TCC justificação pela fé Eli Vasconcelos

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CAPTULO 1 A Viso Paulina sobre a Justia de Deus em Romanos 3:21-28 O apstolo Paulo discorre sobre o assunto da justia de Deus no captulo trs da epstola aos Romanos. No verso 21 ele afirma que a justia de Deus se manifestou.1

Para

compreenso dessa manifestao necessrio definir o que a justia de Deus dentro do contexto de Romanos 3:21-28. Paulo afirma que a justia de Deus se revela no evangelho (Rm 1: 17), portanto, a justia est no evangelho. Dentro da epstola, Paulo continua afirmando que o evangelho a pessoa de Jesus Cristo (1: 3). Logo, a justia a pessoa de Jesus Cristo e Jesus o Evangelho. Em Romanos, a justia de Deus no uma afirmao sobre a natureza de Deus, mas sobre o seu agir. 2 Esse agir de Deus se mostra na revelao de Seu Filho Jesus Cristo ao vir ao mundo (Jo. 1:14). Portanto, o apstolo usa a expresso 3

(Rm 3:21) que est na 3 pessoa do singular

imperfeito indicativo passivo4 e pode ser traduzido literalmente como Ele foi

1

Salvo indicao contraria todas as referncias bblicas sero da traduo de Joo Ferreira de Almeida, 2 ed, Revista e atualizada (So Paulo: Sociedade Bblica do Brasil). 2 Knerner G. Kmmel, Sntese teolgica do Novo Testamento (So Paulo: Teolgica, 2003), 246. 3 Harold K. Moulton, The Analytical Greek Lexicon Revised (Grand Rapids,Mi: Zordevan, 1980), 323. 4 Ibid.; 322.

1

manifesto.

5

Isso indica que Jesus Cristo, a justia de Deus, foi manifestada ou

enviada pelo Pai a este mundo.

No A. T., a justia de Deus se havia revelado at em certo ponto parcialmente, mas, a revelao plena da justia de Deus veio em Jesus Cristo 6. Quando Paulo fala da justia de Deus no quer descrever como devemos imaginar Deus, mas sim relatar que Deus agiu de maneira totalmente diferente do que os homens podem imagin-lo 7. Dentro deste contexto, a justia de Deus aparece a partir do cap. 2 de Romanos dentro do (era) da ira divina, onde Paulo afirma que a

justia de Deus contra os impenitentes e duros de corao (Rm 2: 5). Paulo contrasta a injustia humana com a justia divina, afirmando que o ser humano digno da ira divina devido as suas injustias praticadas (Rm 3: 5). Paulo apresenta a justia de Deus dentro dos captulos 2 e 3 da epstola aos Romanos como justia retribuitiva aos atos humanos injustos. Mas a justia que Paulo alude no captulo 3:21, a justia de Deus em favor do injusto, portanto a justia de Deus nesse contexto pode ser definida como o modo justo de Deus justificar os injustos.8 Por que? Paulo apresenta no captulo 1, a situao depravada dos seres humanos que desprezam o conhecimento de Deus (Rm 1:28). Esses vivem apenas para os prazeres das paixes pervertidas. Continuando seus argumentos5

O tempo perfeito expressa um estado atual que geralmente resultado de um acontecimento do passado. 6 Francis D. Nichol, Comentrio Bblico Adventista Del Septimo Dia (CBASD), Tomo 6, (Buenos Aires: Casa Editora Sudamericana, 1996), 497. 7 Kmmel, 246. 8 John Stott, A Cruz de Cristo (So Paulo: Vida, 10 ed, 2004), 189.

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ele se dirigi a um segundo grupo que se arvoram como juizes apontando os pecados dos outros, (Rm 2:1) estes so os judicialistas que tambm praticam as mesmas coisas. E um terceiro grupo so os que ensinam e no praticam, esse grupo identificado como sendo os judeus (Rm 2:17). Portanto, nesses trs grupos est includa toda a raa humana (Rm. 3:10). Paulo se detm mais no terceiro grupo que so os judeus, pois estes acreditavam que por terem o conhecimento da lei (Rm 2:18) tinham vantagem diante de Deus sobre os outros povos, mas ele mostrou que no havia (Rm 3:9) e que os que viviam na lei eram culpados perante Deus (Rm 3:19) e dignos de morte (Rm 6:23). Visto que a prpria lei trazia o conhecimento de que eram pecadores diante de Deus (Rm 3:20). Mas agora, Paulo contrasta com o uso do adversativo mas a situao desesperadora do ser humano com a esperana da justia de Deus agora em prol do pecador. Pela primeira vez, uma justia que provm de Deus identificada com a justificao: sendo justificados gratuitamente por sua graa (Rm 3:24).9 justia de Deus em Cristo sem lei (Rm 3:21), no grego o termo Esta [a

parte de]. Paulo enfatiza que essa justia sem lei, ou seja, independente dela. Essa sentena sem lei coloca fora toda a idia de se obter justia por meio da obedincia lei e o com sistema legalista judaico como base da justificao.10 A viso judaica de justia contrasta com a viso paulina de justia. Ela se baseava na lei.

9

10

John Stott, Romanos (So Paulo: ABU, 2001), 124. CBASD, 497.

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Analise Gramatical da Expresso justificados Para se entender melhor A palavra justificados necessrio, dentro dessa pericope fazer uma analise gramatical. A palavra justificados aparece trs vezes na passagem de Romanos 3:21-28 a ltima referncia a elas est na concluso da passagem. No verso 24, se encontra a primeira referncia cuja a expresso .11 O tempo aparece no particpio12

expressando assim

a idia de uma ao contnua ou linear. Nesse sentido, Paulo apresenta a justificao como ato dirio sobre o cristo, como resultado de viver de f em f, ou seja, sua f contnua justifica-o dos pecados cometidos diariamente. Portanto a razo de Paulo usar a expresso de f em f (Rm 1:17) denota comunho diria e permanente com Cristo. A NVI (Nova verso Internacional)13 traduz sendo justificados (Rm 3:24), denotando assim uma ao linear. A segunda referncia a termo , que tambm esta no verso 26, onde aparece o est no tempo particpio

denotando,tambm ao contnua ou linear. Dentro da pericope, Paulo interroga onde esta a vangloria? (v. 27) fazendo portanto aluso ao orgulho humano em desprezar a f em Jesus e confiar nos prprios mritos, Paulo usa antecedentemente o11 12

Nestle-Aland, Mouton, 101. 13 Bblia Sagrada, Nova verso internacional (So Paulo: Sociedade Bblica Internacional, 2000)

4

verbo

no particpio, mostrando ento que em nem um momento o

ser humano pode considerar-se digno de mrito salvifico diante de Deus. Destarte, Joo afirma que aquele que diz que no tem cometido pecado, faz Deus mentiroso (1 Jo 1:10). A terceira referncia a justificados, nesta pericope, est no verso 28, onde [ justia], aparece flexionada como tempo verbal se encontra no presente, 14 indicando ao contnua. A justificao vem como resultado da f em Cristo, mas por ser uma ao contnua, pode-se entender que Paulo faz um paralelo com a introduo da carta aos Romanos, onde no capitulo 1:17, ele menciona que o justo viver de f em f. Essa expresso paulina, declara que desde o principio at o fim, o crente em Jesus deve viver pela f, mostrando assim uma f contnua em Jesus. Como declara a Nova Verso Internacinal o justo do principio ao fim viver pela f. . O

O Meio para se Obter a Justia Em Romanos 3: 22 Paulo mostra o nico meio para ser justo diante de Deus e essa justia recebida mediante a f. O termo mediante vem do grego que uma preposio e dentro deste contexto tem o sentido de causa [por causa de, por meio de], esta preposio se encontra unida palavra f, e a f funciona como instrumento que conduz a Jesus Cristo, ocasionando a justia de Deus em favor do crente. O que vem a ser esta f?

14

Moulton, 101.

