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    ENRIQUE TOLEDO SANTOS

    O COOPERATIVISMO E AS REDES SOCIAIS DE ASSOCIATIVISMO COMO

    INSTRUMENTOS DE EMANCIPAO SOCIAL

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentado a banca Examinadorada Faculdade de Direito de SoBernardo do Campo, comoexigncia parcial para obteno dograu de Bacharel em Direito soborientao do Professor Orientador

    Dr. Marino Luiz Postiglione .

    Faculdade de Direito de So Bernardo do CampoSo Bernardo do CampoSP2013

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    Banca Examinadora

    ___________________________________

    ___________________________________

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    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus filhos Nickolas Enric e Natalia, os

    presentes divinos colocados na minha vida.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos professores da Faculdade de

    Direito de So Bernardo do Campo e

    especialmente ao meu Orientador, Professor

    Doutor Marino Luiz Postiglione, pela

    compreenso e especial ateno.

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    "Voc nunca muda a realidade lutando contra ela.

    Para mudar algo voc cria um novo modelo que

    torna o modelo existente obsoleto."

    Buckminster F ul ler

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    RESUMO

    O presente estudo investiga as iniciativas histricas e hodiernas, que buscam

    desenvolver e aplicar paradigmas socioeconmicos mais isonmicos e inclusivos,

    propondo novos caminhos para emancipao social e o desenvolvimento global

    sustentvel. Faz breve anlise dos elementos componentes da organizao do espao

    social, e explora os principais instrumentos alternativos de organizao econmica deste

    espao. Busca expor especialmente os modos de produo sem fins de lucro e sua

    organizao jurdica. Destaca-se especialmente a sociedade cooperativa como elemento

    central de grande importncia para a organizao social da economia coletiva e da

    manuteno da vida. Relaciona os efeitos destas iniciativas na ordem social e econmica

    das comunidades que as empregaram, a fim de identificar seus elementos constitutivos e

    pragmticos para a potencializao destes efeitos para emancipao social. Investiga como

    a gesto e a assimetria informacional dos agentes, afeta o desempenho e o resultado

    econmico destas instituies e arranjos coletivos. Conclui expondo algumas iniciativas

    hodiernas que empregam abordagens multidisciplinares, com autogesto e sincronia de

    demanda e consumo, centradas na modificao das relaes de produo por meio de redes

    associativas sncronas distribudas. Conclui expondo um cenrio bastante auspicioso e

    revela o potencial emancipatrio latente destas iniciativas, capazes de realizar os valores

    sociais de justia e democracia, princpios constitucionais basilares, que so de relevante

    interesse para nosso planeta e para toda humanidade.

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    LISTA DE ABREVIAES

    ACI - Aliana Cooperativa InternacionalCC - Cdigo Civil

    CPC - Cdigo de Processo Civil

    EBR - Economia Baseada em Recursos

    EES - Empreendimento Econmioco Solidrio

    FAQ - Frequent Asked Question

    g.n - grifo nosso

    I+D+i - Investigao, desenvolvimento e InovaoLRE - Lei de Recuperao e Falncia

    MCC - Mondragon Cooperative Corporation

    MST - Movimento dos Sem Terras

    NBC - Normas Brasileiras de Contabilidade

    OCB - Organizao das Cooperativas Brasileiras

    OCB - Organizao das Cooperativas Brasileiras

    ONG - Organizao No Governamental

    OSCIP - Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

    PLE - Personal Learning Enviroment

    TI - Tecnologia da Informao

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................... 11

    2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 13

    3. OS DESAFIOS DA MODERNIDADE ................................................................ 23

    4. DOS PROBLEMAS S SOLUES .................................................................. 26

    5. CARACTERSTICAS HODIERNAS DO ESPAO SOCIAL ............................. 27

    5.1. Direito Empresarial ........................................................................................... 28

    5.2. Poltica e Economia ........................................................................................... 29

    5.3. Financiamento e Crdito .................................................................................... 32

    5.4. Industrializao e Urbanizao .......................................................................... 33

    5.5. Distribuio e Consumo .................................................................................... 35

    5.6. Ideologia e Idiossincrasia Social ........................................................................ 36

    5.7. Educao ........................................................................................................... 38

    6. AS ALTERNATIVAS AO MODO DE PRODUO CAPITALISTA ................ 40

    7. AS COOPERATIVAS ......................................................................................... 42

    7.1. Perspectiva Histrica e Social ............................................................................ 42

    7.2. Princpios e Valores .......................................................................................... 437.3. O Cooperativismo no Mundo ............................................................................ 44

    7.4. O Cooperativismo no Brasil .............................................................................. 46

    7.5. Disciplina Jurdica e Legal das Cooperativas ..................................................... 48

    7.5.1. Aspectos Relevantes da Regulao Infraconstitucional ...................................... 49

    7.5.2. O Novo Marco Regulatrio Proposto Pela Lei 12.690/12 e as PrincipaisMudanas .................................................................................................................... 54

    7.5.3. Atos Cooperativos ............................................................................................. 58

    7.5.7. Cooperativa; Elemento Central de Emancipao................................................ 63

    8. A ECONOMIA SOLIDRIA .............................................................................. 64

    8.1. Projeto de Lei n 4.685/2012 ............................................................................. 67

    9. FORAS DE OPOSIO E ENFRENTAMENTO SISTMICO ........................ 68

    9.1. Estratgias para Enfrentamento das Foras de Oposio .................................... 68

    10. A GESTO DA AUTOGESTO NAS COOPERATIVAS ................................. 70

    11. A COOPERATIVA MONDRAGON ................................................................... 71

    11.1. Singularidades Jurdicas da Mondragon ............................................................. 73

    11.1.1. Scios Trabalhadores ................................................................................. 74

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    11.1.2. Intervalo de Remunerao .......................................................................... 74

    11.1.3. rgos Especiais ........................................................................................ 75

    11.1.4. A Colaborao Intercooperativa ................................................................. 75

    12. O FATOR OWEN ............................................................................................... 77

    13. REDE SOCIAL EQUILIBRIUM ......................................................................... 81

    CONCLUSES .............................................................................................................. 84

    BIBLIOGRAFIA: ........................................................................................................... 87

    ANEXOS ........................................................................................................................ 91

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    1. INTRODUO

    Tem-se teorizado e estudado h muitos anos, em diversos mbitos, a questo do

    sucesso ou fracasso dos sistemas polticos e econmicos para realizar a plenitude dos

    valores fundamentais relacionados dignidade e liberdade humanas.

    Num certo sentido, as promessas do inicio do sculo XVIII, hoje, encontram-se

    paradoxalmente mais distantes do que nunca da plena realizao.

    Apesar das verdadeiras revolues tecnolgicas, cientficas e culturais, nossa

    sociedade ainda padece de epidemias e doenas incurveis, violncia, guerras,desigualdades, fome, misria e um sem fim de infortnios que assombram hodiernamente a

    vida de milhes de pessoas.

    Boaventura de Souza Santos1, considera que as culturas e sociedades

    contemporneas so intervalares, referindo-se a uma transio epistemolgica e

    societal em curso, numa sociedade que apresenta cada vez mais sinais de sua

    inevitabilidade, fazendo-se vislumbrar, diante da atual crise e instabilidade nos mbitosprecedentemente citados, a iminente perspectiva de um episdio de transio para um novo

    paradigma socioeconmico e cientfico.

    Destarte, investigando aquilo que ele chamou de globalizao alternativa, eis

    que entende que no s o processo de internacionalizao da economia impulsionado pelo

    neoliberalismo tem lugar exclusivamente, mas tambm, dezenas ou milhares de

    movimentos locais, ideias coletivos e redes que passam a se organizar globalmente.

    Neste sentido, estas iniciativas representam verdadeiras foras sociais que

    propem novas formas de pensar o espao produtivo, os meio ambientes, a cincia e a

    prpria humanidade.

    _____________

    1 SOUSA SANTOS, Boaventura de. Produzir para Viver: Os Caminhos da Produo No Capitalista Rio

    de JaneiroCivilizao Brasileira, 2002

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    Neste sentido, algumas destas iniciativas se mostraram to bem sucedidas que

    foram destacadas a fim de serem estudadas como parte de uma proposta de emancipao.

    cedio tambm, que qualquer arcabouo de transformao e emancipao

    social, deve vir acompanhado do uso das ferramentas das novas tecnologias, especialmente

    s de comunicao, que literalmente rompem barreiras continentais.

    Assim, no so mais as barreiras fsicas naturais que se apresentam como

    barreiras instransponveis, mas sim as prerrogativas humanas de ordem ideolgicas,

    polticas, religiosas, intelectuais, axiolgicas e culturais entre outras, que quase sempre

    parecem ser intransponveis, representando verdadeiros obstculos transformao doparadigma social.

    Buscou-se primeiramente neste trabalho externar um panorama geral sobre o

    momento econmico, poltico, jurdico e social global, para logo analisar as iniciativas

    sociais que se destacam, as aes postas em prtica, e quais as mudanas que ocorreram ou

    que se esperam venham a ocorrer por meio da adoo destas prticas.

    Incursionou-se ento, pela identificao de foras sociais de transformao, de

    mecanismos, instrumentos, institutos e meios, capazes de lograr minimamente a realizao

    das expectativas sociais de emancipao de coletivos e de comunidades, avaliando-se

    como estas iniciativas esperam projetar-se para as sociedades do futuro.

    Destaca-se tambm nesta pesquisa, os aspectos sociais identificados como fatores

    de falha, insucesso ou limitao destas mesmas iniciativas, incluindo as cooperativas detrabalho, e que tem dificultado a realizao do desiderato coletivo de emancipao.

    Finalmente abordaremos uma proposta de governana democrtica direta das

    comunidades produtivas inseridas em uma economia global, sustentvel e inclusiva. Trata-

    se da Economia Baseada em Recursos que se baseia na sincronizao de produo e do

    consumo e no uso sustentvel dos recursos naturais, sendo a derivao econmica da

    governana democrtica direta cientfica.

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    2. JUSTIFICATIVA

    Considerando-se que os valores que se desejam realizar, de alguma forma foram

    previamente externados por meio dos prprios anseios no amago dos movimentos sociais

    histricos ou por meio da fixao dos mesmos nos diplomas legais dos respectivos pases.

