TEATRO DE GI L VICENTE I de... · 2012-10-19 · Era. cla r amente onde s e inseria e para i sso...

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"', 9' > TEATRO DE GI L VICENTE UM FILME DE RUI SIMÕES LUTA DE CLASSES PORTUGAL 1910 / 1974 Ediça.o Centro de Estudos Cinematográ-ficos I

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TEATRO DE GI L VICENTE

UM FILME DE RUI SIMÕES LUTA DE CLASSES

PORTUGAL 1910/1974

Ediça.o Centro de Estudos Cinematográ-ficos

I

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I\DVE RT Ef,I C I_~~

Sobpe este fi Zme poZimico de Rui Sim5es 3 o Centro

de Estudos Cinematogr~ficos3 n~o exp5e a sua posiç~o

nes te caderno:1 dado que os nossos colaboradores (telO pu­

de r am deslocar-se a Lisboa ao Cinema Universa l para o

vere r:; .

Em face d isto optamos po r transcrever mat~ria d e

t ex tos com as mais . d . - , ~ ar~a as pos~çoes s oore

o CEN'lP.O DE ESTüDOS CI NE:1il,TOGRAFICOS

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F I C H A T É 01 I C A

Real ização

I magens

Som Di rec t o

r\n i mé3ção

Sonoplas ti a

110n tagem

Comentãr io

16 mm

1

-nEUS PATRIA AUTORIDADE

Preto e Branco

"-' Rui S i mões

-/\ cácio de Almeida, Ge rôrd Collet, José ReX

nes e F.He~riques.

-Luis Mart ins e Ru i Sim5es

- Gene vi~ve Antoine e M~rio Jorge

-Ru i Simões

- Do mi n i que Ro IIi n

- Ru i Paulo da Cruz

Materia l de Arquivo-R~d io Tejevis~o Por tu guesa, Emissora Na cio nal

Labor a tório Som - Nac ion o l Fi i:nes

L.aboratório Imagem -ll isseia Fi 1mes

Produç80 - I nst ituto Português de Cinema com ô p<-lrticip~

ç~u da Rad io Televis~o Portugue s a .

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~, " 5" , - . , 'J • S ' -o •• De s c e o L de ADrl~ que ~Ul lmoes filma nas fábri

CdS e no c a mpo , is so levou- o a mudar o tema do seu filme .

nA minha ideia inicial era de mostrar as Zutas de s enca-

-:J n "id- c' ..., ~ C' ') 5 d-,- i1 ~- ' : 7 r, t ~ 0- -F ' .., C<f:'G.. ao aeo", o "-' f:' r1fJrv~. úuran e o meses-,n s ,; 1--!::..

mamo s s em par a r as manifestaç5es de rua 3 as greves

n a s fá bY'icas -' as ocupaç5es de terras.j a organiza-

ção dos trabaUzadures. A jV.naZ-idade do meu trabalho

era a de demonstrar cm.ematoaráficamente que ~. . exis~

tia uma luta de cZasses. Não tenho motivação indi ­

vidua l - a realida de actual i de taZ maneira rica

q u e eZa ultrapassa a minha imaginação - não quero

â -izel' com isso que me limito a fotografar " tomo p~ . -

s ~ çao . O filme fez-se pouco a pouco no contacto oom

a reaLidade . Não podia limitar-me a mostrar a rea -

Z ida~e. Q n iveZ de consciincia pol{tica i muito bd - ~. x a aD e sa~ das aparenc~as.

Vr a preciso ir mais lon g e 3 esclarecer a situa­

Çao~ a cu ltura portuguesa i oral~ i portanto nece~

s ~rio t rabaZ h ar so b re o discurso . Tento fa3er um

t r aÓ Q U zo [3'l.rr:p les uti lizando um cOI1:en tái' 1:0 que vai

n o me s mo s entido que a linguagem habitual. Mas tra

ta - se d e o demonstrar ao mesmo tempo p01--S ele es­

conde t o da uma ideologia antiga r •

-O filme de Rui Sim5es "DEUS PAT RIA AUTORIDADE" tenta a par

tir da r ealidade vivida e filma da des montar o discurso fas-

cista , Salazarista, explicar"l ~

o que e o socialis

mo num de t ermina do momento hist6rico .

Um filme importante que ele tem di f icu ldades em fazer

s a ir devido ao confli to nas "supe r - estruturas!! .

CATHERI NE HUHBLOT

LE MO NDE - 2 . 10 .1975.

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3

Nes te momento o clnem2 e para ~lm um meio privi legi~

do de i nformação e de ar,áli s e .. - ., ...... l c.1 G OJ..Ogl Cét o

Foi pela t e levis ão qu.e em Brl,xeléls ;: '0 (.:; i a 2 6 d e Abril

de 1974 que .. , r- • ,

comecel eSTe I l~me. FO::"CiU que me

f i zeram rer,ressar d.O ~ "l" ~ 4 pals que oe 1x el ha ae z a;10 S o

Es s as imagens reflectiam u.ma realidade, a queda do -. V . f as C1smo . a1 se r e s se o tema d o meu trab a lho . No entanto so

me apercebo d i s so alguns me s e s mais t arde .

De i nIcio a euf ori a daqueles meses d e Pri mav e r a e Ve-

r~o n~o ~e deixava m ver nitidamente a reali~ade.

A nossa i n tens ão, a minha e da equipe era a de a compa .. . d nhar o que se pas sava, e dal haVla ,e nascer qua ülUf3 r COlsa .

Filmamos durante meses !> nas fâb ricas nos campos, nas r ua s nos

centros do pode r . Dar r esultaram 30 horas de documentos.

Foi justa mente o facto de fil~ar q uoti d i a namente devi

ve r o dia a 'di a no contacto d irecto com a popu l ação , que me

l e vou a reconsiderar a finalidade do meu trabal ho . - . T _. ., uma COlsa era c~ara . Era necessarlO u m c e rto r ec uo.

Também e r a e vi dente nas fábricas e nos campos, q ue as

eram c onfusas e que e ra nece ss á r io clarifi c á- las .

coisas

Rec uo e clareza, duas dominant es q ue guiaram este tra

Era. cla r a mente ond e

s e inseria e para i ss o era - . necessarlO ~

r ever

a hist6ria, ffios !ra- l a de forma a que fic a s s e bem cl a ro que

desde 1 910 , h a via uma classe aue explorava e o utra que e r a ex

pIorada. Se ndo o 25 d e Abril mais uma et a pe dessa exp loração .

Pcrt anto tinha que se mostrar o funcionamento do sis

t ema de exploração : o capitalismo . ." d · 1 - ,. .' , uesta l a~e CTlca surge lne vltave ~mente a essência de

c a da explorado a sua luta de classe .

/

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DEUS PATR IA AUTORIDADE

"Não se discute Deus e a sua virtude iI .

"Não se discu te a Pát ria e a Nação fr .

IINã o se di scut e a Autoridade e o seu Dy'est-íaio ii . L v

f a parti r de ste discurso, f e ito po r Salazar em 19 36,

qu.e o filme ope l'"'a a decons·trução dos três dogmas fundamentais

do período fasc i sta.

Com efei to o r egime Salazarista p5de subsistir duran t e

t a nto t empo ;raças ao seu apoio na i g l'"'eja cuja função pr1nC1-

paI era o mant e r do obscurant is mo em que se e ncontra'la o p~

vo, e na grandeza da P~t ri a leva da at~ um ponto mito16gico, am

bas ajudadas pe la força da autoridade.

DEUS: A igreja era suporte d um e stado social atraz ado

e i mobi lista . A sua verdadeira função c on s istia em manter a a­

lienação de povo por~cuguê s e i sso graç 2.s a uma doutrina que ten

tava por t odos os meios afas t a r a , -,..J at:enç ao ~os pobres e dos ex-

pIorados da rea l n a turez a dos seus pr oblemas.

Institui ção ~á de s i profundament e irracional e desac

tualiz ada, i gnorando siste~~ticamente as p r eo cupaçoe s de just!

ça social a que a i greja moderna, já não era e stranha, de s de V!::,

ticano II, a i gre ja portugues a continuava a apre goar invaria--ve lme nte o conformismo de cada um a sua sorte, predestinada e

independente da vontade dos homens .

