TCC LACTATO MÍNIMO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SULCENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
WILLIAN EIJI MIYAGI
INFLUÊNCIA DA SELEÇÃO DOS ESTÁGIOS INCREMENTAIS SOBRE A INTENSIDADE DE LACTATO MÍNIMO:
UM ESTUDO PILOTO
Campo Grande, MS.Dezembro de 2013
WILLIAN EIJI MIYAGI
INFLUÊNCIA DA SELEÇÃO DOS ESTÁGIOS INCREMENTAIS SOBRE A INTENSIDADE DE LACTATO MÍNIMO:
UM ESTUDO PILOTO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Disciplina de Seminário de monografia II, com orientação do Prof. Dr. Alessandro Moura Zagatto e coorientação do Prof. Dr. Fernando Cesar de Carvalho Moraes, ao curso de Educação Física do Centro de Ciência Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Campo Grande, MS.Dezembro de 2013
WILLIAN EIJI MIYAGI
INFLUÊNCIA DA SELEÇÃO DOS ESTÁGIOS INCREMENTAIS SOBRE A INTENSIDADE DE LACTATO MÍNIMO:
UM ESTUDO PILOTO
Esta monografia será julgada e aprovada para obtenção do Grau de Licenciado em
Educação Física no Curso de Educação Física, Centro de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Campo Grande – MS, 6 de Dezembro de 2013.
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
_____________________________________________________
Prof. Dr. Alessandro Moura Zagatto
(orientador)
_____________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Cesar de Carvalho Moraes
(coorientador)
_____________________________________________________
Prof. Ms. Tamir Freitas Fagundes
_____________________________________________________
Prof. Ms. Rafael Presotto Vicente Cruz
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a toda minha família pelo apoio e incentivo, principalmente
meus pais, Sidnei e Cláudia, por sempre estarem ao meu lado nos momentos bons e ruins,
assim com meus irmãos, Danielle, Leonardo, Adriano, Guilherme e minhas tias e avós.
Aos meus amigos que sempre estiveram comigo nos momentos de descontração e que
me ajudaram com conselhos e também com palavras para dar força: Família Kohatsu, Edson,
Osmar, Pezão, Pato, pessoal da feira, Bolacha, Elvis, Wesley, Biru, Ota, Renata, Paulinha,
Adryelle e tantos outros.
À tia Jane pelas oportunidades, pela força, pelo apoio e pelas palavras de sabedoria em
um dos momentos mais difíceis nesse período de formação.
Aos voluntários da pesquisa pela paciência e compreensão para realizar todos os
procedimentos do estudo, que não seria possível sem eles.
Ao pessoal do laboratório pela ajuda em todo o estudo, desde a coleta de dados à
discussão dos artigos científicos e todo o trabalho dentro do laboratório, Priscilla, Jorge e
Pastel. Aprendi muito com todos vocês e espero aprender ainda mais.
Ao Professor Alessandro pela oportunidade de participar das atividades do laboratório,
pela imensa contribuição na minha formação profissional e pessoal e por acreditar e confiar
em mim como aluno orientando.
Aos professores da graduação: Ao Professor Tamir que sempre se mostrou disponível
a me ajudar, na estatística, nos treinos de atletismo e diversos assuntos. Ao Professor
Fernando que sempre me ajudou e contribuiu muito como orientador de estágio, aos
conselhos sobre a profissão e também na vida pessoal.
Enfim, muito obrigado a todos!
RESUMO
MIYAGI, W. E. Influência da seleção dos estágios incrementais sobre a intensidade de lactato mínimo: Um estudo piloto. 2013. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) – Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, 2013.
Os objetivos foram verificar a influência da seleção de estágios da fase incremental e o uso do
lactato pico após indução hiperlactacidêmica na determinação da intensidade de lactato
mínimo (iLACmin). Doze universitários moderadamente ativos (23±5 anos, 78,3±14,1 kg,
175,3±5,1 cm) foram submetidos a um teste incremental máximo (início a 70 W e
incrementos de 17,5 W a cada 2 minutos) para determinação do ponto de compensação
respiratório (PCR) e um teste de lactato mínimo (indução com Wingate, fase incremental
iniciada a 30 W abaixo do PCR e incrementos de 10 W a cada 3 minutos) em cicloergômetro.
A iLACmin foi determinada utilizando ajuste polinomial de segunda ordem aplicando cinco
seleções de estágios da fase incremental: 1) Utilizando todos os estágios obtidos (iLACminP);
2) Utilizando todos os estágios antes e dois após à iLACminP (iLACminA); 3) Utilizando dois
estágios antes e todos após à iLACminP (iLACminB); 4) Utilizando o maior e mesmo número
possível de estágios anteriores e posteriores à iLACminP (iLACminI); 5) Utilizando todos os
estágios e o lactato pico após indução (iLACminD). Não foram encontradas diferenças entre
iLACminP (138,2±30,2 W), iLACminA (139,1±29,1 W), iLACminB (135,3±14,2 W),
iLACminI (138,6±20,5 W), iLACmiD (136,7±28,5 W) e verificou-se alta concordância entre
essas intensidades e iLACminP. O consumo de oxigênio, frequência cardíaca, percepção
subjetiva de esforço e lactato nessas intensidades não diferiram e foram fortemente
correlacionadas. Entretanto, a iLACminB apresentou o menor índice de sucesso (66,7%).
Conclui-se que a seleção de estágios não influenciou na determinação da iLACmin, mas
alterou o índice de sucesso.
Palavras-chave: Relação lactato-intensidade. Modelo matemático. Capacidade aeróbia. Lactacidemia.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do SulVO2MAX Consumo máximo de oxigênioLAn Limiar anaeróbioMFEL Máxima fase estável de lactatoLACmin Lactato mínimoiMFEL Intensidade de máxima fase estável de lactato[lac] Concentrações sanguíneas de lactatoiLACmin Intensidade de Lactato mínimoR2 Coeficiente de determinaçãoPSE Percepção subjetiva de esforçoVO2 Consumo de oxigênioFC Frequência CardíacavVO2MAX Velocidade associada ao consumo máximo de oxigênioLMTA30 Teste de lactato mínimo (recuperação ativa a 30% da vVO2MAX)LMTA50 Teste de lactato mínimo (recuperação ativa a 50% da vVO2MAX)WMAX Potência máxima atingida no teste incrementalΔlac/Δt Variação das concentrações de lactato em relação à variação do tempoH+ Íon hidrogênioMCTs Transportadores monocarboxílicosVm3000 Velocidade média em 3000 metrosPCR Ponto de compensação respiratóriaVCO2 Produção de dióxido de carbonoVE Ventilação pulmonarNaF Fluoreto de sódioVE/VO2 Equivalente respiratório de oxigênioVE/VCO2 Equivalente respiratório de dióxido de carbonoiLACminP iLACmin utilizando todos os estágios obtidos no testeiLACminA iLACmin determinada utilizando todos os estágios antes e apenas dois estágios
após a iLACminP
iLACminB iLACmin determinada utilizando apenas dois estágios antes e todos os estágios após a iLACminP até exaustão
iLACminI iLACmin determinada utilizando o maior e mesmo número possível de estágios antes e após a iLACminP
iLACminD iLACmin utilizando todos os pontos e também o valor da concentração pico de lactato obtido após indução hiperlactacidêmica
IC95% Intervalos de confiança de 95%ES Tamanho do efeitoLL Limiar de lactato
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2. JUSTIFICATIVA........................................................................................................9
3. OBJETIVOS.............................................................................................................11
3.1 Objetivo geral......................................................................................................11
3.2 Objetivos específicos..........................................................................................11
4. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................12
4.1 Teste de Lactato Mínimo....................................................................................12
4.2 Indução à hiperlactacidemia................................................................................13
4.3 Recuperação após a indução à hiperlactacidemia...............................................13
4.4 Teste incremental................................................................................................14
Intensidade Inicial.................................................................................................14
Duração dos estágios.............................................................................................16
Quantidade de estágios..........................................................................................17
4.5 Determinação da iLACmin.....................................................................................18
Inclusão da [lac] pico da indução..........................................................................19
5. METODOLOGIA.....................................................................................................20
Participantes..............................................................................................................20
Procedimentos experimentais....................................................................................20
Teste incremental máximo........................................................................................21
Teste de lactato mínimo............................................................................................21
Análise estatística......................................................................................................22
6. RESULTADOS.........................................................................................................23
7. DISCUSSÃO............................................................................................................26
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................29
Limitações do estudo................................................................................................29
Aplicações Práticas...................................................................................................29
Conclusão..................................................................................................................29
9. REFERÊNCIAS........................................................................................................30
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10. ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.........34
1. INTRODUÇÃO
O desempenho em diversas modalidades esportivas está diretamente relacionado aos
níveis de aptidão aeróbia, que engloba os parâmetros de potência e capacidade aeróbias,
representados respectivamente pelo consumo máximo de oxigênio (VO2MAX) e limiar
anaeróbio (LAn) (JONES; DOUST, 1998; MCINTOSH; ESAU; SVEDAHL, 2002). Em
virtude de sua relevância no ambiente esportivo, a determinação do LAn foi investigado por
meio de diferentes propostas metodológicas. A avaliação deste parâmetro já foi descrita
utilizando protocolos que mensuraram as respostas ventilatórias (WASSERMAN et al., 1973),
lactacidêmicas (HECK et al., 1985; STEGMANN; KINDERMANN; SCHNABEL, 1981;
TEGTBUR; BRUSSE; BRAUMANN, 1993), glicêmicas (SIMÕES et al., 1998; SIMÕES et
al., 1999) e a relação potência-tempo até exaustão (KOKUBUN, 1996).
