TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

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1 TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS Eguimara Selma Branco Professora PDE 2009-2011 [email protected] RESUMO O presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde, defendemos que professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e conhecimentos por meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias informáticas; e ainda nessa utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica, levando-os a refletir sobre as possibilidades e desafios deste uso. Desta forma, objetivamos propiciar aos professores de matemática conhecer espaços virtuais que contribuam para sua formação profissional num processo de interação e colaboração. Visto que ações como essas, podem reorganizar a maneira como eles percebem e desenvolvem suas aulas, possibilitando a reflexão, de maneira diferenciada, sobre elementos importantes do processo de aprendizagem, de conjecturar a partir de conteúdos/temas específicos, trocar ideias, manifestar-se, elaborar justificativas, participar e aprender junto. PALAVRAS CHAVE: Educação Matemática, Formação de Professores; Tecnologias da Informação e Comunicação INTRODUÇÃO Diariamente, professores em geral, encontram-se diante de novas e inesperadas situações e, precisam tomar decisões mesmo não se sentindo preparados. Esse fato não é algo restrito apenas a professores em início de carreira, mesmo aqueles com anos de experiência profissional necessitam discutir situações para superar problemas oriundos da sala de aula. Entretanto, a correria do dia-a-dia, o excesso de atividades e atribuições, os impede de reservar momentos para essa socialização. Em paralelo, na sociedade contemporânea, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) oportunizam novas maneiras de viver, de organizar a informação, o conhecimento e as formas de aprender. Computadores, internet, celulares, caixas bancários, cartões de crédito, redes, etc. permitem aos usuários criar, distribuir, receber, consumir e digerir diferentes informações. Vivemos em uma “nova era” na qual os nativos digitais 1 sentem-se muito a vontade ao conversar com amigos pelo celular ou internet, 1 Nativos digitais são aqueles que nasceram imersos com as tecnologias digitais presentes em sua vida.

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TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA:

APRENDIZAGENS E DESAFIOS

Eguimara Selma Branco

Professora PDE 2009-2011

[email protected]

RESUMO

O presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida para o Programa

de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde, defendemos que

professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e conhecimentos por

meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias informáticas; e ainda nessa

utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica, levando-os a refletir sobre

as possibilidades e desafios deste uso. Desta forma, objetivamos propiciar aos professores

de matemática conhecer espaços virtuais que contribuam para sua formação profissional

num processo de interação e colaboração. Visto que ações como essas, podem reorganizar

a maneira como eles percebem e desenvolvem suas aulas, possibilitando a reflexão, de

maneira diferenciada, sobre elementos importantes do processo de aprendizagem, de

conjecturar a partir de conteúdos/temas específicos, trocar ideias, manifestar-se, elaborar

justificativas, participar e aprender junto.

PALAVRAS CHAVE: Educação Matemática, Formação de Professores; Tecnologias da

Informação e Comunicação

INTRODUÇÃO

Diariamente, professores em geral, encontram-se diante de novas e inesperadas

situações e, precisam tomar decisões mesmo não se sentindo preparados. Esse fato não é

algo restrito apenas a professores em início de carreira, mesmo aqueles com anos de

experiência profissional necessitam discutir situações para superar problemas oriundos da

sala de aula. Entretanto, a correria do dia-a-dia, o excesso de atividades e atribuições, os

impede de reservar momentos para essa socialização.

Em paralelo, na sociedade contemporânea, as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC) oportunizam novas maneiras de viver, de organizar a informação, o

conhecimento e as formas de aprender. Computadores, internet, celulares, caixas

bancários, cartões de crédito, redes, etc. permitem aos usuários criar, distribuir, receber,

consumir e digerir diferentes informações. Vivemos em uma “nova era” na qual os nativos

digitais1 sentem-se muito a vontade ao conversar com amigos pelo celular ou internet,

1 Nativos digitais são aqueles que nasceram imersos com as tecnologias digitais presentes em sua vida.

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acessar sítios, receber todos os tipos de informação, interagir com naturalidade utilizando

ferramentas, coisas que há vinte anos eram desconhecidas da grande maioria da sociedade.

Por um motivo ou por outro, professores e TIC, ainda não convergem. Para Bairral

(2009), embora a utilização das novas tecnologias esteja mais freqüente no cotidiano dos

indivíduos, sua implementação efetiva nas atividades escolares, ainda é incipiente.

Assim, o presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida

para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde

defendemos que professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e

conhecimentos por meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias

informáticas, e ainda nessa utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica,

levando-os a refletir sobre as possibilidades e desafios deste uso. Nesse contexto,

questionamos de que maneira os recursos tecnológicos disponíveis na web, podem

contribuir para a formação profissional do professor de matemática? Desta forma,

objetivamos propiciar aos professores de matemática conhecer espaços virtuais que

contribuam para sua formação profissional num processo de interação e colaboração.

NOVAS TECNOLOGIAS

As tecnologias estão presentes na sociedade desde o início da atividade humana,

das primitivas como o domínio da roda, até as de última geração como as da TV digital.

