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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde
Matheus Bartolomei de Siqueira Corradi
Colecistectomia Laparoscópica: É possível estratificar o risco para complicações
cirúrgicas baseado em associações com variáveis sociodemográficas e clínicas?
Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde
SOROCABA
2018
Matheus Bartolomei de Siqueira Corradi
Colecistectomia Laparoscópica: É possível estratificar o risco para complicações
cirúrgicas baseado em associações com variáveis sociodemográficas e clínicas?
Trabalho Final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em Educação nas Profissões da Saúde, sob a orientação do Prof. Dr. Ronaldo D Ávila. Coorientadora Profa. Dra. Cibele Isaac Saad Rodrigues.
SOROCABA
2018
Corradi, Matheus Bartolomei de Siqueira C823 Colecistectomia laparoscópica: é possível estratificar o risco
para complicações cirúrgicas baseado em associações com variáveis sociodemográficas e clínicas? / Matheus Bartolomei de Siqueira Corradi. -- Sorocaba, SP, 2018.
Orientador: Ronaldo D’Ávila. Trabalho Final (Mestrado Profissional) -- Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde.
1. Colelitíase. 2. Colecistectomia Laparoscópica. 3.
Complicações Pós-operatórias. 4. Fatores de Risco. I. D’Ávila, Ronaldo. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. III. Título.
Ficha catalográfica elaborada por Antonio Pedro de Melo Maricato CRB8/6922
Banca Examinadora
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Dedico esta dissertação de mestrado às minhas filhas, Sofia e Manuela, o
carinho e o amor de vocês são o combustível que me impulsiona. Não tenho
palavras para descrever o que sinto .
Dedico também aos meus pacientes, pois são eles que me dão a força
necessária para trabalhar e me dedicar à medicina, com misericórdia, equilibrando o
sentimento calcado no coração e a razão calcada na evidência e conhecimento
técnico.
AGRADECIMENTOS
Acredito que, talvez, essa seja a parte mais complexa de toda a tese porque
ao longo da vida muitas pessoas são extremamente importantes em nossa trajetória
e, sendo assim, é muito complexo agradecer àqueles que ajudaram de forma direta
ou indireta, e também àqueles que estiveram presentes em todos os momentos da
minha vida.
Agradeço, primeiramente, a Deus que me deu forças e perseverança para
não desanimar nos momentos difíceis. Nesses momentos, a fidelidade, a amizade e
a responsabilidade por um objetivo, com a coragem e o livre arbítrio dados por Deus
foram fundamentais.
Agradeço os pacientes do Hospital Geral de Carapicuíba. Eles são o motivo
deste trabalho, a fonte inspiradora de todo suor e sacrifício. Ajudá-los é a razão
primordial para buscar melhorias nos tratamentos de suas doenças.
Agradeço aos alunos de medicina do Centro Universitário São Camilo, pois
meu aperfeiçoamento tem como base o amor ao ensino. A difícil tarefa de ser
Docente, algo que hoje em dia poucos querem abraçar, é compensada na alegria e
na vitória dos alunos.
Agradeço ao Centro Universitário São Camilo pela oportunidade de me tornar
professor.
Agradeço aos residentes de Cirurgia Geral do Hospital Geral de Carapicuíba,
que diariamente me motivam e forçam limites na arte de ser cirugião. Arte esta que
requer disciplina, concentração, dedicação, estudo e aprimoramento constantes.
Agradeço ao Hospital Geral de Carapicuíba, minha casa há 15 anos. Toda
minha carreira médica e docente, após minhas especializações, foi construída neste
hospital.
Agradeço a todos os Professores da Faculdade de Ciências Médicas de
Santos, fundamentais na minha formação acadêmica como exemplos a serem
seguidos e perspectivas a serem alcançadas.
Agradeço a todos os funcionários da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo PUC-SP, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde em Sorocaba pela
dedicação, atenção e ajuda na confecção desta tese.
Agradeço aos meus Mestres e orientadores Prof. Dr.Ronaldo D Ávila e a
Profa. Dra.Cibele Isaac Saad Rodrigues pela paciência, confiança, incentivo,
dedicação e aprendizado em todo esse processo árduo de 2 anos.
Agradeço meu Mestre, Dr. Celso Charuri, que me ensinou o sentido de ser
Médico, me mostrou princípios de vida e me indicou objetivos a serem seguidos.
Ao meu irmão, mesmo distante, pelo apoio.
Aos meus Pais, meu eterno agradecimento pela vida e por terem me
ensinado o caminho da retidão , da decência e da honra.
À minha esposa Maria Luiza por ter me acompanhado, literalmente, nesta
difícil jornada. Em momentos duros e de desânimo foi companheira imprescindível e
incentivo irrestrito. Seus exemplos são um aprendizado constante. Sua capacidade
de cativar seus alunos e seus pacientes é dádiva que poucos possuem.
Às minha filhas, Sofia e Manuela, meu amor incondicional, vocês são o
sentido de todo e qualquer exemplo que eu possa dar e todo e qualquer legado que
eu possa deixar.
Niguém consegue sozinho.
Matheus B. S. Corradi
RESUMO
A colelitíase representa a doença mais comum do trato biliar, sendo que sua
prevalência pode ser superior a 10% na população adulta. Idosos, homens,
diabéticos e com cirurgia em caráter de urgência, apresentam maior
morbimortalidade. Este trabalho tem por objetivo associar complicações cirúrgicas
de colecistectomias laparoscópicas com dados sociodemográficos e clínicos,
estratificar o risco dos pacientes portadores de colecistopatia, aprimorar fluxos,
planos terapêutico e cirúrgico para pacientes portadores de colelitíase e criar um
Escore de Gravidade. Trata-se de estudo descritivo, transversal, retrospectivo e de
abordagem quantitativa. Os dados foram obtidos por meio de revisão de 2520
prontuários eletrônicos de pacientes colecistectomizados por via videolaparoscópica
no Hospital Geral de Carapicuiba (SP), entre janeiro de 2013 e março de 2017,
após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Foram extraídos dos prontuários
as variáveis sociodemográficas e clínicas, além das complicações cirúrgicas,
objetivando associá-las. Para avaliar os fatores independentes correlacionados aos
desfechos de interesse, foram propostos modelos de regressão logística ajustados,
em que foram consideradas, estatisticamente significantes, associações com valor
de p ≤ 0,05. Mediante os resultados, foi possível propor Modelo de Estratificação de
Risco e adequação dos fluxos e cuidados dos pacientes, além de criação de Escore
de Gravidade. Dos 2520 participantes, 2105 eram mulheres (83,5%) e 145 (16,5%)
homens, com idade média de 48,9 anos. As complicações intraoperatórias
ocorreram em 206 pacientes (8,7%), sendo a principal a conversão cirúrgica
(3,69%), e as pós-operatórias em 54 (2,1%). Após a análise das complicações
associando com os fatores, identificamos que homens, idosos, diabéticos, pacientes
com múltiplas cirurgias prévias e tendo realizado cirurgia de urgência (odds ratio de
26,7) são aqueles que apresentaram diferença estatisticamente significante nos
modelos não ajustado e ajustado, para complicações cirúrgicas. As complicações
aumentam significantemente em idosos com diabetes (chegando a 33,1% entre a
faixa de 70-79 com diabetes). Concluindo, é possível estratificar o risco de
portadores de colecistopatia e, consequentemente, aprimorar fluxos e planos
terapêuticos para tratamento desses pacientes. Além disso, foi possível criar Escore
de Gravidade baseado na associação entre complicações cirúrgicas de
colecistectomias laparoscópicas e dados sociodemográficos e clínicos.
Palavras-chaves: Colelitíase; Complicações Pós-operatórias; Índice de Gravidade
de doença; Colecistectomia Laparoscópica; Fatores de Risco.
ABSTRACT Cholelithiasis is the most common biliary tract disease, with a prevalence of more
than 10% in the adult population. Elderly, men, diabetics and with emergency surgery
present greater morbidity and mortality. The objective of this study is to associate
surgical complications of laparoscopic cholecystectomies with sociodemographic and
clinical data, to stratify the risk of patients with cholecystitis, to improve flow,
therapeutic and surgical plans for patients with cholelithiasis and to create a Severity
Score. This is a descriptive, cross-sectional, retrospective and quantitative study.
Data were obtained by reviewing 2520 electronic medical records of
cholecystectomized patients via the videolaparoscopic approach at the General
Hospital of Carapicuiba (SP) between January 2013 and March 2017, after approval
by the Research Ethics Committee. Sociodemographic and clinical variables were
extracted from the medical records, besides surgical complications in order to
associate them. To evaluate the independent factors correlated to the outcomes of
interest, adjusted logistic regression models were proposed, where associations with
p ≤ 0.05 values were considered statistically significant. Through the results it was
possible to propose a Risk Stratification Model and adequacy of the patients' flows
and care, in addition to creating a Severity Score. Of the 2,520 participants, 2105
were women (83.5%) and 145 (16.5%) men, with a mean age of 48.9 years.