Dentre esses métodos, o teste de máxima fase estável de lactato (MFEL) foi
considerado o protocolo padrão ouro para avaliação da capacidade aeróbia, sendo o teste mais
confiável e preciso para validar outros métodos que possuam o mesmo objetivo (RIBEIRO et
al., 2009). Contudo, a MFEL possui limitações amplamente conhecidas, como a necessidade
de submeter os indivíduos a um grande número de sessões experimentais, tornando-se
inviável durante os processos de treinamento.
O teste de lactato mínimo (LACmin), assim como os testes de limiar anaeróbio
individual (STEGMAN; KINDERMANN; SCHNABEL, 1981), limiar anaeróbio (HECK et
al., 1985), ponto de compensação respiratória (WASSERMAN et al., 1973) e outros,
(LAPLAUD et al., 2006) tem demonstrado ser reprodutível (DOTAN et al., 2011;
MACINTOSH; ESAU; SVEDAHL, 2002; MORÉL; ZAGATTO, 2008;), válido (BACON;
KERN, 1999; SOTERO et al., 2007; JOHNSON; SHARPE; BROWN, 2009) e confiável
(TEGTBUR; BUSSE; BRAUMANN, 1993; SMITH et al., 2002; RIBEIRO et al., 2003) para
estimar a intensidade de máxima fase estável de lactato (iMFEL), que é considerado como
procedimento padrão ouro na avaliação da capacidade aeróbia.
O teste de LACmin consiste em um esforço para indução hiperlactacidêmica seguido
de um teste incremental e apresenta vantagens em relação a outros protocolos que objetivam
estimar iMFEL, como a não utilização de valores fixos de lactato, como o valor fixo de 4,0
mmol·L-1 proposto por Heck et al. (1985), além da possibilidade de avaliar parâmetros
aeróbios (capacidade aeróbia) e anaeróbios (potência e capacidade anaeróbia) em uma única
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sessão experimental (PARDONO et al., 2008; RIBEIRO et al., 2009; ZAGATTO; PAPOTI;
GOBATTO, 2009).
As concentrações sanguíneas de lactato ([lac]) mensuradas durante a fase incremental
do teste de LACmin apresentam um comportamento semelhante à letra “U”, sendo que a
intensidade de exercício correspondente ao menor valor de lactato (ponto mínimo) é
considerada a maior intensidade em que ocorre equilíbrio dinâmico entre produção e remoção
de lactato (DOTAN et al., 2011), sendo denominada de intensidade de lactato mínimo
(iLACmin). A iLACmin pode ser obtida visualmente (SIMÕES et al., 1999) ou por meio de
ajustes matemáticos (CARTER; JONES; DOUST, 1999; RIBEIRO et al., 2009; TEGTBUR;
BUSSE; BRAUMANN, 1993) utilizando os pontos correspondentes à relação entre lactato e
intensidade de exercício de cada estágio da fase incremental.
O uso de procedimentos matemáticos permite melhores ajustes da relação lactato-
intensidade, aumentando a exatidão na determinação da iLACmin. (PARDONO et al., 2008)
Por esse motivo, a análise da resposta lactato-intensidade poderia ser realizada utilizando um
menor número de pontos (estágios de exercício aplicados na fase incremental do teste),
reduzindo o tempo de aplicação do protocolo (PARDONO et al., 2008; SOTERO et al., 2007;
SOTERO et al., 2011). Contudo, ainda não existe consenso sobre a influência da distribuição
desses pontos nos ajustes matemáticos e na determinação da iLACmin.
Logo, os objetivos do presente estudo foram verificar a utilização de diferentes
quantidades e combinações de estágios da fase incremental no ajuste polinomial de segunda
ordem e investigar o uso do valor de lactato pico após indução hiperlactacidêmica na
determinação da iLACmin.
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2. JUSTIFICATIVA
Na maior parte dos estudos, a determinação da iLACmin é realizada sem uma
minuciosa análise do ajuste matemático aplicado para a obtenção da resposta em forma de
“U”, como a análise de um ajuste polinomial preciso. Um dos únicos trabalhos que fazem essa
análise é o estudo de De Araujo e colaboradores (2007), que sugerem um índice de sucesso na
aplicação do modelo polinomial, considerando apenas valores que apresentaram um
coeficiente de determinação (R2) superior a 0,80 no ajuste polinomial de segunda ordem.
O estudo de Sotero et al. (2007) investigou a influência da seleção de pontos no ajuste
matemático, no qual os autores determinaram a iLACmin de modo padrão utilizando todos os
pontos obtidos na fase incremental e posteriormente selecionando somente três pontos para as
combinações (1°, 3° e 5° pontos; 1°, 3° e 6° pontos; e 1°, 4° e 6° pontos). Esses autores não
encontraram diferenças entre as quatro iLACmin obtidas no estudo, mas não descreveram
claramente a intensidade de esforço correspondente à iLACmin de cada combinação com três
pontos em relação à iLACmin padrão ou qualquer outro índice fisiológico, o que possibilitaria
analisar se alguma das combinações incluiu mais pontos abaixo ou acima da iLACmin
padrão. Além disso, nota-se uma similaridade na distribuição dos estágios selecionados nas
três combinações, selecionando sempre o primeiro ponto, um ponto próximo à iLACmin e um
ponto próximo à exaustão.
Pardono et al. (2008) basearam a combinação de pontos na percepção subjetiva de
esforço (PSE), determinando a iLACmin com todos os pontos obtidos no teste e utilizando
três combinações constituídas por três pontos cada, sendo os pontos correspondentes ao
primeiro estágio, ponto de PSE 13, ponto de PSE 16 ou último estágio de exercício, e
adotando os três estágios com os menores valores de lactato. A iLACmin determinada
utilizando todos os pontos e com a seleção de três pontos incluindo o último estágio de
exercício subestimaram a iMFEL. Entretanto, a iLACmin determinada com a seleção de três
pontos incluindo o valor correspondente à PSE de 16 não foi diferente estatisticamente da
iMFEL.
Portanto, a análise da distribuição dos pontos no ajuste matemático sinaliza que pode
haver um deslocamento da curvatura lactato-intensidade devido à localização desses pontos,
resultando em erros na determinação da iLACmin. De modo geral, tem-se utilizado seis
estágios na fase incremental do teste de LACmin, sendo a iLACmin identificada entre o
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terceiro e quarto estágio de exercício (PUGA et al., 2012) . Entretanto, será que existe a
necessidade de utilizar uma quantidade similar de estágios antes e após a derivada zero
(iLACmin)? Quais os efeitos da utilização de poucos pontos (um ou dois), antes ou após a
derivada zero na determinação da iLACmin utilizando ajustes matemáticos? Acredita-se que a
iLACmin não será dependente da quantidade de pontos, considerando que o comportamento
das [lac] pela intensidade é ajustada pela função matemática. Entretanto, a seleção de
diferentes combinações desses pontos poderia descaracterizar ou deslocar a curvatura do
ajuste, resultando em erros na determinação da iLACmin.