5

F vem do grego

est no genitivo singular,15 cujo objetivo

de Paulo seria especificar ou definir em quem deve estar essa f. Portanto, a justia de Deus no est na f, porm no alvo dessa f, pois para Deus o importante no o tamanho da f, mas sim em quem est essa f, pois do contrrio a f ser um fim em si mesma, tornando-se uma lei absoluta como os judeus faziam com a Torah. Ellen G. White explica o seguinte acerca dessa f:A f nominal em Cristo, que o aceita apenas como salvador do mundo, no pode nunca trazer cura alma. A f que opera salvao, no mero assentimento espiritual a verdade. Aquele que espera inteiro conhecimento antes de exercer f, no pode receber beno de Deus. No basta crer no que se diz acerca de Cristo; devemos crer nele. A nica f que nos beneficiar, a que o abraa como salvador pessoal, que se apropria de seus mritos. Muitos tem a f como opinio. A f salvadora um agente pelo qual aqueles que recebem a Cristo se unem a Deus em concerto.16

A f no conceito paulino um paradoxo com o estado de esprito dos legalistas, pois a f verdadeira renuncia a confiana prpria.17 Estado de esprito este, caracterstico do homem que confia nas suas obras como mrito para salvao. A nica f que o judeu legalista apresenta na epstola de Paulo a f em suas prprias obras, esta f no genuna, porque o valor da f no est no tamanho, mas sim, no objeto do seu alvo.18 Conseqentemente, a f a resposta do homem que na

proclamao do evangelho se deparou com a mensagem do agir salvifico de Deus no fim dos tempos, do agir criador da justia, e que aceita obedientemente a graa de Deus oferecida nessa mensagem.19 A f o veiculo da adoo, o meio que Deus usa para dar-nos de sua retido. A f aquela entrega a Cristo de nossa alma e de todo o nosso destino. A f15 16

Moulton, 101. Ellen G. White, Desejado de todas as naes (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 346. 17 Idem, 317. 18 Pr. Acilio. Sermo pregado no IAENE. 31/08/05. 19 Kummel, 252.

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consiste na rendio Cristo e a suas exigncias a alma humana, antes uma propriedade da alma.20 A f neste ponto contrasta com as obras, como meio para conduzir a salvao em Cristo Jesus, diferente do meio apresentado pelos judeus para a salvao, que baseava-se na lei, ou seja, nas obras. Paulo em seguida apresenta a razo para recusar tal ensinamento, sua afirmao pois no h distino demonstra a razo de ser pela f somente, pois tanto judeus como gregos pecaram e so todos culpveis perante Deus. A base dessa distino feita pelos judeus sobre os gentios, estava no concerto abraamico e na lei dada no Sinai, de onde os judeus confundiram primeiramente o concerto abraamico de eleio com o concerto da salvao. Paulo demonstrou que salvao no se baseava na descendncia sangunea de Abrao, mas na f em Jesus Cristo, de onde todos seriam descendentes de Abrao (Gl 3:29). Aps o exlio babilnico, deu-se forte nfase na lei devido os resultados que o povo de Israel sofreu em conseqncia da transgresso da lei, assim buscou-se enfatizar a lei acima de tudo para no incorrer no mesmo erro, mas caiu-se em outro erro, o chamado legalismo. Destarte o povo de Israel comea a fazer distino entre os que guardavam a lei, aos olhos deles, e os que no guardavam a lei, sendo estes todos os gentios. Paulo chega a afirmar na carta aos Efsios (2:12-13) declarando:Naquele tempo, estveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos s alianas da promessa, no tendo esperana e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vs, que antes estveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.

Esta desunio entre os judeus e os gentios era to grande, que Paulo chegou a mencionar a parede de separao que podia estar se referindo provavelmente ao20

Norman R. Champlin, Novo Testamento interpretado (So Paulo: Milenium, 1980), 618.

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muro dentro do templo, pelo qual nem um gentio podia passar, mas somente os judeus. Porm, Paulo pe termo a idia judaica de distino, afirmando que todos pecaram (Rm 3:23). Portanto, no h distino quanto a necessidade assim como no existe distino quanto ao remdio.21 Em contra partida, Paulo apresenta pela primeira vez a palavra justificados dentro do contexto da graa, declarando que de modo gratuito a justificao do pecador.

O Conceito de Justificao A palavra justificao extrada aqui por Paulo, provavelmente dos atos judiciais dos tribunais da poca.22 Dentro desta passagem, a justificao forense23. Justificao o oposto de condenao, pronunciada contra um homem culpado. Semelhantemente, a justificao no uma justia tica subjetiva; o decreto de absolvio de toda culpa, e resulta em libertao da punio. Este aspecto ilustrado por Cristo na parbola do fariseu e o publicano, onde o fariseu se vangloria de seus feitos religiosos e chega a apontar os defeitos de carter do publicano, j o publicano apenas humildemente pede perdo a Deus, dos dois apenas o publicano justificado e no o orgulhoso fariseu (Lc 18:4).24 Esta justificao um ato da livre graa de Deus, na qual Ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si.25 Porm, esta justia no

21 22

W. L. Pettingill, Estdios sencillos sobre Romanos (Barcelona-Terrassa: Clie, 1984), 36. DITAT, 1118-1119. 23 O termo Forense significa que a justificao por declarao, sem as obras. Como disse Lutero somente pela f. 24 Ladd, 414. 25 Westmister, Breve Catecismo de Westmister: pergunta 33, citado em F. F. Bruce, Romanos Introduo e Comentrio (So Paulo: Vida Nova, 1997), 84.

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para todos incondicionalmente, mas somente para os que exercem a f. Esta justificao imputada: a culpa do pecador imputada a Cristo; a justia deste imputada ao pecador (Gn 15:16; Sl 32:,1,2; Is 53:4-6; Jr 23:6; Rm 5:18-19). 26 Destarte a justia atribuda ao ser humano por Deus, no iseno de pecado no sentido de uma perfeio tica, e sim iseno de pecado no sentido de que Deus no toma em conta o pecado do ser humano (2 Co 5:19). 27 Essa justificao designa uma relao com Deus e no sua qualidade tica.28 Justificar significa declarar justo; isto , tornar justo por declarar justo. um termo usado em jurisprudncia, implica em processo legal.29 Sendo, assim, um termo tirado dos tribunais de justia.30 O verbo aqui no quer dizer que algum justo, porm que foi declarado justo perante Deus. O culpado tratado como se no mais fosse culpado. O significado de justificar no grego vem de terminam em 31

. Os verbos gregos que

no significam fazer algo a uma pessoa, mas sim tratar,

considerar, ter em conta que um homem algo.32 A descrio perfeita da justificao se encontra na parbola do Filho Prdigo. O filho planeja regressar confessando haver pecado contra o cu e contra seu pai, e solicita que o empregue como servo. Mas o pai no o permitiu fazer esse requerimento. Seu pai deu as boas vindas, e no em condio de servo e sim de filho,26 27

Hendryksen, 172. Rudolf Bultmann, Teologia do Novo Testamento (So Paulo: Teolgica, 9 ed, 2004), 340. 28 Idem, 341. 29 Norman B. Harrisson, Romanos: O Evangelho da salvao (Rio de Janeiro: Emprevan, 3 ed, 1972), 56. 30 Peace Richard and Cutier Bill, Romanos: descobrindo os planos de Deus (So Paulo: Cepal, 1999), 9.31

Clifton J. Allen, O Evangelho Segundo Paulo: A Epistola aos Romanos (Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1961), 66. 32 William Barclay, El Pensamento de san Pablo (Buenos Aires: La Aurora, 1978), 76-77.

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como se nunca houvesse sado de casa.33 Este fato se torna possvel porque Jesus Cristo tornou-se nossa justia (1 Co 1:30), Deus credita ou contabiliza sua justia em nosso favor. Ela imputada a ns.34 Declarando esse raciocnio Ellen White afirmou: o carter de Cristo substituir o vosso carter e sereis aceitos diante de Deus como se no houvsseis pecado. 35 Porm a justificao tem resultados na vida do crente sendo este resultado as boas obras, ou seja, a justificao no somente imputada ao pecador , mas comunicada pela graa de Cristo. justamente o que os termos paulinos para a justificao se referem e que sero mencionados mais adiante.

