Tcc a articulação entre psicologia e religião

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Faculdades Integradas de Santa Fé do Sul Kaian Bitie Eves da Silva Marco Antonio Rodrigues ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO Santa Fé do Sul SP 2012

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Faculdades Integradas de Santa Fé do Sul

Kaian Bitie Eves da Silva

Marco Antonio Rodrigues

ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO

Santa Fé do Sul – SP

2012

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Kaian Bitie Eves da Silva

Marco Antonio Rodrigues

ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Santa Fé

do Sul, como requisito parcial à obtenção do título de

Psicólogo. Área de concentração: Psicologia

Social/Comunitária.

Orientador: Alexandre dos Santos.

Santa Fé do Sul – SP

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2012

Kaian Bitie Eves da Silva

Marco Antonio Rodrigues

Articulação entre Psicologia e Religião

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Psicologia das

Faculdades Integradas de Santa Fé do Sul, como requisito parcial à obtenção do título

de Psicólogo.

Área de concentração: psicologia social/comunitária

Aprovado em 22 de outubro de 2012

__________________

Alexandre dos Santos

Especialista em Psicopedagogia Institucional

Professor da FUNEC

________________

David Moreira Lima

Especialista em Gestão Empresarial

Professor da FUNEC

_________________

Dalva Alice Rocha Mol

Doutora em Psicologia Ciência e Profissão

Coordenadora do Curso de Psicologia FUNEC

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Dedico este trabalho a minha família, aos meus amigos e

aos grandes mestres com quem pude aprender muito.

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Dedico este trabalho às pessoas que estiveram torcendo

por mim nesse tempo: minha mãe Marlene, minha avó

Almerinda, minhas irmãs Michelli, Lorena, Merielli e Jurema,

aos meus amigos que durante as investigações me ajudaram

direta ou indiretamente, mas dedico em especial a você, Lidiane,

e ao meu filho, Pedro Marcos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família que sempre esteve ao meu lado, aos meus avós que

tiveram um papel muito importante na minha vida, agradeço aos meus tios e em

especial ao Kleber que mesmo nos momentos difíceis esteve do meu lado e me ouviu,

aos meus pais que me educaram e me deram meios para seguir ate aqui, sem vocês eu

não estaria vivo e nem teria a possibilidade de caminhar nesta vida, amo vocês.

Também agradeço aos grandes mestres que passaram na minha vida, Lugato,

João Geraldo, Pina, Clarice, Marisa e Alexandre, saibam que vocês sempre serão

lembrados.

Agradeço aos meus amigos Paulo, Adriano, Lucas, Caio, vocês estarão

marcados para sempre na minha vida, agradeço imensamente ao meu parceiro Marco

pela paciência e dedicação por este trabalho, que nesses tempos se tornou mais que um

amigo, um irmão.

Agradeço ao meu orientador Alexandre que com muita paciência e determinação

nos ajudou a terminar este trabalho.

E por ultimo e não menos importante agradeço ao mundo e ao Grande Arquiteto

do universo que sempre me deram oportunidades de fazer o melhor e de conhecer os

melhores.

Obrigado.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao orientador, Prof. Alexandre dos Santos, que com extrema paciência

e admirável bom humor contribuiu com eficazes sugestões, criticas e estímulos, fazendo

parte decisiva para a realização desse trabalho.

Agradeço às grandes pessoas que passaram por minha vida e de certo modo

surgiram nos momentos oportunos como Clarice Freitas e a Profª Meª Marisa Lídia

Azevedo Silva, mostrando que o mestre só aparece quando o aprendiz está pronto.

Agradeço ao meu parceiro, Kaian Bitie Eves da Silva, amigo e incentivador, que

me ensinou a tirar o pé do chão para poder voar de vez em quando.

Aos professores que não desistiram de nós, esforçando-se para transmitir parte

do vasto conhecimento de cada um. Estes sãos: Prof. David Lima, Dra. Dalva Alice

Rocha Mol, Profª. Meª Rosângela F. Costa.

Aos colegas de graduação e amigos que adquiri durante os anos de curso, como

espíritos iluminados que se identificaram comigo e que, de alguma forma,estão nesse

trabalho. Amigos que pretendo levar para o resto de minha vida, tais como: Adriano da

Silva Serra, Jesus Aparecido Alves da Silva, Suellen Martiniano Souto e Paulo Rossi.

À minha família, sobretudo Lidiane (esposa), Pedro Marcos (filho), Marlene

(mãe), Almerinda (avó), e aos demais familiares que souberam me apoiar com paciência

(ou não) e conseguiram compreender a minha escolha de ser um psicólogo que está

além de ser apenas uma formação, mas sim um sonho realizado. Minhas ausências

foram compreendidas, transformando em força para continuar.

Em especial, agradeço a Deus, presente como força numinosa neste trabalho,

regendo-me de forma invisível na superação dos muitos obstáculos que, inicialmente,

pareciam intransponíveis, e foram vencidos ao longo da elaboração deste trabalho.

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Senhor

Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer

mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.

Se me das fortuna, não me tires a razão.

Se me das o sucesso, não me tires a humildade.

Se me das humildade, não me tires a dignidade.

Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda, não me deixes

acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar

igual a mim.

Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo.

Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em

desespero se fracasso.

Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede ao

triunfo.

Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança

é um sinal de baixeza.

Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o

fracasso.

Se eu ofender ás pessoas, dá-me coragem para desculpar-me e

se as pessoas me ofenderem, da- me grandeza para perdoa-las.

Senhor, se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim.

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Sob o Sol

Autor: Marcus Vianna

Sobre as nossas cabeças, o sol, sobre as nossas cabeças, a luz.

Sob as nossas mãos, a criação, sob tudo o que mais for, o

coração.

Dançamos a dança da vida no palco do tempo, teatro de

Deus.

Árvore santa dos sonhos, os frutos da mente são meus e são

seus.

Nossos segredos guardados em fim revelados, nus sob o sol.

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RESUMO

Silva, K. B. E; Rodrigues, M. A. Articulação entre psicologia e religião.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdades Integradas,

Santa Fé do Sul – SP, 2012.

A religião é uma forma de compreender não só o nosso universo interno, mas

também de compreender o mundo que nos rodeia, ela representa uma jornada que todo

ser humano tem que trilhar, ajudando a equilibrar o psiquismo e a lidar com as sombras

que existem em nós, que tomaram forma através das histórias e mitos que a religião nos

traz.

Este presente trabalho tem o objetivo de mostrar como se dá a articulação entre a

psicologia e a religião e o que os principais expoentes da psicologia tem a dizer sobre o

assunto. Com a pesquisa bibliográfica foi possível ver que muitos autores da psicologia

tratam esse tema com seriedade e julgam a religião como algo inerente e importante na

vida de cada ser humano. A psicologia e a religião são formas de compreender o mundo

interno do sujeito e de também compreender o mundo que nos rodeia de uma forma

mais clara, e nos ajuda a equilibrar o nosso psiquismo. Através desse trabalho foi

possível verificar que há uma articulação entre psicologia e religião, entendendo que

juntas, conseguem auxiliar o homem a um desenvolvimento espiritual em prol de um

esclarecimento de si mesmo em contato com o mundo externo e interno.

Palavras chaves: religião, psicologia, psiquismo, mente.

