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    ASTECNOLOGIAS

    DAINTELIGNCIA

    O Futuro do Pensamento na Era da Informtica

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    AS TECNOLOGIAS DA INTELIGNCIA

    O Futuro do Pensamento na Era da InformticaTraduoCarlos Irineu da Costa

    Um dos principais agentes de transformao das sociedades atuais a tcnica. Ou melhor, astcnicas, sob suas diferentes formas, com seus usos diversos, e todas as implicaes que elas tmsobre o nosso cotidiano e nossas atividades. Por trs daquilo que bvio, estas tcnicas trazem

    consigo outras modificaes menos perceptveis, mas bastante pervarsivas: alteraes em nossomeio de conhecer o mundo, na forma de representar este conhecimento, e na transmisso destasrepresentaes atravs da linguagem.

    Dentre a grande quantidade de tcnicas existentes, Lvy decidiu privilegiar, nesta anlise, astcnicas de transmisso e de tratamento das mensagens, uma vez que so as que transformam osritmos e modalidades da comunicao de forma mais direta, contribuindo para redefinir asorganizaes.

    Em um momento dado, a significao e o papel de uma configurao tcnica no podem ser

    separados de um projeto social mais ample que move esta configurao. importante tambmcompreender o estgio atual da tcnicas como resultado de uma srie de disputas entre os diversosatores sociais, de projetos rivais constantemente em choque, de novas descobertas imprevistas que

    podem alterar radicalmente o uso, e portanto o sentido e o destino de um dado objeto tcnico.Uma certa configurao de tecnologias intelectuais em um dado momento abre certos

    campos de possibilidades (e no outros) a uma cultura. Quais possibilidades? O que a tcnica, ecomo influencia os diferentes aspectos de nossa sociedade? Em que medida de indivduos ou

    projetos singulares conseguem alterar os usos e sentidos da tcnica? A tcnica necessariamenteracional e utilitria?Lvy prope aqui o fim dapretensa oposio entre o homem e a mquina .Ataca tambm o

    mito da tcnica neutra, nem boa, nem m. Mostra como ela est sempre associada a um contextosocial mais amplo, em parte determinando este contexto mas tambm sendo determinada por ele.Desta forma, a tcnica torna-se apenas uma dimenso a mais, uma parte do conjunto do jogocoletivo, aquela na qual desenham-se as conexes fsicas do mundo humano com o universo.

    Nosso propsito consiste antes de mais nada em designar as tecnologias intelectuais como

    um terreno poltico fundamental, como lugar e questo de conflitos, de interpretaes divergentes.Pois ao redor dos equipamentos coletivos da percepo, do pensamento e da comunicao que seorganiza em grande parte a vida da cidade no quotidiano e que se agenciam as subjetividades dosgrupos.

    As mudanas esto ocorrendo em toda parte, ao redor de ns, mas tambm em nosso interior,em nossa forma de representar o mundo. urgente que nos equipemos com ferramentas para poder

    pensar estas mudanas, avali-las, discut-las em suma, particular ativamente da construo de

    nossos destinos. E este livro uma importante ferramenta. Carlos Irineu da Costa

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    AS TECNOLOGIAS DA INTELIGNCIAO Futuro do Pensamento na Era da Informtica

    IntroduoFace Tcnica

    IA METFORA DO HIPERTEXTO1. Imagens do Sentido2. O Hipertexto

    3.

    Sobre a Tcnica Enquanto Hipertexto - O Computador Pessoal4. Sobre a Tcnica Enquanto Hipertexto A Poltica das Interfaces5. O Groupware6. A metfora do Hipertexto

    IIOS TRS TEMPOS DO ESPRITO:

    A ORALIDADE PRIMRIA, A ESCRITA E A INFORMTICA

    7. Palavra e Memria8. A Escrita e a Histria9. A Rede Digital10. O Tempo Real11. O Esquecimento

    IIIRUMO UMA ECOLOGIA COGNITIVA

    12. Para Alm do Sujeito e do Objeto13. As Tecnologias Individuais e a Razo14. As Coletividades Pensantes e o Fim da Metafsica

    15.