A justificao e a Vindicao do Carter de Deus No verso 26, Paulo declara: Para Ele mesmo ser justo. Como Deus poderia perdoar a humanidade sem ser indulgente com o pecado? Nesta afirmao Paulo mostra que o sacrifcio de Cristo une graa e justia. Deus no rebaixa assim o padro de sua lei e conseqentemente seu prprio carter, porm, no pune o homem por seus delitos contra a lei. Na cruz, em Jesus, Deus Pai mostra a firmeza de seu carter castigando no seu filho e em conseqncia a si mesmo (Jo 10:30), os nossos pecados, e mostra a sua misericrdia por meio desse sacrifcio substitutivo. Como disse Calvino Deus justo, no propriamente um entre muitos, mas o nico que possui inerentemente toda a plenitude da justia.3633 34

A. B. Langston, Esboo de teologia sistemtica (Rio de Janeiro: JUERP, 10 ed, 1991), 228. Stanley M. Horton, Teologia sistemtica: uma perspectiva petencostal (Rio de Janeiro: CPAD, 10 ed, 1999), 372. 35 Ellen G. White, Caminho a Cristo citado por Bruno W. Steinweg em Justificao pela f (So Paulo: IAE, 1988), 16. 36 Joo Calvino, Romanos (So Paulo: Parakletos, 2 ed., 2001), 139.

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A declarao de Paulo sobre a justia de Deus no se refere apenas sobre sua justia a nosso favor, mas sua justia que vindica o seu carter na cruz do calvrio, pois ele no deixou impunes os pecados anteriormente cometidos. Assim Deus mostrou que justo, pois, justifica o homem sem comprometer Sua justia. 37 Assim Paulo coloca a justificao dentro do contexto do grande conflito entre Cristo e Satans. Pois a sua auto-justificao no apenas perante os seres humanos, mas, diante de todo o universo. Houve rebelio de Lcifer no cu (Ap 12:7-9) Lcifer tentou usurpar o trono divino (Ez 28:14-17; Is 14:12-14) atravs de mentiras (Jo 8:44; J 1:9-10) o conflito se transferiu para a terra onde Satans implantou esse desejo no corao humano (Gn 3:1-6, 15) assim foi necessrio manifestar-se a justia de Deus na pessoa de Cristo para mostrar o contraste entre o reino de satans e o reino de Deus. A manifestao da justia de Deus fez-se necessria para Deus provar que no governa por usurpao como alega Satans (Fl 2:6) mas em amor (Jo 3:16). O clmax das aes de Satans contra o governo de Deus se manifestou na traio (Jo 13:27) na priso (22:53) e morte de Jesus, o Filho de Deus. A morte de Cristo, o seu sangue, o momento de ser glorificado tanto o Filho (Jo 10:23-24) quanto o Pai (Jo 17:1) esta glria atribuda ao Filho e ao Pai resulta do ato do calvrio. Pois assim como em Ado todos morrem em Cristo todos so vivificados (Rm 5:15). No Calvrio manifesta a justia de Deus e o prncipe deste mundo expulso (Jo 12:31); todo o universo contempla o ato satnico em contraste com ato salvifico de Deus, em Cristo, na cruz.37

E. B. Cranfield, Carta aos Romanos (So Paulo: Paulinas, 1982), 80.

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Em razo de tal ato Cristo e o Pai so vindicados das falsas acusaes satnicas, a justia de Deus exaltada e o imprio das trevas destronado na cruz (Cl 2:15). Portanto a morte de Cristo a auto-justificao de Deus e a auto-condenao dos poderes das trevas. Nota-se que o sacrifcio substituinte de Cristo justo, pois, assim como justo sofrer em conseqncia do pecado de Ado justo receber justia como resultado da f na vida justa de Jesus e em seu sacrifcio e ressurreio (Rm 5:18-19). Deus foi justo quando enviou seu Filho para atender aos reclamos da lei quebrada pelo homem. S desta maneira, Ele pode justificar os que aceitam o sacrifcio feito por Ele, na pessoa de Jesus Cristo.38

38

Caldas, 12.

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CAPTULO 2 Termos Paulino para Justificao em Romanos 3:21-28

Gratuitamente a palavra derivada de (dom, ddiva,

presente), usada como advrbio tendo o sentido de como um dom, sem pagamento, grtis.39 Em outros termos sem qualquer mrito humano.40 Isso demonstra que a maneira como Deus justifica pela sua livre graa. 41 Paulo usa duas vezes a palavra graa para que se saiba que tudo vem de Deus e nada do homem.42 Gratuitamente ( ) e graa ( ) sustentam e confirmam um ao outro,

apontando a segunda palavra para a origem da justificao deles no amor imerecido de Deus.43 A palavra graa vem do grego significando um favor

imerecido de Deus. Graa Deus amando, Deus se humilhando em favor do homem, vindo resgat-los, Deus se entregando generosamente em Jesus Cristo e por intermdio dEle.44 Destarte Paulo fala da graa concretizada na cruz de Cristo.45 Aqui a graa o perdo pelo juiz divino, que atribui ao pecador a justia de Cristo.46 AWilbur Gingrich, Lexicon do Novo Testamento Grego/ Portugus ( So Paulo:Vida Nova, 1986), ver . 40 Hendryksen, 173. 41 C. E. B. Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans, 1 vols. (Edinburg-Scotland: T e T Clark LTD, 1998), 206. 42 Joo Calvino, Romanos (So Paulo: Parakletos, 2 ed., 2001), 135. 43 C. E. B. Cranfield, Carta aos Romanos (So Paulo: Paulinas, 1992), 77. 44 Stott, 127. 45 Horton, 345. 46 DITAT, 912.39

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graa de Deus um infinito amor esperando por um infinito meio -o sacrifcio de Cristo.47

A palavra

denota o carter incondicional da ao de Deus48,

manifestado no Calvrio. Paulo afirma que essa graa sobrepuja em muito a sentena de condenao que veio pelo pecado sobre os pecadores (Rm 5:15). A graa vem, segundo Paulo, no apenas pela livre vontade de Deus, mas em razo do ato de justia que Cristo realizou, a saber, sua morte expiatria na cruz (Rm 5:18).

Glria Paulo menciona que todos por pecarem carecem da glria de Deus; a justificao visa restaurar essa glria perdida. A justificao subjetiva visa, em Cristo, restaurar essa glria no homem. Paulo afirma que haver glria e honra e paz a todo aquele que fez o bem (Rm 2:10), assim caracteriza Paulo a inteno de Deus para a humanidade, mas o pecado tem impedido essa restaurao, todos tem cado em escravido do pecado e da morte. 49 importante notar que existe uma clara afirmao de Paulo de que todos esto destitudos dessa glria, isso envolve os crentes em Cristo, ento, denota-se que ela se revelar no futuro (Rm 8:21) ainda que Paulo fale deles serem transformados de glria em glria (2 Co 3:1-8); todavia no se deve empanar o carter decisivo da diferena entre estas duas glorias, que ser restaurado na futuro escatolgico (Rm 5:2; 8:18, 21, 30).50 Essa glria abre uma nova47

William R. Newell, Romans Verse-by-verse: A Classical Evangelical Commemtary (Grand Rapids, MI: Kregel, 1994), 115. 48 James D. G. Dunn, Romans 1-8. Word Biblical Commentary (Dallas, TE: Word Books, 1988), 168. 49 Anders Nygren, La Epistola a los Romanos (Buenos Aires: La aurora), 132. 50 C. E. B. Cranfield, Carta aos Romanos (So Paulo: Paulinas, 1992), 76-77.

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viso da justia de Deus: a participao na gloria de Deus.51 Essa glria tambm denota a aprovao de Deus.52 A glria de Deus, portanto no se refere apenas ao carter escatolgico onde ser revelada na plenitude, mas tambm ao seu carter a ser restaurado desde j no carter dos crentes por meio da justificao pela f em Cristo. Quando Moises orou suplicando para ver a glria de Deus, o Senhor respondeu: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti. Esta a Sua glria. 53 Essa glria entendida como luz espiritual em contraste com as trevas espirituais do pecador que no conhece a Cristo e no coloca sua f nEle. Assim declara Ellen White sobre um vislumbre dessa glria:Um raio dessa glria divina, um vislumbre da pureza de Cristo que penetre em ns, tornar visvel toda a mancha de pecado, revelando claramente os defeitos do carter humano. Torna evidentes os desejos profanos, a infidelidade do corao, a impureza da linguagem. Os atos de deslealdade do pecador, desrespeitando a lei de Deus, so colocados bem claras a sua frente e ele se sente abatido quando se v diante da influncia observadora do Esprito de Deus. O pecador fica aborrecido com ele mesmo ao contemplar o puro e perfeito carter de Cristo.54

Proposta A palavra props (Rm 3:25) vem do grego cujo

significado demonstrar publicamente, planejar, pretender, estabelecer como

51 52

Karl Kertelge, A Epstola aos Romanos (Petrpolis,RJ: Vozes, 1982), 78. Caldas 53 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 10. 54 Ibid.; 29.

