TÉCNICA PARA REVELAÇÃO DE IMPRESSÕES … DE OLIV… · DISCUSSÃO DA TÉCNICA DE VISUALIZAÇÃO...
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DISCUSSÃO DA TÉCNICA DE VISUALIZAÇÃO TÉRMICA DE IMPRESSÕES
DIGITAIS EM SUPORTES METALICOS
Izabela de Oliveira Macedo1
Alex Fabiano C. Campos2
1Instituto de Estudos Farmacêuticos. SHIGS 702 Bloco C - Térreo do Colégio Maria Auxiliadora Asa Sul, Brasília – DF / Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Av. Universitária 1069
Setor Universitário, CEP: 74605-010, Goiânia-GO, Brasil. 2Prof. Adjunto da Universidade de Brasília - Faculdade UnB-Planaltina, com doutorado em físico-química pela
Universidade de Brasília e pós-doutorado pela Université Pierre et Marie Curie. Endereço: Faculdade UnB -
Planatina. Área Universitária n. 1 - Vila Nossa Senhora de Fátima CEP: 73300-000 – Brasília/DF – Brasil.
Email: [email protected] e [email protected]
Resumo Neste artigo, a técnica de visualização térmica de impressões digitais em suportes metálicos foi discutida. Foram
analisadas as impressões digitais de doadores diferentes em variadas superfícies metálicas. Em relação às técnicas
convencionais, a proposta analisada fornece resultados com maior visibilidade e melhor contraste da marca. Embora
a técnica deva ser mais bem estudada quanto aos efeitos de temperatura e pressão, o aquecimento da amostra tem-se
mostrado uma nova ferramenta na revelação das impressões latentes em superfícies metálicas com bons resultados.
Palavras-Chave: impressão digital; superfície metálica; aquecimento.
Abstract In this article, the technique of thermal visualization of fingerprints on metallic supports has been discussed. We
analyzed the fingerprints from different donors in various metal surfaces. Compared to conventional techniques, the
investigated approach provides results with higher contrast and better visibility of the fingermarks. Although the
technique should be further studied for the effects of temperature and pressure, heating the sample has been shown to be a new important tool in the development of latent impressions on metal surfaces leading to good results.
Keywords: fingerprint; metal surface, heating.
1. INTRODUÇÃO
O maior desafio das investigações criminais é a identificação do delinqüente. Neste
âmbito, as ciências forenses atuam com o objetivo de esclarecer as investigações, descartando
suspeitos ou colocando pessoas na cena do crime, valendo-se, para isto, de técnicas de
identificação humana. Uma das técnicas muito empregadas é a análise da impressão digital, que
utiliza os desenhos existentes nas extremidades dos dedos, chamado de cristas dérmicas (papilas
dérmicas), para fazer essa identificação. A coleta da impressão digital, feita pelo papiloscopista
(profissional responsável pela coleta e arquivamento dessa digital) no local do crime, para
análise posterior, apresenta algumas vantagens quando comparada a outros métodos existentes.
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Quando observamos uma impressão digital podemos ter praticamente certeza de que não existem
dois desenhos semelhantes (princípio da variabilidade), nem que esses desenhos possam se
alterar ao longo da vida (principio da imutabilidade), e que o individuo já apresenta os desenhos
ainda no ventre materno (principio da perenidade), sendo um método de baixo custo, rápido e
eficaz (principio da praticidade) e que permite o arquivamento das impressões (principio da
classificabilidade), tornando a técnica papiloscópica uma das mais importantes na identificação
humana.
É importante destacar que existem três tipos de impressões digitais que podem ser
encontradas em locais de crimes. Dentre elas podem-se citar as moldadas, que são facilmente
reproduzidas utilizando materiais que gravam os sulcos dos tecidos, como por exemplo, o gesso.
Nesses casos, os peritos utilizam a fotografia para reproduzir a marca digital. Outra possibilidade
são as impressões visíveis, que são de fácil observação, e não exigem métodos de revelação, uma
vez que estão nítidas, devido à exposição por tintas, graxa ou sangue deixado no local quando o
suspeito manuseou esses materiais. Finalmente, existem as impressões latentes, que apresentam
difícil reprodução e são invisíveis a olho nu, sendo necessária a aplicação de alguns métodos
para visualização (métodos de revelação). Certamente, essas são as impressões que apresentam
maior dificuldade de identificação.
