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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL SIMONE SOARES TURCHETTO PINTURA EM MOVIMENTO CAXIAS DO SUL 2013

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

SIMONE SOARES TURCHETTO

PINTURA EM MOVIMENTO

CAXIAS DO SUL

2013

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SIMONE SOARES TURCHETTO

PINTURA EM MOVIMENTO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Centro de Artes e Arquitetura, Comissão de Graduação do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial e obrigatório para obtenção do título Licenciatura em Artes Visuais. Orientação: Profa. Dra. Maria Helena Wagner Rossi

CAXIAS DO SUL

2013

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PINTURA EM MOVIMENTO

Simone Soares Turchetto1

1 INTRODUÇÃO

Este artigo foi desenvolvido como trabalho de conclusão do curso de

Licenciatura em Artes Visuais2. Novas metodologias para o ensino de artes nas

escolas foram abordadas e desenvolvidas através de exercícios continuados durante

o decorrer do curso. Propõe tecer reflexões tendo como foco três obras de arte

“Barco com Bandeirinhas e Pássaros” (Alfredo Volpi), “A Noite Estrelada” (Vincent

Van Gogh) e “Composição com vermelho, amarelo, azul e preto” (Piet Mondrian). As

questões das técnicas utilizadas pelos artistas e os elementos visuais que compõem

as pranchas estabeleceram as relações necessárias para a definição da forma e

nome do meu objeto de aprendizagem.

Objeto este, que foi construído considerando o contexto escolar em que será

utilizado, possuindo autonomia necessária para que outros professores utilizem,

tendo como objetivo aumentar o conhecimento em artes visuais dos alunos e ao

mesmo tempo causar estranhamento e curiosidade com isso podendo variar as

possibilidades de seu uso em sala de aula.

O texto busca refletir sobre o processo de busca de novas maneiras de

desenvolver o aprendizado do ensino de artes no sistema público. O professor

passa a produzir conhecimento e alternativas para escolas que não possuem sala

específica para as aulas de Arte.

O ensino de artes vem passando por transformações que vão desde a lei3

que fundamentou a disciplina de Educação Artística nos currículos na década de 70,

assim como a Proposta Triangular4 nos anos 80. Foi esse processo que norteou o

curso de graduação da REGESD (Curso de Licenciatura em Artes Visuais

1 Aluna do Curso de Licenciatura em Artes Visuais, Centro de Artes e Arquitetura da

Universidade de Caxias do Sul. 2 O Curso de Licenciatura em Artes Visuais UFRGS/UCS é desenvolvido pela REGESD

(Rede Gaúcha de Ensino Superior a Distância), que tem por objetivo de formar e qualificar professores da rede pública de ensino no estado do Rio Grande do Sul.

3 Lei 5692/71 que tornou a Educação Artística obrigatória no Brasil.

4 Ana Mae Barbosa: “A Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa é hoje a principal

referência do ensino da arte no Brasil”. A proposta triangular foi o primeiro programa educativo do gênero, sendo composto pela da leitura da obra, leitura do contexto da obra e fazer artístico.

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modalidade à distância), nos fóruns, nas pesquisas e na abordagem do panorama

artístico cultural durante a formação de novos educadores.

O texto é dividido em dois capítulos.

O primeiro capítulo mostra o processo de escolha das obras de arte a serem

trabalhadas e os projetos a serem desenvolvidos a partir do eixo operacional

escolhido “Atelier de Arte”. A sua aplicação tem por finalidade desenvolver nos

alunos as habilidades de contextualizar, apreciar, analisar as produções artísticas

dos movimentos, criar, reconhecer, identificar e utilizar os diferentes tipos de texturas

e os elementos da linguagem visual: luz, volume e cor em suas composições

artísticas.

São escolhidas três obras de arte: “O Barco com Bandeirinhas e Pássaros”

(Alfredo Volpi), “A Noite Estrelada” (Vincent Van Gogh) e “Composição com

vermelho, amarelo, azul e preto” (Piet Mondrian), que servirão de base para o

desenvolvimento do Objeto de Aprendizagem.