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dever.55 O verbo esta na terceira pessoa do singular 2 aoristo indicativo mdio. 56 Os fatos de que, nas outras duas ocorrncias no Novo Testamento, o verbo claramente significa tencionar e que, em oito das dozes ocorrncias do Novo Testamento, o substantivo cognato significa objetivo e falam em favor de destinar. Admitimos que, pelas primeiras palavras do verso 25, Paulo pretende acentuar que Deus quem a origem da redeno levada a termo por Cristo e tambm essa redeno tem sua origem no em alguma idia nova ou impulsos repentinos de Deus, mas no Seu eterno objetivo de graa.57

O apostolo Pedro afirmou essa verdade quando declarou a

salvao da humanidade foi estabelecida antes da fundao do mundo (1 Pe 1:19). Portanto, neste contexto a traduo apropriada seria destinar em seu sangue. O tempo aoristo demonstra que o plano de Deus j estivera determinado completamente antes da criao. A voz mdia denota que Deus designou seu Filho para vindicar o Seu carter, e esse desgnio retrocede ao eterno conselho divino para demonstrar Sua justia, por ter Deus deixado impunes os pecados outrora cometidos (Rm 3:25). Nesse conselho ou decreto, Cristo Jesus foi designado para ser aquele por meio de quem o plano da salvao seria concretizado.58

Propiciao A palavra grega para propiciao s ocorre no

Novo Testamento aqui (Rm 3:25) e em Hebreus 9:5, onde traduzida por propiciatrio. 55 56

parece representar o cumprimento de tudo

DITAT, 1797. Moulton, 343. 57 Cranfield, 78. 58 Hendryksen, 174.

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que era tipificado pelo

, o propiciatrio, no santurio do

Velho Testamento. Por sua morte sacrifical, Jesus foi posto como meio de expiao, de reparao. No h talvez em nossa lngua, nem uma palavra que possa Muitos cristos sentem-se

adequadamente retratar tudo que esta implica.59

envergonhados ou at chocados com essa palavra, por que propiciao significa o ato de aplacar a ira divina, ou de tornar Deus propicio, o que pressupe que Ele fica com raiva e precisa ser apaziguado. Mas em primeiro lugar, se com

Paulo quisesse referir-se a tampa da arca ou propiciatrio, E, depois, o conceito

teria usado inevitavelmente com ela o artigo definido.

incongruente em Romanos, pois, essa carta, ao contrrio de Hebreus, no se encontra na esfera do simbolismo Levtico. Em terceiro lugar, a metfora seria confusa e at mesmo contraditria, j que ela representaria Jesus como sendo concomitantemente a vitima cujo o sangue foi derramado e aspergido, e o lugar onde se aplicaria esse sangue. Em quarto lugar, o sentimento de divida de Paulo para com Cristo

crucificado, era to profundo que ele dificilmente o teria comparado a uma pea inanimada de moblia do templo. Mas uma segunda possibilidade de traduo para uma expiao. O argumento para tal, que enquanto significa aplacar, na LXX o

que no grego secular o verbo

objeto desse verbo no Deus, mas o pecado. Portanto, o seu significado no seria propiciar Deus, mas sim expiar o pecado, isto , anular o pecado ou acabar com a profanao.59

CBASD, citado por Neufed, Don F. em A redeno no Livro de Romanos: Lio da Escola Sabatina, Jan-Mar, 1980 (Santo Andr, SP: CPB), 47.

17

A doutrina crist da propiciao completamente diferente dos conceitos supersticiosos pagos ou animistas. Tanto a necessidade como o autor e a natureza da propiciao crist so bem diferentes. Na perspectiva pag, os seres tentam, atravs de suas ofertas desprezveis, aplacar o mau humor de suas divindades enfurecidas. De acordo com a revelao crist, o prprio amor incomparvel de Deus aplacou a sua prpria ira santa ao dar o seu prprio Filho amado, que toma o nosso lugar, assumiu os nossos pecados e morreu a nossa morte. Assim fazendo, Deus mesmo entregou a si mesmo para salvar-nos dele mesmo.60 Como afirmou o apostolo Joo ...Deus...nos amou e enviou o seu filho como propriciao (Hilasmos) por nossos pecados (1 Jo 4:10). Portanto, a

declarao de Paulo pode ser tomada no sentido de que Deus quis o Cristo como um sacrifcio propiciatrio, no sentido de que Deus, j que na sua misericrdia, resolveu perdoar os homens pecadores e, sendo verdadeiramente misericordioso, queria perdo-los de modo justo, isto , sem de forma alguma tolerar o seu pecado.61 A idia que expressa o amor de Cristo por ns, enquanto ele arranca fora a reconciliao de um pai severo e relutante, perfeitamente justo, mas tambm inflexvel, uma perverso da teologia do Novo testamento. 62

Redeno

60 61

Stott, 130-131. Cranfield, 82. 62 L. Morris, New Bible Dictionary, 108. citado em Ladd, 398.

18

No grego , resgate.

resgate, libertao mediante um

uma palavra grega composta de , procedente de e , vindo de , resgate. o termo

comum nos papiros para descrever o preo dos escravos libertados. Se usava para referir-se a libertao da escravido do cativeiro ou de um mal de qualquer natureza e geralmente implicava a idia de pagamento do preo de um resgate.63 Redimir deriva de um verbo latino que significa comprar de volta resgatar.64 , isto , redeno um termo comercial

emprestado dos mercados da mesma forma que justificar um termo legal emprestado dos tribunais. No Antigo Testamento, usava-se para escravos que eram comprados para serem libertados. Dizia-se que eles haviam sido remidos.65 Redeno originalmente a palavra significa tornar a comprar um escravo ou cativo libertando-o pelo pagamento de um resgate.66 Aqui no verso tambm o

misericordioso tratamento dado por Deus a Israel prov um lastro vterotestamentrio para a linguagem de Paulo, quer pensemos na redeno de Israel da escravido egpcia (Ex. 15:13; Sl 77:14; 78:35) quer pensemos em sua posterior libertao do cativeiro babilnico (Is 41:4; 43:12). 67 Quando falamos de escravido, a idia de um resgate vem a mente. Jesus disse de si mesmo: pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas63 64

CBASD, 500. Redimir deriva de um verbo latino que significa comprar de volta resgatar. 65 John Stott, A Bblia fala hoje, (So Paulo: ABU, 2000), 128-129. 66 Harrison F. Everett, Comentrio bblico Moody, 5 Vols. (So Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983), 95, 119. 67 F. F. Bruce, Introduo e comentrio de Romanos (So Paulo: Vida, 2001), 85.

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para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10:45). A penalidade pelo pecado foi paga por Cristo e recebida e aceita por Deus Pai.68 Paulo declara assim que o ser humano era escravo destinado morte, mas Cristo resolveu pagar o preo da libertao. A questo total dessa redeno que o pecado no tem mais domnio. Os redimidos so aqueles que foram salvos para fazerem a vontade de seu mestre. porque o pecado no ter domnio sobre vs, pois, no estais debaixo da lei e sim da graa. (Rm 6:14).69 Logo o Senhor de quem o pecador comprado, pelo sangue de Cristo, se refere ao pecado.70 Cristo veio, e morreu a fim de libertar aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte (Hb 2:15). De fato, Deus Pai nos resgatou do domnio das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado (Cl 1:13).71 Segundo o apostolo Paulo, foste comprados por preo (1Co 6:20). E continua dizendo que vindo porm a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho..., para resgatar os que estavam sob a lei, afim de que recebssemos a adoo de Filhos (Gl 4:4). Paulo menciona que mediante a redeno que est em Cristo Jesus. Esta a causa maternal, a saber: o fato de que Cristo, mediante sua obedincia, satisfez o juzo do pai, e ao tomar sobre si nossa causa, livrou-nos da tirania da morte, por meio da qual fomos mantidos em cativeiro. expiatrio por ele oferecido.7268 69

Nossa culpa cancelada pelo sacrifcio

Wayne A. Grudem, Manual de teologia sistemtica (So Paulo: Vida, 2001), 279. Ladd, 407. 70 Caldas 71 Grudem, 279. 72 Calvino, 135.

