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Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de alvenaria e elementos de betão Francisco Pedro Ferreira Maria Marques Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Prof. Albano Luís Rebelo da Silva Neves e Sousa Orientador: Prof. Fernando António Baptista Branco Vogais: Prof. João Paulo Janeiro Gomes Ferreira Maio 2013

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Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de alvenaria e elementos de betão

Francisco Pedro Ferreira Maria Marques

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre emEngenharia Civil

Júri

Presidente: Prof. Albano Luís Rebelo da Silva Neves e SousaOrientador: Prof. Fernando António Baptista Branco Vogais: Prof. João Paulo Janeiro Gomes Ferreira

Maio 2013

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Resumo

iii

Resumo

As pinturas de edifícios são um dos tipos de revestimento mais usados na construção civil,

designadamente em Portugal, facto para que muito contribuem os custos competitivos, assim como

o seu desempenho positivo.

Na presente dissertação começa por fazer-se um enquadramento histórico sobre o uso das

pinturas, abordando as origens das tintas primitivas, e as diversas evoluções sofridas até aos dias

de hoje, nomeadamente em relação aos seus constituintes, tecnologias de produção, técnicas de

aplicação e tipos de utilização. Seguidamente faz-se uma descrição geral das tintas, a descrição

individual dos seus componentes das suas origens e funções na mistura. São abordados os

mecanismos de formação de película, as principais tintas existentes no mercado, sendo apresentada

uma classificação geral das mesmas com base nos seus constituintes e respectivas características.

Em seguida faz-se a descrição das principais tecnologias de aplicação de tintas usadas

actualmente para executar pinturas em paredes de alvenaria rebocadas e elementos de betão,

bem como de todos os factores envolventes que condicionam directa ou indirectamente o resultado

final da pintura, entre os quais estão a preparação das superfícies, esquemas de pintura, modos de

execução e materiais a utilizar.

Por fim, é elaborada uma descrição das principais patologias que afectam os revestimentos

por pintura, respectivas causas e soluções, cujo resumo é apresentado em anexo, juntamente com

um modelo de ficha de inspecção.

Palavras-chave: Pintura, Tinta, Revestimento, Patologia.

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Abstract

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Abstract

The buildings paintings are one of the most commonly used coatings in construction, particularly

in Portugal, and for that much contributes their very competitive costs, as well as their positive

performance.

This dissertation will build a framework on the historical use of paintings, addressing the origins

of primitive paints, and the several evolutions suffered until now, particularly in relation to their

constituents, production technologies, application techniques and types of use. It will than explain an

overview of the paints, the individual description of the components and their origins and functions

in the mixture. Afterwards the mechanisms of film formation and the main paints available on the

market are addressed, being presented a general classification of them, based on their constituents

and respective characteristics.

Then it will be presented the description of the main technologies currently used in paint

application, to execute paintings on plastered masonry walls and concrete elements, as well as all

surrounding factors that directly or indirectly affect the outcome of the painting, among which there

are surface preparation, painting schemes, implementation modes and materials to use.

Finally, the dissertation will present a description of the main pathologies affecting the paint

coatings, their causes and solutions, a summary of which is attached, along with a model of the

inspection sheet.

Keywords: Painting, Paint, Coating, Pathologies.

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Agradecimentos

Agradecimentos

Ao concluir o presente trabalho, não poderia deixar de agradecer a todos aqueles que

de alguma forma contribuíram para a sua realização.

Ao meu orientador, Professor Fernando Branco, o meu sincero agradecimento pela

disponibilidade e apoio que sempre demonstrou e pelos sábios conselhos dados, sem os

quais não teria sido possível elaborar este trabalho.

À Engenheira Paula Rodrigues, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, agradeço

a preciosa ajuda, disponibilidade e espirito de partilha sempre que a solicitei.

À Associação Portuguesa de Tintas, na pessoa da Dra. Manuela Cavaco, pelo material

disponibilizado, bem como pela simpatia e confiança demonstradas.

À Tia Lúcia pela grande ajuda na paginação e composição gráfica.

Aos meus amigos pelo permanente apoio, amizade e incentivo.

Aos meus pais e irmã, pelo apoio, motivação e pela paciência que tiveram ao longo de

todo o percurso académico e particularmente nesta fase final.

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Índice geral

Resumo ........................................................................................................................ iii

Abstract ........................................................................................................................ v

Agradecimentos .......................................................................................................... vii

Índice ............................................................................................................................ ix

Índice de tabelas ......................................................................................................... xi

Índice de figuras .......................................................................................................... xi

1. Introdução ..................................................................................................... 1

1.1. Âmbito e Enquadramento ............................................................................. 1

1.2. Breve História das Tintas .............................................................................. 1

1.3. Objectivos ..................................................................................................... 4

2. Tintas/Pinturas ............................................................................ .................. 5

2.1. Composição das tintas ................................................................................. 5

2.1.1. Óleos sicativos. ............................................................................................... 7

2.1.2. Resinas .......................................................................................................... 9

2.1.3. Pigmentos ......................................................................................... ............ 16

2.1.4. Cargas .............................. ............................................................................. 21

2.1.5. Solventes e diluentes............ .......................................................................... 22

2.1.6. Aditivos ........................................................................................................... 24

2.2. Características das tintas .............................................................................. . 26

2.2.1. Concentração volumétrica de pigmentos (CVP) .............................................. 26

2.2.2. Compostos orgânicos voláteis (COV) ............................................................ 27

2.3. Mecanismos de formação da película ........................................................... 27

2.3.1. Oxidação (termofixa) . ..................................................................................... 28

2.3.2. Evaporação do solvente (termoplástica)........................................................ 29

2.3.3. Reticulação química (termofixa) ..................................................................... 29

2.4. Principais tipos de tintas ................................................................................ 30

2.4.1. Tipos de tintas ................................................................................................. 30

2.4.2. Classificação das tintas ................................................................................. 32

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Índice geral

x

3. Tecnologias de aplicação de tintas .......................................................... 35

3.1. Escolha do produto a aplicar ............................................................................ 35

3.1.1. Identificação do ambiente envolvente............................................................. 36

3.1.2. Outros aspectos a considerar ......................................................................... 40

3.1.3. Critérios de selecção dos produtos de pintura................................................ 41

3.2. Preparação de superfícies ................................................................................ 42

3.2.1. Métodos usuais de preparação de superfícies ............................................... 42

3.2.2. Preparação de superfícies de alvenaria ......................................................... 45

3.2.3. Preparação de superfícies de betão ............................................................... 47

3.3. Aplicação dos produtos de pintura ................................................................... 49

3.3.1. Esquemas de pintura ...................................................................................... 50

3.3.2. Métodos de aplicação ..................................................................................... 52

3.3.3. Modo de execução.......................................................................................... 66

3.4. Segurança ...................................................................................................... 68

3.4.1. Equipamentos de protecção individual (EPI) .................................................. 68

4. Patologias em revestimentos por pintura .................................................. 71

4.1. Principais causas ............................................................................................. 71

4.2. Patologias consoante as fases em que podem ocorrer .................................. 75

4.2.1. Patologias durante a armazenagem da tinta .................................................. 75

4.2.2. Patologias na fase de aplicação ..................................................................... 79

4.2.3. Patologias na fase de vida útil ........................................................................ 89

5. Conclusão e desenvolvimentos futuros ....................................................105

5.1. Conclusões .........................................................................................................105

5.2. Desenvolvimentos futuros ..................................................................................107

Bibliografia ...................................................................................................................... 109

Sites consultados ............................................................................................................111

Anexos ............................................................................................................................. 113

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Índice de tabelas / Índice de figuras

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Tipos de Aditivos ......................................................................................................................... 25

Tabela 2 – Classificação da agressividade ambiente .................................................................................... 40

Tabela 3 – Lixagem ....................................................................................................................................... 44

Tabela 4 – Tamanhos dos bicos das pistolas ................................................................................................ 63

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – A mais antiga pintura rupestre conhecida ................................................................................... 1

Figura 2 – Pintura rupestre ........................................................................................................................... 2

Figura 3 – Pigmentos .................................................................................................................................... 3

Figura 4 – Principais componentes de uma tinta .......................................................................................... 6

Figura 5 – Composição da tinta, em volume ................................................................................................ 7

Figura 6 – Película húmida e película seca .................................................................................................... 7

Figura 7 – Sementes de linho ........................................................................................................................ 8

Figura 8 – Óleo de linhaça ............................................................................................................................. 8

Figura 9 – Pigmentos .................................................................................................................................... 16

Figura 10 – Relação de CVP com algumas propriedades da película [2] ....................................................... 26

Figura 11 – Mecanismo de formação da película .......................................................................................... 28

Figura 12 – Tintas de base aquosa [12] ......................................................................................................... 31

Figura 13 – Tintas diversas ............................................................................................................................ 33

Figura 14 – Raspador oval ............................................................................................................................. 43

Figura 15 – Raspador triangular .................................................................................................................... 43

Figura 16 – Tintas em utilização .................................................................................................................... 51

Figura 17 – Trinchas e pincéis ........................................................................................................................ 53

Figura 18 – Trincha ...................................................................................................................................... 53

Figura 19 – Componentes de rolos de pintura .............................................................................................. 56

Figura 20 – Rolo de lã .................................................................................................................................... 57

Figura 21 – Rolo de espuma .......................................................................................................................... 58

Figura 22 – Tabuleiros .................................................................................................................................... 59

Lucia Belo
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Lucia Belo
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Lucia Belo
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Índice de figuras

xii

Figura 23 – Pistola de alimentação por aspiração ......................................................................................... 61

Figura 24 – Pistola de alimentação por gravidade ......................................................................................... 61

Figura 25 – Pistola de alimentação por pressão ............................................................................................ 61

Figura 26 – Manuseamento da pistola ......................................................................................................... 65

Figura 27 – Pintura de tecto .......................................................................................................................... 67

Figura 28 – EPI’s ...................................................................................................................................... 69

Figura 29 – Óculos de protecção ................................................................................................................... 69

Figura 30 – Protector facial c/viseira ............................................................................................................. 69

Figura 31 – Máscara de pintura ..................................................................................................................... 69

Figura 32 – Máscara com filtros de carbografite ........................................................................................... 70

Figura 33 – Luvas de protecção ..................................................................................................................... 70

Figura 34 – Espessamento ............................................................................................................................. 76

Figura 35 – Ataque ... ..................................................................................................................................... 79

Figura 36 – Bicos de alfinete .......................................................................................................................... 80

Figura 37 – Casca de laranja .......................................................................................................................... 81

Figura 38 – Encosturado ................................................................................................................................ 81

Figura 39 – Enrugamento .............................................................................................................................. 82

Figura 40 – Escorridos ................................................................................................................................... 84

Figura 41 – Formação de crateras ................................................................................................................. 86

Figura 42 – Máscara de trincha ..................................................................................................................... 86

Figura 43 – Descoloração .............................................................................................................................. 90

Figura 44 – Destacamento devido a humidade por capilaridade .................................................................. 91

Figura 45 – Destacamento ............................................................................................................................ 91

Figura 46 – Eflorescências ............................................................................................................................. 92

Figura 47 – Empolamento ............................................................................................................................. 94

Figura 48 – Fissuração ................................................................................................................................... 96

Figura 49 – Pulverulência .............................................................................................................................. 101

Figura 50 – Retenção de sujidade ................................................................................................................. 103

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Introdução

1

1. Introdução

1.1. Âmbito e Enquadramento

As pinturas de edifícios constituem um dos diversos tipos de revestimento que pode ser usado

na construção civil, para obter acabamentos com aspecto visual agradável, mas também para

protecção das superfícies. Os materiais de pintura, bem como as matérias-primas usadas no seu

fabrico, devem obedecer a critérios técnicos definidos na norma internacional ISO 4618 [1].

“É tradição no nosso país que os paramentos exteriores dos edifícios possuam cor, recorrendo-

-se à aplicação de tintas inicialmente de natureza inorgânica. Com o desenvolvimento da indústria

química no século XX surgiram tintas com ligantes poliméricos, primeiro de origem natural e mais

tarde sintéticos. Actualmente, está disponível no mercado, uma diversidade de tintas com uma

paleta de cores muito diversificada e que conferem às superfícies aspectos variados: liso, texturado,

brilhante, mate” [2].

As tintas são materiais amplamente utilizados na construção civil, para revestimento de

superfícies. Para este facto, muito contribuem os custos competitivos que estas apresentam,

quando comparadas com outros materiais de revestimento, aliados a uma contínua evolução

tecnológica dos componentes empregues no seu fabrico, bem como dos métodos de fabrico e de

aplicação usados.

1.2. Breve História das Tintas

A utilização de tintas/pinturas pelo Homem remonta ao Período Paleolítico, quando os homens

primitivos começaram a pintar figuras nas paredes das cavernas para fins decorativos [3], embora

a utilização de pinturas por razões estéticas tenha origem na Idade da Pedra, muito antes do

Homo Sapiens, provavelmente para pintar os corpos durante os rituais de caça, cerimónias e outros

eventos sociais [4].

As pinturas rupestres eram feitas com

recurso a tintas à base de gordura de animais e

terras ou argilas coradas, como os ocres. Estas

tintas aplicadas em interiores ficavam protegidas

das intempéries, estando ainda hoje preservadas,

as mais antigas no sul de França [3]. A mais antiga

pintura rupestre conhecida (figura 1) terá 35 000

anos [4].Figura 1 – A mais antiga pintura rupestre conhecida [4]

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Introdução

Já então, os constituintes de base de uma tinta eram um ligante (gordura animal) e um pigmento

corado [3]. Os produtos utilizados no fabrico de produtos de pintura foram evoluindo através dos

tempos, principalmente para satisfazer as exigências artísticas do ser humano [5], vindo a originar

produtos que hoje apresentam um elevado grau de sofisticação [3].

Cerca de 4 000 anos a.C., os europeus começaram a

usar as primeiras tintas para construção civil: queimavam

pedra calcária, misturavam-na com água e aplicavam a

cal resultante às suas casas de barro para as protegerem

e decorarem [3].

Nesta altura já os chineses tinham desenvolvido a

arte da fabricação de lacas, a partir de seiva de árvores,

para diversas aplicações, incluindo como revestimentos

de protecção, sendo os verdadeiros antecessores dos

revestimentos modernos. A laca preta, fabricada a

partir da resina da árvore Rhus Vernicifera, era usada

para ornamentar objectos considerados extremamente

valiosos, símbolos da aristocracia na China e no Japão.

Esta arte só veio a ser introduzida na Europa pelos

mercadores da Idade Média [3].

Na Índia, da secreção de um insecto era extraída a goma-laca (shellac), usada na preparação

de um verniz para proteger e embelezar objectos e superfícies de madeira [3].

No Egipto, o uso de vernizes e esmaltes a partir de cera de abelha, gelatina e argila, data de

cerca de 3000 anos a.C.; posteriormente, revestimentos de barcos de madeira com pez e bálsamo

à prova de água [6]. Nesta altura terá surgido o primeiro pigmento obtido por via sintética, o azul

do Egipto (um silicato de cobre) [7]. Cerca de 1000 anos a.C. foram preparados vernizes a partir de

goma arábica [6], que é uma resina natural utilizada como espessante e estabilizante.

À medida que as civilizações egípcia, grega e romana se desenvolviam, foram sendo

introduzidos pigmentos de outras cores. No ano 400 a.C. foi produzida a primeira forma sintética do

pigmento branco (carbonato de chumbo) e no ano 300 a.C. é descrita uma técnica de preparação

de pigmentos por “alteração de cor provocada pela calcinação das terras coradas” [7].

Há cerca de 2000 anos, a civilização Maya usava um pigmento azul designado por azul Maya,

à base de substâncias naturais, argila e índigo (derivado orgânico de uma planta). Este corante tem

uma durabilidade notável ao fim de centenas de anos de exposição sob condições húmidas. Tem

sido reportada a sua elevada resistência à biodegradação e à acção de ácidos, álcalis e solventes

químicos [8].

Figura 2 – Pintura rupestre [3]

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Introdução

3

Na Europa, do século IV ao século X eram usadas tintas de água, à base de cal e argilas para

pinturas em igrejas e conventos [9].

A partir do século XII começam a chegar alguns pigmentos trazidos pelos mercadores [7],

sendo nesta linha que surge a primeira utilização dos óleos vegetais sicativos para confecção das

tintas usadas nas pinturas renascentistas e que aparecem os vernizes preparados com resinas

vegetais, como a colofónia, resinas fossilizadas, como o âmbar, aos quais se juntavam essências

voláteis como a essência de terebentina (um solvente obtido da destilação da resina do pinheiro)

para reduzir a viscosidade das misturas e facilitar a sua aplicação [5].

No século XVIII foi descoberto um pigmento azul, o azul da Prússia, cujo processo de obtenção

foi mantido secreto durante duas décadas [7].

Só com a Revolução Industrial é que surgem na Europa as primeiras fábricas de produção de

tintas que conquistaram o mundo devido ao rápido avanço tecnológico, que criou novos e vastos

mercados, como a invenção do automóvel que constituiu o motor de desenvolvimento de novos

revestimentos.[3]

Foi apenas no século XX que se deu o grande incremento na indústria das tintas e vernizes, pela

necessidade não só para fins artísticos mas também, e principalmente, para proteger os materiais

[5]. Devido às novas formulações e processos de aplicação, as trinchas foram progressivamente

substituídas pela pistola e os tempos de secagem encurtados, com a consequente aceleração do

processo de pintura [3]. O rápido avanço da química e da tecnologia dos polímeros que tornou

possível a elaboração de substâncias para a formulação de películas, bem como o desenvolvimento

da química de pigmentos [9].

Nos últimos anos, a tecnologia de pinturas tem mudado drasticamente devido à publicação

de regulamentos relacionados com o ambiente e a saúde e segurança dos operadores, como por

exemplo regulamentos relacionados com partículas de pó de decapagem abrasiva, emissão de

compostos orgânicos voláteis (COV) e materiais perigosos como o chumbo e outros metais pesados.

Figura 3 – Pigmentos [10]

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Introdução

Os fabricantes de tintas reformularam os seus produtos para cumprir com os novos regulamentos,

o que conduziu ao desenvolvimento de uma larga gama de materiais de pintura de alta tecnologia,

que são mais sensíveis à preparação das superfícies e às técnicas ambientais de aplicação [11].

A indústria de tintas investiu fortemente na investigação e desenvolvimento de produtos com

menor impacto no ambiente e na saúde humana, sendo necessário mudar a composição dos

sistemas. O teor de solventes das tintas foi altamente reduzido, podendo ser apenas de 15% nas

tintas de altos teores em sólidos, nas quais é aumentada a fracção de sólidos, mantendo constantes

a viscosidade e as propriedades de aplicação. As tintas de base aquosa são muitas vezes usadas

em substituição das de base solvente e alguns produtos são mesmo isentos de solvente, tais como

as tintas em pó e as de cura UV [3].

Actualmente, as tintas, vernizes ou produtos similares são constituídos principalmente por

matérias-primas obtidas industrialmente e são utilizados com diferentes objectivos, seja por razões

de decoração ou para melhorar o aspecto estético de superfícies ou objectos, para a protecção

do substrato, ou ainda por razões especiais como o melhoramento das condições ambientais

ou de segurança na utilização ou a introdução de características específicas (resistência a

microorganismos, resistência mecânica, resistência química, etc.) [5].

1.3. Objectivos

Com este trabalho pretende-se contribuir para identificar as causas dos defeitos/patologias e

propor soluções para evitar/minimizar o seu aparecimento durante a vida útil das construções, e que

em geral têm origem em procedimentos errados, más escolhas a nível de materiais ou defeituosa

execução do revestimento.

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Tintas e Pinturas

2. Tintas e PinturasAs pinturas de edifícios constituem um dos diversos tipos de revestimento que pode ser usado na

construção civil.

As tintas são materiais amplamente utilizadas na construção civil, para revestimento de superfícies.

Para este facto, muito contribuem os custos competitivos que estas apresentam, quando comparadas

com outros materiais de revestimento, aliados a uma contínua evolução tecnológica dos componentes

empregues no seu fabrico, bem como dos métodos de fabrico e de aplicação usados.

A norma ISO 4618 define produto de pintura como “um produto líquido, em pasta ou em pó

que, aplicado sobre um substrato, forma uma película protectora, decorativa e/ou outras propriedades

específicas” [1].

Os produtos de pintura podem ser pigmentados ou não. No primeiro caso designam-se por

tintas e caracterizam-se por darem origem a uma película opaca, que cobre totalmente o substrato.

Quando o produto de pintura não possui pigmentação designa-se por verniz se “quando aplicada no

substrato forma uma película sólida, transparente, dotada de propriedades protectoras, decorativas ou

propriedades específicas” [2].

O revestimento por pintura é o resultado da aplicação de um esquema de pintura que consiste,

segundo a norma ISO 4618, numa “combinação de camadas de material de pintura que são aplicadas

num substrato”. O sistema pode ser caracterizado pelo número de camadas envolvidas, dando origem

a revestimentos de monocamada ou de multicamada e sendo o produto aplicado como camada final

designado por acabamento ou tinta de acabamento [1][2].

Quando se aplica um esquema de pintura num determinado substrato, pretende-se obter, após

secagem, um revestimento multifuncional, isto é, um revestimento que proteja o substrato e que,

simultaneamente, melhore o seu aspecto visual, ou que contribua para a melhoria das condições de

iluminação no caso de recintos fechados, promovendo igualmente as suas condições de salubridade,

etc.[2].

Existe hoje no mercado uma vasta oferta de produtos que permitem obter melhorias consideráveis

nos revestimentos de pintura, seja com a finalidade de melhorar o aspecto estético das construções,

seja para proteger o substrato ou ainda por razões especiais, como a melhoria das condições ambientais

e de segurança, ou a introdução de características específicas, como a resistência a microorganismos,

e a resistência mecânica ou física [2].

2.1. Composição das tintas

A norma ISO 4618 define tinta como “um produto de pintura pigmentado que, quando aplicado

sobre um substrato, forma uma película opaca que tem propriedades protectoras, decorativas ou

técnicas específicas” [1].

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Tintas e Pinturas

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O termo “tinta” refere-se a todos os materiais, líquidos ou em pó, que contendo resinas orgânicas, são usados como revestimento de qualquer tipo de superfície com fim decorativo, de protecção ou funcional [12].

Noutros contextos, o termo “tinta” é geralmente usado para distinguir formulações de revestimento líquidas de revestimentos em pó. Não interessa como o revestimento é curado, como é aplicado, que outros componentes contem, se é líquido ou pó ou se tem base em solventes, base aquosa ou é livre de solventes, será sempre chamada tinta [12].

Essencialmente, as tintas são compostas por duas fases: um extracto seco e um veículo volátil como representa o esquema da figura 4. Cada uma destas fases inclui diferentes componentes, que interagem física e quimicamente entre si, conferindo à tinta as propriedades necessárias para um bom desempenho [7].

As resinas, os pigmentos e os aditivos constituem a parte sólida numa tinta, designada por extracto seco, que pode ainda conter as cargas. O veículo volátil é o componente líquido da formulação, constituído por solventes e diluentes, que se evaporam durante o processo de secagem e cura [2].

No fundo, existem quatro componentes que estão presentes na maioria das tintas [12]:

● Resinas – também chamadas ligantes, veículos ou polímeros, formam a película de tinta. Sem uma resina não há revestimento. Esta função pode também dever-se ao uso de óleos sicativos.

● Pigmentos – proporcionam, entre outras funções, opacidade e cor à película aplicada, além de influenciarem muitas das suas propriedades, como a durabilidade, a resistência à corro-são e a resistência ao fogo.

● Solventes – são usados na maioria das tintas líquidas; não são usados nas tintas em pó nem em algumas tintas líquidas que curam por acção da luz UV.

● Aditivos – são substâncias que podem ser adicionadas a uma tinta ou a uma película de

tinta, normalmente em pequenas quantidades, para conferir determinadas características.

Figura 4 – Principais componentes de uma tinta

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Tintas e Pinturas

Destes componentes, os solventes e as resinas estão presentes em maior quantidade, representando os restantes componentes uma pequena percentagem, conforme representa

a figura 5.

Uma tinta é preparada misturando

uma determinada resina ou combinação de

resinas, um solvente ou mistura de solventes

e frequentemente aditivos e pigmentos. Esta

mistura é feita segundo uma formulação

específica, de modo que quando a tinta é

aplicada e correctamente curada, irá possuir

determinadas características de desempenho

e apresentar propriedades físicas específicas,

como dureza, cor, resistência à tracção e

brilho [12].

Como se exemplifica na figura 6, a

proporção entre volume de sólidos (pigmento + ligante) e de líquidos na composição de um produto

de pintura, aplicado com uma determinada espessura húmida, determina a espessura obtida após

secagem [2].

Será feita em seguida uma abordagem do papel de cada componente e da forma como

interagem uns com os outros, de forma a permitir obter uma tinta com as características desejadas.

2.1.1. Óleos sicativos

Os óleos sicativos são, tal como

as resinas, componentes formadores

de película, embora com características

muito diferentes. Nem todos os óleos

são sicativos; um óleo é classificado

de sicativo se, quando espalhado ao ar

numa fina camada, passar de líquido para

uma película sólida com elevada coesão,

resistência e dureza [13].

A norma ISO 4618 define óleo

sicativo como um “óleo que contém ácidos

gordos insaturados e que forma uma

película por oxidação”[1]. Efectivamente,

Figura 5 – Composição da tinta, em volume [12]

Figura 6 – Película húmida e película seca

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Tintas e Pinturas

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Efectivamente, os óleos sicativos são constituídos por misturas de triglicéridos em que o

glicerol se encontra esterificado com ácidos gordos poli-insaturados, tendo composição

variável consoante a sua origem animal ou vegetal [2]. Por outras palavras, os óleos

insaturados endurecem ou “curam”, não por evaporação do solvente, mas por uma reacção

de oxidação resultante da adição de oxigénio a um composto orgânico.

Quando aplicados numa fina camada reagem com o oxigénio do ar, ocorrendo uma polimerização auto-oxidativa que transforma o óleo líquido numa película sólida aderente e elástica, com grande resistência, tenacidade e dureza [2]. Esta capacidade de secar depende

da estrutura molecular dos vários componentes químicos que constituem o óleo [13].

Os óleos vegetais com características adequadas para óleo sicativo e que podem ser

formulados em tintas incluem os óleos de linhaça, de Tung (ou óleo de madeira da China), de

soja, de rícino e óleos de peixe [2][13].

Para serem usados no fabrico de tintas, os óleos sicativos extraídos necessitam

geralmente de um tratamento prévio, que lhes aumente a massa molecular e a capacidade

de polimerização e de reticulação, essenciais para a formação da película final, uma vez que

a capacidade para secar depende da estrutura molecular dos vários compostos químicos que

os constituem [2].

Um dos óleos sicativos mais utilizado é o óleo de linhaça, que é obtido por pressão

da semente do linho. Os óleos de linhaça em estado bruto, tal como são extraídos, secam

muito lentamente, pelo que requerem processamento e adição de secantes para acelerar a

velocidade de endurecimento [13].

As tintas de óleo são constituídas por um pigmento, um óleo sicativo e um solvente

orgânico para diluir o óleo pigmentado, não sendo este modificado com qualquer resina

sintética. Após aplicação, o revestimento seca por evaporação do solvente, seguido por uma

reticulação (ligação cruzada) auto-oxidativa do óleo sicativo [13].

Figura 7 – Sementes de linho Figura 8 – Óleo de linhaça

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9

Tintas e Pinturas

As características destas tintas oleorresinosas são determinadas pelas características

do óleo sicativo e, em menor grau, pelo pigmento incorporado no óleo. A adição de secantes

ao óleo ajuda na velocidade de formação da película sólida. Estas tintas podem ser usados

para cobrir superfícies mal preparadas, enferrujadas e/ou superfícies carepas [13].

2.1.2. Resinas

A norma ISO 4618 define resina como um “produto macromolecular, geralmente

amorfo, de consistência que varia entre o estado sólido e o estado líquido e que tem uma

massa molecular relativamente baixa [1].

A resina, também designada por ligante, que pode ser orgânica ou inorgânica,

é o componente responsável pela formação da película de tinta. Os ligantes molham as

partículas de pigmento, ligando-as entre si, com os restantes constituintes da tinta e com o

substrato [11]. São os constituintes mais importantes das tintas utilizadas na construção civil

porque conferem aderência, integridade e coesão à película sólida na qual a tinta se converte

depois de seca [2].

Os ligantes são também os principais responsáveis pela maioria das propriedades da

película de tinta, como sejam o mecanismo e o tempo de “cura”, o desempenho no tipo de

exposição, o desempenho no tipo de substrato, a compatibilidade com outros revestimentos,

flexibilidade e resistência, desgaste no exterior e aderência [11].

Não existe uma só resina que consiga reunir todas as propriedades referidas, com tão

amplas variabilidades associadas a cada propriedade, pelo que geralmente na formulação

de uma tinta são utilizadas várias resinas [11], que podem ter origem natural ou sintética [13].

Muitas resinas naturais usadas como ligantes são procedentes de exsudações de

árvores ou secreções de insectos, podendo ainda ter origem mineral, se forem derivadas de

restos vegetais fossilizados [13].

As resinas sintéticas são geralmente preparadas a partir de subprodutos da refinaria

química ou de processos de fabrico, depois de convenientemente tratadas e modificadas [13],

sendo que a escolha dos polímeros é feita com base nas propriedades físicas e químicas

pretendidas para a película final e no método de aplicação da tinta [14].

Comparativamente com as resinas naturais, as resinas sintéticas têm maior resistência

química e à luz UV, o que se traduz na sua utilização generalizada em diversos fins diferentes,

como revestimentos de protecção contra a corrosão [13].

● Resinas naturais

A norma ISO 4618 define resina natural como uma “resina de origem vegetal ou

animal” [1]. Podem ser mais ou menos polimerizadas, são insolúveis em água,

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Tintas e Pinturas

10

mas são solúveis em solventes orgânicos e têm natureza química variada,

essencialmente terpénica [2].

No grupo das resinas naturais podem citar-se:

(1) Colofónia – obtida por destilação da seiva do pinheiro, do mesmo modo que a terebentina (aguarrás) e o óleo de pinho. Apresenta cor clara, alto ponto de amolecimento, viscosidade e boa resistência à oxidação [2]. Os revestimentos são transparentes e incolores e são destinados para superfícies de madeira e acabamento de móveis [13].

(2) Goma-laca – é feita a partir da secreção resinosa de um insecto da Índia e da Tailândia. As secreções secas são recolhidas, esmagadas e lavadas e, depois, fundidas e secas. A goma-laca forma uma película simultaneamente dura e elástica, com grande variedade de usos, incluindo cimentos de união, cimentos para madeira, estuque e argamassas [13].