A hipótese, baseado nos achados de Pardono et al. (2008), que investigou a influência
do número de pontos padronizando as intensidades pela PSE, é que a combinação dos pontos
não afeta a determinação da iLACmin, quando aplicado um teste com a seleção das
intensidades e incrementos selecionadas por meio da capacidade aeróbia determinada
previamente.
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3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Verificar a influência da seleção de estágios da fase incremental e o uso do lactato pico
após indução hiperlactacidêmica na determinação da intensidade de lactato mínimo.
3.2 Objetivos específicos
- Determinar os valores de intensidade, lactato, consumo de oxigênio (VO2),
frequência cardíaca (FC) e PSE correspondentes as diferentes combinações de estágios da
fase incremental do teste de lactato mínimo;
- Comparar os valores de intensidade, lactato, VO2, FC e PSE determinadas utilizando
diferentes combinações de estágios da fase incremental e com o uso do valor de lactato pico
da indução hiperlatacidêmica;
- Verificar o nível de associação entre essas variáveis.
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4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1 Teste de Lactato Mínimo
Em 1993, Tegtbur, Busse e Braumann observaram o comportamento das
concentrações de lactato sanguíneo ([lac]) em um teste incremental realizado após prévia
indução a valores altos de lactato no sangue (hiperlactacidemia). Esses autores verificaram
que no início do teste incremental as concentrações de lactato diminuíam até um determinado
ponto e voltavam a aumentar à medida que aumentava a intensidade de exercício. O
comportamento das [lac] em relação à intensidade de exercício apresentava graficamente uma
forma de parábola, de modo que o ponto mínimo representava um ponto de equilíbrio
dinâmico entre produção e remoção de lactato. A intensidade associada ao valor de lactato
(iLACmin) foi considerada como sendo correspondente a intensidade de máxima fase estável
de lactato (MFEL), embora esses autores não tenham utilizado o protocolo de MFEL. Isso se
deve ao fato de que durante a realização de um exercício contínuo de 8 km de distância na
intensidade de lactato mínimo foi verificado uma estabilização dos valores de lactato,
enquanto que um exercício realizado a 0,2 m·seg-1 acima dessa intensidade foi suficiente para
que houvesse um aumento de 1,9±1,1 mmol·L-1, sendo que alguns sujeitos não conseguiram
completar o percurso. Ainda mais, nesse mesmo estudo foi verificado que a determinação da
iLACmin é dependente da duração dos estágios incrementais e não é influenciada pelos
baixos estoques de glicogênio muscular.
Assim, o teste de LACmin consiste em um teste incremental realizado após prévia
indução à hiperlactacidemia, sendo caracterizado por uma fase de indução à
hiperlactacidemia, uma fase de recuperação e um teste incremental. O teste de LACmin tem
sido investigado por diversos pesquisadores como um método vantajoso (JOHNSON;
SHARPE; BROWN, 2009; RIBEIRO et al., 2009), reprodutível (DOTAN et al., 2011;
MACINTOSH; ESAU; SVEDAHL, 2002) e válido (BACON; KERN, 1999) para estimar a
intensidade de MFEL, que é considerado o protocolo padrão ouro na determinação da
capacidade aeróbia.
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4.2 Indução à hiperlactacidemia
Para indução a valores altos das [lac] tem sido utilizados diferentes modos de
exercício como corridas exaustivas em pista de 300 e 200 m com 1 minuto de intervalo entre
eles (TEGTBUR; BUSSE; BRAUMANN, 1993), duas corridas supramáximas em esteira de
300 e 200 m com 1 minuto de intervalo (CARTER; JONES; DOUST, 1999; JONES;
DOUST, 1998), corrida máxima de 500 m (SIMÕES et al., 1998; SIMÕES et al., 1999;
SOTERO et al., 2011), dois esforços máximos de 50 m na natação (RIBEIRO et al., 2003),
testes de avaliação do consumo de oxigênio pico (BACON; KERN, 1999; JOHNSON;
SHARPE; BROWN, 2009; JOHNSON; SHARPE, 2011) e testes de avaliação anaeróbia
(PARDONO et al., 2008; SIMÕES et al., 2003).
Smith e colaboradores (2002) verificam que a intensidade de lactato mínimo não é
influenciada pelo tipo de exercício utilizado como forma de indução à hiperlactacidemia em
cicloergômetro. Por outro lado, em um estudo com ratos, De Araújo e colaboradores (2007)
verificaram que o índice de sucesso na determinação da intensidade de LACmin era
dependente do tipo de indução utilizado. Ainda mais, outros estudos obtiveram resultados
conflitantes ao utilizar esforços para indução à hiperlactacidemia com diferentes grupos
musculares (JOHNSON; SHARPE; BROWN, 2009) e diferentes ergômetros (SANTHIAGO
et al., 2008). No entanto, a utilização de um teste anaeróbio como forma de indução parece
não comprometer a determinação da intensidade de LACmin.
Assim, o teste de LACmin é considerado vantajoso em relação a outros protocolos que
estimam a intensidade de MFEL em apenas uma sessão como os testes de limiar anaeróbio
individual (STEGMAN; KINDERMANN; SCHNABEL, 1981), limiar anaeróbio (HECK et
al., 1985), ponto de compensação respiratória (WASSERMAN et al., 1973) e outros
(LAPLAUD et al., 2006) devido a possibilidade de executar um teste anaeróbio como forma
de indução à hiperlactacidemia, permitindo a avaliação de parâmetros anaeróbios (capacidade
e potência anaeróbia) e aeróbios (capacidade aeróbia) na mesma sessão de testes.
4.3 Recuperação após a indução à hiperlactacidemia
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A principal função do período de recuperação após a indução à hiperlactacidemia é
permitir que o lactato produzido no músculo alcance os valores pico de lactato no sangue, de
modo que o tempo necessário para atingir esse valor pico é dependente de diversos fatores
como a intensidade do esforço e o tipo de treinamento realizado pelo atleta (endurance x
sprint) (DENADAI; HIGINO, 2004).
Ribeiro et al. (2009) investigou a influência da manipulação da fase de recuperação
após a indução à hiperlactacidemia sobre a intensidade de lactato mínimo na corrida em
esteira. Os sujeitos foram submetidos à recuperação ativa por 8 minutos na intensidade
correspondente a 30% da intensidade associada ao consumo máximo de oxigênio (vVO2MAX)
(LMTA30) e 50% vVO2MAX (LMTA50) e a recuperação passiva (LMTP). Os autores verificaram
que a intensidade de LACmin no LMTA50 foi menor do que LMTA30 (p<0,05). Ainda mais, a
LMTA30 foi menor do que no LMTP (p<0,05). Assim, a intensidade de LACmin parece ser
dependente da intensidade de exercício na fase de recuperação ativa.
Denadai e Higino (2004) ao submeterem corredores de fundo e de velocidade ao teste
de LACmin, manipularam a fase de recuperação (passiva) de acordo com o tempo que se
alcançava o valor de lactato pico no sangue e verificaram que a intensidade de LACmin não
foi diferente quando comparada ao intervalo de 8 minutos de recuperação utilizado na maioria
dos estudos, embora os valores de lactato nessas intensidades foram alterados.
Portanto, por não se tratar do foco do presente estudo, a fase de recuperação deverá ser
de 8 minutos e de modo passivo, devido as evidências de possíveis influências da recuperação
ativa na determinação da intensidade de LACmin.
4.4 Teste incremental
O teste incremental realizado durante o teste de LACmin tem sido algo de diversas
investigações quanto a intensidade inicial (CARTER; JONES; DOUST, 1999; JOHNSON;
SHARPE, 2011), duração dos estágios (PARDONO; SIMÕES; CAMPBELL, 2005;
RIBEIRO et al., 2003; TEGTBUR; BUSSE; BRAUMANN, 1993) e redução do tempo total
de teste por meio da utilização de um número reduzido de estágios incrementais (SOTERO et
al., 2007; SOTERO et al., 2008; SOTERO et al., 2011).
