TCC. Saude pUblica Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM DE SAÚDE PÚBLICA Andréia da Costa Baumann A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DE SAÚDE PÚBLICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR DOS MUNICÍPIOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULESCOLA DE ENFERMAGEM

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM DE SAÚDE PÚBLICA

Andréia da Costa Baumann

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DE SAÚDE PÚBLICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR DOS MUNICÍPIOS

Porto Alegre

2011

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Andréia da Costa Baumann

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DE SAÚDE PÚBLICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR DOS MUNICÍPIOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Pública, da Escola de Enfermagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Enfermeiro Especialista em Saúde Pública.Orientador: Prof Dilmar Xavier da Paixão

Porto Alegre

2011

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO................................................................................................................. 06

2 OBJETIVOS..................................................................................................................... 09

3 METODOLOGIA............................................................................................................. 10

4.1 Tipo de estudo................................................................................................................ 12

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................................................

4.1 Competencias do SUS nas ações de Saúde do Trabalhador......................................

4.2 Organização dos municípios nas ações de Saúde do Trabalhador...........................

4.3 O trabalho do enfermeiro de saúde pública nas ações de Saúde do Trabalhador..

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CONCLUSÃO...................................................................................................................... 27

REFERENCIAS.................................................................................................................. 30

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Retorno à fábrica para decifrar a realidade, saio do hospital para entender a doença. (Laurell&Noriega,1989)

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RESUMO

Após a Constituição Federal de 1988, o SUS trouxe importantes modificações para a politica

de saúde do trabalhador, até então, centralizadora e excludente, contemplando uma pequena

fração da população do mercado formal de trabalho e contribuintes da previdência social.

Com as mudanças no sistema de saúde brasileiro, os municípios passaram a ter mais

autonomia e responsabilidade no que diz respeito ao direcionamento das ações de saúde

voltadas para o trabalhador. Esta revisão integrativa teve como objetivo caracterizar a atuação

do enfermeiro de saúde pública na área da saúde do trabalhador dos municípios, identificar as

competências do SUS sobre o assunto e fornecer subsídios para o enfermeiro especialista de

saúde pública planejar suas atividades com intervenções efetivas sobre as situações de risco

para o trabalhador. O SUS abriu um vasto caminho para os municípios, embora as ações em

saúde do trabalhador sejam ainda pouco incentivadas, essas possibilidades existem. Nessa

lógica, esse enfermeiro especialista, além de proativo, deve desempenhar suas competências

sobre essa diversificação, de forma integral, conhecendo o trabalhador em sua singularidade

no decorrer do ciclo vital e com base nas diretrizes e princípios do SUS.

Descritores: Saúde do trabalhador, vigilância em saúde do trabalhador, política de saúde do trabalhador, enfermagem de saúde pública.

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ABSTRACT

After the Federal Constitution in 1988, the SUS has brought important changes to the political

of occupational health, until then, centralized and exclusionary, comprising a small fraction of

the population in the formal labor market and social security contributors. With the changes in

the Brazilian health system, municipalities have greater autonomy and responsibility with

respect to the direction of health actions for the worker. This integrative review aimed to

characterize the performance of public health nurse in the Occupational health from

municipalities, to identify the skills of the SUS on the subject and provide subsidies for public

health nurse specialist to plan their activities with effective interventions on the situations risk

to the worker. The SUS has opened a wide way for municipalities, although the actions of

Occupational health are still not encouraged, those possibilities exist. Following this logic, the

nurse specialist, and proactive, to perform their skills on this diversification, fully knowing

the worker in his uniqueness during the life cycle and based on guidelines and principles of

the SUS.

Keywords: Occupational health, occupational health surveillance, occupational health policy, public health nursing.

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho na vida do ser humano é fundamental, desempenhando um papel

significativo na constituição do sujeito, garantindo-lhe subsistência e proporcionando a sua

autonomia. Influencia a relação do indivíduo com a sociedade, ajudando-o na construção da

sua identidade e subjetividade. Entretanto, as condições do ambiente, a organização e as

relações de trabalho, podem interferir na saúde física, social e mental do trabalhador,

revestindo-se numa das grandes questões de saúde pública (SILVA; BIEHL, 2006).

Modificações no perfil de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores decorrentes das

intensas transformações de ordem econômica, política, social e técnica contribuem para o

aumento de acidentes e doenças ocupacionais, foco de grande preocupação para a saúde

pública. Essa realidade tende a redirecionar as atividades curriculares dos cursos de graduação

em enfermagem com o propósito de preparar enfermeiros para produzir ações voltadas à

própria saúde e, assim, reproduzir essas ações enquanto profissional (AZAMBUJA, 2007).

O marco principal para a atenção em saúde do trabalhador, a partir do vínculo da

saúde com a qualidade de vida pessoal e coletiva, foi a Constituição Federal de 1988. Nela, a

saúde foi considerada como direito social, devendo garantir aos trabalhadores a redução dos

riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas regulamentadoras de saúde, higiene e

segurança. Foi estabelecido que a saúde é direito de todos e dever do Estado. E, além disso,

mais do que garantir direitos trabalhistas, o Estado tem papel fundamental no direito à vida.

Sendo assim, as ações na área da saúde do trabalhador devem ser voltadas à

formulação e à implementação de políticas de proteção à saúde, visando à redução e

eliminação das doenças, acidentes e mortes resultantes das condições dos processos e

ambientes de trabalho, bem como o aprimoramento da assistência a saúde do trabalhador em

todas as esferas de governo (LACAZ, 2007).

A Constituição Federal e com ela a municipalização instituíram uma grande reforma

no sistema de saúde brasileiro. A Lei 8080/90 veio para regulamentar os princípios e

diretrizes instituídos para o SUS, dispondo sobre a normatização da municipalização e a

participação popular na gestão do Sistema Único de Saúde, determinando ao município a

responsabilidade pela vigilância em saúde do trabalhador (MENICUCCI, 2009).

Nesta conjuntura, o gestor municipal gerencia todas as ações voltadas à área da saúde,

inclusive a saúde do trabalhador, tendo o controle do emprego racional dos recursos, com

vistas a atender com eficiência a sua população.

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A IX Conferência Nacional de Saúde reforçou a importância da municipalização como

a base dos caminhos a serem percorridos rumo ao fortalecimento do SUS, discutindo-se o

papel dos estados brasileiros no incentivo e apoio aos municípios, oferecendo-lhes condições

para cumprirem essas responsabilidades. Com isso, é encargo do município a atenção integral

à saúde de sua população, devendo garantir o acesso de todos à atenção básica e aos serviços

especializados de média e alta complexidade se for necessário (BELTRAMMI, 2008).

As ações de saúde do trabalhador estão pautadas em instrumentos técnicos e políticos

da saúde pública, com a finalidade de intervir no processo saúde/doença, reforçando práticas

ao enfermeiro, além da sua dimensão profissional e técnica.

O enfermeiro de saúde pública se faz presente na construção de um trabalho efetivo,

intervindo para a produção de ações que podem ser de manutenção ou de transformação de

uma realidade, assumindo seu núcleo de competência e responsabilidade, que é o cuidado do

ser humano. No campo da saúde pública, esse profissional desempenha suas ações em várias

frentes de trabalho. Está presente nas relações entre a população e os serviços de saúde, atua

na concretização dos princípios do SUS ou através da consulta de enfermagem no

atendimento direto aos usuários. O seu trabalho envolve tanto as ações de educação para a

saúde, como também a definição e implementação das políticas públicas de saúde (GOMES;

OLIVEIRA; SÁ, 2007).

