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Saúde mental nos discursos dos usuários dos Caps Centro de Atençao Psicossocial em Natal RN Brasil Bertulino José de SOUZA Mestre em Educação Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Doutoramento em Antropologia Social e Cultural Universidade de Coimbra Portugal [email protected] Resumo Como fragmento da tese de doutoramento em Antropologia Social e Cultural da Universidade de Coimbra/Portugal, a presente comunicação tem por objetivo analisar e discutir o teor dos discursos emitidos por ocasião da recolha de dados com os usuários do Centro de Atenção Psicossocial em Natal, Rio Grande do Norte. A metodología consistiu em gravar e transcrever as entrevistas para compor um quadro de referência que permitisse conhecer quem são, como são, o que pensam, o que fazem e quais as principais expectativas e crenças do usuário com transtorno mental. Tal direcionamento procurou alimentar dados que permitissem compreender no conjunto da Saúde Mental, como ocorre a atenção ao transtorno, particularmente da esquizofrenia, psicose e depressão. Como estudo antropológico focado na observação participante, investiga do ponto de vista institucional, o acesso, permanência e encaminhamentos concedidos a estes usuários. Também, investe na compreensão do funcionamento, dos meios e métodos de atuação da instituição Caps. Palavras-chave: transtorno mental, história oral de vida, centro de atenção psicosocial. Abstract As a fragment of the doctoral thesis in Social and Cultural Anthropology, University of Coimbra, Portugal, this Communication aims to analyze and discurs the content of speeches delivered during the data collection, with the users of the Center for Psychosocial Care in Natal, River Grand the of North. The methodology was to record and transcribe the interviews to form a framework that allows to know who they are, as they are, what they think, what they do and what are the main beliefs and expectations of the user with a mental disorder. This guidance sought data that would allow food to understand the whole of Mental Health, as is attention to the disorder, particularly schizophrenia, psychosis and depression. As anthropological study focused on participant observation, investigates the institutional point of view, access, retention and referrals granted to these users. Also, invest in understanding the operation of the means and methods of operation of the institution Caps. Keywords: mental disorder, Oral History, psychosocial care center.

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Resumo Keywords: mental disorder, Oral History, psychosocial care center. Abstract Palavras-chave: transtorno mental, história oral de vida, centro de atenção psicosocial.

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Saúde mental nos discursos dos usuários dos Caps – Centro de Atençao Psicossocial em Natal – RN – Brasil

Bertulino José de SOUZA Mestre em Educação

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Doutoramento em Antropologia Social e Cultural –

Universidade de Coimbra Portugal

[email protected] Resumo Como fragmento da tese de doutoramento em Antropologia Social e Cultural da Universidade de Coimbra/Portugal, a presente comunicação tem por objetivo analisar e discutir o teor dos discursos emitidos por ocasião da recolha de dados com os usuários do Centro de Atenção Psicossocial em Natal, Rio Grande do Norte. A metodología consistiu em gravar e transcrever as entrevistas para compor um quadro de referência que permitisse conhecer quem são, como são, o que pensam, o que fazem e quais as principais expectativas e crenças do usuário com transtorno mental. Tal direcionamento procurou alimentar dados que permitissem compreender no conjunto da Saúde Mental, como ocorre a atenção ao transtorno, particularmente da esquizofrenia, psicose e depressão. Como estudo antropológico focado na observação participante, investiga do ponto de vista institucional, o acesso, permanência e encaminhamentos concedidos a estes usuários. Também, investe na compreensão do funcionamento, dos meios e métodos de atuação da instituição Caps. Palavras-chave: transtorno mental, história oral de vida, centro de atenção psicosocial. Abstract As a fragment of the doctoral thesis in Social and Cultural Anthropology, University of Coimbra, Portugal, this Communication aims to analyze and discurs the content of speeches delivered during the data collection, with the users of the Center for Psychosocial Care in Natal, River Grand the of North. The methodology was to record and transcribe the interviews to form a framework that allows to know who they are, as they are, what they think, what they do and what are the main beliefs and expectations of the user with a mental disorder. This guidance sought data that would allow food to understand the whole of Mental Health, as is attention to the disorder, particularly schizophrenia, psychosis and depression. As anthropological study focused on participant observation, investigates the institutional point of view, access, retention and referrals granted to these users. Also, invest in understanding the operation of the means and methods of operation of the institution Caps. Keywords: mental disorder, Oral History, psychosocial care center.