(3) Copais – são resinas derivadas de restos vegetais fossilizados ou semi-fossilizados, preparadas com óleos vegetais, para obter melhor tempo de secagem, elevada dureza, brilho e resistência à água e a substâncias alcalinas. Devido à sua flexibilidade, estas resinas são muito usadas como etiquetas de papel [13].

Muito usadas no passado, as películas de resinas naturais são hoje aplicadas na

restauração de móveis e nas cores de arte [3].

As resinas naturais podem ser dissolvidas em solventes voláteis, formando os

chamados vernizes espirituosos que, após aplicação sobre uma superfície e

evaporação do solvente deixam uma película de resina sobre a superfície [13].

Por vezes, as resinas naturais são submetidas a modificações químicas, obtendo-

-se de produtos de elevada massa molecular, como:

(1) Oleorresinas – resultam da mistura e reacção química de óleos sicativos vegetais com resinas [2]; obtendo-se vernizes com maior capacidade de secagem, mais brilho e formando películas mais duras do que aplicando apenas o óleo [13].

(2) Resinas Celulósicas – são obtidas por modificação da celulose, dando derivados como a nitrocelulose, o acetato de celulose ou a etilcelulose. São produtos já pouco utilizados, com excepção da nitrocelulose que conserva algumas aplicações [3].

(3) Resinas de borracha clorada – são obtidas por modificação química da borracha natural [2]. Estes produtos apresentam excelente resistência à água e são ainda

utilizados em ambientes corrosivos ou marítimos [3].

Page 23: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

11

Tintas e Pinturas

● Resinas sintéticas

As resinas sintéticas, segundo a norma ISO 4618, são “resinas resultantes de

reacções químicas, tais como poliadição, policondensação ou polimerização” [1].

A poliadição consiste numa reacção quimica de adição, através da qual se obtêm

polímeros a partir de um único tipo de monómero. A policondensação é um processo

de formação de polímeros através de uma reacção de condensação, a partir de um

único monómero, com eliminação de moléculas de baixo peso molecular, como a

água ou o ácido clorídrico. A polimerização é um processo de formação de polímeros

através de uma reacção de adição ou de condensação, a partir de mais de um tipo

de monómero.

Devido ao incremento da presença das resinas sintéticas nos produtos modernos

usados para pintura, actualmente são utilizadas resinas sintéticas muito diversas,

sendo relevante realçar as seguintes:

(1) Resinas acrílicas

As resinas acrílicas são resinas sintéticas resultantes da polimerização ou

copolimerização de monómeros acrílicos e metacrílicos, em geral com outros

monómeros [1].

As resinas acrílicas contêm partículas de polímeros em suspensão que, quando

o solvente e a água evaporam, permanecem e formam a película [14].

Os ligantes acrílicos são especialmente usados em tintas de emulsão aquosa,

sendo que a dureza e a flexibilidade dos polímeros varia consideravelmente em

função dos tipos e das quantidades de monómeros usados. O monómero de

metil-metacrilato dá o polímero termoplástico mais duro e os monómeros acrilato

dão o produto mais suave. Os copolimeros dos esteres acrílicos e metacrilicos

são bastante usados para pinturas no exterior, enquanto os copolimeros de

vinil-acetato acrílico são mais usados para pinturas no interior [13].

Os acrílicos produzem um acabamento com elevado brilho, excelente dureza

e boa resistência química e à degradação pela radiação solar [2], sendo que

o constituinte acrílico aumenta a resistência à água e aos álcalis, bem como a

flexibilidade e a durabilidade da película. Têm uma incomparável retenção de

cor, que lhe confere excelentes propriedades de durabilidade no exterior [13].

(2) Resinas alquídicas

As resinas alquídicas são “resinas sintéticas resultantes da policondensação de

poliácidos e de ácidos gordos (ou óleos) com polióis” [1]. As suas propriedades,

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Tintas e Pinturas

12

nomeadamente o tempo de secagem, a dureza, a cor e a sensibilidade à

humidade, dependem do óleo sicativo usado no fabrico da resina, do seu tipo e

do seu grau de insaturação [13].

Quanto à quantidade de óleo combinado com a resina, as resinas alquídicas

são classificadas em:

– resinas alquídicas de longa cadeia - conferem ao revestimento menor

resistência química e à humidade e tempos de secagem mais longos; contudo,

têm maior possibilidade de penetrar e selar uma superfície insuficientemente

preparada [2][13].

– resinas alquídicas de média cadeia - geralmente endurecem em 24 horas;

têm o comprimento de cadeia de eleição para a maioria dos sistemas de

revestimento alquídico novos e de manutenção [2][13].

– resinas alquídicas de curta cadeia - são de secagem rápida, podendo requer

aquecimento em estufa (temperatura de 95ºC) durante uns minutos para

obter a cura completa; estes revestimentos têm boa resistência química e à

humidade, mas são relativamente duros e quebradiços [2][13].

Os produtos de pintura alquídicos secam por evaporação do solvente e curam

à temperatura ambiente, por reticulação auto-oxidativa do constituinte do

óleo [14].

Os alquídicos são provavelmente os revestimentos de protecção mais utilizados

para ambiente não químico, devido ao seu custo relativamente baixo, à

facilidade de mistura e de aplicação, estabilidade de cor e boa resposta em

diferentes ambientes atmosféricos, além de terem uma excelente capacidade

para penetrar e aderir a superfícies relativamente mal preparadas, ásperas,

sujas ou riscadas [13].

Contudo, a presença do óleo sicativo pode limitar a resistência química e à

humidade de alguns produtos de pintura alquídicos [13], o que levou os

formuladores de tintas a modificar quimicamente as resinas alquídicas com

outras substâncias, nomeadamente óleos ou outras resinas, tornando-as

muito funcionais para uma gama alargada de aplicações [2][14]. Embora

estas modificações possam aumentar ligeiramente os custos do sistema de

revestimento, proporcionam uma melhoria nas propriedades, que torna rentável

o custo da modificação [13].

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13

Tintas e Pinturas

(3) Resinas epoxídicas

As resinas epoxídicas são resinas sintéticas contendo grupos epóxi, geralmente

preparados a partir de epicloridrina e um bisofenol [1]. Se forem combinadas

com resinas alquídicas, que reagem por um mecanismo de esterificação com

diversos grupos químicos [2], produzem revestimentos com propriedades de

resistência química e à humidade melhoradas [13].

Quando é necessário melhorar o desempenho, são usados os éster epóxi, que

são resinas sintéticas resultantes da reacção de esterificação entre uma resina

epoxídica e ácidos gordos e/ou óleos sicativos [1].

Estas resinas podem ser formuladas de diversas maneiras, desde formulações

de um só componente que requer cura em estufa, até sistemas de dois

componentes, que curam a temperatura igual ou abaixo das condições

ambiente [14].

Os revestimentos de resinas epoxídicas de base oleosa proporcionam uma

grande variedade de propriedades e aplicações [2], têm melhor aderência,

excelente resistência à humidade e resistência química superior, embora

sejam um pouco mais caras. As suas propriedades de aderência tornam-nas

especialmente bons primários. Estas resinas perdem o brilho por exposição à

luz UV, mas esta deterioração raramente é estrutural [13] [14].

(4) Resinas fenólicas

São resinas sintéticas resultantes da policondensação pelo fenol, seus

homólogos e/ou seus derivados com os aldeídos, em particular o formaldeído [1].

As resinas fenólicas têm maior retenção de brilho e melhor resistência à água e

aos álcalis. Estas resinas têm demonstrado um desempenho satisfatório

em imersão em água, um serviço onde não são adequadas outras resinas

alquídicas não fenólicas [13].

(5) Poliésteres

As resinas poliéster são “resinas sintéticas resultantes da policondensação de

poliácidos e de polióis” [1]. Têm uma estrutura química similar aos alquídicos e

são, no fundo, um tipo específico de resina alquídica sem óleo [2].

Dependendo da sua estrutura química, é feita uma distinção entre resinas

poliésteres insaturadas e saturadas, sendo que as cadeias de polímeros

das resinas poliéster insaturadas facilitam a reticulação subsequente com os

solventes, particularmente com o estireno [1].

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Tintas e Pinturas

14

São amplamente usados como revestimentos em pó [14], sendo geralmente

utilizados na produção de vernizes, para proteção de diversos materiais usados

na construção civil, designadamente madeira, betão, argamassa, entre outros.

(6) Poliuretanos

As resinas de poliuretanos são resinas sintéticas resultantes da reacção

de isocianatos polifuncionais com compostos contendo grupos hidroxilo

reactivos [1].

Os poliuretanos são formulados com várias pigmentações e em diversas

combinações para se adequarem às condições de exposição. Apesar das

propriedades destas resinas dependerem das modificações químicas que

apresentam, formam sempre películas duras [2], com elevado brilho [14].

Estas resinas apresentam algumas vantagens, como a diminuição do tempo de

secagem do revestimento e, de um modo geral, requerem pouco ou nenhum

calor para endurecer. Possuem excelente resistência química [2] e a manchas

e melhoram a resistência à humidade, intempéries e abrasão [13].

Contudo, são de utilização restrita devido ao seu elevado preço [2], dado

poderem ser duas a cinco vezes mais caras do que as outras tintas, sendo

usadas apenas quando o elevado desempenho justifique o custo [14]. São muito

usados para revestimento dos cascos de barcos de madeira e para melhorar o

revestimento alquídico [13].

Estas resinas são fornecidas em recipientes separados, devendo os dois

componentes ser misturados antes da aplicação. Após a mistura, o material

tem um “tempo de vida” limitado, que é o tempo durante o qual os componentes

podem estar misturados antes de começar a formação do reticulado, e que

podem ir de alguns minutos a 16 horas [14].

(7) Resinas vinílicas

As resinas vinílicas são resinas sintéticas resultantes da polimerização ou da

copolimerização de monómeros contendo grupos vinílicos [1]. Estas resinas

podem ter diferentes graus de polimerização e são frequentemente misturados

entre si, como o poliacetato de vinilo, o policloreto de vinilo (PVC) e os

acrilatos [2].

Estas resinas são geralmente formuladas como primários universais, podendo

também ser usados como fixante entre diferentes camadas de pintura, antes de

cobertas com intermédios e acabamentos [13].

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15

Tintas e Pinturas

São usados nas tintas de emulsão aquosas [3]. O constituinte alquídico melhora

a aderência, a formação da película e a resistência térmica e a solventes; as

modificações vinílicas aumentam a capacidade de repintura e a resistência

química e à humidade [13].

As tintas à base de emulsões vinílicas são facilmente aplicadas, são sensíveis

à humidade durante a aplicação, não são tóxicas nem inflamáveis e são muito

usadas na construção civil [2].

(8) Resinas de Silicone

As resinas de silicone são resinas sintéticas nas quais a estrutura de base

consiste numa cadeia que comporta grupos siloxano (silício-oxigénio-silício) [1].

Nestas resinas a principal cadeia de polímero é constituída por átomos de

silício e de oxigénio (em vez dos átomos de carbono), que se apresentam

copolimerizadas com resinas alquídicas ou poliuretanos [2].

Aumentam a durabilidade, o brilho e a resistência ao calor, e apresentam

superior resistência ao clima e à água, sendo usado em pinturas na marinha e

de manutenção [13].

● Outras resinas sintéticas

– Resinas amínicas – são resinas sintéticas resultantes da reacção de condensação de derivados aminados (ureia, melamina) com aldeídos como o formaldeído. Estas resinas são frequentemente esterificadas com álcoois [1]. Raramente se usam isolados, mas geralmente em combinação com outras resinas contendo grupos reactivos [3].

– Resinas betuminosas – são produtos, como o breu de petróleo ou betumes naturais, que podem ou não ser modificados com resinas [2]. Para serem aplicadas, estas resinas têm de ser aquecidas até à fusão, de modo a reduzir a sua viscosidade [13].

– Resinas hidrocarbonetos – são resinas sintéticas resultantes da copolimerização de hidrocarbonetos alifáticos e/ou aromáticos, por vezes com aldeídos [1].

– Resina isocianato – resina sintética contendo isocianatos livres ou blocos, por

vezes com aldeídos de tipo aromático, alifático ou cicloalifático [1].

– Silicatos – podem ser orgânicos e inorgânicos [2].

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Tintas e Pinturas

16

Existem ainda outros tipos de resinas sintéticas, menos usuais, como:

– Aminoplasto

– Cumarona-indeno

– Estireno-butadieno

– Fluorcarbonetos

– Nylon

– Polietileno

– Polipropileno

As tentativas de desenvolvimento de novos polímeros são constantes, através

de combinações de diferentes monómeros, bem como combinações entre novas

resinas. Neste sentido, e devido a uma crescente utilização das chamadas “tintas

em pó” (ou sem solvente), estão a ser cada vez mais usadas outras resinas que,

de um modo geral, apresentam características bastante melhoradas quando

comparados com os produtos convencionais [2].

2.1.3. Pigmentos

Um pigmento, tal como definido na norma ISO 4618, é um “material corante, geralmente

na forma de partículas finas, que é praticamente insolúvel no meio de suspensão e que é

utilizado devido às suas propriedades ópticas, protectoras e/ou decorativas” [1].

Os pigmentos (figura 9) são

pequenas partículas que, embora

insolúveis no veículo, são incorporadas

na tinta com a finalidade de realçar o seu

aspecto ou melhorar as suas propriedades

físicas [14].

O tamanho e a forma da partícula

do pigmento, a molhabilidade pelo

ligante, o espessamento e propriedades

relacionadas com a densidade específica

contribuem significativamente para a

viscosidade, para as características de

aplicação da tinta fresca e para as propriedades do revestimento em termos de protecção,

depois de seco [13].

Uma tinta com boa capacidade de protecção tem na sua composição grande

quantidade de pigmentos bem dispersos para que a penetração de ar ou de sais seja a mais

baixa possível [16].

Figura 9 – Pigmentos

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17

Tintas e Pinturas

a) Tipos de pigmentos

Quimicamente, os pigmentos podem classificar-se em orgânicos, se na sua

composição predominam compostos de carbono, ou inorgânicos, se na sua

composição predominam elementos metálicos [17].

A principal finalidade dos pigmentos orgânicos é fornecer cor à tinta. Quando

comparados com os pigmentos inorgânicos, os pigmentos orgânicos têm geralmente

cores mais vivas, são mais brilhantes e têm menor opacidade (são mais claros); no

entanto, têm menor resistência quando aplicados no exterior [2], uma vez que são

mais propensos ao sangramento e têm muito menor resistência ao calor e à luz,

além de serem substancialmente mais caros [13]. Os pigmentos inorgânicos têm

elevada estabilidade térmica, sendo também estáveis à luz [14].

Quanto ao modo de obtenção, os pigmentos podem ter origem natural ou

sintética [7]. Os pigmentos naturais são obtidos por moagem e peneiração de

produtos naturais, como terra, metais, óxidos metálicos, entre outros [9]. Os

pigmentos sintéticos são obtidos por síntese química de compostos orgânicos ou

inorgânicos [2].

Inicialmente, os pigmentos orgânicos eram extraídos a partir dos insectos e dos

vegetais; hoje, a maioria dos pigmentos orgânicos são desenvolvidos por síntese

química [13].

Alguns pigmentos inorgânicos contêm na sua composição chumbo, crómio, cádmio

ou outros metais pesados [13]. A sua utilização no fabrico de tintas tem vindo a ser

descontinuada devido à elevada toxicidade para a saúde humana e também para

o meio ambiente [7][14].

A natureza e o teor do pigmento existente numa tinta são de extrema importância,

uma vez que são os únicos componentes da tinta responsáveis pela cor e pela

opacidade da película seca que irá revestir, de forma homogénea, toda a superfície

que serve de suporte [2].

Os pigmentos são também responsáveis, juntamente com outros componentes,

por características das tintas, como as suas propriedades mecânicas, o brilho, a

resistência a químicos e a degradação da pintura [2].

A mais óbvia das propriedades que caracteriza os pigmentos é, como foi dito

acima, a capacidade que possuem de permitir a obtenção das cores pretendidas e

também de conferir opacidade à superfície, acções que são conseguidas porque os

pigmentos possuem características que lhes permitem modificar as propriedades

ópticas das tintas [7].

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Tintas e Pinturas

18

Essas características dos pigmentos devem-se à combinação de dois fenómenos ondulatórios distintos: a absorção e a difracção da luz visível, com a qual interagem. Assim, de um modo geral, a absorção da luz é responsável por conferir a cor, enquanto a opacidade é determinada pelo fenómeno de difracção da luz. A cor de um pigmento é influenciada essencialmente pela sua estrutura química, enquanto a opacidade é fundamentalmente influenciada pelo índice de refracção [7].

Apesar da finalidade evidente da pigmentação seja proporcionar cor e opacidade a uma superfície, no caso da aplicação de um de um esquema de pintura com uma formulação adequada de pigmentos (um revestimento de protecção) pode fazer muito mais do que isso, ou seja, pode atribuir algumas propriedades, como sejam aumentar a sua durabilidade e contribuir para uma redução dos custos de reparação e de manutenção [2][13]. Pode ainda aumentar, entre outras, a resistência à luz e à intempérie, a resistência ao calor, aos solventes e à cristalização, e até resistência

ao sangramento [7].

b) Cor

A cor de um pigmento resulta de uma absorção selectiva e consequente reflexão de comprimentos de onda específicos do espectro de luz visível, pelo que a composição química é o factor mais importante na determinação da cor final de um pigmento [7].

Outro aspecto essencial é a dispersão dos pigmentos no veículo da tinta, que é determinante para obtenção do rendimento máximo do pigmento e, consequentemente, da sua optimização em termos económicos, mas também para que se possa garantir uma tinta com a máxima durabilidade possível, mantendo boa estabilidade, bom brilho e bom comportamento durante a aplicação [7].

Os pigmentos naturais de terra (argila de caulino, silicato de magnésio, carbonato de cálcio) proporcionam estabilidade das cores à deterioração pela luz UV. Os pigmentos naturais são mais estáveis aos raios UV do que os pigmentos orgânicos sintéticos [11].

O dióxido de titânio (TiO2) é o pigmento branco mais comum por apresentar propriedades que lhe permitem conferir às tintas um poder de cobertura excelente [2], devido ao seu elevado índice de refracção e excelente poder de opacidade [13].

Duas das formas polimorfas (variedades cristalinas) do dióxido de titânio mais usadas são o rútilo e o anatase [2]. O rútilo tem o maior índice de refracção e a melhor força de coloração de todos os tipos de pigmento, embora apresente menor poder de opacidade, menor resistência à luz solar do que o anatase, que tem elevada resistência à deterioração e reduzida tendência para a pulverulência [2][13].

Apesar do seu elevado custo, o dióxido de titânio é o pigmento branco mais usado,

tanto em tintas brilhantes como nas tintas “mate”. Frequentemente dispersam-se

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19

Tintas e Pinturas

as partículas de TiO2 em cargas compatíveis de maneira a que não se perca a

opacidade e, desta forma, se consiga diminuir o custo da tinta [2].

Devido à sua elevada força corante, que representa a facilidade com que os pigmentos corados podem ser misturados com outros pigmentos para colorir a tinta, o dióxido de titânio é frequentemente combinado com outros pigmentos, orgânicos e inorgânicos, para adicionar cor [13]. Quanto maior for a quantidade necessária, maior é o poder corante do pigmento em questão [7].

Dentro dos pigmentos brancos, os pigmentos esféricos poliméricos são muito frequentes em tintas de base aquosa, sendo o segundo tipo mais usado. São uma das possíveis misturas compatíveis com o dióxido de titânio, para permitir que o custo da mistura seja mais reduzido [2].

O Litopone é outro tipo de pigmento branco. Este apresenta uma reduzida resistência à acção da radiação solar, amarelecendo com facilidade, e sendo por isso mais utilizado para pintura de interiores. No entanto, quando se usa para pintura de exteriores, é usual misturar-se com o branco de zinco de forma a melhorar as suas capacidades, tanto do ponto de vista da opacidade, como da resistência aos agentes atmosféricos [2].

Relativamente a pigmentos corados, têm grande utilização os óxidos de ferro naturais e sintéticos. As cores dos naturais variam de amarelo a vermelho acastanhado brilhante, até castanho esverdeado e um castanho forte. No que diz respeito aos sintéticos, apresentam uma gama de cores que vai de amarelo e vermelho a castanho e preto [13].

Podem ainda referir-se os pigmentos vermelho cromato com adições de sulfato e,

por vezes, de molibdato que variam na cor, entre um amarelo claro e um laranja

brilhante ou vermelho escarlate. Devido à sua cor límpida e brilhante, os pigmentos

de cromato de chumbo são usados com frequência para pinturas de estradas e em

pinturas de segurança. E apesar do cromato de chumbo ser considerado perigoso,

os pigmentos neste tipo de pinturas dificilmente serão substituídos, porque nenhum

outro pigmento apresenta uma luz com resistência e brilho semelhantes [13].

c) Protecção

No caso de uma pintura de protecção contra a corrosão, são utilizadas tintas anticorrosivas, nas quais entram pigmentos com as características necessárias para que seja evitada a corrosão das armaduras no interior das paredes [2]. Os pigmentos anticorrosivos são aqueles cuja propriedade específica é a de se oporem à corrosão eletroquímica do metal pelo meio ambiente [7].

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Tintas e Pinturas

20

Os pigmentos orgânicos de síntese têm pouca importância técnica ou comercial

para revestimentos preventivos da corrosão [13].

Numa pintura de protecção contra a corrosão, os pigmentos podem ter, entre

outras, as seguintes acções:

– Proporcionar a inibição da superfície metálica, prevenindo a corrosão.

A adição de alguns pigmentos, pouco solúveis em água, na composição de

um primário interfere eficazmente com o electrólito, inibindo a corrosão activa

de substratos metálicos. Quando a camada de tinta é exposta à humidade e

penetrada por ela, a água na camada transversal dissolve parcialmente os

constituintes do pigmento e transporta-o para a superfície metálica de base. As

espécies iónicas dissolvidas reagem com o metal (geralmente aço ou alumínio)

para formar um produto de reacção que inactiva o substrato e reduz a velocidade

de corrosão da camada inferior. São exemplos de pigmentos inibidores, os

cromatos (já pouco utilizados) o chumbo ou o zinco [11][13].

– Actuar como uma barreira para tornar a camada de tinta seca impermeável à

água

Forma-se uma barreira protectora entre a superfície do metal e o electrólito,

impedindo a passagem de água e de oxigénio para o interior (isola electricamente

o metal), elementos esses que quando se combinam provocam a corrosão

[2]. Qualquer humidade que penetre deverá migrar em torno da partícula do

pigmento e, ao fazer isso, aumenta o comprimento do trajecto de permeabilidade

até ao substrato [13].

A barreira de protecção está disponível em maior ou menor grau por todos os

pigmentos inorgânicos formulados num revestimento. No entanto, alguns tipos

de pigmentos são formulados especificamente como pigmentos de barreira ou

em alternativa, conferem propriedades de barreira à camada de tinta. O mais

notável dos pigmentos de barreira é o alumínio em palhetas, mas também os

epoxies e betumes asfálticos [11][13].

– Galvanizar com revestimentos ricos em zinco para proteger a camada de aço

que constitui o substrato base [13].

Um primário (primeira camada de um revestimento) rico em zinco que confere uma protecção catódica galvânica do metal ferroso (o zinco sacrifica-se para proteger o metal ferroso). Os revestimentos galvânicos só são eficazes se forem aplicados directamente sobre o metal [11].

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21

Tintas e Pinturas

Há ainda outros tipos de pigmentos que são usados em situações particulares,

devendo ser tidos em conta devido às características especiais que conferem

às tintas. São exemplos disso, os pigmentos que exercem um papel activo na

mistura, podendo actuar na absorção de radiação ultravioleta ou com uma acção

antivegetativa e contra fungos [2].

De facto, pode dizer-se que praticamente todas as propriedades da tinta são

afectadas pelo tipo e quantidade de pigmentos que contêm.

2.1.4. Cargas

Uma carga, segundo a norma ISO 4618, é um “material sob a forma de grânulos ou

de pó, insolúvel no meio de suspensão e utilizada para modificar ou influenciar determinadas

físicas” [1], como a permeabilidade da película, a resistência química, o brilho, a sedimentação,

a resistência à abrasão, o comportamento anticorrosivo e a viscosidade [7][15].

Apesar dos fracos poderes corante e de opacidade, as cargas utilizam-se para dar

corpo à tinta, sobretudo por razões de ordem económica, dado o seu baixo custo em relação

ao pigmento. Por outro lado, a granulometria, a superfície específica e as características

intrínsecas de algumas cargas, facilitam o seu fabrico e a aplicação, melhoram a qualidade

e durabilidade, possibilitam a conservação das tintas, aumentam a impermeabilidade e

elasticidade e conferem por vezes às tintas determinadas propriedades particulares, tais

como resistência ao fogo e antiderrapantes [2].

Tal como os pigmentos, as cargas podem ser de origem natural ou sintética [2].

Presentemente, os tipos de cargas mais utilizados no fabrico de tintas são:

– Carbonato de cálcio (branco de Paris) – uma das cargas naturais mais baratas e mais utilizadas, de modo a reduzir ao máximo o custo das tintas. Têm boa acção anticorrosiva, mas dado serem muito solúveis em meios ácidos, não devem ser usadas quando se pretende uma boa resistência química [7].

– Barita (sulfato de bário) – de origem natural, confere alta dureza e resistência à película depois de seca. É quimicamente inerte e não é tóxica [7].

– Talco (silicato de magnésio hidratado) – Devido à forma lamelar das suas partículas, a película final de tinta apresenta um toque suave, além de melhorar o comportamento das tintas em termos de protecção contra a corrosão. Usa-se sempre que se pretende a diminuição do brilho e o aumento da lixabilidade dos produtos em que se encontra incorporada. É inerte sob ponto de vista químico [7].

– Caulino (silicato de alumínio) – As sua partículas apresentam a forma lamelar, sendo

igualmente usados para incrementar o desempenho em termos anticorrosivos das

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Tintas e Pinturas

22

películas protectoras. De referir que as partículas de caulinos calcinados, devido à presença de ar no seu interior, podem contribuir para um acréscimo do grau de opacidade do esquema de pintura [7].

– Farinha de sílica – Concedem às tintas uma maior resistência à abrasão e à esfrega, por causa da sua elevada dureza. Permitem a obtenção de superfícies texturadas, devido à presença de areias de granulometria seleccionada [7].

– Diatomite – São cargas de formato irregular e de origem sedimentar, que apresentam uma elevada absorção de óleo, e que por isso são usadas como redutor de brilho [7].

– Mica – Permitem melhorar os níveis de resistência dos esquemas de pintura, no que diz respeito à humidade e fissuração, nomeadamente em revestimentos expostos a climas adversos. São geralmente usados nas tintas para pinturas exteriores, visto

que apresentam uma opacidade quase total aos raios ultravioleta [2][7].

A cor das cargas pode variar de brancas a acinzentadas, dependendo do tipo de

carga e da quantidade de impurezas que contêm. Naturalmente que, com as cargas mais

acinzentadas é difícil obter brancos puros e tons muito limpos e intensos, a partir de pigmentos

orgânicos [7].

Por outro lado, é possível optimizar o tamanho das partículas e o espaçamento entre

elas, sendo que a redução do tamanho de partícula da carga melhora o espaçamento do

pigmento. Essa optimização permite aumentar a opacidade de uma tinta sem aumentar a

quantidade empregue de pigmento [7].

2.1.5. Solventes e Diluentes

Segundo a norma ISO 4618, um solvente é um “líquido simples ou mistura de líquidos,

volátil sob determinadas condições de secagem, e no qual o ligante é solúvel” [1].

Na indústria das tintas, os solventes são utilizados nas diversas fases de fabrico [7],

geralmente numa mistura de solventes com a finalidade de dissolver o veículo fixo ou ligante

[2]. De um modo geral, todas as formulações de tintas usam uma mistura de solventes para

obter as propriedades óptimas [13].

Além de possibilitar a aplicação do material de revestimento, os solventes devem

ter a capacidade de molhar e penetrar no substrato levando os componentes sólidos

que, após evaporação do solvente ajudam a tapar quaisquer fissuras, espaços vazios ou

irregularidades [13].

Podem ser usados como solventes quaisquer líquidos voláteis, como diluentes, ainda

que não tenham capacidade dissolvente, porque poderão aumentar a solvabilidade de outros

solventes numa tinta [13].

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23

Tintas e Pinturas

Um diluente é definido na norma ISO 4618 como “um líquido volátil, simples ou em

mistura que, sem ser solvente, pode ser usado em conjunto com o solvente sem causar

qualquer efeito indesejável”. A mesma norma define diluente, num outro contexto (“thinner”

em inglês) como “um líquido simples ou mistura de líquidos, voláteis nas condições de

utilização, que se junta a um produto de pintura para reduzir a viscosidade ou influenciar

outra propriedade” [1].

Assim, o diluente é um líquido orgânico que se adiciona à tinta, durante o processo de

fabrico ou no momento da aplicação, fundamental para obter uma tinta com as características

adequadas, como por exemplo, ajustar a sua viscosidade de modo a alcançar o nível óptimo

de fluidez durante a aplicação das tintas e consequente comportamento [2][7]. Por outro lado,

a escolha do diluente e as quantidades utilizadas são de extrema importância, uma vez que

podem alterar completamente o comportamento de um produto. Por exemplo, uma diluição

insuficiente pode conduzir à formação de “pele de laranja” e quantidades excessivas de

diluente ou diluentes não recomendados, podem dar origem a zonas enevoadas que alteram

o aspecto final pretendido [7].

Portanto, a finalidade dos solventes é dissolver os constituintes sólidos das tintas e

a dos diluentes é reduzir a viscosidade da tinta, conferindo-lhe um nível adequado de fluidez

para a sua aplicação [13]. Deste modo, a selecção criteriosa dos diluentes e do solvente ou

mistura de solventes influencia a facilidade de aplicação da tinta no substrato, qualquer que

seja o método que se utilize [14], a lacagem da película e a velocidade de secagem [3].

Deste modo, as características das tintas que poderão ser influenciadas pela presença

dos solventes e diluentes são: o poder solvente, a volatilidade, o cheiro, a toxicidade, o ponto

de inflamação e o preço [15].

A água é o solvente universal, mas não é usado como solvente de tintas em

revestimentos duráveis. Os solventes orgânicos conferem baixa sensibilidade à água e são o

solvente de eleição para dissolver resinas sólidas [13].

Existem numerosos tipos de solventes. Em função da sua composição química, os

solventes orgânicos podem ser agrupados em classes, sendo os mais utilizados [2][13]:

– Hidrocarbonetos – são produtos derivados da destilação do petróleo, cujas

moléculas contêm apenas átomos de hidrogénio e de carbono. Os hidrocarbonetos

podem ser:

○ alifáticos (éter de petróleo, querosene,”white spirit”, heptano)

○ aromáticos (benzeno, tolueno, xileno) – estes compostos são os solventes mais

fortes utilizados na formação de películas secas.