Alguns métodos para revelar impressões latentes utilizam agentes químicos, que podem
se apresentar na forma de pó, outros de vapor ou de líquido. De acordo com a superfície onde se
encontra a impressão digital, também chamada de suporte, emprega-se uma determinada técnica
para revelação. No caso de suportes metálicos, como cápsulas de projéteis de arma de fogo,
métodos como o do pó e o de vapor de cianoacrilato têm sido empregados. Contudo, esses
procedimentos muitas vezes tornam-se destrutivos às marcas digitais e trazem limitações ao
processo de revelação das impressões. Desta forma, um significativo esforço tem sido feito pelos
cientistas forenses na busca de novos métodos e metodologias para revelação de impressões
latentes em superfícies metálicas. Inserido neste contexto, o presente trabalho objetiva a
discussão de uma nova técnica para recuperação de impressões digitais em suportes metálicos,
baseada no aquecimento do material coletado e posterior análise microscópica.
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2. METODOLOGIA
A pesquisa realizada por Wightman e O’Connor (2010) envolveu a investigação e a
proposição de técnicas para a recuperação de impressões digitais latentes em superfícies
metálicas. Um mecanismo alternativo foi proposto para a visualização térmica de impressões
digitais, baseado na oxidação e na produção de diferentes cores, que melhora o contraste da
digital. O objetivo da técnica baseia-se no aquecimento do metal que sofre corrosão induzida
pelo calor. Além disto, os componetes orgânicos das impressões digitais são destruídos e os sais
inorganicos adicionados reagem com o substrato de metal de modo que a corrosão destaca a
marca latente facilitando sua observação. Este método visa ainda à compreensão de como as
impressões digitais podem ser recuperadas em situações em que os materiais tenham sido
submetidos ao calor, como nas cenas de locais de crime onde houve incêndio. Cabe destacar,
contudo, que o tratamento térmico sempre deve ser considerado como parte de uma hierarquia de
provas de exame, pois o calor pode prejudicar outras provas que possam estar presentes. Neste
estudo ficou evidente que o papel do filme de óxido formado sobre o metal era importante em
termos do contraste obtido no desenvolvimento da marca digital latente. O presente estudo
também levanta questões quanto ao papel de corrosão eletroquímica no tratamento de impressões
digitais sob alta temperatura.
Na pesquisa em análise, os autores cortaram discos de metal virgens de latão, alumínio e
aço com auxílio de laser. O filme de polímero de proteção foi removido e a superfície limpa com
acetona. Três doadores foram selecionados e antes de cada doação da impressão, eles lavaram as
mãos com detergente neutro e enxugaram-nas com papel-toalha. Um período de 30 minutos foi
utilizado para as secreções dérmicas voltassem à taxa normal, e durante este período, os
doadores evitaram atividades que pudessem conduzir à transpiração excessiva ou à contaminação
das marcas digitais. Após este tempo, as impressões foram coletadas sob os discos, que ficaram
expostas ao ar por 5 minutos antes de serem armazenados em recipiente específico. O período de
armazenamento variou de 3 horas a 7 dias, antes da realização do tratamento térmico.
Visando a simular o efeito de metal sendo aquecido no fogo, os autores empregaram um
queimador de gás propano e termopar. O tratamento térmico foi realizado em um forno AAF
Carbolite 1100, que pode ser aquecido rapidamente devido à sua baixa capacidade térmica,
proporcionando uma temperatura estável e uma atmosfera constante. Uma vez que o forno
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atingiu a temperatura inicial desejada (200°C ou 600°C dependendo do metal), os três discos de
doadores mais um disco em branco foram colocados em um recipiente de cerâmica e inseridos
no forno por 5 minutos. Em seguida, os discos foram removidos e deixados a arrefecer no ar por
20 minutos antes de serem examinados e fotografados. O forno foi ajustado para uma nova
temperatura (200°C ou 150°C superior) e o procedimento repetido. Os mesmos discos foram
reaquecidos pela terceira vez a uma terceira temperatura.