No segundo capítulo o objeto “Arte em Movimento” é apresentado ao leitor e

as formas como ele será aplicado em sala de aula.

Nesse contexto as obras estudadas, objeto de aprendizagem e os projetos

devem ser considerados importantes referencias para o professor que está sempre

atento às questões do seu fazer em sala de aula de forma a enriquecer seu trabalho,

tornando-se grandes aliados dos professores/mediadores no ensino de Artes. Todo

esse material será utilizado com o intuito de contribuir na construção de métodos de

ensino que atendam às expectativas tanto de quem ensina como de quem aprende.

O conhecimento vai sendo construído com a participação de todos envolvidos no

processo.

2 ESCOLHA DAS PRANCHAS, EIXO OPERACIONAL E PROJETOS

A tônica para a criação do objeto de aprendizagem foi a criação de um

objeto único que pudesse reunir a diversidade de linguagens propostas (pranchas),

a partir de um eixo operacional que enfatiza o Atelier de Artes Visuais, abordando

posteriormente períodos históricos da pintura. A eleição de uma única imagem foi

bastante importante para o nosso projeto, pois foi a partir dela que os demais

conceitos nortearam nosso objeto de aprendizagem. Vale lembrar que cada imagem

foi retirada de um contexto inicial e que este contexto também está presente em

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nosso mapa conceitual como, por exemplo: Arte brasileira contemporânea: bienais e

exposições visitados por nós em outros espaços expositivos consagrados; Arte

universal: Renascimento, Impressionismo, Modernismo.

Além disso, cada obra faz parte de um contexto (social ou institucional) e

está articulada com o período histórico de sua produção, assim como está

sistematizada dentro do contexto da Arte. O desenvolvimento desta proposta de

trabalho foi baseado em três obras: “Barco com Bandeirinhas e Pássaros” (Alfredo

Volpi), “A Noite Estrelada” (Vincent Van Gogh) e “Composição com vermelho,

amarelo, azul e preto” (Piet Mondrian).

O estudo da arte nos dias de hoje abrange, não só, a análise das obras de

arte tradicionalmente conhecidas como também as não consagradas pelo sistema

de belas-artes. Com isso a arte passa a ser um modo de praticar cultura e não só

um campo diferenciado de atividade social.

Rossi (2009) coloca o seguinte, falando do ensino de arte:

Quanto à imagem da arte, é desnecessário falar da importância e do papel que ela vem assumindo no ensino contemporâneo. Após décadas de ausência na escola, a imagem retorna para ocupar um lugar central nas aulas de arte. Já é consenso a ideia é que todo aluno deve ter a oportunidade de interpretar os símbolos da arte, pois a dimensão estética é constitutiva do potencial humano (Rossi, 2009).

Posteriormente, após análise e escolha das pranchas, foi necessário trazer

este estudo para o local de ensino de arte, a sala de aula. Então, foi pensando nas

transformações que o ensino de artes vem passando e como essa relação pode nos

auxiliar na formação dos alunos que são o foco de nossos estudos.

Para Canclini (1984), o estudo da arte é muito abrangente:

O estudo da arte abrange, hoje, a análise das obras tanto quanto a das transformações de seu sentido, realizado pelos canais de distribuição e pela variável receptividade dos consumidores. Abrange as artes tradicionalmente conhecidas como tais e, também, as atividades não consagradas pelo sistema de belas-artes, ou como as expressões visuais e musicais nas manifestações políticas, ou aspectos da vida cotidiana. A arte, então, deixa de ser concebida apenas como um campo diferenciado da atividade social e passa a ser, também, um modo de praticar a cultura (CANCLINI, 1984, p. 207-208).

2.1 ESCOLHA DAS PRANCHAS

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Figura 1 - Têmpera sobre tela

Fonte: Coleção MAC-USP - Alfredo Volpi, Barco com Bandeirinhas e Pássaros, 1955.

Para contextualizar a escolha das pranchas, é necessário situar o leitor no

cenário histórico em que cada obra escolhida foi desenvolvida.