Brito e Purificação (2008) apresentam o desenvolvimento da tecnologia associada ao

desenvolvimento da ciência. Conforme essas autoras, e concordamos com elas, “o homem

criou ciência e tecnologias (...) a tecnologia é a aplicação do conhecimento científico para

obter um resultado prático” (BRITO E PURIFICAÇAO, 2008, p. 22). Assim, entendemos

que todas as gerações tecnológicas, são fruto de inúmeras pesquisas científicas de

determinado contexto de época. Por essa razão, seu desenvolvimento é permanente e seu

relacionamento com a cultura da sociedade é constante. Tanto o conhecimento quanto a

atividade humana devem ser analisados sob a ótica do contexto histórico-social e cultural

que estão envolvidos (GRINSPUN, 1999).

Segundo Kenski (2007) as tecnologias estão em todo lugar, tão próximas e

presentes que fazem parte de nossa vida e nem nos damos conta disso. Exemplos são “o

lápis, cadernos, canetas, lousas, giz e muitos outros equipamentos e processos planejados e

construídos para que possamos ler, escrever, ensinar e aprender” (KENSKI, 2007, p.24).

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Para a mesma autora, diariamente convivemos com tecnologias, e a “habilidade de lidar”

com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, chamamos de técnicas.

Porém, para Brito e Purificação, o termo tecnologia vai muito além de meros

equipamentos. Ela permeia em toda a nossa vida. Citando Bueno2 as autoras conceituam

tecnologia como:

[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica

e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza,

produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos,

utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de

interação deste com a natureza e com os demais seres humanos (BRITO

E PURIFICAÇÃO, 2008, p.32).

De fato as tecnologias sempre existiram e permeiam nossa vida, porém seu

desenvolvimento não ocorre apenas em termos quantitativos, uma vez que com essa

evolução surgem novas formas de comunicação e interação.

Santaella (2007), analisando o acelerado das invenções tecnológicas nos últimos

séculos, propõe que se prestarmos atenção, ficará perceptível que grande parte dessas

invenções é constituída por tecnologias que incrementam a capacidade humana para a

produção de linguagem, chamadas pela autora de “tecnologias comunicativas ou meios de

comunicação” (SANTAELLA, 2007, p.194). Segundo a autora, a cada tempo, os meios

tecnológicos produziram formas diferentes de relacionamento e comunicação no mundo,

resumidas aqui em cinco gerações tecnológicas:

1. Tecnologias do reprodutível (tecnologias eletromecânicas) - jornal, fotografia e

cinema, que introduziram o automatismo e a mecanização da vida.

2. Tecnologias da difusão (tecnologias eletroeletrônicas) - rádio e televisão, que

deram origem à chamada cultura de massa, se tornou mais aguda com a transmissão via

satélite.

3. Tecnologias do disponível (tecnologias de pequeno porte) - vídeo-cassete,

controle remoto, walkman, DVD, TV a cabo, fotocópia, personalizaram a recepção,

colocaram disponível a possibilidade de se gravar um programa ou trocar freneticamente

de canais na televisão, ouvir música andando na rua, tirar cópias de apenas uma parte de

uma obra, etc.

2 BUENO, L. N. O desafio da formação do educador para o Ensino Fundamental no contexto da Educação

Tecnológica. Dissertação de Mestrado em Tecnologia. Curitiba: UFTPR, 1999.

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4. Tecnologias do acesso (tecnologias da inteligência) - modem, mouse, software,

mas, principalmente a Internet, que permite, em um clique, o acesso a uma infinidade de

informações, essas tecnologias alteram completamente as formas tradicionais de

armazenamento, manipulação e diálogo com as informações.

5. Tecnologias da conexão contínua (tecnologias móveis) - telefones celulares e

outras tecnologias nômades que independem de cabos e outros recursos, operam em

espaços físicos não contíguos.

Santaella (2007) ainda defende que cada uma dessas gerações não substitui a

anterior, a nova geração tecnológica pode diminuir o uso das tecnologias anteriores, mas

não extingue a anterior e, assim, cada cultura de uma época nasce da mistura do antigo

com o mais recente. Essas gerações tecnológicas, ainda presentes na sociedade

contemporânea, criam impactos sociais, econômicos, culturais e cognitivos, que dependem

da natureza e do grau de adesão em cada cultura.

Em específico, as oportunidades que surgem a partir das “tecnologias do acesso”,

amparadas pelo uso da internet3, modificaram de vez as formas de comunicação e

transmissão da informação.

Essas novas tecnologias4,

[...] rompem com as formas narrativas circulares e repetidas da oralidade e com o encaminhamento contínuo e seqüencial da escrita e se apresenta

como um fenômeno descontínuo, fragmentado e, ao mesmo tempo,

dinâmico, aberto e veloz. Deixa de lado a estrutura serial e hierárquica na

articulação dos conhecimentos e se abre para o estabelecimento de novas relações entre conteúdos, espaços, tempos e pessoas diferentes (KENSKI,

2007, p.31).

Para a autora, a base da linguagem digital é o hipertexto, ou seja, uma sequência de

documentos interligados que funcionam como páginas sem numeração, que trazem

informações e conhecimento. “O hipertexto é uma evolução do texto linear, na forma como

conhecemos” (KENSKI, 2007, p.32). Se neste texto, acrescentarmos outras mídias –

imagens, vídeos, sons, etc. -, o que temos é uma hipermídia. “Hipertextos e hipermídias

reconfiguram as formas como lemos e acessamos as informações” (KENSKI, 2007, p.32).

