Tecnologias na escritura: uma experiência com professores · Sandra, o que vc escreveu tem uma...

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Tecnologias na escritura: uma experiência com professores Karla Demoly Orientadora: Profa. Dra. Cleci Maraschin Co-orientadora: Profa. Dra. Margarete Axt Período de doutorado sanduíche com a Profa. Dra. Béatrice Fraenkel

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Tecnologias na escritura: uma

experiência com professores

Karla Demoly

Orientadora: Profa. Dra. Cleci Maraschin

Co-orientadora: Profa. Dra. Margarete Axt

Período de doutorado sanduíche com a Profa. Dra. Béatrice Fraenkel

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Questão de pesquisa

� Quais deslocamentos e transformações são observáveis nos modos de escrever de professoras encarregadas do ensino da leitura e da escrita, quando se reúnem para produzir um hiperdocumento?

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Questões que surgem a partir do percurso de

construção da tese:

� A possibilidade de escrituras coletivas suportadas pelas mídias produzir maior engajamento das professoras nos atos de escritura?

� A presença de imagens, no caso especifico de professoras surdas,favorece o engajamento em processos de escritura com professoras não surdas?

� As tecnologias digitais favorecem o envolvimento de pessoas cegas em atos de escritura na medida em que passa a ser possível dar lugar privilegiado aos sons?

� Como imagens e sons recriam a experiência de escrever no computador?

� Existem diferenças entre as perturbações vividas pelas professoras – ouvintes, surda, que enxerga e cega devido a estas distintas condições perceptivas?

� Durante o percurso de produção do hiperdocumento observamos a quebra da linearidade tão destacada nos estudos sobre o hipertexto? As professoras tecem um escrever como uma rede aberta a transformações?

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Estratégia Metodológica

� Redes de conversações escritas no ambiente TelEduc – fóruns e salas de bate-papo

� Produção efetiva do hiperdocumento –recortes de momentos da produção

� Filmagens de oficinas realizadas

� Anotações de campo

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A CONSTRUÇÃO DA FORMA

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MODOS DE COORDENAR AÇÕES EM ATOS DE ESCRITURA

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http://rocha.ucpel.tche.br/signwriting/cachos-revisado/

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DESLOCAMENTOS E TRANSFORMAÇÕES NOS MODOS DE ESCREVER

� O hipertextuar na escritura digital� O engajamento em atos de escritura� Imagens e sons na escritura favorecem uma nova experiência estética

� Escritura na convergência de mídias e a convergência entre professoras com distintas condições perceptivas

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Escrever é muito difícil, quando escrevo tenho, sempre, a sensação de que está errado. Tenho certeza que é devido à forma em que fui alfabetizada e em toda a minha trajetória escolar. O acerto e o erro acompanhavam tudo que envolvia a escrita. Hoje tenho consciência, e tenho tentado superar. Estimulo meus alunos a escrever e que esta escrita seja de forma prazerosa.

Excerto n°1, Claudenir, 25/10/2005.

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Gurias, fiquei pensando a partir das colocações em que buscam fazer da escrita momentos de prazer. Como é que vocês acreditam que possamos buscar prazer na construção textual vindas de uma educação repressora e punitiva? Qual seria o nosso caminho de transformação? Pois, quando eu começo a escrever textos, artigos, a tensão fica me acompanhando?

Excerto n° 2, Sandra B., 25/05/2006

Sandra, o que vc escreveu tem uma relação muito forte com o que eu sinto. E o pior de tudo é que eu sei que somente eu mesma é que posso vencer esta barreira ou trauma. E ao mesmo tempo me questiono: como seria se eu fosse cega ou surda? Será que ficaria bitolada? Creio que não, pois temos dois exemplos bem próximos que nos dão demonstração de que todas essas barreiras podem ser vencidas. Consigo fazer tal reflexão pq estou tendo contato maior com informações sobre os surdos e os cegos.

Excerto n° 3, Claudenir, 26/05/2006.

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As idéias vão transformando-se à medida que interagimos virtualmente, não há limites de idéia, espaço ou tempo, qualquer hora aqui é hora basta o tempo de escrever.

Excerto n° 4, Claudenir, 03/07/2006.