A primeira prancha escolhida foi a da obra de Alfredo Volpi, “Barco com

Bandeirinhas e Pássaros” (1955, têmpera sobre tela). A obra traz característica do

processo de transição pintor, embora nem toda sua obra seja datada, dificultando a

cronologia exata em que as obras foram sendo executas. Mammi (1999) coloca o

seguinte: “Os quadros de Volpi nem data trazem, como se até elas não passassem

de anedotas extra-artística”. Contudo, o geométrico se tornou uma característica

marcante na obra do artista.

Volpi começou pintando imagens figurativas com casas e cenas de pessoas.

A fase rigorosamente abstrata é curtíssima e Volpi faz uma síntese única entre arte

figurativa e abstrata. Ele fica conhecido por pintar bandeirinhas que serviam para ele

como exercício de cor, geometria, composição e estrutura formal. No final da década

de 40, as fachadas e os casarios se intensificaram nas suas criações e ficam mais

simplificados, geométricos e abstratos.

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Rosa (2000), ao falar sobre essa transição, transcreve a seguinte fala de

Volpi:

Ao incorporar as formas das bandeirinhas em seus quadros, Volpi anunciava a nova fase: “A gente se desliga e então só passa a existir o problema da linha, forma e cor. (...) Minhas bandeirinhas não são bandeirinhas; são só o problema das bandeirinhas (ROSA, 2000, p. 25).

Conforme afirma Mammi (1999), Volpi não é teórico “Não sendo um artista

dado a teorizações, aprendia pintando, e não é raro se encontrar, mesmo na sua

maturidade, quadros que são claras apropriações de Cèzanne”.

Esta obra foi escolhida por se tratar uma produção nacional, e, também por

trabalhar cores básicas e formas geométricas reconhecíveis. Tendo esses critérios

em vista, a obra pode ser trabalhada em sala de aula através da utilização do disco

de cores explorando cores primárias, secundárias e terciárias. Outro conteúdo a ser

abordado pelo professor é a mudança que ocorreu nas obras de Volpi, do figurativo

para o abstrato. Segundo Canton (2010) “Volpi começou pintando figuras, imagens

figurativas com cenas de pessoas e casas. Aos poucos, no entanto, ele foi

desligando-se das figuras e se tornando mais e mais abstrato”.

A segunda prancha foi feita a partir da obra de Vincent Van Gogh, “A Noite

Estrelada” (1889, Óleo sobre tela).

A obra foi pintada de memória e não a partir de uma paisagem. É nesse

período que o artista rompe com a fase impressionista e passa para o pós-

impressionismo, desenvolvendo um estilo muito particular, no qual prevalecem fortes

cores primárias e pinceladas marcadas. Buscando fruir a respeito da tela “A Noite Estrelada” (Vincent Van Gogh), é

importante que ela seja contextualizada como coloca Manguel (2001):

Vemos uma pintura como algo definido por seu contexto; podemos saber algo sobre o pintor e sobre o seu mundo; podemos ter alguma ideia das influências que moldaram sua visão; se tivermos consciência do anacronismo, podemos ter o cuidado de não traduzir essa visão pela nossa. (...) Quando lemos imagens (...) atribuímos a elas o caráter temporal da narrativa. Ampliamos o que é limitado por uma moldura para um antes e um depois e, por meio da arte de narrar histórias, (...) conferimos à imagem imutável uma vida infinita e inesgotável. (MANGUEL, 2001, p. 27)

Podemos observar que Vincent Van Gogh pintava imprimindo sensações,

atormentado por ataques de loucura e conformado com sua situação, torna-se mais

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radical, ao pintar temas que representavam seu estado psicológico, abusava das

cores e pinceladas, estas sensações estão implícitas na tela “A Noite Estrelada”

(Vincent Van Gogh).

Farthing (2010) mostra o panorama em que Van Gogh produziu grande parte

de sua obra: “Hospitalizado em Saint-Rémy, Van Gogh trabalhou febrilmente na

criação de alguns de seus melhores quadros. (...) Seu trabalho ganha

reconhecimento, mas a exaustão nervosa o depauperara” (FARTHING, 2010, p.