3 Brito e Purificação definem a internet como uma gigantesca rede interconectada por milhares de diferentes

tipos de redes, que se comunicam por meio de uma linguagem em comum (protocolo) e um conjunto de

ferramentas que viabiliza a comunicação a obtenção de informações. Nela, qualquer usuário conectado pode

estar em contato com o mundo (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p.102). 4 Neste texto, chamaremos novas tecnologias, as tecnologias que surgem a partir da geração das “tecnologias

do acesso” citadas por Santaella (2007).

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Silva também defende que o hipertexto é o “novo paradigma tecnológico que

liberta o usuário da lógica unívoca da mídia de massa” (2001, p.12). Segundo o autor, o

hipertexto democratiza a relação do usuário com a informação gerando um ambiente que

não se limita à lógica da distribuição. O hipertexto seria essencialmente um sistema

interativo e o fato de professores conhecerem e experimentarem essa nova dimensão pode

resultar em novas possibilidades de práticas em sala de aula (SILVA, 2001).

O espaço onde ocorre a comunicação, no qual as pessoas estão quando conectadas a

internet, Lévy (1999) define como ciberespaço. Assim, o ciberespaço é

o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Para

Lévy, o termo especifica “não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,

mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres

humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p.17). Conforme o autor,

o ciberespaço, além de possibilitar a independência da presença geográfica para

relacionamentos, estimula a telepresença, a telecomunicação e a comunicação assíncrona

(independente de tempo). De certa forma, o ciberespaço seria similar a um mundo paralelo

virtual, heterogêneo, em constante transformação constante.

Enfim, as novas tecnologias baseadas da internet, impõem mudanças irreversíveis

nas formas de comunicação e de acesso à informação, a cultura e ao entretenimento. Na

próxima seção buscaremos articular essas tecnologias a escola e a sala de aula.

ESCOLA, SALA DE AULA E NOVAS TECNOLOGIAS

Os avanços tecnológicos têm provocado mudanças sociais, que podem possibilitar

aos indivíduos, além da obtenção de informações e de entretenimento, sua inserção em

comunidades virtuais ou grupos com identidades próprias. Nas novas gerações esses

processos são muito comuns, pois se sentem muito a vontade ao falar no celular, mandar

ou receber uma mensagem, participar de comunidades virtuais, interagir e se comunicar no

mundo virtual. No entanto, Almeida (2007) pondera que não se pode esperar que eles

cresçam e se tornem profissionais nos sistemas educativos para incorporarem às suas

práticas os espaços propiciados pelas novas tecnologias.

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Para Brito e Purificação (2008), citando Bastos5, o fato das tecnologias estarem

presentes em todos os setores da sociedade constitui um justo argumento para sustentar sua

necessidade na escola e na educação. Concordamos com essas autoras ao assumirem:

[...] educação e tecnologia como ferramentas que podem proporcionar ao

sujeito a construção de conhecimento, preparando-o para saber criar

artefatos tecnológicos, operacionalizá-los e desenvolvê-los. Ou seja, estamos em um mundo em que as tecnologias interferem no cotidiano,

sendo relevante, assim, que a educação também envolva a

democratização do acesso ao conhecimento, à produção e a interpretação

das tecnologias (BRITO E PURIFICAÇAO, 2008, p.23).

Porém as mesmas autoras alertam que é preciso cuidado e planejamento na sua

utilização/proposição, pois qualquer recurso aplicado a educação pode ser apenas

instrumentos “reprodutores dos velhos vícios e erros dos sistemas” (BRITO E

PURIFICAÇAO, 2008, p.24).

Por conta dessa situação, concordamos com Valente (2007), ao afirmar que há que

se desenvolverem diferentes letramentos para lidar com tais avanços, visto que há um

processo de integração de tecnologias distintas em um mesmo artefato. Evoluções e

junções muito breves se levarmos em conta as inovações nas políticas da educação.

Mas, como fica então a escola frente a essas transformações?

Brito e Purificação (2008) afirmam que a escola, bem como as demais organizações

estão sendo pressionadas por esses avanços, pois, todos devem “(re)aprender a conhecer, a

comunicar, a ensinar; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal

e o social” (BRITO E PURIFICAÇÃO, 2008, p. 24). Porém, conforme as autoras, a

inovação na educação escolar, no que diz respeito às novas tecnologias, tem causado muita

confusão, pois muitas vezes, apenas é dada uma nova roupagem para o conceito de

tecnologia educacional6,sendo que o enfoque metodológico que as aborda, permanece

tradicional.

Muitas escolas inclusive já contam com laboratórios de informática e acesso a

internet, porém autores como Moran (1998, 2005), Kenski (2003, 2007) e Brito e

Purificação (2008), alertam que não basta apenas à aquisição de equipamentos, mas

propõem que o uso das novas tecnologias tem que ocorrer de forma consciente e com

5 BASTOS. J. A. A. (Org) Educação tecnológica: imaterial & comunicativa. Curitiba: Cefet-PR, 2000.

(Coletânea Educação & Tecnologia). 6 Brito e Purificação (2008) consideram tecnologia educacional todos os recursos tecnológicos, desde que em

interação com o ambiente escolar no processo ensino-aprendizagem.

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conhecimento das possibilidades de uso. Consideram que o mais importante é a criação de

uma “cultura” 7 necessária para se utilizar desses recursos de maneira adequada, “é preciso

respeitar as especificidades do ensino e da própria tecnologia para poder garantir que o seu

uso, realmente, faça diferença” (KENSKI, 2007, p.46).