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Introdução

processo de investigação nos Centros de Atenção Psicossocial, os Caps1 de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, foi um namoro que já havia sido anunciado desde o término do mestrado em 2002. Durante um tempo considerável, questões relacionadas à

depressão e stresse moveram meus interesses e estudos mas somente em 2009 com a entrada no Doutoramento em Antropologia Social e Cultural da Universidade de Coimbra é que as imagens dispersas foram sendo elaboradas, agrupadas e começaram a fazer um certo sentido. No presente contexto, assumo os personagens de Daniel, Mario, Frederico, Suzana e Paula, usuários do sistema Caps – transtorno mental nas regiões Leste e Oeste de Natal e que foram aqui selecionados pela diversidade de seus relatos, mas também, pela riqueza e provocação antropológica que representam. Como em um desenho, os relatos são riscos, as vezes retas ou círculos que se entrecruzam, num interessante bailado e que formam uma pintura mais ou menos compreensível. Vejamos seus contornos. Em busca de um contorno. O diálogo que busco estabelecer aqui, representado pelas falas dos sujeitos entrevistados por ocasião da recolha de dados da tese de doutoramento, ocorreram dentro do espaço dos Caps e tratavam àquela altura de: questões pessoais como identificação, história de vida, história e a relações familiares; aspectos ligados à educação tais como formação, acesso ao conhecimento e narrativas do período escolar; necessidade dos serviços do Caps e fatores que podem ter gerado a demanda em saúde mental, assim como a permanência nestes servicos Caps e o convívio com outros usuários; crenças e religiosidade e, por fim, os projetos futuros do usuário. No que se refere às questões pessoais e identificação, optei pela adoção de pseudônimos por duas razões: foi um compromisso assumido com o pesquisado no processo de recolha de dados de que este não seria identificado e também por questões teóricas, uma vez que partilho da posição de Gerald Berreman em Behind many masks: ethnography and impression management de que para a relação pesquisados – pesquisado, as descobertas são feitas com base na gestão das impressões que um tem sobre o outro. Berreman (2010) vai afirmar que o trabalho de terreno é uma constante troca de impressões, o pesquisador querendo passar uma dada imagem e o pesquisado tentando fazer o mesmo. Nas suas pesquisas com habitantes de um povoado aos pés do Himalaia, era exatamente este comportamento que os movia. Os primeiros contatos, as desconfianças, as conquistas, as descobertas e principalmente o ocultamento daquilo que ele não deveria saber sobre situações pouco confortáveis para que ele como pesquisador e estrangeiro soubesse daquelas pessoas pesquisadas. Era este o cotidiano da pesquisa, a conquista da confiança e

1 O primeiro CAPS do Brasil surgiu em março de 1987, com a inauguração do Caps Luís da Rocha Cerqueira, na

Cidade de São Paulo e ele representou a efetiva implementação de um novo modelo de atenção em saúde mental para expressiva fração dos doentes mentais (psicóticos e neuróticos graves) atendidos na rede pública.

O

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com ela, a possibilidade de conhecer e descrever analiticamente uma realidade. O fascínio da observação participante como percebo é exatamente este, o estabelecimento de limites, de regras, mas passo a passo, um conhecendo o outro. Com esta forma de pensar investi em várias questões. Sobre o acesso ao saber, procurei conhecer as oportunidades educacionais dos sujeitos e elementos que permitissem compreender sua permanência ou afastamento do espaço escolar formal e também, como seus pais e demais familiares reagiam a esta questão. Especialmente sobre a valorização da educação. Em outro aspecto, procurei compreender os fatores motivadores do acesso ao Caps e como isto se deu. Da mesma forma, conhecer se existiu intervenção familiar neste acesso, assim como a permanência do usuário nos serviços Caps ou eventualmente sua saída, mas também o convívio com outros usuários na mesma condição. Investi na interrogação da religiosidade e da crença, tentando compreender se e como ela influencia ou poderia influenciar a concepção de mundo do usuário. Insisto no processo saúde doença, problematizando ainda, se e em que medida a crença ou religião podem ou poderiam auxiliar em situações de doença, na descoberta, no tratamento ou cura. Por fim, investigo a existência e estimulo os projetos futuros destes usuários. Opero com a crença de que, como pesquisador, não apenas recolho experiências de vida, mas também represento uma partilha de informações para que talvez, novas oportunidades de conhecimento surjam aos seus olhos. Com esta forma de condução da investigação, realizo a primeira das entrevistas. Ela aconteceu aproximadamente, após dois meses de participação efetiva e de frequência na estrutura Caps, foram muitas e muitas reuniões conhecendo as pessoas, os problemas e apresentando a proposta da tese. Destaco que a equipe técnica e parte das famílias se mostraram bastante receptivas desde o início (trato aqui apenas do Caps Oeste, uma vez que aguardava a autorização da coordenação do Caps Leste para iniciar as atividades, da mesma forma como ocorria no Caps Oeste). Somente a título de esclarecimento, em nenhum momento, pensei em fazer comparações entre uma unidade e outra, somente imaginei acompanhar a sistemática dos trabalhos e com ela ter a possibilidade analítica de um quadro de referência, mesmo assim, inevitavelmente, comparações ocorreram. Quanto à questão dos espaços, Lancetti (2007a, 2007b) relata um cenário em que este ambiente das instituições se situa e desenvolve uma outra proposta em que o espaço é pouco importante se considerada a estratégia de abordagem, atenção e encaminhamentos. Na escrita de Lancetti, há experiências curiosas e de profundo envolvimento como a que ocorreu com uma psicóloga que se disponibilizou para atuar nos serviços de saúde mental e queria saber onde era sua sala, em seguida foi informada que não teria e que deveria ir ao pátio, inventar algo. A narrativa diz que, meia hora depois a psicóloga volta chorando e dizendo” não consegui inventar nada, a não ser enfiar-me embaixo de uma mesa, pois uma louca “encasquetou” comigo”. Um tanto poética um tanto revolucionária, a atitude do diretor dos serviços foi levar a psicóloga ao pátio com uma tesoura e cortar as unhas das usuárias. Em outra situação da mesma unidade e cortando unhas, uma usuária questiona à

