e GAPDH/(2) em (B), mostrando na porção vermelha dos gráficos os resíduos que se encontram nas regiões mais favorecidas, em amarelo regiões adicionalmente permitidas, em bege generosamente permitidas, e em branco regiões desfavoráveis.

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Tabela 3 - Dados cristalográficos e estatísticas do refinamento das estruturas dos

complexos GAPDH/(1) e GAPDH/(2).

Dados Cristalográficos GAPDH/(1) GAPDH/(2)

Faixa de resolução (Å) 38,1 - 2,3 (2,3 - 2,36)* 61,7 - 1,8 (1,8 - 1,86)*

Grupo Espacial P21 P21

Parâmetros de Rede a=79,98 Å;

b=83,60 Å;

c=101,95 Å

α==90o β= 95,93o

a=83,12;

b=85,39;

c=105,66

α==90o β= 96,42o

No Total de imagens 210 180

Δ (o) 1 1

No Total de Reflexões 200.472 131.874

No de Reflexões Únicas 60.749 (9.383)* 61.692 (5.591)*

Completeza (%) 96,4 (95,8)* 97,0 (97,0)*

Rmerge (%) 10,2 (40,2)* 6,0 (36,1)*

<(I)/σ(I)> 7,3 (1,8)* 8,1 (2,1)*

Multiplicidade 3,3 (3,0)* 3,4 (3,2)*

Refinamento

No de aa/monômero 359 359

Moléculas de água 1.150 1.154

Rfactor/Rfree 0,181/0,251 0,202/0,241

B-factors (Å2)

Proteína 19,6 32,9

NAD+ 27,03 30,1

Inativador 15,5 37,6

Água 16,5 37,9

Desvios de r.m.s

Comprimentos de ligação (Å) 0,006 0,016

Ângulos de ligação (o) 1,1 1,38

* Os valores entre parênteses correspondem à última faixa de resolução.

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Como pode ser visto na Figura 24, o modelo estrutural final apresenta mais

de 99% dos resíduos de aminoácidos localizados em regiões permitidas no

diagrama de Ramachandran, com exceção da Val255 de todos os monômeros. Isso

se deve ao fato de que esse resíduo se localiza em uma alça flexível entre duas

folhas-β consecutivas. Outras estruturas de GAPDH também apresentam essa

conformação característica. Outro fato importante, é que embora a qualidade do

modelo estrutural esteja boa, o mapa de densidade eletrônica para os resíduos 90 -

104, do monômero C do complexo GAPDH/(2) se apresenta incompleto,

possivelmente por esses resíduos estarem localizados em região bastante flexível e

exposta ao solvente.

4.1.4 Interpretação dos Modelos Cristalográficos

A análise final dos modelos refinados revelou para a estrutura GAPDH/(1) a

2,3 Å, densidade eletrônica contínua e positiva referente ao grupo acetato junto à

cisteína catalítica 166 (Cys166) do monômero C. Além disso, foi observada próxima

a essa região outra densidade positiva referente à molécula do cofator NAD+ (Figura

25 (A)). Por outro lado, a análise do modelo estrutural GAPDH/(2) embora tenha

revelado densidade eletrônica positiva e contínua junto à Cys166 indicando a ligação

covalente do grupo acetamida nos monômeros A, B e C, não foi observada próximo

às cisteínas alquiladas, a presença de densidade positiva para o cofator NAD+

Figura 26 (B)). Entretanto, forte densidade positiva indicando a presença do NAD+ foi

observada no monômero D onde a Cys166 não sofreu alquilação.

Como pode ser visto na Figura 25 (A), o inativador (1) foi capaz de interagir

covalentemente com a Cys166 do sítio catalítico, no entanto contrariamente ao

mecanismo previamente proposto,68 onde o cofator deveria ser expulso do sítio para

que a inativação ocorresse, é possível observar que o NAD+ não somente continua

presente após a inativação,70 como também interage com o inibidor através de

interações do tipo π-stacking que ocorrem entre os elétrons-π do anel nicotinamida

do NAD+ e os elétrons π do grupo carboxílico de (1). Além disso, é observada a

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formação de uma ligação de hidrogênio entre o oxigênio carboxílico do composto (1)

e o grupo OH do anel ribose através de uma molécula de água (W324).

Figura 25 - Modelos estruturais cristalográficos obtidos para os complexos (A) GAPDH/(1) e (B) GAPDH/(2). Mapas de densidade eletrônica 2Fobs-Fcalc referentes ao sítio da GAPDH ilustrando o resíduo de cisteína covalentemente ligada aos inativadores (1) - CCS166 - (A) e (2) - ACM166 - (B), ambos com contorno de 1.0 σ. Em evidência os principais resíduos, moléculas de água e NAD+ (para (A)) que interagem com os inativadores. As ligações de hidrogênio estão

representadas por linhas tracejadas amarelas (A) e azuis (B).

No entanto, o modo de ligação do inativador (2) revelou além da ligação

covalente com a Cys166, interações-π entre a cadeia lateral do resíduo Tyr339 e o

grupo amida de (2). Além disso, duas ligações de hidrogênio entre o grupo amida do

composto (2) e duas moléculas de água (W131 e W135) ajudam na estabilização e

orientação da espécie formada, Cys-(2) (ACM). Entretanto, não foi observada a

presença do cofator NAD+ no sítio ativo da enzima após a inativação.

Uma possível explicação para a ausência do NAD+ no complexo

cristalográfico GAPDH/(2)69 é que o mesmo estaria direcionando e auxiliando o

processo de inativação pelo inibidor (1), o que não acontece para (2), onde nesse

caso, é possível que impedimento estérico seja definitivo na saída do NAD+ do sítio

ativo (Figura 27). Dessa forma, para que a inativação ocorra é necessário que o

NAD+ seja retirado do sítio ativo. Essa explicação corrobora para a hipótese de que

o inativador (2) seja mais lento na total inativação da enzima (Figura 23), porque

precisa retirar o NAD+ do sítio a fim de melhor se acomodar.

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Figura 26 - Sobreposição dos complexos enzimáticos GAPDH/(1) em azul e GAPDH/(2) em

rosa.

A Figura 26 mostra a sobreposição de dois modelos cristalográficos da

GAPDH. Em rosa está o complexo GAPDH/(2) e em azul se encontra o complexo

GAPDH/(1). A figura mostra o choque estérico que ocorre entre o NAD+ e o ligante

(2) quando no processo de inativação, sugerindo que os dois eventos estejam

ocorrendo ao mesmo tempo (inativação e saída do NAD+).

Os estudos cristalográficos aqui realizados forneceram dados experimentais

valiosos, que demonstram, pela primeira vez, o modo de ligação dos inativadores

iodoacetato e iodoacetamida com a enzima GAPDH de T. cruzi, evidenciando o

papel importante do NAD+ para a estabilização ou não dos inibidores.

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4.2 Complexos de Rutênio

A atividade anti-parasitária de compostos metálicos tais como, ouro, cobre,

zinco, platina, rutênio e outros, é amplamente descrita na literatura. No entanto,

dentre esses metais, os complexos inorgânicos contendo rutênio são descritos como

sendo os que apresentam menor nível de toxicidade quando comparados a outros

compostos, como por exemplo, os complexos de platina.72-75

Dessa forma, durante a busca por novos inibidores da enzima GAPDH de T.

cruzi, alguns complexos metálicos de rutênio foram testados e apresentaram

atividade inibitória contra essa enzima. Tais compostos contém em suas estruturas

bipiridinas (bpy) e nitrosilo (NO) como grupos ligantes. O grupo NO é bastante

descrito, além de outras propriedades, por ser capaz de reagir com algumas

cisteíno-proteases, ou mesmo outras proteínas que possuem cisteína no sítio ativo

modulando assim a atividade da referida macromolécula. 76-82

Assim, foram realizados ensaios de co-cristalização da GAPDH na presença

desses compostos (Figura 28) na tentativa de obter a estrutura formada pelo

complexo enzima/inibidor e assim descrever detalhadamente, o modo pelo qual

ocorre o processo inibitório.