Ao aproximar as novas tecnologia e a escola, entendemos que

[...] a comunidade escolar depara-se com três caminhos: repelir as

tecnologias e tentar ficar fora do processo; apropriar-se da técnica e transformar a vida em uma corrida atrás do novo; ou apropriar-se dos

processos, desenvolvendo habilidades que permitam o controle das

tecnologias e de seus efeitos (BRITO E PURIFICAÇAO, 2008, p.25).

As autoras defendem, e concordamos com elas, que a terceira opção é a que melhor

viabiliza uma formação efetiva ao cidadão. Assim, faz-se necessário, introduzir as novas

tecnologias na escola,

[...] num projeto de reflexão e ação, utilizando-as de forma significativa,

(...) realizando um trabalho de incentivo às mais diversas experiências,

pois a diversidade de situações pedagógicas permite a reelaboração e a reconstrução do processo ensino-aprendizagem (BRITO;

PURIFICAÇÃO, 2008, p. 26).

Visto que, ações desconcertadas, sem propiciar formação sobre os conteúdos,

processos de ensino e de aprendizagem, bem como, orientação aos sujeitos (professor,

aluno, equipe pedagógica) que utilizará as novas tecnologias em sala de aula, acabam

gerando propostas inúteis ou pouca mudança nos processos de ensino e de aprendizagem.

Outra questão relevante nesse contexto é apontada por Kenski (2003) ao discutir

que cada tecnologia é apropriada para um determinado tipo de aprendizagem e

desaconselhável para outro. Em sala de aula, cabe ao professor decidir qual é mais

adequada para determinado conteúdo. Para isso, ele precisa ter formação para o uso dos

recursos, e analisar a conveniência de seu uso pedagógico. Para esse uso, é aconselhável

que o professor se sinta confortável a esse uso, que conheça, domine os procedimentos,

avalie suas possibilidades pedagógicas partindo da integração desses meios aos processos

de ensino.

Portanto, a inserção das novas tecnologias na escola, exige a formação do professor

em uma perspectiva que procure desenvolver uma proposta que permita transformar o

7 Ao usarmos o termo nova “cultura” falamos de alteração de comportamento, de reflexão e ação sobre o uso

das novas tecnologias, utilizando-as em sala de aula de forma realmente significativa.

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processo de ensino em algo dinâmico, constante e desafiador com o suporte das

tecnologias. Não se trata apenas de adaptar modelos superados às novas tecnologias,

“novas tecnologias e velhos hábitos de ensino não combinam” (KENSKI, 2003, p. 75).

Esses processos devem englobar uma formação tecnológica, pedagógica e teórico-

metodológica, que poderá propiciar aos professores a apreensão de novas formas de

comunicação, aprendizagem e ensino. Professores em formação e transformação, abertos

as mudanças, “aos novos paradigmas, os quais o obrigarão a aceitar as diversidades, as

exigências impostas por uma sociedade que se comunica através de um universo cultural

cada vez mais amplo e tecnológico” (BRITO E PURIFICAÇÃO, 2008, p. 29).

Tudo que foi dito até aqui, remete-nos a um sentimento que toma conta

principalmente de professores nascidos em uma cultura onde a palavra “mudança” está

impregnada na sociedade, professores que vivem e convivem com a transição, com a

necessidade de transformação. Esses processos causam um certo esvaziamento, bem

presente nas falas de professores frutos de uma geração baseada em verdades absolutas,

verdades refutadas por um mundo em que o curso e o tempo das mudanças passam rápido

demais. Mudar é preciso.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Segundo Silva (1998), até meados de 1980, pouco havia se pesquisado sobre

formação de professores no Brasil. Entretanto, a partir desta década o tema começou a

delinear-se e se torna uma das áreas mais ativas de pesquisa. De lá para cá, importantes

trabalhos surgiram, com especial destaque aos desenvolvidos pelo professor Dario

Fiorentini8. Em sua tese de doutorado, bem como artigos e capítulos de livros, podemos

encontrar elementos importantes acerca do tema “Formação de Professores”.

Referindo-se ao campo de pesquisa em Educação Matemática, Fiorentini afirma

que “educadores matemáticos, constituem um dos grupos profissionais que mais procuram

se aventurar por novos caminhos e com outros olhares em relação à formação do professor,

aos seus saberes e à sua prática docente” (2003, p.10). Conforme o autor, esse fato se dá

pela situação que se encontra o ensino da matemática no contexto atual da sociedade

contemporânea, onde dentre os profissionais da educação, o professor de matemática é o

8 Professor doutor da Universidade Estadual de Campinas onde exerce atividades de pesquisa e de docência

na graduação e na Pós-Graduação em Educação (mestrado/doutorado).

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que mais sofre criticas, como falta de atualização, “tradição pedagógica”, resistência a

inovações curriculares, falta de conexão com outras disciplinas, entre outras.

Fiorentini (2003, p.10) ainda destaca que por conta dessa cobrança e tensão criada,

buscou-se conceber e desenvolver a formação e o trabalho docente sob outros olhares e

perspectivas.

Os educadores matemáticos, talvez, constituem um dos grupos profissionais que mais procuram se aventurar por novos caminhos e com

outros olhares em relação à formação do professor, aos seus saberes e à

sua prática docente (FIORENTINI, 2003, p.10).

Na mesma direção, Ferreira (2003) destaca que, nos últimos anos, os processos de

formação de professores que ensinam matemática vêm sendo um dos principais temas de

pesquisa, onde o próprio conceito de formação de professores evolui (FERREIRA, 2003).