    E considerando-se que no Brasil no diferente, eis que vemos que estas

    premissas fundamentais, tais como; a dignidade da pessoa humana, o direito ao trabalho e

    educao, e at mesmo a disponibilizao de meios cientficos e tecnolgicos para

    realizao de aspiraes meramente humanas, foram inquestionavelmente, refletidas e

    positivadas na nossa Constituio Federal.

    Assim, os mesmos desideratos que tm guarida na Constituio Federal, podem

    ser considerados de certa forma; valores universais, eis que centrados na pessoa humana,

    na sua dignidade e nos valores fundamentais cultivados pelos cidados.

    Alm disso a adeso do Brasil a Tratados Internacionais de Direitos Humanos,

    como o Pacto de San Jos da Costa Rica, o Pacto Internacional dos Direitos Civis ePolticos, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, entre outros, e o grande nmero

    de pases signatrios, identifica uma tendncia ou movimento para uma sociedade

    globalizada que busca valores mais espiritualizados e humanizados.

    O prprio modelo social atual reconhece estes movimentos, pois considera-os

    como alternativos, logo, propondo ento, que no seno social existe uma possibilidade

    distinta do capitalismo.

    Apesar disso, no h impulso ou estmulo para estuda-las ou desenvolver

    alternativas ou medidas efetivas ou o que seria mais apropriado para soluo de problemas,

    a aplicao da cincia, eis que, como dito, os interesses econmicos ainda parecem se

    impor na determinao das decises por meio de ideologias polticas.

    Boaventura, realizou uma extensa pesquisa que resultou em uma obra composta

    por sete volumes, nos quais 69 (sessenta e nove) pesquisadores lhe auxiliaram a coletar

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    dados e relatar experincias, entre elas movimentos sociais, inciativas cooperativistas,

    sindicais, Organizaes No Governamentais (ONGs), etc.

    Em suas concluses, esto as bases para pensar movimentos de organizao

    sociais, no como meramente polticos, como delatou as anlises destes pesquisadores que

    colaboraram na redao da obra em parceria com o citado autor, mas como elementos

    constitutivos de novas e complexas relaes sociais de uma pluralidade agentes e

    elementos multifacetados capazes de reconstruir a ordem e o espao social, a fim de

    encontrar novos modelos alternativos produo capitalista, ou, como ele mesmo intitulou

    a obra completa; numa nova forma de reinventar a emancipao social.

    A ideia central daquele projeto, e que tambm justifica esta pesquisa, de que as

    ideias e o pensamento que sustentaram e deram credibilidade aos ideais modernos de

    emancipao social, esto sendo profundamente questionados pelo fenmeno da

    globalizao.

    Neste sentido os autoritarismos polticos e a inviabilidade econmica dos sistemas

    econmicos centralizados foram dramaticamente expostos pelo colapso desses no final dosanos 1980 e mais recentemente na crise iniciada em 2008, de que o mundo ainda no se

    recuperou.

    Estes episdios criaram oportunidades para repensar ou reinventar alternativas

    emancipatrias ao capitalismo, que de fato, a curto ou mdio prazo, dependem da

    capacidade destas iniciativas sobreviverem ao contexto capitalista em que esto inseridas.

    Busca-se ento aqui, principalmente centrar a ateno nos aspectos viabilidade e

    no potencial emancipatrio destas iniciativas, que tem se espalhado pelo mundo e definem

    novas formas de organizao do espao social e econmico, pautadas por valores

    solidrios, isonmicos e sustentveis.

    E seguindo neste sentido, importante ressaltar que o pensamento crtico implica

    em no reduzir a realidade a apenas aquilo que existe, mas tambm, a uma srie de

    possibilidades multidisciplinares que permitem construes e formulaes intelectuais

    aptas a serem analisadas em modelos sistmicos, simulaes e experimentaes prticas.

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    Assim mesmo algumas delas, como veremos, esto em plena implantao, e que

    apesar de consideradas utpicas, representam um desafio ao status quodominante sendo

    suficientemente reais para serem simplesmente descartadas como inviveis, e alm

    disso; permitem antever impactos transformadores em curto espao de tempo.

    Ento, estas iniciativas emancipadoras representam a ampliao do espectro do

    possvel e convidam a experimentao e reflexo sobre uma sociedade mais humanizada,

    enriquecendo o campo das possibilidades emancipatrias para humanidade.

    Evidencia-se, tambm as dificuldades de encontrar-se uma teoria da traduo, ouhermenutica diatpica, ou seja, um mecanismo pelo qual as necessidades de cada

    indivduo ou coletivo possam ser convertidas em necessidades objetivas, extradas dos

    interesses em coliso, para que possam ser avaliadas com clareza pelas partes envolvidas

    na disputa ou lide.

    Ento, os grupos sem as barreiras dos interesses pessoais imediatistas, pode

    decidir e conduzir suas tratativas de forma transparente e objetiva.

    Este aspecto geralmente descuidado nas resolues de conflitos de interesse, e

    reiteradamente se apresenta no nosso modelo social; evidenciando a incapacidade das

    lideranas sociais e dos movimentos civis, para propor novos caminhos realizadores em

    sintonia com o interesse coletivo.

    Os topis

    2

    culturais so os principais fatores de dificuldade para operar atraduo destas necessidades, obstaculizando as primeiras iniciativas no caminho do

    entendimento coletivo.

    Assim mesmo, os fatores de ordem cultural, educacionais, polticos e econmicos

    impedem a consecuo de uma sistematizao deste aspecto fundamental e acabam sendo

    _____________

    2 Segundo Boaventura, topi seria o conjunto dos principais aspectos culturais, regras e valores, que

    influenciam no comportamento e idiossincrasia de povo, nao ou coletivo.

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    relegados as fora e poder inerente a cada um dos agentes ou coletivos envolvidos na

    questo.

    A organizao do MST, por exemplo, assim como muitos movimentos sociais das

    classes excludas, e como em inmeros outros movimentos emancipatrios, se d

    puramente no plano mobilizao das massas muitas vezes atuando na forma de

    desobedincia civil, insurgindo-se contra o descumprimento das prerrogativas

    constitucionais a fim de pressionar governos a adotar politicas pblicas mais inclusivas e

    atender suas reivindicaes, que no caso esto centradas na posse das terras.

    O movimento, no entanto, no aponta solues coletivas ou uma nova estruturaorganizacional. Limita-se a pleitear e acatar as solues prontas do modelo hegemnico,

    qual seja a desapropriao de terras para os assentamentos, financiamentos e microcrdito,

    etc.

    Assim observa-se que a soluo proposta, simplesmente a oferta de um pouco

    mais daquilo que se busca transformar, ou seja, as respostas padro do sistema, a mesma

    razo cnica, criticada por Boaventura.

    De outro lado, os observadores alheios contextualizao dos fatos, se dividem e

    afastam-se da compreenso plena e isenta destes mesmos fatos sociais.

    Ento, apesar da impureza conceitual que permeia os principais sistemas polticos

    e suas respectivas derivaes econmicas, quais sejam Capitalismo e Comunismo,

    observa-se que apesar da supremacia absoluta do capitalismo como derivao econmica

    da democracia representativa; as solues postuladas no so definitivas, ou causam atransformao necessria para uma superao dos problemas sociais crnicos e a

    emancipao social plena.

    Assim mesmo, no se advoga em prol de nenhum sistema poltico, ideologia ou

    ordem econmica desenvolvida no passado, eis que nenhuma delas foi capaz de sustentar-

    se ou estruturar sistematicamente como transpor as barreiras do modelo hegemnico ou

    satisfazer as necessidades de desenvolvimento sustentvel tansgeracional, incluso

    social e dignidade humanas, ao menos at o presente momento.

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    Neste sentido tambm se reconhece que as denominaes dadas aos respectivos

    sistemas polticos e econmicos no necessariamente correspondem a sua efetiva pureza

    pragmtica no mbito real.

    Como as sociedades cooperativas so atualmente um dos poucos instrumentos

    regulados e definidos no nosso ordenamento jurdico, sendo incluso previsto

    constitucionalmente, este instituto foi destacado e detalhado neste estudo como elemento

    central da construo da proposta de emancipao que se estudou.

    Observando-se detidamente nos aspectos jurdicos e estatutrios deste instituto,

    busca-se permitir um entendimento amplo e integro para promover um estudo facilitador ede referncia para experimentaes futuras.

    O movimento cooperativo, de inegvel importncia histrica e social, originado

    como proposta de incluso e transformao das condies sociais, continua sendo uma

    excelente alternativa de organizao socioeconmica para desenvolvimento local e

    incluso social solidria e isonmica.

    As cooperativas em geral, pelo potencial que representam para remodelar o

    espao social, e tambm pela sua quase indispensabilidade na construo de alternativas

    sistmicas e viveis ao capitalismo, devem ser elemento central de anlises na estruturao

    terica e na construo assertiva de um arcabouo alternativo de tecnologias sociais

    emancipatrias.

    Sem adentrar na demonstrao da breve concluso indigitada, especificamente noespao social brasileiro, j que tal desiderato no pertence ao escopo do presente trabalho,

    aponta-se, a ttulo de breve referncia didtica, que, segundo dados do IBGE 3, revelados

    na Pesquisa Nacional por Amostra de domiclios 2011 no Brasil (PNAD), revelou a

    seguinte situao econmica com relao renda mdia mensal das famlias brasileiras.

    _____________

    3 ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_anual/2011/tabelas_pdf/sintese_ind_7_5_1.pdf eftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_anual/2011/t

    abelas_pdf/sintese_ind_7_5_1.pdf

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    A pesquisa por amostragem, de 1000 (mil) pessoas em cada uma das macro

    regies brasileira, apontou que; 27 % (vinte e sete por cento) das famlias brasileiras

    recebiam uma renda mensal entre (meio) e 1 (um) salrio mnimo.

    Dada a impreciso da amostragem, s se pode estimar aproximadamente a

    dimenso real do nmero de pessoas includas nesta situao, e que, parece ser bem maior

    do que aquele que a pesquisa revela, ou seja; mais de cinquenta milhes de pessoas viviam

    com menos de um salrio mnimo em 2011.

