TECNOLOGIA SOCIAL: BALIZAS PARA REPENSAR ENSINO … · perspectiva devem ser repensadas as...

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1 TECNOLOGIA SOCIAL: BALIZAS PARA REPENSAR ENSINO PESQUISA E EXTENSÃO EDSON JACINSKI 1 ADRIANE MANFRON VAZ 2 CINTIA AZEVEDO GONÇALVES 3 DANISLEI BERTONI 4 JEFERSON JOSÉ GOMES 5 KATYA CRISTINA DE LIMA PICANÇO 6 NATALIA DE LIMA BUENO 7 TALÍCIA DO CARMO GALAN KUHN 8 Resumo: Este artigo, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa e Estudos Interdisciplinares Tecnologia e Sociedade (GPEI/UTFPR Câmpus Ponta Grossa), pretende aprofundar alguns aspectos conceituais e metodológicos da Tecnologia Social (TS) enquanto possibilidade de desenvolver ações que possam redefinir atividades de ensino, pesquisa e extensão no âmbito da Educação Científica e Tecnológica. Um primeiro aspecto a ressaltar é que a TS demanda repensar a inovação científica e tecnológica em termos que busquem superar concepções deterministas, neutras e lineares das relações entre Tecnologia e Sociedade. Nesse sentido, a TS se diferencia das Tecnologias convencionais seja pelo seu compromisso com a transformação social e também pela sua articulação com relações econômicas pautadas pela inclusão social, sustentabilidade e democracia sociotécnica. Tais parâmetros exigem enfrentar desafios teóricos e metodológicos que possibilitem: a interação e participação dos atores envolvidos (comunidade acadêmica, movimentos sociais, grupos sociais locais) na construção das tecnologias sociais; trabalho coletivo interdisciplinar; indissociabilidade das relações ensino pesquisa e extensão; resgate da função social da Universidade em termos inclusivos, sustentáveis e dialógicos; inclusão social articulada com cidadania sociotécnica e economia solidária. As ações de ensino, pesquisa e extensão do GPEI têm se efetivado a partir da inserção e atuação do grupo no contexto da UTFPR. Palavras-chave: Tecnologia Social;ensino pesquisa extensão 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa Assessoria de Assuntos Estudantis /, Brasil. E-mail:[email protected] 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa / Assessoria de Assuntos Estudantis, Brasil. E-mail: [email protected] 4 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E- mail:[email protected] 5 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Eletronica, Brasil. E- mail:[email protected] 6 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E- mail:[email protected] 7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-mail:. E-mail: [email protected] 8 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E- mail:[email protected]

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TECNOLOGIA SOCIAL: BALIZAS PARA REPENSAR ENSINO PESQUISA E

EXTENSÃO EDSON JACINSKI

1

ADRIANE MANFRON VAZ2

CINTIA AZEVEDO GONÇALVES3

DANISLEI BERTONI4

JEFERSON JOSÉ GOMES5

KATYA CRISTINA DE LIMA PICANÇO6

NATALIA DE LIMA BUENO7

TALÍCIA DO CARMO GALAN KUHN8

Resumo: Este artigo, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa e Estudos Interdisciplinares

Tecnologia e Sociedade (GPEI/UTFPR Câmpus Ponta Grossa), pretende aprofundar alguns

aspectos conceituais e metodológicos da Tecnologia Social (TS) enquanto possibilidade de

desenvolver ações que possam redefinir atividades de ensino, pesquisa e extensão no âmbito

da Educação Científica e Tecnológica. Um primeiro aspecto a ressaltar é que a TS demanda

repensar a inovação científica e tecnológica em termos que busquem superar concepções

deterministas, neutras e lineares das relações entre Tecnologia e Sociedade. Nesse sentido, a