    Interfaces

    ConclusoPor uma Tecnodemocracia

    Bibliografia Geral

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    INTRODUO: FACE TCNICA

    Novas maneiras de pensar e de conviver esto sendo elaboradas no mundo dastelecomunicaes e da informtica. As relaes entre os homens, o trabalho, a prpria intelignciadependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos.Escrita, leitura, viso, audio, criao, aprendizagem so capturados por uma informtica cada vezmais avanada. No se pode mais conceber a pesquisa cientfica sem uma aparelhagem complexaque redistribui as antigas divises entre experincia e teoria. Emerge, neste final do sculo XX, umconhecimento por simulaoque os epistemologistas ainda no inventariaram.

    Na poca atual, a tcnica uma das dimenses fundamentais onde est em joga atransformao do mundo humano por ele mesmo. A incidncia cada vez mais pregnante dasrealidades tecnoeconmicas sobre todos os aspectos da vida social, e tambm os deslocamentosmenos visveis que ocorrem na esfera intelectual obrigam-nos a reconhecer a tcnica como um dosmais importantes temas filosficos e polticos de nosso tempo. Ora, somos forados a constatar odistanciamento alucinante entre a natureza dos problemas colocados coletividade humana pelasituao mundial da evoluo tcnica e o estado do debate "coletivo" sobre o assunto, ou antes do

    debate meditico.Uma razo histrica permite compreender esse distanciamento. A filosofia poltica e a

    reflexo sobre o conhecimento cristalizaram-se em pocas nas quais as tecnologias detransformao e de comunicao estavam relativamente estveis ou pareciam evoluir em umadireo previsvel.

    Na escala de uma vida humana, os agenciamentos sociotcnicos constituam umfundosobreo qual se sucediam os acontecimentos polticos, militares ou cientficos. Apesar de algumas

    estratgias poderem cristalizar-se explicitamente em torno de uma inovao tcnica, este era umcaso excepcional [77]1. Tudo comeou a mudar com a revoluo industrial, mas apesar das anlisesde Marx e alguns outros. o segredo permaneceu bem guardado. O sculo XX s elaborou reflexes

    profundas sobre motores e mquinas operatrizes, enquanto que a qumica, os avanos da impresso,a mecanografia, os novos meios de comunicao e de transporte, a iluminao eltricatransformavam a forma de viver dos europeus e desestabilizavam os outros mundos. O rudo dosaplausos ao progresso cobria as queixas dos perdedores e mascarava o silncio do pensar.

    Hoje em dia, ningum mais acredita no progresso e a metamorfose tcnica do coletivohumano nunca foi to evidente. No existe mais fundo sociotcnico, mas sim a cenas mdias. As

    prprias bases do funcionamento social e das atividades cognitivas modificam-se a uma velocidadeque todos podem perceber diretamente. Contamos em termos de anos, de meses. Entretanto, apesarde vivermos em um regime democrtico, os processas sociotcnicos raramente so objeto dedeliberaes coletivas explcitas, e menos ainda de decises tomadas pelo conjunto, dos cidados.Uma reapropriao mental do fenmeno tcnico nos parece um pr-requisito indispensvel para a

    instaurao progressiva de uma tecnodemocracia. para esta reapropriao que desejamoscontribuir aqui, no caso particular das tecnologias intelectuais.

    Algum talvez objete que a evoluo da informtica no muito adequada a qualquer tipo

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    informtica escolar na Frana. Durante os anos oitenta, quantias considerveis foram gastas paraequipar as escolas e formar os professores. Apesar de diversas experincias positivas sustentadas

    pelo entusiasmo de alguns professores, o resultado global deveras decepcionante. Por qu? certo

    que a escola uma instituio que h cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escritamanuscrita do aluno e, h quatro sculos, em um uso moderado da impresso. Uma verdadeiraintegrao da informtica (como do audiovisual ) supe portanto o abandono de um hbitoantropolgico mais que milenar, o que no pode ser feito em alguns anos. Mas as "resistncias" dosocial tm bons motivos. O governo, escolheu material da pior qualidade, perpetuamentedefeituoso, fracamente interativo, pouco adequado aos usos pedaggicos. Quanto formao dos