Figura 27 - Estrutura química dos complexos de rutênio inibidores da GAPDH. (A) cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 – (3); (B) cis-[Ru(NO)(bpy)2imN]PF6 – (4) e (C) cis-[Ru(NO)(bpy)2imC]PF6 – (5)

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4.2.1 Estudos Cristalográficos de Complexos de Rutênio Frente à Enzima

GAPDH

Os complexos de rutênio mostrados na Figura 27 tiveram seu mecanismo de

inibição determinados através de cinética enzimática como sendo tempo

dependente. Para tanto, foram determinados os valores de IC50 a partir de medidas

diretas e com a enzima pré-incubada na presença do ligante por 30 minutos. Os

resultados se mostraram diferentes nas duas situações mencionadas. No caso dos

experimentos em que a enzima foi pré- incubada com o inibidor, os compostos se

mostraram mais potentes (Tabela 4).41

Tabela 4 - Valores de IC50 para os complexos de rutênio.

Compostos Medidas diretas de IC50

(µM)

Medidas de IC50 após 30 min

(µM)

(3)

130 ± 8 52 ±6

(4)

(5)

311 ± 11 229 ± 10

515 ± 35 333 ± 24

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Além de atividade inibitória frente à enzima GAPDH, foram realizados

experimentos de co-cristalização com os três compostos acima citados com base

nos resultados de cinética enzimática como descrito no capítulo 3.

4.2.2 Análise do Complexo Cristalográfico GAPDH/(3)

Diversos ensaios de co-cristalização foram realizados com os compostos de

rutênio obtendo-se muitos cristais, no entanto, em conseqüência de resolução

insuficiente, somente foi possível detectar a presença de um dos ligantes (3) em

todas as estruturas resolvidas. Os dados cristalográficos para o complexo

GAPDH/(3) são mostrados na Tabela 5.

A estrutura foi refinada e a avaliação do refinamento e do modelo estrutural

foi realizado como já descrito anteriormente, com o programa PROCHECK. O

diagrama de Ramachandran é mostrado na Figura 28. Dessa forma, foi possível

verificar que todos os resíduos se encontram em regiões permitidas, com exceção

da Val255 que está em região desfavorável por se localizar em região bastante

flexível da proteína, como já foi explicado anteriormente. Além disso, o mapa de

densidade eletrônica se mostrou contínuo para todos os resíduos, colaborando

dessa forma para uma melhor interpretação do modelo.

Figura 28 - Diagrama de Ramachandran para o complexo cristalográfico GAPDH/(3)

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Tabela 5 - Dados cristalográficos e estatísticas do refinamento da estrutura do complexo GAPDH/(3).

Dados Cristalográficos GAPDH/(3)

Faixa de resolução (Å) 67,54 - 1,65 (1,65 - 1,74)

Grupo Espacial P21

Parâmetros de Rede a=80,25 Å;

b=85,37 Å;

c=107,409 Å

α==90o β= 96,26o

No Total de imagens 180

Δ (o) 1

No Total de Reflexões 559.639 (42.769)

No de Reflexões Únicas 163.295 (17.062)

Completeza (%) 94,4 (94,4)

Rmerge (%) 0,07 (38,3)

<(I)/σ(I)> 6,2 (1,7)

Multiplicidade 3,4 (2,5)

Refinamento

No de aa/monômero 359

Moléculas de água 1.780

Rfactor/Rfree 0,1783/0,2077

B-factors (Å2)

Proteína 16,6

NAD+ 14

Inibidor 19,33

Água 10,5

Desvios de r.m.s

Comprimentos de ligação (Å) 0,005

Ângulos de ligação (o) 1,009

* Os valores entre parênteses correspondem à última faixa de resolução.

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R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O | 72

4.2.3 Interpretação do Modelo Cristalográfico

A análise final do modelo refinado, revelou para essa estrutura, densidade

contínua e positiva junto à Cys166 dos monômeros A, C e D. Nenhuma outra

cisteína presente na estrutura apresentou sinal de oxidação. A densidade observada

foi associada ao grupo nitrosil (NO) presente no complexo de rutênio, sugerindo

dessa forma, que a inibição tenha ocorrido a partir da inativação enzimática por

parte do grupo nitrosil liberado no sistema, pois o óxido nítrico (NO) é altamente

reativo frente a grupos tióis (SH) de diversas moléculas. Neste caso, a formação de

ligação covalente foi favorecida e explica a variação do potencial de inibição em

função do tempo sob concentração constante do inibidor.

A Figura 29 mostra o sítio ativo da GAPDH evidenciando a Cys166

nitrosilada (CysNO). Além disso, mostra uma ligação de hidrogênio mediada pela

molécula de água W195, entre o átomo de nitrogênio do grupo NO e o grupo OH da

ribose presente no cofator NAD+. É possível observar ainda nessa mesma figura,

que o enxofre da Cys166 sofreu oxidação, ligando-se ali um átomo de oxigênio, que

por sua vez encontra-se em ligação de hidrogênio com o resíduo His194. Portanto,

esse conjunto de interações contribuem para melhor estabilidade da espécie

formada (CysNO) no sítio ativo da enzima.

Figura 29 - Modelo cristalográfico obtido para o complexo GAPDH/(3). Mapa de densidade eletrônica 2Fobs – Fcalc em cinza referente ao sítio da GAPDH ilustrando o resíduo de cisteína covalentemente ligado ao grupo NO (CysNO) presente no complexo de rutênio (3). Contorno do mapa de 1σ. Em evidência os principais resíduos, molécula de água e NAD+ que interagem com o inibidor. As ligações de hidrogênio estão representadas por linhas tracejadas azuis.

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Embora tenha sido obtida a estrutura cristalográfica do complexo

proteína/ligante, algumas questões foram levantadas, principalmente, sobre o

mecanismo de liberação do grupo nitrosil e de que maneira esse grupo alcança o

sítio ativo da enzima formando a espécie estável CysNO. Diante dessas questões,

prosseguiu-se a investigação na tentativa de melhor responder essas dúvidas. Para

tanto, a análise cristalográfica somente do inibidor foi realizada, seguida por uma

breve investigação espectrofotométrica, buscando complementar as informações até

então conhecidas.

4.2.4 Estudos Cristalográficos do Inibidor (3)

O experimento de cristalografia para a pequena molécula -

[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 - (3), foi realizado na tentativa de buscar mais explicações

para a reação ocorrida no sítio ativo da GAPDH. Sendo assim, foi feita uma análise

dos comprimentos de ligação entre os átomos que compõem a molécula em

discussão e foi constatado a redução no comprimento da ligação Ru-NO (1,746 Å),

quando comparado com o comprimento de ligação entre os átomos Ru-N4 (2,069 Å)

e Ru-N2 (2,140 Å) o que a princípio pode estar refletindo no aumento do caráter π

do ligante nitrosil, tornando-o mais suscetível ao ataque nucleofílico por parte do

grupo sulfidrila da cisteína catalítica Cys166. Uma tabela com os principais dados

cristalográficos referentes à molécula em questão é apresentada a seguir (Tabela 6)

e os respectivos dados de comprimentos e ângulos de ligação são apresentados no

apêndice 1.

Figura 30 - (A) Empacotamento cristalino evidenciando as ligações de hidrogênio existentes no retículo cristalino; (B) representação ORTEP mostrando todos os átomos não hidrogênios. Os elipsóides desenhados com 50% de probabilidade.

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Tabela 6 - Principais dados cristalográficos para o composto [Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 - (3)

Dados Cristalográficos Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 - (3)

Fórmula Molecular C20H20N5O4SRu.PF6.H2O

Massa molar 713,50 g/mol

Sistema cristalino Monoclínico

Grupo espacial P121/c 1 (no.14)

Parâmetros de rede a = 14,9054(3) Ǻ

b = 8,5902(2) Ǻ 94,576(1) o

c = 20,6004(4) Ǻ

Volume 2629,09(2) Ǻ3

Z 2 moléculas/cela

Densidade calculada 1,803 g/cm3

(MoKα) 0,828 mm-1

F(000) 1428

Dados da coleta

Temperatura(K) 298 K

Radiação (Mo K 0,71073 Ǻ

Método de resolução Método de Patterson

Intervalo de para a coleta 2,91 a 26,40

Intervalo de indexação -18 ≤ h ≤ 15; -10 ≤ k ≤ 10; -24 ≤ l ≤ 25

Reflexões coletadas 25484

Reflexões únicas 5228

Reflexões observadas 4607

R interno 0,0547

Número de parâmetros refinados 370

Refinamento

Índice R final [I > 2 σ(I)] 0,038

Índice R para todos os dados 0,0440

S 1,051

Densidade residual min e max. -0,654; 0,755 (e/Ǻ3)

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75 | R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O

4.2.5 Análise Espectrofotométrica da Formação do Complexo CysNO

Com a proposta de melhor compreender a formação da espécie CysNo

encontrada no sítio ativo da GAPDH, foi realizada uma investigação

espectrofotométrica com os inibidores (3), (4) e (5), mostrando o perfil de absorção

na presença de alguns reagentes, tais como o tampão de ensaio cinético e da

proteína GAPDH somente em água.