TS se diferencia das Tecnologias convencionais seja pelo seu compromisso com a

transformação social e também pela sua articulação com relações econômicas pautadas pela

inclusão social, sustentabilidade e democracia sociotécnica. Tais parâmetros exigem enfrentar

desafios teóricos e metodológicos que possibilitem: a interação e participação dos atores

envolvidos (comunidade acadêmica, movimentos sociais, grupos sociais locais) na construção

das tecnologias sociais; trabalho coletivo interdisciplinar; indissociabilidade das relações

ensino pesquisa e extensão; resgate da função social da Universidade em termos inclusivos,

sustentáveis e dialógicos; inclusão social articulada com cidadania sociotécnica e economia

solidária. As ações de ensino, pesquisa e extensão do GPEI têm se efetivado a partir da

inserção e atuação do grupo no contexto da UTFPR.

Palavras-chave: Tecnologia Social;ensino pesquisa extensão

1Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-mail:

[email protected] 2Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa Assessoria de Assuntos Estudantis /,

Brasil. E-mail:[email protected] 3Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa / Assessoria de Assuntos Estudantis,

Brasil. E-mail: [email protected] 4Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-

mail:[email protected] 5Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Eletronica, Brasil. E-

mail:[email protected] 6Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-

mail:[email protected] 7Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-mail:.

E-mail: [email protected] 8Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Ponta Grossa /Departamento de Ensino, Brasil. E-

mail:[email protected]

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INTRODUÇÃO

As tecnologias exercem um papel central e ao mesmo tempo dilemáticonos processos

de transformação social. Odesenvolvimento tecnológico, muito comumente associado

linearmente ao bem estar social, nem sempre remete a desenvolvimento social, como

demonstram estudos filosóficos,históricos e sociológicos da Tecnologia. A lógica da

economia de mercado tem outras prioridades e, muitas vezes contribui para precarizar ainda

mais as condições sociais e ambientais, gerando (novas) assimetrias, exclusões e

insustentabilidades.

Na América Latina, a Universidade Pública tem sido um dos principais espaços de

inovação científica e tecnológica. Contudo, o que se observa é a predominância de um modelo

de inovação em que predominam perspectivas neutras, lineares e deterministas nas relações

entre inovação científica e tecnológica e desenvolvimento social e econômico:

La acumulación económica inicial generaría “naturalmente” la distribución de la

renta y con ella la inclusión de los excluidos, y el desarrollo de los subdesarrollados.

Una versión más neo-schumpeteriana de la teoría del derrame incorporó, en los

últimos años, la idea de la innovación como motor de esa acumulación: las

innovaciones generarían rentas extraordinarias, mediante la inserción de nuestra

producción en fluidos mercados globalizados.(Thomas,2011, p.2)

Se tal perspectiva coloca em questão o modelo tecnocrático e linear de inovação

tecnológica,por outro lado, não se pode prescindir da necessidade de uma participação social

que dialogue com os conhecimentos científicos e tecnológicos.

Há, portanto, a necessidade de construir um novo cenário que amplie e democratize a

participação dos atores sociais locais e regionais que podem participar de processos de

inovação e desenvolvimento tecnológico voltados para a inclusão social e sustentabilidade.

No entanto, é necessário trabalhar com um aparato sociocognitivo e metodológico que

busque superar as perspectivas ofertistas,lineares, deterministas e neutras das relações entre

Tecnologia e Sociedade.

A Universidade, como mencionado acima, tem sido um dos atores que pode contribuir

significativa na superação de tais perspectivas e propiciar outras formas mais dialógicas,

democráticas e sustentáveis. Há, contudo, importantes desafios que necessitam ser superados:

desenvolvimento de uma perspectiva teórico-metodológica interdisciplinar das relações entre

Ciência Tecnologia e Sociedade; resgate da função social da Universidade em termos

inclusivos, sustentáveis e que propiciem o protagonismo e a participação da comunidade,

movimentos sociais, na construção de soluções sociotécnicas e democráticas; projetos

pautados pela indissociabilidade ensino pesquisa e extensão alimentados em processos

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dialógicos de parceria e cooperação com a comunidade. Questiona-se qual modelo de

universidade pública estamos construindo? Que dialogue com a tecnologia, mas que,

sobremaneira questione qual tecnologia pretende-se desenvolver, que seja mais inclusiva ou

exclusiva subserviente ao capital ou socialmente e ambientalmente correta? É preciso levantar

os aspectos fundamentais que devem sustentar uma universidade democrática e pública,

portanto, a serviço de quem e do quê desenvolve-se tecnologia na universidade? Trata-se de

evidenciar, em primeiro momento qual é a função social da universidade pública.