Uma segunda série de testes também foi realizada com discos novos e com um conjunto
diferente de temperaturas da primeira série, a fim de ampliar a variedade de condições. As
temperaturas empregadas foram escolhidas de acordo com o metal, e as condições são dadas na
Tabela 1.
As impressões digitais obtidas foram classificadas de acordo com uma classificação
simplificada com 4 graus:
0: não visualização de impressão digital.
1: muito pequena quantidade de pontos como formas, mas sem definição de detalhes.
2: visualização de pontos e ligeira identificação das cristas.
3: Visualização definida de cumes.
Metal Temperaturas - 1ª Série (°C) Temperaturas - 2ª Série (°C)
Latão 200, 400 e 600 180, 280, 380
Alumínio 200, 400 e 600 180, 280, 380
Aço 600, 750 e 900 380, 530, 680
Tabela 1: Teste de condições (WIGHTMAN e O’CONNOR, 2010)
Várias das impressões digitais foram observadas ao microscópio óptico. A fim de testar
a influência dos componentes das impressões latentes no crescimento da camada de óxido, um
disco de latão e um disco de aço inoxidável contendo impressões digitais foram tratados com
diversos reagentes (solução salina, cloreto de sódio sólido, grafite, óleo de parafina e ácido
oléico), servindo como um controle para comparação com os testes anteriores. Esses discos
foram aquecidos sequencialmente a 200 °C, 400 °C, 600 °C, e 750 °C seguindo o mesmo
procedimento para a impressões digitais. O cloreto de sódio foi escolhido para se investigar
produção ou inibição da corrosão do metal. Três materiais à base de carbono (grafite, parafina e
ácido oleico) foram incluídos para analisar se a redução de óxido pode ocorrer.
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3. Referencial Teórico
A datiloscopia criminal, usada para a identificação de pessoas indiciadas em inquéritos
e processos criminais é muito utilizada atualmente por basear-se em alguns princípios
fundamentais, que fazem com que essa identificação seja confiável e cada vez mais utilizada.
Além do baixo custo e rapidez na captação das digitais, podemos observar a imutabilidade desses
desenhos, o que deixa o sistema de identificação mais seguro, já que não mudam ao longo dos
anos. Pode-se destacar também a variabilidade, que garante a não ocorrência de desenhos das
digitais iguais, nem entre os dedos do mesmo individuo, nem entre indivíduos diferentes. Esses
princípios reforçam a praticidade, a unicidade e a eficiência do procedimento quando comparado
aos outros métodos.
Diante do número infinito de desenhos digitais, nos deparamos com a existência de um
reduzido número de tipos fundamentais de impressões digitais, em que é possível classificar as
impressões, utilizando o sistema de Vucetich (ARAÚJO E PASQUALI, 2006). Entretanto o
sistema de linhas precede os tipos de impressões, pois a partir delas é que surgem as
classificações. A impressão digital é dividida em três grupos de linhas (Figura 1): as basilares
que se localizam entre as pregas interfalangeana e o ramo inferior das linhas diretrizes e suas
linhas seguem de um lado ao outro do dedo mais ou menos paralelas. Já as linhas nucleares
localizam-se entre os ramos inferior e superior das linhas diretrizes e o padrão de suas linhas
juntamente com a posição em que se encontra o delta, determina o tipo e sub-tipo da impressão
digital. Por fim as linhas marginais localizam-se acima do ramo superior das linhas diretrizes até
a base da unha e suas linhas seguem de um lado ao outro do dedo mais ou menos paralelas
tomando forma abaulada. O delta citado nas linhas nucleares é uma figura em formato de
triângulo ou trirrádio, formado quando as três linhas se encontram. A partir do delta é que
encontramos os grupos de linhas e sua principal função no sistema de Vucetich é definir o tipo
fundamental da impressão digital.
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Figura 1: Desenhos de uma mesma impressão e seus elementos principais.
(CHEMELLO, 2006)
Sendo assim, as impressões poderão ser classificadas em quatro padrões, segundo
Vucetich: o arco que não geralmente não possui delta, a presilha interna que possui um delta à
direita do observador, a presilha externa que possui um delta à esquerda do observador e o
verticilo que possui dois deltas, um de cada lado. Para fins de classificação esses tipos anteriores
se designam pelas letras A, E, I e V, respectivamente, quando se encontram no polegar e por
números (1 a 4) quando se encontram em qualquer um dos dedos outros dedos.