Intraoperative complications occurred in 206 patients (8.7%), being the main one the
surgical convertion (3,69%), and postoperative complications in 54 (2.1%). After
analyzing the complications associated with the factors, we identified that men,
elderly, diabetic, patients with multiple previous surgeries and having had emergency
surgery (odds ratio of 26.7) are those that presented a statistically significant
difference in the non-adjusted and adjusted models complications. Complications
increase significantly in the elderly with diabetes (reaching 33.1% in the 70-79 range
with diabetes). In conclusion, it is possible to stratify the risk of patients with
cholecystitis and, consequently, to improve the flow and therapeutic plans for the
treatment of these patients. In addition, it was possible to create Severity Score
based on the association between surgical complications of laparoscopic
cholecystectomies and sociodemographic and clinical data.
Key-words: Cholelithiasis; Postoperative Complications; Disease Severity Index;
Laparoscopic Cholecystectomy; Risk Factors.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Descrição das cirurgias prévias referidas pelos 2520 pacientes
submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica. .......................................... 31
Figura 2 - Probabilidade de pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia
laparoscópica desenvolver complicação no momento intra-operatório, segundo faixa
etária e diagnósticos de diabetes (Não/Sim), controlado por sexo, número de
cirurgias prévias e tipo de cirurgia..............................................................................35
Figura 3 - Probabilidade de pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia
laparoscópica desenvolverem complicação no momento pós-operatório, segundo
faixa etária e diagnóstico de diabetes, controlado por sexo, e tipo de cirurgia. ......... 37
Figura 4 - Descrição de procedimentos cirúrgicos e percentual de complicações
geral e específica (conversão cirúrgica), em pacientes submetidos à cirurgia de
colecistectomia laparoscópica. .................................................................................. 39
Figura 5 - Fluxograma de Atendimento de Colelitíase .............................................. 44
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Predição de risco para complicação em cirurgia de colecistectomia
laparoscópica segundo o tipo de cirurgia (eletiva e urgência). .................................. 41
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características de pacientes submetidos à colecistectomia
laparoscópica. ......................................................................................................... 30
Tabela 2 - Características cirúrgicas atuais e prévias de paciente submetidos à
colecistectomia laparoscópica. ................................................................................ 32
Tabela 3 - Complicações Intraoperatórias de pacientes submetidos à
colecistectomia laparoscópica. ................................................................................ 33
Tabela 4 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados a
complicações intraoperatórias em pacientes submetidos à cirurgica de
colecistectomia laparoscópica. ................................................................................ 34
Tabela 5 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados a
complicações pós-operatórias em pacientes submetidos à cirurgica de
colecistectomia laparoscópica. ................................................................................ 36
Tabela 6 - Modelo de Regressão Logística estratificado por tipo de cirurgia (Eletiva
X Urgência) para verificar fatores associados a complicações intraoperatórias em
pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica. ........................ 38
Tabela 7 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados à
complicação intraoperatória do tipo conversão em pacientes submetidos à cirurgica
de colecistectomia laparoscópica. ........................................................................... 40
LISTA DE SIGLAS
CAAE
CCK
CEP
DM
DRS
ONA
OR
OSS
Prob (Y)
PS
PUC-SP
SP
SUS
US
UTI
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
Colecistoquinina
Comitê de Ética em Pesquisa
Diabetes Mellitus
Direção Regional de Saúde
Organização Nacional de Acreditação
Odds Ratio
Organização Social de Saúde
Probabilidade
Pronto Socorro
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo
Sistema Único de Saúde
Ultrassonografia
Unidade de Terapia Intensiva
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
1.1 Epidemiologia da Colelitíase ............................................................................ 15
1.2 Anatomia e Fisiologia da Vesícula Biliar ......................................................... 15
1.3 A Bile e a Formação dos Cálculos Biliares ..................................................... 16
1.4 Quadro Clínico, Diagnóstico e Complicações da Colelitíase ........................ 17
1.5 Tratamento dos Cálculos da Vesícula Biliar ................................................... 19
1.6 Complicações Cirúrgicas ................................................................................. 21
2 MOTIVAÇÃO ......................................................................................................... 23
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 24
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 25
4.1 Tipo de Estudo .................................................................................................. 25
4.2 Participantes da Pesquisa ................................................................................ 25
4.2.1 Critérios de Inclusão e Exclusão ...................................................................... 25
4.3 Local do Estudo ................................................................................................ 25
4.4 Variáveis Independentes .................................................................................. 26
4.5 Variáveis Dependentes ..................................................................................... 26
4.6 Técnica Cirúrgica .............................................................................................. 27
4.7 Análise Estatística de Dados ............................................................................ 27
5 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................. 29
6 RESULTADOS ....................................................................................................... 30
7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 45
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52
APÊNDICE A – DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS ............................ 56
APÊNDICE B - TERMO DE COMPROMISSO DE CONFIDENCIALIDADE ............. 57
ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ......................................... 59
ANEXO B - CARTA DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL GERAL DE
CARAPICUÍBA OSS ................................................................................................. 62
APRESENTAÇÃO
Acredito que uma breve apresentação se faz necessária para entender
melhor esta dissertação e a minha pessoa.
Desde criança, sempre desejei ser médico, nunca disse que exerceria outra
profissão; na realidade, já queria ser cirurgião, e mais, Cirurgião do Aparelho
Digestivo.
Sempre procurei ser bom aluno, estudava com afinco, e assim foi durante o
colégio e toda minha graduação em medicina em Santos, cidade linda e cativante,
onde nasci.
Após minhas especializações em Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo,
comecei, dentre vários trabalhos, como preceptor de Residentes de Cirurgia Geral e
logo o estímulo em buscar novidades e estar atualizado se fez imperativo.
Posteriormente, entrei na docência, e os alunos foram o estímulo para
atualização contínua e a busca pelo mestrado.
Esta dissertação é focada na minha vida, na cirurgia que mais realizo em prol
dos pacientes, uma das mais realizadas no mundo, a colecistectomia
videolaparoscópica, e na Educação Permanente em prol dos alunos de medicina e
dos residentes de Cirurgia Geral.
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 Epidemiologia da Colelitíase
A colelitíase representa a doença mais comum do trato biliar, e uma das mais
comuns do trato digestivo, sendo que sua prevalência pode chegar a 6-10% de
acometimento da população adulta em alguns estudos. Sua prevalência vem
aumentando ao longo do tempo, principalmente no ocidente. A prevalência aumenta
com a idade podendo atingir 20% em pessoas com 70 anos, sendo também mais
comum em mulheres em todas as faixas etárias.1-8
No Brasil, como em todo ocidente, a colelitíase atinge prevalência global
muito alta na população, girando em torno de 9%, sendo uma das doenças
cirúrgicas mais comuns, com incidência progressiva relacionada ao aumento da
idade.4,5
A prevalência é muito variável com relação à etnia e à região populacional,
sendo mais frequente em hispânicos, caucasianos ocidentais e nativos americanos
em comparação com o europeu oriental, africanos e asiáticos.3
As complicações relacionadas à colelitíase são causas muito frequentes de
internações em pronto socorro, acarretando grande morbidade e eventualmente
mortalidade aos pacientes. Além de alto custo operacional, tanto ao sistema público
quanto ao privado de atendimento, o risco de desenvolver alguma complicação é de
1-4% ao ano.1,4,6
1.2 Anatomia e Fisiologia da Vesícula Biliar
A vesícula biliar é um órgão periforme de tamanho variável, 7-10 centímetros
em média, localizada na face visceral do fígado. 9,10,11 Parte dela está aderida ao
fígado e parte livre recoberta por peritônio fixando-a contra o fígado. Apresenta
proximidade com o duodeno e o cólon transverso. É dividida em fundo, corpo, colo e
ducto cístico, que se une ao ducto hepático comum (formado pela junção do ducto
hepático direito e esquerdo advindos do fígado) para formar o ducto colédoco , que
possui aproximadamente 7 cm de comprimento e calibre máximo de 8 mm que,
juntamente com o ducto pancreático principal (Wirsung), deságua no duodeno,
16
geralmente na segunda porção em 85% dos casos. Raramente ocorre a
desembocadura do colédoco e do Wirsung em orifícios separados no duodeno.9,10
Importante lembrar da grande variação anatômica presente nas vias biliares.
Esse conhecimento é fundamental em termos cirúrgicos porque essas alterações
podem causar aumento significativo da morbimortalidade do paciente. Muitas lesões
inadvertidas, principalmente do colédoco, podem ser evitadas.10,11
Devido a isso, é muito importante identificar o triângulo de Calot, área
triangular no hilo hepático tendo como lados o ducto hepático comum, o ducto cístico
e a face inferior do fígado. Essa região contém, normalmente, a artéria cística, sendo
fundamental sua identificação no procedimento cirúrgico, evitando assim lesões
inadvertidas da via biliar. 10-13
A vesícula biliar tem função de reservatório (capacidade de 30 a 60 ml) e de
concentração da bile, a mucosa da vesícula absorve líquido continuamente da bile.