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Por conseguinte, certo tambm que os que esto em Cristo, esto por ele livres de todo os poderes do antigo (era) mantida presa a humanidade.73 A palavra redeno aponta para a intercesso de Cristo diante do Pai no apenas para a crucifixo.74 Pois, atravs do Esprito Santo garantido ao crente o resgate para redundar em louvor de Sua gloria (Ef 1:14). Sendo que o Esprito s foi concedido mediante a glorificao de Cristo aps a ressurreio (At 2:1-4; Jo 7:39); a redeno est relacionada com a obra de intercesso no cu. Esta redeno ter plena consumao dentro da escatologia crist (Ef 4:30). Porm at o cumprimento pleno da escatologia crist, o crente j participa do reino do Filho (Cl 1:13). No a Jesus exclusivamente, mas ao Deus trino deve ser atribudo o louvor e gloria do livramento do pecado e suas conseqncias.75

Tolerncia Parece existir uma aparente contradio no verso 25, onde Paulo menciona que Deus deixou impunes os pecados do passado. O termo usado para impunes significa passar por alto, debaixo sem punio. 76 Estaria Paulo

afirmando que os que viveram e morreram antes da cruz de Cristo obtiveram o perdo independente do sacrifcio de Cristo? O termo usado por Paulo

[tolerncia].77 Essa tolerncia ou pacincia s foi possvel devido a sua fonte que foi o sacrifcio de Cristo planejado antes da fundao do mundo (1 Pe 1:19) baseada na73 74

Anders Nygren. LA epistola del Romanos (Buenos Aires: Aurora, 1969) Dunn, 169. 75 Hendryksen, 174. 76 Gingrich, 159. 77 Nestl-Aland, Novum Testamentum Graece (Stuttgart-Germany: Deutsche Bibelgesellschaft, 1996). O termo no se encontra no verso 25 como faz a ARA, mas no 26.

21

graa de Deus tendo sua expresso no calvrio. Os mritos da cruz estendem-se tanto para trs como para diante.78 Da as afirmaes de Paulo todos pecaram e no h distino. Destarte sugestiona apontar para o sistema sacrifical

provisrio que indicava a morte de Cristo e sua ressurreio como nica esperana de salvao. relevante notar que Paulo no usa a palavra sim [perdo] e

[passar por alto, debaixo sem punio] o que o sistema

cerimonial do antigo Testamento no Maximo poderia proporcionar.79 Essa no um meio perdo como afirma o comentrio da

Bblia de Jerusalm, pois crer assim seria atribuir obras da lei ao perfeito ato salvfico de Cristo na cruz e sua ressurreio. O que Paulo deixa claro que a salvao apenas pela f nesse ato de Cristo. Os termos paulino usados demonstram que a justificao tem vrias facetas. Paulo ilustrou com estes termos que se f izeram necessrios para responder ao conceito errado sobre a salvao que os judaizantes ensinavam no seio do cristianismo. Esses termos ajudaram os judeus cristos entenderem a salvao pela f em Cristo dentro do contexto do Antigo Testamento. Na pericope de Romanos captulo trs versos vinte um a vinte oito, Paulo aborda esses termos aprofundando assim o conceito da salvao em Cristo no s diante dos gentios , mas dos judeus tambm..

78 79

Hendryksen, 178. Dunn, 173-174.

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CAPTULO 3 Viso Judaica e Paulina sobre a Lei em Romanos 3:21-28

23

No Antigo Testamento

na LXX ocorre cerca de 430 vezes.

concentra-se mais pesadamente no Pentateuco e ocorre cerca de 60

vezes, sendo 25 em Deuteronmio e 20 em Levtico. Entre os profetas, Jeremias emprega a palavra mais freqentemente (15 vezes). O emprego freqente da palavra nos livros extra cannicos ocorre cerca de cem vezes (nos livros de Macabeus), indicando a importncia da lei. No pensamento judaico durante os ltimos dois sculos a. C., somente (ilegalidade) cerca de 150 vezes, e

(ilegal) cerca de 50 vezes, so numericamente relevantes na LXX.

Torah empregado 230 vezes como sendo equivalente a . Originalmente, torah significa uma instruo da parte de Deus, um mandamento para uma determinada situao. O plural que tambm ocorre, indica que tais Os profetas tambm davam instrues para

instrues so concretas e vlidas.

determinadas situaes (Is 1:10), assim como os sacerdotes (Os 4:6) ou um juiz (Dt 17:9). Os profetas ameaavam o julgamento contra aqueles sacerdotes e profetas que emitiam suas prprias instrues sem a terem recebido da parte de Deus (Jr 2:8). Tambm a lei podia ser um conselho de um mestre de sabedoria (Pv 13:14). Foi somente depois da reforma deuteronmista, que frases tais como a lei de Jav se generalizaram, sendo que concentravam as leis em geral, sem qualquer qualificao adicional, nem enumerao das respectivas leis individuais (2 Rs 10: 31; Ex 13:9), da mesma maneira a lei de Deus (Js 24:26), transmitida por Moiss (Js 8:31).

24

O prprio livro de Deuteronmio chamado o livro desta lei (Dt 28:62), e, depois do exlio, o Pentateuco inteiro assim chamado (Ne 8:3). A palavra Hoq traduzida cerca de doze vezes por na LXX e

aplicada a exigncia sacrifical de Deus ou o sistema legal proclamado no culto que Israel recebe como obrigao (Js 24:25). O fem. Huqqah aparece cerca de 12 vezes na LXX no A. T. sendo traduzido como na prpria LXX, tem o

significado de : (a) ordenanas da criao, leis da natureza; (b) a ordenana da pscoa (Ex 12:43); (c) estatutos no que diz respeito vida de todos os dias (Lv 19:19); (d) ordenanas sacrificais. No judasmo dos tempos de Jesus, se empregava no sentido

absoluto: a lei era coisa absoluta em si mesma e independente da aliana. Israel no considerava sua posio especial como sendo resultado da autorizada revelao vinda de Jav no decurso da sua histria; pelo contrrio, considerava que esta dignidade baseava-se na obedincia daqueles que eram justos conforme os termos da lei. Em outras palavras, a lei assumia um papel dominante como mediador entre Deus e os homens, e fica personificada como intermediaria com hiptese prpria. No judasmo dos tempos de Jesus, o estudo e a guarda da torah era considerado o caminho justia e o caminho vida (Lc 10:28). Paulo empregava para o Pentateuco (Rm 3:21; Gl 4:21) e para

a totalidade das Escrituras (Rm 3:19), mas especialmente para a lei mosaica, e o declogo em particular (Rm 2:14, 17).8080

Colin Bronw, Lothar Coenen, Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento (DITAT), (So Paulo: Vida Nova, 2000), 1154-1158.

25

Paulo se referiu a lei como Pentateuco, ou o Declogo e ainda como todo o Antigo Testamento.81

Ento se pode entender a declarao de Paulo nesse contexto

sobre a lei, como todo o Pentateuco incluindo o Declogo. Nisto, mostra-se a viso judaica de salvao a justia para os judeus diferia da justia no conceito divino. No judasmo a justia veio a ser definida amplamente como termos de conformidade com a torah como exemplificado pela tradio oral dos escribas. Os rabinos no

acreditavam que Deus exige uma obedincia impecvel a lei; isto excedia a capacidade humana. Os rabinos reconheciam dois impulsos nos homens: um impulso em direo a Deus (Yetzer Hatob) e um impulso em direo ao mal (Yetzer Hora). O homem justo era o que nutria o bom impulso e continha o impulso mal de modo que, no fim, os bons feitos contrapesassem os feitos maus. A justia de Deus foi concedida para recompensar os homens segundo os seus feitos...o judasmo no hesitava quanto a reconhecer os mritos das boas obras ou exortar os homens a alcan-las e a acumular um estoque reservado para o futuro.82 As vezes a posio do homem, diante de Deus, representada como uma espcie de conta corrente, montada pelo Todo-poderoso, que diz respeito a cada israelita. As colunas de credito e de debito, nesta conta divina, so controladas diariamente. Se o saldo maior na coluna de credito, o homem justificado perante Deus. Se o saldo devedor for maior, ele condenado. Logo, se diz que um homem julgado segundo o seu balano. As coisas que, acima de tudo, so creditadas na81

Ozeas Caldas Moura, Apostila de Romanos, 2005. Para mais informaes sobre a lei como: Pentateuco, regras, instrues, deciso particular. no conceito judaico ver Vaux, R. De, Instituies de Israel no Antigo Testamento (So Paulo: Vida Nova, 2004), 178. 82 G. F. More, Judaism. citado por George E. Ladd, Teologia do Novo Testamento (So Paulo: Hagnos, 2001), 412.