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ABSTRACT

Silva, K. B. E; Rodrigues, M. A. Articulation between psychology and

religion. Work of Course Conclusion (Graduation in Psychology) – Faculdades

Integradas, Santa Fé do Sul – SP, 2012.

The religion is the way to understand not just our internal universe, but also the

world around us, that also represent the journey of the human that have to tread, helping

to equilibrate the psyche and how to deal with shadows that exist inside of us all, by the

myth and the telling histories the religion bring forms to these shadows. This work has

the objective of investigate how the psychology and the religion interact between

themselves and what the principal authors have to say about this subject. By the

bibliographic research was possible see that many authors of psychology speak of this

subjective in a serious way and they say that the religion is something important in

every human life. The psychology and the religion are ways of understand our inner

world and the world around us in one way more clear and helping to equilibrate our

psyche. By this work was possible see that exist one articulation between psychology

and religion, understanding that together, they can help the man to reach a spiritual

devolvement and clear the view about ourselves and the world around us.

Key words: religion, psychology, psyche, mind.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1

4 O QUE É RELIGIÃO .................................................................................................... 2

4.1 Panteísmo ............................................................................................................... 3

4.2 Politeísmo ............................................................................................................... 5

4.2.1 Grécia ...................................................................................................................... 5

4.2.2 Roma ....................................................................................................................... 6

4.2.3 Egito ........................................................................................................................ 7

5 MONOTEÍSMO ............................................................................................................ 8

5.1 Judaísmo ................................................................................................................. 9

5.2 Islamismo ............................................................................................................. 12

5.3 Cristianismo.......................................................................................................... 13

5.3.1 Catolicismo ............................................................................................................ 16

5.3.2 Protestantismo ....................................................................................................... 17

6 ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO........................................... 20

CONCLUSÃO................................................................................................................ 27

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 28

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Panteão dos deuses ............................................................................... 6

Figura 2 - Deuses romanos ................................................................................... 7

Figura 3 - A grande pirâmide ................................................................................ 8

Figura 4 - A criação do Homem ........................................................................... 9

Figura 5 - O Torá .................................................................................................. 9

Figura 6 - Expulsão do paraíso ........................................................................... 10

Figura 7 - Estrela de Davi, símbolo maior do Judaísmo. .................................... 12

Figura 8 - O Hilal, o símbolo do Islã .................................................................. 13

Figura 9 – A última ceia ..................................................................................... 14

Figura 10 – Jesus Cristo ...................................................................................... 15

Figura 11 – Cruz, o símbolo do catolicismo. ...................................................... 16

Figura 12 – Martin Lutero, fundador do Protestantismo. ................................... 17

Figura 13 – Psicologia unindo Deus e o ser humano. ......................................... 20

Figura 14 – Escada de Jacó, exemplo de revelação divina através de sonhos. ... 25

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como base teórica a psicanálise e a análise junguiana

com o objetivo de estabelecer uma articulação entre psicologia e a religião e entender

como se dá o pensamento religioso no comportamento humano.

A religião é uma abordagem baseada em fé, convicções e crenças que, em suma,

prega a ligação do ser humano com o divino e outros aspectos místicos, e busca o

equilíbrio entre o homem, como ser moral, e sua espiritualidade, através da interação

entre as exigências e necessidades de ambos, gerando comportamentos e hábitos

diferenciados.

Desde os tempos mais remotos, o homem sempre sentiu necessidade e intuição

de acreditar em algo maior e, de certo modo, explicar os motivos de suas falhas através

dos deuses ou de um único Deus.

De acordo com Alves (2002), a religião vem da necessidade de significar os

símbolos existentes na cultura humana, dar nomes às coisas e diferenciar coisas de

pouca importância das coisas de suma importância que implicam seu destino, sua vida e

sua morte.

Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia,

Sociologia ou qualquer outra ciência social, de um agrupamento humano em qualquer

época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então

um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.

Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive

e cresce, desafiando previsões que anteviram seu fim. A grande maioria da humanidade

pratica alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a religião continua a promover

diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.

Para a realização deste estudo, utilizamos como fonte de pesquisa a revisão

bibliográfica de livros, artigos e em periódicos indexados na internet.

A pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise e interpretação de livros. Todo

material recolhido deve ser submetido a uma triagem, a partir da qual é possível

estabelecer um plano de leitura. Trata-se de uma leitura atenta e sistemática que se faz

acompanhar de anotações e fichamentos que, eventualmente, poderão servir à

fundamentação teórica do estudo.

Nosso objetivo é investigar como se dá a articulação entre a psicologia e

religião. Desse modo, nosso trabalho se divide em duas etapas: descrever o que é

religião e apresentar o que os principais expoentes da psicologia falam sobre o assunto.

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Encontrar uma definição para a religião é não é uma tarefa facil. Tillich (1957),

afirmou que ser religioso significa perguntar sobre o significado da vida e estar

aberto para essas respostas.

No primeiro capítulo, O que é religião, o leitor encontrará a definição da palavra

religião e como ela influenciou o comportamento humano ao longo do tempo e também

sua evolução. Dentro do Panteísmo, o leitor encontrará uma das religiões mais antigas,

que inspiram seguidores até os dias de hoje, e no Politeísmo, a crença nas grandes

divindades que remetem às grandes nações da antiguidade como Grécia, Roma e Egito.

Para o segundo capítulo, Monoteísmo, o leitor encontrará o surgimento do

Judaísmo e Islamismo baseados na crença de um único Deus e utiliza como doutrina o

Antigo Testamento e, no Cristianismo, que se baseia na vinda de Cristo no Novo

Testamento, o surgimento do Catolicismo e Protestantismo.

No terceiro capítulo, Articulação entre Psicologia e Religião, foi exposto o que

autores da Psicanálise e da teoria analítica junguiana tinham a acrescentar sobre o

assunto.

Na conclusão é confirmada a hipótese de que há uma articulação entre

psicologia e religião, pois é comprovado que a religião está enraizada no

comportamento humano e a psicologia atua na psique e no comportamento do mesmo.

4 O QUE É RELIGIÃO

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3

A religião é um movimento externo ao indivíduo, diferente de sua

espiritualidade que são movimentos internos no mesmo. A religião age no indivíduo

com intuito de provocar uma forma de exercer essa espiritualidade.

De acordo com Valério (2009), a palavra religião origina-se do latim "Re-

Ligare", que significa "religação" com o divino, englobando qualquer forma de aspecto

místico e religioso, elaborando doutrinas e formas de pensamento que tem como

característica a crença no mundo espiritual por intermédio da fé e convicções.

Por intermédio da religião, o ser humano acredita em divindades, ou uma força

que rege a tudo, demonstrando uma necessidade inerente ao comportamento humano.

A religião também sempre esteve vinculada, de certa forma, ao processo de

evolução social do homem, assim como a política. A história da humanidade é marcada

pelo estabelecimento dos diversos sistemas de crenças através dos movimentos políticos

e religiosos. Isso demonstra a capacidade humana de se adaptar, sempre introduzindo

novos ideais. Para a autora “a religião é considerada não só um fenômeno psicológico,

mas também um fenômeno sociológico e histórico, sendo esta uma das expressões mais

antigas da alma humana.” (SILVA, 2009, p. 9).

Para Costa (2008), a religião não se interessa apenas com assuntos teológicos e

questões da fé, pois se aprofunda como instituição, deixando de ser só um ideal. Com

profunda influência no comportamento humano, a religião se modificou e se adaptou

junto com o sistema de poder vigente, e com ela surgiram valores éticos e morais,

crenças, mitos, lendas e isto causou um impacto profundo de como se vê a realidade,

como a mesma é percebida.