A Gn ica acç ã o destes s eri a o aperfeiçoamento

r10 para segu1r o caminho traçado po r Deus .

-

.. n ecess a.-

Sabendo que a burguesia portug ue sa e uma classe e cono-

l:

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ffilCd e cultul'almente incapa z a ponto de ter instalado um cap~.

t al ismo de mentaliüade l'C:';l(J<,it'Cl e bél.~~'>' ;:'~ 1[U~:;,él ideo l ogia SOC1

a l medieval, compreende-se bem qUe ~ s1.L:2,re ja só podia se r o .-que e, o reflexo , no plano re l igioso , da i~capacidade da bur -

gues 1a portuguesa a adaptar- se ao capitalismo moderno basea

do na sub i da c o n s t ante dos salâri os e na gene ra l ização do c o n

s umo .

-PATRIA: Dogma ou antes um mito que serV1U para justi

ficar o c o l onialismo portugu~s em relação aos povos africano&

Ê óbv i o que atr-âs des t e mi to, e consequentemente no r'e gime de

Salazar e Caetano, foram , mais uma vez, os interesses da bur­

gues ia que es ti ve r am em jo go .

s6 sabendo manter-se ,-a custa de salários . - . nllSSraVí.':.lS

que pagava ao p r ole t ar i ado portugu~s, t orno u- se- l he -necessa-

rl a a explor ação selvagem dos povos africanos . Extorquia- l hes

as ma~cêrias primas 5 impondo--lhes condi ções de trabalho raa is d~

ras que as que conhec i a o povo português . Para manter a t odo

o custo, o s e u regime de exploração~ a class e dirigente -nao

:besi tou em manter ~ contra as c Ol Sn i as , uma gUr.::.l"'t'r:J des es pel"'ada

ob r igando assim a juventude portuguesa a ent r a r numa l uta cu - '

j os objectivo e ideal patriotico lh e escapava.

AUTORIDADE : Paternalista e altamente repre ss lva, ln~

pondo dequaJ.q uer maneira a or'dem que c onvinha à burguesia, a

a utori dade assentava em dois pilar es fundamentais : a GN R e nc a r

regada de manter a ordem pGblica e a PIDE, po licia politica

que controlava minuc i osamente t odos o s portugueses, dispondo

de um poder descriminatório c omparável ao da Gestapo . Nã o exi

tava em servir- se de meio s v i o l entos para obter as informa­

ções de que necess itava. A sua principal funç~o era de pcrse

guiç~o de todos os q ue fossem contra o regime politico e m V1

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~

gor o o caso do Genera l Delgado e bem conhecido . Prime iro can-

Delgado acabo u por s e r assasslnado pela PI~E e m Espan~a , pe r -

t o da fr'onteira pcrtuguesa . Outro s Inenos COI1h(;cic.los tiveram o r·

me[')]~lO r ::!..IT1 .

Contudo o filr:1e -nao se limita a deconstruç~o dos três

dogmas funddJ"'":lentais da ideologia fascista. Ele é uma l ição de

~ist6ria que começa com a queda da monarqula e ter~ina com o

25 de Abril de 1974 , analisando o s principais aconteciment os

~ luz duma t eoria marxista da luta de c l asses.

C r· , " - - d .c . , om. e~el to;~ a .lll-tê. ce C-LCsses e a base 10 .i.l...Lme, a e~

trutura de fundo onde se desenrola todo o processo de an~lise

e compreensão (1.0 passado e do presente em Po r tuga l , 5 e 1'.:1 cont~

do calr num i ntel e ctualismo brilhante e incompreendido De la

classe cuj o o des~i_T10 hoj e ê a tC1rn2da ao poder, 011 seja a elas

Trata-se de um filme simples , po r

ser5 a consciencializa-

l o regime capitalista-colonial e fascista.

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~ ~~T~!ft ~~S OUTROS

José Vaz Pereira

, 7

Em relação ao filme de Rui Simões ~ flDeus pát:ri.::t !\Ut~

ridade ll é preciso t omar a s devidas distâncj as embora louvan-'

doa energia, o vigor e a coerência i deo l ógica da tarefa - a

única sobre o 25 d e Ab ril, depois de dezenas e dezenas de pr~

jectos proclamados mas não realizados - que lida com proble­

mas e conflitos de mais de meio século da nosaa história con

temporâne a .

Usandú a luta de classes como análise e como instrum

mento de trabalho a reportage m directa, as e ntrevistas e o m~

terial de a r q u ivo, a pelfculo que dura quase duas horas fil ­

madas em 16 mm, formula repetidas perguntas a que se val en

c arregando de dar respostas.

Qual a ligação e as a nalogi as entre o 5 de Outubro a

o movimento dos capit~es? A clas s e operária contribuiu para

a queda da I Re publica ? Qual a i mportância do discurso de

Salazar em Braga em 1936 ? O que é mais-va lia ? Co mo actua

va a Pide-DGS ? Porque é que os povos das colónias tiveram de

pega r em armas ?

Salazar, no referido discurso num quadro bem carac

terIstico das ditaduras de direita dos anos 30 anunciara que

a triologia cons e rvadora "DEUS PAT~IA AUTORIDADE f! não estava

e m discussão nem poderia ser contestada pe las "loucuras do sé

culo;! . Como referia o ditador, f a l seando na sua inconfundI -

vel voz,sob um retrato gigantesco do marechal Gomes das Cos­

ta que, há dez anos part indo da mesma cidade~ iniciara a "re

vo lução n ac ional ll contra as políticas de Lis boa e as sua3 di

taduras minoritárias.

O filme vai então explicar esses três Elltos "autori­

dade"ja par-tir do abso lutismo do poder fascista, da po lítica

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~.. .. -., ~ . • ~ . " 1'.F.\) ~ H pO Lltlca e de urna repres a20 organlzaca c om erlclencla, ~ __

ligando a exploração e a manipulação relig i osa ao atraso soci -aI, - . economlCO e cultural das massas portugue s as e !! Pl-.TRIA Il a

uma mitologia preEada pela burguesia no pode r , detentora das

grandes riquez a s e dos grandes potentados~ a que o salazarismo

Vl e ra injectar , em p l ena era dos paíse~ independent es e dos a-

vloes a jacto , o es pIrita de cruzada es t ilo -"Angola e ncssa l1

Ma s esses tr~s mitos e esses tr~s poderes, e em Luturo

fi lmes haveria que ir mais al~m, não poderao talve z e xplicar -?orque razao Salazar r e inou durante tanto tempo e dur ante tan-

tos anos f oi s e nhor absoluto do nosso destino, transformando o

i P.'i.ob ilisr:lo em regra d e vida ~ sereno e impe rturbáve l, enquanto

a sua volta , no mundo int e iro, as coligaç6e s governamentais e~

travam n a vals a dos minist~rios e os demagogos aoareClam e de-

saDareciam às de z e ncs .

Fo i prec ~s o uma revolução para os portugueses, at6ni­

tos e chocac.o s c.~esco;:· ri:r'em q ue , se não h a vict Salazar continua­

vam os salaza~es. E os salazares, os que não queriam ondas , os

que tinGam Eledo , os que o lhavam a sua vida pessoal, os que ~

chava]'!'. que n20 va liQ a pena, os que n ão queriam ver a:::ectado

o seu dia a di a sem problemas, os que consideravam os opos i c!

an i stas como a nimais bizarros importados dout r os planetas,foE

mavam a in~rcia poderosa, a massa afinal manobrável em que se

apoiava o fascis mo para qU2m as grandes manifestações !Ipatri§.

t i cas" tinham o val o r do antiplebisci to, O tempo se encarre-

garia de demonstrar que o fascismo n~o e ra

sim,

- . o un lCO a pensar ~

~a i s do que os seus palhaços e os seus a r lequi ns , as

suas damas decotadas e os seus generais reumáticos} o poder q u e

nos governou at~ 25 de Abri l tinha a Pide - DGS e a GNR a man ­

t~-los no poleiro mas n~o se fi oava por ar. Tinha evidentemen

t~, uma base sooial de apolo e talvez um diQ c i entifi camen t e,

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9

nos SEJa explicado o peso de certos ." .

ruralS e agrarlos

numa estranha aliança c om a el ite finarL'2 :Lr>a ( aliança que com~

ça a enfraquece r nos anos ( 60 ) na sustE~taç~o do l ongo e auto­

ri t2:d.ú r eglme.