O primeiro espectro realizado utilizando solução dos compostos (3), (4) e (5)

a 250 µM preparados diretamente com o tampão de ensaio cinético, é mostrado na

Figura 32 que mostra três gráficos – (B), (C) e (D) referentes aos compostos (3), (4)

e (5), respectivamente. Em todos os gráficos é possível observar uma banda de

absorção entre 430 - 470 nm, que foi comparada àquela existente no gráfico (A)

dessa mesma figura, onde tal banda é descrita como sendo referente à formação do

grupo nitrosotiol (S-NO), quando uma solução de cisteína foi adicionada à solução

do composto [Ru(bpy)NO(tpy)]3+. 83 No entanto, essa mesma banda de absorção não

foi observada em um espectro obtido para o composto (5) na presença da proteína

livre de tampão e na mesma concentração em que são realizados os ensaios

cinéticos (Figura 31). Os gráficos foram observados no intervalo de comprimento de

onda de 200 a 800 nm.

Figura 31 - Espectro de absorção obtido a partir do composto (5) em presença da proteína GAPDH livre de qualquer tampão.

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Figura 32 - Espectros de absorção realizados com os compostos (3), (4) e (5). (B), (C) e (D) - espectros dos compostos (3), (4) e (5) respectivamente, na presença do tampão de ensaio cinético. (A) espectro utilizado como referência para comparação dos resultados obtidos.

Para a realização desse último ensaio, foi necessário garantir que a proteína

estivesse livre do tampão de purificação, que é o tampão o qual a proteína é

estocada. Assim, a amostra protéica foi dialisada contra água, com volume de no

mínimo dez vezes o inicial. Um teste cinético foi realizado após a diálise garantindo

que a proteína estava cataliticamente funcional. (Figura 33).

Figura 33 - (A) Gráfico mostrando a atividade da enzima GAPDH quando em tampão de

purificação; (B) Gráfico que mostra a atividade da GAPDH após a diálise.

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77 | R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O

A partir da análise geral desses resultados é possível verificar que o inibidor

cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 – (3), em estudo exerce sua função a partir da nitrosilação

da cisteína catalítica, no entanto, para isso é necessário que esse composto seja

levado a um estado de oxidação suficiente para que haja a liberação do grupo NO

no sistema. Nos resultados obtidos é possível verificar que a proteína GAPDH não é

capaz de cumprir essa etapa, pois somente foi detectado a formação do grupo S-NO

na presença do tampão de ensaio cinético. Entretanto, esse não é o único fator que

contribui para que ocorra o processo de inibição, pois esses mesmos compostos

possuindo configuração trans não são capazes de inibir a enzima GAPDH de T.

cruzi,84 mesmo na presença do tampão de ensaio cinético. Dessa forma, é possível

sugerir que além da importância do potencial redox, requerimentos estéricos sejam

necessários para que tais compostos possam atuar na enzima GAPDH.

4.3 Complexo Cristalográfico GAPDH/Ácido Anacárdico

4.3.1 Produtos Naturais e o Ácido Anacárdico

A utilização de produtos naturais como medicamentos remonta a antigas

civilizações, onde plantas, animais e até minerais eram fontes de tratamentos

terapêuticos contra diversos males. Com o desenvolvimento científico e tecnológico,

muitos tratamentos que eram realizados pelos povos antigos foram abandonados,

dando lugar à síntese de novas moléculas.85

No entanto, os produtos naturais, sobretudo aqueles provenientes de

plantas, são amplamente utilizados, tanto na descoberta de moléculas líder

permitindo o planejamento de novos fármacos, como na atribuição de atividade

terapêutica a novas moléculas. A história da química medicinal conta com diversos

exemplos de fármacos descobertos a partir de produtos naturais, alguns deles

bastante conhecidos, como é o caso da penicilina que foi pela primeira vez extraída

de micro-organismos e é até hoje administrada em processos infecciosos. Além

desse, diversos outros quimioterápicos também tiveram sua origem nos produtos

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naturais, entre os quais se encontram a vimblastina (Velban®) e a vincristina

(Oncovin®) que possuem, atividade anticancerígena.86

Atualmente, muitos produtos naturais continuam sendo empregados como

fármacos ou participam do processo de planejamento. Estima-se que cerca de 25%

de todos os medicamentos prescritos no mundo inteiro, seja provenientes de

plantas. Além disso, de todos os fármacos (252) considerados essenciais pela WHO,

11% são completamente originários de plantas, juntamente com um grande número

de moléculas sintéticas que foram obtidas a partir de precursores de produtos

naturais.85

Nesse contexto, o Brasil possui uma extensa flora com diversas espécies de

plantas catalogadas e muitas outras que ainda não foram descobertas. Entre as

plantas já catalogadas, destaca-se a espécie Anacardium occidentale L.

popularmente conhecida como cajueiro, muito comum no norte e nordeste do Brasil.

O cajueiro pertence à família Anacardiaceae que é constituída por cerca de 76

gêneros e 600 espécies.87

Do ponto de vista químico e biológico, o gênero Anacardium é muito

estudado e apresenta diversos cardóis e lipídios fenólicos com cadeias carbônicas

longas saturadas e insaturadas presentes no óleo da castanha do caju.87

Dessa forma, em colaboração com o Prof. Dr. Paulo Cezar Vieira do

Laboratório de Produtos Naturais do Instituto de Química da Universidade Federal

de São Carlos, uma série de moléculas sintéticas derivadas do ácido anacárdico

tiveram sua atividade testada frente à enzima GAPDH de T. cruzi em um projeto

anterior desenvolvido pelo Dr. Aderson Zottis que determinou a potência de inibição

e o mecanismo de ação desses derivados de ácido anacárdico como sendo não-

competitivos41, 88 (Figura 35).

Embora o mecanismo tenha sido cineticamente determinado, a localização

do sítio onde essas moléculas estariam atuando permanece desconhecida. Assim,

foram conduzidos diversos ensaios de co-cristalização da enzima GAPDH na

presença desses inibidores com o objetivo de elucidar a estrutura do respectivo

complexo e dessa forma localizar a posição do sítio de ligação dessas moléculas na

proteína.

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Tabela 7 - Estrutura química dos derivados de ácido anacárdico e seus respectivos valores de IC50 determinados frente à enzima GAPDH.88

Estrutura Química dos Derivados de Ácido Anacárdico Valores de

IC50 em (µM)

OH O

OHCH3

1

28 ± 3

H5C2O O

H3COOTHP

7a

> 300

7b

H5C2O O

H3COOTHP

> 300

H5C2O O

H3CO OTHP

7c

> 300

H5C2O O

H3COCH3

7d

> 300

H5C2O O

H3COOTHP

7e

> 300

Continua

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Continuação

H5C2O O

H3COOTHP

8a

> 250

8b

H5C2O O

H3CO OTHP

> 250

H5C2O O

H3COCH3

8c

> 250

8d

H5C2O O

H3CO CH3

>250

H5C2O O

OHOH

8e

>250

H5C2O O

OHOH

9a

>250

9b

H5C2O O

OH OH

>250

Continua

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81 | R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O

Continuação

OH O

OHOH

9c

>250

OH O

OHOH

10a

>250

10b

OH O

OH OH

> 250

OH O

OHCH3

6

200 ± 17

OH O

OH CH3

10e

55 ± 5

11

OH O

OHOH

>250

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R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O | 82

4.3.2 Análise Cristalográfica do Complexo GAPDH/Ácido Anacárdico (6)

Com base nos experimentos de cinética enzimática, foram conduzidos

experimentos de co-cristalização da enzima GAPDH na presença dos derivados de

ácido anacárdico (aanac) (6) e (10e) mostrados na Tabela 7. Os experimentos foram

realizados sob as condições descritas no capítulo 3.