A referida autora afirma que a religião em seu sentido etimológico, é uma forma

do indivíduo estabelecer, dentro dos rituais, um contato com uma divindade: “Em si, ela

não é o essencial e, sim, o impulso que o indivíduo tem de se ligar a Deus. A religião

acaba sendo importante na medida em que facilita essa ligação.” (COSTA, 2008, p. 28).

As religiões e a evolução humana são fatos interligados, tanto, que para melhor

entender sua evolução pode buscar suas origens cronologicamente, comparando as

primeiras religiões e as atuais, observando as evoluções tanto do homem quanto à sua

crença. (VALÉRIO, 2009).

4.1 Panteísmo

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As religiões primitivas remetem ao passado de mitos criados em figuras das

cavernas, culto ao fogo e outras formas de significar religião. O homem primitivo já

conseguia compreender que havia uma força que regia tudo.

De acordo com Costa (2008), o panteísmo é uma das religiões mais antigas e

primitivas, remontando a pré-história no transcurso do desenvolvimento humano. Em

seu aspecto tribal, essa religião não apresenta documentos doutrinários que a

fundamente, ou seja, a transmissão dos rituais, valores e forma de comportar-se diante

das entidades sagradas, se dava através da tradição oral, ou seja, passada através da fala.

O antepassado do homem no processo de entender o que se passava à sua volta,

tinha um vínculo harmônico maior com a natureza e, de certa forma, o levou a acreditar

em uma força que regia tudo e a todos como se fosse um Deus-natureza. Deus era o

tudo e o tudo era Deus. Assim, o próprio homem também fazia parte de Deus, sendo

regidos por uma força universal que emanava de Deus ou universo. (VALÉRIO, 2009).

De acordo com Aquino (2008), o panteísmo se origina da palavra grega Hen kai

pan que significa o “Um e todo” e dentro dessa doutrina se originaram a suposição por

trás de diversas religiões e seitas orientais como o hinduísmo e o budismo. Nessa

concepção, Deus é o centro, o mundo material e espiritual surgiram por emanação,

fazendo com que o homem seja uma parte de Deus, podendo assim, criar a própria

realidade.

O panteísmo está na base de várias correntes religiosas

mais recentes; é uma forma de religiosidade que não

“incomoda” o homem, pois, o panteísmo ou monismo, fazendo

coincidir Deus com a natureza, emancipa o homem de qualquer

força superior, pois o próprio homem vem a ser uma centelha ou

uma parcela da divindade. (AQUINO, 2008, p. 111).

Conforme Gaarder, Hellern e Notaker (2005), o panteísmo se diferencia das

demais religiões e, é relacionado ao místico, ao qual “o objetivo do mortal é alcançar a

união com o divino”, tendo como exemplos os aborígenes e as diversas tribos indígenas

que são culturas ainda primitivas, reflexos de nossos antepassados, utilizando em seus

rituais o meio de ligação com o divino. A experimentação do divino é visto como algo

compartilhado, como a alma do mundo.

O panteísmo é algo recorrente até os dias de hoje, sendo inspiração para diversos

filmes e obras literárias tais como: Avatar, Star Wars, O Senhor dos Anéis, entre outros

que sugere a ligação da figura humana com uma força superior. A partir do panteísmo,

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5

criou-se novas doutrinas, principalmente as orientais, surgindo o neo-panteísmo, que

são religiões como Espiritismo Kardecistas, Racionalismo Cristão, Wicca, entre outras.

De acordo com Costa (2008), apesar de ter sempre existido, o neo-panteísmo se

consolidou a partir do século XVIII, tendo como doutrina a crença que o monismo seja

uma única energia que está em todo o universo como um Ser único.

4.2 Politeísmo

O politeísmo surge trazendo a ascensão dos grandes deuses, rituais sagrados,

adorações e restrições, mostrando como o ser humano devia conduzir sua vida.

Em processo natural da evolução humana, a religião também se adequou à nova

realidade, surgindo então o politeísmo, muito parecido com o panteísmo, mas

diferenciado devido ao complexo das novas culturas, pois o homem já conseguia

fundamentar suas crenças e documentar através da escrita. (VALÉRIO, 2009).

De acordo com Pacievitch (2009), a palavra politeísmo significa uma crença na

existência de diversos deuses, sendo que tais divindades são ligadas às forças da

natureza e são antropomórficas e imortais.

Os deuses politeístas possuem funções e responsabilidades distintas e bem

definidas. Responsabilidades como a caça, a pesca, o amor, a guerra, entre outros, para

cada um tem seu próprio Deus. (GAARDER, HELLERN, e NOTAKER, 2005).

Vários países aderiram ao politeísmo como religião, mas alguns se destacaram

por serem o berço da civilização e toda sua mitologia envolvida como: Grécia, Roma e

Egito.

4.2.1 Grécia

De acordo com Funari (2012), a vivência espiritual dos gregos se baseava em

crenças sem livros sagrados. Em sua essência, acreditavam na imortalidade dos deuses e

na mortalidade dos homens. Alguns heróis quando morriam se tornavam parcialmente

deuses. A criação de seus cultos aos deuses era uma forma de temer e respeitar, pois os

deuses podiam tudo e os humanos não podia nada.

A religião grega teve sua origem aproximadamente entre 800 e 300 a.C. De uma

forma simples, os gregos cultuavam 12 divindades que moravam no monte Olimpo.

Zeus era o líder dos deuses. (BOWKER, 2002).

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6

FIGURA 1 - Panteão dos deuses

Para Pacievitch (2009), os deuses gregos eram antropomórficos, ou seja,

cultivavam sentimentos e comportamentos humanos. Zeus, o líder; Afrodite, a deusa do

amor; Ares, o deus da guerra; Poseidon, o deus dos mares, e outros, tinham sentimentos

como egoísmo, ódio, vingança, amor e bondade.

Tais sentimentos facilitava o relacionamento com os humanos, tanto que, os

grandes heróis da mitologia grega eram semideuses, tais como Hércules, o grande herói

grego, filho de Zeus com uma mulher humana.

Em suma, a religião grega e seus pensadores contribuíram tanto para a cultura

quanto para psicologia, tanto que Freud utilizou alguns nomes gregos para explicar sua

teoria.

4.2.2 Roma

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7

Não há exatidão de quando se iniciou a religião politeísta romana, mas pode

afirmar que era associada a várias tendências existentes, aliadas às mudanças políticas e

sociais. (BOWKER, 2002).

De acordo com Funari (2012), os romanos aceitavam influências estrangeiras em

suas tradições religiosas devido às conquistas de outros povos.

Os deuses romanos são adaptações emprestadas da religião grega, mesclado com

deuses egípcios também. (BOWKER, 2002).

FIGURA 2 - Deuses romanos

Conforme Pacievitch (2009), isso se tornou possível, devido à invasão romana

na Grécia, o politeísmo grego foi apresentado aos romanos. Consequentemente, os

deuses eram iguais, mas com nomes diferentes. Assim, Zeus se tornou Júpiter; Afrodite

se tornou Vênus, entre outros.

Do politeísmo grego ao monoteísmo judaico-cristão, Roma se tornou grande em

seu aspecto político e cultural. (FUNARI, 2012).