Nesse sentido, Darsie e Carvalho9 (1998), citado por Ferreira (2003), destacam que as

pesquisas apontam uma tendência de mudança no modo como a formação inicial e

continuada de professores é estudada, pois, aos poucos a formação de professores passa a

ser entendida como um processo contínuo resultante da inter-relação de teorias, modelos e

princípios extraídos de investigações experimentais e regras procedentes da prática que

propiciaram o desenvolvimento profissional do professor.

No entanto, a autora ainda discorre que muitos processos de formação, ainda

entendem o professor como objeto de “estudo e reforma (...) relacionando a um movimento

de fora para dentro, no qual o professor deve se esforçar para assimilar conhecimentos”

(FERREIRA, 2003, p.35). No entanto, na perspectiva do desenvolvimento profissional10

, a

qual defendemos neste trabalho, o professor torna-se sujeito ativo e responsável por seu

crescimento, ou seja,

[...] de uma “peça” ou até um “obstáculo” que deveria ser superado para a

aplicação de técnicas, currículos e programas elaborados em diferentes

instâncias, o professor passa a ser considerado como um elemento importante do processo ensino-aprendizagem. Considerado um

profissional com capacidade de pensar, refletir e articular sua prática

9 DARSIE, M. M. P. E CARVALHO, A. M. P. A reflexão na construção dos conhecimentos profissionais do

professor de matemática em curso de formação inicial. Zetetiké, vol. 6, no. 10. Campinas, FE/Unicamp,

jul./dez. 1998, PP. 57-76. 10 Entendemos o desenvolvimento profissional na perspectiva onde o processo de formação “inicia muito

antes da formação inicial e que se estende durante toda a trajetória do professor, ou seja, que se preocupa

menos com o produto que com o processo que se desenrola por meio de um continuo movimento de dentro

para fora, valorizando o professor pelo seu potencial, no qual a prática é a base para um relacionamento

dialético entre teoria e prática e, muitas vezes, ponto de partida.” (FERREIRA, 2003, p.35)

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(deliberadamente ou não) a partir de seus valores, crenças e saberes

(construídos ao longo de toda sua vida), ele passa a ser valorizado como

um elemento nuclear no processo de formação e mudança (FERREIRA, 2003, p.25).

Nesse sentido, a reflexão é vista como um processo em que o professor analisa sua

prática, reúne dados, anota/escreve/descreve situações, implementa e avalia projetos e

compartilha suas idéias com outros professores e alunos, promovendo discussões em

grupo. Concordamos com Fiorentini e Castro (2003), que sem reflexão o professor

mecaniza sua ação, “cai na rotina”, trabalha de forma repetitiva, reproduzindo o que está

pronto e o que é mais acessível, fácil ou simples.

Ponte (1998) também atribui responsabilidades ao professor. Para esse pesquisador

o professor é visto como elemento-chave no processo de ensino e de aprendizagem, e que

sem a sua participação é impossível imaginar qualquer transformação significativa no

sistema educativo. O autor considera que,

[...] para responder aos desafios constantemente renovados que se

colocam à escola pela evolução tecnológica, pelo progresso científico e

pela mudança social, o professor tem de estar sempre a aprender. O desenvolvimento profissional ao longo de toda a carreira é, hoje em dia,

um aspecto marcante da profissão docente (PONTE, 1998, p.2).

Assim, Fiorentini et al. (2002, p.139), destaca que o crescimento de pesquisas na

área de formação de professores, parece “[...] refletir uma tendência mundial que

reconhece o professor como elemento fundamental nos processos em face das novas e

mutantes demandas sociais do mundo globalizado, necessita, permanentemente, atualizar-

se”.

Entendemos então, que há um consenso de que o professor precisa ser formado para

acompanhar as mudanças na sociedade, pois diariamente encontram-se diante de desafios e

dilemas, de novas demandas de aprendizagens e de formação docente que lhe são postas

pela sociedade contemporânea. Para esses professores, configura-se a necessidade de uma

maior adaptação às mudanças, vencer seus medos, inovação, flexibilidade, criatividade,

trabalho em grupo e capacidade para resolver problemas.

Nesse sentido, compactuamos com a idéia de Borba (2000), de que a internet e as

redes virtuais facilitam o acesso de qualquer pessoa a um conhecimento produzido por

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outra em qualquer horário e local, cada um a seu tempo e lugar. A internet possibilita a

comunicação, em tempo real, entre comunidades situadas a grandes distâncias geográficas.

Ponte também defende o uso da internet na formação de professores. Para o autor,

[...] a Internet pode ser vista como uma “metaferramenta”11

onde é

possível encontrar informação sobre novos desenvolvimentos na

matemática e na educação matemática, software, exemplos de tarefas para os alunos, ideias para a sala de aula, relatos de experiências, notícias

sobre encontros e outros acontecimentos, etc. Além disso, a Internet

permite a divulgação de produções próprias, sejam textos, imagens,

sequências vídeo, pequenos programas (applets) ou documentos hipertexto. Possibilitando a comunicação síncrona e assíncrona, constitui

uma ferramenta de grande utilidade para o trabalho colaborativo.