    Apesar do governo considerar como miservelaqueles que subsistem com umarenda inferior a R$ 70,00 (setenta reais), improvvel que uma famlia possa preencher

    minimamente suas necessidades essenciais com menos de um salrio mnimo.

    Destarte, o nmero de miserveis, considerando-se que adotemos uma definio

    de miserabilidade, mais alargada que a irrealista premissa governamental, entendendo

    miservel as famlias que precisam viver com renda inferior a um salrio mnimo; o

    nmero ser muito maior que aquele noticiado pelas fontes oficiais do governo.

    A presuno deste patamar de renda proposto pelo governo, qual seja; R$ 70,00

    (setenta) reais, para realizao dos clculos de excluso da percha social de

    miserabilidade em suasestimativas, evidentemente, de cunho puramente poltico, no

    se amparando em qualquer estudo estatstico ou tcnico sobre o tema.

    Ento, a existncia de uma larga faixa populacional de excludos da proposta

    programtica da Constituio Federal, obriga a reflexes sobre a validade do modeloeconmico que permanece inabalvel, ao menos do ponto de vista legal, institucional,

    governamental, eis que as solues para os graves problemas apontados so sempre dadas

    ou buscadas por meio da estrutura do ordenamento jurdico das respectivas naes, e claro,

    no conseguiram e no conseguem atender as expectativas, pois mostra-se desequilibrado,

    mantendo a sociedade sob o regime de opresso econmica imposto pelo prprio sistema

    ideolgico que busca refletir os princpios do modelo econmico adotado.

    Ora, neste sentido, fica evidente, conforme Boaventura, que a emancipaosocial

    o cerne da questo sobre incluso social e econmica das populaes excludas.

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    Algumas solues foram apresentadas no pretrito por pensadores como Owen

    (1820), Quijano (1998), Gorz (1997), por meio de uma economia baseada no intercambio

    e no nos ganhos monetrios, na diminuio da dependncia das pessoas de empregos

    assalariados, nos intercmbios da economia criativa e solidria, etc.

    A emancipao social no sentido externado na proposta de Boaventura Souza

    Santos parece apontar ento; para a questo da organizao das populaes por meio do

    conhecimento emancipatrio.

    Os agentes de organizao social, quase que em unssono, entendem que alegislao no oferece a flexibilidade necessria para busca e realizao desta

    emancipao, e na verdade parecem engessar as possveis transformaes.

    Ento, pergunta-se; em que sentido o modelo atual inspira pensar alternativas ?

    Em primeiro lugar, o capitalismo sistematicamente produz desigualdades de

    recursos e de poder, separa trabalho e capital subordinando um ao outro e a acumulao

    desmedida, torna dramaticamente desiguais as classes sociais.

    Em segundo lugar, o modelo competitivo imposto pelo capitalismo, empobrece as

    formas de sociabilidade no espao pblico pois premiam o individualismo e o benefcio

    pessoal afastando o solidarismo e a cooperao.

    E finalmente completam este quadro; a explorao insustentvel de recursos. A

    explorao crescente de recursos naturais em nvel global, como so exigidos pelocapitalismo, pem em perigo as condies fsicas de vida na Terra.

    Tal assertiva foi identificada , por meio dos movimentos ecologistas em seus

    estudos (Daly,1996; Douthwaite, 1999) revelam a insustentabilidade do modo de produo

    e consumo propostos pelo capitalismo.

    OConor (1998) destaca que o Capitalismo tende a esgotar os recursos que

    permitem a sua prpria reproduo.

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    Logo buscar alternativas ou propor sistemas organizacionais para uma

    emancipao social vivel, no uma busca utpica, proposta por esta pesquisa ou mesmo

    por pesquisadores como Boaventura de Souza Santos, Gerald Cohen, Raimon Panikkar,

    Karl Marx, etc.

    No se busca aqui fazer uma critica ao modelo capitalista, que foge ao escopo

    deste trabalho, mas antes uma anlise imparcial e um recorte epistmico sobre dois

    aspectos centrais externados no espao social como resultado de suas prticas, quais sejam:

    Justia Social e Empoderamento4Democrtico.

    Estes mesmos elementos serviro de anlise para os modelos alternativos

    investigados e propostos.

    Portanto certa objetividade e iseno ideolgica despretensiosa pode ser obtida

    minimamente, garantindo a validade metodolgica da pesquisa realizada.

    Brevemente em apertada sntese, define-se5uma sociedade justa como aquela em

    que todas as pessoas teriam no geral, acesso igual ao meios sociais materiais necessrios

    para viver uma vida prspera.

    Para realizao deste desiderato, consideram-se elementos essenciais, a igualdade

    de acesso s condies para viver esta vida prspera.

    Ento justia social, refere-se ao acesso s condies, tanto materiais quanto

    sociais, necessrias para prosperar, ou seja; condies para boa ventura, felicidade, boa-

    sade, desenvolvimento pessoal, etc.

    Quanto ao segundo aspecto do recorte epistemolgico proposto, considera-se

    como o empoderamento democrtico, a condio pela qual em uma sociedade

    plenamente democrtica, todas as pessoas teriam no geral, acesso igual aos meios

    _____________

    4 Empoderamento um neologismo significando a transferncia do poder de deciso, s bases dascomunidades.5 Revista De Cincia Poltica, vol. 21, n. 1, jan./jun. 2012 (p.8) . Disponvel em Acesso em 25 de Jul. 2013

    http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/278/202http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/278/202
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    necessrios para participar de forma significativa das decises sobre as coisas que afetam

    as suas vidas.

    Destarte, a assertiva de que todas as pessoas devem ter o mximo de controle

    sobre as decises que afetam suas vidas, sendo este direito perfeitamente quantificvel, ao

    menos estatisticamente, dentro de cada sociedade.

    Alm dos argumentos precedentes, importante salientar que os elementos

    destacados, foram positivados como princpios na Constituio Federal de 1988.

    Destaca-se do Prembulo da Carta Magna, o qual transcreve-se, pela relevnciapara a justificativa em curso: instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o

    exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o

    desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade

    fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na

    ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob

    a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO

    BRASIL.

    Destarte, o princpio da prosperidade encontra-se implcito na Constituio

    Federal, e significa o direito que todos os cidados tm de alcanar o desenvolvimento

    material e o bem-estar social.

    Decorre da dignidade da pessoa humana e do art. 3 da Carta Magma o qual indica

    que o Estado brasileiro dever buscar a construo de uma sociedade livre, justa eigualitria.

    In verbis;

    Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da RepblicaFederativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir asdesigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa,sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

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    Quanto a democracia, dispensa-se esclarecimentos detalhados eis que a base

    fundamental do Estado Democrtico de Direito do Brasil.

    Assim, este trabalho no persegue uma utopia, eis que a prpria noo de utopia

    esttica e a sobrevivncia de um sistema social depende em ltima anlise, da habilidade

    para permitir mudanas para melhorar a sociedade como um todo.

    Conforme j externado, reconhecida a ao de movimentos alternativos,

    portanto inegvel a existncia de alternativas, apesar da efetividade duvidosa.

    Neste sentido; as palavras de Paulo Freire;

    Para mim o utpico no o irrealizvel; a utopia no oidealismo, a dialetizao dos atos de denunciar e anunciar, o atode denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estruturahumanizante. Por esta razo a utopia tambm um compromissohistrico6. (Paulo Freire, 1921).

    Isso posto, suficientemente definida a base conceitual do recorte epistemolgico

    analtico proposto; no binmio de justia social e democracia, e reconhecido que estes

    mesmos os conceitos foram inclusive positivados, conclui-se que esto perfeitamente

    delineados, inclusive em seus objetivos teleolgicos, pode-se continuar a expor com

    fundada base objetiva o presente trabalho.

    Passa-se a examinar quais as alternativas poderiam permitir viabilizar os

    indigitados princpios com maior eficcia, eficincia e efetividade.

    Ou seja; busca-se uma sistemizao dialtica de fatores contextualizados, histrica

    e socialmente, a fim de identificar uma metodologia epistemolgica capaz de conceber e

    propor alternativas estveis e durveis dentro da hegemonia capitalista para uma transio

    paradigmtica mais assertiva rumo uma reorganizao do espao social e a emancipao

    das populaes.

    _____________

    6 Freire, Paulo, 1921 - Conscientizao: teoria e prtica da libertao: uma introduo ao pensamento de

    Paulo Freire / Paulo FreireSo Paulo: Cortez & Moraes, 1979. Pg.16

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    Enfim, entendida as premissas precedentes como uma base suficientemente

    demonstrada, seja pela notoriedade, ou ampla documentao histrica, documental, terica

    e factual, propomos um apertado recorte dos instrumentos sociais histricos de organizao

    econmica do espao social para sintetizar algumas propostas hodiernas apresentadas por

    ONGs, coletivos sociais e associaes cooperativas em suas respectivas comunidades, seus

    resultados positivos, causas de limitaes, dificuldades e expectativas.

    3. OS DESAFIOS DA MODERNIDADE

    Estamos diante da necessidade de transpor para o universo coletivo, asnecessidades individuais, e nesta vertente, em busca de uma teoria de traduo.;

    Desta forma, para transpor estas barreiras ideolgicas e culturais, nasce a

    necessidade desta teoria de traduo que teria como escopo, identificar as necessidades

    pessoais e societrias e transport-las para um modelo coletivo, possivelmente

    fundamentado, num outro princpio constitucional, qual seja; Isonomia Social, com a

    nfase na descoberta e na oferta de um conhecimento emancipador, distinto daquele que meramente regulador.

    Neste sentido, de grande valia a lio do Jurista e filsofo Hans Kelsen:

    A igualdade dos sujeitos na ordenao jurdica, garantida pelaConstituio, no significa que estes devem ser tratados de maneiraidntica nas normas e em particular nas leis expedidas com base na

    Constituio. A igualdade assim entendida no concebvel: seriaabsurdo impor a todos os indivduos exatamente as mesmasobrigaes ou lhes conferir exatamente os mesmos direitos semfazer distino alguma entre eles...7

    Assim mesmo, apesar das grandes barreiras de ordem intelectual, tambm se

    observa no mbito global uma nova postura do individuo frente ao mundo, especialmente

    _____________

    7 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Traduo francesa da 2 edio alem por Ch. Einsenmann, Paris:

    Dalloz, 1962. (1962, p. 190)

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    externado pelas novas geraes de jovens, que reconhecem o impacto planetrio das

    intervenes humanas na natureza, e que afetaro diretamente a qualidade de suas vidas.