Salazar manobrou t odas essas forç as com hC1bi l idade e

pertinácia procurando s enpre apresentar os opos icionistas (tias

oposições" c omo ele classificava, mestre do divisionismo) como c

meninos irresponsáve is e turbul e ntos numa casa b'2m arrumada o

Procurou-se apagar a luta social com m~todos brutais , com a

proibição da grEve e a repl"essão mas também per amo lecimento e

pela defesa da tese de harmonia entre as classes . Não cantava

a heroína de uma comédia desse t empo, passada h~ semanas na TV

que !fquase sei:lpre o lar dos pobres tem me.is alegria fl ?

E, por outro lado, Portugal agarrava-se de sesperadamen

te ao Gltimo império do século XX quando o colonialismo já f o-

ra enterrado por toda a parte .

Tudo isto pedia, exigia uma mudança de direcção que o

País esperara desde Fevereiro de 1974 quando as contradições

P 1\ t ' h ' d d QUc=>n,d,o ela \lel' oo a 2~ de com as r . r ,. se ·ln am -.:orna o agu as. CL _. ~_ , v

Abril, a esperada Junta Militar leu a . -sua c omun1caçao na madru

gada de 26, No 1 de Maio do mesmo ano pairou no ar urna atmos­

fera de grande festa da Esquerda corno nunca se tinha visto e,

provavelmente , , -nunca ffial S s e tornara a ver.

E, a partir daí, as forças progressistas COmeça\lam a

dividir-se e a desenhar-se uma corrente que pOderia ,um dia,dis

cutir os arranjos partid~rios que se segu1rl am a queda de um

sistema ternado obsoleto.

Com a fos s e do I Governo Provis5rio ultrapassa-se mais

uma fase, mas novas e violentas lutas . - . 1rao surg1r. Para os au-

tores do filme e talvez para Portugal inteiro , o futuro conti­

nua por decidir.

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Cl m:MA

RtH S tiN@E5 : o real iz ador que ent r ev i sto u

S IL VA PAI S ro r acaso

Uma entrevis ta in~dita com o antigo director da Pide !

DG S Silva Pais, f az parte do materia~ inte grado no filme port u

guês nDeus Pát:r>ia imtorida.de n, em exibição num pequeno

de Lisboa .

clnema

F~ui SiMõ e s :J o r ea liz2.C10 r conta ~" nos cemo consegulu essa

e ntrevista: "!, seguir a 28 ce Sc t e lnb r o , e u p ,::;di a uto rização p~

ra falar com ~Da s&ri e d e p resos . Bat i ~ porta de diversas ce­

las e a cert a al~ura9 cheguei a de Si lva Pais . O sr . que r en-

trevistar-m2 ? ~as você sabe G~em e u sou ? Eu d iss e que -nao ,

que n~o sab i a ~as q ue tanto me lhor . E n as ceu, e nt~o, essa e n-

trevis ta;! .

No fil me ae Rui Sim5es , Silva Pais, -dec lara nao t e r co

nhe cimento d a s t orturas que c3. F ide f a zia ( e tal afir~nação so­

fre, depo is, a contraposiç~o d e de po iment os de e x- pres os polr-

t ico s ) e elogia a ~; e ficácia ~ y àa. n '""' o YlT")or=>c '':::,.., 11 \...-..L..i" L.:' -.sct '...J o

Este um dos principai s document os de um filme -e - . pr()l;r l o urr. impo rtante documento do s nossos d i a s (ler a rti-

go dc:; José '.Jaz Perei r'a n A Pátria do s Outros li, ( artip:o tra ns --

I":2. 8 quem é ? 'J i Si mões, o realizador que ousou l evar aos

!!écrans n , a e m do po vo, o r.§.

trato cri tico da vid a portugue sa ? (num ..,

palS e m que os real i -

zadores, d urante tantos anos se des culpava m c om as barreira s

que o f a sci smo estend i a , cont i n uam, r e gra geral, i nintervenien

tos , inactivos - e mb o r a ~~o mudos) .

Ru i Sim6e s t e m 31 anos e vi ve u dur2nte 10 anos em fran

ça, e na B~lgic 2, on~e f o i f o t ógrafo de c e na, repór~er f oto ­

grâfi co e f ez a l guns filme s corno fotógrafo ( por e x., L ' Hi sto i ­

r e de l'oe i i " ; na B~lgica , ti rou um curso de real i zaç~o cinema

togrâfica e d e tele vis~o no Institut d ' Art et Difusion .

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Na Bélgica 5 Rui Simões as!=; l s t-iu 31l ? S dR [',1J rll pela t e

levis20 e logo decidiu vir para Pori~ug ;3 ::". nQ 'Jeria estar c om uma.

c~mara e um gravador onde es tavam os 2cGn~ e cimentosl~ afirma .

Foi mal suced i do, de in=: cio , n Oi-; c ontactos com a RTP ,o

IPC e a Direcç~o Ge r al dos Espect~culos. Voltou ~ Bélgica , de

onde regressou com uma équipe e encontrou em Acâcio de Almeida

um produtor . Filmou manifestações, comícios, todas 2S manifes ­

tações populares importantes de car~cter polít ico . Em certa al'·

tur a , foi obrigado a parar. El e, como as pessoas em seu r edor,

n~o tinha a consci~ncia exacta do significado do turbilh~o do

que se estava a oassar . Entretanto, nos se u s contactos , aperc~

bera- se de que o pGb lico n ecessit a va sobretudo de um filme o n ­

d e se explicassem as c o is as e em termos muito simple s: o co l~

nial ismo, o capit21isrr.o, Cl his t ôria soc i al do capitalismo no

nosso país desde 1 9 1 0 . Uma obra que contrastasse com o obscu­

rantismo que contlnuav2 a caracterizClr muitas das iniciat i vas,

em termos de r~dio, de televisão, etc ..

c eu o car~cter did~ct ico que acabou por

-Desta preocupaçao nas -

caracte rizcro filme .

A montagem dos documentos ( que t o t a li zavam 30 horas) de

morou meio ano. Entretanto a RTP, o IPC e até a Direcção Gera l

de Espect~cul os, através de um subsídio relat i vamente pequeno, - . resolveram auxiliar Rui Simões e a sua equlpe .

Um Fi l me a Pa ssar na RTO , ;

Parte do material de arqui vo f oi pesquisado na RTP . MeE

c~ da colabor2.ç20 prestada , tem hoje a RTP o direito de apre­

sentar !!Deus P~tri2 i\utol~idade t1 . . E o dever uma vez que o traba

lho d e funcion~rios da Te l e visão oficial foi a li i nvestido . Mas

sob r etudo, a obrigação . O filme de Rui Simões é um importante

libelo contra o fascismo e as suas . ~ .

reVlvescenClas . F" f · ç . ~.le , .Ol -,- e~

to nao para o público que ãiári amente ocorre ~ peque na sala do

UNIVERSAL , na Rua da Dene fic~ncia, porque esse p Gbli co j~ sabe

o que ê a mais -val i a , o colonia lismo, a luta de classes .. . ( em­

bora t enha muito a ganhar até pe l a forma ben humorada como o

fi lme é apresentado ) . Porém . " Deus Pátri2" Autoridade 11 - . e l mpor -

tante sobre tudo para eliminar entre as grandes camadas Cia pop~

Page 16: TEATRO DE GI L VICENTE I de... · 2012-10-19 · Era. cla r amente onde s e inseria e para i sso era necessarlO -. r ever ~ a hist6ria, ffios !ra-l a de forma a que ficas s e bem

laçãe os germens do saudosismo do Salazaris mo e Marcelismo.

!!Grupo s políticos~ ass o ciações culturais e sindicais

mo straram- se j~ interessadas em c omprar c 6p ias do filme, pa­

ra o e xibirem em diversos núc leos espalhado s prr esse país.

Por outro l ado~ n6s pr6prios estabelecemos compromiss os,qua~

do fazíamo s filma ge ns, e teremos de apre sentar o filme e.m mUl

t os l oca i s '."; e xplica-nos Rui Simões.