O GPEI (Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares Tecnologia e Sociedade)9 se

inscreve dentro desse cenário e sua criação em 2012 remonta à compreensão inicial de se

buscar construir, via integração entre ensino pesquisa e extensão, outros modelos de relações

entre Tecnologia e Sociedade.O GPEIao longo da sua trajetória tem buscado estabelecer a

discussão acerca da tecnologia social e o protagonismo das comunidades e no interior da

universidade. As ações desenvolvidas desde a fundação do grupo em 2012 corroboram esse

empenho contínuo. Em outros termos, consideramos que a Tecnologia Social(TS) pode ser

um significativo caminho para a construção de práticas interdisciplinares, dialógicas,

sociotecnicas que redimensionem o papel da Universidade pública enquanto ator sintonizado

e em diálogo e cooperação permanente com as demandas sociais emergentes

Nesse artigo desenvolvemos, a partir de um processo de revisão bibliográfica e

reflexão coletiva e interdisciplinar, a construção de algumas balizas teóricas e metodológicas

que consideramos necessárias para avançar no processo de democratização do conhecimento

científico e tecnológico pela via da construção cidadã e socialmente referenciada das

Tecnologias Sociais.

TECNOLOGIA SOCIAL E TECNOLOGIA CONVENCIONAL

Além da supervalorização da ciência e da tecnologia e da crença na eficiência de que

podem resolver todos os problemas sociais/ambientais e as questões éticas e sociopolíticas da

humanidade, o mito da neutralidade científica contribui para assegurar a negação do seu

caráter cultural (FOUREZ, 1995; JAPIASSU, 1999), prevalecendo a permanência da noção

hegemônica de que ciência e tecnologia são produtos de cientistas que assumem uma postura

nula de valores, contribuindo para a manutenção do poder de uma classe social sobre a outra,

assegurando ao cientificismo uma função ideológica de dominação (HABERMAS, 1983).

9Blog do GPEI: http://gpeitecnologiaesociedade.blogspot.com.br/p/seminarios-tematicos.html

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Na concepção linear de progresso, ciência e tecnologia conduzirão a “soluções

apropriadas”, resolvendo os problemas hoje existentes na humanidade e promovendo o bem-

estar social, sinônimo de um modo de vida mais fácil. Essa é a ideia principal, além do

retorno de capital, que o desenvolvimento científico gera desenvolvimento tecnológico, este

gerando o desenvolvimento econômico que determina, por sua vez, o desenvolvimento ou

bem-estar social (LUJÁN LOPES et al, 1996).

Novaes e Dagnino (2004) confirmam que, para Rubem Alves, o advento da tecnologia

não é a simples aplicação prática de conhecimentos teóricos, ou da redução da tecnologia à

dimensão de ciência aplicada como se, de repente, ohomem tivesse descoberto a forma de

transformar em máquinas os conhecimentos armazenados, que os objetivos do sistema não

são os produtos criados por ele, mas o bom andamento do sistema em si mesmo. Para esses

autores, a única forma de analisar a tecnologia é enquanto sistema, justamente porque não se

pode separar a natureza da tecnologia de seu uso.

Essa é a base em que se assenta o conceito de tecnologia convencional, da ilusória e

extraordinária capacidade de a tecnologia moderna dar conta dos problemas enfrentados pela

sociedade. Nos tempos modernos, a lógica de que a ciência e a tecnologia são vistas como

solucionadoras dos problemas humanos está atrelada a ideia de que são as necessidades do

funcionamento do sistema econômico que irão criar as “falsas necessidades” de consumo ao

invés de as necessidades humanas definirem as necessidades de produção.