A bile é uma substância que é produzida pelos hepatócitos no fígado em uma
quantidade variável em torno de 800-1000 ml/dia. É armazenada na vesícula por
fluxo retrógrado decorrente de contração do esfíncter de Oddi. Durante a
alimentação ocorre a liberação de colecistoquinina (CCK) a nível duodenal, e este
hormônio contrai a vesícula biliar e relaxa o esfíncter de Oddi liberando assim a bile
para o duodeno. Sem hormônio, quando não ocorre alimentação, acontece o
inverso, contração do esfíncter e relaxamento da vesícula, de tal modo que a bile
entra na vesícula por refluxo.9,14
1.3 A Bile e a Formação dos Cálculos Biliares
A bile tem função de emulsificar as micelas de gordura. Após uma refeição, a
presença de ácido clorídrico, proteínas e ácidos graxos no duodeno estimulam a
secreção de hormônios (secretina, colecistoquinina e gastrina) que relaxam o
esfíncter de Oddi e estimulam a secreção de bile.9,14
A bile é composta por lecitina, colesterol, sais biliares, íons, água e
bicarbonato que têm a função de neutralizar o pH ácido vindo do estômago, tendo
sua concentração biliar estimulada pela secretina (peptídeo liberado pela mucosa
duodenal). Os dois primeiros são insolúveis em água e para serem solubilizados
necessitam se unir aos sais biliares produzidos pelo fígado.14
17
Quando ocorre um desarranjo entre esses elementos, a bile se torna
hipersaturada / litogênica e pode gerar formação de cálculos. A presença de bile
hipersaturada não é, isoladamente, o único fator para o aparecimento dos cálculos
biliares, porém a associação deste com a hipomotilidade da vesícula, que pode
gerar estase da bile, além do excesso de muco, podem determinar a precipitação do
excesso de colesterol que se agrupa formando cristais.9,13,15
Os cálculos podem ser de várias formas tamanhos e cores, dependendo
justamente dos componentes que formam o cálculo e sua concentração, ou seja, de
colesterol ou bilirrubinato de cálcio (pigmentares). Os de colesterol geralmente são
amarelados e os pigmentares negros ou marrons.14,16
Após a liberação da bile no intestino, ela exerce sua função emulsificante
sobre os componentes lipídicos da dieta, viabilizando assim sua degradação e
absorção pela mucosa intestinal. Parte da bilirrubina é convertida em urobilinogênio,
por ação bacteriana, que é eliminado nas fezes, sendo responsável por sua
coloração. Parte dos sais biliares são reabsorvidos ficando à disposição do fígado
novamente (circulação êntero-hepática).14
Múltiplos são os fatores de risco para a formação de cálculos biliares, porém
alguns são característicos e bem esclarecidos quanto a fisiopatologia relacionada à
colelitíase. Os mais envolvidos podem ser resumidos no mnemônico “5Fs”: Fat
(obesidade), Female (sexo feminino), Fertility (idade fértil), Family (antecedentes
familiares) e Forty (acima de 40 anos e idade). Outros fatores também
predisponentes são: diabetes, gravidez e parto, dieta rica em colesterol,
multiparidade, idade avançada, perda ponderal rápida, nutrição parenteral total,
algumas drogas (estrogênios na pós menopausa). Todos esses fatores podem
causar a hipersaturação da bile com posterior desarranjo na concentração dos
elementos constituintes.3,6,16-18
1.4 Quadro Clínico, Diagnóstico e Complicações da Colelitíase
A sintomatologia clássica de dor, chamada cólica biliar, geralmente causada
por cálculo que gera obstrução à saída da bile, associada a náuseas e vômitos pode
ocorrer em até 35% dos portadores de colelitíase. A cólica biliar normalmente
aparece rapidamente com forte intensidade localizada no quadrante superior direito
e/ou epigástrio, podendo irradiar para as costas e escápula. A dor tende a melhorar
18
gradualmente, variando de 30 minutos a algumas horas (não mais que 6 horas).
Habitualmente a dor é intermitente, com repetições em intervalos variáveis de dias a
semanas. Pode acontecer em qualquer horário, até depois de horas de jejum, porém
acontece com mais frequência após refeições copiosas e gordurosas.1-3,9,16,17
Outros sintomas sugestivos de complicações são a presença de icterícia,
principalmente em pacientes jovens, acolia fecal, prolongamento da dor por mais de
6 horas e a própria irradiação para o dorso, sugestivo de pancreatite. Muitos
pacientes apresentam sintomas vagos e inespecíficos que parecem dispepsia, com
empachamento pós prandial, flatulência, distensão abdominal, eructações e
intolerância alimentar .16,17
Ou seja, um terço dos pacientes são considerados sintomáticos, entre
sintomas clássicos e inespecíficos, e nesses, as complicações são mais comuns e
quase sempre são devidas ao comprometimento / obstrução de estruturas das vias
biliares: colecistite aguda, coledocolitíase, colangite e pancreatite.1,9,16
O diagnóstico de colelitíase geralmente ocorre após episódio de cólica biliar
não complicada, ou seja ocorre a suspeita clínica da doença, associada ao exame
físico de dor a palpação em hipocôndrio direito ou terço superior do abdome, com a
presença ou não do chamado sinal de Murphy (parada súbita da inspiração ao
palpar-se o hipocôndrio direito) além de um exame de imagem comprobatório. Outra
forma de diagnóstico, é quando o paciente realiza exame de imagem por qualquer
outro motivo, sendo a presença de colelitíase um achado no exame. 1,9,16
Dentre eles, o mais utilizado é a ultrassonografia (US), método diagnóstico
não invasivo, de fácil acesso, boa acurácia, sem utilização de contraste,
relativamente barato, com capacidade para avaliar órgãos adjacentes e que tem alta
sensibilidade para detectar cálculos na vesícula biliar, especialmente quando
realizado por observador experiente. Independente dos avanços tecnológicos, a
ultrassonografia continua sendo o melhor exame para diagnóstico de litíase da
vesícula, atingindo sensibilidade maior que 95%. Presença de imagem
hiperecogênica, móvel e com sombra acústica posterior é muito sugestivo. 1,2,15-18
O diagnóstico de colelitíase é muito difícil de ser feito usando-se a radiografia
simples de abdome, porque somente 15% dos cálculos contêm cálcio suficiente
para tornar a imagem radiopaca. Por isso, durante muitos anos foi utilizada a
colecistografia (ou colecistograma) oral, com sensibilidade e acurácia perto do US,
exame com contraste que permite estudar a função da vesícula e analisar seu
19
conteúdo; porém, com os inconvenientes do uso do contraste e outras
complicações, como a possível indução de colecistite aguda, foi sendo preterido com
o passar do tempo pela ultrassonografia.2,15
Se a ultrassonografia for negativa, em paciente com quadro clínico típico,
outros exames podem ajudar no diagnóstico como a cintilografia hepática, a
tomografia computadorizada, a ultrassonografia endoscópica, a ressonância nuclear
magnética, a colangiorressonância e a colangiopancreatografia endoscópica
retrógrada. Ressalte-se que todas elas não são a primeira escolha para o estudo da
vesícula bilar, mas são importantes para avaliar complicações e auxiliam em casos
de US normal ou duvidoso. 1,2,15,17
Os exames laboratoriais não servem para diagnóstico de colelitíase, porém
são úteis para avaliar possíveis complicações, principalmente colecistite,
coledocolitíase e pancreatite. hemograma, bilirrubina total e frações, enzimas
canaliculares , transaminases e amilase são geralmente solicitadas. 2,9,16
1.5 Tratamento dos Cálculos da Vesícula Biliar
O manejo do tratamento de uma cólica biliar simples envolve controle de dor
com analgésicos e antiinflamatórios não esteroidais, sendo que invariavelmente,
esse controle é bem sucedido e o paciente pode ser encaminhado para tratamento
cirúrgico eletivo. O uso de medicamentos orais, como o ácido ursadesoxicólico para
dissolver as pedras, possui baixo índice de sucesso, sendo que essa opção acaba
restrita aos casos em que o paciente não possui condições clínicas para
procedimento cirúrgico, como cardiopatas graves que apresentam contraindicação à
cirurgia.2,17,19
O tratamento em pacientes sintomáticos é a colecistectomia, sendo de
preferência por videolaparoscopia, método seguro com boa resposta pós-operatória,
baixo índice de complicações, diminuto período de internação (podendo ser < que 1
dia), excelente resultado estético e rápido retorno às atividades rotineiras. Em
pacientes assintomáticos a cirurgia permanece controversa, embora a tendência
atual seja pela não realização do procedimento porque a taxa anual de
desenvolvimento de sintomas em pacientes assintomáticos é baixa, em torno de 2%
ao ano.1,2,4,6,20-23
20
Em diabéticos, cálculos grandes (> que 3 cm), cálculos associados a pólipos
de vesícula, vesícula em porcelana, microcálculos, pacientes com anemia
hemolítica, pacientes que serão submetidos a transplante ou cirurgia bariátrica,
mesmo quando assintomáticos, a colecistectomia deve ser realizada pois, nesses
casos, o risco de complicações é maior e sua gravidade também, principalmente nos
diabéticos.1-3,17,24
Vários tratamentos cirúrgicos surgiram ao longo do tempo, na tentativa de