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conta do homem so o estudo da Torah, os atos de caridade e os atos de misericrdia.83 Mas agora, [ a parte de], sem a lei ou a parte dela se

manifesta a justia de Deus, o que s pode significar que ela no era, e nem pode ser obtida pela obedincia humana a lei de Deus. Destarte era uma justia a parte das obras da lei.84 Pois nem um ser humano justo (Rm 3:10), todos pecaram (Rm 3:23), e o salrio do pecado a morte (Rm 6:23). Diferente do pensamento judaico legalista de salvao que cria que aquele que permanece fiel a lei de Deus alcanaria a beno da vida eterna, como dizia o Midrash: o homem justo e piedoso sair deste mundo conforme entrou; assim como foi puro quando veio ao mundo, o ser at o ultimo dia de sua vida; chegou ao mundo sem pecado e sair dele igualmente isento.85

Deste modo o homem acreditava-se

capaz de atingir a Deus por sua atividade pessoal e de obrig-lo a salv-lo. Era colocar-se em p de igualdade com Deus.86 A nfase era dada somente na lei. Devido a declarao dos profetas que a desobedincia traria maldio e a obedincia a beno.87 Porm a justia de Deus sem o auxilio da lei. A lei leva o sentido de obras. Conseqentemente a justia de Deus a nica esperana para o pecador, pois esta justia a iniciativa salvadora que Ele tomou a fim de conceder aos pecadores a condio de justos aos olhos dEle.88 Destarte Jesus Cristo a justia de Deus. Essa83 84

W. O. E. Osterley, The Religion and Whorship of Synagogue, 249. citado por Ladd. William Hendryksen, Romanos (So Paulo: Cultura Crist, 2001) 85 Matzliah Meir Melamed, Torah, (So Paulo: Sefer, 2001), 581. 86 L.Cerfaux, (So Paulo: Teologica, 2003), 452. 87 Luiz Nunes, Aula sobre soterologia para a turma do quarto ano do seminario Adventista Latino Americano de teologia-BA, 08/08/05. 88 John Stott, Romanos (So Paulo: ABU, 2000), 123.

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justia desdobrada por Paulo em Romanos. A prpria lei e os profetas testemunham desta justia salvadora em favor do homem. Paulo usa duas das trs partes do A. T. da forma como era dividido pelos judeus: A Lei. os Profetas e os Salmos. Ele usa para repetir a aplicao que fizera no comeo da epistola ao afirmar que Jesus havia sido prometido por meio dos profetas (1:2), mostrando que todo o Antigo Testamento testemunham de Cristo a justia de Deus. Paulo igualmente mostra uma das finalidades da lei que mostrar o salvador em contraste com a finalidade legalista que os judeus creditaram ela. O termo est na voz passiva o que indica

que a justia de Deus sofre a ao de ser testemunhada pela lei, fazendo assim aluso em que o centro da mensagem mosaica e dos profetas foi Cristo e este crucificado. O tempo presente do verbo denota que a pregao

atual e presente de Paulo Cristo e que as escrituras no s testemunham de Cristo mas continuamente testemunham dEle nas suas linhas.

O Conceito de Pecado no Antigo Testamento O conceito mais profundo de pecado o qual o apostolo Joo concebe: todo aquele que comete pecado tambm transgride a lei, pois, o pecado e a transgresso da lei. (1Jo 3:4). Como denota esse texto o pecado no simplesmente a quebra da lei como demonstra a sentena todo aquele que comete pecado

28

tambm... O uso do termo tambm denota que a transgresso resultado desse estado. Esse estado a situao do ser humano alienado de Deus. Paulo declara que todos pecaram para uma melhor compreenso da universalidade do pecado no carter humano se faz necessrio entender o conceito do pecado. Na lngua hebraica e na grega existem diversas palavras para especificar o ato de pecar: Heti, hata, hatta, hatta`t - errar o alvo ou o caminho (Pv 8, 36. 19, 2); falha em viver segundo as expectativas (Gn 40, 1); culpa (Ex 5, 16); rompimento relacional (Jz 11, 27); desrespeitar os direitos de outrem (Gn 20, 9); quebrantamento de uma lei absoluta, awa desviar ou torcer o padro, pesha revolta contra o padro, asham pecado e a culpa resultante dele, shegaga pecado por ignorncia, shaga extraviar-se (vinho ou bebida forte) ainda incapacidade de rejeitar o que e errado. resha maldade (Gn 18, 23).

O Conceito de Pecado em Romanos No grego as expresses para pecado so as seguintes: Retema vive a quem do poder espiritual que podia ter, agnoia ignorncia culposa, vive se preocupando com coisas no espirituais; ramartia desejo (no pecar por no ter a oportunidade ou cobiar), errar o alvo (Rm 3, 9); ofeleima falha do dever (Rm 4, 4); parabasis fanatismo (Rm 4, 15); paraptoma apostasia (Rm 5, 15); parakoe negar-se a ouvir a voz de Deus na conscincia (Rm 5, 19); agnomia ignorncia culposa (no saber o que tinha que saber) (Rm 10, 3); retema fraqueza, escassez (Rm 11, 12) (em receber o Esprito). 29

Compreendendo detalhadamente o pecado, v-se que os seres humanos esto mergulhado no abismo do mesmo. Analisando essas palavras pode-se ter um conceito mais amplo de pecado na Bblia, e estar ciente que ningum escapa ao seu poder, assim pode-se entender que quando Paulo afirmou que todos pecaram (Rm 3:23) est subtendido que todos necessitavam da salvao de Deus que vem pela pela f em Cristo.

Aparente Contradio entre Paulo e Tiago Paulo conclui essa pericope no verso 28 de que o homem justificado pela f sem as obras da lei. Enquanto que Tiago afirma que uma pessoa justificada pelas obras e no somente por f somente (Tg 2:24). Tiago esta fazendo oposio a todo tipo de cristianismo que conduz a uma ortodoxia estril e inoperante. Alguns de seus leitores por no compreenderem Paulo direito estavam limitando a f a uma profisso verbal (2:19), e as boas intenes vazias e insinceras 92:15-16). Esta f que uma pessoa afirma possuir morta (v. 17, 26). Tiago v a f como um compromisso firme e inabalvel com Deus e Cristo (2:1). Neste ponto Tiago e Paulo esto de pleno acordo. Conforme Paulo afirma em Glatas 5:6: a f atua pelo amor. Paulo e Tiago esto combatendo problemas opostos nas declaraes de Paulo sobre justificao, em Glatas e Romanos, ele esta se opondo a uma tendncia judaica de confiar na obedincia lei para salvao. Contra uma super-nfase nas obras. Por outro lado Tiago est combatendo uma sub-nfase nas obras, uma atitude