Diferentemente da Tecnologia Convencional, a Tecnologia Social presume a

participação, o empoderamento e a autogestão pelos usuários, sendo coletiva a propriedade

dos meios de produção. Ela não nega a eficácia do saber técnico, mas critica sua hegemonia e

evidencia o saber tácito, o conhecimento empírico do cidadão comum. E mais, sob esta

perspectiva devem ser repensadas as tecnologias contextualizadas ou apropriadas às

condições locais. Para Oliveira e outros (2011),

uma das principais características das tecnologias não convencionais (intermediárias,

apropriadas, alternativas e sociais) é a valorização do local, dos saberes e da cultura

local como base de desenvolvimento ou adequação das soluções tecnológicas. Para

isso, é necessária uma nova postura pedagógica para absorver os aprendizados,

observando e estudando, sem preconceitos, os métodos e as práticas desenvolvidas

pelas populações locais (OLIVEIRA et al, 2011, p. 87).

Segundo Dagnino (2010), a proposta da adequação sociotécnica se insere no contexto

da tecnologia social, cujo enfoque na construção social da tecnologia seria uma importante

ferramenta para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e ambientalmente

sustentável diferindo, assim, das concepções de neutralidade da ciência e do determinismo

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tecnológico sustentadas na lógica da tecnologia convencional. A adequação sociotécnica é

entendida por Dagnino, Brandão e Novaes (2004) como uma das formas de adaptar as

tecnologias convencionais para essas novas organizações solidárias.

Mas como distinguir a tecnologia social da tecnologia convencional ou como saber de

fato se uma tecnologia se caracteriza como social? O ponto de partida é aparentemente

simples: a tecnologia convencional é excludente enquanto a tecnologia social é inclusiva.

Nesses termos, a tecnologia social se caracteriza como construções sociais complexas e se

destaca pelas soluções técnicas e metodológicas que desenvolvam e promovam transformação

social, sempre com a participação da comunidade.

Nesse sentido, Garcia (2007) apresenta propriedades que perpassam profundamente

toda e qualquer tecnologia social e que não podem faltar para algum programa, atividade ou

experiência constituir uma tecnologia social. O autor destaca como dimensões essenciais das

tecnologias sociais: a) conhecimento, ciência, tecnologia e inovação; b) participação,

cidadania, democracia; c) educação; d) relevância social.

No Brasil é a Rede de Tecnologia Social (RTS) que mais está sintonizada e

comprometida na produção desse novo cenário. Um dos seus pilares é a aliança entre

diferentes atores (movimentos sociais, incubadoras da Economia Solidária, Universidades,

engenheiros, cientistas, escolas, comunidades, etc) na busca de dimensionar e equacionar

problemas emergentes nas áreas de saúde, alimentação, saneamento, educação, informação,

etc. Nesse sentido, ela se apresenta com um enorme potencial de transformação social e de

empoderamento dos cidadãos e grupos sociais envolvidos em problemas sociotécnicos.

Em outros termos, se as relações entre Tecnologia e Sociedade podem ser pautadas por

critérios mais cooperativos, dialógicos, inclusivos e democráticos podemos afirmar que esse

modelo remete também ao exercício da cidadania sociotécnica(THOMAS, 2009).

Evidentemente tal cidadania necessita ser construída em outros cenários que apontem para a

superação das perspectivas lineares, neutras e tecnocráticas no quais hegemonicamente tem se

pautado os processos de inovação científica e tecnológica, bem como os modelos decisórios

envolvendo Ciência Tecnologia e Sociedade. Além disso, trata-se de um cenário voltado para

a ênfase na valorização dos saberes tácitos, conhecimentos tradicionais, usos sociais dos

conhecimentos tecnocientíficos em que se reafirma o protagonismo dos atores sociais na

construção de soluções sociotécnicas sustentáveis e inclusivas. Como afirma THOMAS: “As

TSs são, nesse sentido, uma das expressões mais claras desse direito do cidadão; são, ao

mesmo tempo, a melhor via para o exercício desse direito, a forma mais democrática de

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projetar, desenvolver, produzir, implementar, administrar e avaliar a matriz material do nosso

futuro” ( 2009, p.76).