Intensidade Inicial
15
Carter, Jones e Doust (1999) investigaram o efeito da manipulação da intensidade
inicial da fase incremental no teste de LACmin. Esses autores aplicaram 8 testes de LACmin
com intensidades iniciais de 3 km·h-1, 2,5 km·h-1, 2 km·h-1, 1,5 km·h-1, 1 km·h-1, 0,5 km·h-1
abaixo da intensidade do limiar de lactato (LL), iniciando na intensidade de LL e 1 km·h -1
acima dessa intensidade. Quando as intensidades iniciais foram de 3, 2,5 e 2 km·h-1 abaixo da
intensidade de LL, a intensidade de LACmin foi menor do que o LL. Enquanto que a
intensidade de LACmin determinada quando a fase incremental foi iniciada a 0,5 km·h -1 foi
maior do a intensidade de LL. Não foi possível determinar a intensidade de LACmin quando a
intensidade de LACmin foi iniciada na intensidade de limiar de lactato ou 1 km·h-1 acima
dessa intensidade. O tempo necessário para alcançar a intensidade de LACmin não foi
diferente quando foi utilizado diferentes intensidades iniciais, exceto quando o teste foi
iniciado a 3 km·h-1 ou 0,5 km·h-1 abaixo da intensidade do LL. Uma possível explicação é a
de que a baixas intensidades de exercício há maior remoção do lactato e esses valores
diminuem com mais rapidez. Desse modo, esses autores concluíram que a intensidade de
LACmin é influenciada pela intensidade inicial e que não é dependente somente da demanda
metabólica e do equilíbrio entre produção e remoção de lactato de um estágio completo, mas
também de uma cinética de remoção geral do lactato sanguíneo na fase de recuperação após o
exercício de alta intensidade da indução.
Em outro estudo, Johnson et al. (2011) não encontraram diferença significativas na
iLACmin iniciadas a 40 ou 45% da WMAX (potência máxima atingida no teste incremental
máximo realizado como forma de indução). No entanto, observaram um grande declínio nas
[lac] quando a fase incremental foi iniciada com baixas intensidades de exercício,
provavelmente devido a maior remoção do lactato pela oxidação no músculo em intensidades
baixas (as [lac] durante o teste de LACmin foram menores quando a intensidade inicial foi
iniciada a 40% da WMAX). Devido a diferença entre a variação das concentrações de lactato em
relação à variação do tempo (Δlac/Δt) nos testes iniciados a 40 e 45% para as mesmas
intensidades, sugere-se que a Δlac/Δt não reflete somente a demanda metabólica de cada
intensidade de exercício (JOHNSON et al., 2009).
Os fatores associados ao efeito da manipulação da intensidade inicial do teste
incremental podem estar relacionados à caracterização da curvatura em forma de “U”.
Quando a intensidade inicial do teste é muito baixa os valores de [lac] diminuem
demasiadamente, de modo que podem alcançar os valores correspondentes a intensidades de
exercício de estágios de um teste partindo dos valores de lactatcidemia de repouso,
diminuindo a confiança na determinação do valor mínimo. Por outro lado, intensidades de
16
exercício muito altas no início do teste incremental podem fazer com que não haja a curvatura
característica, superestimando a intensidade de LACmin (CARTER; JONES; DOUST, 1999).
O transporte de lactato, piruvato e H+ produzidos no músculo é realizado pelos
transportadores monocarboxílicos (MCTs), especificamente pelas isoformas MCT1 e MCT4.
O MCT1 encontra-se em maior densidade nas fibras musculares oxidativas, enquanto que a
segunda está presente em maior abundância nas fibras musculares glicolíticas. Os níveis do
conteúdo desses transportadores possuem correlação positiva com o transporte de lactato.
Assim, as proteínas MCTs podem ser consideradas como importantes reguladoras da
homeostasia muscular e sanguínea, de modo que contribuem significativamente para a
manutenção do processo contrátil das fibras musculares e demanda do exercício físico
(FROLLINI et al., 2008).
Duração dos estágios
Protocolos de avaliação da capacidade aeróbia que utilizam o lactato sanguíneo como
marcador fisiológico devem considerar o tempo necessário para que esse metabólito
produzido no músculo seja transportado para o sangue. Quando são utilizados estágios de
exercício muito curtos durante um teste incremental, os valores de [lac] podem não
representar valores reais da demanda metabólica para dada intensidade de exercício
(RIBEIRO et al., 2003).
A produção de lactato pode ocorrer em uma parte do corpo e o catabolismo em outra.
Assim, as concentrações de lactato sanguíneo podem indicar um equilíbrio entre produção e
remoção de lactato somente quando há um equilíbrio nesta distribuição. Isto pode ocorrer
quando há uma rápida produção de lactato e um atraso na remoção (por meio do catabolismo
nos tecidos) devido a um rápido incremento na intensidade do exercício.
Dessa forma, Tegtbur et al. (1993) investigaram a utilização de diferentes incrementos
na determinação da iLACmin. O teste de LACmin foi composto de duas corridas exaustiva de
300 e 200m, caminhada lenta de 8 minutos e um teste incremental com intensidade inicial de
3,33, 3,66, 4 ou 4,33 m.seg-1 e incrementos de 0,33 m.seg-1 a cada 400, 800 ou 1200m. A
iLACmin não foi alterada quando foram utilizados os incrementos de 800 e 1200 m, porém a
intensidade e a concentração de lactato foram maiores quando o incremento foi de 400 m. Isso
provavelmente ocorreu devido a cinética lenta do processo de remoção e o incremento foi
muito curto para representar um equilíbrio correspondente à intensidade.
Ribeiro et al. (2003) investigaram a influência da duração dos estágios da fase
incremental do teste de LACmin na natação. Esses autores aplicaram dois testes de LACmin
17
idênticos, porém a duração dos estágios foi de 200m e 300m. As [lac] correspondentes a
intensidade de LACmin e a iLACmin não foram diferentes quando comparadas entre si. No
entanto, quando comparado a MFEL, a iLACmin e [lac] correspondente a essa intensidade no
teste de LACmin com estágios de 200 m foram maiores do que a MFEL. Desse modo, esses
autores sugeriram a utilização de estágios com duração de 3 minutos ou mais.
De modo geral, tem sido utilizado estágios incrementais com duração de 3 (DE
LUCAS et al., 2003; PARDONO et al., 2008; RIBEIRO et al., 2009), 4 (JOHSON; SHARPE,
2011; JOHNSON; SHARPE; BROWN, 2009) e 5 minutos (CARTER; JONES; DOUST,
1999), além de outros estudos que padronizaram os estágios por meio da distância percorrida
(RIBEIRO et al., 2003; SOTERO et al., 2007; SOTERO et al., 2009; SOTERO et al., 2011
TEGTBUR et al., 1993).
Quantidade de estágios
Durante o teste incremental do teste de LACmin tem sido utilizado seis estágios de
exercício, de modo que o indivíduo não necessariamente realiza o teste até a exaustão
voluntária, sendo a iLACmin identificada entre o terceira e quarto estágio (PUGA et al.,
2012). Entretanto, alguns estudos tem buscado verificar a possibilidade de reduzir a
quantidade de estágios incrementais (PARDONO et al., 2008; SOTERO et al., 2007;
SOTERO et al., 2011).
Sotero et al. (2007) investigou o efeito da seleção de pontos no ajuste matemático, no
qual os autores determinaram a iLACmin de modo padrão utilizando todos os pontos obtidos
na fase incremental e posteriormente selecionando somente três pontos para as combinações
(1°, 3° e 5° pontos; 1°, 3° e 6° pontos; e 1°, 4° e 6° pontos). Esses autores não encontraram
diferenças entre as quatro iLACmin obtidas no estudo, que sugeriu a possibilidade de utilizar
apenas três estágios incrementais no teste de LACmin.