    professores, limitou-se aos rudimentos da programao (de um certa estilo de programao, porque

    existem muitos deles... ), como se fosse este o nico usa possvel de um computador!.Foram tiradas lies das muitas experincias anteriores neste assunto? Foram analisadas as

    transformaes em andamento da ecologia cognitiva e os novos modelos de constituio e detransmisso do saber a fim de orientar a evoluo do sistema educativo a longo prazo? No,apressaram-se em colocar dentro de sala as primeiras mquinas que chegaram, Em vez de conduzirum verdadeiro projeto poltico, ao mesmo tempo acompanhando, usando e desviando a evoluotcnica, certo ministro quis mostrar a imagemda modernizao, e no obteve, efetivamente, nadaalm de imagens. Uma concepo totalmente errnea da tcnica e de suas pretensas "necessidades",s quais acreditou-se (ou fez-se acreditar) que era necessrio "adaptar-se", impediu o governo e adireo da Educao nacional de impor fortes restries aos construtores de material e aos criadoresde programas. Eles no foram forados a inventar. Seus comandatrios parecem no ter entendidoque a poltica e a cultura podem passar polo detalhe de uma interface material, ou por cenrios de

    programas bem concebidos.

    Ora, tentarei mostrar neste livro que no h informtica em geral, nem essncia congeladado computador, mas sim um campo de novas tecnologias intelectuais, aberto, conflituoso e

    parcialmente indeterminado. Nada est decidido a priori. Os dirigentes das multinacionais, osadministradores precavidos e os engenheiros criativos sabem perfeitamente (coisa que a direo daEducao nacional parecia ignorar) que as estratgias vitoriosas passam pelos mnimos detalhes"tcnicos", dos quais nenhum pude ser desprezado, e que so todos inseparavelmente polticos eculturais, ao mesmo tempo que so tcnicos...

    No se trata aqui, portanto, de uma nova "critica filosfica da tcnica", mas antes de colocarem dia a possibilidade prtica de uma tecnodemocracia, que somente poder ser inventada na

    prtica. A filosofia poltica no pode mais ignorar a cincia e a tcnica, No somente a tcnica uma questo poltica, mas ainda, e como um todo, uma micropolticaem atos, como veremos emdetalhes no caso das interfaces informticas.

    A questo da tcnica ocupa uma posio central. Se por um lado conduz a uma reviso dafilosofia poltica, por outro incita tambm a revisitar a filosofia do conhecimento. Vivemos hojeuma redistribuio da configurao do saber que se havia estabilizado no sculo XVII comageneralizao da impresso. Ao desfazer e refazer as ecologias cognitivas, as tecnologiasintelectuais contribuem para fazer derivar as fundaes culturais que comandam nossa apreenso doreal. Mostrarei que as categorias usuais da filosofia do conhecimento, tais como omito, a cincia, a

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    historia dos processas de inscrio para analisar precisamente a articulao entre gneros deconhecimento e tecnologias intelectuais. Isto no nos conduzir a qualquer verso do determinismotecnolgico, mas sim idia de que certas tcnicas de armazenamento e de processamento das

    representaes tornam possveis ou condicionam certas evolues culturais, ao mesmo tempo emque deixam uma grande margem de iniciativa e interpretao para os protagonistas da historia.

    Finalmente, a uma interrogao sobre as divises mais fundamentais do ser que nossareflexo sobre as tecnologias intelectuais ir nos conduzir. O que acontece com a distino bemmarcada entre o sujeito e o objeto do conhecimento quando nosso pensamento encontra-se

    profundamente moldado por dispositivos materiais e coletivos sociotcnicos? instituies emquinas informacionais se entrelaam no ntirno do sujeito. A progresso multiforme das

    tecnologias da mente e dos metas de comunicao pode ser interpretada como um processometafsicomolecular, redistribuindo sem descanso as relaes entre sujeitos individuais, objetos ecoletivos. Quem pensa? o sujeito nu e mondico, face ao objeto? So os grupos intersubjetivos?Ou ainda as estruturas, as lnguas, as epistemesou os inconscientes sociais que pensam em ns? Aodesenvolver o conceito de ecologia cognitiva, irei defender a idia de um coletivo pensantehomens-coisas, coletivo dinmico povoado por singularidades atuantes e subjetividades mutantes,to longe do sujeito exangue da epistemologia quanto das estruturas formais dos belos dias do"pensamento 68".