INTERAÇÕES COMUNIDADE E UNIVERSIDADE

A construção da uma proposta de Tecnologia Social no âmbito das universidades

públicas envolve a compreensão do papeldos envolvidos – comunidade e universidade e do

cenário em que essa tecnologia pode se desenvolver.

Há que se considerar em primeiro lugar, quando se trata da operacionalização de

projetos interdisciplinares e que envolvama Tecnologia Social, o papel da comunidade para

quem se voltam esses projetos.

A comunidade não deve ser entendida comoum elemento idealizado, quando se trata

da relação universidade e sociedade, tampouco como campo de experimentação ou objeto de

estudo. Não pode ser ideada, como um espaço em que as contradições não são visíveis com

tudo que a cerca: marginalização, estigmatização,violência simbólica e física. Não pode ser

entendida somente como objeto de pesquisa resultante também de uma ação comum das

Ciências Humanas e Sociais. Nesse sentido, Freire (1997) problematiza estender um

conhecimento para quem pouco sabe do saber científico:isso é invasão cultural e não há

dialogicidade com essa perspectiva de repasse de um saber para outrem. Essa ação comum

coloca comunidades, grupos sociais, classes sociais e etnias como receptores de iniciativas

universitárias “salvadoras” de sua condição social. Trata-se de pensar uma ação em comum

acordo e diálogo permanente com a comunidade, não um saber acima de outro saber, mas

uma aproximação dialógica e concreta.

Diferentemente, a proposta de tecnologia social defendida pelo GPEI, é aquela

queentende as comunidades envolvidas comoprotagonistas nas propostas e na mobilização

para a solução dos problemas que os cercam. Isto porque osdestinos dos que se propõem a

estabelecer uma parceria,passa ser o motivador da presença dos setores envolvidos-

comunidade e universidade. A universidade, através de seus sujeitos, aproxima o saber

científico do saber tácito, daquele que vivencia a realidade concreta da vida.

Isto porque a assunção da concepção-desenvolvimento e produção da tecnologia social

tem que ser entendida como uma ação social que se diferencia do assistencialismo, e que tem

comointenção inicial romper com a lógica de produção e consumo da tecnologia

convencional, assim com romper com a idéia do indivíduo como receptáculo ou consumidor

da tecnologia.Este fator accional significa uma parceria estabelecida na troca de informações

e experiências e saberes, que de fato interrompam o padrão convencional. Somente uma

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relação de igualdade entre comunidade e universidade permite romper com esses padrões. Dai

é necessário uma concepçãode comunidade como protagonistano que diz respeito a produção

da Tecnologia Social. Isto envolve uma comunidade ativa na construção de saídas aos

processos de pauperização e de marginalização e estigmatização social que se intensificam no

cenário globalizado e, exigem uma ação constante frente a situações desfavoráveis tais como

acesso limitadoà infra-estrutura básica, escola, conhecimento, cultura e lazer, entre outros.

Entenderesse protagonismo faz parte de um processo de mobilização e de ação

política, tecnológica e cultural, que irrompe tanto a marginalização como, também a relação

de subalternidade, com as instituições que possam desenvolver ações junto dessa

comunidades. A apropriação do conhecimento, no processo de decisões e posteriormente

desenvolvimento e aplicação da tecnologia social, e a interação resultante desta mobilização,

recria o papel da comunidade no sentido de uma ação política permanente.