337).

É em meio a crises, que Van Gogh produz, não mais reproduzindo cenas e

sim expressando seu estado de ânimo, através de pinceladas vigorosas, cores

quentes, como vermelhos e amarelos que se contrapõe com as cores frias dos

ciprestes verdes, e azuis do céu na obra “A Noite Estrelada” (Vincent Van Gogh).

Para o professor Araujo (2007), em um artigo para Infoescola – navegando e

aprendendo, “Van Gogh, por exemplo, teve a oportunidade de conhecer a

capacidade humana de sentir, pensar, interpretar e recriar o seu mundo com

sensibilidade e criatividade”.

Esta obra foi escolhida, pois podemos observar as texturas que se criam a

partir das pinceladas e cores utilizadas.

A terceira obra escolhida foi a “Composição com vermelho, amarelo, azul e

preto” (Piet Mondrian), (1921, óleo sobre tela), o trabalho do artista tem como

características formas abstratas, geométricas, sempre defendeu a ideia de que a

arte não deveria limitar-se a reprodução de imagens de objetos reais, usando a cor e

a linha reta como elementos mais importantes. Segundo Schapiro (2001):

A precisa grade de linhas pretas na pintura de Mondrian, tão firmemente ordenada, é um todo aberto e imprevisível, sem simetrias ou partes proporcionais. O exemplo de sua arte austera educou uma geração mais nova com base na força e no refinamento da variação com um mínimo de elementos (SCHAPIRO, 2001, p.15, 16).

As obras de Mondrian buscavam a simplicidade: traços pretos feitos com

linhas geométricas que delimitavam superfícies preenchidas pelo fundo branco ou

com as cores primárias. Tinha por princípio que uma superfície plana só deveria

conter elementos planos, isso implicou na eliminação de linhas curvas na sua obra,

direcionando o artista a trabalhar apenas com linhas e ângulos retos.

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Esta obra foi escolhida pela regularidade geométrica, cores puras e

simplificação de formas. Para chegar a estas escolhas, parte dos estudos foi

baseado em Barbosa (2003) e sua Proposta Triangular.

A proposta Triangular foi sistematizada a partir das condições estéticas e culturais da pós-modernidade. A Pós-Modernidade em Arte/Educação caracterizou-se pela entrada da imagem, sua decodificação e interpretações na sala de aula junto com a já conquistada expressividade (BARBOSA, 2003, p. 08).

Ana Mae Barbosa sistematiza o ensino de Arte em três ações:

Contextualização da arte5; Apreciação artística6 e fazer artístico7. Tendo como base

essa sistematização aplicada por Barbosa, foi direcionada a escolha e possibilidades

de trabalho com as obras. Ao escolher as três pranchas e fazer uma leitura do

contexto histórico em que estão inseridas, foi possível perceber como alguns

elementos figurativos, dos diversos gêneros da pintura (o retrato, o autorretrato, o

nu, a natureza-morta, as paisagens) ainda estão presentes nessas imagens,

caracterizando-se pela riqueza de detalhes, pela precisão técnica e pela forma

abordada, auxiliando assim na escolha do eixo operacional.

2.2 EIXO OPERACIONAL

“Atelier” foi o eixo operacional escolhido tendo como base os referenciais e

leituras das três pranchas. No momento que fica definida a escolha deste eixo,

significa que o objeto de aprendizagem vai ser construído tendo como referência o

Atelier de Arte, explorando as questões que envolvem a produção artística e

enfatizando as linguagens utilizadas, tais como: a pintura, o desenho, a gravura, a

fotografia, a cerâmica, a escultura ou a instalação, que é uma versão mais recente

da linguagem artística tridimensional.

Para construir o objeto a partir deste eixo é necessário abordar pelo menos

três linguagens plásticas e os atelieres correspondentes a cada uma delas, bem

como os seus equivalentes espaços de trabalho na escola. Pode-se pensar em dois

5 Possibilita o entendimento de que arte se dá num contexto, tempo e espaço, dando

acesso ao conhecimento da história, da vida e obra dos diversos artistas consagrados pela humanidade.