    Em seu livroEntre dire et faire[98], Daniel Sibony mostrou at que ponto o objeto tcnicoe mais geralmente a imensa maquinaria do "fazer" contemporneo encontravam-se impregnados dedesejo e subjetividade. Sem negar a abordagem inteiramente apaixonante tentada por Sibony,

    persegui o objetivo contrrio: mostrar a quantidade de coisas e tcnicasque habitam o inconscienteintelectual, at o ponto extremo no qual o sujeito do pensamento quase no se distingue mais (masse distingue ainda) de um coletivo cosmopolita2composto por dobras e volutas do qual cada porte, por sua vez, misturada, marmoreada ou matizada de subjetividade branca ou rosa e deobjetividade negra ou cinza.

    Seguindo esta concepo da inteligncia, muitas vezes deixei a tcnica pensar em mim(como fizeram meus ilustres predecessores Lewis Mumford e Gilbert Simondon) ao invs dedebruar-me sobre ela ou critic-la. Que o filsofo ou o historiador devam adquirir conhecimentostcnicos antes de falar sobre o assunto, o mnimo. Mas preciso ir mais longe, no ficar preso aum "porto de vista sobre... " para abrir-se a possveis metamorfosessob o efeitodo objeto. A tcnicae as tecnologias intelectuais em particular tm muitas coisas para ensinar aos filsofos sobre afilosofia e aos historiadores sobre a histria.

    Quanto valeria um pensamento que nunca fosse transformado por seu objeto? Talvezescutando as coisas, os sonhos que as precedem, os delicados mecanismos que as animam, asutopias que elas trazem atrs de si, possamos aproximar-nos ao mesmo tempo dos seres que as

    produzem, usam e trocam, tecendo assim o coletivo misto, impuro, sujeito-objeto que forma o metoe a condio de possibilidade de toda comunicao e todo pensamento.

    SOBRE O MAU USO DA ABSTRAO

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    Antes de abordar o tema principal deste livro, que o papel das tecnologias da informaona constituio das culturas e inteligncia dos grupos, parece-me necessrio esclarecer um certanmero de idias sobre a tcnica em geral, tcnica que hoje objeto de muitos preconceitos.

    Nestes ltimos anos, efetivamente, numerosas obras de reflexo sobre este assunto forampublicadas em lngua francesa. Entre elas, destaca-se um grupo importante que compartilha umaorientao globalmente antitcnica. Jacques Ellul, Gilbert Hottois, Michel Henry e, ta1vez emmenor grau, Dominique Janicaud tm em comum a concepo de uma cincia e de uma tcnicaseparadas do devir coletivo da humanidade, tornando-se autnomos para retornarem e imporem-sesobre o social com a fora de um destino cego, A tcnica encarna, para eles, a forma contemporneado mal. Infelizmente, a imagem da tcnica como potncia m, inelutvel e isolada revela-se no

    apenas falsa, mas catastrfica; ela desarma o cidado frente ao novo prncipe, o qual sabe muitobem que as redistribuies do poder so negociadas e disputadas em todosos terrenos e que nada definitivo. Ao exprimir uma condenao metal a priori sobre um fenmeno artificialmente separadodo devir coletivo e do mundo das significaes (da "cultura"), esta concepo nos probe de pensarao mesmo tempo a tcnica e a tecnodemocracia.

    No momento em que dezenas de trabalhos empricos e tericos renovam completamente areflexo sobre a tecnocincia no mais possvel repetir, com ou sem variantes, Husserl, Heidegger

    ou Ellul. A cincia e a tcnica representam uma questo poltica e cultura1 excessivamenteimportante para serem deixadas a canga dos irmos inimigos (cientistas ou criticas da cincia) queconcordam em ver no objeto de seus louvores ou de suas censuras um fenmeno estranho aofuncionamento social ordinrio.