Quando a universidade se volta para essa proposta, construída a partir de uma

concepção deigualdade na troca de experiências, interrompe a produção do saber e da

tecnologia nos moldes convencionais:a hierarquização do conhecimento, sua neutralidade e

sua apropriação a partir dos critérios da Ciência moderna clássica e da produção e do

consumo da tecnologia voltada ao mercado. Estamos ressaltando aqui a necessidade de

seadotar a perspectiva de universidade democrática, plural, igualitária e inclusiva.

Cria-se um sentido de crítica e reflexão quando grupos internos à universidade

rompem com esses padrões de concepção e de desenvolvimento social que são

ideologicamente dominantes. As ponderações teóricas na construção do saber e de ações, que

podemnos mesmos marcos do protagonismo da comunidade, serem entendidos como uma

mobilização permanente destes grupos internos à universidade. Ações tais como seminários,

questionamentos, acúmulos e experiências formativas que visem organizara universidade,

com o intuito deromper com a concepção convencional e dominante de ciência e de produção

da tecnologia.

A desconstrução da concepção convencionalda ciênciae da tecnologia, como

compreendida pela prática do GEPEI, envolve o estabelecimento de um diálogo entre os

saberes e de parcerias horizontais na sua concretização. As soluções dos problemas que

atingem as sociedades neste século XXI, como o desemprego, a crise ambiental, crise

econômica, entre outros envolvem tanto o rompimento com a convenção científica e

tecnológica, como com uma cisão com a forma tradicional de a universidade construir sua

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relação com a sociedade em geral e as comunidades em particular. Mas para tal, a formação

deve ser constante e pensada na forma de diálogo.

A INTERDISCIPLINARIDADE E A INTERAÇÃO ENSINO PESQUISA E

EXTENSÃO

A interdisciplinaridade, ao contrário de uma perspectiva neutra e linear ofertista das

relações entre Ciência Tecnologia e sociedade na qual a sociedade e as comunidades

continuam na posição passiva de consumidores, corresponde a esse esforço de romper com a

produção de conhecimento e da tecnologia compartimentados, voltados para o mercado e

possibilita um esforço permanente de diálogo e mobilização na produção do saberes.Tendo

em vista a perspectiva do desenvolvimento da tecnologia social enunciado acima, o

principiodaindissociabilidade entre ensino pesquisa extensão, deve ser considerado nos

marcos da acionalidade, do protagonismo e da mobilização no estabelecimento de parcerias.

O panorama da globalização intensifica tanto os problemas como a participação de

comunidades nas resoluções dos problemas que as atingem. Desta forma, a indissociabilidade

nos moldes tradicionais, quereforçam um papel subalternodas comunidades precisa ser

repensado.

A separação universidades-comunidades, características da história de organização das

universidades brasileiras, não permitiu que a academia produzisse um conhecimento

autônomo, haja vista, que somente a partir da LDB 9394/96 a universidade brasileira assume

a premissa da educação democrática. Ao contrário, reforçou a implantação do tecnicismo

como justificativa para a produção científica, ao mesmo tempo em que se fechouno limites da

perspectiva ofertista linear e reprodutivista da tecnologia. Além disso, a universidade como

produtora de mão de obra, estabeleceu no tecnicismo os limites da sua ação dificultando

asparcerias com a sociedade e ascomunidades. Tal dicotomizaçãoda relações entre Tecnologia

e Sociedade acentuou o isolamento da universidade frente as comunidades, reiterando uma

perspectiva conservadora, ofertista-linear e submissas ao mercado globalizante em iniciativas

pretensamente inovadoras como a inserção do empreendendorismo no ensino pesquisa e

extensão.

O GPEI, ao assumir a interdisciplinaridade como práticateórica-metodológica, passou

a reconhecer naTecnologia Social, um mote de pesquisa e uma forma de superação desse

isolamento das universidades, sobretudo ao se trabalhar exogenamente numa universidade de

caráter historicamente tecnicista-tecnológico. Essa superação não visa uma aproximação com

setores populares tidos como objetos de pesquisa, ou como recebedores do conhecimento

9

universitário. Essa superação deve ocorrer, enquanto proposta de ação e de aprimoramento da

prática interdisciplinar, estabelecendo as parcerias, horizontalizadas com as comunidades.