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Tintas e Pinturas

24

– Solventes Oxigenados – são compostos cujas moléculas contêm átomos de

oxigénio, além de carbono e hidrogénio, como por exemplo:

○ Álcoois (metanol, etanol, isopropanol, butanol)

○ Cetonas (acetona, diacetona, ciclohexanona)

○ Ésteres (acetato de etilo, acetato de isopropilo, acetato de butilo, etc.)

○ Éteres glicólicos (metilglicol, etilglicol, etc.)

– Terpenos – são solventes derivados da seiva dos pinheiros, como é o caso da:

○ Terebintina;

Após aplicação da tinta, todos os solventes devem evaporar [13] permanecendo

sobre as superfícies pintadas a matéria não-volátil da tinta, constituída pelos pigmentos e

pelo ligante [2], que formam uma camada dura, sólida e com as propriedades finais [13].

Os solventes evaporam a uma determinada velocidade, dependendo das

características de cada formulação, sendo a velocidade de evaporação crítica para garantir

a formação correcta da película de tinta [14]. É desejável que, numa tinta, alguns solventes

evaporem mais rapidamente para possibilitar o início da secagem mais rápido, enquanto outros

solventes devem evaporar mais lentamente e proporcionar a molhabilidade e penetração

[13]. Um desajuste na velocidade de evaporação dos solventes pode originar uma secagem

física inadequada, que pode traduzir-se em má aplicabilidade, menor dureza, pior protecção,

etc. [7].

Um solvente demasiado volátil origina uma secagem muito rápida e, como consequência, a película de pintura não fica uniformemente nivelada, podendo apresentar

perda de brilho [13]. Pode mesmo não penetrar o suficiente nos poros do suporte, produzindo

falta de aderência entre o sistema de pintura e a superfície. Por outro lado, o solvente deve

ser suficientemente volátil para evitar que, devido a uma secagem muito lenta, a tinta escorra

em superfícies verticais e não cubra adequadamente a superfície [7].

2.1.6. Aditivos

Aditivos são produtos usados numa formulação de revestimento para conferir

propriedades físicas ou químicas especificas ao revestimento [14], como sejam contribuir

para facilitar o fabrico, melhorar a estabilidade da tinta na embalagem, facilitar a agitação e

resolver defeitos que possam aparecer na película de tinta, durante a secagem ou mesmo

depois de seca [7].

A norma ISO 4618 define aditivo como “qualquer substância adicionada em pequenas

quantidades a um produto de pintura, para melhorar ou modificar uma ou mais propriedades” [1].

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25

Tintas e Pinturas

Em geral, os aditivos são produtos líquidos, viscosos ou sólidos pulverulentos, solúveis

nos veículos, adicionados em quantidades inferiores a 5% da massa de tinta e destinados a

melhorar as condições de aplicação dos produtos de pintura e as propriedades de película

seca [2].

Existem numerosos compostos diferentes que podem ser adicionados às

tintas para fins específicos [13]. Dependendo do aditivo específico usado, as características

do revestimento podem ser significativamente alteradas, em função da referida

especificidade [14].

Alguns dos aditivos mais utilizados estão referidos na tabela 1.

Tabela 1 – Tipos de Aditivos [2][3][7][13][14]

Aditivo Função

Absorventes da luz Estabilizadores do comportamento dos revestimentos expostos à luz solar e aos raios UV

Agentes anti-pele Impedir a formação de peles à superfície dos produtos nas embalagens, durante a armazenagem

Agentes anti-espuma Diminuir ou evitar a formação de espumas indesejáveis

Agentes anti-sedimento Evitar a deposição dos pigmentos e cargas, durante a armazenagem dos produtos

Agentes tixotrópicos Promover aumento de viscosidade nos produtos

BactericidasEvitar os efeitos da degradação por bactérias

Evitar a putrefacção

Desidratante Conservar um baixo teor de humidade no interior da lata durante a armazenagem (poliuretanos que curam por reacção com a humidade do ar)

Dispersantes Facilitar a dispersão dos produtos pulverulentos nos veículos

Emulsionante Favorecer a formação duma emulsão e assegurar a sua estabilidade

Espessante Provocar um aumento de consistência (agentes de endurecimento)

Fungicidas e algicidas Reduzir o ataque da película pelos fungos

Inibidores de corrosão Prevenir a corrosão

Insecticida Conferir à película uma toxicidade suficiente para assegurar a destruição dos insectos que venham ao seu contacto

Molhantes Diminuir a tensão interfacial entre a fase sólida e a fase líquida

Plastificantes Conferir elasticidade, aumentar e manter a flexibilidade da película

Secantes Provocar uma apreciável redução do tempo de secagem à temperatura ambiente

Os aditivos são geralmente designados pela função específica que desempenham no

produto de pintura ou na película, porque a única coisa realmente importante num aditivo é o

resultado da função que vai desempenhar [7].

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Tintas e Pinturas

26

2.2. Características das tintas

As tintas são veículos com capacidade para transportar e aplicar na superfície que vai ser

revestida o líquido constituído por uma combinação de ligante, pigmento e solvente. Uma vez sobre

a superfície, o solvente evapora e o veículo torna-se um sistema ligante pigmentado [13].

Todas as tintas, depois de aplicadas, podem formar uma película dura e impenetrável, uma

película porosa e macia, ou combinações intermédias entre as duas [13]. O conhecimento existente

sobre a indústria das tintas e seus constituintes permite o desenvolvimento de formulações com

determinadas características.

2.2.1. Concentração volumétrica de pigmentos (CVP)

Algumas propriedades do revestimento são influenciadas pelos pigmentos e cargas. Por exemplo, o grau de brilho da película seca depende da granulometria, da forma das partículas e do teor do pigmento. O brilho será inversamente proporcional à quantidade destes constituintes, variando entre o brilhante (menor quantidade de pigmentos e cargas) e o “mate” (maior quantidade pigmentos e cargas) [2].

Além do brilho, outras propriedades do revestimento são também influenciadas pelo

volume ocupado pelos pigmentos e cargas na película seca, como sejam a permeabilidade e

a tendência de enrugamento do revestimento após o término do processo de secagem.

Segundo a norma ISO 4618, a concentração volumétrica de pigmentos (CVP) é a

“razão, expressa em percentagem, do volume total de pigmentos e/ou cargas e/ou outras

partículas sólidas não formadoras de película contidas num produto para o volume total de

matéria não volátil” [1], conforme definido

pela expressão.

A figura 10 representa a influência

da CVP nas propriedades da película:

brilho (a), permeabilidade (b) e tendência

para enrugamento (c). Verifica-se em cada

uma das curvas um ponto de inflexão, que

é o ponto em que ocorrem as alterações

bruscas das características da película.

Esse ponto, representado na figura 10,

CVP = x 100Volume de pigmentos e cargas

Volume de pigmentos e cargas+ Volume de ligantes

Figura 10 – Relação de CVP com algumas propriedades da película [2]

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27

Tintas e Pinturas

designa-se por concentração crítica volumétrica de pigmentos (CVPC) e é definido na norma

ISO 4618 como sendo o “valor da concentração volumétrica de pigmento na qual o ligante

enche o volume deixado vazio entre as partículas sólidas supostamente em contacto e abaixo

do qual certas propriedades da película são notavelmente modificadas” [1].

2.2.2. Compostos orgânicos voláteis (COV)

Em termos ambientais, os solventes são a maior fonte de preocupação porque, ao

evaporarem, libertam COV e poluentes atmosféricos perigosos. Os COV reagem na presença

da luz solar com óxidos de azoto e óxidos sulfúricos originando poluição atmosférica [14].

Um COV é, segundo a norma ISO 4618, “qualquer produto orgânico líquido ou sólido

que se evapora espontaneamente nas condições normais de temperatura e de pressão

atmosférica com a qual está em contacto” [1].

A mesma norma define “teor em COV” como “a massa de compostos orgânicos voláteis

presentes num produto de pintura, determinado nas condições especificadas.” Naturalmente,

as propriedades e a quantidade de compostos a ter em conta dependem do domínio de

aplicação do produto de pintura. Para cada domínio de aplicação, os valores limites e os

métodos de determinação ou de cálculo são estipulados por regulamentos ou acordos [1].

No sentido de proteger o ambiente, tem sido publicada legislação diversa que

determina as emissões de COV como resultado dos teores utilizados em diversas actividades,

nomeadamente no sector das tintas [3], sendo de realçar o decreto-lei nº 181/2006, de 6 de

Setembro, que transpôs a directiva 2004/42/CE, de 21 de Abril, relativa à limitação do teor de

COV em determinadas tintas decorativas e vernizes, destinadas a edifícios, e em produtos de

retoque de veículos [18].

A utilização de solventes coloca também problemas de segurança, uma vez que

todos eles são combustíveis e alguns são altamente inflamáveis, sobretudo os que têm maior

velocidade de evaporação [13]. Por outro lado, os solventes não podem ser despejados no

solo porque infiltram-se nas águas subterrâneas, contaminando-as. Do mesmo modo, estas

tintas não podem ser deitadas para aterros sanitários, porque os metais pesados podem

contaminar as águas subterrâneas [14].

2.3. Mecanismos de formação da película

Os principais mecanismos pelo qual os ligantes formam películas são reacções com o oxigénio

do ar (oxidação), evaporação do solvente do veículo ou por reticulação química (polimerização).

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Tintas e Pinturas

28

As películas de revestimento formadas por estes

mecanismos podem ser termoplásticas (deformam e

amaciam por exposição ao calor) ou termofixas (não

deformam e permanecem duros mesmo em situações de

calor). São as características do ligante e o seu método

de secagem e/ou cura que determinam o mecanismo de

formação da película [13].

Seja qual for o mecanismo de formação de película,

após aplicação da tinta ocorre uma evaporação do

solvente, deixando uma película que se sente seca ao

toque, como está ilustrado na figura 11. Contudo, para

atingir as propriedades físicas e químicas finais, para que

a camada seca fique curada tem de ocorrer uma reacção

química subsequente. Esta pode consistir numa reacção

de oxidação com o oxigénio do ar ou numa reacção de

polimerização entre dois ou mais co-reagentes [13].

O endurecimento por evaporação do solvente é

característico das tintas de laca [14].

2.3.1. Oxidação (termofixa)

Após aplicação, estes revestimentos secam por evaporação do solvente. Geralmente, estas

tintas contêm um óleo sicativo combinado com uma resina, para melhorar a resistência química e à

água. Para obter as propriedades máximas de resistência química e à humidade, o óleo deve reagir

com o oxigénio do ar para formar ligações cruzadas, cura e posterior endurecimento. Esta reacção

de cura pode ser acelerada pela presença de sais metálicos [13].

Os revestimentos por oxidação seguida de reticulação química “armam” e endurecem quando

curam; eles não amaciam nem deformam pelo calor e, por isso, são chamados termofixos.

Para muitos revestimentos de base oleosa, a reacção de auto-oxidação ocorre imediatamente

após a aplicação da tinta, a uma velocidade relativamente rápida, que permite obter a resistência

química e à humidade desejadas, uns dias após aplicação. Contudo, a reacção continua ao longo

da vida do revestimento, embora a uma velocidade muito mais lenta, de modo que a resistência

máxima seja obtida apenas ao fim de meses ou anos após a aplicação [13].

Com o passar do tempo, (geralmente 20 ou 30 anos mais tarde), a reacção de oxidação e

secagem contínua do sistema ligante oleorresinoso conduz ao aparecimento de rachas (fissuras),

fragilização e deterioração da película de revestimento [13].

Figura 11 – Mecanismo de formação da película

Page 41: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

29

Tintas e Pinturas

2.3.2. Evaporação do solvente (termoplástica)

O segundo mecanismo de formação de película é por evaporação do solvente

representado na figura 11. O solvente no qual a resina é dissolvida ou emulsificada pode ser

água ou um solvente orgânico. Quando o solvente evapora, a resina líquida volta a um material

sólido, designado por película, que é resultado da evaporação do solvente e secagem, sem

que ocorra reticulação ou polimerização [13].

Estes revestimentos que secam principalmente, ou apenas, por evaporação da água

ou do solvente, sem sofrerem reticulação química, são designados por termoplásticos.

As resinas devem ser dissolvidas em grandes quantidades de solventes para serem

formuladas em revestimentos de protecção resistentes à corrosão. Estes mecanismos de

formação de película baseados apenas na evaporação do solvente (vinilos e borrachas

cloradas), têm a sua utilização severamente limitada devido às restrições à utilização de

COV [13].

As tintas de emulsão de látex consistem em partículas de resina sintética pigmentada,

emulsificadas com água. Estas tintas secam por evaporação da água, estando também em

conformidade com os requisitos COV e nos últimos anos têm avançado rapidamente para se

tornarem sistemas de pintura de protecção duradouros e seguros para o ambiente [13].

As principais tintas desta classe são as tintas reticuladas acrílicas, redutoras de

solventes e betuminosas de fusão a quente e tintas vinílicas (primários de lavagem de

vinilbutiral cromato de zinco, copolimeros de acetato de vinilo-cloreto de vinilo e vinilos de

base aquosa) [13].

2.3.3. Reticulação química (termofixa)

A reticulação química é conseguida pela co-reacção de dois ou mais monómeros,

para formarem um revestimento com um reticulado tridimensional, “armado” e não deformável

quando expostos a temperaturas elevadas e sendo, por isso, termofixos [13].

Este mecanismo de formação de película envolve uma reacção química combinando

pequenas moléculas (iguais ou diferentes) para formar moléculas maiores, genericamente

designadas por polímeros. Os sistemas resultantes destas ligações cruzadas vão de resistente

e flexível até duro e quebradiço, não deformando significativamente pela acção do calor [13].

Estas tintas são fornecidas em sistemas multi-embalagem, que consistem em duas

ou mais latas que devem ser misturadas antes da aplicação. Contudo, alguns materiais

termofixos reagem com a humidade do ar e são fornecidos em sistema uni-embalagem. Em

qualquer dos casos, quando correctamente aplicado e curado, o sistema de pintura forma

uma única molécula extremamente comprida em virtude da sua reticulação polifuncional [13].

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Tintas e Pinturas

30

As reacções de polimerização para formulação de sistemas de pintura modernos

em conformidade com COV têm aumentado. As adaptações ao fabrico de tintas de baixo

conteúdo em COV com maior sucesso são os sistemas curados quimicamente, como os

sistemas epóxi, poliuretanos, poliésteres e éster vinílicos [13].

2.4. Principais tipos de tintas

2.4.1. Tipos de tintas

As tintas tradicionais usam um solvente orgânico baseado no petróleo para dispersar

as resinas moleculares.

● Tintas com elevado teor de sólidos

As tintas com elevado teor em sólidos são uma evolução das formulações tradicionais. As formulações líquidas são muito similares, mas os sistemas de resina são modificados para produzir uma tinta com elevada concentração em sólidos (50 a 70%) e baixo teor em COV. Estas tintas utilizam tecnologias semelhantes às das tintas tradicionais baseadas em solventes, o que pode ser atractivo para os utilizadores, porque podem usar o equipamento convencional [14].

Apesar destas tintas oferecerem uma real redução nas emissões de COV, as potenciais reduções não são tão grandes como com as tintas em pó ou tintas

líquidas 100% reactivas [14].

● Tintas de base aquosa

As tintas de base aquosa usam principalmente água para dispersar as resinas,

embora possam também conter algum solvente. Podem ser usadas resinas

incompatíveis com a água desde que sofram previamente uma modificação

química [14].

As tintas de base aquosa podem ser classificadas em soluções, emulsões e

dispersões, cujas propriedades físicas e desempenho dependem da especificidade

das resinas usadas [14], conforme esquematizado na figura 12.

Soluções

As soluções são misturas de materiais completamente dissolvidos um no outro.

As resinas podem ser modificadas para dissolver em água, mas para que o re-

vestimento cure, tanto a água como o agente modificador têm de evaporar. Se

o agente modificador evaporar prematuramente, o pH da solução vai mudar e a

resina pode sair da solução (kickout).

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31

Tintas e Pinturas

○ Emulsões

Uma emulsão é uma dispersão de dois líquidos imiscíveis: pequenos glóbulos e

um emulsificador, que os mantém em suspensão. O termo latex é usado para qual-

quer emulsão de um material orgânico em água. As tintas de latex são tintas de

emulsão de base aquosa, que contêm resinas não naturais ou borracha sintética.

Nas tintas de emulsão de base aquosa, a água e o solvente determinam a viscosi-

dade da tinta; a resina existe como pequenos glóbulos. Estas tintas podem conter

elevado teor em sólidos sem aumentar a viscosidade. Durante o processo de cura, o

primeiro solvente evapora, deixando a resina para coalescer. Se a emulsão aquosa

for um esmalte, ocorre reticulação depois das moléculas da resina coalescerem.

○ Dispersões

As dispersões são pequenos grupos de moléculas de resinas suspensas num

líquido. Nas dispersões, os grupos são mais pequenos do que nas emulsões e a

agitação mecânica é suficiente para suspender os grupos, que não emulsionam.

As tintas de dispersão de base aquosa podem ser formuladas com solventes

orgânicos e água, podendo ter um elevado teor em sólidos para dar viscosidade.

● Tintas em pó

A tecnologia de tintas em pó está disponível desde a década de 1950, tendo sido

usadas para pintar canalizações para prevenir a corrosão e para isolamento de

partes elétricas de motores [14].

Os constituintes do pó são muito semelhantes à tinta molhada com resinas, pigmentos e aditivos, mas falta um transportador de solvente. O pó é aplicado por fluidização através de ar comprimido e o revestimento obtido é

espesso, geralmente vinil ou epóxi e mais focado na funcionalidade do que nas

qualidades decorativas [14].

Figura 12 – Tintas de base aquosa [12]

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Tintas e Pinturas

32

No início da década de 1960, a evolução tecnológica que tornou possível aplicar finas camadas de tinta para maior qualidade dos acabamentos definitivos, impulsionou as tintas em pó na indústria de acabamentos de metais. As formulações foram evoluindo de modo a oferecer uma gama sem limite de cores, brilhos e texturas, proporcionando um acabamento superior, por menos dinheiro e com os benefícios ambientais associados às tintas em pó sem solventes. Deste modo, as tintas em pó tornaram-se uma alternativa viável para pinturas decorativas e funcionais, não

deixando de ser predominantemente um processo de acabamento de metal [14].

● Tintas curadas pela luz UV

As tintas curadas pela luz UV requerem radiação electromagnética para iniciar a

reticulação da resina. Podem ser 100% líquidos reactivos, eliminando a utilização

de solventes e, ao reduzir o desperdício de tinta, conseguem atingir perto de 100%

de eficiência. Podem ser usadas sobre variados materiais, incluindo madeira,

plástico, papel e metal e podem ser aplicadas usando os métodos tradicionais de

pulverização, embora o rolo de pintura seja usado frequentemente uma vez que

são geralmente usadas para pintar chapas planas, que são peças planas [14].

Se forem pigmentadas, as tintas de cura por UV não podem ter mais de 1 mm

de espessura porque as moléculas dos pigmentos bloqueiam a luz. Todas as

superfícies pintadas devem ser expostas à luz UV para que a reacção possa

ocorrer [14].

2.4.2. Classificação das tintas

A enorme diversidade de produtos de pintura existentes no mercado, com distintas

aplicações e com as mais variadas características, permite ter produtos adaptáveis a cada

situação. Quando se pretende especificar um determinado produto de pintura recorre-se

geralmente a um dos tipos de classificação usuais e que têm por base: a natureza do solvente,

a natureza do ligante ou o fim a que se destinam [2].

● Classificação baseada na natureza do solvente [2]

Quanto à natureza do solvente, as tintas podem dividir-se em dois grupos:

– Tintas em que o solvente é água – neste grupo incluem-se as tintas de emulsão

aquosas (também chamadas de “tintas plásticas”) e todas as tintas aquosas

que tenham resinas sintéticas (como as tintas de água acrílicas ou vinílicas e

os esmaltes aquosos em geral).

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33

Tecnologias de aplicação de tintas

– Tintas em que o solvente não é água - neste grupo estão incluídas todas as tintas

líquidas não-aquosas, tintas de solvente (tintas acrílicas, vinílicas, epoxídicas e

de borracha), as massas, as tintas sem solvente e as tintas em pó.

● Classificação baseada na natureza do ligante [2][3]

A classificação de acordo com a natureza do principal ligante é a mais utilizada,

podendo as tintas dividir-se em:

– Tintas acrílicas e metacrílicas;

– Tintas alquídicas, oleosas e oloeorresinosas de secagem ao ar;

– Tintas betuminosas;

– Tintas de borracha natural, sintética, modificada ou não;

– Tintas epoxídicas;

– Tintas nitrocelulósicas;

– Tintas de poliésteres;

– Tintas de poliuretano;

– Tintas de silicatos;

– Tintas de silicones;

– Tintas vinílicas.

Nos casos em que estas tintas têm base aquosa, são geralmente designadas pelo

seu nome seguido do termo “aquoso”.

● Classificação baseada no fim a que se destinam [2]

As tintas são designadas pelo tipo de utilização que têm na construção, sendo as

mais frequentes:

– Tintas plásticas para a construção

civil;

– Tintas para a marcação de estradas;

– Tintas para protecção do betão;

– Tintas industriais;

– Tintas para estruturas metálicas;

– Tintas decorativas;

– Tintas de acabamento (esmaltes);

– Tintas de elevada resistência química;

– Primários.

Verifica-se que todas estas classificações permitem incluir todas as tintas; no entanto,

a classificação quanto à natureza do ligante é a que fornece maior informação sobre o

comportamento da tinta na sua utilização [2].

Figura 13 – Tintas diversas

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Tecnologias de aplicação de tintas

34

Na prática da construção civil, as tintas são designadas de forma generalizada, por

termos relacionados com o aspecto do acabamento obtido ou com a finalidade com que são

utilizadas, como por exemplo:

– Tinta de esmalte – é um tipo de acabamento que proporciona um aspecto mais ou

menos brilhante e liso.

– Tinta plástica ou tinta de emulsão – é uma tinta de água com ligantes sintéticos, que

dão um acabamento liso e mate.

– Tinta texturada – este tipo de tinta tem cargas de maior granulometria de modo a

obter como acabamento uma película com superfície rugosa.

– Tinta em pó – é uma tinta sem solvente, i.e., é um revestimento completo que

se apresenta na forma de pó. Podem ser aplicados por dois métodos, leito fluido

e electrostático. Os revestimentos em pó curam por fusão. São indicadas para

trabalhos de enterramento e imersão, mas desaparecem por acção da luz solar

indirecta e são quebradiças [11].

– Termolacado – é um revestimento obtido a partir da aplicação de determinadas tintas

sobre superfícies metálicas previamente tratadas, seguidas de cura em estufa.

– Tintas acrílicas – as tintas acrílicas aquosas são específicas para exposições

atmosféricas, como primários ou como acabamento e têm uma excelente retenção

de cor e brilho. Os acrílicos curam por coalescência/aglutinação [11].

– Tintas de óleo – consistem num pigmento, um óleo sicativo e um solvente alifático,

sem qualquer modificação com resinas sintéticas. A tinta seca por evaporação do

solvente, e cura mediante uma reacção de oxidação. As características destas

tintas oleorresinosas são determinadas principalmente pelas características do óleo

sicativo [13].

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35

Tecnologias de aplicação de tintas

3. Tecnologias de aplicação de tintas

Uma tinta é um líquido com diversos componentes, que quando aplicada e curada confere

uma película plástica fina. Para a execução de revestimentos por pintura, é necessário dispor de

informações gerais sobre tecnologia de pintura, com especial destaque para a minimização de efeitos

adversos dos impactes ambientais mediante a prevenção da poluição [14]. Efectivamente, a tecnologia

de pinturas sofreu uma mudança radical nas últimas décadas do século XX, devido à publicação de

legislação/regulamentação relacionada com a protecção do ambiente e com a saúde e segurança dos

trabalhadores [11].

Tradicionalmente, as tintas continham solventes baseados no petróleo, muitos dos quais foram

eliminados devido às emissões de compostos orgânicos voláteis (COV). Actualmente estão disponíveis

tintas sólidas, como tintas em pó e tintas sem solventes [14]. Foram alteradas, por exemplo, as

partículas de pó provenientes da abrasão, as emissões de COV’s e os materiais perigosos, como o

chumbo, cromatos e outros metais pesados [11].

Na execução de trabalhos de pintura, há que ter em conta diversos aspectos como forma de garantir

o êxito do processo, uma vez que o resultado final da pintura é condicionado por diversos factores de

ordem ambiental e técnico.

A selecção de um sistema de pintura deve ser adequada às necessidades do tipo de exposição

da superfície onde vai ser aplicado, sendo que, como foi já referido, a eficácia de um revestimento

depende de múltiplos factores, que vão desde selecção adequada dos produtos a aplicar, passando

pelo nível de preparação da superfície e pela qualidade dos materiais utilizados, até à qualidade da

aplicação [11].

Depois de seleccionado o sistema de pintura, podem ser escolhidos diversos métodos segundo

os padrões de referência em vigor e os procedimentos de ensaio para a preparação das superfícies, a

aplicação de tinta, os ensaios e a manutenção de pinturas [11][13].

3.1. Escolha do produto a aplicar

Para seleccionar o sistema de pintura mais adequado para aplicar numa instalação de

construção civil é necessário, em primeiro lugar, identificar e compreender a sua exposição

ambiental. Só depois será iniciada a selecção dos sistemas de pintura com base no historial de uso

com sucesso nos ambientes identificados [13].

Por exemplo, as pinturas com borracha clorada ou com vinil, que são termoplásticas, não

devem ser usadas em locais sujeitos a muito calor ou a solventes fortes porque podem rapidamente

dissolver ou amolecer.

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Tecnologias de aplicação de tintas

36

3.1.1. Identificação do ambiente envolvente

É provavelmente a etapa mais importante, que consiste em avaliar as condições sob

as quais o sistema de pintura tem de desempenhar. Não pode ser uma avaliação superficial,

pois deve considerar todas as condições que poderão existir, incluindo pequenos factores

que podem parecer irrelevantes. Por vezes, uma combinação de dois ou mais ambientes

envolventes, que actuem em conjunto, podem criar uma envolvente hostil [13].

Dentro dos factores de ambiente envolvente poderão ser considerados, entre outros,

os seguintes:

a) Variações de temperaturas

Os ciclos térmicos, geralmente associados com as condições atmosféricas, geram

naturalmente forças de expansão e de contracção. Para um sistema de pintura dar

a máxima protecção ao substrato, deve ter a capacidade de expandir e contrair

com o substrato [13].

As temperaturas adversas fora do normal (frio ou calor) podem causar fragilidade,

fraca resistência ao impacto, retracção ou falta de aderência e podem alterar as

características de prevenção da corrosão do sistema de pintura. Além disso, com

muito calor, o processo de cura pode ocorrer muito rapidamente ou, pelo contrário,

em temperaturas frias a cura pode simplesmente não ocorrer [13].

Pequenas variações de temperatura devem ser suportadas pelo revestimento

sem perda de aderência ou aparecimento de fissuras. Tintas acrílicas, vinílicas e

zinco orgânicos e inorgânicos têm provado resistência excepcional a flutuações de

temperatura [13].

Os revestimentos para aplicar em ambientes extremamente frios devem ter

excelente aderência, elasticidade e plasticidade. São fortes revestimentos

resistentes ao calor aqueles que são modificados com silicone e/ou fragmentos

metálicos, tais como alumínio ou aço inoxidável. Algumas tintas inorgânicas, ricas

em zinco, podem ser aplicadas a temperaturas tão baixas como -18ºC e fornecer

uma excelente protecção contra a corrosão [13].

b) Humidade elevada

Os revestimentos podem estar sujeitos a ambientes de humidade contínua ou a

uma alternância entre ambiente seco e molhado que, naturalmente podem afectar

o desempenho do sistema de pintura [13].

A norma BS6150 [19] classifica a humidade da atmosfera que rodeia o edifício a

pintar, em três tipos:

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37

Tecnologias de aplicação de tintas

– Baixo – quando a região apresenta, em média, mais de 6 meses “secos” durante o ano.

– Médio – quando a região apresenta, em média, cerca de 4 a 5 meses “secos” durante o ano.

– Elevado – quando a região apresenta, em média, até 3 meses “secos” durante o ano.

Entendendo-se por “secos” os meses sem precipitação ou precipitação muito reduzida.

Estes revestimentos devem ter forte aderência, baixa permeabilidade ao vapor de água, baixo poder de absorção de água e boa resistência. Quanto mais baixa for a velocidade de transferência de vapor, melhor é a protecção contra a corrosão fornecida pela pintura [13].

Embora um número significativo de revestimentos tenha um desempenho satisfatório nestes ambientes, os revestimentos habitualmente usados são formulações de epóxis de dois componentes, vinilos, betumes e respectivas modificações [13].

c) Imersão

Estes revestimentos são expostos a soluções aquosas que variam de água pura desionizada até soluções contendo elevadas concentrações de químicos diferentes. Mas podem também ser sujeitos aos efeitos de armazenagem de petróleo ou solventes [13].

Os revestimentos para imersão devem ter boa aderência, resistência à humidade, e variações de temperatura. Exemplos de revestimentos que tradicionalmente têm desempenhado bem em imersão são: Betumes asfálticos epóxis, vinilos, revestimentos ricos em zinco e modificações de tintas epóxi [13].

d) Oxidação-redução

Os ambientes oxidantes, como condições atmosféricas, lixívia ou ácido nítrico, são mais comuns do que ambientes redutores, e muitos revestimentos são mais sensíveis à oxidação do que à redução. A oxidação pode causar fragilidade na película e perda de coesão [13].

Os tipos gerais de pinturas que historicamente têm tido um bom desempenho em ambientes oxidantes são: betumes asfálticos epóxis, borracha clorada e formulações de epóxis e poliuretanos [13].

e) pH extremo

Ambientes fortemente ácidos ou alcalinos, podem ter um efeito dramático na

durabilidade de um revestimento, o que dificulta a selecção dos sistemas de pintura.

É de importância primordial obter uma película de revestimento inerte e com um

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Tecnologias de aplicação de tintas

38

bom grau de impermeabilidade relativamente ao ambiente, de modo a prevenir a ocorrência de reacções com o ambiente e de infiltrações [13].

No caso de um revestimento primário, a resistência alcalina é de vital importância. Substratos como betão têm elevada alcalinidade, pelo que o sistema de pintura escolhido para este substrato tem de exibir também resistência alcalina. Por outro lado, as reacções químicas que ocorrem no processo de corrosão dão origem a produtos fortemente alcalinos que são depositados sobre o substrato e com o tempo, favorecem a propagação de corrosão sob a película [13].