Eu me refiro ao que eu posso escrever aqui agora para vocês daqui a instantes pode ser transformado, ou seja, a oportunidade de interagir com o outro faz com que a mudança ocorra rapidamente. Já sabemos há muito tempo que o conhecimento é provisório e pode ser mudado ou ampliado.

Excerto n° 5, Inês, 11/07/2006.

Nós, por vezes, diante da primeira dificuldade desanimamos. As pessoas como vocês são muito importantes para o nosso convívio, pois vocês nos passam muito conhecimento.

Excerto n° 6, Inês, 19/05/2006.

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Em 1999, passei a utilizar uma nova escrita, a princípio muito difícil, a escrita Braile.

Os primeiros instrumentos utilizados por mim foram a reglete e o punção que

tornavam-se cada vez mais importantes no meu dia-a-dia.

[ ] Escrever com o punção era muito lento, cansativo e causava enormes dores

nas mãos, pois eu copiava bastante para acompanhar os estudos. Apesar de tudo

eu achava maravilhoso utilizar estes instrumentos de escrita, pois através destes,

eu podia freqüentar a escola, fazer amizades e continuar fazendo o que mais

gostava: ler e escrever.

Em 2001 compramos a máquina para escrever Braile, o que foi uma grande

evolução em minha vida, pois tornou ágil a escrita e nem causava tantas dores nas

mãos e, principalmente, com ela eu não precisava escrever de tr-ás para frente.

Apropriar-se desta máquina foi motivo de alegria e, ao mesmo tempo, motivo de

briga (falo de briga porque eu e minha irmã, também cega disputávamos quem iria

ocupar primeiro a mesma e ninguém queria saber mais da reglete, que hoje fica

guardada em uma gaveta).

Em 2004 realizei curso de informática, o que possibilitou minha inclusão digital, mas

somente em 2006 conseguimos comprar um computador ao qual foi adaptado para

o Jaws. Atualmente tenho um grande desafio que é de acessar a Internet para

adquirir mais independência diante das minhas necessidades.

Excerto n° 7, Carlise, 12/10/2006.

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(09:49:18) Carlise: Angelisa, fiquei feliz por teres vindo. (09:49:41) angelisa: eu posso interação colega (09:50:09) Carlise: Angelisa, eu tirei fotos hoje, depois pode ver no meu portfólio, amanhã. (09:50:32) angelisa: eu posso ver fotos Carlise (09:51:03) Claudenir: é muito legal participar deste momento de troca de idéias (09:51:47) angelisa: claudenir, eu entender o que tu escrever (09:51:55) sandra bucholz: estou muito curiosa para ver como ficaram suas fotos, acredito que ficaram ótimas pois tem muita sensibilidade e, se cortou minha cabeça eu não ficarei triste, pelo contrário, sei que estou lá.

Excerto n° 8, Conversação escrita em sala de bate-papo, 25/03/2006.

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� Filmagens de histórias em LS e edição de livros de histórias infantis

� Perturbações e mudanças nas coordenações de ações

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... uma textualidade suave, móvel e infinita (CHARTIER, Roger, 2002, p.31).

“a suposição que as pessoas estão lá para nos responder”. (TURKEL, 2005,

p. 264).

Faz ainda cinco anos, muitas pessoas diziam que, o que é mais fabuloso na

Web, era que se podia conversar com um tipo na Austrália que tinha a

mesma coleção de selos que nós.

O sentimento atual é que o mais excitante com a Web, é que ela enriquece

as relações com as pessoas que já se vêem face a face. as melhores

possibilidades para o desenvolvimento de comunidades encontrar-se-ão

nestes lugares onde sobrepõem-se as experiências virtuais e o resto da vida.

[...] (TURKLE, 2005, p. 261 – tradução nossa).

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Deslocamentos e transformações nos modos de escrever

� A escritura coletiva na convergência de mídias produz maior engajamento na ação mesma do escrever devido as emoções, os quereres que sustentam uma produção e as novas coordenações de coordenações de ações que surgem como efeito do trabalho que envolve uma rearticulação de linguagens – textos, imagens e sons e à criação de hipertextos em rede.

� A escritura na convergência de mídias favorece o encontro e a produção entre pessoas que tecem suas vidas em condições perceptivas diferenciadas.

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