Assim, Sotero et al. (2011) investigou a possibilidade de se determinar a velocidade de
LACmin em corredores adolescentes. Os indivíduos foram submetidos a: 1) desempenho de
3000 m (Vm300); 2) teste de LACmin com seis estágios incrementais (indução com Sprint de
500 m, 10 minutos de recuperação e estágios incrementais de 83, 86, 89, 92, 95 e 98% da
Vm3000); 3) teste de LACmin com três estágios incrementais (estágios com intensidade de
83, 89 3 98% da Vm3000). Não foram observada diferenças significativas entre as iLACmin
determinadas nos testes de LACmin com seis e com três estágios incrementais. Entretanto,
esses autores não comparam os valores correspondentes a iLACmin com a intensidade de
MFEL.
18
Em outro estudo, Pardono et al. (2008) basearam a combinação de pontos nas [lac]
correspondentes a percepção subjetiva de esforço (PSE), determinando a iLACmin com todos
os pontos obtidos no teste e utilizando três combinações constituídas por três pontos cada,
sendo os pontos correspondentes ao primeiro estágio, ponto relativo a PSE 13, PSE 16 ou
último estágio de exercício, e adotando os três estágios com os menores valores de lactato. A
iLACmin determinada utilizando todos os pontos e com a seleção de três pontos incluindo o
último estágio de exercício subestimaram a iMFEL. Entretanto, a iLACmin determinada com
a seleção de três pontos incluindo o valor correspondente à PSE de 16 não foi diferente
estatisticamente da iMFEL.
Assim, verifica-se que diferentes combinações de estágio podem influenciar o ajuste
matemático da relação lactato-intensidade. A localização desses pontos poderia deslocar a
curvatura para a esquerda ou direita, subestimando ou superestimando a intensidade de
MFEL.
Ribeiro et al. (2003) relata em seu estudo que o ajuste matemático poderia explicar em
parte a não sensibilidade ao treinamento investigado por Carter, Jones e Doust (1999b). Nesse
estudo foram empregados dois teste de LACmin idênticos (antes e depois do treinamento),
onde as intensidades iniciais após o treinamento podem ter sido relativamente diferentes,
causando um rápido declínio das concentrações de lactato como relatado por esses autores
(CARTER; JONES; DOUST, 1999b).
Assim como a possível influência do rápido declínio das [lac], o mesmo pode ter
ocorrido no estudo de Pardono et al. (2008) relatado anteriormente. A combinação de pontos
que utilizou a [lac] correspondente ao último estágio de exercício subestimaram a iMFEL,
enquanto que a mesma combinação substituindo apenas a [lac] do último estágio pela
correspondente a PSE16 não foi diferente da iMFEL.
4.5 Determinação da iLACmin
A determinação da iLACmin pode ser realizada visualmente ou por meio de ajustes
matemáticos (PARDONO et al., 2008; RIBEIRO et al., 2003). A utilização do ajuste
matemático na relação lactato-intensidade permite uma maior precisão na determinação da
iLACmin, de modo que é possível estimar intensidades de exercício que não foram realizadas
(RIBEIRO et al., 2003).
Ribeiro et al. (2003) investigaram a determinação da iLACmin visualmente e por meio
da função spline e não observaram diferenças significativas entre elas. Smith et al. (2002)
também não verificaram diferenças na iLACmin determinadas visualmente e por meio do
19
ajuste polinomial e da função Spline. Assim, a utilização de um ajuste matemático permite
determinação mais precisa da iLACmin e diminui o risco de uma possível falha subjetiva do
avaliador (DOTAN et al., 2011).
No entanto, observamos que um dos únicos autores que adotou um critério para
análise do ajuste foi De Araújo et al. (2007), que considerou válido apenas as intensidades de
LACmin que apresentaram um valor de R2 do ajuste matemático maior do 0,80 e valor de
a<0. Esse critério permitiu avaliar o índice de sucesso de diferentes protocolos de indução à
hiperlactacidemia no teste de LACmin.
Inclusão da [lac] pico da indução
Por uma questão matemática, na relação lactato-intensidade o valor da [lac]
correspondente ao valor pico do esforço utilizado como forma de indução à hiperlactacidemia
não é incluído nos cálculos. Nesse sentido, Voltarelli, Mello e Gobatto (2005) propuseram
uma nova maneira de determinação da iLACmin na natação com ratos. Esses autores
sugeriram calcular os valores de [lac] versus tempo de exercício (minutos), permitindo a
inserção dos valores pico de lactato obtidos após a fase de indução. A curva obtida por meio
de ajuste polinomial de segunda ordem permitiu a obtenção de uma equação que possibilitou
o cálculo do menor valor de [lac] e tempo de exercício. A carga de exercício correspondente a
esse menor valor de tempo de exercício foi determinada por meio de regressão linear.
20
5. METODOLOGIA
Participantes
A amostra foi composta por doze acadêmicos moderadamente ativos e saudáveis do
curso de educação física (praticantes recreativos de futsal, voleibol, handebol, corrida ou
ciclismo, além das atividades práticas realizadas nas aulas de graduação) e suas características
são apresentadas na tabela 1. Indivíduos altamente treinados, tabagistas ou que apresentavam
alguma lesão osteomioarticular não foram incluídos no estudo. O tamanho da amostra foi
baseado no cálculo amostral considerando a similaridade entre a iLACmin e a iMFEL, assim
como sua correlação de 0,85 (PARDONO et al., 2008) e um poder do teste de 90%, que
resultou em um tamanho amostral mínimo de 8 (software G*Power 3.0.10, Franz Faul,
Alemanha). Todos os voluntários foram informados sobre os possíveis riscos e benefícios dos
procedimentos experimentais e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido
antes da participação no estudo (Anexo I). Todos os procedimentos aplicados foram
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (CAAE 005560.049.000-11) e conduzidos conforme a Declaração de
Helsinki. Os voluntários foram instruídos a não realizarem exercícios exaustivos e a não
ingerirem álcool e cafeína por pelo menos 24 horas antes de cada teste.
Procedimentos experimentais
No desenho experimental do estudo, na primeira visita foi aplicado um teste
incremental máximo em cicloergômetro de frenagem mecânica (Biotec 2100, CEFISE, Brasil)
para determinação da intensidade correspondente ao ponto de compensação respiratória
(PCR) (MEYER et al., 2005; WASSERMAN et al., 1973;), seguido de um teste de LACmin
adaptado de Tegtbur et al. (1993) em cicloergômetro eletromagnético (ErgoCycle 167, Ergo-
Fit, Pirmasens, Alemanha) que foi aplicado após aproximadamente 48 horas. Em ambos os
procedimentos foi padronizado um aquecimento de cinco minutos no cicloergômetro a 70 W,
com os testes sendo iniciados cinco minutos após o término do aquecimento.
Durante os dois testes, o consumo de oxigênio (VO2), a produção de dióxido de
carbono (VCO2) e a ventilação pulmonar (VE) foram mensurados continuamente, respiração a
respiração, por meio do analisador de gases estacionário True-One 2400 (ParvoMedics, East
21
Sandy, Utah, EUA). O analisador foi calibrado imediatamente antes de cada teste utilizando
amostras de gases conhecidas (3,98% CO2 e 16,02% O2, Air Gas Puritan Medical, EUA) e o
ventilômetro foi calibrado utilizando uma seringa de três litros (Hans Rudolf, Kansas City,
Missouri, EUA). A frequência cardíaca (FC) foi mensurada por um cinto transmissor (T31,
Polar Electro, Kempele, Finlândia) e a percepção subjetiva de esforço (PSE) foi mensurada
pela escala de Borg 6-20. (BORG, 1982)
Para a determinação das [lac], amostras de sangue foram coletadas do lóbulo da orelha
(25 µL) ao final de cada estágio de esforço e também aos 5 e 7 minutos após cada teste, assim
como após o teste de Wingate, que foi aplicado como indução hiperlactacidêmica no teste de
LACmin. O sangue foi coletado por meio de capilares heparinizados e transferido para tubos
Eppendorf contendo 50 µl de fluoreto de sódio (NaF) a 1%, sendo analisado em um lactímetro
eletroquímico YSI 1500 SPORT (Yellow Springs Instruments, Ohio, EUA).