Formulações de tintas que tenham um histórico de bom desempenho em ambientes

de pH extremos são vinilos, borrachas cloradas e modificações epóxi [13].

f) Exposição a solventes

Foi já referida a função dos solventes nas formulações de tintas no que se refere

às características de aplicação. No entanto, os solventes interagem com o

ambiente envolvente até que o sistema de pintura fique seco ou curado, pelo que

o sucesso de qualquer situação assenta numa rigorosa identificação do ambiente

de exposição [13].

Os efeitos do solvente no sistema de pintura variam consoante o tipo de solvente

e a resistência da tinta que vai ser aplicada. Os sistemas de pintura escolhidos

não devem ser dissolvidos ou amolecidos pelo solvente no ambiente de exposição,

sendo necessário fazer uma boa selecção do sistema de pintura porque o

ligante pode dissolver facilmente e amolecer pelos vários níveis de força dos

solventes [13].

Historicamente, os revestimentos de dois componentes fortemente reticulados,

como formulações de tintas epóxi e uretanos têm exibido boa resistência aos

solventes. Isto reforça a ideia de que a mistura e o tipo de solvente no seu ambiente

de exposição deve ser identificado para que seja escolhido o sistema de pintura

apropriado. Quando sejam identificados factores pertinentes, os fabricantes de

tintas devem ser consultados para fornecer recomendações sobre o sistema.

Contudo, a chave de sucesso para qualquer situação assenta na identificação

completa e precisa do ambiente de exposição [13].

g) Exposição à luz UV

A resistência à radiação UV é extremamente importante visto que, a luz solar pode

causar uma perda total de integridade da película, degradando a pintura num curto

Page 51: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

39

Tecnologias de aplicação de tintas

período de tempo. Tal degradação provoca escamas, perda de brilho, desbotamento

e fragilidade, podendo resultar num aspecto estético inaceitável [13].

Algumas tintas exibem melhor resistência à luz UV do que outras. Por exemplo,

muitos produtos alquídicos e de base oleosa têm fraca resistência à exposição

à luz UV. No entanto as tintas alquídicas modificadas com silicone combinam a

funcionalidade dos alquídicos com a durabilidade, retenção de brilho e resistência

dos silicones, podendo melhorar muito as características de desempenho das

superfícies expostas à luz UV, pelo que são amplamente usados como acabamentos

de manutenção sobre as tintas alquídicas convencionais [13].

h) Impacto / abrasão

A resistência ao impacto e à abrasão designam dois tipos diferentes de exposição

ambiental, embora sejam frequentemente discutidos em conjunto [13].

A abrasão pode resultar de fenómenos naturais, como areia trazida pelo vento

ou areia transportada pelas ondas de água, embora possa estar na forma de

movimento de equipamentos pesados, tráfico pedestre ou mesmo limpeza por

ferramentas e equipamentos [13].

As formulações de epóxi e de poliuretanos são excelentes escolhas para a

resistência à abrasão, mas a fragilidade inerente e este revestimento pode causar

uma fractura fácil ao impacto [13].

Consequentemente, para especificar o revestimento é extremamente importante

determinar se o ambiente de exposição necessita de um revestimento que tenha

de resistir a abrasão constante, impacto súbito ou uma combinação dos dois [13].

A norma BS EN ISO 12944-2:1998 relaciona a agressividade do meio ambiente

com a deterioração provocada nas superfícies das paredes dos edifícios, que

posteriormente poderá levar à corrosão das armaduras no interior das mesmas.

Esta classificação é apresentada na tabela 2 [20] e permite distinguir se a pintura

é realizada no interior ou no exterior, diferenciando as zonas interiores em função

das diferentes utilizações que podem ter, e as exteriores em função da atmosfera

envolvente. Deste modo, tendo em conta as condicionantes inerentes ao local onde

se vai realizar a pintura, os produtos deverão ser cuidadosamente escolhidos, para

que a pintura seja a mais adequada possível para a situação.

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Tecnologias de aplicação de tintas

40

Tabela 2 – Classificação da agressividade ambiente [20]

Categorias de corrosão

Exemplos de ambientes em climas temperados

Exterior Interior

C1Muito Baixo -

Edifícios aquecidos, com atmosferas limpas.

ex: escritórios, lojas, escolas, hotéis

C2Baixo

Atmosferas com baixo nível de poluição.

Principalmente áreas rurais.

Edifícios não aquecidos, onde poderá ocorrer condensação.

ex: depósitos ou recintos desportivos.

C3Médio

Atmosferas urbanas ou industriais, com uma poluição mod-erada no que diz respeito ao dióxido de enxofre. Ou zonas costeiras com

baixo teor em sal.

Locais de elevada produção de humi-dade e alguma poluição

atmosférica.ex: Cozinhas, lavandarias, instalações sanitárias, etc.

C4 Elevado

Zonas industriais ou costeiras em que a salinidade seja

moderada.

ex: Fábricas de produtos químicos, piscinas, cais ou

marinas.

C5 – IMuito elevado (In-

dustrial)

Zonas industriais com elevada humi-dade e agressividade

atmosférica.

Edifícios ou áreas sujeitas a condensação quase permanente e com

elevada poluição atmosférica.

C5 – MMuito elevado

(Marítimo)

Zonas costeiras com elevada salini-dade.

Edifícios ou áreas sujeitas a condensação quase permanente e com

elevada poluição atmosférica.

3.1.2. Outros aspectos a considerar

Após identificação do ambiente envolvente, será feita a selecção dos sistemas de

pintura, tendo por base o historial de sucesso. Nesta fase, deverão ser identificados alguns

aspectos como as áreas mais difíceis de pintar, os requisitos regulamentares e legais e

outros como a identificação das alternativas de preparação de superfícies (para novas

construções e para manutenção), as alternativas de aplicação de tinta e o sistema de

protecção catódica [13].

a) Identificação de áreas que não podem ser adequadamente pintadas

Muitas vezes, a forma das estruturas, peças ou áreas a pintar apresentam

determinados ângulos ou cavidades e fendas, que dificultam a aplicação da tinta.

Algumas considerações iniciais sobre o desenho ou materiais de construção

alternativos podem ser úteis para evitar tais áreas problemáticas. No entanto,

muitas estruturas já estão construídas e não seria rentável nem prático introduzir

mudanças no projecto [13].

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41

Tecnologias de aplicação de tintas

Qualquer cavidade ou fenda onde possa ficar retido ar, humidade, sujidade ou

detritos deverá ser devidamente selada. Para seleccionar vedantes e selantes,

um factor essencial é a sua utilização anterior bem-sucedida no mesmo ambiente,

sendo os fornecedores e os fabricantes de tintas boas fontes de informação sobre

o desempenho de um dado vedante ou selante para o ambiente pretendido [13].

b) Identificação dos requisitos regulamentares

Existem regulamentos sobre o tipo e a quantidade de COV’s que podem ser

emitidos para a atmosfera e, nesta sequência, foi publicada legislação nacional

para restringir o teor em COV nas tintas; estas restrições listam os máximos de

COV’s admissíveis e variam de acordo com a categoria da tinta e da sua utilização.

As tintas passaram a ser formuladas com um elevado conteúdo em sólidos, menos

solventes e com água como solvente [13].

Estes regulamentos variam de país para país pelo que, antes de especificar o

revestimento, é importante conhecer os requisitos locais quanto ao uso de tintas

em conformidade com a não utilização de COV’s. Antes de especificar as tintas,

devem ser contactadas as entidades reguladoras de poluição do ar para conhecer

as restrições aplicadas [13].

Outros factores

Existem outros factores que podem influenciar a selecção de um produto de pintura,

como sejam:

– Identificação das alternativas de preparação de superfície para construções

novas ou de manutenção, que serão analisadas mais à frente neste capítulo;

– Identificação das alternativas de aplicação de pintura, igualmente objecto de

discussão neste capítulo;

– Sistemas de protecção catódica, usados em combinação com sistemas de

protecção por pintura, fornecem resultados fiáveis na protecção contra a

corrosão.

3.1.3. Critérios de selecção dos produtos de pintura

O critério final de selecção consiste na determinação do grau de eficácia do sistema

de pintura seleccionado na protecção da superfície no ambiente de utilização. A definição

clara e precisa do ambiente envolvente, juntamente com as recomendações dos fabricantes

de tintas, irá habilitar o especificador de tintas a selecionar o sistema de pintura que irá

proporcionar protecção mais duradoura ao edifício ou às instalações [13].

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Tecnologias de aplicação de tintas

42

Geralmente, para seleccionar produtos de pintura são considerados os seguintes

apectos:

(a) Recomendação do fornecedor

(b) Facilidade de aplicação

(c) Facilidade de manutenção

(d) Custo

(e) Resistência ambiente

(f) Duração da protecção desejada

(g) Preparação da superfície requerida/permitida

(h) Condições de aplicação/cura

(i) Disponibilidade de trabalho/material

(j) Considerações de saúde e segurança

3.2. Preparação de superfícies

O comportamento de um revestimento por pintura depende da boa qualidade da base de

suporte, que deve ser sempre convenientemente preparada, para que se obtenha uma superfície

homogénea e de porosidade conhecida, apta para receber o esquema de pintura escolhido.

A preparação adequada da superfície é fundamental para criar uma boa aderência da tinta

ao substrato e aumentar a durabilidade e a eficácia geral da pintura de protecção. A aderência

determina se é ou não suficiente aplicar uma só camada de película fina sobre a superfície [13].

Um aspecto relevante para melhorar a aderência, é tornar as superfícies suficientemente

ásperas e rugosas (dentro dos limites aceitáveis para o tipo de acabamento e textura pretendidos),

com pequenos picos e vales gravados na superfície a pintar, de forma a proporcionar um aumento

da área de contacto para uma união mecânica da tinta ao substrato [13].

O procedimento de preparação de superfícies demora, em geral, bastante mais tempo que

a própria pintura, porque se não forem eliminadas todas as imperfeições na superfície a pintar,

poderá ficar comprometida a qualidade, a aparência e a durabilidade da pintura.

Neste trabalho será abordada a preparação de superfícies de paredes de alvenaria rebocadas

e elementos de betão, tanto a nível exterior como a nível interior.

3.2.1. Métodos usuais de preparação de superfícies

As superfícies que vão receber os esquemas de pintura devem estar bem secas,

limpas e isentas de contaminantes, bem como de restos de tinta velha ou outros resíduos.

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43

Tecnologias de aplicação de tintas

Os equipamentos e as técnicas que podem ser usadas para obter a limpeza e a

rugosidade desejadas para a superfície variam consideravelmente [13], tendo em conta

que superfícies de materiais distintos requerem preparações distintas, uma vez que podem

apresentar condições que exigem tratamento específico.

Existe uma ampla variedade de métodos de preparação de superfícies, sendo que

hoje, os métodos tradicionais são acompanhados por métodos novos, inovadores, que

evoluíram sobretudo devido a questões de segurança relacionadas com a remoção das

estruturas industriais de tintas contendo chumbo [13].

Em seguida serão referidos alguns métodos de preparação de superfícies e

respectivas finalidades, que podem ir de limpeza com ferramentas e utensílios até métodos

mais sofisticados.

● Limpeza com solventes – quando a superfície tiver óleos ou qualquer tipo de gordura

deve ser limpa recorrendo a detergentes.

● Raspagem – é uma técnica tradicional que

consiste em raspar a superfície, primeiro

numa direcção e em seguida na direcção

perpendicular. Deve ser

utilizando um raspador bem

afiado e aplicando uma pressão

constante; no entanto, para

raspar materiais mais delicados

não deve ser aplicada demasiada

pressão. Para alcançar os cantos ou locais de mais difícil acesso

podem ser usados raspadores triangulares ou ovais. Quando se está

perante uma superfície de dureza superior, deverá ser usado um

raspador que permita ao utilizador segurar com as duas mãos.

● Lixagem – os restos de tinta que ainda se encontrem aderentes podem ser retirados

com recurso ao uso de uma lixa. A lixagem é um método que permite alcançar uma

superfície mais lisa, diminuindo as arestas e irregularidades da mesma. O processo

de lixagem pode ser executado para complementar a raspagem.

Figura 14 – Raspador oval

Figura 15 – Raspador triangular

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Tecnologias de aplicação de tintas

44

Tabela 3 – Lixagem [21]

Técnicas de lixagem Operações a realizar

Manual SecoLixar e despolir as tintas de acabamento

Eliminação dos defeitos

Mecânica

Rotativa

Remover pinturas velhas e antigas reparações

Eliminação da corrosão

Polimento e brilho

Rectangular

Lixagem de áreas planas

Lixagem de betumes

Trabalhos que requerem grande abrasão

Excêntrico-Rotativas

Qualquer operação de lixagem

Lixagem de primários e aparelhos

Eliminação de defeitos

● Escovagem – usando escovas rígidas de ferro para remover restos de tinta que

estiverem não aderentes. A escova poderá ser montada num berbequim eléctrico, de

forma a melhorar os resultados em zonas de difícil acesso. As zonas com manchas

secas devem ser apenas escovadas e nunca lavadas [22].

● Pistola de calor – usada apenas para remoção de pintura ou verniz de revestimentos

antigos. A área de trabalho, onde vai ser feita a remoção do revestimento,

humedecer-se ligeiramente; pode ser usado um borrifador de água ou pode ser

forrada com papel de jornal, que deve ser mantido húmido durante o processo. À

medida que o revestimento a remover ficar mole e com bolhas, deve utilizar-se uma

espátula metálica para ajudar a remover.

● Decapagem – segundo a norma ISO 4618 [1], a decapagem consiste na aplicação

de um procedimento de limpeza e rugosidade de uma superfície usando um agente

químico antes de aplicar uma pintura, para aumentar a aderência. No caso de

superfícies metálicas, o termo decapagem refere-se à remoção de ferrugem e

carepa de substratos ferrosos por procedimentos electroquímicos ou por meio de

uma solução ácida contendo geralmente um inibidor.

Existem diversos métodos de proceder a este tipo de limpeza, como por exemplo a

decapagem química, usando removedores químicos, ou a decapagem abrasiva.

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45

Tecnologias de aplicação de tintas

Segundo a ASTM D4259 [23] existem 3 métodos específicos de decapagem abrasiva:

limpeza mecânica com impacto rotativo, limpeza com jactos de água a alta pressão e jactos

abrasivos.

● Lavagem com jacto de água de alta pressão – é usada quando a pintura de uma

parede se encontra em estado avançado de degradação, desgastada e a soltar-

-se. Geralmente usa-se apenas em paredes exteriores devido à quantidade de

água que é expelida. Para aplicação correcta desta técnica, a ponta da mangueira

deve manter-se sempre na horizontal e a cerca de 1,5 - 2 metros de distância da

parede. De salientar que não devem ser adicionados à água produtos demasiado

agressivos, dado que a infiltração no substrato dessa mistura poderá influenciar

negativamente a pintura posterior.

● Jacto abrasivo – é uma a limpeza por decapagem abrasiva, que remove as

camadas superficiais que estejam fracas, ou outros defeitos, proporcionando uma

superfície levemente áspera para a aderência do revestimento. Mais à frente serão

explicados os abrasivos, bem como a forma como são escolhidos.

● Ataque ácido – a utilização deste método tem como objectivo neutralizar a superfície

que será revestida. Imediatamente após o ataque com o ácido, a superfície deve

ser lavada para evitar a formação de sais na superfície, que são difíceis de

remover. A operação deverá ser repetida se a superfície não apresentar a textura

pretendida[23].

Outro aspecto relacionado com a preparação das superfícies tem a ver com a

utilização frequente de produtos para facilitar as operações de descofragem. Os descofrantes

variam consideravelmente na composição e na capacidade de suportar a aderência quando

posteriormente for aplicado o revestimento. Pode ser necessário realizar testes de aderência

subsequentes, com o objectivo de determinar se foram ou não usados estes produtos

descofrantes. No caso de se verificar uma deficiente aderência, deve realizar-se a preparação

cuidada da superfície, assegurando a remoção dos produtos contaminantes.

3.2.2. Preparação de superfícies de alvenaria

Quando se vai realizar a preparação para pintura em alvenaria, é preciso conhecer o

estado das superfícies, dado que os cuidados pré-pintura a aplicar devem ser adaptados ao

estado de degradação do paramento em questão [7].

No caso de superfícies anteriormente pintadas, é necessário realizar a remoção

da tinta velha, que pode ser efectuada com recurso a algumas das técnicas anteriormente

descritas, como a raspagem, a lixagem, a lavagem com jacto de água de alta pressão, a

utilização de removedores químicos (decapagem) ou a utilização de pistola de calor.

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Tecnologias de aplicação de tintas

46

A raspagem é usada em superfícies planas de alvenaria. Para betão, estuque e outros

tipos de alvenaria é indicado o procedimento de escovagem, usando escovas rígidas de ferro

se estiverem não aderentes. A escova poderá ser montada num berbequim eléctrico, de forma

a melhorar os resultados em zonas de difícil acesso; este processo deverá ser feito com muito

cuidado.

No caso de superfícies exteriores, o método da limpeza a jacto com água sob pressão

é considerado o melhor. No entanto, dada a elevada quantidade de água lançada contra o

paramento, é essencial que se deixe que este seque convenientemente, antes de iniciar o

processo de pintura [7].

É necessário saber se é uma superfície nova que nunca foi pintada, se é uma superfície

em utilização que já foi previamente pintada, se as superfícies se encontram envelhecidas,

sujas ou danificadas (essencialmente por acção da humidade) ou ainda se contêm fissuras[7].

Cada um dos casos requere cuidados distintos, como por exemplo:

● superfícies recentes, que ainda não tenham sido pintadas – em geral, será apenas

preciso executar uma pequena limpeza para retirar os possíveis contaminantes

que estejam presentes e em seguida aplicar um primário, de maneira a garantir a

aderência necessária para o sucesso final do esquema de pintura.

● superfícies porosas, pulverulentas ou demasiado quebradiças – poderá ser inevitável

aplicar previamente uma solução estabilizadora, que permita a consolidação da

superfície para que esta apresente as condições ideais para aplicar o esquema de

pintura escolhido.

● superfícies degradadas, mas que nunca foram pintadas – normalmente apresentam

condições favoráveis à formação de algas e fungos, devido à sujidade resultante

de pó acumulado, bem como humidade ambiente. Nestas situações será

indispensável desinfectar toda a superfície, e seguidamente remover a sujidade

através da escovagem. Este processo nunca deverá ser invertido, devido ao risco

de propagação das algas e fungos para zonas anteriormente “limpas”.

● superfícies degradadas que foram anteriormente pintadas – poderão apresentar vários problemas em simultâneo, tais como empolamentos, tinta velha farinada, eflorescências provenientes da infiltração de água pelas fissuras existentes na superfície, entre muitas outras. Todas estas situações têm que ser tratadas de

forma eficiente, para que o processo de pintura decorra sem qualquer problema.

A remoção de outros produtos deve ser tratada caso a caso, visto que existem acções

específicas para cada situação. Podem ser referidos, a título de exemplo:

Page 59: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

47

Tecnologias de aplicação de tintas

● O esmalte poderá ser removido por fricção, através do uso de jacto de areia a

pressões baixas.

● O verniz também poderá ser removido através do uso de soluções de cloreto de

zinco de 3%, mais 2% de ácido fosfórico. Esta solução não deverá ser lavada, visto

que será ela a formar uma superfície texturada para ser pintada.

3.2.3. Preparação de superfícies de betão

A preparação de superfícies de betão deve começar por uma limpeza geral, com o objectivo de remover todas as substâncias estranhas ou prejudiciais, como óleos, pinturas, pó, sujidade, agentes de cura do betão e produtos similares, mas também limpar todo o betão fissurado, fraco, desagregado ou delaminado, até que a superfície fique limpa, sã e homogénea. A limpeza geral da superfície poderá ser feita recorrendo a jacto de água, se for no exterior, ou recorrendo a qualquer um dos restantes métodos, caso seja no interior.

Começar com uma boa limpeza contribui para melhor identificar as áreas deterioradas e só depois aplicar o procedimento adequado de preparação da superfície, para torná-la apta a receber o revestimento final de protecção.

Quando as superfícies de betão são demasiado lisas e densas, a aderência da tinta poderá ser difícil. Nestes casos, é necessário criar uma textura para melhorar a aderência da superfície utilizando um método adequado [13].

A rugosidade é obtida geralmente através de uma limpeza de jacto abrasiva, Para que o processo de decapagem abrasiva do betão seja realizado sem causar qualquer tipo de danos no betão, as pressões utilizadas não devem ultrapassar os 2,75-3,45 Bar [40 a 50 psi] e o bico do jacto deve ser mantido a uma distância maior do que quando se está a preparar

superfícies metálicas, pois a decapagem do betão é obtida muito rapidamente [13].

No caso de se suspeitar que a superfície se encontra suja com gorduras ou óleo,

deverá previamente ser executada uma limpeza do betão com detergente ou solução de

fosfato trissódico (podendo ser também necessária a limpeza a vapor) antes de aplicar o

ácido, uma vez que este processo não remove gorduras ou óleo.

Em relação às superfícies do tipo de lajes de betão ou paredes exteriores, podem

absorver humidade capilar excessiva, favorecendo o desenvolvimento de fungos, algas,

musgos e líquenes, que se manifestam pelo aparecimento de manchas; se não forem tratadas,

o seu alastramento irá contribuir para a deterioração das pinturas [13]. Nestas situações, deve

lavar-se a superfície com uma solução de água e lixívia, passando depois com água limpa.

Em seguida aplicar uma ou duas demãos de concentrado antifungos, deixando actuar cerca

de 24 horas, após o que se deverá proceder a uma escovagem de toda a superfície. Só então,

deverá proceder-se à pintura de toda a superfície com uma tinta adequada.

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Tecnologias de aplicação de tintas

48

◊ Selecção dos abrasivos

A consequência decorrente da utilização de abrasivos numa superfície pode variar desde uma simples limpeza superficial, até um corte profundo.

Quando se faz a selecção de um abrasivo, devem ser considerados diversos factores, como o tipo de superfície a limpar, a forma dessa superfície, o tipo de material a remover, a textura final pretendida, a taxa de degradação causada pelo abrasivo e, por fim, os perigos associados ao uso do abrasivo, tendo em conta o equipamento que rodeia a área onde se vai realizar esta acção [13].

Existem diversos tipos de abrasivos, que devem ser escolhidos consoante o tipo de superfície a tratar, podendo salientar-se os abrasivos metálicos, a areia ou outros abrasivos minerais. Cada tipo de abrasivo tem uma forma específica de limpar, resultando uma textura ligeiramente diferente. Existem ainda vários métodos de ensaio para abrasivos, definidos nas normas ASTM [23].

(1) Óxidos naturais, como a areia de sílica foram provavelmente os mais usados devido à sua vasta existência, baixo preço e eficácia. No entanto, o seu uso

foi restringido em muitas áreas após identificação dos perigos para a saúde

inerentes, como a silicose.

Existe outro abrasivo natural, também de sílica, constituído por uma mistura de

areias grossa e fina estaurolita, que se caracteriza por um corte abrasivo eficiente,

tem menos pó e uma menor taxa de decomposição do que a areia de sílica.

(2) Abrasivos metálicos, como a granalha de aço e outros produtos abrasivos granulares, são eficientes, duros, e criam menos poeira, mas devem ser tomados cuidados especiais para armazenar adequadamente o abrasivo, de forma a evitar ferrugem. O custo inicial é mais elevado do que a maioria dos outros tipos de abrasivos, mas apresentam a vantagem de poder ser reciclados várias vezes.

(3) Abrasivos de escória são subprodutos da fundição de minérios, que apresentam corte rápido, mas têm uma taxa de quebra elevada e geralmente não são recicláveis. Estes abrasivos, em geral apresentam um pH ácido.

(4) Abrasivos sintéticos, como o óxido de alumínio e o carboneto de silício, apresentam propriedades semelhantes às de limpeza metálicas, sem o problema da oxidação. São extremamente duros, de corte rápido, criam pouca poeira. São caros mas podem ser reciclados, o que os torna mais económicos.

As características de um abrasivo que influenciam directamente o seu desempenho são o tamanho, dureza e a forma. O tamanho e a dureza adequados são essenciais para a produção do perfil desejado, com a limpeza necessária [13].

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49

Tecnologias de aplicação de tintas

● Tamanho – Uma partícula de abrasivo de tamanho grande irá cortar de uma forma mais profunda do que outra, com a mesma composição e forma mas de tamanho inferior, proporcionando um perfil da superfície com maiores desníveis. No entanto, a maneira de executar um trabalho com menor sujidade, é através do uso de partículas de abrasivo com menores dimensões, devido a um maior número de impactos por unidade de área.

● Dureza – Abrasivos mais duros, geralmente cortam mais fundo e mais rápido do que abrasivos macios ou quebradiços. Um abrasivo duro e quebradiço vai quebrar com o impacto, reduzindo seu poder de limpeza.

● Forma do abrasivo – A forma e o tamanho dos grãos dos abrasivos determi-nam o tipo de perfil de superfície obtido. Estão disponíveis variadíssimos grãos diferentes, que proporcionam uma grande variedade de padrões de superfície. Por exemplo, granalha de aço apresenta forma aproximadamente redonda, logo provoca textura com relevos arredondados na superfície. No caso dos grãos de areia, que têm forma angular, produzem um acabamento denteado por corte, em vez de arredondado, o que geralmente é o preferido para a aderência do revestimento. Uma grande variedade de padrões de superfície está disponível a partir de grãos diferentes [13].

A fase que se segue à preparação da superfície é a da aplicação do esquema de pintura pretendido, sobre o paramento previamente tratado de forma a poder

recebê-lo.

3.3. Aplicação dos produtos de pintura

A aplicação de um esquema de pintura é condicionada por diversas variáveis, como o tipo de

tinta a usar, o tipo e o tamanho da superfície a revestir, o método escolhido para realizar a pintura

e os regulamentos ambientais [13].

Algumas condições ambientais que rodeiam a superfície a pintar podem influenciar o resultado

do trabalho pelo que a aplicação dos produtos de pintura deve ser feita apenas com tempo favorável,

seguindo as condições de temperatura e humidade relativa recomendadas pelo fabricante [11].

Deve dar-se especial relevo às condições meteorológicas existentes na altura da execução

da pintura, visto que existem condicionantes que poderão provocar defeitos no resultado final e que

podem facilmente ser eliminados, desde que se tenha o cuidado de:

● Não realizar pinturas com temperaturas ambiente demasiado baixas, sendo 5ºC o limite

inferior para a maior parte das tintas à base de água ou solvente não aquoso. Temperaturas

muito baixas, além de dificultarem o processo de aplicação, fazem com que a tinta demore

Page 62: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

50

demasiado tempo a secar, permitindo deste modo que se infiltrem impurezas provenientes

do ar, no esquema de pintura.

● Não realizar pinturas com temperaturas ambiente demasiado elevadas, sendo 35ºC o limite

superior, visto que este facto irá fazer com que a tinta seque demasiado depressa, compro-

metendo deste modo a durabilidade do esquema de pintura, bem como a sua qualidade.

● Não realizar pinturas com humidade ambiente demasiado reduzida.

● Evitar a realização de pinturas em superfícies quando estas se encontram directamente

expostas à luz solar, especialmente devido à elevada temperatura da superfície.

● Evitar a realização de pinturas em dias de chuva, visto que a necessidade de parar a exe-

cução a meio poderá provocar defeitos no resultado final.

A mistura, o número e a espessura das camadas e a técnica de aplicação também afectam

o desempenho do revestimento. Antes da aplicação, os materiais de pintura precisam de ser

bem misturados, de acordo com as instruções do fabricante, para obter uma tinta homogénea e

uniforme[11], podendo para tal, se necessário utilizar-se um agitador mecânico.

3.3.1. Esquemas de pintura

A norma ISO 4618 [1] define esquema de pintura como sendo a “combinação de

camadas de material de pintura que são aplicadas num substrato. O sistema pode ser

caracterizado pelo número de camadas envolvidas”, sendo que uma camada, ou demão, é o

“depósito contínuo de um produto de pintura resultante de uma única operação de aplicação”.

Geralmente, a aplicação de um esquema de pintura consiste numa sequência de

demãos de diversos tipos de produtos, aplicadas segundo uma determinada ordem. Os

produtos de pintura devem ser de natureza diferente, compatíveis entre si, e ter diferentes

funções mas complementares (protecção, textura, cor, etc.) [3].

A sequência habitual de aplicação de um esquema de pintura inclui, os primários,

as camadas intermédias ou subcapas e as camadas de acabamento. O esquema de pintura

mais simples é, em geral, constituído por uma demão de primário, seguida de duas a três

demãos de tinta de acabamento.

A aplicação da tinta deve começar sempre do topo da fachada, e nunca se deve

interromper a pintura dum painel completo. Todos os elementos existentes nas fachadas

como portas, janelas ou possíveis ornamentos devem ser protegidos com fita isoladora antes

de se realizar a pintura.

A escolha dos constituintes do esquema de pintura depende de vários factores,

essencialmente do tipo de superfície a tratar e do ambiente em que se encontra [2].

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51

Tecnologias de aplicação de tintas

● Primário ou Primeira demão

Os primários são aplicados sobre toda a superfície a pintar, incluindo as áreas que

contêm massa regularizadora [11]. A norma ISO 4618 define primário como “pintura

formulada para usar como primeira camada sobre superfícies preparadas” [1].

O primário (ou primeira demão) deve garantir a aderência das camadas seguintes

e conferir propriedades específicas como seja a protecção da superfície contra

a corrosão, bem como protecção contra o ataque de outros agentes químicos

existentes na atmosfera envolvente [2].

Geralmente designa-se por “primário” quando é aplicado sobre um substrato não

absorvente (metal, plástico) e por “selante” quando aplicado directamente sobre

uma base absorvente (madeira, reboco) [3], com o fim de diminuir a sua absorção

em relação a subsequentes aplicações [2].

● Subcapas ou demãos intermédias

O revestimento intermédio é aplicado sobre o primário para proporcionar protecção adicional ou para vedar o primário. Podem ser aplicadas múltiplas camadas de revestimento intermédio para dar espessura à película [11].

Segundo a norma ISO 4618, designa-se por subcapa “qualquer camada aplicada

entre o primário e a camada de acabamento” 1]. As subcapas podem também

receber uma nova camada

intermédia, antes do acabamento.

Estas camadas são incorporadas

no esquema de pintura com

a finalidade de regularizar as

imperfeições do substrato,

aumentar a eficácia do efeito

de barreira de protecção contra

a acção de produtos químicos,

proporcionar boa ligação entre o

primário e a tinta de acabamento,

proporcionar espessura total

adequada ou outras funções específicas [2] [3].

São utilizados como subcapas as massas regularizadoras que, por definição da norma ISO 4618, são “composições pastosas contendo alto teor em pigmentos e cargas, destinados a nivelar as irregularidades existentes na base de aplicação, preparando-a para um acabamento”. Sempre que possível, deve evitar-se a aplicação destes produtos, visto que por causa da sua composição formam pontos

de fraqueza na superfície.