Embora os experimentos de cristalização tenha sido realizado com os dois

compostos, somente foram obtidos cristais da GAPDH na presença do ligante (6).

O conjunto de dados coletado para esse complexo molecular foi refinado

exaustivamente e durante o refinamento foi empregada a função twin do programa

REFMAC do CCP4, pois foi detectado com o módulo do programa PHENIX -

PHENIX.XTRAGE que os dados eram twin do tipo pseudo meroédrico e a lei h-k-l foi

sugerida por esse mesmo programa. Esse procedimento foi bastante eficiente

fazendo com que as estatísticas do refinamento do modelo melhorassem, pois os

valores de Rfactor baixaram em torno de dois pontos e meio percentuais. Um resumo

dos dados do processamento e refinamento é mostrado na Tabela 8.

Após finalizar o refinamento, o diagrama de Ramachandran obtido através

do programa PROCHECK foi analisado (Figura 34). Todos os resíduos estão em

regiões favorecidas, com exceção da Val255 que está em região desfavorável por se

localizar em região bastante flexível da proteína, como já foi mencionado

anteriormente.

Figura 34 - Diagrama de Ramachandran para o complexo GAPDH/(6)

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Tabela 8 - Principais dados cristalográficos para o complexo formado entre a GAPDH e o derivado de ácido anacárdico (6).

* Os valores entre parênteses correspondem à última faixa de resolução.

4.3.3 Interpretação do Modelo Estrutural para o Complexo GAPDH/(6)

Após a finalização do refinamento, deu-se início a análise dos mapas de

densidade eletrônica. Como já foi determinado por experimentos de cinética

Dados Cristalográficos GAPDH/(6).

Coleta de Dados

Grupo espacial P21

Dimensões da cela

a,b,c (Å) 94,3931; 76,0185;

119,6396

90; 90,1687; 90

Resolução (Å) 1,99 (1,99 - 2,04)*

R mrg (%) 0,24 (0,166)*

I/σ(I) 4,6 (2,6)*

Completeza (%) 91,2 (91,2)*

Redundância 2,0 (2,5)*

Refinamento

No de reflexões 106.479 (*

Moléculas de água 1.512

Rwork/Rfree 0,158/0,194

B-factors

Proteína 33,7

Ligante 35,5

Água 38,2

Desvios de r.m.sd

Comprimentos de ligação (Å) 0,007

Ângulos de ligação (o) 0,931

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enzimática que o mecanismo de ação do composto (6) é não-competitivo, o sítio

ativo não foi o foco principal durante o refinamento, uma vez que se esperava a

interação do inibidor em outra região da proteína. Dessa forma, após uma extensa

análise, foi possível verificar a existência de densidade eletrônica positiva referente

ao composto (6) próximo aos resíduos Pro98 e Lys101 de todas as cadeias.

Entretanto, a modelagem e refinamento da estrutura do inibidor com ocupação de

100% em sua referida densidade apresentou indícios através do alto fator de

temperatura (> 120 Å2) que a ocupação para essa molécula deveria ser menor.

Assim a melhor ocupação para o inibidor nas quatro cadeias foi de 50% com um

fator de temperatura médio de 35,5 Å2.

A localização da proteína na qual o inibidor (Figura 35) está em interação,

faz parte de uma região de interface onde a princípio o inibidor estaria exposto ao

solvente, no entanto, especificamente nesse local foi observada, no empacotamento

da estrutura cristalográfica, a interação de outro homotetrâmero que estaria

formando através de discretas variações conformacionais um bolsão hidrofóbico

onde foi observada a presença do inibidor (Figura 36).

Figura 35 - Estrutura química do inibidor derivado do ácido anacárdico (6), mostrado no

modelo bola e bastão.

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Figura 36 - Esquema mostrando a localização e a formação do novo sítio identificado no

empacotamento da estrutura cristalina da enzima GAPDH/(6). (1) Interface de três cadeias que estariam formando o bolsão onde o inibidor está localizado. Um círculo enfatiza a localização exata do inibidor (6); (2) Interface de duas cadeias na formação do bolsão de ligação. A parte do grupamento ácido do inibidor se encontra exposta na ausência de um dos monômeros que estaria formando o novo sítio; (3) Interface de outras duas cadeias que estariam formando o sítio. Parte da cadeia alquílica se encontra agora exposta com a retirada de um dos monômeros.

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Figura 37 - Principais resíduos que fazem parte do novo sítio identificado. Em rosa são mostrados os resíduos que fazem interações polares e em azul os resíduos hidrofóbicos que formam o novo sítio. As esferas vermelhas representam as moléculas de água presentes no sítio e as linhas tracejadas em azul claro representam as respectivas ligações de hidrogênio.

A partir da Figura 37 é possível verificar que a maior parte dos resíduos que

estariam formando o sítio de ligação para o inibidor (6) é hidrofóbica, justificando

assim a presença dessa molécula que tem maior parte de sua estrutura bastante

apolar. A molécula é estabilizada no sítio de ligação, principalmente por interações

de van der Waals entre o anel aromático do inibidor e os resíduos Pro98 das duas

cadeias que formam o sítio. Além disso, uma importante interação é a ligação de

hidrogênio que se forma entre a Lys101 e o grupamento ácido do ligante. Outras

interações observadas são as ligações de hidrogênio existente entre a molécula de

água W539 da cadeia C mostrada na Figura 37 e uma outra molécula de água em

posição simétrica na cadeia A (Figura 37) e os resíduos Gln91C e Gln91A

intermediando a interação dos mesmos com a hidroxila em posição orto do inibidor.

A Figura 38 mostra o posicionamento do inibidor somente em relação à cadeia C,

evidenciando os resíduos e moléculas de água que interagem mais fortemente com

o ligante.

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Figura 38 - Modelo cristalográfico obtido para o complexo GAPDH/(6) - aanac. Mapa de densidade eletrônica 2Fobs - Fcalc referente ao novo sítio identificado na estrutura cristalográfica da GAPDH/(6) ilustrando os principais resíduos que colaboram para melhor acomodação e estabilização do ligante nesse sítio. Contorno do mapa de 1σ. Em evidência os principais resíduos, e moléculas de água que interagem com o inibidor. As ligações de hidrogênio estão representadas por linhas tracejadas azul claro.

4.3.4 Mudanças Conformacionais Induzidas por Efeitos Alostéricos

Efeitos alostéricos são aqueles que ocorrem em conseqüência de interações

de moléculas em determinadas regiões de uma macromolécula biológica (mais

frequentemente) formando sucessivas interações capazes de provocar alterações

conformacionais que em alguns casos pode levar à interrupção da atividade

biológica da referida macromolécula.89,90

No caso específico do inibidor (6), a partir da análise da estrutura da

proteína como um todo, foi possível observar uma considerável variação

conformacional (Figura 39). Na Figura 39 é mostrada a superposição de duas

estruturas cristalográficas de GAPDH, uma delas (rosa) obtida na presença do

inibidor (6) e a outra estrutura (em verde) obtida na presença do cofator NAD+. As

alterações conformacionais ocorridas com a entrada do inibidor no sítio são bastante

consideráveis, uma vez que o rmsd (Root Mean Squared Deviation) da superposição

das referidas estruturas foi de 32,93, produzindo variações estruturais de até 3,45 Å.

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Figura 39 - Sobreposição de duas estruturas cristalográficas de GAPDH. Em verde é mostrada uma estrutura obtida apenas na presença do cofator NAD+ e em rosa é mostrada a estrutura obtida na presença do inibidor (6). Ambas são

mostradas no formato de linha.

Além das diferenças já mencionadas, uma importante observação é a forma

com que os homotetrâmeros se relacionam. A estrutura do complexo GAPDH/(6)

apresenta um empacotamento cristalino bem diferente da estrutura que não está

interagindo com inibidores como é mostrado na Figura40. Nessa figura fica clara a

mudança estrutural que ocorre quando o inibidor está presente, os monômeros se

pareiam e o sítio onde o inibidor (6) interage é formado, o que não acontece com

estruturas que tem somente NAD+.