Essas peculiaridades reforçam a necessidade de que o enfermeiro de saúde pública seja

proativo, capaz de possibilitar a transformação deste cenário de adoecimento e de

subjetividade nas relações de trabalho, através de ações de saúde integradas e articuladas em

rede, que contemplem de maneira satisfatória a saúde dos trabalhadores. A compreensão dos

fatores que contribuem no processo saúde e doença faz deste profissional o elemento

fundamental para a prática multiprofissional e transdisciplinar, no contexto das ações e de

planejamento em saúde, incluindo-se ai, a saúde do trabalhador (BACKES, 2009).

O interesse da autora por essa temática emergiu da sua especialização em enfermagem

do trabalho, intensificando-se com a prática vivenciada como enfermeira, atuando na unidade

básica de saúde de um município do interior do Rio Grande do Sul. Nesta trajetória, a autora

percebeu que as ações em saúde do trabalhador eram fragmentadas e focadas na cura,

contribuindo-se pouco na intervenção e vigilância da causa do adoecimento dos trabalhadores.

O problema a ser destacado neste estudo é que, mesmo com a implantação do SUS, da

municipalização da saúde e das políticas de saúde do trabalhador, ainda ocorrem situações de

negligência por parte dos empregadores com desrespeito à autonomia do trabalhador como

cidadão e o descaso com as condições de trabalho insalubre.

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Percebe-se que são poucas as empresas que investem em segurança e saúde do

trabalhador com o propósito de promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho. Embora

as empresas sejam obrigadas a manter o serviço de saúde ocupacional, essas ações ficam

restritas a exames admissionais e periódicos.

Em contrapartida, as questões voltadas à saúde do trabalhador recaem sobre o

município, nos atendimentos nas unidades básicas de saúde, uma vez que é a porta de entrada

para os demais serviços. Quando esses trabalhadores chegam à unidade básica, com dor ou

com problemas relacionados às suas atividades laborais, o atendimento fica limitado a

sintomas, sem identificar o nexo causal e a origem do problema que, em geral, ocorre dentro

da empresa. Por outro lado, as responsabilidades do município nas ações de vigilância em

saúde do trabalhador são pouco discutidas, dificultando ações mais efetivas do enfermeiro de

saúde pública.

Para responder às inquietações que essa temática desperta, este estudo se desenvolveu

a partir das questões norteadoras: quais as competências do SUS nas politicas de saúde do

trabalhador? Como a saúde do trabalhador está organizada nos municípios? Como o

enfermeiro de saúde pública desenvolve as ações de saúde do trabalhador?

Esse estudo trata de um assunto de grande relevância, não somente para os gestores de

saúde, mas para os profissionais que estão na linha de frente e necessitam de subsídios que

lhes possibilitem uma intervenção mais efetiva em suas ações.

Nesse propósito, diante dos índices de adoecimento com causa relacionado ao

trabalho, é preciso compreender a importância do enfermeiro de saúde pública e sua atuação

nas questões de saúde do trabalhador.

A partir dessa compreensão busca-se caracterizar as ações de saúde do trabalhador a

nível municipal, sendo uma importante contribuição para o enfermeiro o fato de que se

destaca a saúde do trabalhador no contexto do exercício da enfermagem de saúde pública.

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2 OBJETIVOS

Para melhor compreender e responder à problemática deste estudo visa-se caracterizar

a atuação do enfermeiro de saúde pública na área da saúde do trabalhador dos municípios,

identificar as competências do SUS sobre o assunto e fornecer subsídios para o enfermeiro

especialista de saúde pública planejar suas atividades com intervenções efetivas sobre as

situações de risco para o trabalhador.

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3 METODOLOGIA

Para responder aos objetivos do estudo foi utilizado o método da Revisão Integrativa,

proposta por Mendes, Silveira e Galvão (2008), a fim de analisar as publicações referentes à

saúde do trabalhador no SUS, as ações desenvolvidas pelos municípios e a atuação do

enfermeiro de saúde pública, efetuando-se uma busca sistemática das pesquisas no período de

1990-2011.

A política de saúde do trabalhador no SUS foi definida como tema deste estudo por ser

um assunto de grande relevância, tanto para os gestores públicos de saúde, como para os

profissionais da linha de frente nas unidades de saúde que necessitam de subsídios para uma

intervenção mais efetiva e eficaz em suas ações.

A partir dessa compreensão buscou-se sistematizar as competências do SUS e a

organização das ações de saúde do trabalhador a nível municipal, como contribuição para a

construção do conhecimento do enfermeiro de saúde pública.

A coleta de dados teve como fonte principal de referência artigos de periódicos

indexados em bases eletrônicas, produzidos a partir do ano de 1990, sendo este, o ano em que

a Lei nº 8080/90 foi promulgada e complementada pela Lei nº 8142 no mesmo ano, por isso,

ambas são consideradas as Leis Orgânicas da Saúde. No entanto, a citação sobre a saúde do

trabalhador consta na primeira delas.

Deu-se ênfase às publicações que abordaram as políticas de saúde do trabalhador no

SUS. As fontes consultadas foram a Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, Literatura Latino-

Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no Scientific Electronic Library

Online (SCIELO).

Os descritores utilizados foram: saúde do trabalhador, vigilância em saúde do

trabalhador, política de saúde do trabalhador e enfermagem de saúde pública. Como critérios

de inclusão escolheram-se: idioma português, textos produzidos no Brasil por reforçar a

realidade do país, disponibilidade de resumos para a identificação e artigos na íntegra para a

fase de análise propriamente dita, sendo excluídos os artigos fora desse contexto.

Para a categorização do estudo foi utilizado um instrumento que possibilitou reunir e

sintetizar as informações chave, obtidas dos artigos selecionados. Nele foram registrados os

objetivos, a metodologia, os resultados e conclusões de cada fonte. Após realizar a leitura

analítica dos artigos, os dados foram organizadas e sumarizadas de maneira concisa, a fim de

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responder as questões norteadoras e os objetivos da pesquisa, formando um banco de dados de

fácil acesso e manejo.

Tanto a coleta quanto a seleção dos dados foram realizadas de forma planejada e

criteriosa, levando-se em consideração a confiabilidade das fontes de dados e a sua coerência

no entendimento da problemática central, evitando-se o desvio da questão principal da

pesquisa.

Os dados coletados foram separados em três grupos assim descritos: competências do

SUS nas ações de saúde do trabalhador; organização dos municípios nas ações de saúde do

trabalhador; o trabalho do enfermeiro de saúde pública nas ações de saúde do trabalhador.

A interpretação dos dados teve como suporte o material da pesquisa já organizado e

sustentando-se nos processos reflexivos e intuitivos do pesquisador com o propósito de

responder problemática da pesquisa.

Todos os aspectos éticos foram contemplados, assegurando-se a autenticidade de

ideias dos autores.

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4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Resultou da busca preliminar na BVS, um total de 2.292 artigos, os quais foram

selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Destes, 1.550 foram

selecionados utilizando o descritor saúde do trabalhador, 252 vigilância em saúde do

trabalhador, 375 enfermagem de saúde pública e 115 politica de saúde do trabalhador. Após

refinados resultaram em 267 artigos cujos resumos foram lidos. Destes, 13 artigos estavam

relacionados ao foco deste estudo, foram lidos na íntegra e analisados individualmente.