Figura 16 – Tintas em utilização

Page 64: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

52

● Acabamento ou demão de acabamento

O acabamento é, segundo a norma ISO 4618, a “última camada de um sistema de pintura” [1]. Os revestimentos de acabamento são aplicados sobre o revestimento primário ou sobre o intermédio [11].

É a demão de acabamento que confere o aspecto visual final e as características desejadas em termos de brilho, cor, resistência, etc., sendo também a que protege os materiais de revestimento subjacentes [11]. É também a primeira a sofrer o ataque das diversas agressões da luz solar e luz UV, temperatura, choques, radiação, contacto com agentes químicos, entre outros [3].

Quando se pretende um acabamento texturado é vulgar usar-se uma demão de “esfregaço”, efectuado com a tinta de acabamento, seguida de uma ou duas demãos de tinta texturada. Após secagem desta camada, obtém-se a película seca

de revestimento por pintura [2].

3.3.2. Métodos de aplicação

Uma vez que a superfície do substrato está devidamente preparada e as condições

ambientais estão dentro das tolerâncias especificadas, pode proceder-se à aplicação do

esquema de pintura [11].

Para garantir que o resultado final será o desejado, é importante dispor de todos os

acessórios necessários, sendo certo que o equipamento de aplicação pode ser ditado pelo

tipo de material e pelo tamanho da área a pintar [11], podendo ainda variar consoante a

aplicação seja feita num ambiente interior ou exterior.

Existem diferentes equipamentos para transferir a tinta da lata para o substrato, que

podem incluir desde a simples aplicação por pincéis, trinchas e rolos até aplicações à pistola,

que serão descritos em seguida. Todos os métodos de aplicação têm inerentes vantagens e

limitações [11][13].

● Aplicação por Pincel e Trincha

O pincel e a trincha são utensílios de pintura muito vulgares para aplicação de

produtos de pintura. Os pincéis têm forma arredondada e são usados para

pinturas de pequenas áreas com superfícies irregulares [13] e para acabamentos;

por fazerem uma aplicação lenta, os pincéis, não são adequados para tintas de

secagem rápida. As trinchas têm forma achatada, maiores dimensões e são usadas

para aplicação de tintas em paredes convencionais.

Existe uma grande variedade de tamanhos, formas, tipos de cerdas e utilizações,

como os pincéis e as trinchas ilustrados na figura 17.

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53

Tecnologias de aplicação de tintas

Os pincéis e as trinchas são constituídas por um conjunto de pêlos, fibras ou cerdas,

fixados na extremidade de um cabo por uma cinta, como representado no esquema

da figura 18. A cinta pode ser de madeira, plástico ou de aço.

Os pincéis e as trinchas devem possuir algumas características que determinam

a sua qualidade, nomeadamente no que diz respeito às cerdas que deverão ser

suficientemente flexíveis e resistentes para, depois da utilização, voltarem à posição inicial.

As cerdas podem ser de origem natural (fibras de porco, cavalo ou qualquer outro

cabelo macio) ou de origem sintética (fibras sintéticas, geralmente nylon).

As cerdas naturais, embora mais caras e sensíveis à água, proporcionam as melhores

características de aplicação, além de terem forte resistência aos solventes[13].

As cerdas naturais são apropriadas para usar com tintas à base de solvente não

aquoso, porque em contacto com a água este tipo de cerda avoluma e deforma-se,

perdendo qualidade na execução da pintura.

As cerdas de origem sintética são apropriadas para usar com tintas aquosas, como

esmaltes ou vernizes acrílicos de base aquosa. Embora tenham menor capacidade

de carga do que as cerdas naturais, as cerdas sintéticas têm uma excelente

resistência à abrasão quando as tintas são aplicadas em superfícies de betão e de

alvenaria e não são afectadas pela maioria dos solventes [13].

O comprimento das cerdas deverá decrescer do meio para as extremidades para

tornar a pintura mais simples e mais homogénea. Os pêlos mais compridos e bem

Figura 17 – Trinchas e pincéis

Figura 18 – Trincha

Page 66: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

54

divididos acumulam um bom reservatório de tinta no seu interior, o que proporciona

uma aplicação mais eficiente e com uma melhor aparência final [7].

As larguras dos pincéis deverão ter as dimensões adequadas ao uso que vão ter,

nomeadamente:

– pincéis para detalhes: 30-50 mm;

– pincéis para portas: 50-80 mm;

– pincéis para áreas maiores (como pavimentos): cerca de 100 mm;

– pincéis para paredes e muros: 150 mm (ou maior) [7].

No caso das trinchas de parede convencionais, as larguras das variam de 25,4 a

152,4 mm, sendo as mais usadas de 101,62 mm [13].

As trinchas adequadas e a selecção das cerdas para uma tinta específica são

imperativos para uma aplicação de qualidade [13]. Além disso, para aplicações

específicas, devem ser utilizados pincéis adequados, como nos seguintes casos:

– Pincéis de corte angular para locais onde é necessário ter maior precisão e

cuidado devido a superfícies contínuas, tais como caixilharias de janelas;

– Pincéis grossos quando se pretende uma película mais durável e de maior

espessura.

Na fase da aplicação, a utilização de uma boa técnica de molhar o pincel ou a

trincha e distribuir a tinta, permite obter uma distribuição uniforme, sem salpicos e

escorrimentos ou outros defeitos evitáveis. Para isso, devem ser seguidos alguns

procedimentos:

1. Humedecer as cerdas do pincel, no solvente de base da tinta a utilizar e segui-damente, escorrer o excesso nas bordas do recipiente que contém o solvente.

2. O pincel deve ser pegado levemente mas com firmeza, mas devendo ter em con-

ta o seu tamanho e fim a que se destina. Deste modo, pincéis finos, para pintar

em pormenor, devem segurar-se como se pega num lápis e pincéis mais grossos

devem ser agarrados como se fossem raquetes de ténis, de maneira a melhorar

os resultados finais da pintura a executar.

3. As cerdas do pincel nunca deverão ser mergulhadas a mais de metade do seu

comprimento, para evitar que a tinta se fixe na cinta, e posteriormente cause

alguns defeitos.

4. Na primeira vez que o pincel for inserido no recipiente que contém a tinta, deverá ser movido para possibilitar que as cerdas abram e absorvam uma maior quan-

Page 67: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

55

Tecnologias de aplicação de tintas

tidade de tinta. Com o pincel embebido em tinta, será mais fácil de transportar uma boa quantidade de tinta para a parede.

5. A aplicação da tinta na superfície deverá ser executado com suavidade, para re-duzir ao máximo a quantidade de salpicos resultantes e para diminuir a sujidade inerente a esta operação.

6. Por outro lado, a tinta deve ser espalhada sobre a superfície com pressão mo-

derada, uniforme, por deslizamento numa direcção, seguido por deslizamento

perpendicularmente à camada anterior [13].

Normalmente, nos casos das tintas de solventes não aquosos, quando se mergulha

o pincel na tinta, é necessário escorrer o excesso de tinta acumulada junto às

bordas do recipiente. Esta acção, em geral, é dispensada quando se trata de tintas

plásticas, visto que basta deixar o pincel pingar por uns segundos e é possível

então retomar a pintura.

Uma vantagem da aplicação por pincel ou trincha é a capacidade de pintar áreas

difíceis antes da aplicação geral; este processo é recomendável como forma de

garantir a cobertura e a espessura adequada da camada aplicada para áreas que

são difíceis de pintar pelo método normal de pintura. Outra vantagem da aplicação

por trincha é que ajuda a humedecer o substrato, particularmente em superfícies

porosas [13].

No entanto, a pintura por pincel ou trincha apresenta algumas limitações, como

sejam o facto de ser lenta, podendo não produzir uma camada de espessura

uniforme. Além disso, não é prática para superfícies grandes e pode deixar marcas

da trincha em tintas que não nivelam bem [13].

As tintas de óleo e de base aquosa são os tipos que mais frequentemente são

aplicadas por trincha, e as suas características de aplicação são consideradas

entre boas e excelentes. A tinta de base oleosa é de secagem lenta, devendo

ser aplicada minuciosamente em zonas de fendas, fissuras e outras superfícies

irregulares. As tintas de secagem rápida (base aquosa) devem ser aplicadas

rápida e uniformemente, para não deixar marcas da trincha quando a tinta secar.

A aplicação de certas tintas por trincha, como as de elevado teor em sólidos ou de

secagem rápida é difícil e geralmente não é recomendada [13].

No final da utilização não deve deixar-se secar a tinta no equipamento. O pincel

ou a trincha devem ser mergulhados em aguarrás, raspando com uma espátula

os restos de tinta e, por fim, lavados com água morna. Tentar retirar a tinta já seca

acaba por deteriorar as cerdas.

Page 68: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

56

● Aplicação por Rolo

Os rolos de pintura caracterizam-se por serem mais espessos e mais resistentes

do que os pincéis, sendo também mais fáceis de usar, pois além de conservarem

a sua forma e não soltarem fibras, salpicam e sujam menos, permitindo obter uma

pintura mais rápida e de melhor qualidade [13].

São muito utilizados na construção civil e por pintores profissionais, geralmente

para áreas grandes e planas, como paredes ou tectos, interiores ou exteriores, que

são demasiado grandes para aplicação com pincel ou onde a aplicação à pistola

não pode ser tolerada [11][13].

Os rolos consistem em duas partes: uma armação (eixo central ligado a um cabo)

e uma cobertura. A cobertura é a parte que aplica a tinta e pode variar no diâmetro,

comprimento, tipo de tecido e comprimento das fibras [11].

Na figura 19 estão exemplificados vários tipos de armação e coberturas feitas

de materiais diferentes, com diferentes finalidades. A armação do rolo deve ser

resistente a solventes fortes [13].

Existem rolos específicos para cada tipo de utilização, devendo escolher-se o tipo

de rolo mais adequado à tinta que se vai utilizar e à superfície que se pretende

pintar (rugosa, áspera ou lisa). Para um bom acabamento na pintura o rolo deve

ser sempre de boa qualidade.

A cobertura é a parte que aplica a tinta e pode variar no diâmetro, comprimento, tipo de tecido e comprimento das fibras [11]. A selecção do tecido e do comprimento das fibras depende do tipo de revestimento e da condição da superfície [13].

As fibras longas retêm mais tinta, garantem maior rendimento do produto e são ideais

para aplicação de tintas aquosas em superfícies irregulares (ásperas, absorventes

ou rugosas). Os rolos com pêlos mais curtos, mesmo carregados com tinta, são leves

e versáteis na aplicação, respigam menos e garantem excelentes acabamentos,

sendo ideais para aplicação de tintas à base de solvente em superfícies lisas.

Figura 19 – Componentes de rolos de pintura

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57

Tecnologias de aplicação de tintas

As principais características do rolo são o comprimento e a espessura. Os

comprimentos mais frequentes têm comprimento de 150 mm, 180 mm e 250 mm, embora também se fabriquem outros comprimentos, designadamente menores,

para facilitar a acessibilidade a locais mais estreitos.

A espessura do rolo deve ser adequada à utilização prevista; de um modo geral:

– Rolos de pêlo curto: diâmetro de 6 mm a 9 mm; são usados para superfícies lisas.

– Rolos de pêlo médio: diâmetro de 9 mm a 12 mm; são usados para superfícies convencionais.

– Rolos de pêlo longo: diâmetro igual ou superior a 12 mm; são usados para

superfícies rugosas e irregulares [7].

Os materiais usados para cobertura do rolo podem ser de origem natural ou

sintética. Os tecidos usados geralmente de cobertura do rolo são espuma poliéster,

lã mohair e pele de cordeiro [13]. A tecnologia de fabrico das fibras sintéticas permite

obter coberturas de rolo com densidade, altura e largura das fibras rigorosamente

controladas e semelhantes às fibras naturais no que se refere à aparência, toque e

aplicação.

Na escolha do rolo de pintura (material e tamanho do pêlo) deve sempre considerar-

se o tipo de tinta que será utilizada e a superfície que será trabalhada. Quanto

mais rugosa e mais saliências tiver a superfície, maior deve ser a altura do pêlo do

rolo de lã utilizado. Nas superfícies lisas, rolos com pêlo alto oferecem ganhos de

produtividade, enquanto o uso de pêlo baixo aumenta a qualidade de acabamento.

Os tipos mais comuns de rolos para pintura são:

1. Rolos de lã natural – geralmente fabricados com lã de carneiro, são usados quando é necessária uma aplicação muito suave de esmaltes de base solvente [7] são recomendados para aplicação de tintas à base de água (látex PVA e acrílicas), em superfícies rugosas, semirrugosas e com texturas. São rolos de muito boa qualidade porque a lã natural é mais elástica e tem microescamas que proporcionam maior retenção de tinta.

A lã pura de merino pode ser usada

para todo o tipo de superfícies.Figura 20 – Rolo de lã

Page 70: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

58

2. Rolos de lã mista – são feitos de lã de carneiro e fibra de poliéster (geralmente 50% de cada). São também indicados para aplicação de tintas à base de água, como o látex, o PVA e tintas acrílicas em superfícies semirrugosas e com texturas suaves.

3. Rolos de lã especial – são fabricados com lã de fibras de poliéster, sendo adequadas para aplicação de tintas à base de água, como o látex, o PVA e tintas acrílicas, tintas epóxi e esmaltes sintéticos em superfícies lisas ou levemente porosas e, nalguns casos, em superfícies semirrugosas e com texturas suaves.

4. Rolos de espuma – estes rolos são mais baratos e são usados quando o

acabamento final não obriga a grandes cuidados. Geralmente são usados para

aplicação de tinta em superfícies lisas e os materiais mais usados são:

a) poliéster – a espuma 100% poliéster tem uma estrutura celular fina e densidade elevada, pelo que, além da resistência a solventes, retém mais tinta e proporciona melhor alastramento e acabamento com qualquer tipo de tinta. Com pêlo de altura média são indicados para paredes areadas e se o pêlo for longo para muros.

b) poliéter – são macios e indicados apenas para aplicação de tintas à base de água, como o látex, PVA e acrílicas.

c) poliamida – são indicados para aplicação de tintas

acrílicas ou sintéticas se tiver pêlo de altura média

e para fachadas se o pêlo for longo.

Deve evitar-se o uso de diluentes nos rolos de

espuma, porque são produtos incompatíveis e em

contacto um com o outro podem causar deformação da

espuma. Para aumentar a vida útil dos rolos,o ideal é usar solventes minerais

no manuseio e limpeza das ferramentas usadas com tintas sintéticas.

5. Rolos de efeitos – são usados quando se pretende obter efeitos decorativos

diferentes, como por exemplo o rolo de espuma de grão grosso, que se usa

para obter uma pintura texturada [7].

Existem ainda outros tipos especiais de rolos:

● Rolo de tubo

O rolo de tubo é construído por dois ou mais rolos estreitos, articulados

conjuntamente sobre um único eixo, com um cabo roscado. Estes rolos

Figura 21 – Rolo de espuma

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59

Tecnologias de aplicação de tintas

adaptam-se facilmente a superfícies curvas ou com contornos, tais como

tubagens, onde o número de segmentos necessários é determinado pelo

comprimento do tubo [11][13].

● Rolo de barreira

O rolo de barreira requere coberturas com pêlos extra longos para coberturas

permitirem a rápida pintura de uma cerca de arame. Quando se aplica a tinta

de um lado da vedação de arame, as longas fibras envolvem o fio e pintam os

dois lados simultaneamente [11][13].

● Rolo de pressão

A cobertura de um rolo de pressão tem um núcleo perfurado que permite

à tinta passar de dentro do rolo para os pêlos. Deste modo, permite a

pintura contínua através do fornecimento constante de tinta, de um recipiente

pressurizado directamente para dentro do núcleo perfurado do rolo. A

válvula que controla a pressão está localizada no cabo do rolo e no reservatório

[11][13].

Na fase de aplicação de tinta com um rolo, deve seguir-se uma metodologia

correcta para que se obtenha um resultado final satisfatório.

1. Molhar o rolo em água ou no solvente adequado, consoante a tinta que vai usar (base aquosa ou com base noutro solvente) [7]. É recomendado lavar o rolo de lã antes da primeira utilização, para retirar eventuais fios que ficaram agregados em sua fabricação, eliminando a possibilidade deles se soltarem durante a aplicação da tinta.

2. Em seguida, deve eliminar-se o excesso de líquido, passando o rolo por papel absorvente.

3. Mergulhar o rolo na tinta, na parte mais funda do tabuleiro de pintura, e continuamente passá-lo pela zona inclinada do tabuleiro. Esta operação

Figura 22– Tabuleiros

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Tecnologias de aplicação de tintas

60

deverá ser repetida duas ou três vezes, para garantir que o rolo fica bem

embebido de tinta, sem que fique saturado [7].

O rolo deve ser uniformemente carregado com tinta para fazer uma

aplicação uniforme. Se a tinta não estiver uniformemente carregada no rolo

poderá haver zonas que não apanham tinta. Por outro lado, se o rolo levar

uma sobrecarga de tinta, terá tendência para escorregar sobre a superfície

em vez de rolar e a tinta não ficará bem espalhada [7].

4. Para aplicação de tinta com rolo deve ser usada uma técnica e pressão de

aplicação adequadas. Deve começar de baixo para cima, para evitar que o

excesso de tinta escorra pela parede, e descrevendo formas semelhantes

a M’s ou W’s. Em seguida, dever-se-ão preencher os espaços sem tinta,

sempre em ziguezagues, tanto verticais como horizontais [7].

5. No fim, deverá ser feita uma passagem suave por toda a superfície, tendo o cuidado de deslocar o rolo relativamente devagar para que não ocorram respingos, o que provocaria sujidade adicional. Para precaver esta situação, o pintor deverá ter uma esponja e um recipiente com o solvente da tinta que está a usar, para poder limpar eventuais salpicos antes que estes sequem.

O procedimento acima descrito deve ser repetido até a superfície em questão se encontrar toda pintada, de acordo com objectivo estabelecido inicialmente.

Os rolos podem ser usados para pinturas em interiores e, quando há vento, são recomendados para exteriores, para evitar excessivas perdas de material. Um rolo aplica mais tinta do que um pincel e proporciona um acabamento mais satisfatório em superfícies lisas do que em superfícies rugosas ou irregulares. No entanto, devido à forma do rolo, é difícil a sua utilização para fendas e espaços vazios no betão, onde é recomendável o uso de um pincel [13].

● Aplicação por Pistolas de Pintura

Actualmente as pinturas em obra são realizadas frequentemente com recurso

a pistolas de pintura, sobretudo para pintura de paredes. Existem diferentes

tecnologias de aplicação de tintas além da pistola convencional de alimentação

por pressão, como sejam a “pistola sem ar”, a “pistola de alto volume e baixa

pressão”, entre outras [11].

No presente trabalho será detalhado o método convencional, que permite a

aplicação de muitos materiais de pintura industrial na maioria das estruturas

onde o “overspray” não é uma preocupação [11][13].

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61

Tecnologias de aplicação de tintas

Existem diferentes tipos de equipamentos, compostos essencialmente por uma pistola, um reservatório e um dispositivo de alimentação, que diferem na forma como é feita a alimentação e consequente projecção da tinta. A entrada da tinta pode ser feita por aspiração, gravidade e pressão, sendo o tipo de trabalho a executar que determina o tipo de alimentação.

● Pistola de alimentação por aspiração – A tinta está contida num reservatório que se encontra ligado à pistola; esta contém um tubo mergulhado até à base do reservatório, que funciona por aspiração. É um tipo de equipamento (figura 23) que se usa apenas quando se pretende realizar trabalhos de curta duração e extensão, visto que o reservatório tem capacidade reduzida.

● Pistola de alimentação por gravidade – é um

tipo de equipamento usado, à semelhança do

anterior, quando se está perante trabalhos

de curta duração, onde a quantidade de tinta

a utilizar seja igualmente reduzida. Apresenta a vantagem de permitir que

sejam usadas tintas mais espessas. Neste caso o depósito de tinta encontra-

se na parte superior da pistola, como pode ver-se na figura 24.

● Pistola de alimentação por pressão – recorre-se a este tipo de equipamento quando a extensão da pintura a realizar obriga a que o reservatório tenha um volume superior a 1 litro (ver figura 25), visto que o peso dificultaria a capacidade de manobra ao executante. Assim, neste caso, ter-se-á um reservatório de maior volume assente no chão, com líquido sob pressão, que

contém um tubo de alimentação ligado directamente à pistola.

● Pistola convencional de alimentação por pressão

O equipamento para aplicação de tinta com

pistola de alimentação por pressão consiste

num compressor de ar, um separador de óleo

e de água, um reservatório de alimentação

com bomba de pressão, mangueiras de ar e de

líquido e uma pistola de pulverização [11].

O compressor gera a pressão necessária para

as duas operações de fluxo: introdução do ar e

introdução do produto de pintura que alimenta o

Figura 23 – Pistola de alimentação por aspiração

Figura 24 – Pistola de alimentação

por gravidade

Figura 25 – Pistola de alimentação por pressão

Page 74: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

62

injector da pistola, de modo a formar pequenas gotículas de tinta (atomização

da tinta), impulsionando-a para a superfície do substrato [11][13].

O reservatório do material de pintura está sob pressão e tem um regulador de

pressão que controla a quantidade do produto de pintura que alimenta o pulverizador

da pistola [13]. Quando são pintadas estruturas altas, o recipiente deve estar

sensivelmente ao mesmo nível da pistola de pintura.

Entre o compressor e o recipiente sob pressão, deve existir um separador de óleo e

água para prevenir que óleo ou água presentes no ar comprimido atinjam a tinta. A

função deste separador é evitar que o óleo ou a água presentes no ar comprimido

se misturem com a tinta durante a atomização, que iriam criar espaços vazios,

furos e/ou orifícios na película aplicada, além de evitar defeitos de aderência [13].

Na pintura por pistola convencional são usadas mangueiras de dois tipos:

a mangueira de ar e a mangueira de líquido. As mangueiras devem ser

convenientemente dimensionadas para fornecer a quantidade adequada de ar e

pressão para a pistola de aplicação, com tinta de viscosidade média como tintas de

latex, algumas lacas, alquídicos e epóxis convencionais.

A mangueira de fornecimento de ar do compressor para o reservatório é diferente

da mangueira do reservatório para o compressor, que deve ter menor diâmetro

interno e ser o mais curta possível. Se as mangueiras forem muito compridas pode

haver deposição de sólidos antes de atingirem o bico da pistola, o que conduz

a entupimento e à aplicação de uma película não homogénea. Geralmente,

a mangueira de ar é vermelha, e a mangueira de líquidos é preta e tem um

revestimento resistente a solventes [13].

A execução desta técnica envolve alguns cuidados com a forma como é atomizada

a tinta, como é feita a sua alimentação e projecção e ainda a maneira como é

manipulada a pistola durante a aplicação.

A correcta atomização da tinta vai permitir a sua pulverização em partículas de

tamanho bastante reduzido e uniforme, sobre a superfície. A atomização da tinta

pode ser condicionada por aspectos inerentes ao equipamento, mas também pelo

produto de pintura seleccionado [7].

No decurso da pintura, é possível regular a quantidade de tinta atomizada ajustando

alguns parâmetros do equipamento, como por exemplo:

– Velocidade de saída da pistola – a atomização da tinta será tanto melhor quanto

maior for a velocidade de saída da tinta pelo bico da pistola, o que se consegue

Page 75: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

63

Tecnologias de aplicação de tintas

variando o volume de ar e de tinta na pistola de aplicação ou ajustando o botão

de fluxo de material na pistola;

Tabela 4 – Tamanhos dos bicos das pistolas

Diâmetro do orifício Usos Consumo de ar

1,0 mm a 1,4 mm Velaturas, Primários, Acabamentos celulósicos, Vernizes 1 a 3 litros/s

1,4 mm a 2,2 mm Acabamentos em geral, Subcapas, Primários 2 a 7 litros/s

2,2 mm a 2,8 mm Tintas espessas, Efeitos especiais 7 a 16 litros/s

– Tamanho dos bicos de saída da pistola – diferentes tamanhos servem para

diferentes finalidades, como referido na Tabela 3, pelo que a escolha adequada

da combinação de bico/agulha de saída, por terem orifícios de vários tamanhos,

influenciarão no resultado final da pintura. Geralmente, os fabricantes de tintas

recomendam equipamentos de aplicação e especificam os tamanhos dos bicos

para obter características de aplicação óptimas [13].

A formulação da tinta pode também ter implicação na atomização, devendo ter-se

em conta:

– Proporção sólidos/líquidos – quanto menor proporção de sólidos em relação aos

líquidos, melhor será a capacidade de atomizar;

– Tensão superficial – a tensão superficial diminui com a elevação da temperatura,

facilitando a atomização.

– Volatilidade dos solventes – os solventes de evaporação rápida libertam-se

mais cedo, fazendo com que a gotas fiquem mais pequenas e atomizem mais

facilmente.

– Viscosidade da tinta – quanto menos viscosa for a tinta, maior a capacidade de

atomizar e, consequentemente, melhores resultados serão obtidos em termos

de qualidade de pintura. Uma boa atomização permite uma maior velocidade

de aplicação e um maior controlo da espessura das camadas, que naturalmente

serão mais uniformes e acabamentos de melhor qualidade.

Um factor de primordial importância tem a ver com a viscosidade da tinta aplicada,

que deve ser adequada ao equipamento e às condições particulares de aplicação

da tinta. Para adequar a viscosidade deve adicionar-se, aos poucos, um diluente

indicado pelo fabricante da tinta e ir avaliando a velocidade do escoamento com

Page 76: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

64

um viscosímetro de escoamento. No entanto, as restrições exigidas no que diz

respeito às emissões de COV’s para a atmosfera, limitam a quantidade de diluentes

permitidos para adicionar às tintas [7].

Quando estiver próximo do pretendido, o valor da viscosidade deve ser determinado

com recurso a um viscosímetro. Trata-se de um processo muito simples, e deverá ser

realizado com um viscosímetro de escoamento, seguindo o seguinte procedimento:

1. Encher de tinta o copo com um orifício calibrado;

2. Cronometrar o tempo de escoamento da quantidade de tinta presente no

interior do copo;

3. Não esquecer de mencionar o tipo de copo utilizado, bem como a temperatura

ambiente, à qual se desenrolou o processo. A temperatura influência de maneira

determinante a viscosidade da tinta no momento da medição [7].

Deve ter-se presente que, com a variação da temperatura ambiente, o tipo e a

quantidade de veículo que compõem cada tinta, vão influenciar directamente a

variação de viscosidade da mesma [7].

Usando as técnicas adequadas de aplicação de tinta, como a correcta pressão do

líquido e um bico da pistola de tamanho adequado, deve esperar-se uma camada

de espessura uniforme. Por outro lado, reduz perdas de tinta, previne a acumulação

de tinta nos cantos, arestas e finais dos percursos, elimina acumulação de líquido

no bocal e na ponta de aplicação e previne escorrimentos e afundamentos no início

de cada camada. A qualidade técnica de aplicação de tinta com pistola é geralmente

adquirida com a experiência [13].

Um dos aspectos mais importantes tem a ver com a forma como o equipamento

é manuseado. A válvula de ar é operada pelo gatilho da pistola: puxando o gatilho

até meio, flui ar atomizado, sem tinta. Este fluxo de ar é usado para remover pó e

detritos da superfície antes da aplicação da tinta. Puxando completamente o gatilho

aplica a tinta [13].

Depois de devidamente ajustados os fluxos de ar e de líquido, e de modo a produzir

uma película contínua e uniforme, devem seguir-se algumas regras, como ilustrado

na figura 26:

– A pistola de aplicação deve ser deslocada paralelamente, em relação à superfície

de trabalho, com a pistola segura em ângulos rectos. Virando o punho no final

de cada passagem resulta numa película de tinta não uniforme e com tinta em

excesso [13].

Page 77: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

65

Tecnologias de aplicação de tintas

Também não deverá ser feita pulverização em arco, para evitar alguns defeitos

resultantes de, nas extremidades do arco, a tinta ficar em contacto com o ar

aproximadamente o dobro do tempo, o que irá provocar grandes alterações de

aspecto (brilho e variações de cor), devido à menor aderência nas extremidades,

bem como à diferença de espessuras.

– No início da passagem, a pistola deve estar em movimento antes de ser

accionado o gatilho, e continuar um pouco depois de libertar o gatilho no final

da camada. O gatilho da pistola de aplicação deve ser libertado no final de cada

passagem [13].

– A distância da pistola em relação à superfície deve ser constante e uniforme

para garantir que o tempo de contacto da tinta com o ar é sensivelmente

constante até atingir a superfície e, desta forma, garante-se um resultado final

semelhante. Para uma aplicação uniforme, o bico da pistola deverá ser mantido

a uma distância de cerca de 15-20 cm da superfície a pintar. A aplicação com a

pistola demasiado próxima da superfície dará origem a uma aplicação pesada

onde ocorrerão irregularidades; se a pistola estiver muito afastada da superfície,

resultará uma pulverização seca e causa interrupções ou poros microscópicos

no revestimento [13].

– Para grandes áreas lisas, cada camada deve sobrepor a anterior em 50% para

produzir uma espessura de película de tinta mais uniforme. Para construir uma

camada uniforme, é geralmente usada uma técnica que consiste numa camada

de jacto húmido, usando 50% de sobreposição, seguida por outra camada

completa de jacto húmido em ângulos recto relativamente ao primeiro [13].

Figura 26 – Manuseamento da pistola [24]

Page 78: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

66

A aplicação de tinta à pistola apresenta algumas vantagens, ao ser um método

eficiente de aplicação de sistemas de pintura sobre um substrato, pois ao fornecer

um fino grau de atomização, resulta numa superfície mais lisa, mais uniforme e

com alta qualidade de acabamento necessária para aplicações de vinilo. Além

disso, permite revestir grandes áreas num curto espaço de tempo.

A pistola de aplicação tem um elevado grau de versatilidade relativamente a

diferentes materiais de pintura e padrões de pulverização. O operador consegue

ter um excelente controlo da pistola de aplicação para pulverização precisa em

áreas de formas irregulares, cantos e tubos do que a pistola de aplicação sem ar

[13]. Para aplicação a quente, a viscosidade é reduzida para melhorar a aplicação

ou para atender a baixa temperatura do material [11].

Uma limitação deste método resulta do facto de usar grandes quantidades de

ar misturado com a tinta. Isto tem como consequência uma baixa eficiência da

transferência devido a elevadas perdas de tinta quer porque faz ricochete, quer

devido a “excesso de pulverização” (overspray) [11][13].

No final da utilização, a pistola deve ser desligada da linha e desmontada e todos

os componentes do equipamento, incluindo pistola, mangueiras e equipamento

auxiliar, devem ser cuidadosamente limpos com um diluente ou solvente apropriado

até que o solvente saia limpo, sem vestígios de cor da tinta, e depois passados com

ar soprado. A superfície exterior da pistola deve ser limpa com panos humedecidos

com solvente [13].