aumentar a eficácia da colecistectomia videolaparoscópica, diminuir o trauma
cirúrgico e consequentemente melhorar seu resultado, como a colecistectomia por
portal único na cicatriz umbilical. Este procedimento diminui o número de incisões na
pele e por consequência diminui a dor, além do melhor aspecto estético. 17,25-27
Outro desenvolvimento técnico foi o surgimento da cirurgia por orifícios
naturais, sendo principalmente pela boca, feita por endoscopista com uso de
instrumentais endoscópicos flexíveis, ou pela cúpula vaginal, utilizando materiais
articulados. No entanto, esses procedimentos, embora eficientes e seguros,
apresentam alto custo, grande curva de aprendizagem, certo grau de contaminação
da cavidade e, além disso, não diminuíram as complicações se comparados à
colecistectomia vídeolaparoscópica clássica, que continua sendo o padrão ouro.17,25-
27
A colecistectomia convencional, ou seja, por via laparotômica, mesmo que por
minilaparotomia, embora esta última apresente resultados satisfatórios, tem suas
indicações limitadas nos dias atuais, mesmo em casos de urgência, devido a maior
morbidade, pior recuperação, demora no retorno as atividades laborais, cicatriz
indesejada e dor. Sua realização fica restrita aos locais que não possuem material
para videolaparoscopia, cirurgiões sem aptidão técnica e nos casos que necessitam
a realização da chamada conversão cirúrgica; ou seja a cirurgia havia começado por
laparoscopia e devido dificuldades técnicas ou complicações no intraoperatório
houve necessidade da laparotomia, algo que ocorre em menos de 5% dos
casos.4,11,20,22,23,28-30
Poucas são as contraindicações à colecistectomia videolaparoscópica, sendo
que as absolutas ficam restritras a coagulopatia incontrolável, câncer de vesícula
biliar e pacientes que não suportam anestesia geral. Nesses casos, a
colecistectomia minilaparotômica tem sua indicação.17
21
O pré-operatório de uma colecistectomia videolaparoscópica não difere de
nenhuma outra cirurgia. É recomendada a realização prévia de exames laboratoriais,
eletrocardiograma, radiografia de tórax e avaliação do cardiologista e/ou
anestesista.9,16
1.6 Complicações Cirúrgicas
Com relação às complicações cirúrgicas, podemos dividí-las em
intraoperatórias e pós-operatórias, sendo as que ocorrem no transcorrer da cirurgia
mais comuns e também mais complexas. As de maior prevalência no intraoperatório
são: sangramento do leito hepático ou de algum vaso sanguíneo, contaminação da
cavidade com bile ou pus, necessitando ou não de drenagem da cavidade,
conversão cirúrgica para laparotomia e mais raramente lesão inadvertida de via biliar
principal ou de alças. A lesão da via biliar constitui-se na complicação mais temida
pelo cirurgião, pelo desfecho mais complexo e perigoso, podendo levar ao óbito
quando não identificada. Suas causas estão relacionadas, principalmente, a
inabilidade do cirurgião, geralmente pela curva de aprendizado, e alterações
anatômicas do hilo hepático.13,21,30-35
No pós-operatório, as mais comuns são: infecção de sítio cirúrgico,
sangramento das incisões, bilioma (acúmulo de bile em região de leito hepático),
coleperitônio (presença de bile espalhada pela cavidade abdominal causando
abdome agudo inflamatório), aderências, diarreia por síndrome pós-colecistectomia
e mais raramente fístula biliar ou de alça.9,21,31,32
Com relação à morbimortalidade, sabe-se que pacientes idosos, homens,
diabéticos, aqueles com múltiplas comorbidades e com cirurgia em caráter de
urgência, apresentam os maiores riscos.5,6,19,24,30,32,36,37 As cirurgias em urgência
constituem-se no principal fator de complicações associadas, ocorrendo
principalmente devido a colecistite aguda, quando está indicado o tratamento
cirúrgico precoce em detrimento de esfriar o processo e postergar a cirurgia.19,38-41
Inúmeros trabalhos e pesquisas foram realizados com o objetivo de melhorar
os resultados da abordagem terapêutica, procurando os principais fatores de risco e
as características dos pacientes acometidos, com a finalidade de individualizar o
tratamento com base nesses fatores e, por consequência, diminuir as complicações,
22
gerando menor tempo de internação, menor custo hospitalar e menos
morbimortalidade.24,27,29,30,31,33
Nesse sentido, conseguir estratificar o risco dos pacientes, principalmente
utilizando fatores simples de análise, como sociodemográficos e clínicos, com a
possibilidade de criação de escore de gravidade poderia ajudar nos protocolos e
fluxogramas de atendimento de colelitíase, especialmente na atenção básica à
saúde.
23
2 MOTIVAÇÃO
A colelitíase é uma das doenças cirúrgicas mais comuns no mundo,
apresentando prevalência crescente na população, principalmente no ocidente.
Mesmo sendo muito estudada, a morbimortalidade devido a complicações continua
elevada, principalmente em cirurgias de urgência realizadas em populações mais
carentes, sem acesso a tratamento e com tempo de realização da cirurgia
inapropriado. A maioria dos trabalhos científicos é capaz de apontar os fatores de
risco para a doença e para suas complicações, porém, com relação aos preditores
de complicações, poucos definem a probabilidade individual ou por grupo.
A motivação deste estudo vai justamente nesta direção, ou seja, pesquisar
uma possível forma de estratificar risco para pacientes com colelitíase,
correlacionando dados sociodemográficos e clínicos com complicações e
prognóstico, para servir como guia, no planejamento da data da cirurgia (encurtar o
tempo do procedimento, se necessário) e identificar a necessidade de cuidados
especiais no pré, intra e pós-operatório.
24
3 OBJETIVOS
Primário
Associar complicações cirúrgicas de colecistectomias laparoscópicas com
dados sociodemográficos e clínicos, estratificando o risco a partir dessa
associação.
Secundários
1- Propor aprimoramento de fluxos, planos terapêutico e cirúrgico para pacientes
portadores de colelitíase no Serviço.
2- Criar Escore de Gravidade baseado na associação entre complicações
cirúrgicas de colecistectomias laparoscópicas e dados sociodemográficos e
clínicos.
25
4 METODOLOGIA
4.1 Tipo de Estudo
Trata-se de estudo observacional, descritivo, transversal, retrospectivo, de
centro único e de abordagem quantitativa.
4.2 Participantes da Pesquisa
Os dados foram obtidos por meio de revisão de todos os prontuários
eletrônicos (tanto de internação, quanto ambulatorial) dos pacientes operados de
colecistectomia videolaparoscópica no período de janeiro de 2013 a março de 2017
no Hospital Geral de Carapicuíba. O tamanho da amostra foi de 2520 pacientes.
4.2.1 Critérios de Inclusão e Exclusão
Foram incluídos no estudo os prontuários dos pacientes submetidos a
colecistectomias laparoscópicas operados no Hospital Geral de Carapicuíba no
período de janeiro de 2013 a março de 2017, maiores de 12 anos, de ambos os
sexos e de todas as etnias.
Foram excluídos pacientes menores que 12 anos de idade porque esses são
operados pela equipe de Cirurgia Pediátrica e não pela Cirurgia Geral e aqueles que
foram submetidos a colecistectomia laparotômica de princípio pela impossibilidade
de utilização do material de videolaparoscopia, ou seja, alguns casos operados aos
domingos. Ressaltando que os casos excluídos foram muito poucos perto do total de
2520 pacientes, e portanto, não acarreta diferença estatística no estudo.
4.3 Local do Estudo
A pesquisa foi realizada no Hospital Geral de Carapicuiba - SP, que presta
atendimento de média complexidade, exclusivamente pelo SUS a munícipes da
região abrangida pelo DRS I, constituída por uma população estimada de 400.000
habitantes. Possui acreditação de qualidade ONA nível II. O hospital tem 232 leitos,
oferece atendimento de urgência e emergência 24h ao dia e realiza diariamente
26
cirurgias eletivas e atendimento ambulatorial. Em média são realizados 800
atendimentos ambulatoriais mensais, pela cirurgia geral, que resultam em
aproximadamente 50 colecistectomias laparoscópicas eletivas por mês, acrescidos
dos casos operados de urgência.
4.4 Variáveis Independentes
Foram extraídos dos prontuários eletrônicos da internação hospitalar e,
quando necessário, dos prontuários ambulatoriais as seguintes variáveis
independentes obtidas no pré-operatório: sexo, idade, presença de doenças
crônicas específicas como diabetes mellitus e a somatória do número de outras
comorbidades (como hipertensão arterial, hipercolesterolemia, insuficiência renal e
cardíaca, hipotireoidismo e outras). Frente ao histórico cirúrgico dos pacientes,
considerou-se o tipo de cirurgia: eletiva ou urgência (pacientes que internaram pelo
pronto-socorro), com ou sem infecção prévia e uso de antibióticos e/ou repercussão
hemodinâmica, cirurgias abdominais prévias (número e tipos), conforme instrumento
de coleta de dados constante no Apêndice A. Como esses dados são simples,
presentes em qualquer anamnese, mesmo não detalhada, e em exame físico básico,
conseguimos garantir o preenchimento de todos os dados da amostra.