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uma jovem psiquiatra qual era sua função e após saber, afirma: “não é possível, você me escuta”. (2007a, p.43). São estes dispositivos de escuta que pretendo compreender. São eles que poderão me dizer qual a atual dimensão do transtorno mental para a estrutura Caps Natal. Contornos da experiência de terreno e a busca de significados Primeiros desenhos Daniel, 35 anos, me encontrou no corredor. Carregava uma enorme tela por ele pintada, como parte da promessa que me fez de apresentar suas obras. Perguntou se teríamos mesmo a conversa e onde seria. Imediatamente nos dirigimos para uma sala contígua à de reuniões e começamos a entrevista. Expliquei antes os procedimentos, falei do termo de consentimento livre e esclarecido que deveria assinar para sua segurança e a minha como pesquisador e assim iniciamos. A sala era um ambiente que se confunde com um escritório tradicional mas que tem múltipla função no Caps. Composta por poucos móveis, duas cadeiras confortáveis e uma janela ampla emolduraram a conversa que durou cerca de uma hora. Convidei Daniel para que sentasse do lado contrário da mesa (presumivelmente onde sentaria o “chefe”) e começamos a conversar. Ele considerou este início diferente e o fiz propositadamente. Minha intenção era apresentar uma conversa em que ele fosse, a todo tempo, o centro das atenções e a simples mudança de posição poderia representar uma quebra de protocolo e também de suposta hierarquia. Isto foi repetido em todas as oportunidades onde o espaço permitia. Daniel começa falando sobre sua família e avança, insistindo a todo tempo em questões de limpeza, afirmando categoricamente que é limpo e que cuida disto com obsessão. Douglas (1976) já anunciava em Pureza e perigo as simbologias que envolvem a ideia de purificação e contaminação, muito presentes no discurso de Daniel. No relato, o conteúdo familiar se cruza com questões de limpeza como se fossem uma única coisa. O discurso marcado por inúmeras repetições, o depoente revela também a dificuldade com os estudos, o que o levou a ter aulas particulares, dizendo que mesmo com a ajuda que teve, lê mas não consegue escrever. Quando fala sobre as relações com a família um discurso aparentemente organizado tenta dar conta da realidade. Mais tarde e com a proximidade com ele e sua família comecei a compreender a intrincada teia que os envolviam, com muitas e muitas dificuldades no cotidiano, parte delas superada com a proximidade com a arte, infelizmente não aceita pelos familiares, especialmente seu pai. Esta produção artística caracterizada a partir de um conhecimento de arte que se confunde com conhecimento popular, faz com que Daniel nem sempre consiga nominar aquilo que produz como arte, afirmando “é imaginação como as pessoas pensam, é só você olhar, isto aqui é um peixe” mostrando uma tela pintada com materiais que sugerem nanquim. Daniel faz questão de dizer a todo o tempo que o rico diz, referindo-se a uma forma de conceber a arte que ele produz, supostamente como diferente de um conceito clássico. A tela que ele me apresentava era um misto de cenas do cotidiano justapostas com outras imagens dispersas, todas na mesma tela. Cores fortes emolduravam flores, animais, o céu,