30

quietista que tornava a f uma mera ortodoxia doutrinaria. Contra esta perverso da f, Tiago forado a afirmar a importncia das obras. Os contextos que Paulo e Tiago falam sobre obras so diferentes. Quando Paulo afirma que uma pessoa no pode ser justificada com base nas obras da lei, ele est claramente se referindo as obras que precedem a converso, mas, as obras em Tiago 2 so aquelas que seguem a converso. obvio que as obras realizadas antes de uma pessoa ter f em Cristo e as obras feitas como resultado desta f no poderia ter o mesmo papel na salvao. As obras em Paulo tem significado diferente das obras em Tiago. Paulo usa o verbo grego para descrever a atividade dinmica por meio da qual o

pecador recebe graciosamente uma nova condio. Esta condio, a de ser justo parente Deus, o juiz de toda a terra, baseia-se na unio do pecador com Cristo e assegurada atravs da f. Em outras palavras, para Paulo, um termo

que denota a transferncia inicial de uma pessoa do reino do pecado e da morte para o reino da santidade e da vida. Pelo fato de se tratar exatamente do pecador, o mpio (4:5), aquele que no tem nenhuma justia pessoal para oferecer, aquele que justificado, as obras no podem ter nenhum papel na efetivao desta transferncia. Enquanto isso tem um significado diferente em Tiago, o

qual recebe uma boa confirmao no Antigo Testamento, no evangelho de Mateus e em muitas fontes judaicas. Nestas fontes, geralmente descreve um

veredicto que se baseia nos fatos reais do caso; um juiz declara que uma pessoa

31

justa porque aquela pessoa provou, de fato, ser justa ou inocente. Alm disso, o veredicto da justificao sempre ligado ao ultimo julgamento. Uma vez que Tiago est se dirigindo de forma to clara a um contexto judaico, mostrando tantos paralelos com o ensino de Jesus em Mateus. Seria previsvel que ele usasse o termo justificar com este significado. A confirmao disto vem do elo entre justificao em 2:21-25 e salvao em 2:14, onde salvao relacionada com o veredicto pronunciado no ltimo julgamento. Ento o que Tiago est dizendo que justificao final ou ulterior, o veredicto pronunciado sobre nossa vida no ltimo dia, leva em conta as obras que, inevitavelmente, devem ser produzidas pela verdadeira f, a diferena entre Paulo e Tiago esta na terminologia usada para descrever este veredicto. Numa terminologia teolgica Paulo est falando da imputao de justia nesse tribunal; Tiago da declarao de justia nesse tribunal.89 Diante desse aparente confronto entre Tiago e Paulo, pode-se entender que quando Paulo afirma que o homem justificado pela f independente das obras da lei (Rm 3:28), ele mostra que a justificao forensica e no inclui as obras como complemento, ou seja, como meio de salvao. Assim Romanos 3:21-28 no pode ser invalidado por Tiago, porque Paulo fala da justificao pela f em Cristo e Tiago do resultado dessa justificao.

Concluso

89

Douglas J. Moo, Tiago: introduo e comentrio (So Paulo: Vida Nova, 1990), 44-47.

32

A justia de Deus na epstola aos Romanos se revela em favor do pecador, no contra ele. Os judeus tentaram buscar essa justia na lei, mas no encontraram, pois esta justia somente est em Jesus Cristo, em seus mritos.o meio para se obter essa justia somente pela f, no uma f intelectual apenas mas, uma entrega total a Deus. Esta justia foi ilustrada por diversos termos paulinos como a graa, a propiciao e a redeno. O conceito de pecado abrangente e envolve todo o ser da pessoa humana, pois no se limita apenas a uma ao, mas a o estado da alma humana. Esse conceito mostra que todos necessitam da salvao pela f em Cristo. A justia de Deus no foi somente em favor do homem, mas em favor do governo e do carter de Deus. Foi necessrio para revelar o carter rebelde de Satans em contraste com a justia e graa de Deus. Paulo no se contradiz com Tiago, porque o problema apresentado em Tiago difere do problema apresentado na epstola aos Romanos. Portanto, a mensagem de Paulo aos Romanos traz a certeza que a igreja tanto precisa ter, a saber, Cristo Justia nossa, justia esta recebida somente pela f em sua pessoa. Esta pesquisa tentou explicar o assunto da justificao pela f em Cristo no contexto de Romanos 3:21-28, como uma passagem importantssima para o contexto atual do cristianismo. Que esta pesquisa possa ser de vital importncia para a f dos cristos desta era escatolgica, podendo assim aprofundar mais sua f em Cristo como salvador, pois somente em sua justia est a segurana de vida eterna.

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APNDICE Breve histrico da doutrina da justificao pela f na igreja Adventista do Stimo Dia No se pode deixar de reconhecer que nos primeiros anos do movimento adventista sabatista havia algum interesse na doutrina da justificao pela f, contudo esse interesse era esparso e ocasional. Por outro lado, a nfase nas doutrinas

distintivas dos adventistas sabatistas (santurio, lei de deus, sbado, imortalidade condicional da alma, don de profecia e segundo advento) e os constantes debates contra seus opositores os levaram a desenvolver uma religio rida e legalista.90 Em 1854, J. H. Waggoner declarou em seu livro sobre os dez mandamentos que a palavra lei quando usada nas epistolas de Tiago, em Romanos ou Glatas, faz referencia a lei moral de Deus, aos dez mandamentos.91

A nica reao

historicamente comprovavel ao contedo desse livro e que foi removido do mercado por Tiago White em 1856.92 Essa atitude, aliada a nfase nomista desses primeiros anos, levou a crena comum de que a lei em Glatas era a lei cerimonial. Tal conceito perdurou, por aproximadamente 30 anos entre os adventistas sabatistas, como sendo um marco da f dos pioneiros. Foi em razo desse ponto de vista, cristalizado como doutrina histrica do adventismo sabatista, que os conflitos de Minneapolis se exacerbaram.

90

Ellen G. White, Testimonies for the church, 3:212-221; Sapalding, 2:228-289, citado por Luiz Nunes, Crise na Igreja Apostolica e na Igreja Adventista do Setimo Dia (Engenheiro Coelho,SP: Imprensa Universitria Adventista, 2002), 80. 91 J. H. Waggoner, The law of God: an examination of the testimony of both testaments, (Rochester, NY: Advent Review, 1854) citado em Nunes, 81. 92 George R. Knight, Angry Saints: tensions and possibilities in the Adventist struggle over righteousness by faith (Whashington, DC: Review and Herald, 1989), 23. citado por Nunes.

34

Na dcada de 1860, Albert Stone disse que o adventismo de seus dias falava muito dos dez mandamentos...mas tinha pouco de Cristo em seus coraes. 93 Embora declaraes sobre Jesus Cristo, como a fonte da justificao, aparecessem escassamente, a nfase estava na perpetuidade da lei, no esforo pessoal e nas obras.94 Sendo, devido a isso, acusados por seus opositores como legalistas e judaizantes.95 Desde 1856 ate os fins de 1880, Ellen White advertiu os adventistas sabatistas inmeras vezes de seu estado laodiceiano, de sua religiosidade vazia e da necessidade de arrependimento e contrio.96 Dos ministros ela disse que seu corao era carnal, destitudo de verdadeira bondade, e que alguns deles nunca se haviam convertido. Eles eram como pastores perambulando com seus rebanhos nas ridas montanhas de Gilboa.97 Por sua vez a declarao das crenas fundamentais de 1872, redigidas por Uriah Smith deixavam a impresso que os adventistas sabatistas eram legalistas.98 Comentando esse primeiro corpo de doutrinas, Schwartz diz que a nfase parecia estar no que o homem deve fazer antes do que naquilo que Cristo fez e faria em e atravs de Seus seguidores.99 As realizaes eclesisticas dos primeiros 40 anos,

93

Albert Stone, letter from Albert Stone (Review and Herald, 29 de Janeiro de 1857), 101. citado por Nunes. 94 Spalding, 2:281-288, Arnold V. Wallenkampf, What every Adventist should know about 1888, (Washington, DC: Review and herald, 1988), citado por Nunes. 95 Schwartz. Light bearers to the remnant, 183. citado por Nunes. 96 Ellen G. White, Testemonies for the church, 5 Vols. , 219-220. citado por Nunes. 97 --------. Obreiros evanglicos, (Santo Andr, SP: Casa Publicadora Brasileira), 165. citado em Nunes. 98 Uriah Smith, Declaration of the fundamental principles: taught and praticed by the seventh-day Adventist, (Battle Creek, MI: Steam Press of the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1872) citado por Nunes. 99 Schwartz, citado por Nunes.

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embora boas em si mesmas, tambm ajudaram a desviar o foco da direo de Cristo para as consecues humanas.