    Logo, h hodiernamente, um grande nmero de aes sociais que adotaram o

    bordo pensar globalmente e agir localmente, j que as barreiras comeam a se dissipar e

    os vus polticos, ideolgicos, fronteirios, entre outros nacionalismos e falsos

    patriotismos, comeam a perder o sentido objetivo, eis que os efeitos dos danos causados

    natureza passam a ter consequncias globais. Entre eles o clima, a reduo de corais

    ocenicos, a reduo dos peixes marinhos de grande e mdio porte, a poluio atmosfrica,

    os resduos nucleares,8o desaparecimento de espcies, os agrotxicos9 entre outros que

    tm efeitos transfronteirios,no se detendo nas barreiras polticas ou geogrficas.

    Hoje, emerge uma nova conscincia planetria resultante das novas tecnologias e

    da prpria expanso do modelo neoliberal que prope mudanas profundas na forma de

    produo e impacta, no s comunidades fragilizadas ou em situao de excluso, mas

    tambm pases de economia forte e estvel.

    Vemos nesta globalizao alternativa; a prpria internacionalizao dosproblemas, eis que muitas vezes estes mesmos problemas se repetem em muitas partes do

    globo ou esto de alguma forma relacionados.

    No se pode deixar de reconhecer aqui, que mais uma vez, uma das mximas de

    Karl Max, notabiliza-se, na medida em que; as relaes de produo acabam por modelar

    predominantemente as relaes sociais.

    Cita-se Max, para clareza:

    O modo de produo da vida material condiciona o processo devida social, poltico e intelectual em geral. No a conscincia do

    _____________

    8 Disponvel em Acessado em 19 de Agosto de 2013.9 Estudo da WWF sobre a propagao de pesticidas. Disponvel em

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    homem que determina seu ser, porm, ao contrrio, seu ser socialque determina sua conscincia"

    Boaventura, em breve sntese, define a globalizao como um processo pelo qual

    determinada condio ou entidade local estende a sua influncia a todo o globo e, ao faz-

    lo, desenvolve a capacidade de designar como local outra condio social ou entidade

    rival.

    Ento, de fato, temos um mecanismo organizado que busca transpassar as

    barreiras, no s geogrficas, que de certa forma perdem o sentido, atualmente, mas

    tambm se impem sobre valores culturais, polticos, sociais e at mesmo na organizao

    do espao social de outros pases e comunidades.

    O autor, apontado, que serviu de referncia para inicio desta pesquisa, apoiou

    indigita concluso em alguns fatos notrios e evidentes por si mesmos, que se observam

    neste espao social global, ressaltando a insustentabilidade dos processos produtivos,

    desigualdade social, crise funcional hodierna, e o esgotamento de recursos naturais.

    Ento, esta reao social, constituda pelas redes e alianas transfronteirias

    entre movimentos, lutas de classes, ONGs e outras entidades representativas da sociedade

    civil, se unem para enfrentar a excluso socioeconmica, o desemprego, as pandemias,

    direitos humanos, dios intertinicos, destruio ambiental, falta de moradia digna, etc.,

    entre outros que o autor entende produzidos direta ou indiretamente pela globalizao

    neoliberal.

    Tal assertiva precedente, foi defendida por Boaventura em trs campos analticos,quais sejam; a cincia, o direito e o poder, e destacou-se a presena de um fenmeno que

    consiste no desenvolvimento de epistemologias e teorias sociais que encerravam a

    proliferao do que ele chamou de razo cnica, que estimula o inconformismo contra a

    injustia e a opresso, impondo a crena de que no h nada para alm daquilo que existe.

    Como remdio, o mesmo autor prope a reinveno dos caminhos da

    emancipao social.

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    4. DOS PROBLEMAS S SOLUES

    Conforme exposto, existem foras imanentes ao modelo socioeconmico atual

    que o impulsiona para um objetivo que no necessariamente atende as demandas sociais

    por justia social ou democracia, e que tambm; no tem como escopo realizar as

    propostas constitucionais de dignidade.

    Assim, temos vrios grupos sociais com necessidades distintas e em diversos

    nveis sociais de acesso, que convivem no mesmo espao social, geralmente em conflito, e

    que como norma; buscam a felicidade ou seja, uma condio de menor sofrimento e

    maior prazer, mas que tambm, nem uma nem outra das posies extremadas, no o fazem

    da maneira mais acertadas.

    A Constituio Federal reafirma estes valores no seu bojo, mas o sistema

    econmico que permeia dominantemente a sociedade no os considera teleolgicamente

    em seu objeto. Neste paradoxo reside o tnue equilbrio social.

    Giza-se que a felicidade, tambm direito decorrente do princpio da dignidade

    da pessoa humana conforme destacou na STA 223-AgR, o Relator Min. Celso de Mello,

    em julgamento na data de 14-4-2008, que defendeu em seu voto; o direito de buscar

    autonomia existencial, desvinculando-se de um respirador artificial que o mantm ligado a

    um leito hospitalar depois de meses em estado de coma, implementando-se, com isso, o

    direito busca da felicidade, que um consectrio do pr incpio da dignidade da pessoa

    humana.

    Ao tratar-se de reinventar a emancipao social, busca-se tambm lanar mais

    luzes sobre as alternativas e os novos manifestos sociais que agora se instrumentalizam

    na globalizao de oposio.

    Ressalta-se ainda, que o neoliberalismo, dentre as diversas formas de globalizao

    a predominantemente. Sua ao, no sentido de fazer o capital desvencilhar-se de barreiras

    polticas e sociais, com pressuposto de que a atividade social melhor organizada sob a

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    forma de mercado, acaba por tornar-se uma barreira a realizao de alternativas que no

    adotem a mesma prerrogativa.

    A distribuio desigual de custos e de oportunidades, como resultado da

    superao destas barreiras, que de certa forma propiciavam certa proteo da economia

    local, acabam agravando as dificuldades e o resultado em geral maior desigualdade social

    entre pases ricos e pobres e entre os cidados destes pases.

    Como o Estado vai se conformando a estas novas demandas capitais, o mercado

    interno fica cada vez mais exposto a uma concorrncia globalizada que arrasa as

    economias locais mais frgeis.

    Neste sentido, a sociedade guiada por esta lei do menor esforo e os bens e

    produtos ofertados sofrem grande desvalorizao quando comparados com o produto de

    origem globalizada.

    Entende-se ento, ser possvel por meio da reorganizao do espao social e em

    especial pela organizao da foras produtivas da coletividade, atuando de formaisonmica na economia comunitria, a ampliao do acesso justia e da democracia.

    A reorganizao inteligente e isonmica dos coletivos humanos, inclusive com

    uso das novas tecnologias de informao, ofertando um sistema de sincronizao de oferta

    e consumo, decises democrticas, acesso, entre outros, com o fim profcuo de perseguir a

    realizao destes dados valores, inclusive assentados na Constituio Brasileira, apenas

    limitada pela desinformao, ou seja; pela inexistncia de propostas emancipatrias noespao social.

    Exemplos destes mecanismos de reorganizao do espao social, so as moedas

    sociais, os bancos de tempo, a economia solidria e criativa e especialmente; as

    cooperativas.

    5. CARACTERSTICAS HODIERNAS DO ESPAO SOCIAL

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    Neste ponto, estudar-se- alguns elementos destacados no recorte epistemolgico

    proposto; democracia e justia social, em alguns mbitos do espao social, procedendo-se a

    uma critica objetiva das condies deste ambiente de relaes e influncias diversas.

    A proposta neste momento ento; fazer um recorte deste ambiente hodierno nos

    principais mbitos ressaltando-se as caractersticas mais predominantes de cada um deles e

    que se opem as foras emancipatrias sociais.

    5.1.Direito Empresarial

    O cdigo civil de 2002 positivou no direito brasileiro dois tipos, ou gneros desociedades; as simples e as empresrias.

    So consideradas sociedades simples, aquelas que desenvolvem atividade civil ou

    no empresarial. Essa denominao foi mesmo adotada pelo Cdigo Civil de 2002, que

    substituiu o termo sociedades civispor sociedades simples.

    So consideradas sociedades empresrias aquelas que exercem atividadeempresarial.

    Segundo Fbio Ulhoa Coelho; A sociedade empresria pode ser conceituada

    como a pessoa jurdica de direito privado no-estatal, que explora empresarialmente seu

    objeto social ou a forma de sociedade por aes.

    Neste sentido, observe-se que a lei prev duas excees para caracterizar associedades empresrias, quais sejam; as sociedades annimas ou por aes e as

    cooperativas. No primeiro caso sero sempre empresariais, qualquer que seja seu objeto; e

    as cooperativas sempre sero sociedades simples.

    O Cdigo Civil, trs em seu artigo 983, as 05 (cinco) espcies societrias em que

    a atividade empresarial deveconstituir-se; quais sejam: sociedade limitada; sociedade em

    nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade annima e sociedade em

    comandita por aes.

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    Estas vrias espcies de sociedades empresarias, foram criadas visando conformar

    as diversas iniciativas econmicas em grupos sistematizados sob os quais as diversas

    iniciativas privadas deveriam organizar-se e conformar-se.

    A sociedade limitada, a sociedade em nome coletivo e a sociedade em comandita

    simples so regulamentadas pelo Cdigo Civil, enquanto as sociedades annimas so

    disciplinadas pela Lei n 6.404/76, enquanto as sociedades em comanditas por aes so

    regradas pelos dois diplomas legais.

    As sociedades simples com vocao empresarial, so reguladas principalmente,

    pelas Leis n 5.764 de 1.971 e mais recentemente pela lei 12.690 de 2.012, que regulam asociedade Cooperativa.

    Ou seja, so sociedades que no mereceram destaque especial no Cdigo Civil,

    que apenas dedicou 3 (trs) artigos a esta sociedade. A breve abordagem deste diploma

    ressaltou especialmente as implicaes de solidariedade com o sistema econmico e

    algumas das relaes patrimoniais entres os cooperados e a sociedade cooperativa.