    No existe uma "Tcnica" por trs da tcnica, nem "Sistema tcnico" sob o movimento daindstria, mas apenas indivduos concretos situveis e datveis. Tambm no existe um "Clculo",uma "Metafsica", uma "Racionalidade ocidental", nem mesmo um "Mtodo" que possam explicar a

    crescente importncia das cincias e das tcnicas na vida coletiva. Estas vagas entidades trans-histricas, estes pseudo-atores na realidade so desprovidos de qualquer eficcia e no apresentamsimetricamente qualquer ponto de contato para a mnima ao real. Frente a estas abstraes,evidentemente ningum pode negociar nem lutar. Mesmo com as melhores intenes do mundo,toda teoria, explicao ou projeto que faa apelo a estes macroconceitos espetaculares e ocos no

    pode fazer entra coisa seno despistar, engrossar a cortina de fumaa que abriga os prncipesmodernos de olhares e desencorajar os cidados a se informarem e agirem.

    Tambm no h maior progresso em direo a anlises concretas quando se explica odesdobramento da tecnocincia pela economia, sociedade, cultura ou ideologia. Obtm-se entoestes famosos esquemas nos quais a Economia determina a sociedade, que determina a ideologia daqual faz porte a cincia, que aplicada sob a forma de tcnica, a qual modifica o estado das foras

    produtivas, que por sua vez determina a economia, etc.

    Mesmo um diagrama tecido por estrelas entrecruzadas e munido de todos os anis deretroao desejados ainda seria mistificador. Porque aquilo que ligaramos por setas seriam

    dimenses de anlise, ou pior: pontos de vista congelados em disciplinas.Pela voz de Heidegger, a faculdade de filosofia acredita controlar a faculdade de cincias: a

    d d d i i t t f i M t f ld d t b t l

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    economia em ltima instncia (marxismo vulgar). Nem a sociedade, nem a economia, nem afilosofia, nem a religio, nem a lngua, nem mesmo a cincia ou a tcnica so foras reais, elas so,repetimos, dimenses de anlise, quer dizer, abstraes. Nenhuma destas macroentidades ideais

    pode determinar o que quer que seja porque so desprovidas de qualquer meio de ao.Os agentes efetivos so indivduos situados no tempo e no espao. Abandonam-se aos jogas

    de paixes e embriaguez, s artimanhas' do poder e da seduo, aos refinamentos complicados dasalianas e das reviravoltas nas alianas. Transmitem uns aos outros, por um sem nmero de metas,uma infinidade de mensagens que eles se obrigam a truncar, falsear, esquecer e reinterpretar de seu

    prprio jeito. Trocam entre si um nmero infinito de dispositivos materiais e objetos(eis a tcnica!)que transformam e desviam perpetuamente.

    No rio tumultuoso do devir coletivo, possvel discernir vrias ilhas, acumulaes,irreversibilidades, mas por sua vez estas estabilidades, estas tendncias longas mantm-se apenasgraas ao trabalho constante de coletividades e pela reificao eventual deste em coisas (eis denovo a tcnica!) durveis ou facilmente reproduzveis: construes, estradas, mquinas, textos em

    papel ou fitas magnticas...

    A servio das estratgias variveis que os opem e os agrupam, os seres humanos utilizamde todas as formas possveis entidades e foras no humanas, tais como animais, plantas, leveduras,

    pigmentos, montanhas, rios, correntes marinhas, vento, carvo, eltrons, mquinas, etc. E tudo istoem circunstncias infinitamente diversas. Vamos repetir, a tcnica apenas a dimenso destasestratgias que passam por atores no humanos.

    A TCNICA PARTICIPA ATIVAMENTE DA ORDEM CULTURAL, SIMBLICA,ONTOLGICA OU AXIOLGICA

    No h nenhuma distino real bem definida entre o homem e a tcnica, nem entre a vida e acincia, ou entre o smbolo e a operao eficaz ou a poisis e o arrazoado. sempre possvelintroduzir distines para fins de anlise, mas no se deve tomar os conceitos que acabamos deforjar para certos fins precisos como sendo regies do serradicalmente separadas.