A partir desse material, obtiveram-se três quadros sinópticos que possibilitaram

compreender melhor as competências do SUS e a organização dos municípios na área da

saúde do trabalhador, bem como, estudar a atuação do enfermeiro de saúde pública neste

contexto.

4.1 Competências do SUS nas ações de saúde do trabalhador

No quadro 1, Menicucci (2009), Otani (2003), Dias e Hoefel (2009) apontam os

princípios da universalidade e da integralidade como norteadores para as políticas de saúde do

trabalhador, sendo a atenção básica a garantia para o acesso à rede de serviços com ações

definidas por critérios epidemiológicos.

Segundo Vasconcelos e Ribeiro (1997), o SUS inovou as ações de vigilância em

saúde, com o propósito de intervir na origem geradora de riscos ao trabalhador, com ações

resolutivas, educativas e transformadoras.

Vasconcelos, Almeida e Guedes (2009) abordam sobre a formação de recursos

humanos que sejam capazes de incorporar em suas práticas pedagógicas o saber técnico-

científico integrado com o saber operário e práticas orientadas com base no controle social do

SUS.

Quadro 1- Competências do SUS nas ações de saúde do Trabalhador

Nome do artigo Competências do SUS na Saúde do Trabalhador Autor/anoO Sistema Único de Saúde, 20 anos: balanço e perspectivas

A organização dos serviços e da assistência foi o foco do SUS, preservando os princípios da universalidade e integralidade, com enfoque na prevenção e promoção da saúde, ampliando o acesso e melhorando a efetividade das ações, tendo como porta de entrada para os serviços a atenção básica.

MENICUCCI, 2009

Investigação Epidemiologica e

Compete a fiscalizações dos ambientes de trabalho, no âmbito do Sistema Único de Saúde, segundo o mapeamento de riscos; o

VASCONCELLOS;RIBEIRO,1997

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intervenção sanitária em saúde do trabalhador: o planejamento segundo bases operacionais

estabelecimento de fluxos de informações e o delineamento dos perfis de morbimortalidade dos trabalhadores. 

Vigilância em saúde do trabalhador: passos para uma pedagogia

Aborda a educação permanente para o setor saúde com o objetivo de efetuar relações orgânicas entre ensino e as ações e serviços de atenção à saúde, mediante a troca entre saberes técnico-cientifico e popular para reorientar as ações de saúde baseado no princípio do controle social do SUS.

VASCONCELLOS;ALMEIDA; GUEDES, 2009

Rede de Saúde do Trabalhador para o Estado de São Paulo

As ações de saúde do trabalhador deve estar ancorado na NOST e seguir os princípios do SUS, universalidade e equidade de acesso, integralidade das ações individuais, coletivas, vigilância, participação e controle social, com prioridades estabelecidas de acordo com o critério epidemiológico.

OTANI, 2003

O desafio de implementar ações de saúde do trabalhador no SUS: a estratégia da RENAST

A inserção efetiva das ações de Saúde do Trabalhador no SUS está diretamente relacionada à possibilidade de sua assimilação pela Atenção Básica.

DIAS; HOEFEL,2005

Fonte: BAUMANN, A.C. A atuação do enfermeiro de saúde pública na saúde do trabalhador dos municípios

O SUS é um sistema de saúde regionalizado e hierarquizado que integra o conjunto das

ações de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cada um com

suas competências específicas, articuladas entre si. Nasceu do resultado de uma longa luta

pelo direito à saúde de forma universal e equânime, propondo uma nova concepção de saúde

pública para o conjunto da sociedade brasileira, incluindo a saúde do trabalhador. Até então, o

sistema era organizado de forma a atender apenas a um setor da população, ou seja, os

trabalhadores do mercado formal e contribuintes da Previdência Social. Nesta conjuntura, o

SUS propôs mudanças de paradigma, incluindo os princípios da integralidade e

universalidade, com enfoque na prevenção e promoção da saúde, ampliando o acesso e

melhorando a efetividade das ações, em todos os níveis de atenção, tendo como porta de

entrada a atenção básica (MENICUCCI, 2009).

Na saúde do trabalhador, o SUS configura-se como um campo amplo que se preocupa

com as relações entre o trabalho e o processo saúde-doença, desde a atenção primária até o

nível terciário. O plano de ações de saúde do trabalhador deve estar baseado na NOST e

seguir os princípios do SUS, em especial, universalidade e equidade de acesso, integralidade

das ações individuais e coletivas, vigilância à saúde, participação e controle social, com

prioridades estabelecidas de acordo com o critério epidemiológico (OTANI, 2003).

A vigilância em saúde do trabalhador consolida o SUS em seu campo de prática e tem

o desafio de ampliar a visão sobre as relações saúde e trabalho, conferindo-lhe a

responsabilidade de intervir nos processos de trabalho sob o prisma da saúde pública, se

contrapondo à fiscalização tradicional. Como prerrogativa do SUS, a prevenção de danos e

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promoção de saúde é o instrumento potencializador das ações de natureza pública

interventora, capaz de elevar os níveis de saúde da população (VASCONCELOS;

ALMEIDA; GUEDES, 2009).

Segundo Vasconcelos e Ribeiro (1997), o SUS veio para inovar as ações de vigilância,

exercida, até então limitada e excludente. Apenas o Ministério do Trabalho era responsável

pela fiscalização nas empresas, com intervenções pontuais e aleatórias, atendendo à demanda

registrada na forma de processos administrativos, de caráter unidisciplinar, com inspeções

isoladas, rígidas e absolutamente punitivas não garantindo a mudança dos problemas

identificados.

A subnotificação dos agravos à saúde do trabalhador tem sido uma grande lacuna,

sendo que o modelo tradicional – CAT visa apenas o pagamento de benefícios

previdenciários, não chegando ao destino responsável pela investigação dos fatores de risco

para os acidentes e doenças ocupacionais, dificultando a real vigilância dos agravos que

colocam em risco a saúde do trabalhador (VASCONCELOS; RIBEIRO, 1997).

Conforme o autor supracitado, a saúde do trabalhador deve ter caráter intrasetorial e

envolver todos os níveis de atenção e esferas de governo do SUS, mas também é intersetorial,

envolvendo a Previdência Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça e Educação exigindo,

sobretudo, abordagem interdisciplinar e gestão participativa dos trabalhadores. Compete à

União, estabelecer as diretrizes, mas os estados e municípios podem suplementar essas ações

sempre que necessário, sendo atribuído a estes, a execução de ações de prevenção, promoção

e recuperação da saúde dos trabalhadores.

A Lei 8080/90 regulamentou o que a Constituição Federal estabeleceu, atribuindo ao

SUS o poder para executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como a

saúde do trabalhador, delegando aos municípios a participação na execução, controle e

avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de trabalho (OTANI, 2003).

Como proposta para as políticas de saúde do trabalhador, o SUS vislumbra que a

produção do conhecimento esteja validada em um processo pedagógico entre trabalhadores e

profissionais atuantes na área de vigilância em saúde, valorizando o saber operário e

oportunizando sua participação enquanto ator desse processo metodológico. Neste contexto, o

controle social incorpora os trabalhadores e suas organizações em todas as etapas da

vigilância em saúde do trabalhador, ou seja, identificação das situações problema,

planejamento, estabelecimento das prioridades e estratégias na execução das ações,

acompanhamento, avaliação e controle da aplicação de recursos (VASCONCELOS;

ALMEIDA; GUEDES, 2009).