6 Desenvolve a criação de imagens expressivas.

7 Desenvolve a habilidade de ver e descobrir as qualidades da obra de arte e do mundo

visual que cerca o apreciador.

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tipos de Atelieres na Escola: o atelier das linguagens bidimensionais e o das

linguagens tridimensionais. Um ponto muito importante é desenvolver o

conhecimento dos instrumentos, dos materiais e dos suportes utilizados por artistas.

Pode-se também desenvolver um projeto que enfoque: os materiais da pintura, os

instrumentos do desenho, os diversos suportes da gravura, os processos

fotográficos tradicionais e alternativos, entre outros.

Para Pereira (2006), arte é uma área de conhecimento permanente:

Uma vez que consideramos que arte é uma área de conhecimento permanente também ao universo científico, consideremos, outrossim, a validade de refletir sobre mecanismos de construção de conhecimento em nossa trajetória humana. E reavaliar as possíveis implicações acerca do experimento e da cotextualização em arte na sala de aula. Tomasello (2003) defende a hipótese de que a evolução do conhecimento humano não possuir raízes exclusivamente genéticas. Que um fator primordial é a correlação da construção do conhecimento com fatores sociais e culturais (PEREIRA, 2006, p.41, 42).

No eixo operacional, também deverá ser focado os elementos da linguagem

visual e a compreensão da materialidade da obra para acentuar a relação entre

forma e matéria, ou seja, enfatizando os procedimentos e as técnicas utilizados pelo

artista na criação de sua obra. Além disso, deverá ser dada uma atenção especial à

leitura de obra e ao desenvolvimento formal em seus diversos contextos.

Ao utilizarmos a palavra projetos temos sempre uma intencionalidade, ou

seja, a preocupação com uma atitude pedagógica que se apoia nos fundamentos

teóricos e práticos da educação e da arte. Citando Pearson (1984) “é tal fazer, que

enquanto faz inventa o porquê e como fazer”. O projeto é uma intensão e precisa ser

sempre avaliado e planejado para transformar as atividades isoladas das aulas de

artes em situações de aprendizagem. Para melhor explicar, foi incorporado à

dinâmica de projetos à escolha das pranchas e do eixo operacional.

Para Pereira (2006), são vários os mecanismos processuais para

aprendizagem de arte nas escolas, “vários mecanismos processuais poderiam ser

citados como forma de aprendizagem. O conhecimento em arte pode se valer de

inúmeras experiências para significar suas manifestações e suas formas de

expressão”.

3 OBJETO DE APRENDIZAGEM: FISICALIDADE E APLICAÇÃO

Figura 2 - Objeto de aprendizagem - Arte em Movimento

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São dois os principais conceitos de objeto de aprendizagem que possuem

uma maior aceitação na comunidade acadêmica: É o do Instituto de Engenheiros

Eletrônicos e Eletricistas/Learning Technology Standards Committee (IEEE/LTSC),

Objeto de Aprendizagem, refere-se a “qualquer entidade, digital ou não, que pode

ser utilizada e reutilizada durante o processo de aprendizagem que utilize tecnologia.

Tais objetos podem ter conteúdo hipermídia, conteúdo instrucional, outros objetos de

aprendizagem e software de apoio” (IEEE, 2002). Segundo Wiley (2000), é “[...]

qualquer recurso digital que possa ser utilizado para o suporte ao ensino”.

Segundo a professora e pesquisadora Andrea Hofstaetter8, em conversas no

fórum9, tece os seguintes comentários a respeito de aprendizagem: “Diante de todo

este desenvolvimento tecnológico é possível conceber e elaborar novas situações

de aprendizagem, antes inconcebíveis, que envolvem muito mais os estudantes e

ampliam intensamente as formas de interagir com conhecimentos e saberes já

constituído, assim como as possibilidades de criação de conhecimento”. Portanto o

8 Andrea Hofstaetter, doutora e pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS.

9 Espaço para discussão de assuntos ligados a graduação em Artes Visuais, ensino a

distância.