Teste incremental máximo
O teste foi iniciado com intensidade correspondente a 70 W, com incrementos de 17,5
W a cada estágio de 2 minutos de exercício até a exaustão voluntária ou até a impossibilidade
do indivíduo em manter a cadência de 70 revoluções por minuto (rpm).
A intensidade de exercício associada ao PCR correspondeu à intensidade em que
ocorreu um aumento concomitante no equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) e
dióxido de carbono (VE/VCO2).
Teste de lactato mínimo
Para indução hiperlactacidêmica foi realizado o teste de Wingate (Biotec 2100,
CEFISE, Brasil) com carga correspondente a 7,5% da massa corporal do indivíduo. Após oito
minutos de recuperação passiva, os sujeitos realizaram um teste incremental com intensidade
inicial correspondente a 30 W abaixo do PCR e incrementos de 10 W a cada estágio de 3
minutos até a exaustão voluntária.
A iLACmin correspondeu a derivada zero do juste polinomial de segunda ordem,
sendo considerados como válidos apenas os testes que apresentaram um valor de a > 0 e um
coeficiente de determinação (R²) > 0,80, como sugerido por De Araujo e colaboradores
(2007). O índice de sucesso foi calculado por meio da relação entre os testes que
apresentaram esses critérios e o tamanho total da amostra.
Foram determinadas cinco diferentes iLACmin que diferiram conforme as
combinações entre intensidades e lactato, sendo essas correspondentes a: 1) determinação da
22
iLACmin utilizando todos os estágios obtidos no teste, que foi considerado nesse estudo como
a iLACmin padrão (iLACminP); 2) a iLACmin determinada utilizando todos os estágios antes
e apenas dois estágios após a iLACminP (iLACminA); 3) a iLACmin determinada utilizando
apenas dois estágios antes e todos os estágios após a iLACminP até exaustão (iLACminB); 4) a
iLACmin determinada utilizando o maior e mesmo número possível de estágios antes e após a
iLACminP (iLACminI); 5) a determinação da iLACmin utilizando todos os pontos e também o
valor da concentração pico de lactato obtido após indução hiperlactacidêmica (iLACminD). A
iLACminD foi determinada por meio da relação entre lactato e tempo de exercício, onde o
menor valor de lactato correspondeu a um determinado tempo de exercício, que por meio de
regressão linear entre tempo-intensidade possibilitou a determinação da iLACminD.
Análise estatística
Os dados foram apresentados em média, desvio padrão e intervalos de confiança de
95% (IC95%). Para verificação dos padrões de normalidade dos dados foi aplicado o teste de
Shapiro-Wilk. Em seguida, utilizou-se o ANOVA one-way para amostras repetidas para
comparar as iLACmin determinadas pelas diferentes combinações de estágios e os valores de
VO2, FC e PSE correspondentes às intensidades de LACmin. A esfericidade foi verificada por
meio do teste de Mauchly, que em caso de significância, foi considerado o valor do ajuste de
Greenhouse-Geisser. O tamanho do efeito (ES) foi classificado em insignificante (<0,35),
pequeno (0,35 - 0,80), moderado (0,80 - 1,5) e grande (>1,5) (RHEA, 2004). A busca de
associações entre as combinações de estágios foi feita através do teste de correlação de
Pearson, onde o coeficiente de correlação foi classificado como muito fraco a negligenciável
(0 a 0,2), fraco (0,2 a 0,4), moderado (0,4 a 0,7), forte (0,7 a 0,9), e muito forte (0,9 a 1,0)
(ROWNTREE, 1991) . A análise gráfica de Bland-Altman foi utilizada para verificar o nível
de concordância entre as intensidades correspondentes aos ajustes matemáticos. Em todos os
casos foi assumido um nível de significância de p<0,05.
23
6. RESULTADOS
Tabela 1. Idade, massa corporal total, estatura, percentual de gordura e consumo máximo de
oxigênio (VO2MAX) dos participantes do estudo.
N=12 Idade(anos)
Massa corporal(kg)
Estatura(cm)
Percentual de Gordura
(%)
VO2MAX
(ml·kg-1·min-1)
Média±DP 23±5 78,3±14,1 175,3±5,1 21,6±6,5 40,2±5,6
A intensidade correspondente ao PCR foi de 112,9±26,9 W (IC95%= 95,7–129,9 W).
As [lac] após o teste de Wingate corresponderam a 11,1±1,6 mmol·L -1 (IC95%=10,1–12,1
mmol·L-1).
O índice de sucesso correspondeu a 100% para o iLACminP, iLACminA e iLACminD,
66,7% para o iLACminB e 83,3% para o iLACminI. Os valores de R2 e o número de pontos
utilizados no ajuste foram, respectivamente, de 0,91±0,06 (IC95%=0,87-0,95) e 9,7±2,1
(IC95%=8,4-11,0) para o iLACminP, 0,95±0,03 (IC95%=0,93-0,97) e 7,8±1,8 (IC95%=6,6-
8,9) para o iLACminA, 0,92±0,06 (IC95%=0,88-0,97) e 5,9±1,6 (IC95%=4,6-7,2) para o
iLACminB, 0,92±0,05 (IC95%=0,88-0,95) e 7,4±2,5 (IC95%=5,6-9,2) para o iLACminI,
0,93±0,05 (IC95%=0,90-0,96) e 10,3±2,4 (IC95%=8,7-11,8) para o iLACminD.
Na tabela 2 são apresentados as iLACmin determinadas pelas diferentes combinações,
assim como os valores de lactato, VO2, FC e PSE correspondentes a essas intensidades. Não
foi verificada nenhuma diferença significativa entre esses parâmetros, além de ser observado
um tamanho de efeito muito baixo (Tabela 2). Também foram encontradas fortes e
significativas correlações entre os parâmetros analisados (Tabela 3).
A análise gráfica de Bland-Altman mostrou boa concordância entre as iLACmin com
uma média próxima de zero para a comparação das intensidades determinadas pelas diferentes
combinações e o iLACminP (Figura 1). No entanto, a comparação entre o iLACminP o
iLACminD foi o que apresentou melhor concordância com os menores erros individuais
identificados pelos limites superior e inferior (Figura 1D).
24
Tabela 2. Valores de média±desvio padrão (IC95%) correspondentes à intensidade, lactato,
VO2, FC e PSE determinadas pelas diferentes combinações de estágios, assim como o
tamanho do efeito (ES).
iLACminP
(n=12)
iLACminA
(n=12)
iLACminB
(n=8)
iLACminI
(n=10)
iLACminD
(n=12)
ES
Intensidade
(Watts)
138,2±30,3
(119,0-157,4)
139,1±29,1
(120,6-157,5)
135,3±14,2
(123,4-147,2)
138,6±20,5
(123,9-153,2)
136,7±28,5
(118,6-154,7)
0,227
Lactato
(mmol·L-1)
5,3±1,7
(4,2-6,4)
5,1±1,7
(4,0-6,2)
5,1±1,6
(3,7-6,4)
5,0±1,4
(4,0-6,0)
5,3±1,7
(4,3-6,4)
0,108
VO2
(ml·kg-1·min-1)
28,8±3,8
(26,4-31,2)
29,2±4,2
(26,5-31,9)
28,7±3,1
(26,1-31,2)
29,3±4,2
(26,3-32,3)
28,5±3,3
(26,3-30,6)
0,238
FC
(bpm)
152,7±16,9
(142,0-163,4)
153,2±15,4
(143,5-163,0)
144,6±14,1
(132,8-156,4)
148,0±12,6
(139,0-157,0)
152,2±16,2
(141,9-162,5)
0,231
PSE 12,8±2,8
(11,0-14,6)
13,0±2,8
(11,2-14,8)
13,1±3,1
(10,5-15,7)
13,1±2,9
(11,0-15,2)
12,9±2,8
(11,1-14,6)
0,153
*p<0,05. iLACminP = intensidade de lactato mínimo (iLACmin) determinada com todos os estágios obtidos no teste; iLACminA = iLACmin determinada com todos os estágios antes e apenas dois estágios após a iLACminP; iLACminB = iLACmin determinada com apenas dois estágios antes e todos os estágios após a iLACminP até exaustão; iLACminI = iLACmin determinada com o maior e mesmo número possível de estágios antes e após a iLACminP; iLACminD = iLACmin determinada com todos os pontos e também o valor da concentração pico de lactato obtido após indução hiperlactacidêmica; VO2: consumo de oxigênio, FC: frequência cardíaca; PSE: percepção subjetiva de esforço; ES: tamanho do efeito.