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A saúde do trabalhador tem uma abrangência holística, compreendendo a assistência, a

pesquisa e a sistematização das informações, resultando na intervenção sobre os fatores

determinantes do risco. Nessa perspectiva, as atribuições da vigilância em saúde do

trabalhador estão inseridas em um contexto integral onde a saúde resulta de suas condições de

alimentação, trabalho, lazer e da forma em que, este, se insere no processo de produção.

Sendo assim, a informação da vigilância epidemiológica se consolida em instrumento para a

vigilância sanitária, cujas atribuições caracterizam-se pela intervenção nos ambientes de

trabalho com foco na mudança de processos e suas condições (VASCONCELOS; RIBEIRO,

1997).

Com o intuito de fortalecer a Política Nacional de Saúde do Trabalhador no SUS, o

Ministério da Saúde cria através da Portaria nº 1679/02, a Rede Nacional de Atenção Integral

a Saúde do Trabalhador – RENAST, com o objetivo integrar as redes de serviços do SUS,

voltados à assistência e vigilância e com isso desenvolver as ações de saúde do trabalhador,

articulando os serviços de saúde nas três esferas de governo, e organizar o fluxo de

atendimento dos trabalhadores doentes ou acidentados do trabalho em todos os níveis de

atenção do SUS.

Vinculado ao RENAST, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST

desempenha a função de suporte técnico, de educação permanente, coordenando os projetos

de assistência, promoção e vigilância à saúde dos trabalhadores, no âmbito de sua área de

abrangência. Não é a porta de entrada do sistema e sim referência para os serviços

especializados. Também articula e organiza as ações intra e intersetoriais de saúde do

trabalhador, em sua área de atuação (DIAS; HOEFEL, 2005).

Com a descentralização a atenção básica assume papel essencial na reorganização do

sistema de saúde no país, através de métodos e tecnologias simplificadas, cientificamente

fundamentadas e socialmente aceitas. Permite o acesso universal da população como primeiro

nível de contato com o sistema de saúde, possibilitando que o cuidado esteja o mais próximo

possível do local onde as pessoas vivem e trabalham. Como forma de garantir tais mudanças,

o Pacto pela Vida, definiu como prioridade a consolidação da atenção básica como eixo

ordenador das redes de atenção à saúde do SUS, e assim atender as necessidades de saúde da

população, incluindo o trabalhador (MENICUCCI, 2009).

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4.2 Organização dos municípios nas ações de saúde do trabalhador

A instrumentalização das diretrizes do SUS consolidou-se pela Norma Operacional

Básica de Saúde do Trabalhador – NOST/SUS, em 1998, que definiu as responsabilidades dos

municípios em cada uma das duas condições estabelecidas pela NOB 01/96. Até a

Constituição Federal de 1988, as ações públicas em saúde do trabalhador eram centralizadas e

se reduziam a inspeções tradicionais realizadas pelo Ministério do Trabalho (SILVA;

BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003).

Com o SUS, todos os municípios passam a ter competência para realizar de forma

sistematizada as ações de vigilância aos ambientes e processos de trabalho a fim de identificar

as situações de risco e, consequentemente, as intervenções necessárias para a resolução das

situações identificadas (DIAS; HOEFEL, 2005).

Seguindo o princípio da universalidade são considerados trabalhadores todos os

homens e mulheres que exercem atividades para o seu próprio sustento, qualquer que seja a

inserção no mercado de trabalho. Esta nova concepção é firmada pela Lei 8080/90 e veio

para contemplar os trabalhadores do mercado informal que ficavam esquecidos pelo modelo

tradicional de vigilância, fazendo da atenção básica a base para que os municípios

desenvolvam ações que voltadas para esse grupo (DIAS, et al, 2009).

Com base na NOST (1998), os municípios habilitados na gestão plena da atenção

básica, compete a garantia do atendimento ao acidentado por consequência do trabalho, ou

portadores de doença profissional ou do trabalho; deve realizar ações de vigilância e

investigação epidemiológica nos ambientes e processos de trabalho identificando as situações

de risco; estabeler medidas para a resolução dos problemas.

Fica a encargo do município, a notificação dos agravos à saúde e os riscos

relacionados às atividades laborais, alimentando regularmente o sistema de informações dos

órgãos e serviços de vigilância. Deve também, estabelecer rotinas de sistematização e análise

dos dados gerados no atendimento do trabalhador, a fim de orientar as intervenções de

vigilância, subsidiando a organização dos serviços e ações em saúde do trabalhador (SILVA;

BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003).

No quadro 2, Dias et al (2009), Dias e Hoefel (2005) e Otani (2003), classificam as

competências municipais de acordo com o tipo de gestão e focada na atenção básica, sendo

que Facchini et al (2005) aborda sobre a importância dos municípios se apropriarem de dados

epidemiológicos e dos sistemas de informação para planejarem suas ações, porém o

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consenso entre os autores Otani (2003) e Vilela, Gil e Iguti (2001) é que, mesmo sendo a

atenção primária a entrada única ao sistema de saúde, as ações de vigilância em saúde do

trabalhador devem estar articuladas de forma intersetorial. Entretanto, segundo Silva, Barreto

Júnior e Sant’ana (2003), o tamanho populacional pode ser um fator determinante, capaz de

interferir na realização dessas ações.

Quadro 2 - Organização dos municípios nas ações de saúde do trabalhador

Nome do artigo Resultados/Conclusão Autor/anoSaúde ambiental e saúde do trabalhador na atenção primária à saúde, no SUS: oportunidades e desafios

Foca a atenção primária à saúde como ordenadora do atual modelo de cuidado em saúde do trabalhador

DIAS et al., 2009

Experiência do programa de saúde do trabalhador de Piracicaba: Desafio da Vigilância em acidentes de trabalho

Mostra a importância de ações interinstitucionais, a parceria entre o Programa de Saúde do Trabalhador - SUS, com membros do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a integração do serviço com as universidades e com representantes da sociedade civil, na proteção e promoção da saúde.

VILELA; GIL; IGUTI, 2001

Saúde do trabalhador no âmbito municipal

O tamanho populacional é uma variável que interfere diretamente na realização, ou não, de ações em saúde do trabalhador nos municípios, sendo que a oferta destes serviços varia com o tipo de gestão.

SILVA; BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003

O desafio de implementar ações de saúde do trabalhador no SUS: a estratégia da RENAST

De acordo com o tipo de gestão os municípios tem competência para realizar de forma sistematizada as ações de vigilância em saúde do trabalhador.

DIAS; HOEFEL, 2005

Sistema de informação em Saúde do Trabalhador: desafios e perspectivas para o SUS

Prioriza a epidemiologia como base para o planejamento ações e a existência de um sistema de informações em Saúde do Trabalhador articulado com o SIAB e SIA nos municípios.

FACCHINI et al, 2005

Rede de Saúde do Trabalhador para o estado de São Paulo

Evidencia a rede primária como entrada única ao sistema, devendo ser articulada intersetorialmente com as ações de fiscalização praticadas pelas DRT, os SESMT das empresas e as políticas de saúde do trabalhador no SUS, necessitando de recursos humanos capacitados para esse fim.