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objeto de aprendizagem tem a finalidade de auxiliar o professor/mediador a dar

significado às suas aulas de artes, é facilitador da construção do conhecimento,

através da sua utilização auxilia os alunos na compreensão ou construção de

conhecimento.

Para Rittmann (2012), a aprendizagem deve sofrer um processo de

interferências, com esse foco introduzimos o objeto de aprendizagem:

Partindo do pressuposto que toda aprendizagem deva tentar estabelecer um processo de interferências entre os conhecimentos que se possui e os novos conhecimentos a serem construídos, as possibilidades de utilização do Objeto de Aprendizagem Caixa de Pandora são múltiplas e os objetivos principais são o desenvolvimento estético e gráfico-plástico dos alunos através da experiência concreta de aprendizagem (RITTMANN, 2012, p. 21).

É dessa forma que o objeto de aprendizagem intitulado “Arte em Movimento”

foi construído, tendo como ideia básica o movimento considerando o contexto

escolar em que será utilizado, e possuindo autonomia necessária para que outros

professores também o utilizem. Tem como objetivo principal aumentar o

conhecimento dos alunos em artes visuais e ao mesmo tempo causar

estranhamento e curiosidade, com isso podendo variar as possibilidades de seu uso

em sala de aula.

O Objeto Arte em Movimento consiste em um móvel de MDF com rodízios

para facilitar o transporte e a mobilidade. Possui gavetas em duas das laterais. As

demais laterais servem como expositor e suporte para blocos de papel A3. Recebeu

a nomenclatura devido à possibilidade de mobilidade, e por tratar-se de um “mini”

atelier, que além de expor a produção artística ou exemplos para análise, também

guarda e organiza os materiais a serem utilizados nas aulas.

A presença de rodízios facilita e possibilita o transporte entre as salas de

aula. Este objeto é uma proposta alternativa para as escolas que não possuem sala

própria para desenvolver as atividades de arte. Foi fabricado em uma marcenaria, e

pintado com aplicação de tinta spray pela professora Simone Soares.

As cores e proporções utilizadas remetem a obra de Mondriam para servir

como referência para os alunos. Nos expositores são mantidas pranchas com as

obras utilizadas no eixo, também com o intuito de estimular a curiosidade e

aumentar o repertório visual dos alunos.

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3.1 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Para utilizar o objeto de aprendizagem em sala de aula, são executados seis

projetos que auxiliam no aprendizado. Foi utilizada a seguinte nomenclatura para

esses projetos: Leitura de imagens, tridimensional, provando texturas, pintura de

rosto, desenho animado e maleta de pintura. Nos parágrafos seguintes serão

explicadas as aplicações de cada um dos projetos.

A leitura de imagens é a denominação dada ao projeto que solicitou que os

alunos fizessem a leitura da obra de Alfredo Volpi, “Barco com Bandeirinhas e

Pássaros”. Inicialmente foram expostas, além da obra a ser trabalhada, outras desse

mesmo artista. Após o reconhecimento das obras, foi solicitado aos alunos que

realizem o desenho de um barco, segundo seu conhecimento (repertório gráfico).

Em seguida utilizando-se das peças do Tangran10 (confeccionadas em papel

colorido) elaboraram um novo trabalho com o mesmo tema, mas sob uma nova

ótica, evitando repetir as convenções anteriores, ou seja, através da colagem das

peças do Tangran criar um barco apenas com formas geométricas.

Observação da obra bidimensional foi o segundo projeto aplicado. A partir do

artista Mondrian, “Composição com vermelho, amarelo, azul e preto”, os alunos

trabalharam com a ideia de tridimensionalidade para esta obra, foram utilizados

materiais alternativos, tais como caixas vazias. Partindo da ideia de que as formas

geométricas desta obra poderiam formar uma planta baixa, propõe-se que cada

grupo de alunos construa uma quadra residencial usando a obra como estrutura de

base. É executado sobre uma folha de papel kraft disposta sobre o chão, criando

uma grande planta, onde cada forma conteria uma das quadras criadas, montando

assim, o projeto de um bairro alternativo. Por fim, utilizando-se de têmperas, todos

deverão pintar o projeto final com as cores primárias, propondo um significado ou

valor coletivo para cada cor.