    Podemos distinguir, por exemplo, como fez Kant, entre um domnio emprico (aquilo que percebido, que constitui a experincia)e um domnio transcendental (aquilo atravs de que aexperincia possvel, que estrutura a percepo). Em sua Crtica da razo pura, Kant atribuiu estafuno de estruturao do mundo percebido a um sujeito transcendental a-histrico e invarivel.Hoje, ainda que caractersticas cognitivas universais sejam reconhecidas para toda a espciehumana, geralmente pensa-se que as formas de conhecer, de pensar, de sentir so grandementecondicionadas pela poca, cultura e circunstncias. Chamaremos de transcendental histricoaquiloque estrutura a experincia dos membros de uma determinada coletividade. Certamente podemosressaltar a diferena entre as coisas em sua materialidade utilitria e as narrativas, smbolos,

    estruturas imaginrias e formas de conhecer que as fazem parecer aquilo que elas so aos olhos dosmembros das diversas sociedades consideradas.

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    Algum que condena a informtica no pensaria nunca em criticar a impresso e menos ainda aescrita. Isto porque a impresso e a escrita (que so tcnicas! ) o constituemem demasia para queele pense em apont-las como estrangeiras. No percebe que sua maneira de pensar, de comunicar-

    se com seus semelhantes, e mesmo de acreditar em Deus (como veremos mais adiante neste livro)so condicionadas por processas materiais.

    Mais profundamente, a tcnica toma parte plenamente no transcendental histrico. Para citarapenas este exemplo clssico, sabemos que o espao e o tempo tal como os percebemos e vivemoshoje na Europa ou na Amrica do Norte no resultam apenas de discursos ou de idias sobre otempo e o espao, mas igualmente de toda um imenso agenciamento tcnico que compreende osrelgios, as vias de comunicao e transporte, os procedimentos de cartografia e de impresso, etc.

    Michel Serres sugeriu em LaDistribution [97] que a mquina a vapor era no apenas umobjeto, e um objeto tcnico, mas que podamos ainda analis-la como o modelo termodinmicoatravs do qual autores como Marx, Nietzsche ou Freud pensavam a historia, o psiquismo, ou asituao do filsofo. Eu mesmo tentei mostrar, em La Machine Univers [71], que o computadorhavia se tornado hoje um destes dispositivos tcnicos pelos quais percebemos o mundo, e isto noapenas em um plano emprico (todos os fenmenos apreendidos graas aos clculos, perceptveis natela, ou traduzidos em listagens pela mquina), mas tambm em um plano transcendental hoje em

    dia, pois, hoje, cada vez mais concebemos o social, os seres vives ou os processos cognitivosatravs de uma matriz de tortura informtica.

    A experincia pode ser estruturadapolo computador. Ora, a lista dos objetos que so aomesmo tempo estruturas transcendentais infinitamente longa. O telgrafo e o telefone serviram

    para pensar a comunicao em geral. Os servomecanismos concretos e a teoria matemtica dainformao serviram como suporte para a viso ciberntica do mundo, etc. Os produtos da tcnicamoderna, longe de adequarem-se apenas a um uso instrumental e calculvel, so importantes fontes

    de imaginrio, entidades que participam plenamente da instituio de mundos percebidos.Se algumas formas de ver e agir parecem ser compartilhadas por grandes populaes durante

    muito tempo (ou seja, se existem culturas relativamente durveis), isto se deve estabilidade deinstituies, de dispositivos de comunicao, de formas de fazer, de relaes como meto ambientenatural, de tcnicasem geral, e a uma infinidade indeterminada de circunstncias. Estes eqilbriosso frgeis. Basta que, em uma situao histrica dada, Cristovo Colombo descubra a Amrica, e aviso europia do homem encontra-se transtornada, o mundo pr-colombiano da Amrica est

    ameaado de arruinar-se (no somente o imprio dos Incas, mas seus deuses, seus cantas, a belezade suas mulheres, sua forma de habitara terra ). O transcendental histrico est merc de umaviagem de barco. Basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo decomunicao, e todo o equilbrio das representaes e das imagens ser transformado, como vimosno caso da escrita, do alfabeto, da impresso, ou dos meios de comunicao e transporte modernos.