OTANI, 2003

Fonte: BAUMANN, A.C. A atuação do enfermeiro de saúde pública na saúde do trabalhador dos municípios

Na gestão plena do sistema municipal, além das ações citadas, cabe a responsabilidade

de criar o cadastro das empresas, classificando-as nas atividades econômicas desenvolvidas

no município, relacionando os fatores de risco gerados, bem como o número de trabalhadores

direta ou indiretamente, submetidos a tais riscos. Cabe, também, aos municípios, o

levantamento e a análise das informações de morbimortalidade dos trabalhadores e a inspeção

nos locais de trabalho, com a identificação e avaliação das situações de risco, a elaboração de

relatórios técnicos e a aplicação de procedimentos administrativos que vão desde termo de

notificação até a aplicação de multa ou interdição se assim for necessário. Entretanto, os

procedimentos administrativos poderão ser realizados somente pelos municípios habilitados

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para as ações de vigilância sanitária. Caso o município não tenha competência nesta área, tais

ações passam a ser realizadas em conjunto com as estruturas regionais de vigilância sanitária

da secretaria estadual de saúde ( DIAS; HOEFEL, 2005)

A organização da rede primária de assistência à saúde do trabalhador surge como

resposta ao cuidado de universalização do acesso aos serviços de saúde, racionalizando a

utilização de recursos tecnológicos. Por isso, a rede primária deve ser a porta de entrada única

e deve estar articulada intersetorialmente com ações de fiscalização das Normas

Regulamentadoras praticadas pela Delegacia Regional do Trabalho, com os Serviços de

Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT das empresas e respectivos planos de saúde e as

políticas de saúde do trabalhador estabelecida pelo SUS (OTANI, 2003).

As ações de saúde do trabalhador, do nível primário ao terciário, redefinem-se para

cada região e comunidade, considerando os recursos disponíveis e os problemas que deve

resolver. Apesar do papel da atenção básica não estar explícito nas competências municipais

relativas à saúde do trabalhador, estas podem ser adaptadas ao modelo de gestão. (DIAS, et al,

2009).

Toda a ação em saúde do trabalhador, independente do nível de gestão, deve ser

organizada de forma a atender integralmente as necessidades dos trabalhadores, como

assistência multiprofissional, incluindo o diagnóstico, a identificação do nexo causal, o

tratamento, a recuperação e a reabilitação, a vigilância nos ambientes de trabalho, a prevenção

dos riscos e a promoção da saúde. Tais ações podem ser organizadas e implementadas de

forma descentralizada na rede básica, e os casos mais complexos podem ser referenciados

para os serviços especializados em saúde do trabalhador. Seguindo essa lógica, o

planejamento das ações a partir dos municípios e a responsabilidade compartilhada entre as

três esferas de gestão com a participação da comunidade na definição das políticas públicas,

garantem a saúde integral do cidadão e não apenas a prevenção e a cura da doença (SILVA;

BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003).

Os municípios devem participar de maneira ativa em todas as etapas que envolvem a

politica de saúde do trabalhador, isso engloba planejamento, administração, prestação de

serviços, não se restringindo ao papel de simples executor, tendo como referência as

características demográficas, sociais econômicas e políticas da população local. Sendo assim,

para a viabilização de uma rede primária que alcance o propósito do SUS é fundamental a

capacitação adequada de recursos humanos e profissionais versáteis, capazes de responder a

variada gama de problemas que constituem seu alvo (OTANI, 2003).

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No nível municipal, as ações de saúde do trabalhador devem estar articuladas nos

serviços de atenção básica, uma vez que os riscos gerados nos processos produtivos afetam

direta e indiretamente a saúde da população. Embora os trabalhadores sejam atendidos pela

rede de serviços de saúde, aí se inclui as unidades básicas de saúde, esses atendimentos não

contemplam a centralidade dos processos produtivos na determinação da saúde-doença, nem a

perspectiva do direito à saúde, com universalidade de acesso ao cuidado integral (DIAS, et al,

2009).

O acolhimento do trabalhador na porta de entrada do sistema e a investigação do

trabalho como fator determinante dos processos saúde-doença com avaliação e manejo das

situações de risco no trabalho, incorporando o saber do trabalhador e o controle social, são

possibilidades concretas na atenção básica (DIAS; HOEFEL, 2005).

Ainda que o trabalhador, como indivíduo, utilize os serviços de saúde na atenção

básica e os procedimentos diagnósticos e tratamentos sejam os mesmos, estabelecer a relação

entre a doença e o trabalho, com o registro no sistema de informação, vem a desencadear

procedimentos de vigilância que podem resultar em mudanças efetivas nos ambientes e

processos de trabalho, permitindo aos doentes expostos à assistência adequada com referência

e contra referência.

Neste contexto, as questões de saúde do trabalhador vão além do processo de trabalho

atingindo uma dimensão holística, considerando de forma integral, o reflexo do trabalho e das

condições de vida dos indivíduos e seus familiares. Neste enfoque, a configuração da saúde

do trabalhador se dá diretamente no âmbito do direito à saúde, previsto como competência do

SUS (DIAS; HOEFEL, 2005).

Dificilmente os problemas de saúde do trabalhador poderão ser resolvidos por ações

exclusivas do setor saúde, por isso, a descentralização dessas ações é essencial a fim de

melhorar a qualidade, a equidade e o acesso da população trabalhadora aos serviços. Neste

contexto é evidente que a transferência de responsabilidades para os municípios não está

isenta de dificuldades, principalmente pela complexa diferenciação entre esses, tanto em

tamanho populacional, como nas desigualdades socioeconômicas que, consequentemente,

acabam por refletir em distintos graus de competências administrativas e gerenciais, bem

como a capacidade instalada dos serviços de saúde em resposta às demandas de atenção à

saúde da população (SILVA; BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003).

Enquanto esfera de atuação no nível municipal, a vigilância em saúde do trabalhador

deve ter como estratégia o mapeamento local das atividades produtivas de todas as empresas e

suas respectivas categorias profissionais, não se limitando a um ramo de produção ou agravo

Page 21: TCC. Saude pUblica Final

20

especificamente, mas obter um desenho espacialmente situado e identificador dos riscos, com

objetivo de definir as prioridades para a atuação, servindo como base para o planejamento da

intervenção e da organização dos serviços de saúde local (FACHINI, et al, 2005).

Sendo o SUS um sistema essencialmente interinstitucional é necessário superar a

fragmentação que ocorre na área de saúde do trabalhador, através de ações integradas e

articuladas com técnicos do Ministério do Trabalho, órgãos de representações dos

trabalhadores, sociedade civil e universidades locais e regionais. A plurinstitucionalidade

entre as ações de vigilância em saúde do trabalhador, com os centros de atendimento e

assistência, com o controle social e a participação dos trabalhadores e suas representações em

todas as etapas da vigilância em saúde do trabalhador, consolida o município como instância

de desenvolvimento de ações interdisciplinares, incorporando as diversas áreas de

conhecimento técnico, científico com o saber operário, integrante e indissolúvel, que aprimora

a própria intervenção (VILELA; GIL; IGUTI, 2001).

As ações de vigilância em saúde do trabalhador tem o objetivo de conhecer a realidade

de saúde da população trabalhadora, intervindo nos fatores que determinam os agravos a fim

de eliminá-los, ou se isso não for possível, atenuá-los e controlá-los, além de manter

funcionante o sistema de informação em saúde do trabalhador junto às estruturas do setor

saúde. É válido ressaltar a importância da articulação intrasetorial na saúde, essencialmente as

interfaces com as vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, de modo a suprir a

necessidade de informação consistente e ágil sobre a situação de produção e o perfil de

doenças relacionadas ao trabalho (DIAS; HOEFEL, 2005).

É importante que os municípios tenham um Sistema de Informações em Saúde do

Trabalhador – SIST, capaz de fornecer dados que possibilitem priorizar ações voltadas ao

trabalhador com abordagem individual ou coletiva. Este sistema precisa favorecer a detecção

precoce da perda da saúde dos trabalhadores, como também, apropriar-se destas informações

para o planejamento de ações efetivas no controle da exposição dos riscos ocupacionais.