Facilitando e estimulando as interacções entre as pessoas, a Internet representa um suporte do desenvolvimento humano nas dimensões

pessoal, social, cultural, lúdica, cívica e profissional. Constitui um

instrumento de trabalho essencial do mundo de hoje, razão pela qual desempenha um papel cada vez mais importante na educação (PONTE,

2003, p.160).

Desta forma, partimos do princípio de que professores de matemática que aprendem

as possibilidades do uso da internet e as usam no contexto da Educação Matemática,

desenvolvem uma identidade profissional diferenciada, no que diz respeito ao domínio do

recurso, bem como, do conhecimento matemático.

Para Miskulin et al (2005), o uso da internet na formação de professores têm

apresentado sua contribuição, pois parte de um processo de formação que demanda

envolvimento dos participantes, trocas e colaboração. A autora, também entende que, faz-

se necessário pensar ações coerentes que definam novos percursos, na medida em que se

constituam em espaços de reflexão, análise, investigação, intercâmbio de experiências e

idéias, cooperação, colaboração, integração da teoria e da prática etc., atitudes essas, em

resposta aos atuais anseios da sociedade (MISKULIN, 2003).

Assim, entendemos que faz-se necessário pensar em modelos de formação que

consigam superar a “ignorância tecnológica” que muitos professores ainda são vítimas,

ignorância que os leva a banalizar seu uso em lugar de promovê-lo de forma crítica e

reflexiva. Para que o diálogo e a interação entre esses professores sejam efetivos, é preciso

pensar propostas a partir dos recursos tecnológicos que temos disponíveis, pois são eles

que de fato constituirão o ambiente de aprendizagem, cenário no qual podem ocorrer os

processos de formação dos professores.

11 Metaferramenta, ou seja, uma ferramenta que por sua vez, permite o acesso s muitas outras ferramentas.

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EM TEMPOS DE WEB 2.0

Em 2004, o termo Web 2.0 foi apresentado pela primeira vez por Tim O’Reilly12

para definir aplicativos utilizados na rede, que aproveitavam a inteligência coletiva dos

usuários, propondo uma experiência de uso parecida com os desktops, na qual os softwares

são disponibilizados na internet como um serviço, e a web, como uma plataforma. Para

esse modelo, o que vale é a interatividade, uma vez que os usuários deixam de ser

consumidores e passam a ser também produtores de conteúdo. Apesar de todos os

questionamentos a respeito destas terminologias, é evidente que as características da web

de hoje são muito diferentes da web que existia antes.

Enquanto no modelo antigo, que chamamos de “Web 1.0” o usuário era apenas um

expectador em uma página, na “Web 2.0” ela passa a ser também autor, acrescentando

opiniões e conteúdos, pode ler, participar, modificar e (re)criar conteúdos. Não há mais

armazenamento ou processamento local, agora os dados são enviados para servidores

online que podem ser acessados em qualquer lugar. O privado torna-se público. Arquivos,

compromissos, agenda, lista de favoritos, tudo é compartilhado na rede, tornando-se

acessíveis a todos os usuários.

Inúmeras são as mudanças, bem como as aplicações dessas novas ferramentas à

proposta e encaminhamentos metodológicos da educação.

Blogs tornam-se espaços para debates, discussões e anotações de aula

que podem ser comentadas. Wikis permitem a criação e edição conjunta

de conteúdo, na elaboração de textos e trabalho cooperativo para

montagem de projetos, tanto entre os alunos como os docentes. O podcast, uma espécie de programa em áudio utilizado para divulgar

opiniões, entrevistas, música ou informações pela internet, serve de

suporte ao conteúdo escrito do curso. Alunos podem gravar seu próprio programa e distribuí-los na forma de MP3 e baixar para serem escutados

no iPod. E ainda, tudo isso pode ser reunido em um agregador RSS para

receber avisos de atualização automática do conteúdo. O m-learning (ou

mobile learning) surge como uma solução aos altos executivos que precisam de mobilidade alternativa ao notebook. Os fornecedores de

plataforma para EaD já correm para achar um padrão compatível para a

diversidade de modelos de aparelhos do mercado (AKAGI, 2008, s.p.).

12

Página pessoal de Tim O’Reilly. Disponível em: http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html, acesso em 10 de julho

de 2010.

Page 13: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

13

As ferramentas da Web 2.0 estimulam a experimentação, a reflexão e produção de

novos conhecimentos, favorecendo a construção de um espaço de aprendizagem coletiva.

As possibilidades de aprendizagem colaborativa com a Web 2.0 surgem para superar a

estrutura rígida da Internet com poucos emissores e muitos receptores. Assim, surge uma

nova plataforma onde as aplicações são fáceis de usar, permitindo muitos emissores,

muitos receptores e uma quantidade significativa de comunicação e cooperação. Estas

mudanças permitem o surgimento de redes colaborativas de conhecimento, onde vários

assuntos são colocados em discussão, e o conhecimento é estruturado de forma contínua

(CARVALHO, 2008). Exemplos disso são o Orkut13

, o MySpace14

e o Facebook15

que

propiciam uma série de discussões por meio de seus fóruns. No Second Life16

, outro

exemplo, os usuários existem virtualmente, e por meio de seus avatares interagem,

assistem palestras, exploram diferentes ambientes. Dentro desse espaço já funcionam

verdadeiros campus virtuais. Vale aqui lembrar que não precisamos nos utilizar de todas

essas ferramentas, mas o fato é que para nossos alunos isso é muito normal, pois navegam,

participam, interagem nestes espaços com muita naturalidade.