Enquanto em v~rio s pa!ses da Europa j~ há vário s c o n

t r a to s firmados p a ra a exibição de DEUS PATRIA AUTO RI DADE ,em

Portuga l não há qualque r manifestação de interess e para ~ida

des como o Port o , por part e dos circuito s comerciais.

são de esperar, no entanto mais de pedidos de nucle­

os interess a.dos n a e xibição d o filme, ao Instituto Português

de Cinema. Assim s e salvará uma obra fe ita para o povo de ve r

a sua apre s ent aç~o reduzida a alguns mi lhare s de pessoas c om

pretens õe s intelectuais (cer·ca de trê s mil bilhe t e s foram ven

didos a té a gora) ,

A Segui r :

" Bo m Povo Portu 9 uês !!

Rui Paul o da Cruz (coment~ri~, Luis Martins (som di­

rect o ) e Manue l a Serra, vão co laborar com Rui Simões na r ea

li zação de u~ s e gundo filme q ue, embora c om um nome diferen

t e será a c o n-tinu2c:;ã c de !! Deus Pátria Auto ridade '.'

Não há ainda gUlao , mas há já bas tantes notas . Procu

r ar-se-á explicar, em tepmo s também didác·ticos, o desenvolvi

mento da luta de classes em Poptugal . Entrevi stas (s ó c om

som) feitas com Artur Agos tinho e Kau lza de Arriaga, além ~

declarações filmad as do ex-inspector Pe r e ira de Carvalho, ln

cluir-se-ão no se['undo filme-documento de Rui Simões on de o

28 de Setemb r o o 11 de l'1ar r:;o e o 25 de Novemb r o não deixarão

::

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de ser retratados.

no filme chamAr'-se-á Bom Povo ?ortuguês, uma Alusão - ~ - ~ -nao so as palavras d e Splnola, J:1.as tar-:-:bs ;Tl ao espi trio paterna

lista com q ue a maior parte dos portugueses conti--

nuam a tratar o povo " - d iz--nos F.ui Simões,

j\ l'luz verde '! para o início da rrontagem está dependente da

inclus~o do filme no programa do IPC . Conta Rui Simões que a

RTP continue a dispensar a lgum materü~.l de arquivo útil de que

dispõe ~ que seria crimino so negar a uma obra des tas caracter:Ls

ticas .

ln 11 0 Jornal " - 5-,12 de t"Iarço 7 6

DEUS PATRIA .i',.UTORIDADE, de Rui Simões pode e deve ser

considerado o primeiro trabalho de serle como tentativa para

abrir os o lhos do povo sobre o que teri a sido o longo e tene

b rasa :!.nv erno sal azarista em Portuga l. É mui to raro um mOVl ~'

menta fasci sta o nazista n~o agarrar com unhas e dentes o b i ­

n6mio Deus-Pátria . E a massa com que eles costumam fazer o seu

p~o-de-cada-dia. ~ claro que as duas palavras separadas -nao

chegam a criar nenhum peri go, nem para os a t eus nem p a ra os ~l

ternacionalistas . Mas a ssim casadas, unidas, en leadas, CUSpl-

das de um jacto s5, assim elas têm servido de bandeira papa

muita ditadura neste Dundo cheio de p~trias e superlotado

Ce uses. Pois <"".gora ate que n~o há um n o vo ~ lá na América do

Sul, do outro lado da Cordilheira dos An des e q ue atende pelo

nome tt ( de sculper:l ) de Pinoche t ? cla1'o, os Pondes não separam ~

d a e tao p o u co unem j h2 ditaduras deDois e ant es c.a Cordi lhei

rc:. ge l ada .

Rui Si m.ões está com a palavra e -n o s -estamos a espera

da men s.3.gem.

ln IIChaimite " 5 de Harço 76

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liDEUS Pi~T:RI?, AUTORIDADE tl ,de Rui Simões é um fil rr:e em

1 5 mm, que procura fazer a a nálise da h istória cor.temporanea

a -t raves de um prisma de lut a de clas s es . O ma~e rial de a rqui

vo e fil:nado, cuidadosamente se l e ccionado vai direi~o da pro­

clamaçao da R~pGblica até á posse d o I Go ve rno Provisório a­

pC:-;s o 2 5 de Abril. DEUS P}\TR!::A AUTO RIDAD E eram para Salaz a r

as COlsas que n~o s e discutiam. Apoiando-se no poder da bur-

8ues i a , ca c ensura 5 Igre ja, :10 e xer----

cito e numa máqui :1a de propaga:1da t o talit á ria, o d itador b a se

ou-s e no s tr~s dogmas para manipula r e cri a r urna base de sus

t ent aç~o a o seu longo r eg i me de 48 anos. Para os aut ores do

filme, o 2S de Ab r il mais que um levantame nto nacional ,é uma

TIll"I--"-nça n e i-:;',..,+ic- na J ._L~ct .l. r .... , ..... 1.. ... ........ L _ C! btll"g ue sia , duramente atingida pe la cr'll "'~

se ca.s co l óni2.s o nde os ~ovimentos de libertaç~o punham em

causa o utro l~~go s istema de dom{nio s obre outros po vos .

Com o 25 de Abri l como já sucede r a na infe liz Repúbli

ca democrátic a e liberal de 1910 ,-26 (co rtada frequentemente

por aventuras mi~itares de aprendi z es e profissionais da di t a

dura), t u do vem ao de cima . Portugal era ( ~ostram-no t odos

os indi cadore s de prosperidade ) o pa r a mai s atrasado da Euro

Da onde o ainda 4ue em d es e n -

volvimento~ n unca se chegar a a r ealizar.

de 1974 sao as mar-

chas na rua, as gre ves,as ban de i ras, a aut o - intoxicaç~o com

a lib e rdade . ~as> ao mesmo t empo que os partidos p o l I ticos se

organizam as estabe l e cem e a burgue si

a 2vanç a c om pe.dI')aS de Stll)s -'c i tuiç ã o , LLIl D.o\,7ime:nt o espontarlea--­

n ista dos oper~rios ~ dos campones es,de g ent e ligada aos servi

ços v a i s urg indo, va l aparece n do 2 contestar, a reivindicar)

prccu~ando - i sso ~ a novidade - funcionar s em esquemas exte

ricres numa perspe ctiva de lutas de clas ses . Pa ra os estrange!

r os era o maior espectáculo do mundo 5 para os que se batiam um

dia 2. dia a c erlO u istar.

l!A minha i de ia . . . , lnlCla..L -- explica Rui Simões ao Diário

franc~s Le Mo nde- e ra de mostrar as lutas de sencadeadas ~

apo s

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o 25 de Abril . Durante 6 meses fi l mámos spm p':ll~ar as manifesta

ções de rua, as greves nas fábricas, as ()0 'l paçÕe s de terras~ a

or ganização dos trabalhadores . A fin al:i8êde do meu trabalho era

a de demonstrar cinematog r áfi camelyte flue:: e xisti a uma luta de

classes. Não t e nho motivação individual - a realidade actual é de tal maneira rica que e la ultrapassa a minha imag inação -~ão

quero dizer com isso que me limito a fotografar, t omo posição.

O filme fez-se pouco a pouco no contacto com a r e a lidade . Não

podia limitar-me a mostrar a realidade. O nIvel de conSC l enC1a

polItica é muito bai xo , apesar das aparências. Era prec1so lr

mais longe , esc l arecer a situação, a cultura portuguesa ~ ora~

é portanto necessário trabalho sobre o discurso. Tento fazer

um trabalho s i mp les, utilizando um comentário que vai no mesmo

sentido que a linguagem habitual. Mas trat a-s e de o desmontar

ao mesmo tempo~ po is e l e esconde t oda a ideo l ogia antiga~

A trio l ogia DEUS PATRIA AUTORIDADE é analisada com um

material que o r a s ublinh a ironicamente o q ue se diz ora cria si

tuações de choque pel a justa posição de imagens em montagens vi ­

go r os amente in t enc i onai s , po is , segundo o próprio autor o cine -ma e um processo.