    Quando uma circunstncia como uma mudana tcnica desestabiliza o antigo equilbrio dasforas e das representaes, estratgias inditas e alianas inusitadas tornam-se possveis. Uma

    infinidade heterognea de agentes sociais exploram as novas possibilidades em proveito prprio (eem detrimento de outros agentes), at que uma nova situao se estabilize provisoriamente, comseus valores, suas morais e sua cultura locais. Neste sentido, a mudana tcnica uma das

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    apagamento da distino cidade/campo e conseqente surgimento de uma rede urbana onipresente,um novo imaginrio do espao e do tempo sob a influncia dos metas de transporte rpidos e daorganizao industrial do trabalho, o deslocamento das atividades econmicas para o tercirio e a

    influncia cada vez mais direta da pesquisa cientfica sobre as atividades produtivas e os modos devida. As conseqncias a longa prazo do sucesso fulminante dos instrumentos de comunicaoaudiovisuais ia partir do fim da Segunda Guerra Mundial) e dos computadores ia partir do fim dosanos setenta) ainda no foram suficientemente analisadas. Uma coisa certa: vivemos hoje em umadestas pocas limtrofes na qual toda a antiga ordem das representaes e dos saberes oscila paradar lugar a imaginrios, modos de conhecimento e estilos de regulao social ainda poucoestabilizados. Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuraotcnica, quer dizer, de uma nova relao com o cosmos, um novo estilo de humanidade inventado.

    Nenhuma reflexo sria sobre o devir da cultura contempornea pode ignorar a enormeincidncia das mdias eletrnicas (sobretudo a televiso) e da informtica. EmLa Machine Univers,como neste livro, restringi minhas reflexes aos computadores.

    No ser encontrada aqui, portanto, nem uma apologia nem uma critica da informtica emgeral, mas sim um ensaia de avaliao das questes antropolgicas ligadas ao usa crescente doscomputadores: o transcendental histrico ameaado pela proliferao dos programas.

    Razes de duas ordens diferentes levaram-me a empreender a redao desta obra apenasdois anos aps a publicao de La Machine Univers, sobre um tema bastante prximo. Em primeirolugar, no plano das idias, um certa nmero de criticas justificadas foram feitas a meu trabalho

    precedente. Tal como estava descrita emLaMachineUnivers, a evoluo tcnica parecia obedecer,por isomorfismo ou analogia, a uma estrutura abstrata e separada dos casos do devir histrico: o"clculo". Alm disso, esta estrutura calculante foi identificada como Ocidente. Eu havia institudoa cultura acidental, a partir de sua origem grega, em uma posio de realce, uma posio

    "calculante", precisamente, em vez de analis-la como resultado provisrio de uma dinmicaecolgica complexa e do encadeamento contingente de circunstncias histricas. O problema dastradues, das mediaes concretas pelas quais a essncia calculante da cultura grega teria chegadoat ns, amplificando-se e endurecendo-se em tcnica e depois em informtica, este problemafundamental infelizmente no foi colocado, ou o foi de forma excessivamente alusiva. Isto querdizer que este novo livro seria pura e simplesmente a critica do primeiro? No, pois eu continuodefendendo a maior parte das teses desenvolvidas emLa Machine Univers, sobretudo a critica dasteorias formais e tecnicistas do pensamento e do cosmos. Desejo apenas sinalizar ao leitor que otrabalho sobre as implicaes culturais da informtica foi retomado a partir do ponto mais fraca daobra anterior, aquele que se refere s transmisses, s tradues e s deformaes que modelam odevir social. Eis aqui portanto um livro sobre as interfaces.

    Quanto segunda ordem de razes, est relacionada com uma mudana de posio doanalista em relao a seu objeto. O autor de LaMachineUniversdecerto havia desenvolvido umlongo e minucioso trabalho de pesquisa sobre a informtica, sua teoria, suas realizaes e seus usos;mas o fazia enquanto socilogo, historiador ou filsofo, quer dizer, querendo ou no, doexterior. Oautor da presente obra, por outro lado, participou da realizao de dois sistemas especialistas3enquanto engenheiro do conhecimento, e encontra-se ativamente envolvido em diversos projetos de

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