Os recursos disponíveis da Web 2.0, além de aperfeiçoarem a organização das

informações, também favorecem a formação de novas redes de conhecimento com base

nas trocas e na cooperação. Por isso, a necessidade dos professores estarem também

imersos neste mundo virtual, propondo uma nova estrutura de aprendizado, tanto para sua

formação profissional e no enriquecimento de sua atuação, como para o trabalho que

desenvolvem com seus alunos.

PRODUÇÃO COLETIVA

Para Vygotsky (1988) as funções psicológicas superiores, memória e linguagem,

são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Os

processos voluntários, as ações conscientes e os mecanismos intencionais - funções

psicológicas superiores - dependem de processos de aprendizagem. O pensamento tem

origem na motivação, no interesse, na necessidade, no afeto e na emoção e, a construção

13

Ver: http://www.orkut.com 14

Ver: http://www.myspace.com 15

Ver: http://www.facebook.com/ 16

Ver: http://www.secondlife.com

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14

do conhecimento se dá por uma interação mediada por essas várias relações feitas com

outros sujeitos.

Na internet, por meio dos diferentes recursos disponíveis, essas relações podem ser

potencializadas de uma maneira bastante evidente. Um exemplo disso são os blogs,

chamados também de diários virtuais, onde as pessoas escrevem sobre diversos assuntos,

expressam idéias, sentimentos, coisas cotidianas. Os blogs tem origem no hábito de alguns

pioneiros de conectar na web para fazer anotações, transcrever, comentar, interagir nestes

diferentes espaços virtuais. Em sua estrutura de publicação, apresenta-se similar a uma

página web, composta por postagens (ou posts) que ficam dispostas de forma cronológica

como se fosse um jornal. Cada post (fig.1) vem acompanhado da data da publicação e

também de um espaço para inserir comentários, abrindo espaço para discussão e troca de

idéias. Acompanha também marcadores que funcionam como palavras-chave. Estas

páginas podem ser acompanhadas de imagens, sons ou vídeos, inseridas de maneira fácil e

dinâmica, permitindo aos usuários participarem do que chamam blogosfera17

.

Fig.1

Conforme Bairral (2009), uma das vantagens dos blogs é que seus usuários podem

publicar conteúdos de maneira fácil, prática e rápida. Facilitando, dessa forma, que as

pessoas tenham seus espaços próprios dentro da web, “a ideia de um diário online tem sido

bem aceita pelos usuários da internet e, consequentemente, tranformou-se nessa grande

ferramenta comunicativa” (BAIRRAL, 2009, p.70).

17 Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os blogs (ou weblogs) como uma comunidade ou

rede social. Fonte: Wikipédia.

Page 15: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

15

Cabe destacar que uma das vantagens da utilização de blogs é a possibilidade de

interação. Por meio destas ferramentas os usuários podem agir, interagir, publicar

experiências, discutir e apresentar assuntos de interesse conjunto, criando grandes redes

colaborativas. Para Vygotsky (1987) a colaboração entre os pares contribui para

desenvolver recursos para a solução de problemas, por meio do processo cognitivo

implícito na interação e na comunicação. Segundo esse autor, a linguagem seria um fator

fundamental para estruturar o conhecimento.

Ao trazer esses conceitos para os ambientes criados com a tecnologia dos blogs,

destaca-se a interação, elemento básico e inicial, responsável pela abertura do canal de

comunicação. “A interação entre as pessoas e objetos de conhecimento ocorrida nesses

ambientes, possibilita processos colaborativos e cooperativos de aprendizagem”

(MANTOVANI, 2006, p.333).

Assim, a partir deste contexto, propomos o uso dos blogs como uma possibilidade

para professores discutirem, socializarem práticas, e proporem reflexões sobre sua própria

prática por meio da investigação e da colaboração utilizando-se das tecnologias de

informação e comunicação como linguagem nesta formação. Muitas das insatisfações

enquanto educadores podem ser “resolvidas” por meio destes ambientes, uma vez que o

“estar junto virtual” (VALENTE, 1999), possibilita aproximações e abertura para

discussões. Inclusive professores que sentem-se tímidos ao fazer questionamentos ou

revelar produções, encontram espaço neste modelo.

Penteado citando Levy (2004, p.286) nos diz,

[...] a qualidade da ação docente depende da capacidade de interagir com

os colegas e outros profissionais. Gosto de pensar o professor como um nó de uma rede que conecta atores tais como: o projeto pedagógico da

escola, o computador, outras mídias, os centros de pesquisas, os

técnicos, os alunos, as famílias, as regras sociais, o professor, as imagens, os sons, etc., de forma que o movimento de cada um deles ative

outras redes e coloque em jogo o contexto e o seu sentido. O trabalho

docente pressupõe o estabelecimento de conexões entre esses autores. É

a imagem de uma rede.

Ponte (2003) aponta a colaboração como uma estratégia fundamental para lidar

com problemas difíceis de serem enfrentados individualmente. Que esta estratégia constitui

um elemento importante para muitos projetos envolvendo professores, uma vez que

investigar e socializar a própria prática de modo colaborativo constitui um processo

Page 16: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

16

fundamental de construção do conhecimento. O autor ainda nos diz que professores

estudando juntos em grupos colaborativos podem,

[...] ajudar a encarar o professor de uma nova maneira. Em vez do semi-profissional dependente das intenções de quem faz os currículos, o

professor pode aparecer numa nova luz, como alguém que pensa e age com intencionalidade, com conhecimento próprio e com capacidade para

decidir e agir de acordo com as necessidades da sua situação concreta

(PONTE, 2003, p.2.).