    Neste sentido, observa-se que h uma clara tendncia da poltica legislativa em

    privilegiar a regulao dos modelos em que o capital um dos elementos centrais, em

    detrimento dos modelos em que os sistemas democrticos de decises so sempre

    afastados ou na melhor das hipteses h uma direta relao entre o capital e o poder

    decisrio.

    5.2.Poltica e Economia

    O capitalismo surgiu entre 1500 e 1850, numa transio do feudalismo para o

    mercantilismo e logo para o capitalismo industrial. Nesta ltima transformao, o

    excedente, que era somente uma quantidade de produtos produzida acima das necessidades

    de sobrevivncia, tomou a forma de capital, ou seja; dinheiro, que poderia ser investido

    para gerar lucro.

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    O lucro, ento, era novamente investido para gerar mais lucros. Quando se obtm

    lucro, ento este investido novamente para obter mais lucro, e assim por diante at ao

    infinito.

    Ao contrrio de qualquer sistema econmico anterior, este ponto central do

    capitalismo e determina sua lgica.

    A economia deixou de ser uma entidade esttica com base na produo camponesa

    de bens a serem consumidos pelas elites, e passou a ser um intricado mecanismo de

    capitais, poupados, investidos, e at mesmo no consumidos, mesmo quando ele

    consumido pelos ricos.

    Destarte, fica evidente neste cenrio, que qualquer engajamento que o capital faa

    junto s causas sociais, est na verdade objetivando maximizar lucros, e isso no

    diferente em nenhuma parte do mundo onde o capitalismo se instalou.

    Riqueza d origem a uma mentalidade do eu-primeiro", como o psiclogo

    Dacher Keltner destacou, e a ganncia que racionaliza "mina o comportamento moral."

    Assim mesmo, as aes da iniciativa privada no sentido de melhorar as condies

    do espao social, so meramente resultados colaterais da persecuo do objeto do

    capitalismo.

    Bill Gates e Warren Buffett podem dar bilhes de dlares para a caridade, assim

    como a Fundao Ford j faz h vrios anos, mas o fato que o capital destas empresasest em guerra para crescer ou enfrentar a morte no duro campo de batalha dos lucros.

    A maior parte das inciativas empresariais se amoldam a esta mesma situao, e o

    acumulo de capital , leva invariavelmente ao acumulo de poder, que acaba por assegurar a

    permanncia das iniciativas prprias.

    Ento, o enfrentamento neste terreno deve ser precedido deste entendimento, eis

    que nenhuma inciativa privada do capital motivar o descaminho de sua lgica, ainda

    quando apoie movimentos sociais.

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    Na obra de George Packer; No Death, No Taxes: The Libertarian Futurism of a

    Silicon Valley Billionaire10, esta tese reforada e o autor expe: ...O bilionrio, co-

    fundador da PayPal, Peter Thiel, por exemplo, doa uma quantidade significativa de

    dinheiro a grupos sem fins lucrativos, mas grande parte desse dinheiro vai para empurrar

    o seu pr-business na agenda poltica da direita.

    Tambm no Brasil, no texto O Estado, a Empresa e o Mercado; Novas

    tendncias de Direito Econmico e Comercial de Manoel Justino Bezerra Filho, destaca-

    se:

    Ressalta-se que o poder determinante no mercado o poder docapital financeiro, dos banqueiros em geral, que tudo podem e quetudo conseguem, pelo menos em termos de resultados legislativos.

    Tambm para o Prof. Manoel Justino Bezzera Filho11da Universidade Mackenzie;

    Reformulada a questo nestes termos, necessrio tambm quedesde logo fique fixado que, neste momento histrico, pelo menosno Brasil talvez no mundo todo - o poder determinante no

    mercado o poder do capital financeiro, dos banqueiros em geral,que quase tudo podem e que tudo conseguem, pelo menos emtermos de resultados legislativos

    Destarte, a poltica, ou os governantes tem andado em sintonia com a atividade

    econmica desde seu insipido incio, criando um espao social organizado dentro destas

    premissas, adotando um sistema poltico facilitador para este modelo, institucionalizando e

    criando direito que representa, ou espelho, no da populao, mas das motivaes

    basilares do capitalismo, facilitando sua operao plena e buscando equilibrar, no osefeitos devastadores sobre os meio-ambientes, mas em assegurar que o mercado no

    colapse ou opere margem de regulao que o desestabilize.

    _____________

    10 George Packer, No Death, No Taxes: The Libertarian Futurism of a Silicon Valley Billionaire, NewYorker, Nov. 28, 2011

    11 http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FDir/Artigos/manoeljustino2.pdf

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    Desnecessrio dizer que estas polticas acabam por impedir o acesso direitos,

    causando na verdade acumulo de capitais e desigualdades sociais, representando

    importante bice realizao da justia social ou expresso da democracia.

    Em resumo, o objeto do capitalismo, sendo o lucro, acaba por influenciar a agenda

    poltica que orientada pela reeleio, e que para ser bem sucedida, em ltima anlise,

    depende mais de recursos do que do nvel educacional da populao.

    A maior parte das doaes das empresas so destinadas a projetos sociais de

    ONGs vinculadas polticos ou familiares destes, especialmente para o recebimento destas

    verbas, e que servem de plataforma poltica para reeleio.Com a reeleio do poltico vinculado a estas ONGs, assegura-se polticas

    pblicas favorveis as empresas que gozam de uma legislao favorvel para seus

    empreendimentos.

    Tal fato notrio haja vista ser to exposto nas aes judiciais de improbidade,

    corrupo, e causa frequentemente escndalos polticos e escarnio pblico.

    5.3.Financiamento e Crdito

    Geralmente as condies para financiamento ou emprstimo esto vinculadas a

    capacidade do devedor, ou a garantias patrimoniais de ordem pessoal ou real, isto, resulta

    em que a maior parte da populao em situao de excluso, portanto, no tem acesso a

    qualquer tipo de crdito.

    De fato os emprstimos bancrios so direcionados grandes grupos de

    investimentos geralmente atrelados contratos governamentais que asseguram baixo risco

    para o retorno do investimento, reforando as estruturas e modelos tradicionais de

    investimento econmico, monoplios e oligarquias vinculadas ao poder poltico.

    Tal dificuldade, no mbito popular e comunitrio, estimulou a formao de

    associaes e at bancos sociais que promovem linhas de microcrditos para pequenos

    negcios ou profissionais autnomos que precisam de pequeno capital de giro ou de

    estabelecimento, a fim de prosseguirem em suas atividades laborais.

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    Estes grupos de pessoas em geral trabalham na informalidade e no tem acesso a

    crditos nas entidades bancarias tradicionais, mas precisam de pequenos capitais iniciais

    para iniciarem uma pequena atividade econmica de gerao de renda.

    Em 1998, foi fundado em Fortaleza CE, um banco comunitrio chamado de

    Banco Palmas, em uma comunidade de 32 (trinta e dois) mil habitantes nos subrbios da

    cidade. Este banco iniciou suas operaes baseado nos princpios da economia solidria, e

    hoje uma OSCIP que rene hoje, numa espcie de rede, aproximadamente outros 52

    (cinquenta e dois) bancos sociais comunitrios que oferecem microcrdito, moeda social e

    outros servios financeiros para populao de comunidades de baixa renda.

    Estes banco em geral estimulam o desenvolvimento da comunidade local

    buscando superar as condies de pobreza e excluso, inclusive, por meio de projetos de

    gerao de renda, redes de vendas de produtos e microcrdito orientado populao de

    baixa renda, que de outra forma no teria acesso a qualquer tipo de financiamento

    tradicional ou mesmo uma conta bancria onde pudesse depositar seu dinheiro.

    5.4.Industrializao e Urbanizao

    No desenvolvimento histrico do homem e durante o processo civilizatrio, v-se

    uma migrao das populaes das reas rurais para as reas urbanas. Apesar deste

    fenmeno fazer sentido do ponto de vista econmico, paradoxalmente a dependncia de

    todos os tipos de suprimentos para abastecimento das populaes urbanas, tornou-se quase

    que total.

    Isto significa um obstculo ao processo de emancipao, eis que cria mais

    dependncia dos mecanismos capitalistas de manuteno da vida, impulsionando as

    comunidades subsuno crnica aos seus desideratos.

    Alimentos, energia, gua, saneamento, habitao, alm de outros gneros diversos

    para manuteno da vida so comanditeis do capital. Destarte, o indivduo obrigado a

    trabalhar, no para produzir os bens necessrios a sua subsistncia, mas deve obter um

    emprego, o que significa adeso ao mecanismo de gerao de lucro, que leva

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    inevitavelmente a uma sobre-explorao da mo de obra, ou seja; da mais valia do trabalho

    humano, elemento central do modelo capitalista.

    Com o crescimento das cidades e adoo de arquitetura e urbanismos voltados

    para otimizao do espao edificvel, o homem perdeu sua capacidade de

    autossubsistncia, tradicionalmente encontrada no ambiente rural pelo uso da terra.

    Apesar do ambiente rural carecer dos mesmos meios disponveis na cidade,

    entende-se que paradoxalmente, hoje mais do que nunca, esto presentes os meios para

    criao de espaos rurais urbanizados, confortveis, inclusivos e seguros, sem

    necessariamente estabelecer condies de dependncia do mecanismo capitalista demanuteno da vida.

    O custo da especulao imobiliria, os impostos urbanos, os impostos nas

    compras de produtos de primeira necessidade, a dependncia do fornecimento de energia e

    gua, entre outros fatores que costumam colocar boa parcela da populao em estreito grau

    de dependncia.

    A principal fora de dependncia est na prpria organizao urbana, que se

    apresenta como uma malha de relaes de subordinao e poder que promovem a

    organizao do espao urbano a fim de otimizar lucros.

    Portanto, a premissa original que se deu durante a revoluo industrial, que atraiu

    milhares de pessoas para as cidades, tem sido reforada em uma outra inovadora srie de

    mecanismos mais complexos e obscuros que procuram reorganizar os espaos pblicos pormeio de legislao e que inclui; sistemas econmicos, instituies, politicas fiscais, de

    sade, transporte, ocupao do solo, etc.