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estrelas, caricaturas de pessoas, todas juntas. Quando perguntado sobre o que a imagem representava, parte de seus sonhos e do que ele concebe como seu eu são externados. Em alguns momentos parecia que a tela representava um passaporte para que ele falasse de si. Naturalmente este momento me transpôs imediatamente para o universo descrito por Nise da Silveira. A psiquiatra Alagoana revolucionou o tratamento de esquizofrênicos após perceber a fragilidade e limitação dos tratamentos médicos convencionais e do excesso de medicação atribuída ao doente mental. Com isto, a médica e artista Nise da Silveira realizava a partir de seu conceito de Terapia Ocupacional, um trabalho inovador e que deu frutos. A citada terapia consistia em que o doente materializasse seu problema com desenhos, cores e formas ou alguma tarefa que o fizesse se sentir centrado e útil. “Com isto os doentes se sentem aliviados de suas angústias, os médicos conseguem compreende-los e conhece-los melhor, e o tratamento com remédios ganha um poderoso aliado”. Deste procedimento que obteve o reconhecimento e notoriedade, Nise da Silveira criou no Rio de Janeiro, o Museu de Imagens do Inconsciente, que atualmente conta com um acervo de aproximadamente 350.000 obras. Observemos como a atividade artística pode ser importante no processo de compreensão e convívio com a doença mental. Na história dos homens a partir do mundo das artes temos exemplos dos quais o mais expressivo, segundo me ocorre é o de Van Gogh. O pintor holândes através de sua trajetória de vida com seus amores perdidos, as decepções e posteriormente as alucinações, vive uma conturbada e sofrida existência, marcada sobretudo, pelas dificuldades econômicas, uma vez que não conseguia vender nenhum dos seus quadros. É em meio a angústias, correspondências com seu amigo e irmão Theo que Van Gogh pinta No limiar da eternidade, a imagem abaixo (imagem 1) revela um pouco deste tempo e do sentimento que o movia.

Imagem 1 - No limiar da eternidade (1890) Vincent van Gogh - Óleo sobre tela.

Fonte: Museu Kroller – Muller. Holanda

A tela reflete o próprio Van Gogh e a percepção que este tinha sobre as incertezas da humanidade. Parte desta incerteza também acompanha o mundo narrado por Daniel. Na entrevista, Daniel reconhece que começou a produzir e pensar em arte quando entrou no

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Caps, isto há 12 anos. Foi a partir da experiencia com a oficina de arte e pintura como recurso terapêutico que ele começou a pintar telas e pensar em comercializa-las. Interessante a auto-imagem que ele mantém como pintor e que faz uma arte que não é abstrata, partindo de uma definição própria, bastante controversa. O que de certa forma ilustra os prazeres que tem ou busca, vinculados a uma relação mais doméstica. Nos raros momentos que tem oportunidade, gosta de piscina e de dançar, prazeres que despertaram o seguinte comentário do pai “ meu filho nasceu no canto errado”, exatamente pelo fato de Daniel desejar coisas de luxo e melhores, atípicas para uma família com condições modestas. Outro aspecto que merece destaque é como ele fala do primeiro contato com o Caps e o descreve da seguinte forma:

foi através de uma amiga da minha mãe, a mesma que me ensinou a ler e ela conhecia uma psicóloga. Aí eu fui passado por esta psicóloga e ela me indicou para cá. Mas minha mãe não gostou do ambiente, era na Esperança e depois é que mudaram para cá. Tinha muita gente. No começo eu estranhei muito, tive uma crise de choro porque eu tava numa crise. Eu entrei numa crise, eu não vim lúcido (2010).

Com uma ênfase na lucidez como algo importante e reconhecendo seus diferentes momentos com a doença, ele acrescenta:

…até agora não tenho um diagnóstico médico, ele diz assim que é um distúrbio. No convívio com outros usuários, tem gente que eu entendo mais e outros eu tenho que engolir porque se não fica difícil para eles e para quem cuida da gente. Principalmente quem não tá na crise tem que entender que tá na crise. Por exemplo, tive uns problemas com Mario e eu sabia que a situação dele estava pior que a minha, aí eu faço que nem tô escutando. Eu sei que se eu tô me tratando eu vejo o meu comportamento, vamos supor…controlado. Eu controlo (2010).

Com uma tónica na questão do controle, o relato de Daniel me leva a crer que havia na organização da sua realidade, uma permanente batalha entre a doença mental, a família, sua auto - imagem e a mediação divina ao afirmar:

Não sou religioso mas penso muito em Deus. Você pode acreditar, aliás tudo que eu disser tu acredita né? Aquele lá de cima está 24 horas olhando. Um dia você vai ser julgado. Eu acho assim, se a bíblia diz isto é isto que a gente vai ter. A gente vai conseguir a salvação e talvez eu não tenha toda, vamos supor. Tem umas coisas que eu faço que não vou deixar (2010).

Este sentimento com relação à religiosidade vai acompanhar os relatos de Paula e Suzana, supostamente influenciados pela herança judaico – cristã e na crença de que algo sobrenatural poderá lhes auxiliar em momentos extremos. Mais que isto, o temor originário de uma pretensa vigilância superior que tudo sabe, percebe e irá cobrar estas posturas no futuro, parecem dominar suas memórias e ações. Mas nem todos partilham desta crença e comportamento, por exemplo, Frederico.