3.3.3. Modo de execução

Qualquer trabalho, e a pintura não é excepção, deverá ser realizado seguindo uma

metodologia definida, de modo a evitar qualquer tipo de erro de execução.

No caso de trabalhos de pintura, devem observar-se alguns cuidados consoante se

trate da pintura de uma divisão interior ou do exterior de um edifício.

◊ Interiores

Assim, deverá iniciar-se a pintura pelo tecto da divisão, nomeadamente começando

pelas extremidades, que fazem fronteira com as paredes. Nesta fase deverá ser

utilizado um pincel de tamanho reduzido. A restante superfície do tecto deverá

ser pintada recorrendo a um rolo, preferencialmente encaixado numa vara

extensível, de forma a permitir que a execução seja rápida, visto que no caso

de se usar um escadote, o tempo de execução seria muito superior devido à

necessidade de o mover constantemente. Quando for necessário retocar alguma

Page 79: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

67

Tecnologias de aplicação de tintas

parte que tenha ficado menos bem pintada, o executante deverá ser rápido

o suficiente para que a tinta nessa zona ainda esteja húmida, de forma a evitar

sobreposição de camadas. Deverá também deixar secar por completo a tinta antes

de aplicar próxima demão.

Em seguida, deverá

descer para as paredes,

iniciando a pintura

uma vez mais pelas

extremidades: cantos de

ligação entre paredes,

bem como zonas em

redor de portas, janelas

e rodapés. Nesta fase

deve usar uma trincha.

Após completada esta

tarefa, o executante

deverá, como já foi referido anteriormente neste capítulo, utilizando o rolo, pintar

segundo a direcção horizontal e em seguida segundo a direcção vertical, de forma

a espalhar da melhor maneira possível a tinta, pintando a parede toda. Uma vez

mais, tal como para o tecto e caso seja necessário, deverá realizar os retoques

ainda com a tinta húmida. Nesta fase, verificar atentamente se existe alguma zona

com imperfeições e corrigi-las. Deverá deixar secar por completo a tinta antes de

aplicar a próxima demão.

Os produtos de base aquosa são especialmente aconselhados para as pinturas

de interiores, devido às restrições ambientais, mas também por libertarem menos

cheiros e por consequentemente serem menos agressivos para as vias respiratórias

[25]. As limitações de emissões de COV’s podem ser consultadas no decreto-lei

n.º 242/2001 [26].

Em geral, as tintas para interior são mais resistentes a lavagens frequentes,

apresentam uma maior capacidade de cobertura e salpicam menos. No entanto,

deve evitar-se sempre utilizar no interior, tintas destinadas ao exterior, sob o

pretexto de serem mais resistentes, pois essa maior resistência é conseguida em

detrimento de certas características que, não sendo tão relevantes no exterior,

adquirem uma importância determinante no interior [25].

Como foi referido anteriormente, devem ser criadas as condições ambientais,

de forma a estarem o mais perto possível do ideal, em termos de temperatura e

humidade no interior do local a pintar.

Figura 27 – Pintura de tecto

Page 80: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

68

◊ Exteriores

Em termos gerais, o modo de execução das pinturas de paredes em exterior, não

será muito distinto do usado para as paredes interiores. Há que ter especial atenção

ao facto do executante não poder criar as condições ambientais envolventes

necessárias, de forma artificial como para o interior, visto que estas irão depender

das condições meteorológicas no local. Nunca realizar uma pintura exterior se as

condições não forem propícias, nomeadamente no que diz respeito à temperatura,

vento ou chuva.

As tintas para exterior, caracterizam-se por manterem a cor original, visto que têm maior

resistência aos raios UV e à intempérie, por acompanhar dilatações e contracções

dos materiais e pela maior resistência ao aparecimento de fungos e algas [25].

Os tipos de tintas mais aplicadas em fachadas de edifícios são as de emulsões

aquosas (ou plásticas) e as de membrana elástica, sendo também usadas noutras

circunstâncias, tintas de poliuretano, tintas de silicones (mais duráveis), bem como

as tintas de silicatos, em casos específicos de edifícios mais antigos.

3.4. Segurança

3.4.1. Equipamentos de protecção individual (EPI)

Um equipamentos de proteção individual (EPI) é, segundo o decreto-lei nº 348/93

[27], “Todo o equipamento, bem como qualquer complemento ou acessório, destinado a ser

utilizado pelo trabalhador para se proteger dos riscos, para a sua segurança e para a sua

saúde.”

Portanto, a utilização de um EPI tem por objectivo proteger o trabalhador das agressões

externas que são geradas no desempenho de uma determinada actividade laboral, ou seja,

os EPI’s destinam-se a proteger o trabalhador contra riscos ambientais, acidentes e efeitos

prejudiciais à saúde, que podem manifestar-se a curto ou a longo prazo.

No caso de trabalhos de pintura, os efeitos agudos, que se manifestam num curto

espaço de tempo, estão associados a manifestações imediatas de sintomas, como no caso

de intoxicação pelos vapores concentrados de certos solventes. Os riscos de longo prazo

são efeitos crónicos originados por exposições repetidas ao longo do tempo a produtos com

algum grau de perigosidade, sem manifestações imediatamente evidentes.

Page 81: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

69

Tecnologias de aplicação de tintas

Os EPI’s são de utilização obrigatória,

como refere a figura 28. A empresa é obrigada

a fornecer aos trabalhadores, gratuitamente,

EPI’s adequado ao risco que o seu trabalho

envolve, em perfeito estado de conservação

e funcionamento e os trabalhadores devem

receber formação sobre a sua correcta

utilização. A realização de trabalhos de pintura

requer a utilização, pelos trabalhadores, de

protecção para os olhos e face, respiratória e

da pele.

● Protecção dos olhos e da face

O uso de equipamentos de proteção para os olhos e face em trabalhos de pintura,

consiste na utilização de óculos e viseiras com o objectivo de proteger essas zonas

da acção de gases irritantes para os olhos e evitar

lesões.

● Protecção respiratória

Para realização de trabalhos de pintura, onde existe o perigo de aspiração e/ou inalação de substâncias perigosas, devem usar-se máscaras, com ou sem filtro, para proteger as vias respiratórias de produtos químicos e também de poeiras, no caso da realização de um processo de raspagem ou lixagem.

Podem ser adoptadas medidas de controlo do ar contaminado com poeiras nocivas, fumos, gases, sprays ou vapores, tomando acções para tentar reduzir os seus níveis, como por exemplo confinar ou restringir as operações a certas zonas, garantir a ventilação da área de trabalho, ou substituir alguns materiais por outros menos tóxicos.

● Protecção da pele

É essencial proteger a pele dos materiais nocivos que a podem lesar, sendo

obrigatório usar luvas, roupas e calçado apropriado. Em trabalhos de pintura, a

pele das mãos é muito exposta, pelo que devem ser usadas luvas adequadas ao

trabalho que se vai realizar, ou seja, devem proteger as mãos contra a ação de

produtos químicos, como solventes, decapantes, etc.

Figura 28 – EPI’s

Figura 29 – Óculos de protecçãoFigura 30 – Protector

facial c/viseira

Figura 31 – Máscara de pintura

Page 82: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Tecnologias de aplicação de tintas

70

O fardamento deve ser constituído por calças e parte

de cima de manga comprida, de forma a proteger a

pele do contacto com produtos nocivos. No caso de se

estar a utilizar o jacto de água de alta

pressão, será aconselhável o uso de

equipamentos impermeáveis e botas

de borracha [14]. Figura 32 – Máscara com filtros de carbografite

Figura 33 – Luvas de protecção

Page 83: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

71

Patologias em revestimentos por pintura

4. Patologias em revestimentos por pintura

Patologias são defeitos que ocorrem nas pinturas ou em outras fases das construções, novas ou

velhas, por acção de agentes externos, erros de aplicação/construção ou inadequação dos materiais

aplicados [17].

No caso de patologias em revestimentos por pintura, são defeitos ou anomalias que surgem nas

superfícies sobre as quais foram aplicados esquemas de pintura.

As patologias podem ocorrer em diversas fases do processo, que podem ir da armazenagem da

tinta, à sua aplicação ou à fase da vida útil. Como resultado das patologias, aparecem defeitos que, de

acordo com a altura em que ocorrem, podem classificar-se em [2]:

● Defeitos de curto prazo ou imediatos: resultam de patologias que aparecem durante a fase de

aplicação da tinta, ou num curto espaço de tempo após ser finalizada a aplicação.

● Defeitos de médio prazo: resultam de patologias que ocorrem entre o período de recepção da

obra e o final do “prazo de garantia” da mesma (de 5 anos).

● Defeitos de longo prazo: são decorrentes do envelhecimento das superfícies ao longo dos anos,

principalmente por acção de agentes atmosféricos adversos, que originam o aparecimento de

patologias. Em geral, ocorrem depois do período de 5 anos.

● Defeitos inesperados: resultam de situações imprevistas.

Deve ter-se presente que os defeitos de curto prazo nos revestimentos por pintura poderão pôr

em causa a recepção de uma obra, com base na importante função de decoração que desempenham,

podendo consequentemente contribuir para comprometer a confiança na qualidade da obra em geral,

o que deve de todo ser evitado [2].

4.1. Principais causas

Quando se abordam as patologias em superfícies que foram sujeitas a um esquema

de pintura, é necessário ponderar os diversos factores que podem contribuir para o seu aparecimento.

As patologias podem estar relacionadas com diferentes factores, que seguidamente serão

descritos [11]:

1. A selecção dos materiais

Para proteger o substrato devem usar-se materiais de pintura adequados e compatíveis,

que resistam à deterioração causada pelas condições de exposição. Não existe nenhum

revestimento que proteja todos os tipos de substratos em todas as condições de exposição.

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Patologias em revestimentos por pintura

72

Portanto, a selecção dos materiais de pintura é geralmente baseada na adequabilidade

ao ambiente de exposição e no histórico do desempenho. Se for necessário, pode ainda

recorrer-se a testes de envelhecimento acelerados realizados em laboratório.

Deve evitar-se a utilização de produtos que não preencham os requisitos mínimos para

cada situação, como por exemplo:

– a selecção de tintas que não se adequam às condições de exposição a que

se destinam;

– utilizar sistemas de produtos de pintura que não sejam compatíveis entre si;

– seleccionar uma tinta com base numa opinião não fundamentada;

– seleccionar uma tinta com base apenas no preço.

2. A formulação da tinta

Durante o processo de fabrico, os componentes de uma tinta devem ser

misturados em várias proporções e numa dada sequência. O não cumprimento

das instruções traduz-se num problema de qualidade da tinta que pode

conduzir a defeitos, embora estes sejam diferentes nas tintas orgânicas e

inorgânicas [11]:

● Tintas orgânicas – os defeitos são devidos a alterações na formulação, às

matérias-primas, proporções inadequadas, mistura insuficiente e outros pro-

cessos de fabrico.

● Tintas inorgânicas - os defeitos são causados principalmente pelos veículos

metálicos usados na sua composição.

A formulação incorrecta da tinta pode dar origem ao aparecimento de algumas

patologias: descoloração, enrugamento, fissuração e pulverulência. Pode ainda

dar origem a erosão e ao aparecimento de microorganismos.

3. Aderência da tinta

Os defeitos de aderência são numerosos e podem ser catastróficos. Uma

das razões mais comuns é pintar sobre um substrato contaminado com, por

exemplo, sais solúveis que promovem empolamento quando a humidade ou o

vapor gasoso passam através de películas semi-permeáveis [11].

A deficiente aderência por parte da tinta pode dar origem ao aparecimento de

algumas patologias: empolamento, descamação, destacamento e destacamento

entre camadas.

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73

Patologias em revestimentos por pintura

4. Tipo de substrato

Existem vários tipos de superfície de substratos com diferentes características,

como a densidade, porosidade e reactividade química, devendo assegurar-se

a adequada preparação da superfície que serve de base e os seus possíveis

defeitos. Por exemplo, o betão tem uma superfície não uniforme e não é

um material muito denso, é poroso e muito reactivo. Por outro lado, o aço é

muito denso, não poroso e menos reactivo do que os outros substratos. Esta

comparação simples ilustra as diferenças entre os tipos de substrato.

No caso da alvenaria rebocada e do betão, a perda de aderência, empolamento

ou destacamento da camada de revestimento ocorrem devido a:

– Reacções químicas e elevado teor de humidade;

– Formação de sais de cálcio sob a película;

– Bicos de alfinete, ar e água na superfície do substrato;

– Transmissão de água através do substrato.

Estas patologias aparecem essencialmente devido a defeitos de construção.

5. A aplicação

Os métodos de aplicação são a causa mais frequente relacionada com defeitos

de pinturas, pelo que existe um conjunto de cuidados indispensáveis para

garantir a eficiência e a qualidade do processo, relacionados com a selecção

dos materiais ou com a sua formulação, mas também, e principalmente, de

origem humana.

A falta de mão-de-obra qualificada está na origem da deficiente aplicação da

tinta devido a erros relacionados com mistura insuficiente, diluente inadequado,

espessura da camada incorrecta ou a aplicação em condições ambientais

adversas, entre outros.

O executante deve possuir os conhecimentos necessários para ler e interpretar

a informação do caderno de encargos da obra, integrar a informação das fichas

técnicas dos produtos de pintura e executar o trabalho correctamente. Deve

igualmente ter capacidade para avaliar as condições reais de aplicação e as

características da base, uma vez que qualquer falha numa destas áreas pode

comprometer a qualidade final do trabalho.

Existe um conjunto de factores, como a porosidade, alcalinidade, rugosidade e

humidade, que podem levar a erros de execução e que só ficam realçados após

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Patologias em revestimentos por pintura

74

aplicação do esquema de pintura, dando origem ao aparecimento de algumas

patologias, como opalescência, repasse, formação de crateras, olhos de peixe,

falhas de tinta, ataque, casca de laranja, excesso de pulverização, bicos de

alfinete e escorridos.

Existem alguns aspectos que não poderão ser descurados na execução de um

trabalho de pintura:

– Realizar a inspecção da base antes de receber o esquema de pintura, para que este não seja aplicado em substratos húmidos;

– Garantir que as condições de ambiente, em termos de humidade e temperatura, são propícias para a realização do processo de pintura; condições ambientais inadequadas podem estar na origem de patologias, tais como empolamento e fraca aderência causados por condições de humidade.

– Garantir mão-de-obra qualificada de forma a evitar erros como, por exemplo, áreas do substrato descobertas, com falhas de tinta, porque não foram revestidas correctamente pelo executante.

– Cumprir os tempos de secagem dos produtos aplicados.

– Uma diluição inadequada, por exemplo, pode estar na origem de fraca aderência; a flutuação dos pigmentos resulta em cor desigual; além disso, após aplicação, a separação entre pigmentos e veículo pode resultar em bicos de alfinete (pinholing) ou opalescência (blushing).

– Uma mistura incorrecta pode originar um revestimento muito fino, uma

distribuição de pigmentos não uniforme ou ambos, sendo que áreas inteiras

ou zonas localizadas poderão ter fraca aderência, cor irregular e fissuração.

6. Projecto da estrutura

Numerosos defeitos ocorrem devido a problemas provocados por zonas

angulosas de difícil acesso presentes nos edifícios e às suas dificuldades

inerentes, visto que por vezes, quem desenha uma estrutura, não prevê as

operações de revestimento. Contudo, com uma selecção adequada de materiais

e técnica de aplicação, conseguem ultrapassar-se alguns destes problemas 11].

7. Forças exteriores

Alguns ambientes particularmente agressivos (ex.: abrasão, erosão ambientes

químicos) a que o revestimento pode estar sujeito, poderão ser a principal

causa de falha. São frequentes os ambientes de água corrente que contêm

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75

Patologias em revestimentos por pintura

várias concentrações de sais dissolvidos e fluxos de água contendo materiais

abrasivos, como partículas de areia [11].

Os tipos de falhas referidas podem actuar independentemente umas das outras

ou em conjunto com outras.

4.2. Patologias consoante as fases em que podem ocorrer

Como foi já referido, os defeitos que surgem depois da execução de um esquema de pintura

podem ser causados por factores de natureza diversa. As patologias daí decorrentes podem ter

origem em 3 momentos principais: durante a armazenagem da tinta ainda em lata, durante a

aplicação ou durante a fase de exposição das superfícies pintadas.

No presente capítulo, serão abordadas as patologias presentes nos revestimentos por pintura

em edifícios, nomeadamente em paredes interiores e exteriores rebocadas ou de betão. Serão

também apresentadas as principais causas desses problemas e as soluções mais indicadas para

evitar o aparecimento das mesmas.

No fim do trabalho, apresenta-se um quadro resumo com a lista de patologias de forma a

facilitar a consulta (Anexo 1).

4.2.1. Patologias durante a armazenagem da tinta

Ao serem disponibilizados para o mercado, os materiais de pintura devem ter

a qualidade garantida pelo fabricante, mediante um certificado de cumprimento das

especificações, decorrente de ensaios de controlo da qualidade. Entre o fabrico e a utilização,

decorre um período de armazenagem das tintas, durante o qual podem aparecer diversos

defeitos.

1. Embalagem opada – é a formação de gás, durante a armazenagem de produtos

de pintura, que provoca a dilatação da lata [1].

◊ Causas:

(1) Temperatura de armazenagem elevada pode provocar aumento de volume

do recipiente. Este pode ocorrer por duas razões:

– devido a um aumento de pressão por libertação do vapor do solvente;

– como resultado de uma variação da composição interna da tinta, com

a consequente libertação de gases.

Page 88: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

76

(2) Erros no fabrico do produto, nomeadamente misturando constituintes

inadequados, que posteriormente podem originar reacções químicas

inesperadas, com a consequente libertação de gases e aumento de

volume da embalagem.

◊ Soluções:

● Dependendo da causa, a solução para as embalagens opadas passa por

um de dois procedimentos:

– devolver o produto, substituindo por outro lote;

– adequar as condições de armazenagem, cumprindo as instruções do

fabricante.

2. Espessamento – é o aumento na consistência de um produto de pintura, mas não

ao ponto de o tornar inutilizável [1].

◊ Causas:

(1) Esta situação pode ocorrer em

embalagens mal fechadas que,

por isso, favorece a evaporação

do solvente, provocando um

aumento da viscosidade do

produto.

(2) Temperatura de armazenagem

desajustada.

– Temperaturas elevadas podem aumentar a pressão no interior da lata

devido à libertação de vapor do solvente, cuja fuga para o exterior

conduz a um aumento de viscosidade e, consequentemente, da

consistência;

– Temperaturas demasiado baixas causam igualmente um aumento de

viscosidade do produto, embora por mecanismo diferente, podendo

originar alterações irreversíveis no mesmo.

(3) A permanência por tempo excessivo em armazém, particularmente no caso

das tintas de base aquosa, pode dar origem à formação de aglomerados

que aumentam a viscosidade do produto.

Figura 34 – Espessamento

Page 89: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

77

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

● Em certo tipo de produtos é possível reduzir a consistência através de uma

agitação adequada, até se aproximar da consistência pretendida.

● Corrigir a consistência do produto através da adição de um solvente/diluente

apropriado.

● Armazenar a embalagem num local com as condições de temperatura

indicadas pelo fabricante, geralmente a cerca de 18 ± 5ºC.

3. Formação de pele – consiste na formação de uma pele sobre a superfície do

produto de pintura, durante a armazenagem em lata ou bidão [1].

◊ Causas:

(1) O deficiente fecho da embalagem pode levar a que, por um lado, haja

evaporação do solvente e, por outro lado, possibilita a entrada de oxigénio

e humidade, podendo provocar a reticulação. Ambas as situações levam à

formação da película superficial.

(2) Temperaturas de armazenagem elevadas podem provocar um aumento de

pressão por libertação no interior do recipiente e liberta vapor do solvente

que, ao sair da embalagem, permite que se forme a película superficial.

Está também relacionada com o deficiente fecho das embalagens.

◊ Soluções:

● No caso da pele se encontrar na forma de uma película homogénea, que

ocupa toda a superfície da embalagem, deve soltar-se essa película junto

dos bordos em redor da embalagem e tentar retirá-la por inteiro.

● No caso da pele se encontrar fragmentada, a solução poderá passar por um

processo de peneiração ou retirada desses fragmentos separadamente.

4. Gelificação – consiste na alteração irreversível do estado físico de um produto de

pintura, que forma um gel com características impróprias para aplicação [28].

◊ Causas:

(1) Embalagens mal fechadas permitem a entrada de oxigénio e humidade

provenientes do ar, o que pode provocar a gelificação do produto devido a

uma reacção de reticulação de alguns ligantes.

(2) Temperatura de armazenagem demasiado elevada pode desencadear

reacções de reticulação de alguns ligantes, transformando o produto num

gel.

Page 90: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

78

(3) A longa permanência em armazém de alguns tipos de produtos promove

reacções de autoreticulação lenta dos ligantes, ao longo do tempo,

originando produtos gelificados.

◊ Soluções:

● Devido à irreversibilidade dos processos químicos que ocorrem no produto,

a única solução passa por substituir as embalagens por outras.

5. Sedimentação – consiste na deposição de um resíduo no fundo de uma embalagem

de produto de pintura. Um sedimento compacto não pode ser redisperso por simples

agitação [1].

◊ Causas:

(1) Embalagens mal fechadas permitem a entrada de oxigénio e humidade

provenientes do ar, que podem provocar a reticulação de alguns ligantes,

que por sua vez formam compostos mais pesados, que se depositam no

fundo da lata.

(2) Temperaturas de armazenagem elevadas podem provocar a evaporação

do solvente, aumentando a quantidade de partículas sólidas no fundo da

lata. Podem igualmente provocar o início de reacções de reticulação de

alguns ligantes, originando o depósito de sólidos no fundo.

(3) A permanência em armazém por tempo excessivo favorece a deposição

por gravidade de partículas sólidas presentes no produto.

◊ Soluções:

● Misturar cuidadosamente o produto dentro da embalagem, de forma a

homogeneizar bem a tinta.

● Se for necessário corrigir a consistência da tinta, adicionar solvente e

misturar bem.

● Quando ocorrem reacções químicas irreversíveis, é impossível voltar a

obter uma tinta homogénea por agitação; nestes casos, a solução passará

pela substituição do produto.

Naturalmente que, é da responsabilidade de quem vai executar o processo de pintura

conferir o estado dos produtos que serão usados, como forma de garantir que o eventual

aparecimento de qualquer patologia no esquema de pintura não terá origem em defeitos de

armazenagem dos produtos utilizados.

Page 91: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

79

Patologias em revestimentos por pintura

4.2.2. Patologias na fase de aplicação

Algumas ocorrências durante a fase de aplicação e secagem das tintas, podem

também conduzir ao aparecimento de defeitos, tanto no interior como no exterior. Serão

abordadas, em seguida, algumas dessas patologias e as respectivas causas e soluções.

1. Ataque – consiste no amolecimento,

inchaço ou separação de uma

película seca do seu substrato,

resultante da aplicação de uma

demão suplementar ou da utilização

de produtos químicos, como

solventes [1].

◊ Causas:

(1) Tempo de secagem entre camadas insuficiente ou em condições

desfavoráveis. Pode acontecer quando se aplica uma demão sobre uma

camada ainda húmida.

(2) Retenção de excesso de solvente na camada final, que poderá provocar

a redissolução da camada inferior. Isto pode acontecer devido à aplicação

de camadas demasiado espessas.

(3) Incompatibilidades físico-químicas entre os produtos usados no esquema

de pintura, nomeadamente no que diz respeito à agressividade do solvente

do produto aplicado sobre uma camada mais sensível.

(4) Incompatibilidades entre diferentes camadas do mesmo produto aplicados

por procedimentos diferentes, em cada demão. (Exemplo: uma camada

aplicada a trincha e a seguinte aplicada recorrendo à pistola, usando tintas

de borracha clorada.)

◊ Solução:

● Remoção total ou parcial do revestimento aplicado, seguido da preparação

adequada da superfície. Efectuar então a repintura com produtos

quimicamente compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e

respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

2. Bicos de alfinete – é a presença de pequenos orifícios na película, semelhantes

aos que são feitos por um alfinete [1].

Figura 35 – Ataque

Page 92: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

80

◊ Causas:

(1) Entrada de ar no interior da embalagem, em qualquer altura do processo

de uso, que se liberta depois da aplicação do produto, deixando pequenos

furos na superfície.

(2) Utilização de solventes com velocidades de secagem lentas e permitindo,

por isso, a introdução de resíduos atmosféricos na camada aplicada, que

se libertam posteriormente originando bolhas que, quando rebentam,

formam os pequenos orifícios na superfície.

(3) A secagem demasiado rápida da camada superficial face ao interior da

mesma, acontecendo o mesmo que no ponto 2.

(4) Não cumprimento do tempo de secagem entre a aplicação de camadas

pode levar a que a evaporação do solvente da camada interna forme furos

na camada seguinte.

(5) Presença de humidade em excesso, que pode reagir quimicamente com

alguns constituintes da tinta, promovendo a libertação de gases, que dão

origem a pequenos orifícios.

◊ Solução:

● Esperar que a película seque por completo e, em seguida, fazer

uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,

“despoeiramento” e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente

compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os

tempos de secagem entre demãos.

3. Casca de laranja – é um defeito que origina uma película com aspecto parecido

com a textura da superfície de uma laranja [1].

Figura 36 – Bicos de alfinete

Page 93: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

81

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) Uso de metodologia incorrecta no manuseamento e aplicação do produto

com pistola, como por exemplo a reduzida distância entre o bico da pistola

e a superfície a pintar, o uso de pressão desadequada ou a abertura do

bico mal regulada.

(2) Defeitos do produto de pintura, como sejam uma formulação desadequada,

viscosidade demasiado elevada, diluentes desadequados ou mesmo o

produto mal misturado.

(3) Insuficiente tempo de secagem entre a aplicação de camadas ou demãos.

(4) Temperatura de aplicação ou base de suporte desadequadas.

◊ Solução:

● Esperar que a película seque por completo e, seguidamente fazer uma pre-

paração adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, des poeiramento

e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,

seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de

secagem entre demãos.

4. Encosturado – zona visível onde uma camada de tinta se estende ao longo de

uma camada adjacente de tinta acabada de aplicar [1].

Figura 37 – Casca de laranja

Figura 38 – Encosturado

Page 94: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

82

◊ Causas:

(1) Secagem demasiado rápida do produto devido à utilização de um

solvente de evaporação rápida, o que origina uma defeituosa ligação ou

sobreposição entre áreas contíguas.

(2) Má execução quando a área a pintar é excessivamente grande: a utilização

de uma metodologia inadequada poderá levar a que a camada aplicada

em primeiro lugar seque antes de ser aplicada a camada seguinte, de

sobreposição.

◊ Solução:

● Efectuar a repintura utilizando um produto de pintura compatível, mas que

contenha solventes menos voláteis, que evaporem mais lentamente. Além

disso, restringir o tamanho das áreas de aplicação para poder controlar os

tempos de secagem em função das áreas adjacentes.

5. Enrugamento – é a formação de pequenas rugas ou ondulações numa película de

material de pintura, durante a secagem [1].

Causas:

(1) Camada demasiado espessa, poderá dar origem a que seque à superfície,

mas não o interior, que permanece húmida; como consequência, quando o

interior secar, a camada sofre contração por perda de volume e acaba por

enrugar.

(2) Aplicação da segunda demão com a primeira demão ainda húmida por

não cumprimento dos tempos de secagem;

Deficiente formulação do produto, que não cumpre as condições

especificadas.

Figura 39 – Enrugamento

Page 95: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

83

Patologias em revestimentos por pintura

(3) Diferenças de temperatura significativas entre o produto a aplicar e a

superfície que lhe serve de suporte. Este facto vai influenciar a secagem

entre o interior e a superfície da película.

(4) Camada demasiado espessa, poderá dar origem a que seque à superfície, mas

não o interior, que permanece húmida; como consequência, quando o interior

secar, a camada sofre contração por perda de volume e acaba por enrugar.

(5) Aplicação da segunda demão com a primeira demão ainda húmida por

não cumprimento dos tempos de secagem;

(6) Deficiente formulação do produto, que não cumpre as condições

especificadas.

(7) Incompatibilidades físico-químicas entre os produtos utilizados no esquema

de pintura, como o uso de solventes fortes sobre camadas mais sensíveis,

ou a aplicação de camadas mais rígidas sobre camadas mais macias.

(8) Camada ainda húmida, exposta a um ambiente de humidade elevada.

◊ Soluções:

● Neste caso a solução depende da extensão do defeito. Esperar que a película

seque por completo, antes de proceder a uma lixagem ou escovagem até

desaparecer o enrugamento, despoeiramento e lavagem; como alternativa

pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco. Após

preparação adequada da superfície efectuar a repintura aplicando produtos

quimicamente compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e

respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

6. Escorridos – são irregularidades locais na espessura de uma película, causadas

pelo movimento descendente de um produto de pintura, durante a secagem numa

posição vertical ou inclinada. Se originam pequenos escorridos podem chamar-se

pingos, lágrimas ou gotículas; grandes escorridos podem chamar-se cortinas [1].

◊ Causas:

(1) Diluição excessiva do produto, que fica demasiado fluido, tornando a

evaporação do solvente mais lenta, impedindo uma boa aderência da

película ao substrato.

(2) Película demasiado espessa, onde o solvente fica retido demasiado

tempo, permitindo algum escorrimento de tinta.

Page 96: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

84

(3) Secagem demasiada lenta devido à utilização de solventes pouco voláteis.

(4) Erro na preparação do produto, permanecendo este mais fluido por adição

de secante inadequado ou em quantidade mal doseada.

Tempo de secagem insuficiente entre a aplicação de camadas ou demãos.

(5) Viscosidade reduzida do produto de pintura.

◊ Solução:

● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por

completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e

lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.

Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar

a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de

secagem e condições favoráveis.

7. Espumas – é a formação de bolhas, temporárias ou permanentes, numa película

aplicada [1].

◊ Causas:

(1) Falta de aplicação de um primário selante de poros, em superfícies porosas, que levará à libertação para o interior da película do ar contido no interior dos orifícios, formando bolhas.

(2) Adição de um produto antiespuma desadequado à formulação, originando a formação de bolhas no produto de pintura, que permanecem na película seca.

(3) Método de aplicação desadequado ou mal executado, como a utilização de força excessiva com a trincha ou utilização da pistola de pintura com elevada pressão, que incorpora ar no interior da película.

(4) Condições de humidade inadequadas, que poderão originar reacções químicas com alguns compostos presentes nos produtos de pintura, cuja consequente libertação de gases origina a formação de bolhas.

Figura 40 – Escorridos

Page 97: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

85

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Solução:

● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por

completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e

lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.

Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar

a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de

secagem e condições favoráveis.

8. Flutuação de cor – consiste na separação de um ou mais pigmentos de um produto de pintura contendo mistura de pigmentos diferentes, causando estrias ou zonas de cor diferente sobre a superfície do produto de pintura [1].

◊ Causas:

(1) Incompatibilidades físico-químicas entre os diferentes tipos de pigmentos

que fazem parte da composição do produto de pintura, dando origem a

uma mistura heterogénea, que por sua vez depois de seca pode provocar

uma distribuição irregular na película.

(2) Incompatibilidade dos pigmentos perante o ambiente envolvente quer em

termos da natureza da base, quer em termos do ambiente atmosférico e

respectivas condições de exposição.

◊ Soluções:

● A solução deste defeito deve ser avaliada consoante a extensão do mesmo.

Assim, a solução poderá passar por esperar que a película seque por completo,

efectuado a lixagem ou escovagem e lavagem e consequente repintura. Ou

poderá ser executada a remoção total ou parcial do revestimento, também

depois de seco, executando então a repintura. Esta repintura, em ambos

os casos, deverá ser antecedida da respectiva preparação adequada da

superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando

todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

9. Formação de crateras – aparecimento numa película de pequenas depressões

circulares, que persistem após a secagem [1].

◊ Causas:

(1) Podem ter origem em rebentamentos de bolhas presentes na superfície

da película, que dão origem a empolamentos.

Page 98: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

86

(2) Podem aparecer devido à

presença de contaminantes

na mistura, que são

provenientes de diversas

origens, tais como o ar, o

material usado para pintar ou

ainda a base de aplicação,

podendo igualmente ter

uma composição variada

(fibras, óleos, sujidade, etc.).

(3) Aplicação de diluentes desadequados como gasolina, querosene, etc.

(4) Fluidez do produto apresentar uma viscosidade demasiado elevada

(5) Ocorrência de correntes de ar durante a fase de aplicação da tinta

(6) Incompatibilidade química entre alguns componentes formulados na tinta.

◊ Solução:

● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por

completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e

lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.

Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar

a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de

secagem e em condições favoráveis.

10. Marcas de trincha – aparecimento durante o processo de aplicação da tinta de

estrias aproximadamente rectilíneas

e paralelas entre si, que se mantêm

visíveis depois de seco [28].

◊ Causas:

(1) Produto demasiado viscoso,

com más propriedades de

escoamento, pode dar origem

a uma película irregular ao

longo da superfície de base.

(2) Escolha de trinchas desadequadas, nomeadamente trinchas de pêlo

demasiado duro para determinados produtos de pintura.

Figura 41 – Formação de crateras

Figura 42 – Marcas de trincha

Page 99: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

87

Patologias em revestimentos por pintura

(3) Concentração volumétrica de pigmentos demasiado elevada no produto

de pintura, impede o seu total envolvimento pelo ligante, que se torna

insuficiente.

(4) Aplicação de uma camada sobre uma camada anterior que ainda não se

encontra completamente seca.

(5) Aplicação de uma camada, sobre outra que apresente já estes defeitos.

Este facto levará a que a nova camada se apresente moldada à que lhe

serve de base.

(6) Superfície de base demasiado porosa, o que leva a que o solvente seja

absorvido em demasia, dificultando o espalhamento e o nivelamento do

produto na superfície.

(7) Demasiadas passagens com a trincha. Esta acção prejudica o

espalhamento e favorece o aparecimento de marcas de trincha, causando

igualmente heterogeneidade na espessura.

(8) Temperatura ambiente demasiado elevada durante o processo de

aplicação, que poderá causar a secagem demasiado rápida de algumas

zonas, antes de efectuada a totalidade do espalhamento.

(9) Emprego de aditivos reológicos desadequados no produto.

(10) Metodologia ou instrumentos de aplicação desadequados para o produto.

(11) Produto fora de prazo, ou fora do tempo de vida útil.

◊ Solução:

● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação

adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e

lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,

seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de

secagem entre demãos.

11. Opalescência – aspecto leitoso que por vezes se desenvolve durante a secagem

da película de um produto de pintura transparente e que é devido à humidade do

ar e/ou à precipitação de um ou mais constituintes sólidos do produto de pintura

transparente [1].

◊ Causas:

(1) Secagem da superfície pintada em ambiente de humidade excessiva,

favorece a absorção de água, podendo apresentar um aspecto leitoso.

Page 100: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

88

(2) Aplicação de solventes de evaporação rápida, conduzem à condensação

e cristalização da humidade durante a fase de secagem da camada

superficial.

(3) Existência de incompatibilidades físico-químicas entre ligantes, podendo

levar à sua precipitação

◊ Solução:

● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação

adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e

lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,

seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de

secagem entre demãos.

12. Repasse – difusão de uma substância corada através de uma película, proveniente

do interior e produzindo manchas ou alterações de cor indesejáveis [1].

◊ Causas:

(1) Pode acontecer quando algum componente corado da base de aplicação

ou da camada adjacente é parcialmente solúvel no solvente usado na

camada de acabamento, podendo assim ser arrastado para a superfície

da película, depositando-se.

◊ Solução:

● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação

adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e

lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,

seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de

secagem entre demãos.

13. Retracção – aparecimento numa película de zonas de espessura não uniforme,

que variam na extensão e na distribuição [1].

◊ Causas:

(1) Má preparação da superfície, permitindo que nela fiquem resíduos de

sujidade, tais como óleos ou silicones.

(2) Presença de solventes fortes, que atacam o ligante de camadas de pintura

subjacentes.

Page 101: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

89

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Solução:

● Em função da extensão do defeito, deve esperar-se que a película seque por

completo e, depois, efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento

e lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.

Em seguida, efectuar a repintura com produtos compatíveis, respeitando os

tempos de secagem e em condições favoráveis.

4.2.3. Patologias na fase de vida útil

As paredes exteriores da maior parte dos edifícios estão permanentemente expostas

a condições ambientais variáveis, que constituem um factor adverso para a resistência dos

seus acabamentos, particularmente no que se refere aos revestimentos por pintura. Ainda

assim, existem determinadas actividades que se desenvolvem no interior dos edifícios que

contribuem grandemente para a degradação das pinturas em paredes internas. Deste modo,

é possível distinguir anomalias características das superfícies exteriores, bem como das

superfícies interiores.

Os defeitos que podem ocorrer durante a chamada fase de uso, ou durante a vida útil

do edifício, bem como as respectivas possíveis causas, e como os reparar são:

1. Amarelecimento – aparecimento e expansão de uma cor amarelada na superfície,

ao longo da vida útil da película de tinta ou produto similar [28].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito tem a ver com a acção dos agentes

atmosféricos, tais como radiação solar, temperatura, chuvas, humidade,

etc. A acção destes agentes sobre o ligante presente na película altera as

suas propriedades, em maior ou menor grau consoante a sua natureza

química, dando origem a este defeito.

◊ Soluções:

● Fazer uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,

despoeiramento e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente

compatíveis com o revestimento e resistente às condições ambientais a que

o edifício está sujeito, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando

todos os tempos de secagem entre demãos.

2. Bronzeamento – é a alteração na cor da superfície de uma película, dando o as-

pecto de bronze envelhecido [1].

Page 102: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

90

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito prende-se com a incidência da radiação solar

em determinados pigmentos, que não são adequados para se aplicarem em

pinturas exteriores.

◊ Soluções:

● Efectuar uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem

ou escovagem, despoeiramento e lavagem. A repintura deve ser feita com

produtos com pigmentos adequados para o exterior, seguindo as indicações

dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

3. Descoloração – consiste na perda de cor de uma película de um produto de pintura [1].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito

tem a ver com a acção dos

agentes atmosféricos, tais como

radiação solar, temperatura,

atmosferas poluídas ou

quimicamente agressivas, bases

de aplicação quimicamente

agressivas, etc. A acção destes

agentes sobre o ligante ou

os pigmentos constituintes

da película, altera as suas

propriedades, dando origem a

este defeito.

◊ Soluções:

● Fazer uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,

despoeiramento, lavagem e secagem. Efectuar a repintura com produtos

quimicamente compatíveis com o revestimento e resistente às condições

ambientais a que o edifício está sujeito, seguindo as indicações dos fabricantes

e respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

4. Destacamento – é a separação de placas de película do seu substrato devido

a uma perda de aderência [1]. Também pode ser designado por delaminação,

despelamento ou exfoliação.

Figura 43 – Descoloração

Page 103: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

91

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) Condições de aplicação desfavoráveis, nomeadamente humidade elevada

e baixa temperatura. Este ambiente envolvente durante o processo de

aplicação, poderá conduzir à existência de humidade em excesso na base

de suporte, levando ao destacamento.

(2) Ocorrência de infiltrações, que consequentemente levam à presença de

humidade em excesso na superfície de aplicação. Este defeito poderá

acontecer devido a defeitos de construção, tais como fissuras, remates

deficientes, etc.

(3) Deficiente preparação da superfície, que ao conter sujidades de vários tipos,

tais como gorduras, poeiras, resíduos de tinta esfoliada ou pulverulenta,

podem formar zonas de reduzida aderência que levam ao consequente

destacamento.

(4) Aplicação feita sob temperaturas elevadas ou em presença de correntes de ar fortes, as quais provocam uma secagem demasiado rápida da película, e por consequência diminuem de forma relevante a aderência à base de aplicação.

(5) A formulação do revestimento por pintura inadequada para o tipo de exposição que o mesmo irá sofrer, nomeadamente quando está perante possíveis ataques químicos.

(6) Preparação da superfície de base desadequada para executar uma repintura. Se o peso apresentado pela nova camada de tinta for demasiado elevado, poderá ser suficiente para conseguir arrancar zonas de película de uma demão antiga, que tenha falta de coesão.

(7) Ausência de aplicação de produto que promova a aderência entre camadas,

ou inadequada aplicação do mesmo durante o processo de preparação do

esquema de pintura.

Figura 44 – Destacamento devido a humidade por capilaridade

Figura 45 – Destacamento

Page 104: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

92

(8) Ausência de aplicação de primário ou aplicação de primários inadequados.

(9) Solventes usados são incorrectos ou desadequados. Esta escolha influencia

a tensão superficial e a viscosidade do produto a usar de tal forma, que

poderá tornar ineficaz a molhagem da superfície de base, diminuindo

grandemente a aderência da película à base.

(10) A superfície de base apresenta-se demasiado rígida e lisa, características

que diminuem muito a aderência da película..

(11) Existência de incompatibilidades físico-químicas entre a base de suporte e

o produto aplicado.

(12) Desrespeito pelos tempos de secagem entre aplicação de demãos, que

poderão provocar diversos problemas que reduzem a aderência do produto

à base.

(13) Erros de doseamento na formulação de produtos compostos por dois

componentes, os quais podem dar origem a produtos com características

diferentes das desejadas ou esperadas.

(14) Envelhecimento natural do revestimento por pintura.

◊ Soluções:

● Em função da extensão do destacamento (se é localizado ou se atinge a totalidade

da superfície), devem ser usadas as metodologias adequadas de preparação

de superfície, tendo em conta a natureza da base de aplicação, efectuando

a decapagem ou a raspagem. Após verificação do grau de degradação da

base, e se for necessário (no caso de apresentar fissuras, fendas, podridão,

etc.) deverá proceder-se à sua reparação. Em seguida, realizar a pintura ou

repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis

seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando criteriosamente os

tempos de secagem entre demãos.

5. Eflorescências – é um fenómeno que

ocorre quando sais hidrossolúveis migram

de uma película seca ou do substrato

para a superfície e formam um depósito

cristalino [1]. Este defeito poderá aparecer

sob a forma de depósitos brancos cristalinos

pulverulentos de fraca coesão ou na forma Figura 46 – Eflorescência

Page 105: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

93

Patologias em revestimentos por pintura

de crostas, formando depósitos compactos. É um defeito que poderá dar origem a

outro, devido a essas deposições, pois formam-se machas e dão-se alterações de

cor nesses locais [28].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito está descrita na definição, e prende-se com

a formação de depósitos cristalinos, por migração e evaporação de água

contendo sais solúveis que provêm da base de suporte. Estes sais podem

ter diversas origens:

– Rebocos novos que contêm hidróxido de cálcio e este ao ser arrastado

para a superfície, reage com o CO2 do ar, produzindo carboneto de

cálcio, que consequentemente se deposita, dando origem a manchas

brancas;

– Alterações físico-químicas dos materiais constituintes das paredes.

– Águas que aparecem por capilaridade, trazendo do solo sais solúveis,

que mais tarde se depositam.

– Acções microbiológicas, que permitam formação de sais.

– Atmosfera contaminada com CO2, SO2, etc, que depois de reagir com

as águas pluviais, poderá dar origem a condições propícias para a

formação de sais.

◊ Soluções:

● Eliminação ou redução das fontes de humidade que possam alastrar no

interior do suporte, utilizando métodos adequados. Remover as eflorescências

por escovagem ou lavagem. Depois da superfície se encontrar completamente

seca, realizar a repintura, aplicando métodos adequados e produtos

quimicamente compatíveis seguindo as indicações dos fabricantes, e

respeitando criteriosamente os tempos de secagem entre demãos.

6. Empolamento – É a deformação convexa numa película, causada pelo

descolamento de uma ou mais camadas constituintes de uma de uma película [1],

dando origem a relevos arredondados, em forma de bolha.

◊ Causas:

(1) Condições ambientais desfavoráveis à aplicação, nomeadamente humidade

em excesso (na superfície de suporte) e temperaturas demasiado baixas.

Page 106: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

94

(2) Infiltrações devido a defeitos de construção, que provocam retenção de

humidade em excesso na base de aplicação. Defeitos de construção que

podem ser fissuras, remates incipientes, parapeitos sem rasgo lacrimal

para drenagem, etc.

(3) Desrespeito pelos tempos de secagem entre demãos, que pode fazer com

que os solventes da camada interior, se escapem, originado as bolhas

localizadas, na nova camada.

(4) Camadas demasiado espessas. Este facto pode provocar uma secagem

superficial demasiado rápida em relação ao interior, levando à retenção de

solvente, que mais tarde, quando se libertar, pode originar as bolhas localizadas.

(5) Camada de base contaminada com partículas de origem salina, ou aditivos e

solventes residuais de produtos usados. A presença destes, entre camadas

poderá fazer com que apareçam as bolhas formadas por soluções aquosas

diluídas, como resultado do fenómeno de osmose.

(6) Incompatibilidades químicas entre base de aplicação e produto a aplicar,

reagindo entre si e dando origem a libertações gasosas, que por sua vez

provocam a formação das bolhas.

(7) Temperatura ambiente demasiado elevada na altura da aplicação, ou

exposição directa ao sol, provocando uma secagem demasiado rápida da

parte superficial da camada em relação ao seu interior, mantendo-se esta

parte húmida. Mais tarde, quando essa humidade, proveniente do solvente

se libertar, pode originar as bolhas localizadas.

(8) Metodologia ou equipamentos desadequados para o tipo de material a

pintar ou para o produto a usar.

Figura 47 – Empolamento

Page 107: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

95

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

● Em função da maior ou menor extensão e intensidade do empolamento, a

solução poderá passar por efectuar a lixagem ou escovagem ou por executar

a remoção total ou parcial do revestimento. Após verificação do grau de

degradação da base, e se for necessário (apresentar fissuras, fendas, podridão,

etc.) deverá proceder-se à sua reparação e preparação da superfície. Realizar a

repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis

seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando criteriosamente os

tempos de secagem entre demãos.

7. Exsudação – consiste na migração dos componentes líquidos de um produto de

pintura, para a superfície de uma película [1].

◊ Causas:

(1) Preparação desadequada da superfície antes de receber o esquema de

pintura.

(2) Desrespeito pelos intervalos de tempo entre demãos. Tempos demasiado

curtos, podem resultar na aplicação de uma camada sobre outra, quando

esta ainda se encontra húmida. Com o passar do tempo, esta humidade

tem tendência a migrar para a superfície.

(3) Condições ambientais desfavoráveis para o processo de aplicação,

nomeadamente quando se está perante ambientes demasiado húmidos ou

paredes expostas a elevada condensação após a aplicação.

◊ Soluções:

● Condicionar a base de aplicação até que ocorra a exsudação completa do

produto existente no seu interior. Dependendo da extensão remover o material

exsudado ou executar a remoção parcial ou total do revestimento por pintura e

efectuar a repintura, incluindo um selante no esquema de pintura a executar.

● Esperar que o revestimento por pintura seque por completo, procedendo

depois à limpeza da superfície, removendo o material exsudado e realizar a

respectiva repintura, utilizando produtos quimicamente compatíveis, seguindo

as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem

entre demãos.

Page 108: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Patologias em revestimentos por pintura

96

● Em função da extensão do problema, se é localizado ou se atinge a

totalidade da superfície, poderá proceder-se à remoção parcial ou total

do revestimento. Caso não seja necessária a remoção, deverá proceder-

-se à lixagem e lavagem da superfície e, em seguida, realizar a repintura.

Devem ser aplicados métodos adequados e em condições de humidade e

temperatura adequadas, ou utilizar endurecedores apropriados e compatíveis,

seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando criteriosamente os

tempos de secagem entre demãos.

8. Fissuração – são rupturas de uma película seca [1]. Corresponde à existência

de fendas nos revestimentos por pintura que poderão ser superficiais ou mais

profundos, atingindo toda a espessura do revestimento [28].

Existem diversos tipos de fissuração, variando na extensão e na profundidade, que

são descriminados em seguida:

● Fendilhamento – semelhante à fissuração, mas com fissuras mais profundas e

mais largas.

● Fissuração a espessuras elevadas – fissuração profunda que aparece durante

a secagem de produtos de pintura,

quando são aplicados em camadas

mais espessas.

● Fissuração fina – fissuras finas

distribuídas de forma regular por

toda a película.

● Fissuração por frio – fissuras

que resultam das condições

ambientais onde a superfície se

encontra exposta a temperaturas baixas.

● Patas de galinha – fissuras superficiais que partem de um ponto em comum,

alastrando pela superfície, fazendo lembrar as patas de uma ave.

● Pele de crocodilo – fissuras ao longo de toda a superfície da película, formando

aproximadamente figuras poligonais regulares.

Figura 48 – Fissuração

Page 109: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

97

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) As movimentações estruturais do substrato podem provocar fissuração e

retracção, porque mesmo um produto muito bem formulado, pode não ter

elasticidade suficiente para resistir às variações dimensionais da superfície.

(2) Incompatibilidades físico-químicas e mecânicas dos produtos de pintura com a base de suporte. Existem alguns exemplos mais comuns, como acabamentos rígidos (p.e. epoxídicos), em camadas mais macias, como produtos acrílicos ou vinílicos de elevado teor em cargas.

(3) Desrespeito pelos tempos de espera entre demãos. O facto de pintar uma superfície que ainda se encontra húmida, pode levar a que a secagem da camada exterior ocorra antes, e quando se dá a secagem por completo da camada interior, a exterior não tem capacidade de acompanhar essas variações dimensionais, dando origem a fissuras.

(4) Aplicação de camadas demasiado espessas, provocando a fissuração a espessuras elevadas.

(5) Uso de produtos desadequados para as condições ambientais de exposição, nomeadamente uso de produtos de interior em exterior, ou produtos sem formulação adequada para atmosferas agressivas, quer em termos químicos, quer em termos de exposição solar. No caso do excesso de radiação solar em revestimentos que não foram formulados para tal ambiente, as alterações químicas que ocorrem dão origem a revestimentos pouco elásticos e quebradiços.

(6) Envelhecimento natural da película de revestimento por pintura, que com o

passar do tempo vai diminuindo a sua resistência às variações mecânicas

do suporte, bem como aumentando de rigidez. Estas alterações dão-se

principalmente ao nível do ligante, devido ao fenómeno da reticulação.

◊ Soluções:

● Para solucionar este problema, é necessário ter em conta qual o tipo de

fissuração que se trata. Assim, se estiver perante uma fissuração superficial,

que atinja apenas a camada de acabamento, a solução passa por uma

lixagem superficial, seguida de repintura.

● Nos casos mais graves de fissuração profunda, deverá ser executada a

remoção total ou parcial do revestimento, utilizando os métodos adequados

tendo em conta o tipo de superfície de base e os produtos nela usados.

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Patologias em revestimentos por pintura

98

A repintura deverá ser antecedida da respectiva preparação adequada da

superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando

todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

9. Intumescimento – este defeito corresponde ao aumento no volume de uma

película, resultante da absorção de líquidos ou de vapor [1].

◊ Causas:

(1) Formulações desadequadas, nas quais são usados ligantes com grande

apetência para a absorção de solventes.

◊ Soluções:

● É necessário ter em conta se o intumescimento é localizado ou se propaga

à maior parte da superfície da película. Assim, deverá ser removido parcial

ou totalmente, utilizando os métodos adequados à superfície em questão e

aos produtos utilizados. A repintura deverá ser antecedida de uma apropriada

preparação da superfície, bem como executada com produtos compatíveis e

respeitando todos os tempos de secagem e em condições favoráveis.

10. Manchas – zonas dos revestimentos por pintura onde é possível identificar

diferenças de brilho ou coloração em relação à restante superfície [28].

◊ Causas:

(1) A causa poderá estar na qualidade da base de aplicação, visto que se esta for demasiado porosa, poderá absorver em demasia o ligante do acabamento (pintura em monocamada). A ausência de primário (pintura em multicamada) ou a sua aplicação inadequada, também poderão ser causas.

(2) Aplicação de uma camada de revestimento de reduzido poder de cobertura, sobre uma zona anteriormente manchada ou reparada.

(3) Desenvolvimento de fungos, algas ou bolor, dão origem a manchas escuras, acastanhadas ou esverdeadas com formas irregulares. Estes aparecem e propagam-se em ambientes de humidade elevada, com temperaturas elevadas ou mal ventilados, particularmente em cantos e topos de muros.

(4) Algumas reacções químicas entre constituintes dos produtos de pintura

e elementos presentes na atmosfera, nomeadamente entre compostos

de chumbo ou mercúrio presentes nos produtos de pintura e o dióxido de

enxofre presente no ar. Esta reacção dá origem a sulfuretos de chumbo ou

mercúrio, que apresentam cor escura.

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99

Patologias em revestimentos por pintura

(5) Paredes localizadas junto a lareiras ou fornos, também podem apresentar

manchas escuras devido à combustão.

(6) A superfície acabada de pintar, ficar exposta às chuvas ou humidade, pode

levar a que alguns constituintes do produto de pintura voltem a dissolver-

se na água. Estes, ao serem transportados pela água, poderão formar

manchas semelhantes a pingos de água na superfície, depois da água

evaporar.

(7) Presença de humidade em excesso durante a fase de secagem.

(8) Preparação inadequada da superfície, ficando esta com resíduos de

decapantes ou outros produtos, que mais tarde poderão reagir com

os constituintes do esquema de pintura executado, dando origem ao

aparecimento de manchas.

(9) Acumulação de gorduras, óleos ou fumo de tabaco, formando manchas

amareladas, normalmente junto ao tecto ou parte superior das paredes.

(10) Migração do interior do esquema de pintura para a superfície de constituintes

com acção surfactante. Em geral, alteram as características dos elementos

superficiais, dando origem a manchas de cor amarelada ou acastanhada.

Este fenómeno de migração é favorecido se a aplicação e secagem do

esquema ocorrer em condições de humidade elevada e temperatura

reduzida.

(11) Existência de aquecimentos murais, montados nas paredes, que estimulam

a acumulação de pó presente no ar.

◊ Soluções:

● É necessário ter em conta se o defeito é localizado ou se ele se estende à

maior parte da superfície do revestimento. Primeiramente deverá ser executada

uma limpeza ou lavagem superficial. Se este processo não der resultados

satisfatórios, o revestimento deverá ser removido parcial ou totalmente,

utilizando os métodos adequados à superfície em questão e aos produtos

utilizados. A repintura deverá ser antecedida da apropriada preparação da

superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando

todos os tempos de secagem e em condições favoráveis.

11. Pegajosidade – Consiste na propriedade de uma película de permanecer pegajosa,

após a secagem ou cura [1].

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Patologias em revestimentos por pintura

100

◊ Causas:

(1) Este defeito poderá ficar a dever-se a alterações químicas totais ou parciais que o constituinte usado como endurecedor ou acelerador, sofre ainda durante as fases de formulação ou armazenagem do produto (devido a erros de armazenagem que foram abordados anteriormente). Estas alterações podem fazer com que o produto perca a capacidade de executar a secagem completa da película.

(2) Condições ambientais de aplicação desadequadas, particularmente temperaturas reduzidas, que provocam uma redução bastante importante na velocidade do processo de secagem.

(3) Introdução de polímeros termoplásticos com uma temperatura transição

vítrea desadequada.

◊ Soluções:

● A solução para o caso (1) passa por remover parcial ou totalmente o

revestimento e depois executar a repintura. Esta deverá ser antecedida da

respectiva preparação adequada da superfície, bem como executada com

produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições

favoráveis. Nos restantes casos poderá ser suficiente aplicar um novo esquema

de pintura compatível com o revestimento, executado em condições ambientais

favoráveis e respeitando todos os tempos de secagem necessários.

13. Perda de brilho – é a perda da propriedade óptica de uma superfície, caracterizada

pela sua facilidade de reflectir a luz [1].

◊ Causas:

(1) Envelhecimento natural do revestimento por pintura.

(2) Deposição de sujidade de variados tipos na superfície.

(3) Espessura desadequada de camadas.

(4) Alterações no produto ainda durante a fase de armazenagem.

(5) Deficiente preparação do produto para aplicação, tanto em termos dos solventes (desadequados) usados, como em termos da viscosidade (desadequada) resultante da dissolução, etc.

(6) Condições ambientais desfavoráveis.

(7) Uso de revestimento para interior, em exterior.

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101

Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

● Proceder a uma preparação adequada da superfície, nomeadamente

lixagem ou escovagem, seguida de lavagem e secagem. Efectuar a repintura

com produtos quimicamente compatíveis com o revestimento, seguindo as

indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem entre

demãos.

13. Perda de poder de cobertura – é a perda de capacidade de um produto de pintura

ou de um revestimento, para mascarar, por opacidade, a cor ou as diferenças de

cor do substrato [28].

◊ Causas:

(1) Produto de pintura utilizado apresenta fraco poder de opacidade.

(2) Deficiente preparação do produto para aplicação, tanto em termos dos solventes (desadequados) usados, como em termos da viscosidade (desadequada) resultante da dissolução, etc.

(3) Espessura de camada insuficiente.

◊ Soluções:

● Aplicação de um produto compatível com o existente, que apresente um poder

de opacidade apropriado, adequadamente preparado e aplicando camadas

com a espessura necessária.

14. Pulverulência – aparecimento de um pó

fino e pouco aderente na superfície de

uma película, proveniente da degradação

de um ou mais dos seus constituintes.

Pode também ser designado por farinação

ou gizamento [28].

◊ Causas:

(1) Envelhecimento natural do revestimento.

(2) Aplicação de produtos inadequados, como formulações de interior aplicadas

em exterior ou não recomendados para determinados ambientes mais

agressivos.

(3) Incompatibilidades químicas entre base de aplicação e produto a aplicar.

Figura 49 – Pulverulência

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Patologias em revestimentos por pintura

102

(4) Produtos com uma concentração volumétrica de pigmentos levada,

favorecendo a erosão e o desgaste provocado pela acção mecânica dos

agentes atmosféricos.

◊ Soluções:

● Executar uma limpeza do material pulverulento, seguido da preparação da

superfície para receber um novo esquema de pintura; se necessário, aplicar um

primário agregador para aumentar a aderência entre a base de aplicação e o

novo esquema de pintura. A repintura deverá ser executada com produtos

compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e em condições

favoráveis.

● Caso a simples limpeza não seja suficiente, proceder à remoção parcial ou total

do revestimento, utilizando os métodos adequados à superfície em questão

e aos produtos utilizados. A repintura deverá ser antecedida da adequada

preparação da superfície, bem como executada com produtos compatíveis e

respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

NOTA: Em ambos os casos deverá ter-se atenção à formulação dos produtos,

nomeadamente no que diz respeito à concentração volumétrica de

pigmentos.

15. Retenção de sujidade – tendência de uma película seca para reter na

sua superfície sujidades que não conseguem ser removidas por uma simples

limpeza [1].

◊ Causas:

(1) Concentração volumétrica de pigmentos demasiado elevada na tinta.

(2) O produto aplicado tem na sua composição um ligante que se apresenta

vulnerável à acção de temperaturas mais elevadas, especialmente durante

o verão, amolecendo o revestimento.

(3) Erro de formulação que faz com que a película depois de seca apresente

índices de pegajosidade elevados

◊ Soluções:

● Fazer uma preparação adequada da superfície, começando pela limpeza.

O acabamento deve ser feito com produtos compatíveis com o existente,

tendo em conta todas as exigências no que diz respeito ao tipo de ligante,

Page 115: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

103

Patologias em revestimentos por pintura

concentração de pigmentos e restantes aditivos que poderão ser empregues,

de maneira a cumprir os requisitos do local onde será aplicado. Respeitar as

indicações dos fabricantes.

16. Saponificação – é um defeito que consiste na transformação do seu veículo fixo

em sabões solúveis, provocando a dissolução total ou parcial do revestimento [28].

◊ Causas:

(1) A causa deste problema prende-se com a aplicação de produtos

desadequados, para as condições de exposição de alcalinidade que a

superfície irá encontrar.

◊ Soluções:

• Remover o revestimento afectado, utilizando métodos adequados, tendo

em conta a natureza da base de aplicação e dos produtos existentes. Se-

guidamente efectuar a preparação da superfície e aplicar o esquema de

pintura. Esta repintura deverá ser executada recorrendo a produtos compa-

tíveis com os existentes e resistentes às condições de exposição a que vão

estar sujeitos, nomeadamente no que se refere à alcalinidade.

Figura 50 – Retenção de sujidade

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Conclusão e desenvolvimentos futuros

105

5. Conclusão e desenvolvimentos futuros

5.1. Conclusão

É conhecida a tradição dos revestimentos por pintura e a sua ampla utilização desde há muito

tempo no nosso país. A contínua evolução na execução dos revestimentos em geral e, em particular,

nos revestimentos por pintura, tanto ao nível dos produtos a utilizar, como ao nível dos processos e

das tecnologias de aplicação, tem permitido melhorar substancialmente a qualidade e durabilidade dos

mesmos. Ainda assim, apesar de todas estas melhorias e por melhor consumado que seja o processo

de execução do esquema de pintura, acabam sempre por, mais cedo ou mais tarde, aparecer defeitos

e patologias, relacionados com variados factores, uns controláveis, outros não.