Deus mostra o peso da igreja no antigo reg1me e, malS

do que 1SSO, na própria socied ade portuguesa . O fanatismo ex­

pl ica-se, não por um fenómeno de r e ligiosidade, mas pelo atra­

zo das massas, trinta por cento ( 30%) das quais ainda não sa­

bem hoje ler o u escrever. Os g randes sacerdotes p r e f e rem os re

banhos dóceis. Paulo VI voa para Fátima e os d i gnitário s do an

tigo regime esperam- no de casaco cruzado e c a lça listrada. Os

governantes f alavam com frequênci a na lidoutrina social da igre-·

ja11• Falavam, mas não explicavam, e a lgumas encIclicas

ram a ser censuradas.

chega-

I:', Pátria f oi a mo la dinamizadora, a mito l ogi a suprema

de "ir para Ango l a j á e em forç a" ( com os anos, outros lrlam

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lá també~ agora e ew força)~ da falsa res i stência em Goa e de

outros t an t os conflito s sangrentos, Destruição da juventu de ,

cri se nas forç as armadas , é o e xército de África çue na madru

gada de 25 de Abril ~ de rruba um fascis mo que se tornara ana·_· - o padrôe s portugue s e s . povos c o loni ··-c ronlco, mesmo para os

21S s o frem i menso 5 mas continuam a lut a r,

A Autori dade - -L. . " ..-.... e man Llaa pe~as organ lzaço es paramili t a-o

r e s e militarizadas , mas sobretudo pel a t ent atu l a r Pide ·-DGS

ent r e vistado no filme, o ma jor Silva Pa i s dec lara q ue "na Pi -

de se pOtlpava muito ~ qu.e e ra uma organiza.ção lnui to eficiente

e qu e nã.o s ão verdade ess as coisas que por a í se di z emn• Só a

-r epr essao e a falcatru a imped i am o sucesso da campanha d e Hum

berto De l gado; que conseguiu em 1 9 5 8 mobilizar ...

o pals contra

o ditador . Abandon a do e isolado o Gene ral v iria a ser assassi

nado em Espanh as ao pé da fron t e ira portugue sa j val para onze

anos. Os home~s cue o a b ateram e r am a ge n tes da Pide .

o fil~e c onsegul co por uma equlpa que r e uniu bastan­

t e gente e q u e :,e c ~: t:eu um g r ande apoio da :RTP, só fo i agora e~

treado devido a Hra z c2 s burocrát icas ii:) e s t:anto também preV1S-

ta a -- . - - . .:- . sua e Xlb lçao e m varlOS palses e uropeus.Ch e gar am- se a pr~

-' " , '15 l , , 0 1 .,.., D + o ~. °d para ~ez non r a s s oa re o ~ ae ~Drl _ , mas De us ~ a ~rla h UTorl ~

de é a prlme~~2 a aparecer , o

(J.epOlS de uma série de projectos -que n?o se cheg a r.::.", a realizar .

Pui Sim6 e s e~cerra o filme com as pal a vras de um cam­

nonês que alude ao car~cter secular da e x p l oração e com a po~

se ~ f i l::1ada. em o - o go ve rno provlsorlo, presl

dido por Palma Carlos. A a s cen são do e x - general Spfno l a, atr~

v~s de u~a m~quina bem o leada de relaç6es p~b licas - continua

a existi:,:) .. no e t a mb ém explicada como o move r de uma pedr a es

t ratégica n um t ~b u1 2 iro que s e tornara c omp licado.

No pr6ximo filme a mesma equipa p ens a ocupar- se dos , ~ ~.

pO ..ll ~lCOS u

J osê Vaz Pereira

l n nA Cap ita l !' , 23-2 - 76

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. I

17

Atirado para ') Univ~rsal ,de: '<ua da. Ben.-=~ficência , es -­

treou-se um novo f ilme porluguôo, ru dcl,10 elIl 16 mm , a. p relo e . li . t branco, uma hora e cinquenta de rt ActUcüldades , reVlS as c co

mentadas por Rui Sim6es o seu autor .

Mesmo os malS informados nestas COlsas de cinema por-

tugues n~o sa~ iam, se n~o vagamente, da e xistência desta obra

Que m é Rui Sim6es ? Perguntar~o os leitores. Sab emos que Vl -

veu exilado na Bél~ica até aue o 25 de Abril o fez voltar _ J ~

-a

Pcl.tria . Na Bélsica es tudêlra ciw;ma e possui o curso de reali -·

zaç~o do Institut des Arts de Difusio~ e define , actua l mente,

o Clnema como num meio privilegiado de informaç~o e de an2:li-

se ideo lôgica n •

Reve r Critica me nte a ~I i s tórj a

Durante seis meses, Rui Siln6es filma um pouco por to­

do o lado, porque a Revoluç~o está um pouco por todo o l ado.A

realidade portuguesa ÉS. r i q uis s i ma ( R. S. ) : liA l"ealidade é de tal

maneira rica que ela ultrapassa a minh~ imagin aç~o'i) , mas Deus

Pátria Autori dade n~o é um simples r e g isto de actualidade se

q,Jer um do cumentário a pretender uma ne utra lid2,de i mpossível .

Para Rui Sim6es o 25 de Abril e os t empo s q ue se lhe segui ··

r a m s~o mais uma et a pa de um processo hist6rict" definido,re-

gido por um comp lexo me canismo de luta de classes . o 25 de

Abril é, assim, o processo da b u rguesia consolidar o seu po­

der econqmico 5 atr'avés de uma recusa de modelos f o ssilizadso

( o salazarismo-marcelismo, que desempenhou um papel no passa­

do, mas já se encontrava ultrapassado para a pr6pria burguesi

a, para os detentores "esclaI'ecidos" do ca.pital ) , através de

uma modificaç~o polIt i ca (um golpe) que tentaria reajustar as

estruturas sociais do paí s, e colocá -las a pa I' do p a sso euro-

peu. s6 q ue papel das massa0 popu lares c edo u l t r a p as sou es-

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Sel pr~tensào e trans forDou- o l1 fo l p e ll em tempos pré-revolucio '-

nários . Para Ru i Simões~ o essencial da r evo lução portugues a

são cercas conquistas do poder popul a r es donde poder d izer-se

que a sua 6ptica se coaduna melho r c om a posição algo romanti

ca, mas ge n e rosa e impulsiva , de um Otelo Saraiva de Car valho,

do que com as teses do que fi cou sendo conhecido por gonça lvi~

mo. Não é por acaso que, tendo o filme s i do t erminado no Ve rão

de 74 , quase nunca nele aparece a figura de Vasco Gonçalves,m~

r ecendo a de Otelo citação especial.

Pa,r:'3. comp :-eender o 25 de Ahril., ente.nd.~ u FlJ i Simões que

to

do o fs tad o Novo , veri ficar como este se escribava em mitos e

r eal i dade s como aquelas que dão o título á obra : nDeus!l , atra­

vés do c onservadori smo GCi. Igreja , suporte espiritual : IV pátriaf!

g aran ti a de uma ordem paternal ista e - ;

nao e por ac a so q ue t a l como o filme de Al -·

berto S~ iX él s San t os ;; Os Bran dos Costumes" ~ s e ci t a o dis curso

de Salazar , o - - . ..... ~C a~lversarlO da Fevoluçao de Maio : se

discuta Deu s e a Sua Virtude ; não se discute a Pátria e a Na-

autoridade e o fo-·

r am na v erdade Ce:!tre o utras), algurr'tas d as forças ( mít ica uma~

bem c oncre tas outras ) que s uportaram um reglme e l he assegura­

r am contin ui d a de, nos ~ltimos tempos mesmo "evolução da conti­

nui dade:! .

P01' t odas estas -r azoes , De us Pátria Autori d ade n ão -e ,

nem poderia ser j u~ filme neutral , um documento frio pe r an te a

r ealidade . O autor possui uma interpret aç ão da hist6ria e apli

c a -a . Serv i ndo - se de processos simp l es , numa linguagem que se

que aqul e a li pode pecar por Slm

plismo , mas que g eralmen t e atinge o seu fi m. O contacto com o

p~b lico , pelo menos ccrn o p~blico com o q ual procura estab ele­

cer comuni cação ~ r~pido e mob ilizador. O ritmo d a montag em ~

incisivo, r~pido , jog ando com relativo ~-vontade com material

de dive r sa ordem.