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Contornos diferenciados Frederico, 29 anos, tem outra percepção sobre isto. Nossa entrevista aconteceu em um canto extremo do Caps pela absoluta falta de espaço para que está pudesse ser realizada em uma sala. Na gravação ao fundo, música, pessoas conversando, muita agitação e outros usuários que se aproximavam para ver o que acontecia. Conversávamos e o Caps funcionava normalmente, assim como deveria ser. Na cena da conversa, apenas 02 cadeiras plásticas nos serviam de apoio. No entanto, o diálogo ocorreu com uma qualidade surpreendente. Ao contrário de Suzana, Paula e Daniel, Frederico se identifica com tranquilidade e fala com fluência. Começa descrevendo sua situação no Caps e depois fala da família. Diz ter 03 irmãos e mãe, e que o pai mora em Campina na Paraíba. Começamos conversando sobre estudos e ele assume que após ter estudado em lugar formal até o primeiro ano do segundo grau, no sentido de escola regular, reconhece que precisa de atenção especializada, aliás, mais que isto afirma, “eu preciso que a professora olhe para mim, eu preciso importar, me sentir importante estudando, porque minha família não me apoia”. Este sentimento com relação à família vai aparecer em outros momentos. Frederico revela que sua relação com familiares é boa mas que não diz como se sente ou sobre o tratamento no Caps:

Minha mãe é uma senhora de 64 anos assim eu procuro evitar, eu consigo fazer o tratamento sem aperriar minha mãe, minha irmã. Na verdade a pessoa pode levar uma vida mesmo tendo transtorno mental. Quando eu saí do manicômio eu tinha a necessidade de fazer alguma coisa, a médica disse que no Caps eu poderia fazer aula de música, daí como eu sou interessado em fazer aula de música, técnica vocal eu vim para cá. O remédio que eu tomava no hospital me deixava sem fazer nada. Eu ia evoluindo, me sentindo impregnado como se estivesse com uma camisa de força, eu queria me libertar (2010).

A expressão impregnar segundo percebi, era o momento das crises, o que antecedia e que envolvia o período das crises. Dos cinco usuários aqui narrados, quatro mais detalhadamente, somente Frederico consegue falar sobre impregnação e explicar o que ela significa, os outros afirmam-na globalmente como crise. Fato que indica o grau de compreensão dele sobre a doença, principalmente quando fala de sua internação por 45 dias na Casa de Saúde Natal e sobre o processo de recuperação:

precisei de 10 anos para recuperar no Caps esta internação de 45 dias, foi muito ruim. O tratamento era uma vertigem, eu tomava muito remédio e servia para tudo, para me deixar calado, sem falar, sem fazer as coisas, eu ficava inutilizado, só não serviu para minhas vozes. Por isso a necessidade depois do manicômio de vir para o Caps fazer tratamento. Ainda ouço vozes mas consigo levar uma vida normal (2010).

Quando perguntado sobre o diagnóstico médico, Frederico afirma que é crônico e isto significa que vai ter que tomar remédio a vida toda. Os médicos nunca lhe disseram um diagnóstico mais preciso, nem ele os perguntou. Este é outro aspecto que chama a atenção, nenhum dos depoentes sabia precisamente qual era o seu diagnóstico médico, mesmo vários deles sendo aposentados por invalidez por causa do transtorno mental, o que revela ainda, um certa incredulidade por parte dos médicos no processo de recuperação ou cura destes doentes e talvez uma certa negligência, uma vez que na maioria das situações estes

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são acompanhados de seus familiares que assumem a comunicação como se o doente não existisse, já que são eles os informados e quem toma as decisões. Mesmo sem um conhecimento mais técnico sobre assuntos de acesso e permanência nos serviços de saúde, no caso de Frederico, as recordações do primeiro contato no Caps, já na triagem, repercutiram positivamente na sua compreensão e nas suas relações, diferente daquilo que Goffman (2008b) aponta, como comportamento das instituições totais ao afirmar que nelas o individuo representa apenas dados que não são considerados durante o tratamento, segundo o autor, são informações que não medem a dimensão do que o doente tem nem as reais possibilidades para sua recuperação ou cura. Para Frederico, este momento do acesso foi importantíssimo:

Maria do Carmo disse que eu precisava falar e aquilo me marcou muito, hoje em dia eu faço palestra eu falo na frente de todo mundo, eu vou na UnP, eu consigo fazer e falar aquilo que eu quero. Antes era como se eu fosse apagado, e hoje em dia me sinto apto a viver uma vida quase normal. Eu posso dizer para todo mundo que eu quero cantar que gosto de rock, Legião Urbana, Paralamas, Capital Inicial, Engenheiros do Hawai e Ramones.

É perceptível a influência que a música tem na vida e relações de Frederico, pois quando questionado sobre relações pessoais e sobre os vínculos no Caps, ele responde prontamente que ao contrário do que seus amigos relatam no acolhimento, conseguiu preservar e manter suas amizades:

por incrível que pareça meus amigos relatam no acolhimento que perderam amigos, graças a minha atitude de não passar as minhas dificuldades, acabei mantendo eles do meu lado. Dentro do Caps, a única dificuldade que sinto é que nem todos tiveram a mesma oportunidade que eu e chego aqui eles estão dopados e não dizem para o médico o que querem. Eles acham que por ser usuário eles têm que tomar o remédio, eu tomo até onde tenho que tomar (2010).