4.2.3 Egito

Segundo Funari (2012), os egípcios dependiam do rio Nilo para fertilizar seu

solo e entendiam o mundo a partir de suas próprias experiências como sociedade. Como

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8

havia épocas de enchentes devido às chuvas tropicais e o sol desaparecia todos os dias

dando espaço para noite, os egípcios atribuíam isso a forças superiores.

Na cultura egípcia, os faraós eram adorados pelos egípcios como se fossem

personificação dos deuses, daí se originou as grandes pirâmides que serviam de túmulos

e, a mumificação que, se referia as almas imortais dos faraós que voltaria para o corpo.

(PACIEVITCH, 2009).

FIGURA 3 - A grande pirâmide.

A referida autora ainda aponta que eles tinham uma gama de deuses como,

Amon-Rá, deus do sol; Ísis, deusa da fertilidade, Osíris, deus da fecundidade, entre

outros, além de cultuar também deuses com semblantes de animais.

Com o advento do monoteísmo, ou seja, a crença em um deus único, todos esses

deuses politeístas seriam abolidos, pois o Deus bíblico não aceitava idolatrias a outros,

sendo apenas ele o adorado.

5 MONOTEÍSMO

De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005), o monoteísmo é a convicção

da existência de um único Deus e tal crença está inserida na maioria das grandes

religiões ocidentais. O monoteísmo veio como uma reação contraria ao politeísmo, tanto

que, o islã surgiu de uma renovação dos deuses tribais das antigas religiões nômades

árabes.

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FIGURA 4 - A criação do Homem.

5.1 Judaísmo

A palavra judaísmo vem de “Judéia”, nome de um antigo reino de Israel e sua

principal característica doutrinária é baseado no Antigo Testamento da bíblia, onde são

encontradas narrativas que afirmam a aliança de Deus com o povo escolhido, os

hebreus. (GAARDER, HELLERN e NOTAKER ,2005).

De acordo com Magonet (2002), o judaísmo é uma das religiões mais antigas

dentro do monoteísmo. Na bíblia hebraica, as tábuas dos 10 mandamentos, o Torá (a

Lei) é entregue para Moisés para guiar seu povo para a terra prometida.

FIGURA 5 - O Torá.

Segundo Gaarder, Hellern e Notaker (2005), a narrativa bíblica tem como inicio

a criação do universo e o resultado da transgressão humana, evidenciada nos relatos da

expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden, e, do dilúvio, onde o mundo é destruído,

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sendo salvo Noé, sua família e os pares de animais que entraram na arca. Cada evento

bíblico é visto como manifestação da vontade de Deus.

FIGURA 6 - Expulsão do paraíso

Os referidos autores ainda discorrem sobre outro evento marcante que é onde

Abraão recebe um chamado de Deus para que abandone seus parentes e para que vá a

Canaã, pois ali faria dele um grande povo. Após a batalha de Jacó, filho de Isaac e neto

de Abraão, com um anjo de Deus, o mesmo é renomeado de Israel (aquele que luta com

Deus), e mais tarde os 12 filhos de Jacó fundaram as 12 tribos de Israel.

Magonet (2002) relata como os israelitas chegaram ao Egito.

As rivalidades entre os 12 filhos de Jacó provocaram a

venda de um deles, José, como escravo para o Egito, onde mais

tarde José conquistou uma elevada posição. Em uma época de

fome, Jacó e os demais filhos mudaram-se para o Egito, a

convite de José. (MAGONET, 2002, p.257).

Na história de José, filho de Jacó, narra como os israelitas chegaram ao Egito e,

posteriormente, como Moises os tirou de lá, na trajetória de 40 anos caminhando no

deserto, até sua entrada em Canaã, a terra prometida. (GAARDER, HELLERN e

NOTAKER ,2005).

O mesmo autor ainda pontua que durante a caminhada de 40 anos no deserto,

Moisés recebe de Deus as tábuas da lei com dez mandamentos que todos os israelitas

deviam seguir. Através disso foi feito o segundo pacto com Deus, que deviam

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11

reconhecer a existência de um único Deus e em troca eles seriam o povo escolhido, e

que receberiam ajuda e apoio se seguisse o acordo e obedecessem às leis de Deus.

A bíblia judaica é equivalente ao Antigo Testamento, e é o livro sagrado dos

judeus, onde se encontra uma coleção de textos organizados em 24 livros e divididos

em: A Lei (Torá), Os Profetas (Neviim) e Os Escritos (Ketuvim). (GAARDER,

HELLERN e NOTAKER ,2005).

De acordo com Magonet (2002), a Bíblia judaica é de origem hebraica e aponta

registros históricos de Israel, mas não descarta a inclusão de materiais que abrange

mitos e lendas escritos por diversos autores desconhecidos remontando a origem de

Israel e a desgraça de seu povoem não cumprir a aliança com Deus.

Segundo Gaarder, Hellern e Notaker (2005), o credo judaico que é retirado da

Bíblia, que é repetido pelos judeus todas as manhãs e todas as noites durante a vida é

um belo exemplo de como o judaísmo é uma religião monoteísta. O judeu depende do

Deus Único, o criador, durante toda vida. É um Deus pessoal, que se preocupa com sua

criação. Também pode-se dizer que Deus ou o que é Deus não pode ser expresso em

palavras. O nome de Deus é representado pelas letras IHVH, um acrônimo que em

hebraico significa “eu sou quem sou”. Esse acrônimo pode ser lido como “Jeová” ou

“Javé”, porem o nome para os judeus é tão sagrado que sempre é usado palavras como

“Senhor” ou “O Nome”.

Durante milhares de anos, de acordo com os referidos autores, os Judeus

esperam que um Messias venha e crie um reino de paz na terra. Este Messias seria um

rei ideal vindo da linhagem do Rei Davi e ele restabeleceria o reino de Israel como

grande nação onde seu povo viveria em eterna felicidade. (GAARDER, HELLERN e

NOTAKER ,2005).

Page 25: Tcc a articulação entre psicologia e religião

12

FIGURA 7 - Estrela de Davi, símbolo maior do Judaísmo.

Pontua ainda que, até os dias de hoje existe a expectativa da vinda do Messias,

mas nem todos acreditam que este “messias” seja uma pessoa, alguns acreditam que esta

possa ser uma futura “era messiânica”, um estado de paz na terra onde Israel assumiria

uma posição de destaque.

5.2 Islamismo

De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005), a palavra árabe íslam

significa “submissão”. O islamismo foi fundado por Maomé, este considerado pertencer

a uma linhagem de profetas.Nessa religião: o homem deve se entregar a Deus e se

submeter a Sua vontade em todas as áreas da vida. Trata-se da condição para ser

muçulmano, palavra árabe que tem a mesma raiz que íslam. A palavra Alá se relaciona

etimologicamente com a palavra hebraica El, que é usada para nomear o Deus dos

Hebreus. Deus para os Muçulmanos é alem de juiz onipresente, um ser cheio de amor e

compaixão.

Page 26: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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FIGURA 8 - O Hilal, o símbolo do Islã

Segundo Johnstone (2002), nas primeiras pregações de Maomé, alertavam os

fiéis sobre um Deus único também, comprovando ser uma religião monoteísta, e era

contra as idolatrias e injustiças. Maomé recebia mensagens do anjo Gabriel, intermédio

de Alá, e cabia ao profeta transmitir ao povo para que pudessem se prevenir da chegada

do dia do julgamento.