Tabela 3. Valores dos coeficientes de correlação (r) entre intensidade, lactato, VO2, FC e PSE
correspondentes ao iLACminP, iLACminA, iLACminB, iLACminC e iLACminD.
Intensidade Lactato VO2 FC PSE
iLACminP vs iLACminA r=0,95† r=0,95† r=0,90† r=0,97† r=0,96†
iLACminP vs iLACminB r=0,94† r=0,81# r=0,88† r=0,96† r=0,97†
iLACminP vs iLACminI r=0,94† r=0,91† r=0,85† r=0,96† r=0,97†
iLACminP vs iLACminD r=0,98† r=0,97† r=0,95† r=0,99† r=0,99†
iLACminA vs iLACminB r=0,93† r=0,76# r=0,86† r=0,96† r=0,95†
iLACminA vs iLACminI r=0,98† r=0,89† r=0,97† r=0,99† r=0,98†
iLACminA vs iLACminD r=0,95† r=0,92† r=0,91† r=0,97† r=0,97†
iLACminB vs iLACminI r=0,90† r=0,83# r=0,83† r=0,94† r=0,93†
iLACminB vs iLACminD r=0,93† r=0,89† r=0,90† r=0,97† r=0,98†
ILACminI vs iLACminD r=0,93† r=0,90† r=0,89† r=0,96† r=0,95†
25
#p<0,05; †p<0,001. iLACminP = intensidade de lactato mínimo (iLACmin) determinada com todos os estágios obtidos no teste; iLACminA = iLACmin determinada com todos os estágios antes e apenas dois estágios após a iLACminP; iLACminB = iLACmin determinada com apenas dois estágios antes e todos os estágios após a iLACminP até exaustão; iLACminI = iLACmin determinada com o maior e mesmo número possível de estágios antes e após a iLACminP; iLACminD = iLACmin determinada com todos os pontos e também o valor da concentração pico de lactato obtido após indução hiperlactacidêmica; VO 2: consumo de oxigênio; FC: frequência cardíaca; PSE: percepção subjetiva de esforço.
Figura 1. Análise gráfica de Bland-Altman entre o iLACminP e iLACminA (A), iLACminP e
iLACiminB (B), iLACminP e iLACminI (C), iLACminP e iLACminD (D).
26
7. DISCUSSÃO
O principal achado do presente estudo foi que tanto a iLACmin quanto as variáveis
fisiológicas correspondentes a essa intensidade não foram influenciadas pela quantidade e
pela combinação de pontos utilizados na aplicação do ajuste polinomial de segunda ordem,
mas o índice de sucesso na determinação da iLACmin se alterou. Esses resultados atendem
aos pressupostos iniciais do estudo e estão de acordo com outros trabalhos que utilizaram o
mesmo ajuste polinomial em diferentes combinações de pontos e não obtiveram diferenças na
determinação da iLACmin (SOTERO et al., 2007; VOLTARELLI; MELLO; GOBATTO,
2005).
Estudos prévios relataram aspectos que podem influenciar a relação matemática
lactato-intensidade, como o tipo de exercício adotado para indução hiperlactacidêmica
(JOHNSON; SHARPE; BROWN, 2009; SMITH et al., 2002) , o tipo de recuperação após a
indução (RIBEIRO et al., 2009) , a utilização de diferentes intensidades iniciais na fase
incremental (CARTER; JONES; DOUST, 1999; JOHNSON; SHARPE, 2011) e o tempo de
intervalo entre estágios (JOHNSON; SHARPE, 2011) , mas não investigaram a influência da
combinação dos pontos obtidos na fase incremental na determinação da iLACmin. Além
disso, nenhum desses estudos adotou um critério para análise do ajuste, como utilizado por De
Araujo et al. (2007) , que descartaram todos os testes em que foram verificados R2 menor que
0,80 ou a<0 do ajuste polinomial, considerando esses critérios como índice de sucesso. A
inclusão desse índice de sucesso fortalece a determinação da iLACmin, excluindo valores que
possivelmente resultariam em erros.
Embora o presente estudo não tenha encontrado diferenças na determinação da
iLACmin por meio do ajuste polinomial com diferentes combinações de estágios, estudos
mostram resultados controversos. Com o objetivo de reduzir o número de estágios
incrementais, Sotero et al. (2007) não encontraram diferenças significativas entre as iLACmin
determinadas em pista de corrida por meio da seleção de diferentes estágios incrementais e a
iMFEL, sendo observadas fortes correlações entre todas essas intensidades. Entretanto,
Pardono et al. (2008) verificaram diferenças entre a iLACmin determinada com diferentes
combinações de estágios e a iMFEL no cicloergômetro, de modo que a primeira combinação
utilizou todos os estágios obtidos no teste; a segunda utilizou o primeiro estágio, o estágio de
PSE de 13 e o estágio da exaustão; a terceira foi composta pelos estágios correspondentes aos
três menores valores de lactato obtidos no teste; e a quarta constituiu-se do primeiro estágio e
27
dos estágios de PSE correspondentes a 13 e 16. Esses autores verificaram que as iLACmin
determinadas pelas duas primeiras combinações foram estatisticamente diferentes da iMFEL,
enquanto que as outras duas não apresentaram diferenças. Assim, o presente estudo corrobora
os achados de Sotero et al. (2007), embora os critérios de seleção dos estágios tenham sido
diferentes entre os dois estudos.
No presente estudo, a quantidade total de pontos das combinações utilizadas não
parece ter influenciado o índice de sucesso, considerando que a menor média para a
quantidade total de pontos utilizados (iLACminB) (tabela 2) foi semelhante ao que geralmente
é observado nos protocolos do teste de LACmin (aproximadamente 6 pontos) (PUGA et al.,
2012). Entretanto, a seleção de mais pontos antes da derivada zero parece ter sido
determinante na obtenção de elevados índices de sucesso, como observado na iLACminA,
iLACminP e iLACminD. Desse modo, considerando que o número de pontos antes da derivada
zero tem relação com a intensidade inicial e com a sobrecarga adotada após cada estágio
durante a fase incremental, nossos resultados parecem indicar que um maior número de
estágios antes da derivada zero permite uma melhor caracterização da curvatura lactato-
intensidade e maior confiança no ajuste matemático.
Nos casos em que não foi possível determinar a iLACminB, os pontos da fase
incremental resultaram em comportamento das [lac] diferente do formato semelhante a letra
“U”. Carter, Jones e Doust (1999) verificaram que quando a intensidade inicial da fase
incremental correspondeu ao limiar de lactato (LL) ou1 km·h-1 superior ao LL, não foi
possível determinar a iLACmin. Além disso, quando a fase incremental foi iniciada com
intensidade 0,5 km·h-1 abaixo do LL, a iLACmin superestimou o LL. Possivelmente, o uso de
intensidades iniciais muito próximas da iLACmin representa um estado muito próximo do
equilíbrio entre produção e remoção de lactato e rapidamente o ponto em que ocorre o
acúmulo desse metabólito é alcançado, resultando em um comportamento das [lac]
aparentemente linear.
Voltarelli, Mello e Gobatto (2005) sugeriram a utilização do valor de lactato pico da
indução por meio da relação entre lactato vs tempo de exercício e não encontraram diferenças
na iLACmin determinada com e sem a inclusão do valor de lactato pico da indução na natação
com ratos. Nosso estudo está de acordo com o trabalho desses autores (VOLTARELLI;
MELLO; GOBATTO, 2005), sendo que a iLACminD não foi diferente das iLACmin
determinadas pelas diferentes combinações e apresentou o melhor nível de concordância com
iLACminP (Figura 1D) e os menores erros individuais identificados pelos limites inferior e
superior (LI:-6,55 W; LS:9,65 W).