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Uma Estrutura de '1Co lagem"

De " colagem" se pode:r'á fal ar . O l:,aJ:er'ia l utilizado tem

origem variada, desde as "actualida.des i! c olh i d as dia a dia ,nas

ruas , nas fábricas ~ nos campos, nos cen-t!:'os deliberativos ,como

ainda retirado dos arquivos da Televis~o e da Rádio, tudo isto

á mistura com gráficos e legendas, dese nhos e animaç~o.Ê a hi~

tória do século XX português que ali se encontra rapidament e abordada,

da implantaç~o da Republica ao 28 de Maio, de Salazar a Cae t a­

no, de SpInola a Costa Gomes, com prolongamento extrametropoli

tano , integrando a guerra colonial num contexto mais vas to,in~

crevendo-a num p roce sso de voraz exploraç~o capitalista .

'1Deus Patria Autoridade II (que Rui S i mõe s promete ser o

primeiro fil me de uma série de três dedicados á análise da lu­

ta de classes em Portuga l no século XX ) acaba por resultar ni..l-~

ma vigorosa obra de polémica contribuiç~o para o estudo dos

dias recentes que Portugal v i veu (vive ainda,hoje , num como

que rescaldo no s tálg ico e doloro s o), N~o deixa de ser curioso

e sintomático que o pl'imeil'"'o filme feito sobre o 25 de Abril)a

s er estreado eEI Portugal, seja obra de um retornado (a juntar a

outros dirigidos por estrangeiros ). Os portugueses -ca que V1 ·-

viam e, lo g icamente, melhor poderiam conhecer o s factos, os m~

teriais, as font es de consulta, esses continuam a rumi nar pro­

jectos e intrigas ~ a lguns deles disputando entre si postos de

ch e fia, e filmando po uco, muito pouco . Numa altura, em que mais

do que nunca, era indispensáve l uma solidariedade fraterna a

estabelece r no essencial ainda que r e ss a lvando obviamente , vo -

zes pessoais e sensib i lidades . Se do cinema

veremos que enes sa mesma divis~o estúpida e

F ..

passa!:' ao 'a1S, . ,..... 1mpo~ l t1ca se des

trufu e malbaratou g r ande parte da noss a Revoluç~o . Uma r evolu

ç~o hoj e a gonizan t e po r culpas várias e que n~o soube resguaruar

da corrupç~o o s momen tos inolvidáve i s de euforia e i mpolga nte

entusias mo 5 á mistur a com p!:'e cios a s conquistas pop ulares . Um fil­

me como este - Deus Patria Autoridade dá bem como medida , por

vezes de forma involuntária, do percurso d e uma. revoluç ~o ,atra­

vessada por abenegados impulsos e f~cil d ema gogia, esfusiantea

legria e melancólica tristeza.

Laura Antônio

ln "Diário de Notícia:; "

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ADEUS PATRIA AUTORIDADE

- No UNIV ERS AL

De po is do 25 de Abril de 1 874 pouco ou q uase nenhum

tem sido o Cln2ffi2 portugu~sde testemunho e de constataç ~o che

gado aos nos so s néc rans ll•

A maiori a do cinema nacional até aqui estreado tem re

fl e ctido as contradiç6es da burguesia a que pertencem os Cl­

neastas amarrados a Dreconce itos elitistas , que t~m de s e r ul

t r apassados.

DEUS PAT RI A AUT OR IDADE de Ru i Sim6e s 5 agora no Unive~

sal, anal isa de forma muito simples, directa e acessIvel, os

pilares do ::':s tado fas cis ta, ina ugurado pelo golpe militar do

28 de Maio ce 1 926 . Eles estão consub stanciados no dis curs o

que Salazar fari a no 28 de Maio de 193 6 , em Braga, ao esta~e­

lecer DEUS PATRIA AUTOR I DADE e FP.~ULIA como b a ses indiscuti~

ve is do Estado portugu~s .

Antes da análise dos foros co Go v e rno fascista, Ru i S~ -moes e xplic a COBO o capi-talismo s e apoia na mais -valia dos tra

balhado r e s, o s quais explora .

Faz seguidamente, um T'esumo das -razoes que levaram ao

fa ' 11an''''0 d "" '11'l ri 1":;· e n 1u- l-, 1 -Lo ca ....Li .. ~ '- \. lo_ ........ \ J:-" 1.)..J.. . ., instaurada em 1910, mas divorciada

das massas trabalhadoras.

Ao f aze r a análise do capItulo Deus, Ru i Sim6es denu~

Cla, em image ns muito expressivas (a vinda do Papa a Portugal

c onsagrando o re gime fascista, com a sua presença : os discuT's e s

sos de Ce T'ej e ira , pregando a obedi~nci a do povo aos governan­

t e s ; peregrino~ que se arrast2m d e joelhos, para F~tima), o a

poio . de to da uma hierarquia religiosa ao fascismo.

Ouanto á Pátl"ia. el a " n ão se discute ll• Huna e indivi -"- , ,

sí vel 'j ~ desde o !I a -tent ado" que const i tui a anexação de Goa, D~

mão e Diu até aos i1mov imentos subversivos i mpostos do exteri­

o r ll desencade 2.dos e m África.

O Governo impunha as suas ideias ao PaIs, baseando-se

numa autoridade apoiada e m temIvel repre ssão ~ a campanha pre­

sidencial em qu e a Oposição apresentou Humberto Delgado como

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candidato, de tal foi testemunha. Rui Simões, consegue, alguns

momentos felizes , equiparando os deputadas Que . . .

apolam lnvarla-

velmente um discurso de Salazar , aoS porccs da poci l g a abanan­

do as cabeças ou r epetindo a imagem de Américo corta-fitas To­

más em numerosas inaugurações apresentando, no final delas, um

amolador a afiar uma t esoura .

Outro fundo da pelfcula é o seu comentário sonoro que

val desde as canções nazis até aos "Carmina Burana H de Carl Orf,

compositor favorito de Hitler , e que serve também a Rui Simões

para caricaturar e dar as exactas dimensões de um regime que en

tra~á em decad~ncia com Marc e lo Caetano.

DEUS PATRIA AUTORIDADE entra ainda no :2 5 de l\bril de 1974

e na luta desde então travada pelos trabalhadores na defesa dos

seus direitos, concluindo, ap6s várias entrevistas, que ~ vio­

l~ncia da exploI'ação do capi tal se deve opor, como l:inica res~

ta a violência da ~ibertação dos explorados e oprimidos .

O filme de Rui Simões enferma de várias f alhas desde a

má sonorização de algumas sequências (entrevista com Otelo e

com os camponeses ) até á ignorância quase pura se simples da

reforma agrária de do bin6mi campo-cidade., tão importante.

Um filme que todos "temos o dever de ver porque contém

um sério av i so num t empo em que o fascis mo r onda de novo,ainda

que camuflado, às portas des t e pa ís.

Tito Lívio

ln "Diário Popular" 6 de Harço 76

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D E i S P IH R !,~ (djT O R I D;'\ r; E

o prlmelro filDe portug~ês ( . ~ \ alléts 5 o único) que se oc~

pa em desmontar frontalmente a ideologia sa l azarista-caetanis-

dos pr i me i:cos tempos iYdo mov imento dos c~

pitães 1:. Partindo do famoso discurso d e Braga. 5 por aI tUl"'a das

comemoraçoes do 10° aniversário do 28 de li2.io, onde Sél1azar de

fine talve z com mais cL3.reza a dO'Jtrina peculiar do fe.scismo

portugu~s~ Rui Sim3es e a sua ~quipe onde sobressai tamb~m o

trabalho de Rui Paulo da Cruz , prop3em-se fazer um filme di~~c

tico sobre o que foi ~ste meio sêculo da vida portuguesa. Em

nome de Deu s e da P~tria, a exploraç~o do grande capital e o

colonialismo, em nome da AUTORIDADE, o desprezo pelas regras~

l e,7.entares da de:r..8cracia. Por três da cortina solene dos discuY'sos , a luta.

de clas :,,(:;s.

No - . pro xl::'.c -::,_ums ro publicaremos um depoimento de Ru i -moes sobre este s e u primeiro trabe.lho .

ln "Expresso " 21 -2-1 976.