    Na verdade, h uma organizao subordinada ao lucro, e que de fato coloca as

    pessoas em situao de competio, na lei de oferta e da procura, supostamente

    autorregulada, mas que na verdade s pode ser estruturada de forma mais ou menos

    previsvel pelas grandes corporaes como os franchisings, bancos e instituies

    financeiras, grandes maioristas e distribuidores, etc.

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    Estes ltimos, so suficientemente estruturados, em matria informacional e

    organizacional, para habilitarem-se a possibilidade de anlises mais ou menos precisas dos

    potenciais riscos, elementos variveis, sistemtica conglobante de eventos, etc. Assim,

    muitas vezes, minimizam o chamado risco do empreendedorismo prximo de zero,

    deixando ao pequeno empreendedor, o risco maior e quase sempre no calculado.

    No se trata de incompetncia do pequeno empreendedor, na maior parte das

    vezes a falta do poder de anlise mercadolgica, que depende de uma rede que envolve

    polticos, fluxo de dados comerciais e mercadolgicos, informaes bancrias,

    populacionais e estatsticas entre outras que so determinantes para determinao do

    sucesso ou fracasso dos investimentos.

    Para o capitalismo uma situao confortvel eis que permite concentrar milhes

    de consumidores em uma s regio, obrigando ao consumo de quase tudo que necessrio

    para suprir as necessidades de subsistncia humanas. Alm disso, o empreendedor

    capitalista, encontra disposio mo de obra em abundancia, inclusive suprindo a reserva

    operacional das flutuaes de demanda.

    5.5.Distribuio e Consumo

    Conforme disposto anteriormente, a distribuio e consumo maiormente

    concentrada nos centros urbanos, e inclusive, estes servem como centros de distribuio de

    produtos para outras regies rurais e cidades interioranas e de outros estados.

    A distribuio de bens de consumo se concentra em grandes maioristas capazes deofertar preos muito competitivos e impedir o crescimento de pequenos comerciantes que

    se aventuram no mesmo ramo de vendas que estes.

    Um exemplo o Wallmart, sabidamente no cria novos trabalhos onde se instala,

    pelo contrrio, onde estes maioristas se instalam, excluem pequenos comerciantes e

    empobrecem a regio.

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    Um estudo publicado em 2008, no Journal of Urban Economics12que publica

    trabalhos de pesquisas na rea de economia, examinou aproximadamente 3 (trs) mil lojas

    que foram abertas da citada empresa nos Estados Unidos, e encontrou que cada loja aberta

    causava um declnio de aproximadamente 150 (cento e cinquenta vagas) de emprego, por

    conta dos comrcios e que encolheram ou fecharam, e os salrios tambm diminuram.

    Assim, estes gigantes, quando escalam suas aes, causam impactos sociais

    perversos e perniciosos. Estas aes so planejadas minuciosamente.

    Observamos no Brasil o mesmo fenmeno recorrente, que nestes pases de fortecompetitividade e dinmica capitalista, a substituio de pequenos negcios, micro e

    mdio empreendimentos, desaparecem, sendo substitudos por grandes centros comerciais

    de maioristas.

    5.6.Ideologia e Idiossincrasia Social

    O termo ideologiafoi primeiramente cunhado por Destutt De Tracy, em seu livroElementos de Ideologia, de 1801, no qual esboou o conceito de uma cincia das ideias.

    Tracy e seus colegas postularam que as ideias constituiriam a base sobre a qual se

    assentavam a poltica, a economia, etc. Ou seja, as ideias constituam o alicerce da vida

    social(EAGLETON, 1997, p.64).

    Assim, esta viso exarada dentro do contexto revolucionrio francs, j ensejavauma construo ideada do espao social, e nos dias atuais, com o advento dos novos meios

    de comunicao de massa, as ideias ganham fora global e permitem altos graus de

    alienao, especialmente ante a pssima qualidade da educao e a estratificao social.

    Ento que tipo de ideologiapermeia o espao pblico?

    _____________

    12 http://www.journals.elsevier.com/journal-of-urban-economics/

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    Um aspecto relevante no trabalho de Carl Marx; o conceito da existncia de uma

    superestrutura ideolgica que emerge em nossa sociedade, criando uma espcie de vu

    obscuro que encobre a verdadeira natureza das relaes de produo.

    Marx notabilizou-se por imortalizar o conceito de ideologia e associ-lo crtica

    da sociedade capitalista. Em suas obras compreende-se que a ideologia se relaciona com a

    superestrutura da sociedade e ofusca a conscincia dos homens, criando uma falsa

    impresso da realidade.A ideologia a falsa conscincia.

    Tambm se observa no espao social uma constante averso s mudanas, sendo

    que uma das possveis razes para resistncia s transformaes sociais; seja a ameaa queelas representam para interesses diversos.

    Assim mesmo, existe o medo subjetivo das mudanas, eis que nos retira da zona

    de segurana e conforto em que se pode esperar certa previsibilidade ao qual se est

    acostumado. Entretanto, este medo infundado, na medida em que a histria da civilizao

    humana , e continuar sendo, uma contnua transio num ambiente que experimenta

    profundas modificaes com o passar do tempo.

    O sistema de produo existente durante a revoluo industrial apresentou

    problemas muito mais impactantes do que temos hoje, como foram as precrias condies

    para o trabalho humano, as jornadas de trabalho contnuo por mais de doze horas, a

    explorao da mo de obra infantil, a falta de segurana das fbricas, a ausncia de direitos

    para os trabalhadores em geral, ausncia de politicas de sade e segurana dos

    trabalhadores, etc.

    Ora, apesar de tantos problemas, no resta dvida de que aquele momento

    histrico foi um dos grandes modificadores do estilo de vida, arquitetura, tecnologia e

    desenvolvimento social pelo qual a humanidade passou.

    Destarte, o que se apresenta mais condizente com nossa histria a continuidade

    do experimento social para transcender as limitaes da nossa sociedade atual e propiciar

    prosperidade e qualidade de vida para todos.

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    Nosso futuro no depende das crenas atuais ou dos costumes sociais, e

    continuar a evoluir para um conjunto de valores prprio de cada poca futura.

    Ento, apesar do pouco interesse dos poder econmico dominante em buscar

    transformaes que possam desestabilizar ou comprometer a lucratividade; inevitvel que

    setores e agentes sociais continuem em luta emancipatria. Alm disso, outras foras de

    transformao se impe por meio de toda sorte de fenmenos tecnolgicos, naturais e

    econmicos que modificam constantemente o espao social, trazendo eventos sociais

    imprevisveis, exceo da prpria mutabilidade que lhe inerente.

    5.7.Educao

    Historicamente, o processo educativo como conhecemos hoje iniciou-se na

    Prssia no final do sculo XVIII e incio do sculo IXX, num momento histrico

    conhecido como Despotismo Ilustrado. Naquele momento histrico-social, criou-se o

    conceito da educao pblica, gratuita e obrigatria, que adotava o modelo espartano

    baseado na diviso de classes e castas, disciplina, obedincia e o regime autoritrio.

    As guerras que estavam nascendo durante aquele perodo motivavam a criao de

    um povo dcil e obediente e o modelo se espalhou pelas naes que buscavam, no a

    formao de cidados, mas de sbditos obedientes.

    O discurso era a educao para todos e a igualdade, mas na verdade o que se

    buscava era perpetuar modelo elitista e a diviso de classes.

    Por volta de 1820 chega Frana o modelo Prussiano. Napoleo manifestou-se

    da seguinte maneira; eu quero formar um corpo docente para formar a opinio dos

    franceses.

    Assim, a escola nasceu num mundo positivista regido por uma economia

    industrial que buscava os melhores resultados com o menor investimento possvel.

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    A escola era resposta para formao de trabalhadores, e vrias fundaes,

    patrocinadas pela indstria, passaram a financiar a formao de mo de obra, entre elas a

    Fundao Ford.

    Entende-se que o objeto do sistema educacional moderno, derivado do prussiano e

    sem grandes modificaes at hoje, simplesmente reforar e repetir o modelo social

    estratificado e voltado ao lucro, repetindo as bases originais, buscando conservar a

    estrutura atual da sociedade.

    Controle da conduta, nacionalismos, produo industrial e cadeia de montagem,

    so aspectos que se reproduzem na escola de hoje em dia. Separam-se as crianas emvrios nveis, etapas e contedos previamente determinados, evidentemente a um fim

    utilitarista.

    Qual o objetivo teleolgico da Educao moderna ?

    Temos hoje a chamada educao administrativa, sem conexes espaciais ou

    temporais. Por sculos, as escolas se parecem muito com as fbricas ou as prises,desumanizando as relaes e homogeneizando pessoas e contedos.

    Os alunos mais adaptveis so selecionados para universidade e para a elite dos

    sistemas produtivos.

    Ivan Ilyich, um filsofo austraco esclarece em um artigo 13 publicado de 03 de

    Dezembro de 1970 na The New York Review.

    A escola, conforme sugeri no meu artigo prvio, oprincipal componente do sistema de produo do consumidor, aqual, tem se tornado cada vez mais complexa, especializada e

    burocratizada. A escolaridade necessria para produzir os hbitose expectativas da sociedade de consumo gerenciado.Inevitavelmente, ela produz dependncia institucional eclassificao, apesar de qualquer esforo por parte do professor

    _____________

    13 http://www.nybooks.com/articles/archives/1970/

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    para ensinar o contrrio. uma iluso que as escolas so apenasuma varivel dependente, uma iluso que, alm disso, proporciona-lhes, os rgos reprodutivos de uma sociedade de consumo, comsua imunidade.

    E assim fecha-se este breve panorama em que se pde observar a extrema

    conexo entre o objeto do capitalismo e os rumos sociais adotados pelo mundo

    globalizado, criando relaes de dependncia e poder e que finalmente se refletem nas

    estruturas jurdicas do pais, criando no espao social reflexos institucionalizados das

    derivaes do poder.

    Neste cenrio, os movimentos sociais, em busca de emancipao, se lanam emincansveis batalhas emancipatrias, muitas vezes desorganizadamente e

    aprioristicamente. Assim mesmo, quando minimamente organizados, se enveredam pela

    razo cnica, orientando-se pelos mesmos arcabouos sociais, polticos e econmicos

    existentes, apresentados pelo sistema como essenciais e assertivos.