Assim como conhecer o sistema de linhas e os tipos de impressões, mostra-se
indispensável na identificação das impressões digitais latentes saber a constituição das mesmas,
pois de forma genérica a digital é formada por pele humana e algumas secreções (vide tabela 2).
No entanto, o conhecimento mais profundo sobre a composição da impressão propicia maior
chance de escolher o procedimento correto para revelá-la, evitando-se assim a destruição da
impressão ou dano aos seus componentes. É importante observar se o método escolhido para a
revelação não irá reagir com a superfície onde se encontra a digital, correndo o risco de danificá-
la. O agente para revelação deve reagir com os componentes da impressão e não com a
superfície. Para que isso ocorra o perito técnico deve conhecer os possíveis componentes da
impressão digital.
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Glândulas Compostos inorgânicos Compostos orgânicos
Sudoríparas Cloretos, íons metálicos,
amônia, sulfatos, fosfatos,
água.
Aminoácidos, uréia, ácido
lático, açúcares, creatinina,
colina, acido úrico.
Sebáceas Ácidos graxos, glicerídeos,
hidrocarbonetos, álcoois.
Apócrinas Ferro Proteínas, carboidratos,
colesterol.
Tabela 2: Relação entre as glândulas e os compostos excretados pelo corpo humano.
(CHEMELLO, 2006)
3.1 Técnicas de Revelação de Digitais Latentes
A escolha da técnica para a visualização da impressão digital latente é de grande
importância, pois a escolha errada pode destruir a impressão inutilizando-a. A seguir são
brevemente discutidas algumas das principais técnicas para revelação desse tipo de impressões
digitais (LEE e GANESSLEN, 2001):
3.1.1 Técnica do pó
Em primeiro lugar existem vários tipos de pós, cada um empregado para situações
especificas. A escolha de um pó depende da superfície de contato, da umidade do local, das
condições climáticas e da experiência do perito. A técnica do pó é uma das mais utilizadas,
sendo indicada em casos onde a impressão se encontra em superfície lisa, não rugosa, não
adsorvente, seca e macia. O pó é aplicado com pincel macio, tomando-se o cuidado de utilizar
movimentos leves e suaves para não danificar a impressão (pode-se utilizar spray em aerossol).
Existem o pós fluorescentes, que são utilizados quando a impressão não se encontra em um
plano de fundo bem definido. Nesses casos, depois de aplicar o pó, a digital é submetida à luz
forense (ou ultravioleta) para tentar a visualização.
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3.1.2 Vapor de iodo
Essa técnica é utilizada em objetos pequenos como resultado da capacidade dos cristais
de iodo sublimarem para revelar a impressão, pois quando agitados o vapor de iodo fixa-se sobre
os componentes da impressão latente tornando-a visível. Uma desvantagem da técnica é sua
rápida degradação, por isso deve ser registrada fotograficamente para visualização posterior.
3.1.3 Ninidrina
Essa técnica apresenta bons resultados em superfície porosa como o papel. Aproveita a
afinidade da ninidrina com aminoácidos para produzir um produto de cor púrpura que revelará o
desenho da impressão.
A DFO (diazafluorenoma) é um análogo da ninidrina que após a dissolução da DFO
acrescida de freon, apresenta dez vezes mais capacidade de revelação da impressão em papel do
que a ninidrina. Sob calor intenso essa reação é acelerada.
3.1.4 Nitrato de prata
A técnica baseia-se na reação do nitrato com íons cloreto presentes na impressão
formando o cloreto de prata que, sob luz ultravioleta forma prata metálica revelando a impressão.
Deve-se fotografar a impressão, pois rapidamente toda a superfície escurecerá. Ótima técnica
para usar sobre papel, cartolina, plásticos e madeira (não envernizada e de cor clara).
3.1.5 Revelador físico
O revelador físico é à base de prata e da reação com as secreções da pele forma um
produto de cor cinza, muito eficaz em papel, cartolina e madeira (não envernizada e de cor
clara).