Além do relacionamento com a comunidade, este deve ser pautado na idéia de protagonismo

na solução dos problemas, com a comunidade e não para a comunidade.

A prática interdisciplinar, nesse contexto, impele para a indissociabilidade numa

perspectiva dialógica e interativa,para além da unicidade entre ensino pesquisa e extensão

estabelecidosatualmente. Envolve uma unidade entre o fazer pesquisa, a formação e a parceria

e o protagonismocomo formademocrática e equânime de se fazer ciência e tecnologia.Cabe

lembrar com isso que “somente uma escola centrada democraticamente no seu educando e na

sua comunidade local, vivendo as suas circunstâncias, integrada com os seus problemas,

levará os seus estudantes a uma nova postura diante dos problemas de seu contexto”

(FREIRE,2014). Antonio Alberto Machado aponta que a Universidade não deve ser apenas

gratuita, mas sim, pública, que atenda aos anseios da sociedade e ao bem público. Posto que a

Universidade Pública deve estar sempre “voltada para a busca das finalidades sociais ou

coletivas, que interesse a toda a sociedade e não apenas a algumas de suas parcelas”

(MACHADO, 2009, p. 73).

Desse modo, o GPEI adota a interdisciplinariedade, comouma forma de reflexão que

rompe com essa tradição: saberes encapsulados nas disciplinas, sem diálogos e sem

perspectivas analíticas mais totalizantes.

Como trabalhar de modo interdisciplinar? Segundo BICUDO:

sempre é preciso ter um tema como norte da investigação. Um tema

suficientemente abrangente, cujas abordagens não cabem nos limites de uma

disciplina, forçando seus limites e não se adequando aos seus métodos.

Entretanto, o rigor inerente aos procedimentos científicos deve ser

observado, de maneira que os pesquisadores não se apropriem

indevidamente, sem um estudo cauteloso efetuado com o apoio de

pesquisadores das disciplinas interligadas, das investigações e respectivos

resultados ou discussões expostas no bojo dessas disciplinas. (2008, p.145)

A Tecnologia Social na medida em que é desenvolvida num processo de construção

coletiva demanda um trabalho coletivo interdisciplinar em que os problemas e o desenho de

soluções sejam pensados e desenvolvidos para além das fronteiras disciplinares.Um exemplo

é apresentado no artigo de Domingos et al.(2014) que mostra as interações interdisciplinares

entre as áreas de Design, Engenharia de Materiais e Ciências e Sociais em cooperação com a

comunidade de artesãos. Esse trabalho coletivo interdisciplinar e dialógico foi necessário para

oreaproveitamento do caule e cascas de bananeiras para o feitio de artesanato, buscando um

melhor aproveitamento do caule e casca da bananeira.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O caminho para construir essa formulação ainda nãose esgotou. O GEPEI, ao longo da

sua trajetória tem buscado estabelecer a discussão acerca da tecnologia social e o

protagonismo das comunidades e no interior da universidade. As ações desenvolvidas desde a

fundação do grupo em 2012 corroboram esse empenho contínuo.

A trajetória do grupo teve início durante a greve dos docentes das instituições federais

em 2012. O primeiro seminário realizado durante a greve,que envolveu docentes e técnicos

administrativos foi desenvolvido em parceria com o Comando de greve. O tema principal

sobre o papel da Universidade Tecnológica, permitiu colocar em questão papel da Ciência

clássica, considerando os referenciais dos EstudosCTS. Ainda nessa greve, houve a

participação de integrantes do grupo num primeiro projeto de pesquisa de caráter

interdisciplinar e temática sociotécnica para concorrer ao edital Programa de Educação

Tutorial - PET 201210

/.