    6. AS ALTERNATIVAS AO MODO DE PRODUO CAPITALISTA

    A essncia do trabalho realizado pelas instituies, coletivos e indivduos que se

    deparam com o tema da injustia social e da opresso econmica; que em ltima anlise,

    derivada do sistema democrtico representativo, que tambm no prope o devido

    enfrentamento da questo da incluso socioeconmica; a emancipao social por meio da

    reduo da dependncia econmica.

    O enfrentamento desta questo o cerne e o ponto central da abordagem sistmica

    para viabilizao da emancipao social, eis que no foi superado efetivamente at apresente data.

    No se pode mudar nenhum dos paradigmas, sejam eles sociais, polticos,

    educacionais, cientficos, sem encontrar-se primeiramente uma resposta no plano

    econmico, eis que essencialmente a vida humana depende da atividade econmica de

    subsistncia.

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    A notria escassez de bens e servios, na verdade relativa, eis que h grande

    diversidade conceitual de ordem subjetiva quando se trata de tentar definir aquilo que

    essencial ou no o .

    Examinar-se- seguidamente, os elementos e instrumentos institucionais e

    organizacionais capazes de ofertar uma alternativa sistematizada para uma transio vivel

    de modelos.

    Neste sentido, h imperiosa necessidade de proporem-se alternativas fora daquilo

    que existe, eis que as reprodues ideolgicas sistmicas at a presente data, oferecem

    baixa ou nenhuma expectativa significativa na superao dos modos de relao deproduo entre as pessoas, e pior, mantm uma falsa expetativa de transformao por meio

    da poltica ou dos apelos s motivaes imediatistas, pela conquista de bens materiais ou

    imateriais (status, fama, poder, etc.) que so as prprias respostas do sistema que se busca

    superar.

    Prope-se ento, uma conjuno de elementos disponveis e novos conceitos,

    reorganizados de forma assertiva e inovadora, a fim de criar elementos transformadoresdentro do espao social.

    Propugna-se, no o socialismo ou comunismo ou qualquer outro sistema

    econmico ou politico antes existentes, mas uma forma inteiramente nova de organizao

    do espao social, e que seja inteiramente isonmica por meio de Justia Social e

    Empoderamento Democrtico.

    Conforme se observa no plano tecnolgico, hoje esto disponveis novas recursos

    de comunicao, instrumentos de anlises de redes e de organizao informatizada das

    atividades humanas, alm de novas tecnologias de organizao do espao pblico.

    Porque no esto amplamente em funcionamento redes sociais isonmicas

    distribudas com enfoque organizacional econmico?

    A resposta no evidente e esto presentes variveis em mltiplas equaes

    sociolgicas que no atingem o escopo do presente trabalho, que simplesmente apresenta

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    uma das possveis combinaes possveis para organizar o espao social com relativa

    independncia da poltica regulatria dos governos e apoiada na legislao vigente.

    Entende-se que, de fato, no h impedimentos legislativos para a proposta de

    reorganizao destes espaos, sendo os fatores impeditivos, maiormente relacionados

    ausncia de um paradigma alternativo de reorganizao social, visando emancipao e

    consequente justia e democracia.

    7. AS COOPERATIVAS

    Como primeiro elemento deste arcabouo investigativo proposto, apresenta-se oinstituto do cooperativismo, meio de associativismo pelo qual as pessoas se renem para

    promoo de meios para gerao de renda, aquisio de meios de produo, auxilio mtuo

    e enfrentamento das dificuldades de forma coletiva.

    Outro aspecto relevante para destaque deste Instituto; que as cooperativas

    negam a separao dos meios de produo e do trabalho, que negada pelo capitalismo.

    Apesar de que estes bens, os meios de produo, passam a fazer parte do ativo daCooperativa, este meio de realizao econmica, e tem como escopo principal a gerao

    de trabalho ou a prestao de servios aos seus associados, ou seja; no destinados ao lucro

    como fim precpuo.

    O instituto Cooperativo ser o elemento central deste trabalho, eis que trata-se do

    mais importante meio de propulso de progresso econmico de coletivos autogestionados,

    organizados para subsistncia da vida.

    7.1. Perspectiva Histrica e Social

    Ainda que pese historicamente, que os indcios do aparecimento das organizaes

    fundamentadas nos moldes cooperativistas, tenham surgido bem antes na sociedade, a

    Aliana Cooperativa Internacional (ACI), considera que o nascimento do cooperativismo

    moderno, deu-se na cidade de Rochadale, quando um grupo de 28 operrios da regio de

    Manchester em sua maioria teceles, se uniram para superar as dificuldades impostas pelaindustrializao e buscaram uma forma de organizao mais justa e democrtica.

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    Assim, em 1844, nasce a primeira cooperativa moderna, a Sociedade dos Probos

    de Rochdale, pertencente ao Ramo de Consumo. Da em diante o movimento

    cooperativista comeou a ganhar fora e espalhar-se pelo mundo.

    Naquela ocasio, ano de 1844, em meio Revoluo Industrial, onde as condies

    de trabalho degradantes castigavam o operariado, estes 28 (vinte e oito) teceles se

    organizaram e criaram uma cooperativa de consumo nos moldes que conhecemos hoje. Tal

    organizao seria regida por princpios prprios, balizadas por valores do ser humano e na

    democracia como soluo dos problemas.

    Em 1848, a cooperativa j contava com 140 membros e, passados 12 (doze) anos,atingiu 3.450 (trs mil quatrocentos e cinquenta) associados com um capital de 152 (cento

    e cinquenta e duas) mil libras.

    Atualmente14, o setor cooperativo rene mais de 1 (um) bilho de pessoas em

    mais de 100 (cem) pases, com mais de 100 milhes de empregos e presente nos cinco

    continentes. Em 2010, as 300 (trezentas) maiores cooperativas do mundo tiveram uma

    movimentao econmico-financeira de US$ 1,6 (um e seis dcimos) trilho, e entre elasest a Cooperativa de Produtores de cana-de-acar, acar e lcool do Estado de So

    Paulo (Coopersucar).

    Os cooperativistas so representadas mundialmente pela Aliana Cooperativa

    Internacional (ACI), uma instituio independente e no governamental, com sede em

    Genebra. A ACI foi fundada em Londres, em 1895, e seus integrantes so provenientes de

    organizaes cooperativas atuantes em diversos ramos da atividade econmica.

    7.2.Princpios e Valores

    Os princpios que inspiram e motivam o cooperativismo nortearam a forma de

    atuao dos pioneiros de Rochdale e, mesmo tendo sido revistos pela Aliana Cooperativa

    _____________

    14 Revista Jurdica Consulex Ano XVI- N' 375 - 1' de Setembro/2012

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    Internacional em trs ocasies: 1937, 1966 e em 1995 so, ainda hoje, os alicerces de todas

    as cooperativas do mundo:

    a) Adeso voluntria e livre: Instituies sem discriminaes, permitem a adeso eo ingresso de trabalhadores livremente, cumpridos pr-requisitos e regulamentos.b) Gesto democrtica e livre : Empoderamento coletivo e deciso democrtica,

    cada pessoa um voto.c) Participao econmica dos cooperados: Contribuio equitativa e retiradas

    proporcionais as operaes ou trabalhos realizados, fundos de benefcios coletivos.d) Autonomia e independncia: So instituies autogeridas, mantendo a autonomia

    de sua direo, inclusive com previso constitucional.e) Educao, formao e informao: As cooperativas promovem a educao e a

    formao de seus cooperados, funcionrios, de forma que estes possam contribuireficazmente para o desenvolvimento da cooperativa. Divulgam os princpios de

    cooperativismo, e informam a natureza e os benefcios da cooperao para opblico em geral, particularmente para os jovens e os lderes de opinio.

    f) Intercooperao : Pelo qual as cooperativas buscam trabalhar integradas asestruturas locais, s comunidades e a outras cooperativas.

    g) Interesse pela comunidade : a disposio de trabalhar para o desenvolvimento(entrou para o rol em setembro de 1995).

    Assim, o cooperativismo est fundamentado em sete princpios a partir dos quais se

    leva seus valores prtica para alm do prprio instituto jurdico e abarca aspectos sociais,

    culturais e humanos que representam ideias que motivaram a origem e formao do

    movimento.

    7.3.O Cooperativismo no Mundo

    O modelo cooperativo, dada a sua simplicidade e despretenso, evoluiu para

    tornar-se uma das melhores prticas de negcios de todos os tempos. O cooperativismo foi

    profundamente influenciado pelo ento movimento reformista do sculo XXI.

    Robert Owen, Franois Charles Fourier, Claude Saint- Simon, Louise Blanc e

    Ferdinand Lassalle, entre outros pensadores, humanistas, empresrios, cientistas sociais,

    etc., foram os pilares que defenderam fortemente uma sociedade de justia, atuando contra

    a desigualdade na distribuio de riqueza, fenmeno que durante a revoluo industrial

    empobreceu as populaes. Eles trabalharam firmemente convencidos de que a unio

    coletiva e a organizao comunitria seriam os elementos essenciais para realizao de

    justia social e democracia.

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    Aps a abertura da primeiro armazem de viveres da Sociedade Rochdale, que foi

    to bem aceito, que em 1860, a Sociedade j tinha se expandido para 3.450 membros,

    outras lojas foram abertas e a cooperativa se expandiu para outras reas de atuao

    (atacado e frigorficos).

    Inspirados em Rochdale, a experincia foi replicada na Inglaterra, na Esccia e em

    outras partes da Europa.

    Atualmente, pelo mundo, as cooperativas mobilizam cerca de 1 (um) bilho de

    pessoas em mais de 100 (cem) pases, respondendo pela gerao de 100 milhes de

    empregos diretos.

    Neste esteio, encontramos atualmente grandes corporaes no mundo

    cooperativo, sendo a mais expressiva, pelo seu porte econmico e ramo de atividades, a

    cooperativa espanhola Mondragon, a qual ser examinada em detalhes.

    A representatividade das cooperativas foi reconhecida pela Organizao das

    Naes Unidas, por meio da decretao de 2012, como o Ano Internacional dasCooperativas.

    Vivemos, portanto, um marco na histria do cooperativismo e um momento muito

    propcio para avanar no desenvolvimento deste instituto como elemento de transformao

    social.