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3.1.6 Reagente de pequenas partículas
O dissulfeto de molibdênio (MoS2) apresenta-se em pó muito fino, capaz de aderir a
secreções como a gordura da pele, tornando visível a impressão. Como a reação não dura muito
tempo, devem ser registradas fotografias para análise posterior. Esse método é indicado para
superfícies lisas, não porosas e pode ser usado na superfície úmida.
3.1.7 Cianocrilato (vaporização com cola)
O cianocrilato é um tipo de adesivo (super bonder) que quando vaporizado, fixa a
umidade presente nas impressões latentes para dar forma a um polímero branco. Em seguida são
registradas fotografias para posterior análise. As impressões com visibilidade ruim podem ser
melhoradas com substâncias fluorescentes como o luminescent e ardox. Apresenta bons
resultados sobre superfícies não porosas e algumas porosas.
3.1.8 Amido Black
O negro de amido reage com as proteínas presentes no sangue dando origem a um
produto de cor azul-negro, e, portanto mostra-se ideal para revelação de impressões
contaminadas com sangue, vestígios de sangue e outras marcas de sangue. O negro de amido é
uma mistura de substâncias como amido preto, azul de naftol, ácido acético e metanol, mais
eficiente em superfícies não porosas, mas apresenta bons resultados em superfícies ligeiramente
porosas.
3.1.9 Pó para superfícies com face adesiva
É um pó muito fino que quando aplicado em superfícies claras adesivas, se fixa às
impressões digitais.
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3.1.10 Fluorocromos
São corantes especiais que se ligam na impressão e sob uma fonte de luz especifica
acabam revelando as impressões, útil em superfície porosa.
3.1.11 Pó Magnético
O pó magnético é um pó fino que é mantido por um aplicador magnético que pode ser
removido delicadamente da impressão digital.Essa técnica danifica menos a digital do que os
outros métodos, pois nenhuma cerda toca a superfície.
4. DISCUSSÃO
Garantir a reprodutibilidade dos resultados, especialmente quando se utilizam
seres humanos, pode ser difícil. No estudo em discussão, foi adotado um protocolo padrão para
tentar minimizar as variações e garantir a impressão latente o mais consistente possível pelos
doadores. Apesar disso, sempre ocorrem variações naturais, decorrentes, por exemplo, do estado
emocional, da temperatura ambiente ou do tipo de atividade durante o período de doação. Para
considerar o efeito da temperatura sobre a qualidade das impressões as notas (ou graus de
qualidade) dos três doadores e todos os cinco períodos de armazenamento foram combinados, de
acordo com a classificação proposta na metodologia (BOND, 2008).
4.1 Variação entre os doadores
Durante o intervalo de temperaturas e tempos examinados, certas tendências puderam
ser observadas. O doador 3 foi consistente e apresentou melhores impressões em todos os três
metais, sendo que o doador 1 foi bem melhor que o doador 2. O doador 3 também originou
recuperação razoável em alumínio.
Analisando os resultados individuais, os doadores 1 e 2 forneceram resultados pobres
com o latão em baixas temperaturas (180°C ou 200 °C) após 3 h de armazenamento, porém as
impressões tornaram-se mais destacadas em temperaturas mais altas (380 °C). O doador 3 obteve
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notas consistentemente boas em latão após 3 h de armazenamento. Da mesma forma, os
doadores 1 e 2 obtiveram notas baixas em alumínio na amostra armazenada por 3 dias, mas as
marcas digitais não foram reforçadas em temperatura mais elevada. Estes resultados são
consistentes com as observações de que as impressões latentes tendem a se degradar sob
temperaturas mais elevadas em alumínio. A baixa qualidade das impressões dos doadores 1 e 2
em latão após 3 h de armazenagem pode sugerir que uma lenta reação química está ocorrendo
como a corrosão, por exemplo.
4.2 Efeito do tempo de armazenamento
No caso do suporte de alumínio, observou-se um padrão irregular de qualidade das
impressões dos doadores 1 e 2 com o tempo, com uma ligeira queda no terceiro dia. Uma
explicação para esses resultados seria de que as secreções dos referidos doadores no dia 3
tenham sido significativamente diferentes das dos demais dias. O doador 3 forneceu impressões
consistentes em todos os períodos de armazenamento nos quais a temperatura foi inferior a 400
°C, embora os resultados tenham apresentado maior variabilidade entre 400°C e 600 °C. Assim,
concluiu-se que existe uma pequena dependência da qualidade das impressões com o tempo.