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Figura 40 - Modo de interação entre os homotetrâmeros no empacotamento cristalino. (A) Estrutura que possui apenas NAD+ em sua estrutura; (B) Complexo GAPDH/(6).

A análise estrutural do sítio do substrato e do cofator NAD+, permitiu verificar

conseqüências bastante relevantes que a princípio estariam corroborando para o

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processo de inibição enzimática. Uma das conseqüências mais marcantes foi a

ausência do cofator em seu sítio. Para tentar explicar esse fato, foi examinada a

superposição dos dois sítios do NAD+ nas estruturas em que o inibidor se liga e na

estrutura que se liga apenas o cofator (Figura 41).

Figura 41 - Sobreposição da estrutura de GAPDH em que se liga o inibidor (6) em lilás com a estrutura obtida apenas com o cofator NAD+ em verde.

A superposição de estruturas mostrada na Figura 41, nos permite verificar

que a variação conformacional sofrida pela entrada do inibidor no novo sítio refletiu

no posicionamento dos resíduos de aminoácidos que fazem parte do sítio ativo da

GAPDH. Isso se torna mais claro quando a análise é feita a partir do NAD+ presente

na estrutura que não possui inibidor, pois o resíduo Ile13 assume posição

completamente contrária na presença do ligante (6), fazendo assim com que ocorra

choque estérico e a molécula de NAD+ ali presente seja expulsa. Além disso, a

cisteína Cys166 se mostrou oxidada (CSO166) e dessa forma três átomos de

oxigênio estão covalentemente ligados a esse resíduo que por sua vez encontra-se

em ligação de hidrogênio como resíduo His194.

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4.3.5 Análise da Relação entre a Estrutura e a Atividade dos Derivados de

Ácido Anacárdico

Para a análise das relações entre a estrutura dos análogos do ácido

anacárdico, foram conduzidos estudos de potência inibitória baseados na cavidade

alostérica recentemente caracterizada. As estruturas 3D dos análogos do ácido

anacárdico (Tabela 7) foram construídas utilizando os parâmetros geométricos

padrão do programa SYBYL 8.0 e minimizadas empregando o campo de forças

Tripos. As cargas foram calculadas segundo o método clássico de Gasteiger–

Huckel.

Para explorar as potenciais conformações e satisfazer os requerimentos 3D

de ligação para esse conjunto de análogos do ácido anacárdico no interior da

cavidade alostérica da GAPDH, os protocolos de docagem e pontuação foram

utilizados como implementados nos programas GOLD 3.1 e Surflex. A estrutura

cristalográfica da GAPDH ligada ao inibidor (6) foi utilizada. Para os cálculos, o

inibidor complexado foi removido e os átomos de hidrogênio na geometria padrão

foram adicionados utilizando o módulo Biopolymer (SYBYL 8.0). Três moléculas de

água, mostradas na Figura 42, foram consideradas nos procedimentos de

acoplamento. A cavidade de ligação foi centralizada de acordo com as coordenadas

do átomo C12 do ligante e um raio de esfera de 10 Å foi considerado para os

procedimentos de acoplamento, que foram repetidos 10 vezes para cada composto.

As conformações mais bem pontuadas para os análogos foram consideradas.

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Figura 42 - Estrutura cristalográfica da GAPDH mostrando o inibidor (6) e as moléculas de

água consideradas para os cálculos da relação estrutura-atividade.

Na Figura 43, estão mostrados os modelos de conformação bioativa para os

derivados 1 (A) (apresentando a maior potência) e 8e (B) (que não apresenta

atividade), assim como também o posicionamento multiestrutural do ligante (6) (do

complexo cristalográfico) é mostrado na figura 42 para comparação. Como se pode

observar, a interação eletrostática do grupo ácido carregado com o resíduo de

Lys101, assim também como a rede de ligações de hidrogênio com as moléculas de

água, são essenciais para as interações na cavidade e atividade dos compostos,

como pode ser observado para os compostos mais potentes 1 e 10e (Tabela 7).

Além disso, a cadeia alquílica substituinte do anel aromático deve ser longa,

permitindo máxima complementaridade com a cavidade de interação. Assim, pode-

se verificar uma redução considerável na potência inibitória para compostos que não

apresentam o grupo ácido carregado (composto 9e da Tabela 7) ou possuam

substituintes menores na cadeia alquílica (composto (6)). Compostos que não

possuam nenhum desses dois requerimentos não apresentam atividade (Tabela 7).

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Para o composto 8e, a introdução de grupos volumosos substituintes no anel

aromático resulta em sobreposição com as moléculas de água na cavidade, o que

sugeriria que elas devem ser expulsas da cavidade. Associada a isso, a perda da

interação eletrostática com o resíduo de Lys101 resulta na ausência de atividade

para esse composto. Em relação ao composto (6), o composto 1 da Tabela 7 ocupa

melhor a cavidade de interação, estabelecendo ligações de van der Waals de

maneira mais completa com a cavidade, resultando na maior potência dos

compostos com substituintes alquila com 15 ou 12 átomos de carbono do que o

ligante do complexo com 9 átomos de carbono substituintes.

Figura 43 - Estruturas resultantes dos cálculos de docking. Em (A) é mostrado o derivado 1 acomodado na cavidade alostérica, evidenciando a importância das interações eletrostáticas no grupo ácido, bem como do comprimento da cadeia alquílica para a otimização das interações observadas; (B) o ligante 8e é mostrado como destaque para o choque estérico que ocorre entre o substituinte mais volumoso do anel aromático e uma molécula de água.

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Capítulo 5

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

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5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

O presente trabalho teve como objetivo o estudo estrutural e a determinação

do mecanismo de ação, bem como a descrição detalhada das interações que fazem

o intermédio entre os inibidores identificados e a enzima GAPDH de T. cruzi,

Foram realizados ensaios de co-cristalização da enzima GAPDH na

presença de diversos inibidores identificados através de experimentos de cinética

enzimática. A partir dos ensaios de cristalização, foram obtidos quatro complexos

cristalográficos da GAPDH na presença de inibidores diferentes. Estudos estruturais

foram realizados fornecendo valiosas informações mecanísticas com evidente

importância para o planejamento de novos inibidores mais potentes para a GAPDH.

Dentre os complexos obtidos se encontram aqueles formados a partir da

GAPDH na presença dos inativadores iodoacetato e iodoacetamida. Durante os

estudos realizados com esses inativadores, foram determinados os tempos de

inativação de cada um desses compostos mostrando que os mesmos exerciam sua

função inativadora de forma diferente, apresentando tempos de inativação

diferenciados. Além disso, os estudos estruturais conduzidos com os complexos

referentes a esses inativadores foram suficientes para esclarecer e elaborar uma

nova sugestão para o mecanismo de ação desses compostos diferente daquele

previamente proposto na litaratura.68

Dessa forma, foi mostrado que para a acomodação do inativador

iodoacetamida é necessário que o sítio do cofator NAD+ esteja desocupado. Assim

foi proposto que o retardo observado nos ensaios cinéticos do inativador

iodoacetamida com relação ao iodoacetato pode se explicado em função da

expulsão do NAD+ por parte do iodoacetamida. Esses resultados contribuem para o

melhor entendimento do comportamento da GAPDH enquanto alvo molecular

empregado no planejamento de moléculas com atividade anti chagásica.

Um outro estudo realizado nessa tese, compreende os complexos metálicos

de rutênio liberadores de grupos nitrosil, onde a partir dos resultados de inibição

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enzimática, ensaios de co-cristalização foram conduzidos com os compostos (3), (4)

e (5) dessa tese. Apenas um dos conjuntos de dados obtidos revelou a presença de

ligante em interação com o resíduo catalítico Cys166 causando inativação

enzimática. Experimentos de espectrofotometria foram realizados com o objetivo de

melhor compreender o mecanismo de inativação e os parâmetros relacionados à

liberação do grupo nitrosil no sistema em estudo.