DEUS PATRIA AUTORI DADE

Universal - As 15,19 e 21 horas

N ~o aconse l h ~ v e l a menores de 13 a no s

- f . - . Kccus a ndo as ormas estereotlpadas do documentarlo

C' . ul

e

da ficção , Rui Sim3es faz um filme documento onde a jv1:ise- en

- sc~ne se acre sce nta ~s vezes a uma confessada manipu lação.Ul­

trapassando os mitos idealistas da imparc i a l idade do cineasta,

da obj ectividade do documento e da inoc~ncia das i magens e

dos sons ca~t ados na realidade, Rui SiITtõe s afi rma - . um proposl-

to e ilustra-o: A desmont 2gem do que foi o sal azarismos ~ luz

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da luta de classes. O pro ósito did~ctico t e m desde logo o m~to

do de nos lembra!:' que em quase dois arlC JS n inguém o fez s is temá­

ticamente e que ~ se este tipo de Cin e l!;ét n ';') esgota nem dispensa

os podere s e os direitos politicos do imagin~rio, esta tentati­

va situa- se num terreno pouco explo rado e ntre o en s aio e o pan­

fleto. E ~ precisame nte quando Rui Sim~es abandona o propósito

descritivo para se servir das alegrias da manipulação CA_lnéri ­

co Thomaz !1 corta- fi tas" ou a posse do I GO 'Je rno Provisório por

exemplo) que o s e u filme parece mais efica z. O que n ã o lhe lmp~

de de reconhece r po r veze s ao docume nto bruto a s ui f o r ça iró­

nlca como ~ o caso da extraordin~ria entre vista de Silva Pais,

onde o chefe dos torcionários da Pide explica p o r si só a aber

ração monstruos a do fa s cis mo português que tem um rosto: -e o

rosto "inocente l1 da perversidade.

No próximo Expresso procurare mos e xplicar um depoimento

de Rui Simões sobre a s perip~cias e _ os obj e ctivos deste seu tra

balho.

ln Expresso 28 - 2-76

~ I

DEUS PATRIA AUTORIDADE

Deus Patria Autoridade ~ um filme ooerente dentro do seu

prop6sito de explicar a vida socia l, politica e económica do no

so país,atrav~s do materialismo dial~ctioo. Muito bem classifi­

cada, por isso mesmo 5 como o primeiro filme "dia léctico 11 do no~

so cineJna ~ DEU S PATRl A AUTOR I D:\DE transforma-- se tamb~lIl num docu

mento did~ctico em que) nas primeira imagens 5 se explica e JU~

tifica o m~todo e s colhido (a an~lise geral das relações de tra­

brlho numa sociedade capitalista, a mais-valia, o dominio da bur ~

guesla, a luta de classes) nas imagens seguinte s se ada9ta o me

todo ao objecto d e estudo (o chamado !lEstado Novo" e o período

pôs-25 de Abril, sem esquece r outras épocas que s e rve m de escla

recimen-to) e nas t erceiras se ch e g a a uma conclusão (i:1stalou-

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-ose em POl't °:';o [';al u~:2. democrac i a burgue s a'j mas os trabalhadores

t em vindo a conquistar uma progressiva consci~ncia de class e )

tudo acrescido de um v erdade iro iipos '::: - scriptum" convid a a não

1 + r d ' - 1 r' ma'" s O 'U esquecer G. -,-u"a Iun r aD.en -c a..L e no qua ..c. se aI lrrEa _ menos

is to : viol~ncia ela

violência da exnloração capi t alis t a il•

Deixando por agora os momen t os do filie que o titulo

abr ange s e c1.1ndari arnente 5 R.Ui. C" -o l moes (rea li zador es treant e com

muitas qual i dades) apresenta imagens r eferentes a cada um do~~

~ e !nas suzeri dos nesse mes mo tit u l o e q u e n as cem do discurso de o . 0< .

SaJ.azar elT, Eraga , nas c:ome::lorações do la a nl versarlO do 28

;;D~~Us n será a igreja aliada do re glme ~ desde o seu c,1:e

fe na t erra ~ o Papa Paulo VI, des locando -'se a Fátima e re ce -

bendo as home nagens dos cove rnan tes at~ a o seu chefe portu-

gues o c ardeal C2~ejeira, most r ado a falar durante a inaugur~

ç ão do monumento a Cristo Re i! at6 ~quilo que o r eali zador e-. d . Vl .enCla como sustent~culo da relig ião : o espírito t acanho e

o b s curant is ta do ;' povo II (penitentes em F ,~t i ma , dinheiro a en ­

t rt30r nas c a ixc<s das esmolas da Cova da Iria).

ga as classe s trabalhadoras 2 explora os territ6rios ultramar . - -r lnos, sera a expansao portuguesa vista apenas como motivada

par razões e conómicas , será a guerra africana que começa em

1 95 1 e a c aba por anic~ui l al" o r egJ.IEe e provocar a descoloniza----ç ao .

tirânica e a -repressao, a impossibilidade de democracia e l e itoral , o caso

Delg~do, a PIDE-DGS, as prisões e a s torturas (ve ja-se, p o r

ex . , como o metodo .dialéctico s e::'ve a Rui Si mões parc< contra~

t al" as declar a ções d~ Silva Pa is e as de dois ex-pres so po l fti

cos torturados), F é t ambém a p assagem para um 2 5 de Abri l que

ainda hoje se constrói na d ificuldade e na e spe r ança e que ,s e

gundo o filme f oi Ui!'.a trans icç ã o do f as cismo para a democracia

burguesa e que só triunfar~ verdadeiramente com a vit6ria da

c l asse - . ope rar:l do

DEUS FATR IA AUTORI DADE Portugal - 1 9 76 . Reali zação - Ru i

Simões, Texto e Locução '-Rui Paul o da Cruz . Exib i d o em f o rmato

16 rnm . Estreia - UTliver's al, 21 -2 -- 76 . Dis-tribuiçe.o - Animato ·­

grafo. C 1 assi~icaç~0 - N~o aconselh~vel a menores de 13 anos .

Luis de Pina.

ln O Di a, 24 - 2- 76

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-- Afirma o r ealizador de DEUS P.ATIUA !lU'i:'O!üDADE

~

" Neste momento o Clnema e para IUllll um melO previ ligi~

do de i nformação e de análise i deológicB_ H- afirma Fu i Simões~

r e alizador do f i lme português DEUS PSf?IA AUTOR I DADE, por ve.0_

tura o qua l se f az a de smontaJem do fas cismo salaz a r -caeta-. + nlSLa.

No p~ntano lis boeta de c2 J.u l oide-porno, a pedrada de

Rui Simões "( Cinema Universal) surge em hora opo rtuna, d i z o

r ealizador: li fo i pe la televisão que em Bpuxe las , no dia 26 de

Abril de 1 974, eu comece i este fi l me . Foram es sas lmagens que

me fizeram regressar ' ao país , que deixei há de z anes . Essas una

gens r e fle ct iam uma realidade, a queda do fascismo. Va i ser

es se o tema do me u trabal ho . No entanto~ só me apercebo dis­

so al g uns meses mais tarde .

" De início a euforia daquel es meses de Prima vepa e Ve

rão :!1ão me de ixavam ver nitidamente a realidade .

liA nossa intenção ~ a minh a e a da equipe era a de a

companhar o que se passava ; e da í havia de lli:.l.Scey' qual.quer- c(nsa.

Filmámos durante meses , nas fábricas e nos campos~ na r ua e

nos centros do poder . Daí resultarE,:, 30 ho r as de documentos .

uFoi justamente o f a cto de fi l mar quotid i anamente , de

Vlver o dia a d i a no contacto d i r ect o com a população~ que me

levou a reconside par a f inal idade do meu trabalho. Uma coisa

era c l ara. Era necessário um c e r to recuo . ~amb~m era ev i dente

.nas f ; nr '; '--';"," .. ~ e 1 0 8 C··'"oT'C ''' ' 1 'c;, ~ _ _ ~ __ 1 · ct;:l~.lo } '.ic.l\;· 2S coisas eram c onfusas e q q ue

e ra n~cessario clar ificá-las .