Para o latão, obteve-se também uma pequena variação, sugerindo que não há dependência com
tempo de armazenamento. O aço inoxidável seguiu esta mesma tendência. Essas observações
estão em bom acordo com os resultados de Bond (2008), revelando que a capacidade de
recuperar impressões ou seus fragmentos após certo período de tempo mostra-se como uma
vantagem útil da técnica, embora o estudo apenas tenha observado períodos decorridos de até 7
dias.
4.3 Efeito da temperatura
A temperatura mostrou ter um efeito dramático sobre a recuperação das digitais sobre o
alumínio, revelando claramente um declínio nas temperaturas acima de 280 °C. No caso dos
outros metais existe uma aparente discrepância entre 200 °C e 280 °C, e isso pode ser devido
às diferentes taxas de oxidação. Por outro lado, o aço inoxidável mostra um claro aumento
quando aquecido acima de 600 °C. Estes resultados são importantes se as impressões virem a ser
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recuperadas por meio de um processo de aquecimento, pois auxiliam a definir se as marcas
digitais são susceptíveis de serem recuperadas após um incêndio.
4.4 Efeito do reaquecimento após a recuperação inicial
No caso do reaquecimento das amostras, um resultado importante e curioso foi
observado: uma impressão pouco nítida pode às vezes ser melhorada por meio do aquecimento
adicional. No caso do alumínio, o reaquecimento do metal geralmente degradou a marca. Porém,
no caso do aço inoxidável na maioria dos casos houve reforço da impressão, apesar de ocorrer
degradação, por vezes, sob temperatura de 900 °C. Observou-se que a cor da superfície de aço
inoxidável mudou, contribuindo para um efeito de contraste e para uma melhor visualização das
impressões digitais e seus fragmentos. Com o latão, uma degradação evidente da marca e
posterior recuperação com maior temperatura foi por vezes observada.
4.5 O exame microscópico
Os discos foram examinados no microscópio e os cumes das impressões no latão
mostraram descoloração da superfície, que às vezes tinha aparência dendrítica, possivelmente
decorrência de ataque de cloretos, como proposto por Bond (2008). No entanto, notaram-se
regiões mais brilhantes vistas em torno dos cumes, que podem ser consequênciado crescimento
diferencial da camada de óxido.
O aço inoxidável apresentou semelhantes regiões mais brilhantes ao longo do padrão de
cristas, mas cumes não foram observados em nenhuma amostra. No caso do alumínio, não foram
notadas nenhuma corrosão e nenhuma mudança de superfície contínua ao longo dos cumes. O
cloreto é conhecido por causar corrosão em metais, mas pouca evidência foi visto além de
possível corrosão em latão.
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Figura. 2. (a) Alumínio, 3 h de armazenamento, 600 °C. Pequenos círculos luminosos
seguiam as linhas do cume que estavam incompletas. (b) Latão, 3 h de armazenamento, 600 °C.
Mostra a posição onde o sulco do dedo entrou em contato com o metal. Por essas marcações do
cume um número de buracos pode ser visto. (c) Aço inoxidável, armazenamento de 1 dia, 950
°C. Mostra contato dos cumes com pequenos círculos luminosos, mas não foram observados
buracos (WIGHTMAN e O’CONNOR, 2010).
4.6 Aquecimento de metal com produtos químicos de laboratório
Um disco de cobre e um disco de aço inoxidável foram aquecidos seqüencialmente a
750 °C. A 600 °C o aço inoxidável, produziu cores de interferência, já o latão permaneceu
dourado até 750 °C quando então tornou-se prateado, provavelmente devido à oxidação do zinco.
Em ambos os casos, um minucioso controle de impressões digitais foi desenvolvido durante o
processo de aquecimento da mesma forma como havia sido feito na outra série de testes. Bond
(2008) sugere que a corrosão causada pela presença do cloreto contribuiu para mudanças
térmicas das digitais.