4.5 Variáveis Dependentes
Foram consideradas duas variáveis respostas para o presente estudo. A
primeira trazia informação sobre a prevalência de complicações intraoperatórias
dentre todos os pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscopia
entre os anos de 2013 a 2017 em hospital de referência. A segunda variável
desfecho foi identificada a partir da prevalência de complicações no momento pós-
operatório para mesma cirurgia e período.
Quanto a essas complicações intraoperatórias, foram utilizadas as descrições
cirúrgicas para análise de: presença de sangramento, perfuração da vesícula e
contaminação da cavidade, lesão de vias biliares e de outros órgãos, fístulas,
utilização de drenos, necessidade de conversão para laparotomia.
Quanto às complicações pós-operatórias foram utilizados os prontuários de
internação/reinternação e ambulatorial para análise do pós-operatório:
27
sangramentos, bilioma ou coleperitônio, fístulas, reoperações, trombose venosa
profunda, necessidade de UTI, infecção do sítio cirúrgico e óbito.
4.6 Técnica Cirúrgica
A colecistectomia videolaparoscópica no Hospital Geral de Carapicuíba é
realizada de forma padronizada, com a utilização de 4 trocartes, sendo a óptica
locada em cicatriz umbilical e 3 auxiliares, locados em epigástrio, hipocôndrio direito
e flanco direito. Pneumoperitônio entre 12-15 mmHg. O material é todo permanente,
esterilizado diariamente, de acordo com protocolo da Central de Materiais. A
anestesia é geral, sendo a indução realizada com propofol 3 mg/Kg associado a
fentanil 5 µcg/Kg e atracúrio 0,5 mg/Kg, sendo a manutenção realizada com ar
ambiente e oxigênio a 40% associado a anestésico inalatório sevoflorane 1,5%,
além de remifentanil 100 µcg/Kg/minuto.
Como o Hospital possui ONA nível II, todas as cirurgias são realizadas sob
protocolo de cirurgia segura. O paciente de cirurgia eletiva interna no dia da cirurgia,
pois realiza todo pré-operatório no ambulatório, incluindo avaliação pré-anestésica.
Profilaxia antibiótica com cefazolina é realizada somente na indução anestésica, a
não ser que haja alguma complicação cirúrgica que necessite terapêutica antibiótica.
No pós-operatório, permanece internado até o dia seguinte à cirurgia, salvo se
houver alguma complicação. O paciente que interna via pronto-socorro, permanece
internado por tempo variável, porém a cirurgia é realizada da mesma maneira.
Todos os pacientes recebem alta com retorno ambulatorial agendado para duas
semanas após a cirurgia e orientações para retorno ao pronto-socorro, caso
necessário. O Hospital realiza também busca ativa fonada para detecção de
infecção de sítio cirúrgico. Assim, as complicações tanto intra quanto pós-
operatórias são verificadas e acompanhadas.
4.7 Análise Estatística de Dados
Uma vez coletados os dados, foi avaliada estatisticamente a associação entre
as variáveis obtidas antes da cirurgia com a evolução durante e após a cirurgia.
28
Variáveis categóricas foram descritas segundo média e desvio-padrão,
enquanto variáveis quantitativas segundo frequência absoluta e relativa.
Para verificar quais os possíveis fatores associados a complicações em
cirurgias de colecistectomia laparoscópica, foram propostos modelo de regressão
logística não ajustado e ajustado. No modelo bruto, não ajustado, pode-se observar
a relação (força da relação e significância estatística) entre uma variável
independente e o desfecho de interesse. No modelo ajustado, as relações são
observadas; no entanto, considera-se outras variáveis de interesse em uma inter-
relação conjunta, sendo estes os valores dos parâmetros considerados com ajuste
mútuo. As variáveis independentes que apresentaram valor de p ≤ 0,20 foram
selecionadas para compor esse modelo ajustado, sendo que no modelo ajustado
foram consideradas estatisticamente significante com valor de p ≤ 0,05.
Para verificar a relação entre a idade e a presença de diagnóstico de
diabetes, enquanto fatores preponderantes para desenvolvimento de complicações
cirúrgicas, foi proposta uma análise gráfica da probabilidade marginal para
desenvolvimento de complicações, controlada por todos os fatores que estivessem
presentes no modelo final de regressão logística.
Foi ainda descrita a equação matemática que indica a probabilidade de
desenvolver complicações intraoperatórias frente aos fatores investigados no
presente estudo. Também, propôs-se análise estratificada segundo o tipo de cirurgia
(eletiva X emergência), para verificar os fatores associados com base na condição
de maior risco, a saber, cirurgia de emergência.
Tabelas e figuras foram utilizadas como recursos para apresentação dos
resultados.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software estatístico
Stata, Versão 13.1, 2013 (StataCorp, College Station, Tx, USA).
A partir da análise criteriosa dos dados foi proposta a criação de um Modelo
de Estratificação de Risco e adequação dos fluxos e cuidados dos pacientes, além
da criação de um Escore de Gravidade.
29
5 ASPECTOS ÉTICOS
O Trabalho de pesquisa está cadastrado na Plataforma Brasil e recebeu
aprovação com o CAAE número-73991917.2.0000.5373 (Anexo A).
Qualquer atividade só teve início após aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (CEP – FCMS da PUC-SP).
Foi solicitada a anuência da Instituição de Pesquisa, com autorização por
escrito da Diretoria Administrativa e Técnica (Anexo B).
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido não foi utilizado devido tratar-se
de estudo retrospectivo, com análise de prontuários e devido ao fato do tamanho da
amostra ser considerável, muitos pacientes mudaram de endereço, outros eram
provenientes de outros Estados e muitos já faleceram.
Termo de Confidencialidade foi assinado pelo pesquisador e entregue aos
gestores do Hospital para acesso aos dados dos prontuários, visando sigilo das
informações individuais a que teve acesso (Apêndice B).
30
6 RESULTADOS
Entre os anos 2013 e 2017, 2.520 pacientes maiores de 12 anos foram
submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica no Hospital Geral de
Carapicuíba - São Paulo, sendo esta população considerada em sua totalidade para
o presente estudo.
Verificou-se que 83,5% da amostra era do sexo feminino e a média etária dos
pacientes foi de 48,9 anos, com idade mínima de 13 e máxima de 97 anos. 201
pacientes, 8%, apresentavam diagnóstico de diabetes. Além disso, 62,6% não
relatava ter alguma doença crônica, no entanto, 27,3% dos pacientes apresentavam
pelo menos uma doença crônica diferente do diabetes e 10,1% dos pacientes
apresenta duas ou mais (Tabela 1).
Tabela 1 - Características de pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica.
n %
Total 2520 100
Sexo
Feminino 2105 83,5
Masculino 415 16,5
Faixa etária
13-19 anos 35 1,4
20-59 anos 1827 72,5
≥ 60 anos 658 26,1
Características de saúde
Diabetes
sim 201 8
Número de doenças crônicas
Nenhuma 1578 62,6
Uma 688 27,3
Duas ou mais 254 10,1
Fonte: Autoria Própria
Em relação às características cirúrgicas, 35,7% dos pacientes já haviam
realizado cirurgias abdominais prévias. A maioria destas cirurgias eram
ginecológicas, (cesárea – 49,9%, laqueadura – 16,3% e histerectomia 10,2%),
conforme pode ser visualizado na Figura 1.
31
Figura 1 - Descrição das cirurgias prévias referidas pelos 2520 pacientes
submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica.
Fonte: Autoria Própria
Apenas 9,3% dos indivíduos tiveram de ser submetidos à cirurgia de
urgência/emergência, sendo que o motivo mais frequente, neste caso, foi por
colecistite aguda (77,4%). Mais de 10% dos pacientes tiveram que utilizar algum tipo
de tratamento com antibiótico. Complicações intraoperatórias ocorreram em 8,2% da
amostra, enquanto que complicações pós-operatórias apenas em 54 pacientes
(2,1%), descritas na Tabela 2.
36,5
49,9
16,3
10,2
3,1
2,3
1,9
1,5
0,8
0,8
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
Outras
Cesárea
Laqueadura
Histerectomia
Apendicectomia
Laparotomia
Miomectomia
Ooforectomia
Bariátrica
Nefrectomia
% de cirurgia prévia
Tip
o d
e ci
rurg
ia
32
Tabela 2 - Características cirúrgicas atuais e prévias de paciente submetidos à
colecistectomia laparoscópica.
n %
Cirurgias prévias Não 1620 64,3
Sim 900 35,7 Cirurgia atual
Tipo de cirurgia Eletiva 2285 90,7
Urgência 235 9,3
Motivo da Urgência Colecistite 182 77,4
Coledocolitíase 13 5,5 Colangite 3 1,2 Sindrome de Mirizz 23 10,0
Múltiplos motivos 14 5,9
Repercussão Hemodinâmica
Não 2495 99 Sim 25 1
Infecção/Uso de antibiótico
Não 2236 88,7
Sim 284 11,3
Complicações
Intraoperatórias
Não 2314 91,8 Sim 206 8,2
Pós-operatórias
Não 2466 97,9 Sim 54 2,1
Fonte: Autoria Própria
As complicações intraoperatórias mais frequentes foram a conversão cirúrgica
(3,7%), o sangramento (3,4%), as aderências (2,6%) e a necessidade de drenagem
da cavidade (4%) conforme se visualiza na Tabela 3, sendo que ocorreram 8 óbitos,
2 em cirurgias eletivas (0,087%) e 6 em cirurgias de urgência (2,5%), apresentando,
portanto, uma taxa de mortalidade total de 317 em 100.000 cirurgias (0,31%).