Existe a crença num julgamento final após a morte e que não se deve aproveitar

a vida neste plano, pois para eles a vida neste plano de existência é uma preparação para

a verdadeira vida após a morte. (GAARDER, HELLERN e NOTAKER, 2005).

Os muçulmanos têm cinco deveres religiosos, que são: Credo, Oração, Caridade,

Jejum e a Peregrinação à Meca.

Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o

Alcorão é a palavra literal de Deus revelada ao profeta Maomé ao longo de um período

de vinte e três anos. A palavra Alcorão deriva do verbo árabe que significa declamar ou

recitar. Alcorão é, portanto, uma "recitação" ou algo que deve ser recitado.

É um dos livros mais lidos e publicados no mundo. É prática generalizada nas

sociedades muçulmanas que o Alcorão não seja vendido, mas sim dado.

5.3 Cristianismo

O cristianismo é um dos pilares da cultura ocidental, há cerca de dois mil anos

que influencia a filosofia, literatura a arte e a arquitetura da Europa, portanto, conhecer

o cristianismo é essencial para entender a sociedade e a cultura ocidental. (GAARDER,

HELLERN e NOTAKER, 2005).

Page 27: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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FIGURA 9 – A última ceia

Os referidos autores pontuam que a bíblia é o livro mais lido da história da

humanidade, até os autores não cristãos reconhecem a bíblia como fonte de inspiração.

O objetivo das histórias da criação é narrar o que aconteceu no início dos

tempos, de forma geral podemos chamá-las de mitos, ou histórias alegóricas.

É muito difícil reunir todo o material da criação e compor uma só imagem

coerente do mundo, na verdade oferecem fragmentos de uma mesma imagem de mundo,

divergentes entre si.

O cristianismo tem a Bíblia como livro sagrado, mas seus ensinamentos têm

enfoque no Novo Testamento.

A ciência mostra que o mundo evoluiu desde o início dos tempos até os dias

atuais, o cristão compreende isto como um dom divino que Deus deu, este dom é a

capacidade inata de evoluir, sendo assim a evolução é da criação divina.

Outro dom do ser humano é distinguir entre o certo e o errado. Umas das idéias

mais importante da Bíblia é que o homem é responsável pelos próprios atos, ele pode, se

assim desejar, ir contra a vontade de Deus, o ser humano pode abusar desta posição

especial ganha de Deus, a bíblia chama isso de pecado.

Várias passagens na bíblia afirmam que Deus existe “desde sempre e para

sempre”. Ou seja, a existência de Deus não esta ligada a este plano, ele não está preso

em quatro dimensões, vários textos enfatizam que Deus transcende as noções comuns

de tempo e espaço, diferentedo homem que está preso à temporalidade e a mortalidade.

Deus não é uma parte do universo como as estrelas, as flores e os animais, Ele está

acima do mundo e dos processos deste plano.

Page 28: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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Os cristãos expressam tão profunda gratidão a Deus porque experimentaram o

cuidado amoroso de Deus guiando suas vidas. Mas este amor depende da boa vontade

do cristão, este que deve permitir que Deus guie sua vida. Por isso Jesus ensinou a orar:

“Seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu”. Com isto ele queria mostrar que

a vontade de Deus não prevalece automaticamente neste mundo. Deus criou o homem

para ser o seu colaborador na sua obra divina.

A palavra Messias significa “o ungido”, uma referência de como os antigos reis

de Israel eram ungidos com óleo ao subir ao trono. Depois da época dos reis Davi e

Salomão, Israel entrou em declínio e houve a esperança de um dia um novo “Messias”,

um novo rei da linhagem de Davi, surgir.

A tradução grega da palavra Messias é “Christos”. Assim o nome Jesus Cristo é

uma forma de reconhecimento de que Jesus é o Messias prometido.

De acordo com Edwards (2002), Jesus provavelmente nasceu antes da era Cristã.

Judeu e vindo de uma família humilde, iniciou sua missão em meios a conflitos

políticos e religiosos, pregando o misericordioso amor de Deus.

FIGURA 10 – Jesus Cristo

Jesus era considerado um homem de fé contagiante e dizia ser o Filho do

Homem, se referindo a textos do Antigo Testamento, como alguém que deve morrer,

mas que será vingado por Deus. Atraiu seguidores e escolheu 12 homens para serem

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seus apóstolos, aqueles que levariam a palavra adiante. Não criou nenhuma lei,

comunicou uma idéia.

Através de seus ensinamentos, Paulo de Tarso ou apóstolo Paulo, dedicou sua

vida na formulação do cristianismo como religião para todos.

5.3.1 Catolicismo

A igreja católica romana é a maior igreja no mundo atualmente, existe cerca de

um bilhão de cristãos no mundo e metade deles pertence ao catolicismo. (GAARDER,

HELLERN e NOTAKER, 2005).

De acordo com Cotrim (2005), a igreja católica passou a se fortalecer no final do

Império Romano, se tornando responsável por uma unidade cultural em diversas

sociedades medievais, trazendo nessa religião, os valores, a fé cristã e o idioma latino.

Segundo Gaarder, Hellern e Notaker (2005), a igreja católica é rigidamente

estruturada por leis e uma hierarquia, onde o papa é a maior autoridade. O papa ocupa o

lugar de sucessor do apostolo Pedro, e, apesar de ser a maior autoridade não esta isenta

de pecado e deve se confessar regularmente, pois nem o mesmo pode mudar a doutrina

tampouco adicionar novas doutrinas.

FIGURA 11 – Cruz, o símbolo do catolicismo.

Tais doutrinas se baseiam na fé que os fiéis têm na igreja, porque ela é santa,

pois em seus ensinamentos baseados na bíblia sagrada, oferece meios para a santidade.

Page 30: Tcc a articulação entre psicologia e religião

17

A igreja é católica, o que significa que ela é universal, e apostólica, que significa

que é comandada por sucessores dos apóstolos, permanecendo fiéis a seus ensinamentos

e tradições até os dias de hoje. (GAARDER, HELLERN e NOTAKER,2005).

A visão de humanidade que o catolicismo prega vem do Genesis, após a queda

do homem pela desobediência a Deus o ser humano conservou a capacidade de fazer

boas ações e isto é um pré-requisito para a salvação segundo o catolicismo, mas o ser

humano não pode redimir a si mesmo, ele precisa de Cristo para se salvar e ir para o

paraíso, através da obediência a Deus, esta salvação é vista como um ato em conjunto

entre homem e Deus. (GAARDER, HELLERN e NOTAKER ,2005).

Os rituais como a Santa Missa são vistos como sinais de que Deus dá a sua graça

ao ser humano e são realizados por membros religiosos como um bispo ou um padre.

5.3.2 Protestantismo

O protestantismo deriva da palavra protestar que vem do latim “Protestari” e

também significa confessar. O protestantismo surgiu devido às contestações do monge

alemão Martinho Lutero (1483–1546) contra a igreja católica. (BOWKER, 2002).

FIGURA 12 – Martin Lutero, fundador do Protestantismo.

Para Gaarder, Hellern e Notaker (2005), as grandes mudanças religiosas que

surgiram na reforma protestantista, aconteceram com ênfase na política e religião,

devido à forma como o papa exercia seu poder, gerando críticas contra o sistema

doutrinário da igreja, sua atitude com a fé e seus propósitos organizacionais.