Para experimentar texturas, é feita a observação de obras de Mondrian e

Van Gogh, então, mostra-se aos alunos os tipos de texturas apresentadas nas

obras. Na obra de Mondrian temos uma pintura com cores chapadas e na de Van

Gogh uma pintura com grande mistura de cores e pinceladas marcadas. Após

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É um quebra-cabeça chinês formado de sete peças: um quadrado, um paralelogramo, dois triângulos isósceles congruentes maiores, dois triângulos menores também isósceles e congruentes e um triângulo isóscele médio. As sete peças formam um quadrado.

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observação das imagens, os alunos saem da sala e se dirigem ao pátio para realizar

um esboço a lápis da fachada do prédio, ou algo da paisagem. Após, deverão fazer

uma mistura de areia e tinta guache e utilizar essa técnica para pintar os desenhos,

resultando assim numa imagem onde a textura física fique bastante papável.

A pintura de rosto será executada baseada na obra de Mondrian,

“Composição com vermelho, amarelo, azul e preto”, como o artista prega a

eliminação de linha curva, mostrar a diferença destas linhas rígidas em contraste

com as linhas curvas e orgânicas do rosto dos próprios alunos. Para isso, foi

proposto aos alunos que pintem o rosto uns dos outros com os elementos da obra

de Mondrian e, ao final, observem a distorção das linhas sobre os rostos uns dos

outros.

Outro projeto aplicado foi o desenho animado, onde os alunos pesquisaram

no laboratório a obra do artista Vincent Van Gogh, “A Noite Estrelada” em

movimento através do endereço <http://www.youtube.com/watch?v=4q5gHqBylYE>.

Em sala de aula, observando a obra “Barco com Bandeirinhas e Pássaros” (Alfredo

Volpi), os alunos, em grupo, montam uma história que envolva esta imagem. O

próximo passo é reproduzir através do desenho, em um bloco de folha A3, cada

cena dessa história para ser apresentada quadro a quadro no objeto de

aprendizagem.

A maleta de pintura11 é um objeto que traz para discussão com os alunos,

não apenas as diferentes técnicas de pintura, mas como esta se constrói a partir do

uso de distintos materiais. É importante nesse processo que o professor diferencie

pintura12 e desenho13. O professor deverá trazer informações de que a pintura

acompanha o ser humano por toda a sua história, desde as cavernas até os dias

atuais, apresentar aos alunos as variações de técnicas e materiais utilizados em

diferentes épocas, pois estão diretamente ligados ao resultado final da imagem.

A seguir, os alunos devem confeccionar ou coletar o próprio material para

montagem da sua maleta de pintura. Cada aluno deverá ser instigado a pensar nos

materiais não convencionais que possam produzir manchas e texturas, além dos

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Objeto que contenha materiais para utilização durante as aulas de Artes, tais como tintas, pincéis e papéis entre outros.

12 Pintura é uma técnica que utiliza pigmentos em forma líquida para colorir uma superfície,

atribuindo tons e texturas, esta superfície pode ser tela, papel ou parede. <http://www.brasilescola. com/artes/pintura.htm>.

13 Desenho é basicamente uma composição bidimensional (algo que tem duas dimensões)

constituída por linhas, pontos e forma <http://www.brasilescola.com/artes/desenho.htm>.

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materiais clássicos utilizados por Mondrian que produziram uma superfície lisa, por

Van Gogh ou por Volpi, para produzir misturas de cores. Também, outras técnicas

como esponjado, stencil, grafitti ou espatulado, poderão servir como referência para

a pesquisa de materiais de pintura alternativos.

Segundo Prosser (2012), a arte é uma ferramenta:

Na educação, a arte além de ser uma ferramenta para o desenvolvimento da criança, é ainda um meio de o educador poder conhecer e compreender melhor o seu aluno e ajudá-lo no seu percurso. Por meio da arte, o professor poderá perceber as mudanças que ocorrem no íntimo de cada criança: seus sucessos, suas vitórias, seus problemas, suas dificuldades, a maneira como está reagindo a determinadas situações (PROSSER, 2012, p. 31).