    As prticas e princpios que se desenvolveram naquele perodo, tm sidorecorrentes at hoje, na forma de organizao das sociedades cooperativas por todo o

    mundo.

    Alm disso, o cooperativismo tornou-se um instrumento mundial, ao alcanse das

    populaes, para superao do desemprego ou falta de trabalho, tem representado uma

    opo mundial pela tranformao dos espaos sociais, eis que o instituto tem forte presena

    e atuao no mbito social, disponibilizando acesso a educao, bens e servios a preos

    justos, compras coletivizadas, empoderamento poltico, alm de superao da pobreza,

    melhoria da qualidade da habitao, sade, etc.

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    Porm um aspecto crnico das cooperativas, especialmente daquelas dedicadas a

    atividade produtiva que enfrentam grande dificuldades no mercado competitivo de

    produtos industrializados, eis que necessitam de maiores investimentos e habilidades

    gerenciais.

    7.4. O Cooperativismo no Brasil

    No Brasil, as primeiras prticas cooperativistas tiveram incio com as experincias

    de padres jesutas no sul do pas no incio do sculo XVII.

    Considera-se que atravs do Padre jesuta Theodor Amstad, que em 1902, noEstado do Rio Grande do Sul, como bom conhecedor da experincia alem de

    cooperativismo, estimulou a formao e a instalao destes institutos no sul do pas, onde

    as primeiras cooperativas de crdito e agrcolas foram estabelecidas.

    O modelo proposto pelo Padre Amstadt desenvolveu-se em pequenas

    comunidades rurais e baseava-se na honestidade de seus cooperados.

    Esses religiosos, auxiliados pela persuaso religiosa, movidos pelos princpios de

    caridade e de auxilio mtuo, que inclusive os ndios brasileiros j praticavam na forma de

    mutires, fundaram estas redues jesutas que eram comunidades solidrias

    fundamentadas no trabalho coletivo com objetivo de promover o bem-estar comum dos

    membros da comunidade.

    De outro lado, a cultura cooperativa chegou ao Brasil tambm na bagagem deimigrantes europeus que j tinham experincia em seus respectivos pases com a ideia do

    trabalho associativo e comunitrio entre as famlias. Os alemes e os Italianos foram de

    grande influncia na rea agrcola, o que os motivou a organizarem-se em cooperativas nas

    regies onde se instalaram.

    As cooperativas desenvolveram-se num modelo autnomo, voltado para suprir as

    necessidades dos prprios membros, evitando a dependncia de outros agentes produtores.

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    Para atuar em defesa do movimento cooperativista, foi criada em 1969 a

    Organizao das Cooperativas Brasileiras (OCB), entidade reconhecida como

    representante oficial do setor no pas. A OCB uma sociedade civil, sem fins lucrativos,

    com neutralidade poltica.

    Hoje, existem aproximadamente 6.586 (seis mil oitocentos e cinquenta)

    cooperativas brasileiras, rurais e urbanas, que renem 10 (dez) milhes de associados e

    geram 296 (duzentos e noventa e seis) mil empregos diretos, movimentando uma parcela

    significativa da economia brasileira.

    Segundo o Censo Agropecurio de 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatstica, Cerca de 50% (cinquenta por cento) da produo das principais culturas do

    Brasil, passam de alguma forma por uma cooperativa.

    Outro aspecto relevante que no Brasil, segundo o Banco Central do Brasil,

    existem em 45% (quarenta e cinco por cento) dos Municpios algum tipo de cooperativa de

    crdito e a cada dois uteis um novo posto de atendimento aberto.

    Isto representa um importante papel social eis que em geral as cooperativas atuam

    nos segmentos em que os Bancos costumam no ter nenhum tipo de presena, com

    atividades variando desde o microcrdito ao financiamento de pequenas reformas ou ainda

    crdito de risco para populao carente, que como visto, em geral no tem acesso a outras

    linhas de crdito alternativas. Assim mesmo, muitos que esto negativados em servios de

    proteo ao crdito, recorrem as cooperativas de crdito para realizar algum tipo de direito

    social, fazendo das cooperativas de crdito, um importante meio para incluso econmica esocial. Pode-se dizer o mesmo dos demais onze atividades econmicas, nas quais as

    cooperativas tem atuado.

    O cooperativismo brasileiro abrange 13 (treze) reas econmicas: agropecurio,

    consumo, crdito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produo,

    sade, trabalho, transporte, turismo e goza de reconhecimento no cenrio

    socioeconmico do pas.

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    Em 2010 existiam mais de 6.652 (seis mil seiscentas e duas) cooperativas,

    congregando mais de 9 (nove) milhes de cooperados e empregando por volta de 290

    (duzentos e noventa) mil trabalhadores. Ou seja, trata-se de um sistema econmico e social

    de relevncia indiscutvel e que merece especial ateno.

    7.5.Disciplina Jurdica e Legal das Cooperativas

    Estudar-se- adiante, as principais caractersticas apontadas na legislao que

    compe a disciplina jurdica das cooperativas, ressaltando-se os aspectos relevantes para

    construo de propostas emancipatrias que seguidamente sero apresentadas.

    As cooperativas so sociedades de pessoas de natureza civil, possuem uma forma

    jurdica prpria, e foram previstas em geral para prestar servios aos associados ou para

    produo de bens.

    No comeo da dcada de 1970, surgiu a Organizao das Cooperativas

    Brasileiras, apoiada pelo Ministrio da Agricultura que visava fomentar a produo

    agropecuria. Aps um ano veio a Lei 5.764/71, que definiu a Poltica Nacional deCooperativismo e instituiu o regime jurdico das cooperativas.

    Somente em 1988, com o fim da ditadura e a promulgao da atual Constituio

    Federal, que o cooperativismo ficou livre do controle estatal e passou a ter autonomia para

    autogesto.

    A nova Constituio Federal de 1988, estabeleceu em seu artigo 5, inciso XVIII,

    que; a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de

    autorizao, sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento;

    Assim, encontramos disposies sobre as cooperativas em trs oportunidades na

    Constituio Federal:

    a) Ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, no Art. 5, inciso XVIII , estabeleceu

    que o Estado no pode interferir no seu funcionamento das cooperativas sendo vedada

    e interferncia e no dependem de autorizao prvia estatal para seu funcionamento;

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    b) Ao tratar dos princpios gerais da atividade econmica, estabelece que a lei apoiar e

    estimular o cooperativismo e outras formas de associativismo (CF, art. 174, 2.o);

    c) Quando tratou da poltica agrcola, estabelecendo considerao especial ao

    cooperativismo (CF, art. 187, VI).

    Destarte, as sociedades cooperativas receberam um tratamento diferenciado,

    ganhando status constitucional ao serem positivadas nos artigos 146, III, c, 174, 2 e

    187, VI) que dispem, in verbi, da Constituio Federal:

    Art. 146 Cabe lei complementar:

    [...]IIIestabelecer normas gerais em matria de legislao tributria,especialmente sobre:[...]c) adequado tratamento tributrio aos atos cooperativospraticados

    pelas sociedades cooperativas.(g.n.)[...]Art. 174 Como agente e regulador da atividade econmica, o

    Estado exercer, na forma da lei, as funes de fiscalizao,incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor

    pblico e indicativo para o setor privado.

    [...]2 A lei apoiar e estimular o cooperativismoe outras formasde associativismo.(g.n.)[...]Art. 187. A poltica agrcola ser planejada e executada na forma

    da lei, com a participao efetiva do setor de produo, envolvendoprodutores e trabalhadores rurais, bem como dos setores decomercializao, de armazenamento e de transportes, levando emconta, especialmente:[...]VI - o cooperativismo;(g.n.)

    7.5.1. Aspectos Relevantes da Regulao Infraconstitucional

    Conforme o Cdigo Civil, as cooperativas so sociedades simples,

    independentemente do objeto social (CC, art. 982, pargrafo nico), cujos scios se

    obrigam a contribuir com bens ou servios para o exerccio de uma atividade econmica,

    de proveito comum e sem fins lucrativos.

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    Destarte, o objeto social no est circunscrito atividade cientfica, artstica ou

    literria ou a atividade rural de pequeno porte, impostas s demais sociedades simples.

    No esto submetidas falncia, e no caso de insolvncia, estaro submetidas a

    concurso de credores e processo de execuo coletiva (CPC, art. 748 e seguintes)

    O mesmo parece dar-se quanto ao de recuperao judicial, eis que ficou

    implcito na Lei 11.101/2005, Lei de Recuperao e Falncias (LRE), que as cooperativas

    no podem impetrar pedido de recuperao judicial.

    Por isso, sendo um instituto que apesar da no estar sujeito a falncia, masinsolvncia, que ao final tambm resultar nas mesmas consequncias e a perca de postos

    de trabalho e de produo, tramita no Congresso Nacional, um projeto de lei que pretende

    dar nova redao ao art. 1, da LRE, in verbis:

    Art.1. Esta lei disciplina a recuperao judicial, a falncia e arecuperao extrajudicial do empresrio, da sociedade cooperativae da sociedade empresria, doravante referidos simplesmente comodevedor.

    As sociedades cooperativas foram objeto de regulao recente por meio da Lei

    12.690/12, e que trouxe um novo marco regulatrio, introduzindo algumas modificaes

    aplicveis s cooperativas de trabalho, o que as tornou mais flexveis e menos burocrticas.

    Assim, no plano infraconstitucional as sociedades cooperativas so disciplinadas

    principalmente pela Lei 12.690/12, subsidiariamente e no que couber; pela Lei 5.764/71,

    pelo Cdigo Civil, nos artigos 1.093 a 1.096, sendo que; no que a lei for omissa, aplicam-se as disposies referentes sociedade simples, resguardadas as caractersticas

    estabelecidas no art. 1.094 do CC.

    Apesar destes diplomas disciplinarem praticamente o instituto, ainda restam

    alguns aspectos do regime jurdico das cooperativas que esto traados em legislao

    subsidiria.

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    A Lei 12.690 de 2012, veio reforar a poltica governamental que visa reduzir o

    uso fraudulento das cooperativas e estimular a abertura de novas vagas e oportunidades de

    trabalho e renda.

    Quanto a Lei 5.764/71, o primeiro aspecto que se ressalta a dvida sobre a

    natureza jurdica da lei. Nos mbitos acadmi