Page 31: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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Lutero, teólogo agostiniano, descontente com as normas e aspectos religiosos,

propôs uma reforma ao catolicismo em 72 teses e todas foram rejeitadas pela igreja.

Lutero foi expulso e passou a depender do apoio dos príncipes alemães,

genuínos protestantes. (VEIGA, 2009).

Lutero era contra a venda de indulgências que prometiam o perdão e pagamentos

à igreja. Seguindo os ideais de Paulo e Agostinho, Lutero apresentava uma doutrina que

aceitava o homem como pecador que para obter seu perdão, não tinha que se curvar à

imposição da igreja, mas, sim, confiar na figura de Cristo:“A ‘justiça de Deus’ não se

compara à hostilidade de um juiz; a bondade é que torna as pessoas boas, através da fé

no Salvador.” (BOWKER, 2002, p. 354).

Surgia, assim, a reforma protestante, que vinha em uma forma de protesto contra

a igreja católica. Essa reforma se espalhou desde a Escandinávia entre outros países da

Europa. A Inglaterra também aderiu e rompeu com a igreja de Roma, mais por questões

políticas do que teológicas. (BOWKER, 2002).

O referido autor aponta que influenciado por Lutero, o francês João Calvino,

baseou sua reforma, conhecida como calvinista, na Bíblia, destituindo a ideia de bispos,

no que resultaria nos sistema presbiteriano que seria um conselho de anciões. Muito

severo, Calvino não admitia a arte das igrejas, porque remetia à idolatria e Deus ficaria

em segundo plano.

Dentro dessa reforma surgiram os anabatistas e batistas que rejeitam o batismo

infantil, afirmando que para ser batizado, o indivíduo deve ter total consciência para que

saiba o que está fazendo.

O advento do movimento evangélico veio em seguida, trazendo como crença o

intermédio de Cristo para se reconciliar com Deus, e não uma igreja como supõe o

catolicismo. Evangélico vem do grego euangélion, e significa “boa nova”. A bíblia se

torna seu principal instrumento e sua “arma” infalível contra as mazelas do mundo.

Além da bíblia, outra característica são os sermões dos missionários que são mais fortes

que um ritual ou sacramento. (BOWKER, 2002).

Já no início do século XX, surgem os Pentecostais de uma congregação de Los

Angeles e se difundiu para o resto do mundo. Dentro do movimento protestante, se

diferencia, pois assim como ocorre no Novo Testamento, na festa de Pentecoste, após a

ressurreição de Cristo, o “falar línguas” é enfatizado. (BOWKER, 2002).

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Page 33: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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6 ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO

A psicologia e a religião são interpretadas distintamente. A primeira por ser

ciência, a segunda por ser uma experiência voltada ao espírito humano e sua ligação

com o divino. A psicologia no seu sentido etimológico é um estudo da alma, enquanto a

religião uma religação com um ser supremo (Deus). Há uma articulação entre as duas,

visto que, a religião é explorada pelas diversas abordagens dos grandes expoentes da

Psicologia.

FIGURA 13 – Psicologia unindo Deus e o ser humano.

Para Fromm (1962), não há cultura seja ela do passado e provavelmente no

futuro que não tenha a religião como parte integrante. “Entendo por religião qualquer

sistema de pensamento e ação seguido por um grupo, e capaz de conferir ao indivíduo

uma linha de orientação e um objeto de devoção”. (FROMM, 1962, p. 30).

A necessidade de um sistema de orientação e de um objeto de devoção é inerente

ao ser humano. Assim, o homem se torna livre para escolher o tipo de religião que

deseja seguir ou não, lembrando que cultivar a razão é um tipo de devoção também.

De acordo com Freud (2006e), a formação da religião surgiu de uma necessidade

de defesa contra as forças da natureza, como todas as outras realizações da civilização.

No indivíduo, ela surge da fraqueza e o desamparo. Esse desamparo é inicialmente o

complexo paterno em função do desamparo da criança, e posteriormente, o desamparo

do adulto que a continua, ou seja, uma forma que a humanidade encontrou para lidar

com as suas angústias, seus medos e suas incapacidades.

Page 34: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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Na teoria psicanalítica, há três estruturas no aparelho psíquico: Id, ego e

superego, sendo que as três instâncias possui núcleo inconsciente e somente o ego é pré-

consciente e consciente. As exigências por obtenção de satisfação do Id e do superego

tem como mediador o ego, pois este tem contato com a realidade. Sendo então que, o

superego (resultado das introjeções e projeções ao longo da vida do indivíduo), dentro

de novos estudos, tem se mostrado equivalente ao Id, em seu poder de desejo e pressão

sobre o ego: “Com isso, uma aquisição cultural teria a mesma força que a herança

genética. O ego por sua vez, seria a síntese que englobaria a ação mutuamente contrária

dos pólos biológicos e cultural.” (ANDRADE, 2003, p. 63).

Para Reis (2005), ainda se referindo sobre o superego, pontua que ele é

responsável pela base dos ideais, além de ter funções críticas e normativas. O ideal de

ego forma-se na base de todo ideal elevado tais como a religião, a ética e as estéticas, na

tentativa de se fazer cumprir as exigências do superego.

O superego pode ser tão cruel quanto o Id, pressionando o ego, para obter a

satisfação, na tentativa de se tornar o modelo a ser seguido dentro do ideal.

Segundo Violante (2004), na origem do ideal de ego, Freud afirma que há a

primeira e mais importante identificação que é com os pais em sua pré-história pessoal.

O superego deve manter o ideal, na qual o ego se avalia e busca cumprir as exigências

por uma perfeição maior.

Dentro de uma religião cristã, a perfeição maior é representada por Deus e a

figura bíblica de Cristo, como o filho de Deus feito de carne e osso.

O Superego busca um ideal de ego, um modelo que passa a ser seguido pelo ego

como o modelo de perfeição, que para Freud isto é representado no contexto religioso,

como uma perfeição “atribuída a Deus, uma espécie de superego projetado”.

(ANDRADE, 2003, p. 139).

De acordo com Freud (2006b), em seu livro Cinco lições de Psicanálise,

Leonardo da Vinci e outros trabalhos, a idéia de um Deus todo-poderoso é uma

sublimação do pai, assim como a Natureza é uma sublimação da mãe. Esse

entendimento é uma captura do comportamento infantil de quando a criança ainda

dependente necessita dos pais e, na fase adulta, totalmente desprotegida e exposta diante

da realidade da vida, acaba se sentindo como na infância, e não admitindo a

dependência dos pais, regride através de uma renovação das suas forças protetoras,

gerando assim o pensamento religioso. Conforme foi exarado acima, a reminiscências

do complexo paterno que gera o desamparo, a religião de um modo geral, afasta o

sentimento de culpa de seus seguidores, protegendo eles de algumas doenças neuróticas.

Page 35: Tcc a articulação entre psicologia e religião

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A renúncia de certos impulsos instintuais contribui para a base da formação da

religião, pois sentimentos de culpa e o temor pela punição divina nos são familiares

dentro do campo religioso. Esse temor divino leva ao fanatismo. (FREUD, 2006a).