TECENDO A REDE, ALGUMAS INICIATIVAS

São vários os professores que já se valem desta tecnologia, ou seja, que utilizam

dos blogs para divulgar, socializar e difundir suas produções. Um exemplo deste é o Blogs

Educativos18

. Para participar deste espaço basta ter um blog cujo foco principal sejam

assuntos educacionais, a partir de um cadastro, você pode compor essa rede, publicar,

interagir e participar. Esse grupo também tem um espaço de discussão via e-mail,

hospedado no Yahoo Grupos19

.

Outro espaço que também tem a mesma iniciativa de publicação e socialização,

porém com pesquisas voltadas ao uso das tecnologias no ambiente escolar, é o GEPETE20

-

Grupo de Estudos Professor, Escola e Tecnologias, criado pela professora Glaucia Brito,

pesquisadora da área na UFPR.

Especificamente para professores de Matemática, entre muitos outros espaços,

destacamos o Matemática Recreativa21

do professor português Paulo Afonso, um blog

onde ele propõe diferentes tarefas que podem ser trabalhadas em sala de aula, disponibiliza

jogos, vídeos e outras atividades, tudo aberto a discussões e contribuições. No Blog do

Bigode22

, o professor Antonio José Lopes, apresenta encaminhamentos de aula para seus

alunos, reflexões, tarefas e outras coisas. O blog Matematizando23

do professor Marcelo

Bairral, propõe testar a utilização do blog no ensino da matemática. Na mesma concepção,

18

Blogs Educativos, disponível em http://blogseducativos.teia.bio.br, , acesso em 10 de maio de 2010. 19

Grupos Yahoo, disponível em br.groups.yahoo.com, acesso em 10 de maio de 2010. 20

Gepete, disponível em http://gepete.blogspot.com/, acesso em 10 de maio de 2010. 21

Recreamat, disponível em http://recreamat.blogs.sapo.pt/, acesso em 10 de maio de 2010. 22 Blog do Bigode, disponível em http://www.matematicahoje.com.br/telas/mat_blogode.asp, acesso em 10

de maio de 2010. 23 Matematizando, disponível em http://ruralmat.zip.net/, acesso em 10 de maio de 2010.

Page 17: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

17

a professora Miriam Penteado desenvolve no Blog do Grupo de Estudo e Pesquisa em

Educação Matemática Inclusiva24

.

Enfim, destacamos aqui algumas poucas iniciativas, porém vários são os espaços na

internet onde encontramos professores pesquisadores que se utilizam dos blogs como

espaço para divulgação de seus trabalhos.

Acreditamos que a partir das novas possibilidades, da ousadia, do desafio em

redimensionar o velho, e da vontade de desvendar saberes novos, da vontade de divulgar e

socializar nossos trabalhos nos impele a conhecer outros ambientes a caminhar por terrenos

desconhecidos e a propor outros encaminhamentos.

ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

Para atender o objetivo proposto, neste projeto, intenciona-se criar um grupo de

pesquisa formado pela pesquisadora25

em conjunto com os professores de matemática do

Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa.

A metodologia escolhida é a da pesquisa qualitativa, onde os métodos utilizados

serão: a entrevista e a observação participante. Neste estudo a entrevista, tem por objetivo

obter dados que interessam a investigação e a observação participante, por sua vez, seguirá

de forma natural, uma vez que, a pesquisadora é integrante do grupo a ser investigado.

A pesquisa se dará em quatro etapas, onde a primeira será a entrevista

intencionando levantar os conhecimentos dos professores a respeito do uso das TIC, sua

familiaridade, envolvimento, encaminhamentos; a segunda etapa dar-se-á no Laboratório

de Informática da escola onde os professores poderão conhecer e posteriormente, criar

espaços virtuais pessoais (portfólios) para que possam socializar conhecimentos técnicos,

teóricos e metodológicos acerca dos ambientes e da utilização das TIC nas aulas de

matemática; a terceira etapa consiste na observação dos movimentos dos professores nos

espaços criados; e finalmente, a quarta e última etapa será para a análise dos resultados

obtidos com a pesquisa.

Resumindo, o que se pretende é criar um ambiente pessoal de estudo e trabalho

para cada professor de matemática da escola. Esse ambiente deverá agregar outros

24 Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática Inclusiva, disponível em

http://devamat.blogspot.com/, acesso em 10 de maio de 2010. 25 A autora é participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná e para

tanto, precisa desenvolver um projeto de intervenção na escola que tem fixação de padrão. Para saber mais,

veja: http://www.pde.pr.gov.br/

Page 18: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

18

professores já imersos na web, buscando ser permeado pelo trabalho colaborativo com

vistas a promover a socialização de experiências e a elaboração de atividades que

estimulem o uso das TIC nas aulas de matemática. O grupo de professores pode também

contribuir na alimentação da página do colégio, divulgando estudos, atividades, eventos

realizados pelos professores da escola, na área da matemática.

Vale destacar que o foco principal da pesquisa é a reorganização da cultura do

professor de matemática, que passa a ser um profissional imerso e participativo na rede,

que trabalha em conjunto, colabora com o outro, partilha saberes, experiências, e

expectativas.

Page 19: TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS

19

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