28
Outro ponto importante para investigação do ajuste matemático no comportamento
lactato-intensidade é que as [lac] durante a fase incremental do teste de LACmin não
representam somente a demanda metabólica da intensidade de exercício (JOHNSON;
SHARPE, 2011), considerando que alguns fatores envolvidos no transporte do lactato
sanguíneo e muscular também podem ocasionar alterações na relação lactato-intensidade.
Dentre esses fatores, a participação dos transportadores monocarboxílicos (MCT’s) é bastante
relevante, considerando que estudos evidenciaram que o treinamento de alta intensidade
aumenta o conteúdo de MCT1 músculo esquelético humano (PILEGAARD et al., 1999), de
modo que indivíduos mais treinados aerobiamente apresentam maior capacidade de remoção
do lactato sanguíneo durante o repouso e exercício quando comparados a indivíduos menos
treinados (THOMAS et al., 2005). Assim, acredita-se que o ajuste no comportamento lactato-
intensidade pode ser influenciado pelo estado de treinamento do indivíduo, principalmente
pela velocidade de remoção do lactato sanguíneo após a indução hiperlactacidêmica.
Nesse sentido, as [lac] nas intensidades inferiores a iLACmin durante a fase
incremental podem ser influenciadas por diversos fatores relacionados às variações
metodológicas. Entretanto, em intensidades superiores a iLACmin, as [lac] são dependentes
basicamente da intensidade e duração do estágio de exercício, considerando que após a
iLACmin ocorre maior produção do que remoção de lactato. Contudo, os aspectos
relacionados aos pontos obtidos após a iLACmin e que talvez possam influenciar o ajuste
matemático ainda não foram investigados. Alguns autores têm utilizado como critério para
finalizar o teste a observação de três aumentos consecutivos nas [lac] (DOTAN et al., 2011),
sendo obtidos sempre três estágios após a iLACmin.
Desse modo, diversos fatores podem ter sido responsáveis pelos menores valores do
coeficiente de determinação no ajuste matemático nos casos em que não foi possível a
determinação da iLACminI. Em alguns estudos têm sido utilizado avaliações prévias para
selecionar as intensidades de exercício da fase incremental (SOTERO et al., 2007), de modo
que é possível aplicar aproximadamente a mesma quantidade de estágios antes e após a
iLACmin. No entanto, no presente estudo essa combinação (iLACminI) apresentou um índice
de sucesso de 83,3%.
29
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Limitações do estudo
Uma possível limitação do estudo foi que não houve comparação das variáveis de
intensidade, VO2, FC e PSE das diferentes iLACmin com a iMFEL. Outra limitação do estudo
foi aplicar apenas um teste de LACmin e realizar as combinações de pontos obtidas apenas
desse teste. Ainda, pela amostra do estudo ser composta por estudantes moderadamente ativos
e não ciclistas, os achados do presente estudo se limitam a essa população, sendo que sua
extrapolação para a população de ciclistas deve ser realizada com cautela.
Aplicações Práticas
Os resultados do presente estudo indicam que um maior número de estágios antes da
derivada zero possibilita um melhor ajuste no comportamento da resposta lactato-intensidade
e consequentemente, apresenta maior sucesso na determinação da iLACmin. Além disso,
deve-se ter cautela ao utilizar poucos estágios antes da iLACmin, como é o caso de aplicar
intensidades iniciais muito altas, considerando que há uma grande probabilidade de erro na
determinação da iLACmin.
Conclusão
Portanto, conclui-se que a determinação da iLACmin por meio de ajuste polinomial de
segunda ordem no presente estudo não foi influenciada pelas diferentes quantidades e
combinações de estágios e pelo uso do valor de lactato pico após indução hiperlactacidêmica.
Entretanto, o índice de sucesso foi dependente da combinação de estágios utilizados no ajuste
matemático.
9. REFERÊNCIAS
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33
ANEXOS
10. ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você esta sendo convidado a participar em uma pesquisa. Você precisa decidir se quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este estudo está sendo conduzido pelo Prof. Dr. Alessandro Moura Zagatto.
A finalidade deste estudo é investigar a validade de um procedimento de avaliação da aptidão aeróbia em exercício realizado em bicicleta ergométrica, que pode a partir dos resultados, ser amplamente utilizado na avaliação da população em geral.
No estudo, para uma caracterização dos participantes, só serão utilizados indivíduos do sexo masculino, com idade entre 18 e 25 anos.
Poderão participar deste estudo pessoas moderadamente ativas, que não apresentam hábitos regulares de consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, doenças crônicas degenerativas ou patologias cardíacas.
Não poderão participar do estudo, pessoas que apresentam uma prática regular de atividade física caracterizados como atletas ou que apresentam qualquer tipo de patologia ou a inabilidade em executar exercícios. Pessoas com idade inferior a 18 anos e superior a 25 anos; consumidores regular de bebidas alcoólica e/ou cigarros; ou que estejam ingerindo medicamentos.
Você, participante, terá que realizar no estudo, dois exercícios exaustivos em uma bicicleta ergométrica. Você será requisitado para a coleta de material biológico como: a freqüência cardíaca por meio de um relógio que realiza essa função; o consumo de oxigênio por meio de uma máscara para analisar os gases respirados durante o exercício; e também coleta de uma pequena amostra de sangue (aproximadamente 1 gota de sangue) do lóbulo da orelha. Todos esses procedimentos serão aplicados por um profissional capacitado e experiente, e todos os equipamentos utilizados para a coleta do material biológico são esterilizados, enquanto que no caso da coleta do material sanguíneo, todos os materiais são descartáveis e inutilizados após o uso individual.
Sabemos que esses procedimentos são aplicados de rotineiramente em outras pesquisas e exercícios, sendo que o exercício a ser realizado é similar a qualquer atividade realizada na sua rotina de prática esportiva.
Os riscos dos testes são aqueles inerentes a qualquer prática de exercícios físicos extenuantes, riscos estes que podem ser esclarecidos pelo responsável da pesquisa.
Apesar de raro, há possibilidade de alterações orgânicas durante a realização de qualquer tipo de teste de esforço que podem ser respostas atípicas de pressão arterial,
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arritmias, desmaios, tonturas e em raríssimas situações ataque cardíaco. Portanto profissionais qualificados estarão à disposição para tais eventualidades.
Você irá realizar cinco visitas ao laboratório para realização dos testes, possuindo a duração aproximada de 1 hora em cada visita. O período máximo destinado para a realização dessas cinco sessões é de 14 dias.
Como uma estimativa inicial do total de participantes no estudo é de 15 indivíduos.
Você poderá sentir uma ligeira dor no local da picada da agulha para a coleta de sangue ou mesmo sensação de ardência ou leve dor na realização dos exercícios. Como mencionado anteriormente, todos os cuidados são tomados em relação aos materiais utilizados e aos procedimentos do estudo.
Para a realização dos procedimentos, as datas e horários serão previamente agendados conforme a sua disponibilidade, para não prejudicar sua rotina de trabalho ou estudo.
Se você concordar em participar do estudo, seu nome e identidade serão mantidos em sigilo. A menos que requerido por lei, somente o pesquisador, a equipe do estudo e os representantes do Comitê de Ética (caso necessário) terão acesso a suas informações para verificar as informações do estudo.
Para perguntas ou problemas referentes ao estudo ligue para 67 33457636 (Prof. Dr. Alessandro Moura Zagatto). Para perguntas sobre seus direitos como participante no estudo chame o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFMS, no telefone (067) 33457187.
Sua participação no estudo é voluntária. Você pode escolher não fazer parte do estudo, ou pode desistir a qualquer momento. Você não perderá qualquer benefício ao qual você tem direito. Você não será proibido de participar de novos estudos. Você poderá ser solicitado a sair do estudo se não cumprir os procedimentos previstos ou atender as exigências estipuladas. Você receberá uma via assinada deste termo de consentimento.
Declaro que li e entendi este formulário de consentimento e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas. E que sou voluntário a tomar parte neste estudo.
Assinatura do Voluntário ____________________________________data________
(se possível obter uma forma para que o sujeito da pesquisa possa ser contatado)
Assinatura do pesquisador _________________________________data_________
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