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Nos estudos em discussão neste trabalho não foram observados produtos de corrosão
com solução de sal, exceto quando aquecido acima de 600 °C onde uma ligeira diferença de cor
foi observada em áreas que anteriormente tinham sido abrangidas pela solução, mas estavam
livres de cristais de sal. Da mesma forma, os cristais de sal anidro mostraram pouco efeito,
exceto para a corrosão de aço inoxidável limitada a quando aquecido a 750 °C. Em latão, 750 °C,
a área em torno dos cristais de sal ficou com coloração dourada enquanto o resto do latão tornou-
se prateado, porém nenhuma evidência de corrosão foi observada. Em contraste, foram
observados cumes nas digitais no latão.
Para investigar a hipótese alternativa se a redução de óxido poderia estar ocorrendo,
vários materiais orgânicos também foram aquecidos com as amostras de metal. Grafite e parafina
não mostraram nenhuma mudança óbvia em qualquer temperatura de cada metal. O ácido oléico
promoveu a descoloração do metal ao seu redor, possivelmente inibindo a taxa de formação de
óxidos, o que permitiu o desenvolvimento de cores de interferência. Em altas temperaturas, o
ácido oléico foi queimado do modo que a área descolorida continuou a ser a diferença na
aparência do resto do metal.
O efeito dos cristais de sal a 750 °C no latão e o efeito do ácido oleico em ambos latão e
aço inoxidável mostraram uma aparência similar ao efeito da reação química com vapores como
iodo ou sulfeto de amônio na superfície dos metais. No presente estudo, no entanto, pode ser que
os vapores tenham inibido o acesso ao oxigênio e, consequentemente, diminuindo a taxa de
oxidação. Teste adicionais são necessários para se caracterizar o mecanismo de oxidação.
Segue abaixo uma tabela comparativa dos resultados.
Parâmetro Investigado Resultado
Tempo de armazenamento A capacidade de recuperar impressões ou seus
fragmentos após certo período de tempo
mostra-se como uma vantagem útil da técnica,
Efeito da temperatura A temperatura mostrou ter um efeito drástico
sobre a recuperação das digitais acima de
280°C para o aluminio de entre 200°C e 280°C
para os outros metais.
Reaquecimento após recuperação inicial Na maioria dos casos de reaquecimento houve
reforço da impressão, apesar de ocorrer
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degradação, por vezes, sob temperatura de
900 °C.
Aquecimento com reagentes A corrosão causada pela presença do cloreto
contribuiu para mudanças térmicas das
digitais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em uma cena de crime, algumas impressões digitais latentes podem ser encontradas em
superfícies metálicas como: cápsulas de projeteis, estrutura metálica dos carros, armas de fogo.
Alguns métodos tradicionais para revelar essas impressões latentes como o método do pó e o de
vapor de cianoacrilato têm sido rotineiramente empregados pelos peritos técnicos em
papiloscopia. Contudo, esses procedimentos muitas vezes tornam-se destrutivos e trazem
limitações ao processo de revelação das impressões. Nesse contexto o aperfeiçoamento das
técnicas para a recuperação de impressões digitais latentes em superfícies metálicas tem provado
ser uma área de pesquisa muito promissora. Alguns dos mecanismos alternativos para a
visualização dessas impressões digitais baseam-se na elevação da temperatura, na oxidação e na
produção de cores de interferência que melhora o contraste da impressão digital na amostra.
A técnica de visualização térmica de impressões digitais em suportes metálicos foi
discutida neste artigo. Comparada às técnicas tradicionais, essa nova metodologia mostrou
representar um grande avanço, uma vez que foi constatado que as amostras ao serem aquecidas a
altas temperaturas podem ter as impressões latentes recuperadas. Foi observado ainda que,
dependendo da natureza da superfície metálica, podem-se formar cores devido à produção de
uma camada de óxido. Contudo, os materiais coletados na cena de crime enviados à perícia
devem ser analisados de acordo com um protocolo padrão, para que não ocorra a degradação
permanente das impressões latentes devido à oxidação sob alta temperatura. Finalmente,
impressões digitais tratadas em baixa temperatura podem ser reaquecidas para melhorar a
recuperação e a revelação das impressões, porém devem ser observados os limite de temperatura,
para cada tipo de superfície metálica, para que se evite a degradação da marcas.
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