33
Tabela 3 - Complicações Intraoperatórias de pacientes submetidos à colecistectomia
laparoscópica.
___________________________________
Complicação n %
Sangramento 87 3,4
Aderências 67 2,6
Abscesso/contaminação
da cavidade com pus 41 1,6
Lesão da via biliar 7 0,27
Necessidade drenagem 103 4
Lesão de delgado 2 0,07
Fístula (gástrica duodenal
ou colônica ) 12 0,47
Conversão cirúrgica 93 3,69
Óbitos 8 0,31
___________________________________
Fonte: Autoria própria.
As tabelas 4 e 5 apresentam modelos ajustados e não ajustados de regressão
logística, para verificar fatores associados às complicações no momento intra e pós-
operatório, respectivamente.
Observando-se a tabela 4, nota-se que homens apresentam maior
probabilidade de desenvolver complicações intraoperatórias, assim como idade
avançada, presença de diabetes e cirurgias prévias foram fatores influentes.
Apresentar mais do que duas doenças crônicas aumenta em cerca de 14 vezes a
probabilidade de desenvolver complicações, assim como sofrer cirurgias de urgência
(OR = 23,3; p <0,001). Por meio da análise do modelo ajustado, podemos dizer, no
entanto, que somente idade avançada, sexo masculino, presença de diabetes,
duas ou mais cirurgias prévias e ser cirurgia de emergência são fatores indicativos
de maior probabilidade de desenvolver complicações intraoperatórias na cirurgia
laparoscópica de colecistectomia.
34
Tabela 4 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados a
complicações intraoperatórias em pacientes submetidos à cirurgica de
colecistectomia laparoscópica.
Modelo não ajustado Modelo ajustado
OR p valor OR p valor
Sexo
Feminino 1,00 1,00
Masculino 2,33 <0.001 1,51 0,045
Idade 1,04 <0.001 1,03 <0.001
Faixa etária
13-19 anos 0,48 0,468
20-59 anos 1,00
60 anos e mais 2,88 <0.001
Características de saúde
Diabetes
Não 1,00 1,00
Sim 3,73 <0.001 2,68 <0.001
Número de doenças crônicas
Nenhuma 1,00
Uma 2,88 <0.001
Duas ou mais 14,18 <0.001
Cirurgias prévias
Não 1,00
Sim 1,44 0,013
Número de cirurgias prévias
Nenuma 1,00 1,00
Uma 1,14 0,445 1,15 0,478
Duas ou mais 2,64 <0.001 4,22 <0.001
Cirurgia atual
Tipo de cirurgia
Eletiva 1,00 1,00
Urgência 23,77 <0.001 26,70 <0.001 Fonte: Autoria própria.
Na análise gráfica de probabilidade marginal identificamos que até os 29
anos, a presença de diabetes não é um fator preponderante na determinação de
complicação intraoperatória. No entanto, a partir dos 30 anos, indivíduos com
diabetes têm probabilidade aumentada de desenvolver complicações e com
diferença significante frente aos indivíduos que não apresentam diabetes, sendo que
entre 70 e 79 anos, por exemplo, a probabilidade de complicar é de cerca de 14%
entre os não diabéticos e de 33,1% entre os diabéticos (Figura 2).
35
Figura 2 - Probabilidade de pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia
laparoscópica desenvolver complicação no momento intra-operatório, segundo faixa
etária e diagnósticos de diabetes (Não/Sim), controlado por sexo, número de
cirurgias prévias e tipo de cirurgia.
Fonte: Autoria própria.
O modelo de regressão, proposto para verificar fatores associados a
ocorrência de complicações no pós-operatório, corroborou que, idade, sexo
masculino, presença de diabetes ou múltiplas comorbidades e cirurgia de urgência,
foram fatores associados. No entanto, apenas idade, presença de diabetes e
cirurgia de urgência mantiveram-se no modelo ajustado (Tabela 5).
0.2
.4.6
Pr(
Com
plic
açõ
es In
tra
-op
era
tória
s)
13-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80+
Faixa Etária
Não SimDiabetes
36
Tabela 5 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados a
complicações pós-operatórias em pacientes submetidos à cirurgica de
colecistectomia laparoscópica.
Modelo não ajustado Modelo ajustado
OR p valor OR p valor
Sexo
Feminino 1,00 1,00
Masculino 2,61 0,001 1,59 0,133
Idade 1,05 <0.001 1,04 <0.001
Faixa etária
20-59 anos 1,00
60 anos e mais 2,85 <0.001
Características de saúde
Diabetes
Não 1,00 1,00
Sim 4,71 <0.001 2,67 0,004
Número de doenças crônicas
Nenhuma 1,00
Uma 2,48 0,012
Duas ou mais 10,37 <0.001
Cirurgias prévias
Não 1,00
Sim 0,75 0,347
Número de cirurgias prévias
Nenhuma 1,00
Uma 0,77 0,425
Duas ou mais 0,45 0,28
Cirurgia atual
Tipo de cirurgia
Eletiva 1,00 1,00
Urgência 7,89 <0.001 5,98 <0.001 Fonte: Autoria própria.
Uma vez mais podemos identificar que diabetes é um fator fortemente
associado ao desenvolvimento de complicações. No modelo de probabilidade
marginal, verificou-se que, a partir dos 50 anos, a presença de diabetes muda a
probabilidade de desenvolver complicações, com intervalo de confiança de 95%. A
exemplo do impacto desta doença, notamos que indivíduos diabéticos de 80 anos ou
mais exibem probabilidade de desenvolver complicação de 24,1% versus a
probabilidade de 8,2% dos não-diabéticos (Figura 3).
37
Figura 3 - Probabilidade de pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia
laparoscópica desenvolverem complicação no momento pós-operatório, segundo
faixa etária e diagnóstico de diabetes, controlado por sexo e tipo de cirurgia.
Fonte: Autoria própria.
No intuito de propor uma classificação de Risco de Complicação
Intraoperatória em procedimento cirúrgico de colecistectomia laparoscópica e com
base nos resultados apresentados previamente, notamos ser importante a
realização de uma análise estratificada, considerando por base o tipo de cirurgia, se
eletiva ou de urgência. Na tabela 6, pode-se observar os resultados de modelo de
regressão estratificado. No modelo em que o procedimento cirúrgico ocorreu de
modo eletivo, observa-se que pacientes do sexo masculino apresentam o dobro de
chance de complicações. Pacientes idosos têm risco aumentado em 70% quando
comparados a pacientes mais jovens, ter diagnóstico de diabetes e ter realizado dois
ou mais procedimentos cirúrgicos anteriormente também foram fatores que
aumentaram o risco de desenvolvimento de alguma complicação intraoperatória
(Tabela 6). No entanto, quando observamos resultados para pacientes em cirurgia
de emergência, apenas a idade acima de 59 anos é fator de risco para complicações
0.1
.2.3
.4
Pr(
Com
plic
açã
o P
ós-o
pe
rató
rio)
13-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80+
Faixa Etária
Não SimDiabetes
38
e, sendo assim, possivelmente, a cirurgia de emergência em si é o fator de maior
risco para complicações.
Tabela 6 - Modelo de Regressão Logística estratificado por tipo de cirurgia (Eletiva X
Urgência) para verificar fatores associados a complicações intraoperatórias em
pacientes submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica.\
Fonte: Autoria Própria
Acompanhando as complicações cirúrgicas observadas em pacientes
submetidos à colecistectomia laparoscópica entre os anos de 2013 e 2017,
observou-se que 3,69%, ou 93 casos, evoluíram com Conversão Cirúrgica (Figura
4).
39
Figura 4 - Descrição de procedimentos cirúrgicos e percentual de complicações
geral e específica (conversão cirúrgica), em pacientes submetidos à cirurgia de
colecistectomia laparoscópica.
Fonte: Autoria própria.
No intuito de verificar os fatores associados à complicação por conversão
cirúrgica, foram propostos modelos de regressão logística não ajustado e ajustado,
conforme observado na Tabela 7.
Corroborando resultados prévios, referentes aos fatores associados à
complicação intraoperatória, notou-se que sexo, idade, diagnóstico isolado de
diabetes, assim como o número de doenças crônicas, foram fatores associados ao
desfecho em questão. Ter apresentado cirurgia prévia foi um fator associado; no
entanto, o número de cirurgias prévias não foi relevante quando o desfecho foi
complicação por conversão cirúrgica. Cirurgias do tipo urgência aumentam cerca de
34 vezes a chance de conversão.