Segundo Garcia (2006), o ser humano encontra a salvação de sua alma e também

seu aperfeiçoamento indiretamente na religião. Dentro desse contexto, o neurótico,

guiado por motivações inconscientes, cria uma espiritualidade falsa, uma moral falsa

que o impede de progredir na vida. Seu egocentrismo em busca de perfeição, lhe põe

mais a serviço de si mesmo do que somente a serviço de Deus. O temor exagerado e

angustiante, a impecabilidade, torna o neurótico rígido com as outras pessoas, a quem

procura impor e não propor seu ideal.

Apesar de abordar o assunto que possa parecer negativo em sua teoria, Freud

(2006d), consegue explanar a grandiosidade da religião e o seu propósito para com os

seres humanos preenchendo três funções:

Primeiro, concede ao homem a explicação sobre sua existência e a origem do

universo, satisfazendo sua sede de conhecimento.

Segundo, concede ao homem o sentimento de proteção, acalmando o medo dos

perigos e vicissitudes que a vida oferece, além de lhe dar a felicidade nos altos e baixos

e lhe garantir um fim feliz.

Terceiro, com autoridade, estabelece restrições e proibições, dirigindo os

pensamentos e ações do homem.

O referido autor ainda teoriza em Novas conferências introdutórias sobre

psicanálise e outros trabalhos que:

... a religião não pode ser examinada criticamente,

porque é a coisa mais elevada, mais preciosa e mais sublime que

o espírito humano produziu, porque dá expressão aos

sentimentos mais profundos, e porque apenas ela torna o mundo

tolerável e a vida digna do homem. (FREUD, 2006c, p. 166).

Freud e Jung são os dois teóricos dentro da psicologia que mais abordaram sobre

o assunto. Freud busca na ética o objetivo do desenvolvimento humano em princípios

como conhecimento, amor fraternal, redução do sofrimento, independência e

responsabilidade. Um homem esclarecido não precisa temer o castigo divino, sua moral

é espontânea. Tal ética é encontrada no sistema religioso, porém, a crença no

sobrenatural se opõe à realização desses objetivos. (FROMM, 1964).

Page 36: Tcc a articulação entre psicologia e religião

23

O referido autor postula que a posição de Jung em relação à religião, é a de que a

experiência religiosa se caracteriza pela propensão a se submeter a um poder superior

que pode ser Deus ou o próprio inconsciente. Desta maneira, a religião é reduzida a

fenômeno psicológico enquanto que o inconsciente é elevado a fenômeno religioso.

Criador da teoria analítica, Jung (2011), foi um grande estudioso dos fenômenos

psicológicos relacionados com a religião, tanto que para ele, o termo religião vem do

vocábulo latino “religere”, o que Rudolf Otto chamou de “numinoso”.

Giglio & Giglio (2006) definem que existem duas raízes etimológicas possíveis

para a palavra religião. Uma delas é o termo religare que remete a uma aliança com

Deus e a outra vem de religere que literalmente pode-se traduzir por “re-leitura”, esta

segunda raiz etimológica em especial foi a escolhida por Jung.

Para ele a atitude religiosa autêntica, no sentido junguiano, é aquela que facilita

o processo de individualização, no entendimento das figuras do mundo intermo e uma

observação cuidadosa do mundo, ou seja, a atitude religiosa implica numa leitura do

mundo e de si mesmo.

Segundo Jung (2011), numinoso é uma existência ou um efeito dinâmico não

causado por um ato arbitrário. Muito pelo contrário, este efeito domina e se apodera do

sujeito humano, deixando-o a mercê de seu criador. Qualquer que seja a causa, o

numinoso é uma condição do sujeito, e é independente de sua vontade.

Para o referido autor a doutrina religiosa mostra que esta causa esta ligada a algo

externo ao sujeito. O numinoso pode ser a propriedade de um objeto visível ou a

presença de algo invisível, que produz modificações na consciência, sendo esta uma

regra universal. Na prática há certas exceções, grande parte dos rituais religiosos é

executados unicamente com a finalidade de provocar o efeito do numinoso.

A religião é uma atitude do espírito humano, uma consideração e observação

cuidadosa de fatores recebidos como “potências” espirituais ou fenômenos

sobrenaturais. O ser humano, em sua vivência, desde os primórdios dos tempos

experimentou alguns dessas potências e fenômenos, sendo elas naturais ou

sobrenaturais, sendo o suficiente para considerar e adorar. (JUNG, 2011)

O espírito humano carrega uma busca por algo maior que explicasse sua própria

existência e, por isso, encontra na religião o símbolo dessa busca.

De acordo com Franz (2007), a religião atua como um símbolo, ela possui

significados óbvios, mas quando chegamos ao aspecto individual ela muda seu

significado. No plano superficial da consciência ela permanece a mesma, mas quando

chegamos no aspecto inconsciente ela muda seu significado, assim como o símbolo que

Page 37: Tcc a articulação entre psicologia e religião

24

é ao mesmo tempo algo específico também é algo vago, desconhecido e oculto, cada

pessoa dá um significado único aos símbolos e da mesma maneira cada pessoa dá uma

personalidade, um sentido único a religião, para alguns pode ser a salvação, para outros

um modo de repressão de conflitos internos, também pode ser um modo de buscar algo

maior e mais sagrado que elas mesmas, para outras a busca do seu Self.

O Self para Jung é o “Si mesmo”, o centro da personalidade, é dele que emana

todo o potencial psíquico do ser. Von Franz conceituou o Si mesmo como algo que

representa o homem inteiro, é a realização de sua totalidade e de sua individualidade,

mesmo isto sendo a favor ou contra a sua vontade, é a dinâmica de um instinto que

busca na vida individual tudo o que se configure ali, sendo consciente ou não.

Segundo a referida autora no livro, as pessoas podem projetar o seu Self nos

outros, sendo assim um líder religioso, uma instituição, um grande guru, ou coisas do

tipo, pode representar um exemplo a ser seguido, um Self a ser seguido, assim várias

pessoas projetam o seu Self no outro, ou numa instituição, numa figura (num símbolo),

mas esse Self projetado tem seu significado próprio, no contexto que esta aplicado.

Sendo assim cada um dá um significado único a sua religião, ao seu “Self” projetado.

Para Jung (2011), o termo religião indica uma atitude particular de uma

consciência, ocorrendo uma transformação pela experiência numinosa e com isso uma

mudança no comportamento.

Na religião, sua doutrina e dogmas são inspirados nas experiências religiosas

originais. Com a repetição, a experiência original se torna um rito imutável, pois são

conteúdos postos dentro de uma construção mental, se transformando em algo

inflexível. Um exemplo é a última ceia de Cristo, onde se forma a nova aliança com

Deus. É um ritual imutável dentro de uma missa católica.

O referido autor ainda postula que qualquer mudança que se tente fazer estará

ligada e será determinada pela experiência original. Um exemplo, é o protestantismo

que mesmo após o desligamento do catolicismo, precisa ser cristão dentro de um quadro

onde Deus se revelou em Cristo. Este quadro é fixo, não pode ser ampliado ou

vinculado a outros credos. (JUNG, 2011).

Segundo Jung (2011), a mente é um motor muito poderoso, nela pode-se criar

realidade e servir de motor para nossos propósitos. Uma idéia acatada pode ser muito

poderosa. Quando uma idéia é acatada coletivamente, o individuo pode ser compelido a

adotar esta idéia e que quando um número de pessoas se reúne, conteúdos adormecidos

surgem, desencadeando dinamismos profundos do homem coletivo, e esses conteúdos

que ressurgem se tornam parte da massa. No meio desta massa o homem desce

Page 38: Tcc a articulação entre psicologia e religião

25

inconscientemente a um nível moral e intelectual inferior, que existia no seu limiar de

consciente, e o seu inconsciente está sempre pronto para irromper assim que uma

formação de massa ocorra.