Frederico fala sobre seu gosto e prazer pela música afirmando que compõe e tem projetos de se tornar um cantor. Na sequência conversamos sobre religião e mesmo ele dizendo-se católico, ele afirma não sentir falta de religião porque tudo que viveu na igreja não lhe passa desapercebido na vida e acrescenta “para onde vou eu consigo ter esta vivência, eu aprendi muita coisa lá, não consigo esquecer”. Por outro lado, afirma que a religião ajuda até certo modo, por exemplo em momentos de doença, mas em excesso prejudica. As experiências que teve em centros espíritas, revelaram uma posição que, segundo Frederico e é comum nas religiões que conheceu, de que apenas a fé, a crença, são a solução para o problema. Que recebeu orientações dos religiosos de que deveria parar com os medicamentos e somente frequentar a religião. Resultado: “cheguei em casa, tomei os medicamentos e os problemas que sentia, passaram”. Conforme o entrevistado, boa parte deste tipo de entendimento sobre o uso exagerado de medicação e de projetos de vida que poderiam ser construídos pelos usuários deveriam ser um processo de conscientização que o Caps poderia fazer e em parte, reverteria esta anulação do doente em relação à instituição. Goffman (2008b) vai chamar esta anulação característica das instituições de mortificação do eu inicial do sujeito, uma vez que suas posições, seus desejos e sua fala não são considerados, pois as regras da instituição e a cultura da reclusão não permitem isto. Trata-

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se de um procedimento que alimenta a ideia de confinamento espacial e social ao criar para o doente, uma personalidade adequada ao lugar que ele está, não a do próprio doente. Trava – se aí, um embate entre a personalidade do doente e aquela constituída para ele. Mais que isto como bem descreve Erving Goffman em texto escrito em 1961 intitulado Manicómios, prisões e conventos onde a própria medicação, usada de maneira inquestionada e a adoção de ações que não são comuns ao doente refletem a uniformização dos procedimentos nos serviços de saúde, felizmente existem exceções, vejamos. Não satisfeito em posicionar-se firmemente sobre sua situação atual, sempre considerando o coletivo dos usuários com transtorno mental e o futuro (para o qual é incisivo e diz que precisamos mais do que é oferecido) Frederico, define depressão como um momento de fraqueza,” a pessoa se senti fraca, se senti triste”. Ainda:

hoje em dia eu não consigo me sentir triste, acho que é o remédio que tô tomando, eu não tenho direito de me sentir fraco, de me sentir triste, eu costumo dizer nas palestras que eu não tenho direito a ficar triste, não tenho direito a ter crises mais pelo remédio que eu tomo. Eu consigo superar a depressão e aqui no Caps a gente vê muito. No mundo todo a gente vê pessoas com depressão. A depressão é a falta do ser humano ajudar o outro, por mais que seja forte teria alguém para lhe apoiar assim não existiria depressão, você pode, você quer, uma pessoa que possa acreditar e investir. A maioria das famílias não trata a depressão no sentido legal, a gente vê muitas pessoas doentes, com síndrome do pânico que é pior que depressão e as famílias tão aí, acho que ajudar é a solução para a depressão (2010).

Imbuído deste espírito de ajuda e falando sobre projetos futuros, Frederico afirma ter o desejo de ser presidente do Brasil pois somente assim conseguiria ajudar as pessoas. A fala soa estranha a princípio mas os argumentos são cristalinos a partir de sua lógica “como cantor não poderia ajudar meus amigos. Se eu fosse prefeito teria alguém mandando em mim, se eu fosse governador, teria alguém mandando em mim, somente presidente não”. Interessante essa forma de ver as questões do poder, principalmente aquele poder relacionado à esfera política. Neste momento recordo com que orgulho Frederico falava das pessoas importantes que conhecia. Um misto de subserviência, uma vez que a história local inspirava esta análise e também o seu contrário, na medida em que ele pretendia alcançar um posto de poder. Por outro lado, quando diz não ter direito disto ou daquilo, suas falas tem que ser analisadas cuidadosamente, pois creio que foram empregadas inadequadamente e que queriam dar conta exatamente da complexidade que ele percebia na doença, nos serviços de saúde mental e nos seus projetos pessoais. Frederico fala sobre seu sofrimento com o transtorno mental com uma clareza impressionante e sem lamentos, considera a falta de um pai, de namorada e de um amigo algo que vai acumulando e acaba explodindo. “Eu fui acumulando estes sentimentos e acabei explodindo e quando isto acontecia eu chorava”. Em dado momento, ele mais parecia um político em campanha, pois seu discurso se assemelhava aos procedimentos partidários talvez produto de sua preocupação de inserção política das pessoas com transtorno mental, o que o levou à presidência da Plural, uma associação que cuida dos interesses das pessoas com transtorno mental e da ABRASME – Associação Brasileira de Saúde Mental, coordenada em Natal, pela psicóloga e professora universitária Ana Karenina.