Em modelo ajustado, verificou-se que ter 60 anos ou mais, aumenta em 2,8 a
chance de ter conversão, ter apresentado cirurgia prévia eleva em 84% e ter sido
submetido a cirurgia de urgência impacta em aumento de 34 vezes na odds ratio
para complicação por conversão. Estes resultados encontraram-se ajustados para
40
diabetes, fator que apresentou resultado borderline frente à significância estatística
(p 0,059).
Tabela 7 - Modelo de Regressão Logística para verificar fatores associados à
complicação intraoperatória do tipo conversão em pacientes submetidos à cirurgica
de colecistectomia laparoscópica.
Modelo não ajustado Modelo ajustado
OR p valor OR p valor
Sexo
Feminino 1,00
Masculino 2,40 <0.001
Idade 1,05 <0.001
Faixa etária
13-19 anos 1,28 0,809 1,21 0,863
20-59 anos 1,00 1,00
60 anos e mais 3,66 <0.001 2,80 <0.001
Características de saúde
Diabetes
Não 1,00 1,00
Sim 3,17 <0.001 1,85 0,059
Número de doenças crônicas
Nenhuma 1,00
Uma 2,80 <0.001
Duas ou mais 16,83 <0.001
Cirurgias prévias
Não 1,00 1,00
Sim 1,58 0,032 1,84 0,012
Número de cirurgias prévias
Nenhuma 1,00
Uma 1,41 0,14
Duas ou mais 1,77 0,107
Cirurgia atual
Tipo de cirurgia
Eletiva 1,00 1,00
Urgência 34,65 <0.001 33,96 <0.001 Fonte: Autoria própria.
41
Com base nos resultados encontrados para complicações intraoperatórias e
utilizando os dados estatisticamente significantes tanto nos modelos não ajustados
como nos ajustados, ou seja: sexo, idade, presença de diabetes e cirurgias prévias,
é proposto um quadro de predição de risco para complicação em cirurgia de
colecistectomia laparoscópica segundo o tipo de cirurgia (eletiva e urgência).
Quadro 1 - Predição de risco para complicação em cirurgia de colecistectomia
laparoscópica segundo o tipo de cirurgia (eletiva e urgência).
Fonte: Autoria própria.
Ressalta-se que o risco pontual deve ser calculado em adição ao risco basal,
sendo que o risco total baseia-se na soma das características com pior resultado
clínico. Ainda assim, note-se que pacientes que apresentam todas as características
avaliadas têm risco potencializado; desta forma, pode-se considerar o risco
combinado, e máximo quando contém todas as características, que seria de 58% em
pacientes em cirurgia eletiva e 95% em cirurgia de urgência.
Quanto ao modelo preditivo , uma equação, utilizando os dados do quadro de
predição de risco, foi proposta com base nos resultados de cinco anos de pacientes
submetidos à cirurgia de colecistectomia laparoscópica. Esta equação é ajustada
para predizer a probabilidade global para desenvolvimento de complicações
intraoperatórias sendo:
TIPO DE CIRURGIA ELETIVA URGÊNCIA
RISCO BASAL 1.80% 35%
Sexo
Feminino 0 0
Masculino +2 +2
Idade
Adulto 0 0
Idoso +2 +27
Diabetes
Não 0 0
Sim +4 +21
Cirurgias Prévias
Nenhuma 0 0
Uma +1 +1
Duas ou mais +8 +3
RISCO TOTAL 17.8 88
42
Prob(Y) é considerada a probabilidade de apresentar complicação
intraoperatória.
Essa fórmula tem base em regressão com função de ligação logito e foi
utilizada para desenvolver a escala de risco.
Com relação às complicações pós-operatórias, como elas ocorrem em uma
porcentagem muito pequena, 54 casos em 2520, ou seja 2,1%, não há como propor
escore de gravidade fidedigno para predizer o risco.
Podemos então, propor, com base na predição de risco e utilizando a
equação matemática, um fluxograma de atendimento de colelitíase para o Serviço
do Hospital Geral de Carapicuíba (Figura 5).
Proposta de Intervenção Educativa
Fluxograma de atendimento de Colelitíase
Internação de Urgência via PS – realizar a colecistectomia durante a
internação, de preferência por videolaparoscopia, independente de qualquer fator
(sexo, idade, presença de diabetes mellitus, número de comorbidades, número de
cirurgias abdominais).
Internação Eletiva via ambulatorial- considerar sexo, idade, diabetes
mellitus, número de cirurgias abdominais. Classificar pelo risco .
Baixo Risco de complicações Intraoperatórias < 7%
-Mulher ou homem, independente da idade, sem diabetes, sem cirurgias
abdominais prévias (ou até uma).
-Mulher, < 60 anos, diabética, sem cirurgias abdominais prévias ( ou até uma).
Risco Intermediário 7-15%
-Mulher ou homem, > 60 anos, diabético, sem cirurgias abdominais prévias
(até uma).
-Mulher ou homem, < 60 anos, sem diabetes, com 2 ou mais cirurgias
abdominais prévias.
-Mulher ou homem, > 60 anos, sem diabetes, com 2 ou mais cirurgias
abdominais prévias.
-Homem, <60 anos, diabético, sem cirurgias abdominais prévias (até uma).
43
-Mulher, < 60 anos, diabético, com 2 ou mais cirurgias abdominais prévias.
Alto Risco >15%, associado a risco de conversão maior
-Mulher, > 60 anos, diabética, com 2 ou mais cirurgias abdominais prévias.
-Homem, independente da idade (< ou > que 60 anos), diabético, com 2 ou
mais cirurgias abdominais prévias.
Conduta preconizada baseada no Risco
Pacientes com baixo risco agendar procedimento eletivo na vaga (em torno
de 6 meses).
Pacientes intermediários agendar cirurgia até 2 meses (diminuindo risco de
urgência pelo tempo).
Pacientes de alto risco priorizar cirurgia até 1 mês, considerar equipe
cirúrgica mais experiente, alta chance de conversão.
Considerar como fator associado a presença de 2 ou mais doenças crônicas.
44
Figura 5 - Fluxograma de Atendimento de Colelitíase
Fonte: Autoria Própria
45
7 DISCUSSÃO
A colelitíase é a doença mais comum do trato biliar e uma das mais comuns
do trato digestivo, com prevalência crescente ao longo do tempo, principalmente no
Ocidente, variando de 6-10% da população. 1-7
No Brasil, como em todo o Ocidente, a prevalência gira em torno de 9%,
sendo progressiva com o aumento da idade, podendo atingir 20% aos 70 anos,
sendo também mais comum em mulheres em todas as faixas etárias. 1,4-6,8,15
Teixeira et al.7 mostraram numa casuística de 200 pacientes uma relação
aproximada de 3:1 entre mulheres e homens, assim como Kreimer et al.18
apresentaram relação aproximada de 8,8:1,2. Da amostra do nosso estudo, 83,5%
eram do sexo feminino (Tabela 1), dado compatível com a literatura.7,15,18,28,31,32
A idade dos pacientes estudados variou de 13 até 97 anos, levando-se em
conta a exclusão de pacientes até 12 anos, sendo as faixas etárias: os jovens de
13-19 anos foram 35 casos correspondendo a 1,4%, os adultos de 20-59 anos foram
1827 casos ou 72,5% e os idosos com 60 anos ou mais foram 658 casos ou 26,1%,
com média etária de 48,9 anos (Tabela1). Essa casuística apresentou média
semelhante à literatura, que mostra maior prevalência de mulheres entre 40-50
anos.7,18,24,28,32
Com relação ao histórico dos pacientes, excetuando diabetes mellitus, 1578
ou 62,6% não apresentavam nenhuma doença crônica associada a colelitíase, 688
ou 27,3% tinham uma doença crônica associada e 254 ou 10,1% apresentavam
pelo menos 2 ou mais doenças associadas (Tabela 1). Vários autores mostram que
diabetes mellitus é fator de risco importante para desenvolvimento de colelitíase,
assim como suas complicações.15,17,24 Nessa casuística 201 pacientes dos 2520 ou
8% apresentavam diabetes mellitus.
É muito comum pacientes que realizam colecistectomia videolaparoscópica
apresentarem cirurgias prévias, nessa casuística 900 pacientes ou 35,7% do total
foram submetidos a algum procedimento anterior, especificamente no abdome,
porque esses podem interferir no andamento do procedimento, sendo as mais
comuns de origem ginecológica, tais como, cesariana, histerectomia e laqueadura
tubária, devido ao fato da maioria dos pacientes serem do sexo feminino (Figura 1 ).