11 Re cuo e clareza , d uas domin an'les que gUla].'am este t ra

balho . Era .~ .

neces sarlO num .- .. 1 rl.Lme mostrar claramente onde se ln

seria o 25 de Abril e p ara 1SSO era necessário r ever a his t 6-

r ia, mos trá -o la de forma a que ficas se ber.n claro que já em 1910

havia uma classe que exp J_o,,::'u. \12 e outra q ue 81.'a explorada . 8en-­

do o 2 5 de Abril mais uma etapa dessa explopaç~o. Portanto!ti ­

nha que se mostrar o funcioname n to do sis ·ter11a de e ,~plordção: o

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capitalismo. Nesta dial~ctica su~ge inevitavsl~ente a p ss~n ci a

de cada explof'c.da, a sua luta de classe 11 •

Prossegue ~ui Sim5es:

Vendo este filme, muito -serao os que se interrogam 80-

t ·re o dire i to de Il man ipule,r H} sobre o direi to á prát ica de ma-­

nipulaçâo do processo cinexatográfico. Respondo- lhes eu que o

cinema di~ecto encerra e;;l si mesmo uma grande mentira: preten­

de r que uma qualquer l magem da vida ~ a verdade sobre a pr6pri

a vida . - .. .. -?10 acto de filmar cons·ti tui ele proprlo Ja uma ln ·

tervenç~o produtora Que transforma a realidade captada . A ma--

nipulaç~o coreeçano comento em que a camara intervem,

se - " .". 1 - '. " " muda oe angu~o ou OD]ectlva, quanoo seleccione.m e

qUi:mdo

montam

as imagens. Qu;; r :::~ ·.lêirarE quer nâo isto ~ manipu laçâo. Pode res

peitar-se o docu~ento mas -nao evitar trans forma- lo na

~at~ria da qual se produz o Clnema .

?!Aqueles que de fe~dem existir ir,compatib ilidade e ntre

o cinema directo e a r a nipulaçâo est~ctica s~o hip6critas . E

f a zer cinema di::."'e cto como se nao existissem as inevi tâveis ln

t e rvenç5es produto~as (de sensaç~o , de e f e itos de es t ruturá )

O~ tomando-as auGna s como práticas e n20 e stéticas, seria pe-

di r pouco ao cine=a directo, seria desperdiçar as s uas poten­

cialidades, censur~-las s em nome de pseudo ilus5es de honesti

de.de, purlsmo, etc ..

11A pé',rtir do mOT:lento eEi que o documen t o ou a capta'·, -çao b ruta do acontecimento se constitui em filme, c om uma

pe rspectiva cineT:latogr~fica pr6pria obt~m uma realidade filmi

C& que a centua ou diminui a sua realidade inicial (a seu va

lor '\ri vido" ). A sua ree.lidade de origem é transformada, l"'ea15

z .:1da. ou surrcaliz2.c]a, erIl qualquer caso H falsificada H o

,\ "Li =I • .. , ,;,. ~,..')..;, p,,1a~;0 ''''0 cl"nem ~ dl"v>ec t .=1 esta- e em u pro~..:.. eme. (l.E:! "l~i,. __ ..... ~ ' ,:sG L , ,1 a. .L -'

control a r os desv ios e as modifica.ções provocadas na imagem i

nicial~ ou seJa como medir a amplitude do seu e f eito . Quanto

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maior a manipu l ação , IlialS s e i nstôlla a fic,;;ão ) mais se acen­

tua o processo critica-esTeti co qu e ~odific2 a l e itura e a na

tureza do aconteciment o capt ado.

Assim se processa a passage:n Cie t es te.'llunho ao CO'1len "

tário, d o comentário á refl e xão: da i magem- som à i deia .

nA consequência e a pre v e rs ão do directo por e le mes­

mo : A part ir do moment o em que o documen-t o ê afectado pela f~

cção, perda a sua nature za, revaloriz a -se, adqu ire sensibil i ­

dade de, coer~nci~ e do diálo go fic ção - r ealidade esta reforç a

a sua ve rdade, depo is de desviu que a ficção l he p r ovocou , a­

tra vés de sse me smo desvio .

DEUS PATRIA AUTORIDADE e urn2. produçã o c~o I nsti tuto Por

tuguês de Cinema c om a participação da Ra diot elevisão Portu­

guesa. Além d e Ru i Simões , na r eali z ação e na sonoplas tia, co­

l aborar am Ac~cio de Almeida, Gérard Collet , Jo s é Reynes e F.

Henriqu es ( imagens ) Lu i s Martins (som d ire cto ) , Genevi~ve An­

toine e Már i o JOT'ge ( animaç ão), Rui Paulo da Cruz (com2rrl:ário)

e Dominique Ro11in (mvntagem ) .

Palavras d e Rui Simoe s , des ta ve z citadas po r Catheri­

ne Humb10t, no "Le Hondel! (2 -- 10 - 1 9 75) :

liA minha idei a in i cial e ra de mostrar as l utas desen--

cadeadas após o 2 5 de Abril . :)urante seis meses, nós film':lmo s

sem parar as manifestações de rua , as greves nas -F' - 1-."'Y"I. ~ ~ a._h l'-..-as , as

ocup a ções de t e rras , a organi zaç~o dos trabalhadoves . A f i na­

lidade do meu trabalho era a de demons t rar cinematograficame~

te que exi st ia uma lu·ta de classes . Não tenho motivaç~o i n t.i

vi dual - a realidade actual & de tal maneira r ica que ela ul -

Tl'apas sa • _. • • .-J

a nllY1n a lmagl:-laçao -- ~ nao quero d izer com ~s so que me

limite a foto grafar, tomo posição. O filme f ez- se pouco a po~

co no contacto c om a r ealida de . N~o po d i a limitar-se a mos -

t rar a realidade. O nfvel

to ape s ar das apar~nc ias .

....... . <".. - .. de conSClenCla po l ltlca e mUlto vas

"Er'a preci.so i_ r mai s longe , es clarece r a situação ; a

cu ltur a portuguesa é o r al, é port an t o ne cessár io t rabal har s o

b r e ü discuy'so. Te nto fa zer um trab<3.1ho simples uti lizan do um

comentário que va i no mesmo sentido q ue a linguagem ::tabitua1.

Has tra t a""8e rie o de smontar 2;0 mesr:10 tempo ) pOlS ele

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esconde toda UF.a ideologia antiga".

r\ c o n c i u i r. t r 2 S ; ! f 1 a s li 5 ! : d o f i 1 rn '3 •

Salazar, em 1936, discursando em Braga: N~o discutemos

Deus e a sua virtude. N~o discutimos a P~tria e a sua h ist6ria

[J- ao discutimos a autoridade e o seu prestigio ij

Silva ? a fu, ex-director da Pi d e-DGS, entrevistado p o r

Rui Simões de u ma cela de Cax ias :: !!Eu era o director geral da

Segurança em Portugal, eY'a . O que me . obrigava, digamos, a um

e sforço en orme porquanto as responsabil idades da Direcç~o Ge ­

ral ele Segurança nesse tempo icun atê Timor, ictm desde n elgaç o5

des d e o conce lho de Melgaço, Santa G16ria, atê ao ponto de 8a­

liT:'.or ~ c m Ti,nor; c.e YYlane ira que nos obrigavam a um es forço mUl

to grande . .......

Y1Ve o c a81 a o, tlV2 ocaS1ao d,:;, em reuniões no estran

geiro - e pre s o -~e "1 o ., ., r- ... ~

C1SSO -, ae acrena er o meu pals, d e fender

os intere s s e s da minha p~~ria e defender intransigentemente o

prestigio das forças armad as portugues a s í1 •

. Uma trabalh a do ra que Vlve num bairro de lat a: liA IT'.1-

-nha C2sa sao , .

c.o }. s quartos ~ senhor. Te nho U I!l filho de doze anos

a dormir com uca ~8nina d e 9. Tenho um de C1nco anos a dormi r

Tenho . - ~ d · uma ;"JenEl a ce tre s anos a ormlr • F com1go . ...:.u,0 meu

marido , um de cinco e a d e três a dormir todos na mesma cama.E

té~nho um rapaz d e d oze a nos, vai 13 anos, a dorm i r com a meni""

na de 9.

o quarto ~ a li, como o senhor ve , naquela janela e a .. ... ..~.., -+- - .. ~ .. .. ......

coz1nha e aqu1. ~ S La e a mlnha cozlnha. No 1nverno, e aqul uma

cal amidade. As crianças a andarem para fora e p a r a

a ch uva. Pego no comer l e vo 1~ para dentro para as ~ . . -

dentro

crlanças

com .~

nao

comerem e m C1ma da cama . L 1S50 uo meu Vlver, e aSSlm como os

senh ores est~o a ver~

~n Di~rio Popu l ar , 17 Março 76

4 .