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Frederico apresenta pouquíssimas dificuldades para se expressar, inclusive faz uso de figuras de linguagem com total confiança. Ao ser questionado sobre o papel político das instituições que faz parte, não titubeiam em dizer:

é como se fosse um copo d´água, as duas lutam pelas mesmas coisas, no entanto em uma, a Plural, Expedito tem que se desdobrar em vários papéis, na Abrasme, tem muitos estudantes e lá falamos de igual para igual, e as vezes falamos mais que o próprio aluno e a presidente. Minha família sabe pouco do trabalho que eu tô fazendo mas hoje em dia eu posso passar para minha mãe, representar para ela, um rapaz feliz, mais adaptado ao transtorno mental, a um problema, mais sadio.

Nas narrativas dos usuários estudados, questões sobre seus familiares surgem de maneira inesperada e com conteúdos variados. Por exemplo, Suzana, 29anos, fala de seus medos e neles destaca: “ …uma das coisas que eu tenho medo de acontecer comigo é de perder minha mãe, porque minha mãe abaixo de Deus ela é tudo pra mim, embora que eu seja ruim com ela, embora que eu num faça as coisas que ela, que ela me pede que eu faça, entendeu?” Estes medos estavam presentes nos relatos dos outros entrevistados mas aparece mais intensamente com Suzana. Mais adiante ela fala também de seu pai mas salienta outra vez a paciência que sua mãe tem consigo. O que sugere é que, especialmente nos momentos de crise as relações entre eles vão ficando mais difíceis e apenas quem lhes compreende e apoia são suas mães. Em praticamente todas as entrevistas a figura da mãe é central e nem sempre outros personagens do núcleo familiar têm a devida paciência com o doente, pois como diz Suzana “eu fico remoendo o dia todo, até a pessoa se cansar…eu repetindo as coisas…ta doendo”. Em um discurso elaborado com muita dificuldade e com palavras saído de sua boca de maneira atropelada, Suzana vai buscando reconstituir suas memórias e de maneira muito semelhante à de Paula, esta composição de fatos, mudanças, permanências e transformações ocorrem lentamente, como se estivessem sendo revividos. Compressões sobre política, funcionamento do Caps, questão de direitos e outros temas do cotidiano lhes são acessáveis com muita dificuldade. Paula por exemplo tem uma expressão que é fartamente utilizada “não lembro direito”. No relato onde as palavras lhe saem com imensa dificuldade, provavelmente por um problema de dicção, ela afirma que entrou em depressão após concluir a quarta-série e que não tinha paciência com os estudos. Nele é possível perceber que para além das dificuldades com o aprendizado, Paula estudava a noite e trabalhava durante o dia, o que faz supor uma carga de atividades bastante intensa para sua idade à época. Mas isto não é considerado em seu discurso:

…eu tava estudando a noite e trabalhando, quando eu chegava era nas carreiras, as pressas, quando eu chegava tirava a roupa, tomava banho e corria ia estudar, aí começou, fiquei aperriada peguei e saí do estudo, eu só estudei até a quarta série, eu não tenho paciência de estudar por causa desse meu problema de depressão, eu não tenho paciência.

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A carga de responsabilidade que Paula se atribui é imensa e semelhante à de Suzana, ambas parecem ter adquirido este senso de responsabilidade com a família, tanto que se sentem culpadas quando não conseguem desempenhar adequadamente o que se propõem. Outro aspecto interessante é o fato de Paula atribuir que teve pela primeira vez a depressão, quando deu a luz à primeira filha, no entanto ela já havia dito que deixou os estudos, exatamente pelas dificuldades oriundas da depressão. Vê-se com isto a limitação em elaborar o discurso de maneira mais coesa. Consciente ou inconscientemente, Paula parece ter escolhido a situação do parto, com a depressão pós parto, como o elemento que desencadeou o transtorno e com isto, um pouco da imagética popular e do discurso socialmente propagado sobre a depressão parecem estar presentes nas falas da depoente, o que me move a pensar em outras imagens que estejam impregnadas do trauma que representa a depressão pós parto, por exemplo. Recruto neste momento Rubens com uma das imagens mais densas desta representação e que, considerando o tempo e o momento histórico em que foi produzida, me serve como indicativo de um problema com sólidas raízes sociais e culturais, ou seja, a arte anunciando a vida pois… Já no século XVII, Pedro Pablo Rubens, pintor flamenco do barroco cuidou de expressar sua percepção sobre um tema que remete à uma doença. Realizo naturalmente, uma tentativa de aproximação entre a depressão pós parto a pintura de Rubens. Marcante na essência e dona de uma força que influenciou, entre outros, Jean Antoine Wateau e Auguste Renoir, grandes nomes da arte, a tónica das imagens de Rubens são os contrastes de cor e a sensibilidade emocional. A ilustração abaixo (imagem 2) descreve um pouco do sentimento que o mobilizou. O tema é um dos mais dramáticos e é inspirado na concepção de que a única maneira de que os filhos de Saturno não lhe tomassem o poder, era devora-los, com isto é possível considerar que havia na relação de pai para filhos, supostamente a ideia da depressão, assim como conhecemos na atualidade.