O Grupo desenvolve suas atividades por meio de debates e eventos11

acadêmicos

abertos a comunidade acadêmica, além do esforço de articulação,seja com os cursos de

Engenharia e Licenciatura da UTFPR, bem como, com outros coletivos de pesquisa

relacionados ao campo dos Estudos Sociais de Ciência Tecnologia e Sociedade12

. As

principais temáticas debatidas são: Crise das Ciências, Interdisciplinaridade, Tecnologia

Social, Estudos de Gênero e Tecnologia. Além disso, os pesquisadores desenvolvem projetos

de ensino, pesquisa e extensão cujas temáticas traduzem metodologias e ações que repercutem

nas atividades institucionais e promovem diálogos e parcerias com atores locais que

contribuem para processos sociais e tecnológicos mais participativos, sustentáveis e

democráticos.

Neste primeiro semestre de 2016, os seminários abertos à comunidade universitária

têm concentrado esforços no sentido de tornar pública a discussão sobre a relevância do

desenvolvimento da Tecnologia social na Universidade. Trata-se de uma atividade que busca 10

O projeto não obteve a pontuação necessária para ser aceito, mas foi uma experiência multidisciplinar do

grupo, pois envolveu professores de Engenharia Mecânica, Engenharia da Produção, Engenharia Eletrônica,

Engenharia Química, Filosofia e Sociologia. 11

Entre outros: I Seminário Interdisciplinar Ciência Tecnologiae Sociedade em parceria com o Grupo de

Pesquisa Discursos sobre Ciência e Tecnologia -DICITE – da Universidade Federal de Santa Catarina;I Encontro

de Tecnologia Social, Ciências, Educação: Diálogos interdisciplinaresrepresentantes institucionais da direção

geral (25/09/2015) realizado em parceria com a Incubadora de Economia Solidária –IESOL - da Universidade

Estadual de Ponta Grossa 12

Grupo de Pesquisa Discursos sobre Ciência e Tecnologia –DICITE/UFSC ; Associação Brasileira dos Estudos

Sociais das Ciências e das Tecnologias; Incubadora de Economia Solidária –IESOL - da Universidade Estadual

de Ponta Grossa

11

desnaturalizar as perspectivas predominantemente disciplinares, tecnicistas, neutras e lineares

das relações entre Ciência Tecnologia e Sociedade e ao mesmo tempo apontar para as

possibilidades que envolvam diálogos com as demandas sociotecnicas emergentes, atualmente

focando nas Tecnologias sociais.

Outra atividade de grande relevância são os projetos de ensino pesquisa e extensão

desenvolvidos pelos pesquisadores do grupo. Em especial mencionamos o projeto de extensão

“ETEC: educação, tecnologia social e função social das Ciências”, que começou a ser

implementado nesse semestre. Tem por objetivo „desenvolver um trabalho de formação, ação

e acompanhamento contínuos nas áreas de Tecnologia social, metodologia em educação

popular, função social das ciências naturais junto aos grupos populares de Economia Solidária

e com a participação de estudantes de cursos de Licenciatura na Região de Ponta Grossa

colaborando com a construção de uma educação mais solidária, igualitária e democrática‟.Tal

projeto conta com a participação e colaboração de boa parte dos integrantes do GPEI, bem

como, é desenvolvido em parceria com a Incubadora de Empreendimentos Solidários

(IESOL) da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Trata-se de um projeto que possibilitaa

interação e articulação com grupos sociais incubados na IESOL no sentido de dialogar sobre

as demandas sociais e contribuir para a construção coletiva e cooperativa de Tecnologias

Sociais.

Com isso trata-se de pensar que a relação tecnologia social, interdisciplinaridade e

universidade pública precisa caminhar no sentido de trazer, sobretudo benefícios à

comunidade local, para assim responder ao que, de fato, seja a função social da universidade.

Portanto, seus projetos precisam questionar o modelo tradicional e linear de desenvolver

tecnologia e o caráter educativo e científico reprodutivistainerente aos espaços acadêmicos. É

o que o grupo GEPEI vem buscando desenvolver nesse tempo histórico.

REFERÊNCIAS

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