O SIST deve ser prioridade a nível estadual e municipal e deve estar inserido nas

unidades de saúde com o propósito de captação de todos os trabalhadores. Na prática, porém,

percebe-se que a grande maioria dos estados e municípios, não há qualquer tipo de SIST

vinculado ao SUS, e, quando existem, além de precários são simples rotina burocrática, e os

dados coletados não são analisados de forma pertinente para o planejamento de ações

coerentes com os reais problemas dos trabalhadores (FACHINI, et al, 2005).

A característica da atenção básica, o território bem definido, a adscrição da população,

a articulação com os agentes comunitários de saúde, o mapeamento territorial, juntamente

Page 22: TCC. Saude pUblica Final

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com o perfil epidemiológico da população, subsidia as práticas na perspectiva da vigilância

em saúde do trabalhador. Conhecer o perfil epidemiológico da população trabalhadora,

estabelecer rotinas de sistematização, processamento e análise dos dados gerados nos

municípios a partir das fontes de informações, é a base para a programação e avaliação das

ações de atenção em saúde do trabalhador de forma essencial para os municípios (FACHINI,

et al, 2005).

4.3 O trabalho do enfermeiro de saúde pública nas ações de saúde do trabalhador

Os resultados obtidos no quadro 3 mostram um campo vasto para as ações do

enfermeiro de saúde pública. Este profissional com conhecimento na área de saúde pública

tem boa orientação para o desempenho de suas atividades de acordo com a Norma

Operacional de Saúde do Trabalhador – NOST. Deve então, concentrar seus conhecimentos

para que a relação entre o agravo e o processo produtivo seja estabelecida, assegurando ao

usuário as orientações necessárias para o acesso aos serviços de referência, garantindo-lhe o

atendimento integral.

Dias et al (2009), Azambuja, Kerber e Kirchhol (2007), Vasconcelos, Almeida e

Guedes (2009), pontuam como essenciais as ações de assistência, vigilância em saúde do

trabalhador, atividades educativas e capacitação de recursos humanos.

Nunes et al (2006), enfatiza a importância de que as ações devem estar focadas na

sensibilização dos profissionais da rede básica para a identificação e notificação das doenças e

acidentes de trabalho.

Vilela, Gil e Iguti (2001) traçam três bases estratégicas de intervenção, sendo estas a

promoção da saúde com atuação específica sobre os problemas que colocam em risco o

trabalhador, a prevenção através da identificação antecipada dos eventos causadores de danos

à saúde ocupacional, bem como ações curativas e reabilitadoras.

Por outro lado, Silva, Barreto Júnior e Sant’ana (2003); Mynaio e Thedim (2003)

apontam como fundamental observar as questões de gênero ao planejar as ações, sendo que

para Reinhardt e Fischer (2009) o enfermeiro precisa desenvolver métodos e instrumentos

apropriados para que estas ações sejam avaliadas em seus resultados.

Asmus et al (2005) discute a necessidade de ações voltadas para os adolescentes

trabalhadores com abordagem nas escolas do binômio saúde-trabalho.

Page 23: TCC. Saude pUblica Final

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Silva et al (2005) contempla a atenção ao trabalhador rural com a implementação de

um sistema de vigilância a saúde desta população, especificamente organizada na atenção

básica.

Quadro 3 - O trabalho do enfermeiro de saúde pública nas ações de saúde do trabalhador

Nome do artigo Trabalho do enfermeiro de Saúde Pública Autor/anoSaúde ambiental e saúde do trabalhador na atenção primária à saúde, no SUS: oportunidades e desafios

Assistência Vigilância em Saúde do Trabalhador Planejamento e gestãoAtividades educativas com os trabalhadoresCapacitação das equipes técnicas

DIAS, et al, 2009

Vigilância em saúde do trabalhador: passos para uma pedagogia

Vigilância em Saúde do TrabalhadorEducação em saúde direcionada ao trabalhadorEducação permanente formando recursos humanos para atuar na atenção ao trabalhadorAssistência, incluindo promoção da saúde, prevenção das doenças e acidentes de trabalho e reabilitação.

VASCONCELLOS;ALMEIDA;GUEDES, 2009

Experiência do programa de saúde do trabalhador de Piracicaba: Desafio da Vigilância em acidentes de trabalho

Pontua três focos para as estratégias de intervenção – promoção, prevenção e curativa, e a necessidade de que o enfermeiro seja pro ativo na execução de suas ações

VILELA; GIL; IGUTI, 2001

Notificações de acidentes de trabalho nas unidades básicas de saúde de Londrina, Paraná, 2004

Trabalhar a sensibilização dos profissionais da rede básica na identificação e registro das informações relacionadas às doenças e acidentes de trabalho.

NUNES, et al, 2006

Saúde do trabalhador no âmbito municipal

As mudanças no perfil epidemiológico das doenças e acidentes e da organização do trabalho exigem ações do profissional de saúde sobre as questões de gênero, a morbimortalidade dos trabalhadores desempregados, a violência urbana e os acidentes de trajeto.

SILVA; BARRETO JUNIOR;SANT'ANA, 2003

A saúde do trabalhador na concepção de acadêmicos de enfermagem

Ações de Educação participativaSistematização das ações voltadas ao trabalhadorVigilância em saúde do trabalhadorAssistênciaTrabalho com grupos de apoio

AZAMBUJA;KERBER;KIRCHHOL, 2007

Incorporação das ciências sociais na produção de conhecimentos sobre trabalho e saúde

Aponta a necessidade de incorporar o olhar sobre o gênero nas práticas de vigilância em Saúde do Trabalhador, uma vez este olhar pode explicar como as relações de gênero intervêm no processo de determinação de saúde-doença.

MINAYO; THEDIM, 2003

Barreiras às intervenções relacionadas à saúde do trabalhador do setor saúde no Brasil

O enfermeiro ao planejar e realizar intervenções voltadas à prevenção de acidentes ou doenças ou à promoção da saúde dos trabalhadores, utilizando um modelo teórico válido para guiar as ações, métodos e instrumentos apropriados para medir os resultados.

REINHARDT; FISCHER, 2009

Atenção integral à saúde do adolescente em situação de trabalho: lições aprendidas

Como alternativa para o enfrentamento da questão adolescente-saúde-trabalho, é necessário desenvolver ações integradas com o setor saúde e o setor educação para a abordagem do binômio saúde/trabalho dentro das escolas.

ASMUS,et al, 2005

Agrotóxicos e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador rural

Organizar a atenção ao trabalhador rural na atenção básica, com a implementação de ações de educação, conscientização e de um sistema de vigilância da população exposta.

SILVA et al, 2005

Investigação das condições do trabalho rural considerando o processo de trabalho, o tipo de cultura

SIQUEIRA; KRUSE, 2008

Page 24: TCC. Saude pUblica Final

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existente, os agrotóxicos utilizados, a frequência e a duração da exposição, o equipamento utilizado para a pulverização e as medidas de proteção utilizadas nesta tarefa.