Dessa forma, a análise integrada dos resultados obtidos forneceu

informações que indicam que a liberação do grupo nitrosil acontece pela redução do

complexo de rutênio na presença do tampão de ensaio cinético e que somente a

proteína (livre de tampão) não possui capacidade de exercer essa função. Além

disso, com base em resultados encontrados na literatura, esses compostos

apresentando configuração trans não apresentam atividade biológica84. Assim, foi

possível sugerir que além da importância do potencial redox, requerimentos

estéricos sejam necessários para que tais compostos possam atuar na enzima

GAPDH. Contudo, embora esse composto não tenha se apresentado como bom

inibidor dessa enzima, ele apresenta boa atividade frente a testes realizados in vitro

com parasito na forma tripomastigota, sendo mais eficaz e menos tóxico que o

beznidazol e além disso, se mostra ativo in vivo quando reduz a quantidade de

parasitas na forma amastigota presente no tecido cardíaco de camundongos74.

Portanto, é muito importante que outros mecanismos de ação sejam investigados,

pois essa informação é fundamental para que se possa tentar otimizar as

propriedades responsáveis pela atividade terapêutica associada ao composto

durante o processo de planejamento.

Por último, estudos cristalográficos com compostos derivados de produtos

naturais foram realizados baseados em resultados de cinética enzimática

previamente obtidos.41 A partir dos resultados de cinética, além da potência inibitória

dos compostos, o mecanismo de ação dos mesmos foi revelado como sendo não-

competitivo. Tal informação implica dizer que os compostos derivados de ácido

anacárdico não se ligam no sítio ativo da proteína, exercendo sua função inibitória a

partir da interação em outra região da proteína.

Dessa forma, para identificar a localização desse novo sítio, foram

realizados experimentos de co-cristalização com a GAPDH na presença do

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97 | C O N C L U S Õ E S E P E R S P E C T I V A S

composto (6) apresentado na Tabela 7 dessa tese. Um conjunto de dados foi obtido

permitindo a elucidação estrutural do complexo formado pela proteína e o inibidor

(6). O sítio foi identificado na superfície da proteína apresentando caráter bastante

hidrofóbico o que justifica a presença de ligante com características apolares. Além

disso, foi possível examinar as interações que contribuem para a estabilização do

inibidor em sua cavidade.

A interação desse inibidor com a proteína provocou alterações

conformacionais suficientes para causar mudanças consideráveis no sítio ativo,

como a expulsão do cofator NAD+ de seu sítio a partir do choque estérico com o

resíduo Ile13. A análise da relação estrutura atividade também colaborou para o

entendimento dos requisitos necessários para que o inibidor exerça seu papel. Foi

visto que a potência é diminuída quando os derivados de ácido anacárdico

apresentam cadeia alquílica com menores números de átomos de carbono, pois

esse encurtamento do grupo apolar do inibidor estaria diminuindo o número de

possíveis contatos de van der Waals existentes em cadeias alquílicas maiores. Os

ligantes que não possuem o grupo ácido carregado também apresentam menor

potência que pode ser explicada pela extinção da ligação de hidrogênio que se

formaria entre a Lys101 e o grupo ácido carregado. Além disso, ocorre choque

estérico com moléculas de água que fazem parte de uma rede de ligações de

hidrogênio e que contribuem para a estabilização do ligante nessa posição.

A obtenção da estrutura da GAPDH na presença do derivado de ácido

anacárdico, bem como a descoberta de um novo sítio alostérico abriu novas

perspectivas de estudo que podem ajudar bastante no planejamento de novos

inibidores para essa enzima. Com base nessas considerações, serão conduzidos

pelo aluno de doutorado Fernando Maluf, estudos de mutações sítio dirigida com

foco no resíduo Lys101 que se mostra chave para estabilização do ligante no sítio.

Esses estudos serão realizados juntamente com ensaios cinéticos visando monitorar

a contribuição desse resíduo para a acomodação do inibidor na cavidade e sua

conseqüente atividade inibitória. Essas investigações além de esclarecer melhor o

mecanismo de inibição, fornecerá informações valiosas para que se possa iniciar um

novo processo de planejamento baseado no novo sítio descoberto.

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C O N C L U S Õ E S E P E R S P E C T I V A S | 98

Dessa forma, a integração de diferentes abordagens tais como cinética

enzimática, cristalografia e docking, forneceram informações muito relevantes que

contribuíram para o entendimento do mecanismo de ação dos diferentes inibidores

apresentados nessa tese.

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http://www.nature.com/nature/journal/v449/n7159/pdf/449157a.pdf>. Acesso em: 05 de mar. de 2010. 3 CAMARGO, E. P. Doenças tropicais. Estudos Avançados, v. 22, n. 64 , p. 95-110, 2008. 4 MORAN, M. et al. Neglected disease research and development: how much are we really spending? Plos Medicinal, v. 6, n. 2, p. 137-146, 2009. 5 GUIDO, R. V. C. and OLIVA, G. Structure - based drug discovery for tropical diseases. Current Topics in Medicinal Chemistry, v. 9, n. 9, p. 824-843, 2009. 6 NWAKA, S.; RIDLEY, R. G.; Virtual drug discovery and development for neglected diseases through public–private partnerships. Nature Review Drug Discovery, v.2, n. 11, p. 919, 2003. 7 WHO - World Health Organization, Technical Report Series, 2002. Disponível em: <http://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_TRS_905.pdf>. Acesso em: 14 de mar. de 2010. 8 SILVA, J. J. N. et al. Quimioterapia da doença de Chagas: estado da arte e perspectivas no desenvolvimento de novos fármacos. Quimica Nova, v. 32, p. 2444-2457, 2009. 9 CAVALLI, A.; BOLOGNESI, M. L. Neglected tropical diseases: multi-target-directed ligands in the search for novel lead candidates against Trypanosoma and Leishmania. Journal of Medicinal Chemistry, v. 52, p. 7339 - 7359, 2009. 10 HOARE, C. A. The Trypanosomes of mammals. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1972. p. 60-80.

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11 HOARE, C. A.; WALLACE, F. G. Developmental stages of Trypanosomatid flagellates: a new terminology. Nature, v. 212, n. 5068, p. 1385-1386, 1966. 12 TEIXEIRA, A. Doença de Chagas e evolução. Brasília: Finatec, 2007. 13 ARTHROPODA: Rhodnius prolixus. Disponível em: <http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Default.htm>. Acesso em: 14 dez. 2009. 14 LENGAUER, T. Bioinformatics: from genomes to drugs. In: MANNHOLD, R.; KUBINYi, H.; FOLKERS, G.(Ed.). Methods and principles in medicinal chemistry. Weinheim: Wiley-VHC Verlag , 2002. v. 1. 15 NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: principles of biochemistry. 3 ed. New York: Worth Publishers, 2000. 16 COPELAND, R. A. Enzymes: practical introduction to structure, mechanism and data analysis. New York: Wiley VHC, 2000. 17 COPELAND, R. A. Evaluation of enzyme inhibitors in drug discovery: a guide for medicinal chemists and pharmacologists. New Jersey: John Wiley & Sons Inc., 2005. 18 STRYER, L. Biochemistry. New York: W. H. Freeman Co, 1995. 19 MICHELS, P. A. M. Compartmentation of glycolysis in Trypanosomes: a potential target for new trypanocidal drugs. The Journal of Cell Biology, v. 64, p. 157-164, 1988. 20 VERLINDE, C. L. M. et al. Glycolysis as a target for the design of new anti Trypanosome drugs. Drug Resistance Updates, v. 4, p. 50-65, 2001. 21 BAKKER, B. M. et al. What controls glycolysis in Bbloodstream form Trypanosoma brucei. The Journal of Biological Chemistry, v. 274, n. 21, p. 14551-14559, 1999. 22 BAKKER, B. M. et al. Metabolic control analysis of glycolysis in Trypanosomes as an approach to improve selectivity and effectiveness of drugs. Molecular and

Biochemical Parasitology, v. 106, p. 1-10, 2000.