Ampliando esse quadro, o ser humano pode ser compelido por um ideal

religioso, se todas as pessoas de uma determinada confissão religiosa seguir uma

determinada filosofia de vida, o sujeito integrante da massa é compelido a adotar os

mesmos ideais, a sua mente se torna coletiva, tornando-o somente uma partícula daquela

massa. Jung pontua ainda que uma das manifestações da religiosidade se dá através dos

sonhos, o sonho é uma voz do desconhecido e para a religião pode ser uma forma de

alerta, revelação, uma mensagem em geral, é uma forma de comunição do divino com o

ser humano.

De acordo com Hall (2003), o sonho e a religião estão ligados, pois o sonho faz

a comunicação entre o consciente e o inconsciente, na bíblia é possível encontrar relatos

de sonhos onde Deus dá missões ou transmite mensagens para seus escolhidos, vemos o

mesmo em culturas primitivas, onde o sonho transmite “revelações” para o chefe da

tribo, nesses sonhos o chefe da tribo descobre o que deve ser feito para curar algum

individuo, quando deveria plantar e trazia mensagens de seus deuses.

FIGURA 14 – Escada de Jacó, exemplo de revelação divina através de sonhos.

Page 39: Tcc a articulação entre psicologia e religião

26

Hall também nos diz que os sonhos são mecanismos de compensão não somente

física, mas psíquica também, que complementa o que Jung dizia quando a religião é

uma forma de manter o equilíbrio psíquico.

Os sonhos podem fazer piadas, resolver problemas ou

mesmo lidar com questões de ordem religiosa e filosófica. Para

Jung, os sonhos são uma auto-representação do estado da

psique, apresentada sob uma forma simbólica. O propósito dos

sonhos, na teoria junguiana, é compensar distorções unilaterais

do ego vígil; por conseguinte, o sonhos estão a serviço do

processo de individuação, auxiliando o ego vígil a encarar-se a

si mesmo de forma mais objetiva e consciente. ( HALL, 2003 ,

p. 121-122)

Jung (2002) nos diz que o sonho perdeu a sua importância com o advento do

racionalismo, o homem esqueceu o papel que o sonho exercia na vida de seus

antepassados e com isso houve um desequilíbrio, deixando o ser humano desamparado

quanto a suas questões inconscientes.

O homem moderno não entende o quanto seu

“racionalismo” (que lhe destruiu a capacidade de reagir a idéias

e símbolos numinosos) o deixou à mercê do “submundo”

psíquico. Libertou-se das “superstições (ou pelo menos pensa tê-

lo feito), mas neste processo perdeu seus valores espirituais em

escala positivamente alarmante. Suas tradições morais e

espirituais desintegraram-se e, por isto, paga agora um alto

preço em termos de desorientação e dissociação universais.

(JUNG, 2002, p. 94).

De acordo com Fromm (1962), se compreender a realidade humana por trás das

doutrinas religiosas, percebe-se que a mesma serve de base para religiões diferentes: “a

realidade emocional que preside aos ensinamentos de Buda, Isaías, Cristo, Sócrates e

Spinoza é essencialmente a mesma; o anseio pelo amor, a verdade e a justiça

caracteriza-a.” FROMM, 1962, p.77-78.

O autor ainda pontua que as grandes religiões escravizam o ser humano quando

podiam estimula-lo a ser livres, comparando-a a verdadeiras máquinas religiosas,

descaracterizando seus rituais não sendo para Deus, mas, sim, para o grupo que a dirige.

Fromm (1962) não se preocupa com ausência ou presença de religião, mas, sim,

se a religião escolhida contribui para o desenvolvimento humano ou para sua

paralisação.

Page 40: Tcc a articulação entre psicologia e religião

27

Para Dourley (2007), a psicologia de Jung tem sido aceita pelos diversos círculos

cristãos, sendo incluída nas renovações religiosas. Jung descreve “a humanidade como

tendo na sua medula um senso da realidade final, tanto divina como demoníaca.”

(Dourley, 2007, p. 12).

Segundo Hillman (2004), a religião como experiência nasce no individuo através

da psique, portanto, é um fenômeno psicológico, pois a fé em Deus está para o homem

como símbolo da vida e o mundo se torna repleto de sinais significados. O encontro

entre psicologia e religião não está em doutrinas, dogmas e igrejas. Esse encontro

acontece na alma do ser humano, em sua individualidade, na qual a experiência da alma

leva ao encontro com a presença oculta e numinosa do divino.

Dentro da perspectiva junguiana apresentada por Dourley (2007), tanto a

experiência religiosa, quanto a experiência psíquica do individuo pode fazer uma

articulação próxima de uma identificação uma da outra, assim, haveria um crescimento

religioso e psicológico próximo de uma unidade, ou alcançar um plano comum, onde

uma apoiaria na outra para o desenvolvimento mútuo.

CONCLUSÃO

De acordo com o presente trabalho, concluímos que a religião é inerente ao

comportamento humano e, de um modo geral, é um bem necessário coletivo.

Visualizamos também através desta pesquisa que, ao longo dos tempos, as

diversas religiões se transformaram para se adequarem, juntamente com os sistemas que

regem a lei de cada cultura. Através de valores éticos e morais, a religião se tornou uma

profunda influência no comportamento humano.

Concluimos que, a religião tem um impacto tão grande na vida das pessoas, em

seu psiquismo que inspira filosofias, move grupos em prol de um objetivo, promoveram

revoluções e ate derrubaram governos.

A religião concede respostas às questões de sentido do seu destino, exigências

de moralidade, disciplina, injustiça, sofrimento e morte, aos fundamentos últimos do

homem. A religião ajuda o ser humano a dar um sentido ao seu dever moral mesmo que

evidentemente isto não o leve a uma recompensa ou gratificação concreta não moral,

assim como o prazer.

A articulação entre a psicologia e religião se dá através dos distintos significados

que os teóricos da psicologia dá a mesma. Tornando então evidente que, faz parte da

Page 41: Tcc a articulação entre psicologia e religião

28

vida do ser humano. Observou-se nos autores estudados neste trabalho que há uma

convergência entre eles, pois enfatizam que a Religião faz parte da realidade psíquica de

cada indivíduo, tornando-se então evidente a articulação entre estes dois saberes.

Conforme Lopez (2008), as religiões, dentro de sua contribuição para a cultura e

se adaptando devido às mudanças sociais, dá ao homem metalinguagens que significam

a vida humana e são aceitas e compreendidas pelo psicólogo.

Dentro da teoria psicanalítica e analítica utilizada nesse trabalho, concluímos

que, de um lado, através do sentimento de desamparo na teoria freudiana, o homem que

atinge o pensamento religioso, consegue fortalecer seu ego para lhe dar com a realidade,

e de outro, a teoria junguiana consegue nos mostrar que o movimento espiritual interno

no homem é uma potência espiritual e seu contato com a religião o ajuda a externalizar

essa potência.

Entendendo que juntas, psicologia e religião, consegue auxiliar o homem a um

desenvolvimento espiritual em prol de um esclarecimento de si mesmo em contato com

o mundo externo e interno.

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