Fonte: BAUMANN, A.C. A atuação do enfermeiro de saúde pública na saúde do trabalhador dos municípios

Outro ponto importante a ser discutido é a atuação do enfermeiro especialista nas

ações de vigilância em saúde do trabalhador. Com o mapeamento das atividades

desenvolvidas no território de abrangência obtém informações necessárias para o

planejamento das ações de promoção da saúde, adequando a assistência conforme a

necessidade evidenciada pela vigilância sanitária e epidemiológica. Por isso o conhecimento

sobre a realidade sanitária da população trabalhadora e da forma de adoecer e morrer no

trabalho reforçam as competências do enfermeiro ao direcionar suas intervenções sobre estes

fatores, a fim de eliminá-los, minimizando-os ou controlando-os (VASCONCELOS;

ALMEIDA; GUEDES, 2009).

A vigilância em saúde do trabalhador compreende as estratégias de intervenção que

resultam da combinação de três tipos de ações, sendo estas, a promoção da saúde, a prevenção

da doença e acidentes de trabalho e a atenção curativa. No que se refere à prevenção, a

estrutura das ações de intervenção deve se antecipar ao evento, atuar sobre problemas

específicos de modo a proteger indivíduos ou grupos de adoecer ou sofrerem algum tipo de

acidente relacionado ao trabalho, exigindo que o enfermeiro seja proativo em suas ações

(VILELA; GIL; IGUTI, 2001).

Um desafio para o enfermeiro de saúde pública é a conscientização dos profissionais

que atuam na rede básica, para a importância da notificação dos acidentes de trabalho. Vários

estudos apontam o problema da subnotificação, principalmente dos casos ocorridos com os

trabalhadores informais, autônomos e domésticos. A capilaridade da rede de atenção básica de

saúde é de suma importância enquanto fonte de informação, pois possibilita incluir esses

trabalhadores no universo dos registros que acabam sendo ignorados pelas fontes oficiais de

notificação. Por outro lado, a detecção dos problemas não causa efeito, se o objetivo não for

de criar estratégias para evitá-los (NUNES et al, 2006).

Segundo Silva; Barreto Júnior e Sant’anna (2003) as mudanças no perfil

epidemiológico das doenças, dos acidentes e da organização do trabalho tornam difícil falar

isoladamente de um mundo que pertence à esfera da fábrica ou de um mundo que vive e

produz fora dos muros das empresas. Da mesma forma, é difícil definir quem são os

trabalhadores.

Page 25: TCC. Saude pUblica Final

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Sendo assim, falar dos riscos relacionados ao trabalho sem levar em consideração as

questões de gênero ou deixar à margem das estatísticas a população de trabalhadores

desempregados, torna obscura a morbimortalidade ocupacional. Por outro lado, desconsiderar

as diversas formas de violência crescente nas áreas urbanas, onde os trabalhadores tem seu

local de trabalho ampliado para o espaço público, incluindo aí, os inúmeros acidentes de

trajeto, exige que as propostas de promoção de saúde do trabalhador, estejam alicerçadas na

complexidade dessas questões (SILVA; BARRETO JUNIOR; SANT'ANA, 2003).

Ao considerar as questões de gênero, o enfermeiro tem uma visão ampliada sobre

todas as formas de desigualdades, intervindo de maneira a contemplar essas diferenças, uma

vez que na atual concepção da divisão do trabalho, os mapas de risco não colocam em foco a

distribuição da exposição ao risco segundo o gênero. Sendo assim, a epidemiologia de gênero

não se reduz à investigação de morbidade e mortalidade que afeta a mulher, mas deve também

explicar como as condições e relações de gênero intervêm no processo de saúde-doença

levando em conta essas relações (MINAYO; THEDIM, 2003).

Na dimensão da educação em saúde, é importante que o enfermeiro desenvolva uma

metodologia participativa, inserindo o trabalhador no processo ensino aprendizagem,

estimulando seu potencial e capacidade critica, de maneira resolutiva e pautada em um

modelo de mudança. Contudo, também é necessário pensar na educação permanente dos

profissionais de saúde, preparando recursos humanos para atuar de acordo com os princípios

do SUS (REINHARDT; FISCHER, 2009).

Como estratégia de intervenção, o enfermeiro utiliza como prioridade a consulta de

enfermagem, a fim de planejar sistematicamente ações efetivas e resolutivas para os

problemas evidenciados individual ou coletivamente, contextualizando o trabalhador em seu

processo de viver. Por outro lado, trabalhar com grupos de apoio, incluindo os trabalhadores

que já adoeceram ou vivenciaram algum tipo de acidente de trabalho e, até mesmo com

grupos específicos, como o de preparação para a aposentadoria, pode ser uma boa alternativa

para a abordagem da questão (AZAMBUJA; KERBER; KIRCHHOL, 2007).

Ao intervir nas causas de acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho é preciso

identificar e detectar as mudanças que podem influenciar nos determinantes da saúde dos

trabalhadores, seja individual, ambiental, psicossocial ou organizacional, com o intuito de

estabelecer medidas de prevenção e controle desses determinantes antes que ocasionem

prejuízos a saúde.

Os treinamentos periódicos dirigidos às necessidades específicas dos trabalhadores

visam obter mudanças permanentes na prática cotidiana de trabalho resultando na valorização

Page 26: TCC. Saude pUblica Final

25

das medidas de prevenção, influenciando diretamente na redução dos índices de acidentes.

Neste contexto, o enfermeiro deve observar o envolvimento dos trabalhadores neste propósito

e guiar suas ações em um modelo teórico válido para tal fim, com métodos e instrumentos

adequados para medir os resultados alcançados (REINHARDT; FISCHER, 2009).

As questões relacionadas com a erradicação do trabalho infantil e a proteção do

trabalhador adolescente, segundo Asmus et al (2005), é um desafio para o setor saúde,

incluindo nesse contexto o enfermeiro de saúde pública. O trabalho pode causar danos para

crianças e adolescentes menores de 14 anos no desenvolvimento das potencialidades culturais,

emocionais e biológicas.

De acordo com o autor, entre os adolescentes maiores de 14 anos é necessária a

supervisão das tarefas desempenhadas, não somente na prevenção de riscos a saúde, mas com

a finalidade de proporcionar meios para uma formação técnica profissional através da rede de

serviços. Devem-se inserir nas unidades de saúde, atividades que vislumbrem a saúde do

trabalhador adolescente, contemplando os grupos operacionais, com discussões sobre a

concepção de ser adolescente e a representação do trabalho para essa população, levando em

conta as interfaces do processo produtivo com a complexidade desta fase de vida.

Neste foco, a abordagem do enfermeiro se dá com a criação de pedagogias

educacionais com conteúdos questionadores da atual organização do trabalho, através da

sensibilização e capacitação de professores da rede escolar, para que essas questões sejam

abordadas também dentro das escolas, com metodologias adequadas a cada realidade social

(ASMUS et al, 2005).

Outra questão a ser pensada pelo enfermeiro de saúde pública é a saúde do trabalhador

rural, sendo a agricultura familiar uma característica das pequenas propriedades no Brasil.

Nesta organização familiar do trabalho rural encontram-se crianças, adolescentes e idosos,

estando expostos a radiações solares, ruídos e vibrações, acidentes com ferramentas manuais,

máquinas e implementos agrícolas. Muitos acidentes são provocados por animais,

ocasionando lesões e traumas de diferente intensidade. Há também a exposição a agentes

infecciosos e parasitários, bactérias e fungos, no armazenamento de grãos e contato com

detritos dos animais. Entre todos os riscos citados, os acidentes com animais peçonhentos na

maioria das vezes são subnotificados uma vez que dificilmente é estabelecida uma ligação

com o trabalho (SILVA et al, 2005).