A Conferencia Geral de Minneapolis e a Doutrina da Justificao pela F Nos anos que se seguiram (1884-1886) estabeleceu-se uma discusso acalorada sobre o tema da lei em Glatas 3 entre A. T. Jones, E. J. Waggoner, de um lado, e George I. Butler e Uriah Smith, do outro, atravs de artigos publicados no the sings of the times e na Review and Herald respectivamente.100 Waggoner escreveu um opsculo entitulado the gospel in the book of Galatians, que tratava do tema da justificao pela f e sua relao com a lei. Este material era uma resposta obra the law in Galatians anteriormente escrita pelo Pr. Butler, argumentando que a palavra lei em Glatas referia-se a lei cerimonial. Durante a conferncia geral de Minneapolis (1888), o tema da expiao em relao com a lei de Deus foi apresentado publicamente por E. J. Waggoner, enquanto o Pr. Jones discorreu sobre a doutrina da justificao pela f.101 A nica tentativa de replica foi feita pelo Pr. J. H. Morrison, presidente da associao de Iowa, procurando afirmar a crena da justificao pela f era uma verdade crida h muitos anos pelos adventistas do stimo dia. Jones e Waggoner se levantaram sem nada haverem combinado anteriormente e leram dezesseis passagens da Escritura que enfatizavam que a misericrdia de Deus recebida unicamente pela f em Jesus Cristo.102100 101

Knight, Anticipating the advent, 72-73. citado Nunes, 82. Ellen G. White, Testemunhos para ministros (Santo Andr, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), introduo histrica, citado em Nunes. 102 Froom, Movement of destiny, 247. citado por Nunes, 83.

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Os delegados dividiram-se em trs grupos.103 Alguns abrigaram um esprito polemico, zombeteiro e desrespeitoso para com Jones, Waggoner e Ellen White.104 De acordo com E. White seu testemunho foi ignorado e nunca em sua vida tinha sido tratada como naquela conferencia, este era o capitulo mais triste da historia dos crentes na verdade presente.105 Outros declararam que sua verdadeira experincia crist comeara naqueles dias. Um terceiro grupo permaneceu indiferente face a tantos conflitos e duvidas. Diante da conturbao que prevaleceu em diversos momentos da reunio os delegados no tomaram nenhuma deciso sobre o tema da justificao pela f. Tal situao foi conseqncia do esprito reinante na assemblia, que foi traduzido nas palavras de Ellen White comentadas por Arthur White : Satans fez sua obra com algum sucesso. Havia sentimentos em desarmonia e diviso. Havia muito cime e ruins suspeitas. santificados.106 A indiferena religiosa tambm caracterizou os adventistas nas primeiras dcadas da sculo XX, apesar de nesse perodo haver ampla literatura sobre a justificao recebida pela f em Cristo. A. G. Daniells, preocupado com a situao, fez desse tema o assunto principal dos seus sermes em 1922. E na conferncia geral de 1926 continuou discorrendo sobre o mesmo assunto. Neste ano publicou seu livro Christ Our Righteousness. Os anos posteriores evidenciaram o mesmo interesse dos lideres, porm Bruno Steinweg declara que havia um movimento pendular na103 104

Havia muitos discursos, insinuaes e comentrios no

A. V. Olson, 41-42. citado por Nunes. Ellen G. White, Mensagens escolhidas, 3 Vols. 173-176. citado por Nunes. 105 --------. Looking back at Minneapolis: manuscrito 24, 1888, CPEGW-BR. Citado por Nunes. 106 Arthur White, (Washington,D C: Review and Herald, 1985), 3: 398-403.

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apresentao do tema. A nfase por vezes recaia na valorizao da salvao pela graa atravs da f em detrimento do crescimento moral, e em outras ocasies o padro moral da vida crist era exaltado em prejuzo da gratuita justificao de Cristo recebida pela f.107 A segunda fase da crise soteriologica iniciou-se quando os pastores R. J. Wieland e D. K. Short julgaram, atravs do livro 1888 re-examined, ser a igreja Adventista do Stimo dia culpada de pecado corporativo, em razo da denominao haver rejeitado a mensagem da justificao pela f de Minneapolis. Short e Wieland plantaram assim um esprito de discrdia nos crculos adventistas. Por outro lado, os desentendimentos de Robert Brinsmead com a Igreja comearam em torno de 1958 e o movimento Awakening, iniciado por ele na Austrlia, foi trazido para os Estados Unidos em 1961. Seu ensinamento heterodoxo nesse perodo era de natureza perfeccionista, alegando que a erradicao do pecado na vida individual deve anteceder o derramamento da chuva serdia.108 A partir de 1970, contudo, Brismend assume uma nova postura teolgica ensinando que a justificao pela f e unicamente uma declarao legal de Deus em Cristo pelo pecador. Qualquer conceito que relacionasse a justificao pela f com algum aspecto da santificao era classificada como influencia da heresia papal. Neste perodo, Kenneth Wood procurou estabelecer atravs da Review and Herald que a santificao era um aspecto da justia pela f.109 C. Meryn Maxwell, em107 108

Steinweg, 38-71, 88. citado por Nunes, 84. Edward Heppenstall, Syllabus for bible doctrines (Arlington, CA: La Sierra College, 1955), 1: 46. citado por Nunes. 109 Kenneth Wood, Jesus made the way palin in parables. Art, 16 de maio de 1974, p. 14-15, 24. citado por Nunes.

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seu artigo Christ and Minneapolis 1888, diz que justia pela f muito mais do que perdo do pecado; tambm vitria sobre o pecado. 110 A resposta de Brismead foi pronta, acusando a igreja de romanismo, enquanto Desmond Ford declarou que esta edio da Review era hertica. Para resolver o impasse estabeleceu-se um encontro em Palmdale, Califrnia, em abril de 1976, entre telogos australianos e outros da denominao. Apesar do respeito mutuo entre esses eruditos, a tentativa de se estabelecer uma unidade teolgica fracassou.111 Fundamentado no mesmo principio da justificao unicamente forense, Geoffrey J. Paxton (pastor anglicano) teve sua dissertao de mestrado publicada em 1977, que exerceu forte influencia sobre o adventismo do stimo dia dessa poca, fortalecendo o esprito de controvrsia.112 Esses fatores contriburam para o

recrusdecimento da crise soteriologica no final da dcada de 1970. Os diferentes pontos de vista sobre soteriologia nos anos de 1980 e 1990 fortaleceram ainda mais o ambiente de discrdia nos crculos adventistas. Hebert Douglas, Ralph Larson e Jack Sequeira repetem a nfase na santificao e na perfeio do crente. J Morris Venden v a justifcacao pela f com nfase no relacionamento entre a criatura e o criador. A teologia de Ford, por sua vez,

compreende a expresso justia pela f como aplicada unicamente justificao, enfatizando que a santificao nunca se torna uma parte da base da salvao.113 A.

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Mervyn C. Maxwell, Christ and Minneapolis 1888. art, 16 de maio de 1974, 16-18. citado por Nunes. 111 Leroy A. Moore, The theology crisis: a study in righteousness by faith (Amarillo,TX: Southwestern Publishing Association, 1980), 3-9. citado por Nunes. 112 Geoffrey. The Shaking of adventist (Wimington, DE: Zenith Publisher, 1977), citado por Nunes 85. 113 John Reiber, Three current views on rightouness by faith in the S. D. A. church. Citado por Nunes.

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Graham Maxwell e George Knight explicam o processo da justificao como uma transao entre a justia e o amor, para poder oferecer misericrdia.114 Pode-se falar hoje, de acordo com Alberto Timm, em pelo menos cinco tendncias soteriologicas diferentes entre os Adventistas: (1) nfase na justificao e santificao, (2) nfase na justificao (forensica), (3) nfase na santificao e perfeio, (4) nfase no relacionamento e (5) nfase nos sentimentos humanos.115 As melhores tentativas para estabelecer harmonia nesta rea no tem conseguido seu objetivo. Aquilo que mais deveria unir o corpo de Cristo a compreenso da salvao, tem causado desunio entre as pessoas envolvidas. Confuso e o dilema que vive o ensinamento da soterologia na igreja Adventista do stimo Dia.116 A harmonia

conseguida na Igreja Apostlica foi seriamente ameaada na primeira fase da crise soteriologica adventista, ocasionando graves prejuzos a misso. J na sua segunda fase, apesar das diferentes linhas soteriologicas, no h no adventismo uma tendncia ao divisionismo por causa desse tema, pois existe harmonia entre os aspectos fundamentais dessa doutrina, como pode ser visto na obra Nisto cremos.

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Martin Weber, Whos got the Truth? Making sense out of five different Adventist gospels (Silver Spring, MD: Home Study International Press, 1994), citado por Nunes. 115 Alberto Timm, A partical Chronological/topical bibliography related to the Seventh-day Adventist doctrine of justification by faith. Citado por Nunes, 127. 116 Weber, 5-6. citado por Nunes.

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