A educação em artes visuais necessita um trabalho a longo prazo, que

desenvolva conteúdos e experiências relacionados às técnicas utilizadas, materiais

e às formas empregadas pelos diversos movimentos históricos, desde a antiguidade

até a contemporaneidade. Os parâmetros curriculares fornecidos pelo MEC em 1997

já demonstram essa necessidade:

A arte acompanha nosso cotidiano ao longo da história. Aprendemos a observar e a registrar acontecimentos em pedras, cavernas e folhas de papel. Foi através dela que pudemos conhecer um pouco da nossa história, da nossa evolução. A arte acompanha cada passo de nossa sociedade, intervindo e registrando acontecimentos, seja ele registrado em forma de desenho, pintura, dança, ou até mesmo a escrita (BRASIL, 1997).

A escola deve desempenhar papel fundamental para que os alunos passem

por experiências de aprendizado e criação, baseados na percepção, imaginação, e

principalmente no conhecimento teórico sobre arte. Com isso a arte passa a ter

maior importância dentro da escola, principalmente, porque ter conhecimento

cultural é de grande relevância na vida cotidiana. A arte segundo os Parâmetros

Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental enfatiza o que segue:

[...] vem enfatizar o ensino e a aprendizagem de conteúdos que colaborem para a formação do cidadão, buscando igualdade de participação e compreensão sobre a produção nacional e internacional de arte. A seleção e a ordenação de conteúdos gerais de Arte têm como pressupostos a clarificação de alguns critérios, que também encaminham a elaboração dos conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança e, no conjunto, procuram promover a formação artística e estética do aprendiz e a sua participação na sociedade. O conjunto de conteúdos está articulado dentro do contexto de ensino e aprendizagem em três eixos norteadores: a produção, a fruição e a reflexão (BRASIL, 1998, p. 09).

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo possibilitou a aproximação com novas alternativas de ensino,

dentre as quais é possível destacar os novos paradigmas para o ensino de Artes em

escolas. Também foi feito um passeio pela história da arte tendo como pano de

fundo as obras de Volpi, Mondrian e Van Gogh.

Foi possível ter um panorama sobre técnicas utilizadas pelos artistas e

novas possibilidades de utilização desses recursos em sala de aula. A criação do

Objeto de Aprendizagem “Arte em Movimento” possibilitou o contato físico com

alternativas viáveis economicamente para construção de objetos que substituem a

sala de arte, em escolas que não possuem sala específica para ensino de artes.

Para Rossi (2009), a função e a importância do uso da imagem na educação

vêm mudando:

A função e a importância do uso da imagem na educação (que vêm sendo discutidas desde o Movimento das Escolinhas de Arte) começaram a mudar, na prática escolar [...]. Como forma de adesão a esse movimento, os professores de arte passaram a denominar-se “arte-educadores” [...]. Através da ampliação das discussões sobre as relações entre arte, educação e sociedade, buscava-se a melhoria da qualidade do ensino da arte (ROSSI, 2009, p.15).

A partir da criação de “Arte em Movimento” foi possível perceber, observar e

aprender o sentido e a necessidade de constante aprimoramento no

desenvolvimento do arte-educador. Assim como, a interação aluno/mediador na

construção do conhecimento em arte dentro e fora da sala de aula. Para podermos

integrar o fascinante mundo da cor, da arte e da estética ao cotidiano, tornando o

aluno um agente transformador do meio em que vive.

Barbosa (2002) em seu livro Inquietações e mudanças no Ensino da Arte

nos diz que:

Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2002, p.18).

Através da arte é possível criar e recriar situações que nos fortalecem

diariamente, com o intuito transformador, aplicado à realidade que nos cerca, tendo

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como instrumentos objetos concretos e de fácil compreensão como o Objeto de

Aprendizagem, que foi o núcleo desse artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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