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23 CÁCERES, A. J. et al. Genetic validation of aldolase and glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase as drug targets in Trypanosoma brucei. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 169, p. 50-54, 2010. 24 OPPERDOES, F. R.; MICHELS, P. A. M. Enzymes of carbohydrate metabolism as potential drug targets. International Journal for Parasitology, v. 31, p. 482-490, 2001. 25 ARONOV, A. M. et al. Structure-based design of submicromolar, biologically active inhibitors of trypanosomatid glyceraldehydes-3-phosphate dehydrogenase. Proceedings of the National Academy of Sciences USA, v. 96, n. 8, p. 4273-4278, 1999. 26 ARONOV, A. M. et al. Selective tight binding inhibitors of trypanosomatid glyceraldehydes-3-phosphate dehydrogenase via structure-based drug design. Journal of Medicinal Chemistry, v. 41, p. 4790-4799, 1998. 27 VERLINDE, C. L. M. J. et al. Selective inhibition of trypanosomal glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase by protein structure-based design: toward new drugs for the treatment of sleeping sickness. Journal of Medicinal Chemistry, v.37, p. 3605-3613, 1994. 28 FERSHT, A. Structure and mechanism in protein science: a guide to enzyme catalysis and protein folding. New York: W. H. Freeman and Company, 2002. 29 LESKOVAC, V. Comprehensive enzyme kinetics. New York: Kluwer. 2004. 30 MUNOS, B. Lessons from 60 years of pharmaceutical innovation. Nature Review Drug Discovery, v. 8, p. 959-968, 2009. Disponível em: <http://www.nature.com/nrd/journal/v8/n12/pdf/nrd2961.pdf>. Acesso em: 05 de mar. de 2010. 31 ORLOFF, J. et al. The future of drug development: advance clinical trial design. Nature Review Drug Discovery, v. 8. p. 949-957, 2009. Disponível em: <http://www.nature.com/nrd/journal/v8/n12/pdf/nrd3025.pdf>. Acesso em: 05 de mar. de 2010. 32 BABINE, R. E.; ABDEL-MEGUID, S. S. Protein crystallography in drug discovery. Weinheim: Wiley-VHC Verlag, 2004. (Methods and principles in medicinal chemistry, v. 20).

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33 BÖHM, H. J.; SCHNEIDER, G. Protein-ligand interactions. Weinheim: Wiley-VHC Verlag, 2003. (Methods and principles in medicinal chemistry, v. 19). 34 ANDRICOPULO, A. D.; SALUM, L. B.; ABRAHAN, D. J. Structure-based drug design strategies in medicinal chemistry. Current Topics in Medicinal Chemistry, v. 9, n. 9, p. 771-790, 2009. 35 NATESH, R. et al. Structural details on the binding of antihypertensive drugs captopril and enalaprilat to human testicular angiotensin I converting enzyme. Biochemistry, v. 43, p. 8718-8724, 2004. 36 PROTEIN data bank. Disponível em: <http://www.pdb.org/pdb/explore/explore.do?structureId=3FW3>. Acesso em: 09 jan. 2010. 37 LINDSKOG, S. Structure and mechanism of carbonic anhydrase. Pharmacology &

Therapeutics, v. 74, p. 1-20, 1997. 38 PROTEIN data bank. Disponível em: <http://www.pdb.org/pdb/explore/explore.do?structureId=1UZF>. Acesso em: 09 jan, 2010. 39 SOUZA, D. H. F. et al. Trypanosoma cruzi glycosomal glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase: structure, catalytic mechanism and targeted inhibitor design. FEBS Letters, v. 424, p. 131-135, 1998. 40 BRADFORD, M. M. A Rapid and sensitive method for quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye-binding. Analytical Biochemistry, v. 72, p. 248-254, 1976. 41 ZOTTIS, A. Planejamento racional de novos agentes quimioterápicos: identificação e estudos cinéticos de novos inibidores da enzima gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase glicossomal de Trypanosoma. cruzi. 2009. 141 f. Tese (Doutorado em Física Aplicada) – Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009. 42 NG, J. D. et al. The crystallization of biological macromolecules from precipitates: evidence for Ostwald Ripening. Journal Crystal Growth, v. 168, p. 50-62, 1996.

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43 BOISTELLE, R.; ASTIER, J. P. Crystallization mechanisms in solution. Journal Crystal Growth, v. 90, p. 14-30, 1988. 44 BERGFORD, T. M. Protein crystallization : techniques, strategies, and tips - a laboratory manual. La Jolla: IUL Biotechnology Series, 1999. 45 DRENTH, J. Principles of X ray crystallography. Heidelberg: Springer, 1999. 46 STOUT, G.H.; JENSEN, L.H. X-ray structure determination: a pratical guide. London: The MacMillan Company,1989. 47 POLIKARPOV, I. et al. Set-up and experimental parameters of protein crystallography beamline at the brazilian national synchrotron radiation laboratory. Journal of Synchrotron Radiation, v. 5, p. 72-76, 1998. 48 GUIMARÃES, B. G. et al. The macromolecular crystallography beamline: a wiggler X-ray source at the LNLS. Journal of Synchrotron Radiation, v. 16, p. 69-75, 2009 49 ARDT, U. W. Design and use of a camera for low-angle X-ray diffraction experiments with synchrotron radiation. Journal of Physics E: Scientific Instruments, v. 10, n. 10, p. 1035-1044, 1977. 50 LESLIE, A. G. The integration of macromolecular diffraction data. Acta Crystallographica Section D, v. 62, p. 48-57, 2006. 51 EVANS, P. R., Recent advances. In phasing. In: PROCEEDINGS OF THE CCP4 STUDY. Warrington: Daresbury Laboratory, 1997. p. 97-102. 52 FRENCH, G. S.; WILSON, K. S. On the treatment of negative intensity observations. Acta Crystallographica Section A, v. 34, p. 517-525, 1978. 53 COLLABORATIVE COMPUTATIONAL PROJECT NUMBER 4. The CCP4 suite: programs for protein crystallography. Acta Crystallographica Section D, v. 50, p. 760-763, 1994. 54 VAGIN, A.; TEPLYCOV, A. MOLREP: an automated program for molecular replacement. Journal of Applied Crystallography, v. 30, p. 1002-1025, 1997.

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55 PAVÃO, F. et al. Structure of Trypanosoma cruzi glycosomal glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase complexed with chalepin, a natural product inhibitor, at 1,95 Å resolution. FEBS Letter, v. 520, p. 13-17, 2002. 56 ADAMS, P. D. et al. PHENIX: building new software for automated crystallographic structure determination. Acta Crystallographica Section D, v. 58, p. 1948-1954, 2002. 57 EMSLEY, P.; COWTAN, K. COOT: model-building tools for molecular graphics. Acta Crystallographica Section D, v. 60, p. 2126-2132, 2004. 58 ENRAF NONIUS. Kappa CCD operation manual. Netherlands: 2001. p.3. 59 OTWINOWSKI, Z.; MINOR, W. Macromolecular crystallography. In: CARTER JUNIOR., C. W.; SWEET, R. M., (Ed.). Methods in enzymology. New York: Academic Press, 1997. v. 276, p. 307-326. 60 FARRUGIA, L. J. WingGX suite for small - molecule single - crystal crystallography. Journal of Applied Crystallography, v. 32, p. 837-838, 1999. 61 SHELDRICK, G. M. SHELXS 97: program for crystal structure resolution. Germany: University of Gottingen,1998. 62 SHELDRICK, G. M. SHELXS-97: program for the solution of crystal structures. Acta Crystallographica Section A, v. 46, p. 467-473, 1997. 63 SPEK, A. L. Single-crystal structure validation with the program PLATON. Journal of Applied Crystallography, v. 36, n. 1, p. 7-13, 2003. 64 FARRUGIA, L. J. ORTEP for windows :a version of ORTEPIII with a graphical user Interface (GUI). Journal of Applied Crystallography, v. 30, n. 5-1, p. 565, 1997. 65 MACRAE, C. F. et al. Mercury: visualization and analysis of crystal structures. Journal of Applied Crystallography, v. 39, n. 3, p. 453-457, 2006. 66 THOMPSON, J. Lactose metabolism in Streptococcus lactis: phosphorylation of galactose and glucose moieties in vivo. The Journal of Bacteriology, v. 140, p. 774-785, 1979.

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74 SILVA, J. J. et al. Novel ruthenium complexes as potential drugs for Chagas's disease: enzyme inhibition and in vitro/in vivo trypanocidal activity. British Journal of Pharmacology, v. 156, 2010. In press. 75 CASTILLA, J. J. et al. In vitro activity and biochemical effectiveness of new organometallic complexes of osmium(III) against Leishmania donovani and

Trypanosoma cruzi. Arzneimittelforschung, v. 46, p. 990-996, 1996. 76 HESS, D. T. et al. Protein S-nitrosylation: purview and parameters. Nature Review Molecular Cell Biology, v. 6, n. 2, p. 150-158, 2005.