As patologias nos revestimentos por pintura, nomeadamente as que foram abordadas no presente

trabalho, existentes em paredes interiores e exteriores de betão ou de alvenaria rebocada, podem ter

origem nos trabalhos de construção anteriores à pintura, e que se manifestam apenas após a pintura

ou mesmo algum tempo depois. Outras podem ter relação directa com a fase de execução do esquema

de pintura, nomeadamente com a fase de preparação da superfície que vai ser pintada. Ainda assim,

embora na sua maioria, possam ser evitadas ou os seus efeitos minimizados se forem cumpridas

correctamente todas as etapas da execução de um esquema de pintura, algumas patologias acabam

por aparecer naturalmente com o decorrer do tempo, devido à exposição ao meio ambiente e ao tempo

de vida útil previsível para uma pintura.

A primeira fase deste trabalho consistiu numa introdução, onde se fez um breve enquadramento

histórico de modo a situar o início do aparecimento das tintas e da sua utilização pelo Homem e as

diferentes razões que levaram a essa utilização.

No capítulo seguinte (capítulo 2) foi feita uma descrição dos diversos componentes que integram

actualmente os produtos de pintura, nomeadamente as tintas, com indicação da função de cada

componente na mistura. Foram também descritos os diferentes processos através dos quais é formada

a película seca originada pelos produtos de pintura e em seguida enumeraram-se os principais tipos

de tintas. Foram ainda apresentadas três tipos diferentes de classificação para as tintas: classificação

baseada na natureza do principal solvente usado no fabrico da tinta, classificação baseada na natureza

do ligante ou resina, componente importante no mecanismo de formação da película e classificação

baseada no fim a que se destinam, que é a mais usual na rotina diária.

No capítulo seguinte (capítulo 3) foram descritas as tecnologias de aplicação das tintas. Para tal,

foi realçada a importância dos factores ambientais envolventes no local onde o sistema de pintura

Page 118: Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de ...

Conclusão e desenvolvimentos futuros

106

vai desempenhar a sua função, factores esses que são fundamentais para perceber o grau de

exposição mais ou menos agressivo a que o revestimento vai estar sujeito, permitindo, deste modo,

escolher o sistema de pintura mais adequado a cada local. Os aspectos regulamentares não foram

descurados, bem como outros aspectos que podem ser relevantes para a realização deste trabalho.

Mais concretamente foi apresentada uma lista que enumera os mais diversos critérios de selecção

dos produtos de pintura, que devem ser ponderados quando se pretende escolher o produto mais

adequado.

Em seguida foram abordados diferentes técnicas e processos de preparação de superfícies,

para betão e para alvenaria rebocada, bem como utensílios e os respectivos cuidados a ter.

Concluiu-se que tanto o processo de identificação do ambiente envolvente como a preparação

da superfície que vai receber o esquema de pintura são determinantes para o sucesso do esquema

de pintura aplicado, tendo em conta que grande parte das anomalias e defeitos que aparecem

são causados por incompatibilidades físicas ou químicas entre a base de suporte e os produtos

aplicados.

Por fim foram referidos diferentes processos de aplicação de produtos de pintura, detalhando a

ordem dos esquemas de pintura, as diferentes possibilidades técnicas e utensílios e os cuidados a

ter tanto ao nível dos modos de execução, como ao nível dos equipamentos de segurança pessoal.

No último capítulo (capítulo 4) foram descritas as principais patologias que podem ser encontradas

nos revestimentos por pintura, apontando as principais causas para o seu aparecimento. Neste

âmbito, foram consideradas 3 fases principais durante as quais podem aparecer os defeitos:

durante a armazenagem da tinta, durante a sua aplicação e ao longo da sua vida útil. Deste modo,

foi possível concluir que a monitorização de parâmetros relevantes em cada uma das fases permite

minimizar o aparecimento de algumas patologias ao longo da vida útil das pinturas, adicionando

qualidade ao processo. De modo a auxiliar este processo de monitorização foi elaborada uma ficha

de controlo de conformidades do processo de execução de pinturas, desde a armazenagem até à

limpeza final do material. Essa ficha pode ser consultada no anexo 2.

Concluiu-se ainda que alguns defeitos, visíveis apenas no final da execução, podem ter origem

em procedimentos incorrectos de armazenagem dos produtos de pintura. Assim, apesar da evidente

importância dos cuidados durante a fase de execução dos esquemas de pintura, é indispensável o

cumprimento das condições de armazenamento dos produtos, pois as falhas que possam ocorrer

nesta fase, podem comprometer os resultados finais do revestimento a executar.

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Conclusão e desenvolvimentos futuros

107

5.2. Desenvolvimentos futuros

O presente trabalho abre espaço para a abordagem mais profunda de alguns temas, que

podem contribuir para alargar o conhecimento numa perspectiva mais prática.

Assim, e depois de perceber a importância do procedimento de preparação de superfícies

no processo de execução de revestimentos, nomeadamente por pintura, propõe-se para trabalhos

futuros os temas que em seguida se apresentam:

I. Manual de preparação de superfícies para aplicação de revestimentos por pintura

Sugere-se que sejam apresentadas e desenvolvidas as metodologias que devem ser

usadas na construção civil, para preparação de superfícies que vão receber esquemas

de pintura, englobando superfícies em betão e alvenaria rebocada, superfícies metálicas

(ferro, aço e alumínio), madeira, etc.

II Manual de preparação de superfícies para aplicação de revestimentos, excepto pin-

tura

Sugere-se que sejam apresentadas e desenvolvidas as metodologias que devem ser

usadas na construção civil, para preparação de superfícies que vão receber outros tipos

de revestimentos distintos da pintura, tais como revestimentos pétreos, cerâmicos, de

cortiça, entre outros.

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Bibliografia

109

Bibliografia

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[15] NOGUEIRA, José Luís – “Pinturas de Fachadas”. Departamento de Engenharia Civil, da Escola

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Engenharia Química.

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– www.verytools.pt/pistola-pintura-lvlp-rp8612-r200-s.html, consultado em 11.11.2012

– www.pqi.com.br/dq/dql2.html, consultado em 11.11.2012

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Anexos

113

ANEXOS

Anexo 1 – Patologias em revestimentos por pintura

Anexo 2 – Ficha de controlo de conformidade na execução de pinturas

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1

ANEXO 1 - Patologias em revestimentos por pintura

Patologia Descrição Causas Reparação

Amarelecimento

(yellowing)

Desenvolvimento de uma cor amarela ao longo da vida útil da película de um produto de pintura.

- Acção de agentes atmosféricos sobre o produto de pintura (alteram a estrutura química do ligante).

- Limpeza da superfície;

- Repintura com produtos compatíveis com o revestimento existente e resistentes às condições de exposição.

Ataque

(lifting)

Amolecimento, inchaço ou separação de uma película seca do seu substrato, resultante da aplicação de uma demão suplementar ou por influência de um solvente.

- Aplicação de uma camada de tinta sobre uma camada ainda húmida.

- Retenção de solvente na camada de acabamento, que redissolve a camada subjacente.

- Incompatibilidade físico-química entre os produtos utilizados no esquema de pintura.

- Remoção total ou parcial do revestimento e repintura com produtos compatíveis e aplicados nas condições especificadas.

Bicos de alfinete

(pinholing)

Presença de pequenos orifícios na película, semelhante aos que são feitos por um alfinete.

- Técnicas de aplicação incorrectas:

- pistola muito afastada da superfície;

- pressão de pulverização baixa;

- pressão de atomização elevada.

- Libertação de ar após aplicação do produto.

- Evaporação rápida do solvente.

- Não cumprimento do tempo de secagem entre demãos.

- Corrigir qualquer técnica de aplicação incorrecta.

- Se o produto não secou, escovar e aplicar uma camada adicional.

- Se a película já secou, realizar correctamente todo o trabalho de preparação da superfície e efectuar a repintura com produtos adequados, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando tempos os de secagem.

Bronzeamento

(bronzing)

Alteração na cor da superfície de uma película, dando o aspecto de bronze envelhecido

Incidência da radiação solar sobre determinados pigmentos

Realizar uma lixagem ou escovagem, lavagem e repintura com produtos contendo pigmentos adequados.

Casca de laranja

(orange peel)

Aspecto da película parecida com a textura da superfície de uma laranja.

- Metodologia incorrecta no manuseamento da pistola:

- distância desajustada entre a pistola e a superfície;

- baixa pressão de pulverização para uma boa atomização.

- Defeitos inerentes ao produto:

- viscosidade elevada;

- produto mal misturado;

- evaporação rápida do solvente.

- Insuficiente tempo de secagem entre demãos.

- Temperatura ambiente ou da base de aplicação inadequadas.

- Realizar correctamente o trabalho de preparação da superfície: lixagem ou escovagem, despoeiramento e lavagem.

Efectuar a repintura, com produtos compatíveis, corrigindo as técnicas de aplicação e respeitando os tempos de secagem entre demãos.

Descoloração

(fading)

Perda de cor de uma película de um produto de pintura.

Acção de agentes atmosféricos:

- radiação solar;

- temperatura;

- atmosferas poluídas;

- atmosferas quimicamente agressivas.

Lixagem, lavagem, secagem e posterior repintura da superfície, executada com produtos compatíveis com o revestimento e resistente às condições ambientais a que o edifício está sujeito.

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2

Patologia Descrição Causas Reparação

Empolamento

(blistering)

Deformação convexa numa película, causada pelo descolamento de uma ou mais camadas constituintes de uma película.

- Condições ambientais (humidade e temperatura) desfavoráveis à aplicação.

- Defeitos de construção provocam infiltração e retenção de humidade.

- Desrespeito dos tempos de secagem entre demãos (os solventes ao tentar escapar originam bolhas na interface das camadas).

- Camadas de tinta demasiado espessas.

- Incompatibilidade química do produto de pintura com a base de aplicação que, ao reagirem dão origem a libertações gasosas que por sua vez provocam a formação das bolhas.

- Metodologia ou equipamentos desadequados para o tipo de material a pintar ou para o produto a usar.

Em função da maior ou menor extensão e intensidade do empolamento, poderá:

- Efectuar a lixagem/escovagem ou executar a remoção total ou parcial do revestimento;

- Verificado o grau de degradação da base de aplicação, reparando-a no caso de ser necessário;

- Preparação adequada da superfície;

- Repintura, executada com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Encosturado

(lapping)

Zona visível onde uma camada de tinta se estende ao longo de uma camada adjacente de tinta acabada de aplicar.

- Secagem demasiado rápida do produto origina uma defeituosa ligação ou sobreposição entre áreas contíguas.

- Deficiente execução quando a área a pintar é excessivamente grande.

- Reformulação do produto para que tenha menor poder de evaporação.

- Restringir o tamanho das áreas, de maneira a poder controlar os tempos de secagem entre áreas adjacentes.

Enrugamento

(wrinkling)

Formação de pequenas rugas ou ondulações numa película de material de pintura durante a secagem.

- Camada demasiado espessa, seca à superfície e o interior fica húmido; quando secar, a camada sofre contração e enruga.

- Aplicação da segunda demão com a primeira demão ainda húmida por não cumprimento dos tempos de secagem.

- Diferenças de temperatura significativas entre o suporte e o produto a aplicar.

- Incompatibilidade físico-química entre os produtos utilizados no esquema de pintura.

- Exposição da película húmida a condições de humidade elevada.

- Executar correctamente todo o trabalho de preparação da superfície, nomeadamente a limpeza, lixagem ou escovagem até desaparecer o enrugamento, ou proceder à remoção total/parcial do revestimento.

- Realizar a pintura com produtos compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando s tempos de secagem entre demãos.

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3

Patologia Descrição Causas Reparação

Escorridos

(sagging)

Movimento descendente de um produto de pintura durante a secagem, em posição vertical ou inclinada, que resulta em irregularidades na camada seca.

Pequenos escorridos podem chamar-se pingos, lágrimas ou gotículas; grandes escorridos podem chamar-se cortinas.

- Película demasiado espessa ou excesso de produto na camada permite o escorrimento da tinta.

- Baixa viscosidade do produto de pintura.

- Produto demasiado fluido devido a diluição excessiva promove zonas com menor aderência.

- Secagem da tinta demasiado lenta, devido a solventes pouco voláteis.

- Insuficiente tempo de secagem entre a aplicação de camadas ou demãos.

Após secagem e avaliada a extensão do defeito, a solução poderá passar por:

- Realizar a preparação adequada da superfície, nomeadamente efectuar a lixagem ou escovagem e lavagem ou proceder à remoção total ou parcial do revestimento.

- Executar a repintura, utilizando produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Espessamento

(thickening)

Aumento na consistência de um produto de pintura mas não ao ponto de o

tornar inutilizável.

- Embalagens mal fechadas permitem a evaporação do veículo volátil, aumentando a viscosidade do produto.

- Temperatura de armazenagem inadequada pode aumentar a viscosidade da tinta e possibilitar a precipitação irreversível de certo tipo de constituintes.

- Tempo de armazenagem excessivo permite a formação de aglomerados, que aumentam a viscosidade do produto.

- Corrigir a consistência do produto através da adição de solvente/diluente adequado.

- Armazenar a embalagem em ambientes de temperatura entre os 18ºC ±5ºC.

- Agitar adequadamente o produto até reduzir a sua consistência.

Espumas

(bubbling)

Formação de bolhas, temporárias ou permanentes, numa película aplicada.

- Falta de aplicação de primário com função selante em superfícies porosas.

- Aditivo antiespuma desadequado à formulação, originando a formação de bolhas.

- Método de aplicação desadequado ou mal executado.

- Condições ambientais desadequadas, em relação à presença de humidade excessiva.

Após secagem da película e de avaliada a extensão do defeito, a solução poderá passar por:

- Efectuar a lixagem ou escovagem e lavagem e consequente pintura, ou

- Proceder à remoção total ou parcial do revestimento e realizar a preparação adequada da superfície.

Executar a repintura, utilizando produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

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4

Patologia Descrição Causas Reparação

Exsudação

(sweating)

Migração dos componentes líquidos de um produto de pintura para a superfície de uma película

- Preparação desadequada da superfície antes de receber o esquema de pintura.

- Intervalos de tempo entre demãos demasiado curtos.

- Condições ambientais desfavoráveis ao processo de aplicação.

- Precipitar a exsudação da base e remover o material exsudado ou remover o revestimento e executar a repintura, incluindo um selante no esquema de pintura.

- Após secagem, limpar a superfície removendo o material exsudado e realizar a repintura, utilizando produtos compatíveis.

- Depois de avaliar se o problema é localizado ou se atinge a totalidade da superfície, proceder à remoção parcial ou total do revestimento.

Se não for necessária a remoção, efectuar a lixagem e lavagem da superfície e, depois, realizar a pintura com métodos e nas condições adequadas, seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando os tempos de secagem entre demãos.

Fissuração

(cracking)

Aparecimento de rupturas numa película seca.

- Movimentações dimensionais da superfície e, consequentemente, estruturais do substrato, às quais mesmo um produto de pintura bem formulado não consegue ter elasticidade suficiente para resistir.

- Incompatibilidades físico-químicas e mecânicas dos produtos de pintura com a base de suporte.

- Desrespeito pelos tempos de espera entre demãos.

- Aplicação de camadas demasiado espessas, provocando a fissuração a espessuras elevadas.

- Uso de produtos desadequados para as condições de exposição ambiental.

- Envelhecimento natural da película de revestimento por pintura.

- Avaliar o tipo de fissuração.

- Se for uma fissuração superficial, que atinja apenas a camada de acabamento, a solução passa por uma lixagem superficial, seguida de repintura.

- Em casos mais graves de fissuração profunda, deverá ser executada a remoção total ou parcial do revestimento, utilizando os métodos adequados tendo em conta o tipo de superfície de base e os produtos nela usados.

- A repintura deverá ser antecedida da preparação adequada da superfície e executada com produtos compatíveis, respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Flutuação de cor (floating)

Separação de um ou mais pigmentos de um produto de pintura contendo mistura de pigmentos diferentes, causando estrias ou zonas de cor diferente sobre a superfície do produto de pintura.

- Incompatibilidades físico-químicas entre os tipos de pigmentos do produto de pintura, donde resulta a sua separação e distribuição irregular na película.

- Incompatibilidade dos pigmentos com o ambiente de exposição.

Consoante a extensão do defeito:

- Esperar que a película seque por completo, efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e lavagem.

- Executar a remoção total ou parcial do revestimento e preparação adequada da superfície.

- Efectuar a repintura com produtos compatíveis, aplicados nas condições especificadas e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

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5

Patologia Descrição Causas Reparação

Formação de crateras (cratering)

Formação numa pelicula de pequenas depressões circulares que persistem após a secagem

- Rebentamento de ampolas pre-sentes na superfície da película, com origem em empolamentos;

- Presença de contaminantes no produto de pintura, de origem e composição variadas;

- Formulação do produto: incompatibilidade química entre alguns constituintes;

- Diluentes desadequados;

- Viscosidade excessiva do produto.

- Ocorrência de correntes de ar durante a aplicação da tinta.

Dependendo da extensão do defeito, após secagem da película:

- Efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e lavagem;

- Remover total ou parcialmente o revestimento por pintura.

Após preparação adequada da superfície, efectuar a repintura com produtos compatíveis adequados e respeitando todos os tempos de secagem.

Formação de pele (skinning)

Formação de uma pele sobre a superfície de um produto de pintura na embalagem, durante a armazenagem.

- Embalagens deficientemente fechadas permitem evaporação do solvente e fenómenos de reticulação.

- Temperatura de armazenagem.

- Se a pele cobrir toda a superfície, cortar em redor das paredes da embalagem, destacar e retirar.

- No caso de pele fragmentada, retirar por peneiração.

Gelificação

(gelling)

Transformação total ou parcial do veículo de uma tinta em “gel”, o qual torna impossível a sua aplicação, mesmo após adição de solvente ou agitação.

- Embalagens mal fechadas.

- Temperatura de armazenagem demasiado elevada.

- Longa permanência em armazém pode promover reacções de autoreticulação lenta.

- Devido à irreversibilidade dos processos químicos que ocorrem no produto, a única solução passa por substituir as embalagens por outras.

Intumescimento

(swelling)

Aumento no volume de uma película resultante da absorção de líquidos ou de vapor

- Formulações desadequadas, nas quais são usados ligantes com grande apetência para a absorção de solventes.

- Consoante o defeito esteja localizado ou se propague à maior parte da superfície da película, deverá ser removido parcial ou totalmente, utilizando métodos adequados.

- Fazer a preparação adequada da superfície.

- A repintura deverá ser executada com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

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6

Patologia Descrição Causas Reparação

Manchas

(dots)

Zonas de cor ou brilho diferente que aparecem no revestimento por pintura.

- Base de aplicação porosa ou ausência/aplicação inadequada de primário poderá resultar na absorção em excesso do ligante do acabamento.

- Desenvolvimento de fungos, algas ou bolor, que aparecem e se propagam em ambientes propícios.

- Reacção química entre os constituintes dos produtos de pintura e elementos atmosféricos.

- Humidade em excesso durante a secagem.

- Má preparação da superfície.

- Acumulação de gorduras, óleos ou fumos, formam manchas.

- Migração do interior para a superfície de constituintes com acção surfactante.

- Avaliar se o defeito é localizado ou se ele se estende à maior parte da superfície do revestimento.

- Executar uma limpeza ou lavagem superficial.

- Se este processo não resolver, remover parcial ou totalmente o revestimento utilizando os métodos adequados à superfície e aos produtos nela empregues.

- A repintura deverá ser antecedida da respectiva preparação adequada da superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Marcas de trincha

(brush marks)

Aparecimento de estrias rectilíneas e paralelas entre si, que se mantêm visíveis depois de seco.

- Viscosidade do produto elevada.

- Uso de trinchas desadequadas.

- Concentração volumétrica de pigmentos na mistura demasiado elevada relativamente ao ligante.

- Aplicação de uma camada sobre outra que ainda não está seca.

- Aplicação de uma camada, sobre outra que já tem estes defeitos.

- Superfície de base demasiado porosa dificulta o espalhamento do produto na superfície.

- Demasiadas passagens com a trincha.

- Temperatura ambiente demasiado elevada poderá causar a rápida secagem antes de efectuada a totalidade do espalhamento.

- Uso de aditivos desadequados.

- Produto fora de prazo ou fora do tempo de vida útil.

- Esperar que a película seque por completo;

- Executar correctamente todo o trabalho de preparação da superfície, nomeadamente a limpeza, lixagem ou escovagem, e no caso de ser necessária, a lavagem da mesma;

- Realizar a repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando criteriosamente os tempos de secagem entre demãos.

Opalescência (blushing)

Aspecto leitoso que por vezes se desenvolve durante a secagem da película de um produto de pintura transparente e que é devido à humidade do ar e/ou à precipitação de um ou mais constituintes sólidos do produto de pintura transparente.

- Presença de humidade em excesso durante a secagem da superfície pintada, que absorve água e adquire um aspecto leitoso.

- Utilização de solventes de evaporação rápida, que condensam e cristalizam a humidade durante a secagem da película.

- Incompatibilidade físico-química entre diferentes ligantes, podendo originar a sua precipitação.

Esperar que a película seque por completo, efectuando a remoção do revestimento, a preparação adequada da superfície e executando a repintura, usando produtos compatíveis e respeitando os tempos de secagem.

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7

Patologia Descrição Causas Reparação

Pegajosidade

(after tack)

Propriedade de uma película de permanecer pegajoso, após a secagem ou cura.

- Alterações químicas totais ou parciais do aditivo usado como endurecedor ou acelerador.

- Formulação inadequada.

- Condições ambientais de aplicação desadequadas que retardam o processo de secagem.

- Introdução de polímeros termoplásticos com uma temperatura transição vítrea desadequada.

- Remover parcial ou totalmente o revestimento, executar a preparação adequada da superfície e, depois, a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

- Poderá ser suficiente realizar um novo esquema de pintura, compatível com o revestimento existente, em condições ambientais favoráveis e respeitando todos os tempos de secagem necessários.

Perda de brilho

(loss of gloss)

Perda da propriedade óptica de uma superfície, caracterizada pela sua facilidade de reflectir a luz.

- Envelhecimento natural do revestimento por pintura.

- Deposição de sujidade na superfície.

- Espessura desadequada de camadas.

- Alterações no produto ainda durante a fase de armazenagem.

- Deficiente preparação do produto para aplicação.

- Condições ambientais desfavoráveis.

- Uso de revestimento para interior, em exterior.

Proceder à lixagem ou escovagem, seguida de lavagem da superfície, seguida de preparação adequada da superfície e repintura executada com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Perda de poder de cobertura

(hiding power)

Perda da capacidade de um produto de pintura ou de um revestimento para mascarar por opacidade a cor ou as diferenças de cor do substrato

- Produto de pintura tem fraco poder de opacidade.

- Deficiente preparação do produto para aplicação,

- Espessura de camada insuficiente.

Aplicação de um produto compatível com o existente, que apresente um poder de opacidade apropriado, correctamente preparado e em camadas de espessura adequada.

Pulverulência (chalking)

Aparecimento de um pó fino e pouco aderente na superfície de uma película, proveniente da degradação de um ou mais dos seus constituintes

- Envelhecimento natural do revestimento.

- Aplicação de produtos desadequados.

- Incompatibilidades químicas entre base de aplicação e produto a aplicar.

- Produtos em que na sua formulação existe uma concentração de pigmentos demasiado elevada por unidade de volume.

- Executar uma limpeza do material pulverulento, seguido da preparação da superfície com aplicação, sempre que necessário, de um primário agregador.

- Se não for suficiente, remover parcial ou totalmente o revestimento, utilizando os métodos adequados à superfície em questão e aos produtos nela empregues. Fazer a preparação adequada da superfície.

- Executar a repintura com produtos compatíveis e respeitando os tempos de secagem.

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8

Patologia Descrição Causas Reparação

Repasse

(bleeding)

Difusão de uma substância corada através de uma película, proveniente do interior e produzindo uma mancha ou uma alteração de cor indesejável.

- Acontece quando algum componente corado da base de aplicação ou da camada adjacente é parcialmente solúvel no solvente usado na camada de acabamento, podendo ser arrastado para a superfície da película, depositando-se.

- Após secagem da película efectuar a lixagem ou escovagem e lavagem e consequente repintura, utilizando produtos compatíveis contendo solventes inertes aos constituintes da base de aplicação e respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Retenção de sujidade

(dirt retention)

Tendência de uma película seca para reter na superfície sujidades que não são removidas por uma simples limpeza

- Concentração volumétrica de pigmentos demasiado elevada.

- O produto tem na sua composição um ligante vulnerável a temperaturas elevadas, amolecendo o revestimento.

- Erro de formulação que origina película seca com índices de pegajosidade elevados.

- Fazer uma preparação adequada da superfície, começando pela limpeza;

- O acabamento deve ser feito com produtos compatíveis com o existente, de maneira a cumprir os requisitos do local onde será aplicado;

- Respeitar as indicações dos fabricantes.

Retracção

(cissing)

Aparecimento numa película de zonas de espessura não uniforme, que variam na extensão e na distribuição.

- Má preparação da superfície, permitindo que nela fiquem resíduos de sujidade, tais como óleos ou silicones.

- Presença de solventes fortes que atacam o ligante das camadas de pintura existentes.

- Após secagem da película efectuar a lixagem ou escovagem e lavagem, e consequente repintura utilizando produtos compatíveis respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

Saponificação

(saponification)

Transformação do veículo fixo em sabões solúveis, provocando a dissolução total ou parcial do revestimento.

- Aplicação de produtos desadequados para as condições de exposição de alcalinidade que a superfície irá encontrar.

- Remover o revestimento afectado, utilizando métodos adequados.

- Efectuar a preparação da superfície;

- Aplicar o esquema de pintura, recorrendo a produtos compatíveis e resistentes às condições de exposição a que vão estar sujeitos, nomeadamente no que se refere à alcalinidade.

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1

LOGOTIPO

FICHA DE CONTROLO DE CONFORMIDADE NA EXECUÇÃO DE PINTURAS

Dono de Obra:

Obra:

Material:

Fornecedor: Marca:

Modelo / Ref.ª: Lote: Nota de encomenda n.º:

Guia de remessa n.º: Data de recepção em obra:

Nº Fase do processo Parâmetros Método Critério de aceitação

A R Data

1 Recepção dos materiais

1.1 Quantidade necessária Segundo caderno de encargos da obra Sim / Não

1.2 Fornecedor de tintas previamente aprovado

Segundo caderno de encargos da obra Sim / Não

1.3 Embalagens seladas e intactas

Segundo caderno de encargos da obra

Visual Sim / Não

1.4 Prazo de validade suficiente Segundo caderno de encargos da obra

Visual Sim / Não

1.5 Capacidade das embalagens em concordância com o caderno de encargos

Segundo caderno de encargos da obra

Visual Sim / Não

1.6 Certificar a presença de todas as ferramentas indispensáveis

Visual Sim / Não

1.7 Primário adequado Segundo caderno de encargos da obra Sim / Não

1.8 Diluente adequado Segundo caderno de encargos da obra Sim / Não

1.9 Tintas de acabamento adequadas

Segundo caderno de encargos da obra Sim / Não

2 Armazenamento

2.1 Local isento de luz solar directa Visual Sim / Não

2.2 Local com humidade relativa adequada Medição HR < 80%

2.3 Altura de empilhamento não excedida Visual Sim / Não

3 Execução da tarefa

3.1 Condições Ambientais Temperatura ambiente Medição 5ºC > T > 35ºC

Humidade relativa Medição HR < 85%

Humidade da superfície Medição HS> 5%

Superfície exposta directamente à luz solar

Visual Sim / Não

3.2 Preparação do suporte Seca Visual Sim / Não

Limpa Visual Sim / Não

Isenta de restos de tinta e resíduos

Visual Sim / Não

Ausência de condensações superficiais

Visual Sim / Não

Colocação de isolamento prévio em locais propícios à presença de humidade

Visual Sim / Não

Acabamento do suporte conforme o projecto

Visual Sim / Não

3.3 Inspecção da tinta na lata

Cor em concordância com a amostra aprovada

Visual Sim / Não

Ausência de pele ou espessamento

Visual Sim / Não

3.4 Preparação da tinta para aplicar

Tinta homogeneizada Visual Sim / Não

Mistura correcta para tintas de vários componentes

Visual Sim / Não

Viscosidade adequada Visual Sim / Não

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2

Nº Fase do processo Parâmetros Método Critério de aceitação

A R Data

3.5 Técnica de aplicação da tinta

Utilização de ferramentas adequadas

Visual Sim / Não

Pintura executada de cima para baixo e a última demão num só sentido

Visual Sim / Não

Bom espalhamento da tinta Visual Sim / Não

Rendimento obtido semelhante ao esperado no projecto

Cálculo Sim / Não

3.6 Esquema de pintura Reparação das fissuras e imperfeições

Visual Sim / Não

Aplicação do Primário Visual Sim / Não

Tempo de espera entre camadas

Visual Sim / Não

Aplicação de camadas Intermédias

Visual Sim / Não

Tempo de espera entre camadas

Visual Sim / Não

Aplicação do acabamento Visual Sim / Não

3.7 Limpeza das ferramentas Utilização do diluente adequado

Visual Sim / Não

Passagem posterior das ferramentas por água e detergente

Visual Sim / Não

Secagem dos utensílios Visual Sim / Não

3.8 Condições de segurança:

3.8.1 Local da execução da pintura

Arejado e ventilado Visual Sim / Não

3.8.2 Equipamento de Protecção Individual

Capacete Visual Sim / Não

Luvas Visual Sim / Não

Óculos de protecção Visual Sim / Não

Protector facial com viseira Visual Sim / Não

Máscara de pintura Visual Sim / Não

Protecção auricular Visual Sim / Não

Botas Visual Sim / Não

Observações

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3

Fotografias

Procedimento:

1. Esta ficha, juntamente com a respectiva Nota de Encomenda, deve ser entregue aos colaboradores responsáveis pela recepção dos

materiais e pela execução das operações.

2. Os colaboradores responsáveis pelas operações de recepção e execução da pintura devem:

Assinalar/rubricar nos campos A (aprovado) / R (rejeitado);

Descrever no campo Observações quaisquer anomalias que encontrem;

Caso tenham dúvidas relativamente a qualquer das operações ou entendam que se deve proceder a qualquer correcção ou à devolução

do material, deverão comunicar de imediato o facto à Direcção de Obra;

3. A Direcção de Obra é responsável por:

Esclarecer quaisquer dúvidas que lhe sejam colocadas;

Decidir sobre a correcção de anomalias detectadas;

Registar nesta folha qualquer esclarecimento ou correcção que entenda concretizar.

4. Este documento, devidamente preenchido, deve ser ser arquivado no processo da obra.

5. Sempre que se detectem defeitos nos materiais, deve assegurar-se que são identificados de modo a prevenir a sua utilização.

VERIFICAÇÃO / CONTROLO

Nome Função Assinatura / Data