Imagem 2 - Saturno devorando seus filhos (1636 – 37)

Fonte: ArteEspaña

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A imagem acima impregnada de simbologias, pode ser utilizada para pensarmos a perversidade do sentimento, assim como descrito por Roudinesco (2008) e o que move o doente em relação a doença mental, especialmente nos seus sentimentos ao ser considerado socialmente como louco, pois é assim que em diferentes culturas o indivíduo com transtorno mental é conhecido, o que se certa forma reflete o receio que este têm de falar da doença em público. As entrevistas realizadas requisitaram um tempo considerável de conhecimento pessoal e de aproximação, até que a confiança entre pesquisador e pesquisado estivesse sedimentada. Neste processo, observei não sem inquietação, a distância que separa o usuário dos serviços em saúde mental com transtorno mental das situações que ocorrem no cotidiano da sociedade. Aspectos elementares como falar em público, posicionar-se sobre assuntos diversos, requerer atenção, pensar em projetos futuros ou simplesmente reconhecer-se enquanto doente mental são impensáveis para a maioria dos usuários do sistema Caps analisado, mesmo considerando as iniciativas plásticas e filosoficamente embasadas da instituição, em sintonia com a reforma psiquiátrica Brasileira, em parte, pela fragilidade política associada à proliferação cultural do preconceito e do estigma da doença e doente mental. A associação anotada por Goffman (2008a) sobre estigma como expressão originária do mundo grego e indicativa de sinais corporais que identificavam um indivíduo ou representavam algo de ruim parece ainda influenciar o comportamento e percepção das pessoas quando se trata de transtorno mental. Em pleno século XXI ainda permanece esta forma de ver o doente mental, infelizmente, são condições normativas como pré-concepções que se transformam em fato. Considerações finais O propósito analítico de investir nos discursos dos usuários do sistema Caps foi, sobretudo, um desafio. Este desenho inicial das falas foi um momento importante para que eu pudesse pensar e repensar diferentes aspectos da tese, especialmente no que se refere à conceituações e nominações para o transtorno mental no âmbito antropológico, ainda frágil. A metodologia inspirada na fenomenologia Pontyana e utilizando o recurso da história oral de vida se mostrou eficaz mas que requer para os próximos contatos com o terreno, mais detalhes e acesso também, aos registros médicos. Os personagens aqui descritos demonstraram fazer parte de uma parcela ainda diminuta dos doentes mentais que têm acesso aos serviços de saúde e que, por esta razão, concebem-se de maneira mais independente, mesmo considerando que fragmentos da abordagem de instituições totais, assim como descrita por Goffman (2008b) ainda esteja presente, particularmente pela burocracia das relações. Em outra dimensão e muito satisfatoriamente, o personagem de Frederico foi marcante. Oxalá, pudéssemos no convívio e nas expectativas de vida, contatar pessoas como ele. Sua

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clareza política, o entendimento de si e da instituição que atua e representa, os questionamentos que se faz e também aos outros, como vive e sobrevive, talvez com isto, com esta compreensão fosse possível realizar uma intervenção mais incisiva em personagens como Daniel, Paula, Mario e Suzana, de maneira a podermos falar em Saúde mental e não doença mental, especialmente nos serviços Caps. Referências BERREMAN, Gerald D. (2010) Behind many masks: ethnography and impression management. In: Ethnographic Fielwork an Anthropological Reaver. ROBBEN, Antonius and SLUKA, Jeffrey (edited) Boston. Blackwell Publishing. DOUGLAS, Mary (1976) Pureza e perigo. Ensaio sobre as noções de poluição e tabu. São Paulo. Editora Perspectiva. GOFFMAN, Erving (2008a) Estigma. Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4.ed. Rio de Janeiro: LTC. GOFFMAN, Erving. (2008b) Manicômios, prisões e conventos. Tradução Dante Moreira Leite. 8.ed. São Paulo: Perspectiva. (Debates; 91/ Dirigida por J. Guinsbug). LANCETTI, António (2007a) Clínica Peripatética. 2.ed. São Paulo: Hucitec. (SaúdeLoucura; 20, Série Políticas do desejo). LANCETTI, Antonio (2007b) Saúde Mental e Saúde da Familia. 2.ed Aumentada. São Paulo: Hucitec, (SaúdeLoucura 7) ROUDINESCO, Elisabeth (2008) A parte obscura de nós mesmos. Tradução André Telles. Rio de Janeiro. Editora Zahar.