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77 ASCENZI, P. et al. Inactivation of parasite cysteine proteinase by the NO-donor 4-(phenylsulfonyl)-3-((2-(dimethylamino)ethyl)thio)-furoxan oxalate. Biochimica et Biophysica Acta. v. 1703, p. 69-77, 2004. 78 BOCEDI, A. et al. Kinetics of parasite cysteine inactivation by NO-donors. Biochemical Biophysical Research Communications, v. 315, p. 710-718, 2004. 79 SALVATI, L. et al. NO Donors Inhibit Leishmania infantum cysteine proteinase activity. Biochimica et Biophysica Acta, v. 1545, n. 9, p. 357-366, 2001. 80 STAMLER, J. S. et al. S-Nitrosylation of proteins with nitric oxide: synthesis and characterization of biologically active compounds. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 89, p. 444-448, 1992. 81 BENHAR, M.; FORRESTER, M. T.; STAMLER, J. S. Protein denitrosylation: enzimatic mechanisms and cell function. Nature Review Molecular Cell Biology, v. 10, p. 721-732, 2009. 82 SCHREITER, E. R. et al. S-Nitrosylation-induced conformational change in blackfin tuna myoglobin. Journal Biological Chemistry, v. 282, p. 19773-19780, 2007. 83 RONCAROLI, F.; OLABE, J. A. The reactions of nitrosyl complexes with cysteine. Inorganic Chemistry, v. 44, p. 4719-4727, 2005. 84 SILVA, J. J. N. Tetraaminas de rutênio (II) como transportadora de óxido nítrico e benznidazol e sua ação sobre o Trypanosoma cruzi. 2008. 185 f. Tese (Doutorado em Química Inorgânica) – Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2008. 85 RATES, S. M. K. Plants as source of drugs. Toxicon, v. 39, p. 609-613, 2000. 86 MONTANARI, C. A. ; BOLZANI, V. S. Planejamento racional de fármacos baseado em produtos naturais. Química Nova, v. 24, p. 105-111, 2001. 87 CORREIA, S. J.; DAVID, J. P.; DAVID, J. M. Metabólitos secundários de espécies de Anacardiaceae. Química. Nova, v. 29, p. 1287-1300, 2006.

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88 PEREIRA, J. M. et al. Anacardic acid derivatives as inhibitors of glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase from Trypanosoma cruzi. Bioorganic Medicinal Chemistry, v. 16, p. 8889-8895, 2008. 89 POPOVYCH, N. et al. Dynamically driven protein allostery. Nature Structural Molecular Biology, v. 13, p. 831-838, 2006. 90 GOODEY, N. M.; BENJOVIC, S. J. Allosteric regulation and catalysis emerge via a commom route. Nature Chemical Biology, v. 4, p. 474-481, 2008.

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APÊNDICE

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Tabela 1 - Distâncias interatômicas (Ǻ) para o cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6 com os respectivos desvios padrão entre parênteses.

Átomo 1 Átomo 2 Distância

Ru S 2,3766(7)

N4 C15 1,349(4)

Ru N1 2,092(2)

N4 C11 1,345(4)

Ru N2 2,141(3)

C1 C2 1,374(4)

Ru N3 2,091(2)

C2 C3 1,374(5)

Ru N4 2,070(2)

C3 C4 1,369(6)

Ru N5 1,748(2)

C4 C5 1,391(4)

S O1S 1,472(2)

C5 C6 1,471(4)

S O2S 1,454(2)

C6 C7 1,379(5)

S O3S 1,468(2)

C7 C8 1,367(6)

P F4 1,580(4)

C8 C9 1,357(6)

P F5 1,564(4)

C9 C10 1,377(5)

P F6 1,518(6)

C11 C12 1,376(4)

P F2 1,534(5)

C12 C13 1,369(5)

P F3 1,581(4)

C13 C14 1,371(4)

P F1 1,530(5)

C14 C15 1,386(4)

Continua

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110 | A P Ê N D I C E

Continuação

O1N N5 1,137(3)

C15 C16 1,468(4)

O1W H11W 0,6600

C16 C17 1,380(4)

O1W H12W 0,9400

C17 C18 1,376(5)

O2W H21W 0,8600

C18 C19 1,366(5)

O2W H22W 0,9200

C19 C20 1,368(5)

O3W H31W 0,6700

O3W H32W 0,8700

N1 C5 1,365(4)

N1 C1 1,334(4)

N2 C6 1,347(4)

N2 C10 1,336(4)

N3 C16 1,349(4)

N3 C20 1,340(4)

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Tabela 2 - Ângulos de ligação (o) para cis-[Ru(NO)(bpy)2SO3]PF6com os respectivos desvios padrão entre parênteses

Átomo 1 Átomo 2 Átomo 3 Ângulo

S Ru N1 97,20(7)

S Ru N2 170,06(7)

S Ru N3 86,30(7)

S Ru N4 89,37(7)

S Ru N5 86,30(8)

F1 P F3 90,0(3)

F1 P F2 179,3(3)

F5 P F6 90,1(3)

F4 P F6 177,7(3)

F4 P F5 88,5(2)

F1 P F4 87,6(2)

F1 P F5 92,7(3)

F1 P F6 90,6(3)

N1 Ru N2 77,87(10)

N1 Ru N3 91,69(9)

N1 Ru N4 167,49(9)

N1 Ru N5 94,15(10)

N2 Ru N3 85,23(9)

N2 Ru N4 93,96(9)

N2 Ru N5 102,57(11)

N3 Ru N4 78,07(9)

N3 Ru N5 171,09(10)

C1 N1 C5 119,6(2)

N4 Ru N5 96,90(10)

C6 N2 C10 119,9(3)

Ru S O1S 106,67(10)

Ru N1 C1 125,4(2)

Ru N1 C5 114,96(19)

Ru N2 C6 114,6(2)

Ru S O2S 108,32(10)

Continua

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112 | A P Ê N D I C E

Continuação

Ru N2 C10 125,4(2)

Ru S O3S 107,31(11)

Ru N3 C16 115,25(18)

Ru N3 C20 125,75(19)

Ru N4 C11 124,91(19)

Ru N4 C15 115,92(18)

Ru N5 O1N 173,6(2)

O1S S O2S 111,97(14)

O1S S O3S 110,40(14)

C16 N3 C20 118,8(2)

O2S S O3S 111,90(14)

F2 P F3 89,6(3)

C11 N4 C15 119,2(2)

F2 P F4 91,9(2)

F2 P F5 87,7(3)

F2 P F6 89,9(3)

N1 C1 C2 122,4(3)

F3 P F4 89,17(19)

C1 C2 C3 118,9(3)

F3 P F5 176,4(3)

C2 C3 C4 119,3(4)

F3 P F6 92,4(3)

C3 C4 C5 120,4(3)

N1 C5 C4 119,5(3)

C4 C5 C6 124,0(3)

N1 C5 C6 116,5(3)

N2 C6 C5 115,5(3)

N2 C6 C7 120,6(3)

C5 C6 C7 123,9(3)

C6 C7 C8 119,1(3)

C7 C8 C9 120,0(4)

C8 C9 C10 119,3(3)

Continua

Page 112: TATIANE LUCIANO BALLIANO - teses.usp.br · PDF filee mecanísticos de quatro complexos cristalográficos da GAPDH na presença de ligantes ... Figura 24 Diagrama de Ramachandran dos

A P Ê N D I C E | 113

Continuação

N2 C10 C9 121,0(3)

N4 C11 C12 121,5(3)

C11 C12 C13 119,5(3)

C12 C13 C14 119,5(3)

C13 C14 C15 119,2(3)

N4 C15 C14 121,1(3)

N4 C15 C16 115,4(2)

C14 C15 C16 123,6(3)

N3 C16 C15 115,2(2)

N3 C16 C17 120,9(3)

C15 C16 C17 123,9(3)

C16 C17 C18 119,8(3)

C17 C18 C19 118,7(3)

C18 C19 C20 119,5(3)

N3 C20 C19 122,2(3)

H11W O1W H12W 99,00

H31W O3W H32W 95.00

H21W O2W H22W 104,00