Por vez, a Estratégia da Saúde da Família está muito próxima a esta população,

entretanto, estudos revelam que há um despreparo dos serviços de saúde local, para

estabelecer o diagnóstico das intoxicações por agrotóxicos, principalmente nos casos

Page 27: TCC. Saude pUblica Final

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crônicos, e pouco há em planejamento de ações que vislumbrem os inúmeros riscos

relacionados ao trabalho rural. Como estratégia principal para o planejamento das ações

voltadas a esta população é necessário investigar as condições de trabalho destes agricultores

considerando o processo de trabalho, o tipo de cultura existente, os agrotóxicos utilizados, a

frequência e a duração da exposição e, principalmente o equipamento utilizado para a

pulverização e as medidas de proteção utilizadas nesta tarefa. Outro ponto fundamental é a

falta de preparo técnico destes trabalhadores, onde o aprendizado é passado de pai pra filho e

os riscos relacionados ao trabalho são pouco valorizados (SIQUEIRA; KRUSE, 2008).

Diante destas características, é preciso reforçar a abordagem interdisciplinar e

intersetorial para elaborar estratégias de ações que envolvam a saúde, a agricultura, a ciência,

a tecnologia e o meio ambiente. Nesta lógica, é fundamental a participação do enfermeiro, nas

ações de informação, educação, registro dos casos de intoxicação aos sistemas de informação

e estratégias que mobilizem a sociedade na discussão da questão, e, a partir disso, organizar a

atenção ao trabalhador rural no SUS, em particular na atenção básica (SILVA et al, 2005).

Page 28: TCC. Saude pUblica Final

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CONCLUSÃO

É fato a importância de estudos sobre o impacto do trabalho na vida das pessoas,

sendo uma área de suma importância para o enfermeiro de saúde pública planejar e executar

suas ações. Entretanto, a abrangência destes estudos precisa ser ampliada, indo além da

produção científica voltada aos profissionais de saúde, especialmente para os trabalhadores de

enfermagem.

Nesta pesquisa foi possível observar que a maioria dos estudos na área de saúde do

trabalhador está direcionada para uma causa específica e pouco contempla o trabalhador

inserido em um contexto biopsicossocial. A área de saúde do trabalhador e da própria saúde

pública é um campo vasto e precisa ser explorado pelo enfermeiro. Para que isto ocorra, o

foco dos estudos precisa ser ampliado, indo além dos próprios profissionais da categoria.

A Constituição de 1988 foi um marco importante para a Saúde do Trabalhador, porque

até então, tudo o que havia eram ações centralizadas e restritas às inspeções pontuais e

punitivas realizadas pelo Ministério do Trabalho, com pouco efeito no sentido pedagógico e

modificador de processos. O sistema era organizado de forma excludente, privilegiando os

trabalhadores do mercado formal e contribuintes da previdência social.

Com a Lei 8080/90, a saúde do trabalhador na perspectiva do SUS, está inserida em

um contexto de integralidade e universalidade, compreendida através de ações de assistência,

prevenção, promoção, reabilitação e vigilância em saúde do trabalhador. Resultado disto é a

intervenção sobre os fatores de risco ligados às atividades ocupacionais, ao ambiente e à

organização do trabalho.

Com mudanças positivas sobre o processo saúde-doença, podem-se melhorar os

indicadores de saúde e os índices de acidentes de trabalho. Entretanto, para chegar a estes

resultados, a abordagem precisa ser interdisciplinar, intersetorial e com gestão participativa,

inserindo neste contexto os trabalhadores.

Compete à União, estabelecer as normas gerais para as políticas de saúde do

trabalhador, mas os Estados e Municípios têm o dever de suplementar essas normas com

participação ativa nessas questões e intervenções, orientadas pelos princípios do SUS.

Nessa proposta surge a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador -

RENAST, com articulação nas três esferas de governo, vem para integrar as redes de serviços

do SUS e organizar o fluxo de atendimento aos trabalhadores em todos os níveis de atenção,

cabendo aos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador - CEREST desempenhar a

Page 29: TCC. Saude pUblica Final

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função de dar suporte técnico de acordo com as competências do SUS e definir a atenção

primária como eixo ordenador das redes de atenção à saúde do trabalhador e, assim alcançar a

equidade social.

Aos municípios, o SUS atribui competências para a organização sistemática de ações

de vigilância aos ambientes e aos processos de trabalho, com intervenção nas situações

causadoras de riscos para a saúde da população trabalhadora. A Norma Operacional de Saúde

do Trabalhador – NOST, regulamentou as atribuições dos municípios de acordo com sua

habilitação, com de diretrizes que orientam tais ações. Sendo assim, a vigilância em saúde do

trabalhador fica sob responsabilidade do município, que deve alimentar os sistemas de

informações através da notificação das doenças e acidentes de trabalho ocorridos em seu

território, enviando essas informações ao Estado para que sejam consolidadas e enviadas para

a instância federal.

O papel da atenção primária não está explícito em detalhes nas competências

municipais relativas à saúde do trabalhador, mas deve ser adaptada ao modelo de gestão local

de forma a atender integralmente todas as necessidades dos trabalhadores, com assistência

multiprofissional, incluindo diagnóstico, identificação do nexo causal, tratamento,

recuperação, reabilitação, vigilância nos ambientes de trabalho, prevenção de riscos e

promoção da saúde, com ações organizadas e implementadas na rede básica sendo os casos

mais complexos referenciados para os serviços especializados em saúde do trabalhador.

Seguindo as características da atenção primária e da estratégia da saúde da família, é

sugestivo pensar em um SIST articulado com o Sistema de Informação da Atenção Básica-

SIAB, e com o Sistema de Informação Ambulatorial-SIA, para que se consiga monitorar os

acidentes e agravos que chegam a este nível de atenção.

O SUS é um sistema ainda jovem, em pouco mais de 20 anos muitas conquistas foram

alcançadas em termos de saúde e de fortalecimento do SUS. Entretanto, o percurso ainda é

longo para que a saúde do trabalhador siga suas diretrizes e princípios. Por outro lado, não

podemos negar que a lei 8080/90 abriu um vasto caminho para os municípios exercerem suas

ações em saúde do trabalhador não apenas como executores, mas sendo integrante ativo

dessas medidas.

Variadas são as possibilidades com diversificadas frentes de atuação e estratégias para

o enfermeiro desenvolver o cuidado, principalmente com ações voltadas para a assistência,

vigilância em saúde do trabalhador, planejamento e gestão, atividades educativas, capacitação

de recursos humanos, prevenção dos riscos e promoção da saúde.

Page 30: TCC. Saude pUblica Final

29

Por serem tão diversificadas as linhas de atuação, o enfermeiro de saúde pública deve

estar atento para os inúmeros caminhos que se abrem e conhecer as necessidades da

população em sua área de abrangência, contemplando o trabalhador em sua singularidade no

decorrer do ciclo vital.

Conhecer a relação entre saúde e trabalho é essencial, uma vez que este conhecimento

dá ao enfermeiro as habilidades necessárias para a construção e manejo dos sistemas de

informação e vigilância em saúde do trabalhador.

Por outro lado, não podemos negar que a lei 8080/90 abriu espaço para os municípios

exercerem suas ações em saúde do trabalhador, entretanto, a saúde do trabalhador nos

municípios ainda está muito longe do que esperamos e almejamos, sendo assim, é

fundamental o fortalecimento das ações de vigilância em saúde do trabalhador e de um

contingente de recursos humanos preparados para o SUS, atuando de acordo com suas

diretrizes e princípios.

Page 31: TCC. Saude pUblica Final

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REFERENCIAS

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