Duca et al. mostraram 13,9% de cirurgias sendo realizadas como urgência e
emergência, com o restante eletiva.31 Com relação à divisão do tipo de cirurgia,
46
nesse trabalho foram identificados que 9,3% ou 235 cirurgias foram de urgência/
emergência, o restante 90,7% ou 2285 foram eletivas, dados também compatíveis
com a literatura. Com relação aos motivos de cirurgias de urgência, a colecistite
aguda foi responsável por 182 casos de urgência ou 79,5%, os outros motivos
foram: coledocolitíase, colangite, síndrome de Mirizzi e motivos múltiplos (Tabela 2),
resultado semelhante a literatura que mostra as mesmas causas de urgência,
apontando a colecistite aguda como a principal delas.1,2,18,31
As complicações intraoperatórias ocorreram em 206 pacientes, equivalente a
8,2% dos casos, enquanto que as complicações pós operatórias ocorreram em 54
casos ou 2,1%, num total de complicações de 9,3%, semelhante a alguns dados da
literatura como os 10% de morbidade identificados por Kreimer et al.18 ou os 13,3%
de complicações no estudo de Rubert et al.8
As complicações intraoperatórias observadas foram: sangramento em 87
casos ou 3,4%, aderências em 67 ou 2,6%, abscesso e contaminação da cavidade
em 41 ou 1,6%, necessidade de drenagem da cavidade em 103 casos ou 4%.
Complicações mais graves como lesão das vias biliares ocorreram em 7 casos ou
0,27%, compatível com achados de outros autores.
Buddingh et al. em uma revisão avaliando técnicas para evitar lesões de via
biliar, cita que esta ocorre de 0,2-0,5% das cirurgias.13 Lima et al. demonstraram
incidência de 0,46% de lesões de via biliar.29 Lesões de delgado ocorreram em 2
casos ou 0,07%, fístula colecistogástrica, duodenal ou colônica em 12 ou 0,47%.
Segundo a literatura, a taxa de conversão cirúrgica é variável de 2-6% em
cirurgias eletivas e maior em casos de urgência. Nesta casuística, em 2520
pacientes ocorreram 93 casos de conversão cirúrgica de videolaparoscopia para
laparotomia ou 3,69%, dentro, portanto, do esperado. 6,18,29,31,32
Com relação à mortalidade, Kreimer et al.18 mostraram 0,5% de mortalidade
enquanto Loureiro et al.6 descreveram 0,31% de mortalidade em cirurgias. Em nossa
revisão observamos que 8 pacientes (0,31%) evoluíram a óbito, sendo que 6 destes
pacientes foram operados de urgência/emergência. A mortalidade específica dos
pacientes operados de emergência correspondeu a 2,5% , compatível com Vollmer
et al.19 que apontaram a mortalidade de 3% para casos de urgência (colecistite
aguda). Em nosso estudo, observou-se uma taxa de letalidade de 0,087% em
pacientes operados de forma eletiva. Essa taxa é comparável a de Salim et al.21 que
encontraram mortalidade menor que 0,1% em cirurgias eletivas. (Tabela 3)
47
Vivek et al.42 numa análise de 323 pacientes em 2014 identificou que idosos,
homens, com cirurgias prévias, colecistite, obesos, com alteração de enzimas
hepáticas, distensão da parede da vesícula e fígado com características cirróticas ao
ultrassom apresentam dificuldade na colecistectomia videolaparoscópica. Assim
como Soltes and Radonak43, em 586 pacientes, definiram dificuldades em
colecistectomias na presença de sexo masculino, cólicas biliares recentes,
tratamento prévio de colecistite, cirurgia abdominal anterior no andar superior do
abdome, dor em quadrante superior e espessamento da parede da vesícula.
Nessa casuística de 2520 pacientes, utilizando somente análise de
características sóciodemográficas, verificamos que homens, indivíduos com
diabetes, que realizaram duas ou mais cirurgias prévias, tendo sido submetido à
cirurgia de urgência/emergência (OR de 23,3) e com idades mais avançadas
apresentam maior probabilidade de desenvolver complicações intraoperatórias.
Todos esses fatores apresentaram diferença estatística com valor de p<0,001
(Tabela 4), além disso apresentar mais do que duas doenças crônicas aumenta em
cerca de 14 vezes a probabilidade de desenvolver complicações durante o
procedimento cirúrgico, porém esse dado não se mostrou importante no modelo
ajustado de regressão logística, dados compatíveis com a literatura.1,3,5,30,32,37,42-44
Com relação à análise gráfica de probabilidade marginal, o diabetes
isoladamente até os 29 anos não é fator preponderante, porém, a partir dos 30
anos, a probabilidade de complicações em diabéticos aumenta exponencialmente,
sendo que entre 70 e 79 anos, por exemplo, a probabilidade de complicar é de cerca
de 14% entre os não diabéticos e de 33,1% entre os diabéticos (Figura 2). Esses
dados corroboram a literatura que demonstra que o diabético apresenta mais
complicações.15,24
Com relação às complicações no pós-operatório verificamos que idade, sexo
masculino, presença de diabetes ou múltiplas comorbidades e cirurgia de urgência
foram fatores associados. No entanto, apenas idade, sexo, presença de diabetes e
cirurgia de urgência mantiveram-se significantes no modelo ajustado (Tabela 5).
Assim como nas complicações intraoperatórias podemos notar também que o
diabetes é fator fortemente associado às complicações pós-operatórias, sendo que
no modelo de probabilidade marginal a partir dos 50 anos a presença de diabetes
muda a probabilidade de desenvolver complicação no pós-operatório, com intervalo
de confiança de 95%. A exemplo do impacto desta doença, notamos que indivíduos
48
diabéticos de 80 anos ou mais têm uma probabilidade de 24,1% de desenvolver
complicação em relação a probabilidade de 8,2% dos não-diabéticos (Figura 3).
Com base nos resultados encontrados para complicações no intra-operatório
foi possível propor uma equação ajustada para predizer a probabilidade global para
desenvolvimento dessas complicações (ProbY ), já comentada nos resultados.
Levando-se em conta que cirurgias de urgência/ emergência representam per
si fator de risco para complicações , é importante uma análise estratificada por tipo
de cirurgia, se eletiva ou urgência (Tabela 6). Em cirurgias eletivas, pacientes do
sexo masculino apresentam o dobro de chance de complicações. Pacientes idosos
têm risco aumentado em 70% quando comparados com adultos; ter diagnóstico de
diabetes e ter realizado dois ou mais procedimentos cirúrgicos anteriormente
também foram fatores que aumentaram o risco de desenvolvimento de alguma
complicação intraoperatória. No entanto, em cirurgia de emergência apenas a idade
acima de 59 anos é um fator de risco para complicações , o que nos leva à hipótese
que a cirurgia de emergência em si é o fator de maior risco para complicações.
Dentre as complicações, a conversão cirúrgica é uma das mais significativas,
porque na maioria das vezes ela decorre de outra complicação. Além disso, para o
paciente representa um problema estético e também um insucesso cirúrgico. Nessa
casuística ela ocorreu em 93 casos ou 3,69% do total de cirurgias (Figura 4).
Considerando que 206 pacientes apresentaram complicações intraoperatórias,
lembrando que pode ocorrer mais do que uma complicação, a conversão ocorreu
em 45,1% dos casos que complicaram. Realizando modelos de regressão logística
não ajustado e ajustado, observado na Tabela 7, nota-se que sexo, idade,
diagnóstico isolado de diabetes, assim como o número de doenças crônicas, foram
fatores associados à conversão. Ter apresentado cirurgia prévia foi um fator
associado; no entanto, o número de cirurgias prévias não foi relevante quando o
desfecho foi complicação por conversão cirúrgica. Cirurgias do tipo urgência
aumentam cerca de 34 vezes a chance de conversão. Como já citado, esta taxa na
literatura varia de 2-6% podendo ser maior em cirurgias de urgência, compatível com
os 3,69% dessa casuística.6,18,29,31,32
Kumar et al.45 mostraram uma taxa de conversão de 4,5% com maior chance
em homens, obesos, com cirurgias prévias. Hu et al.46 em 2017, no American
Journal of Surgery, numa revisão sitemática com 30 artigos científicos, concluíram
que os trabalhos eram muito heterogêneos; porém, homens e idosos são os
49
principais fatores de risco para conversão cirúrgica, dados semelhantes aos de
Rothman et al.47 Os outros fatores como diabetes, doenças crônicas e cirurgias
prévias são importantes, porém não foram motivos de análise na maioria dos
trabalhos.
Vários autores propuseram escore de gravidade, fórmulas para predizer
possíveis complicações e fluxogramas de tratamento, porém a maioria deles muito
complexos, alguns com a utilização associada de ultrassonografia, outros com a
utilização de exames laboratoriais.42,43,45,46 Neste sentido, o presente estudo propõe
uma estratificação para avaliação de risco de complicações intraoperatórias,
levando-se em conta que os resultados são congruentes com a literatura e que são
dados sociodemográficos e clínicos simples de serem conseguidos, mesmo na
atenção básica (os dados que tiveram diferença estatística nos modelos não
ajustado e ajustado: sexo, idade, presença de diabetes e cirurgias prévias), retirados
de anamnese e exame físico, conforme Quadro 1, citado previamente.
Utilizando-se dados do quadro I e da fórmula ProbY, o presente estudo
propõe um fluxograma de atendimento ao paciente portador de colelitíase, tanto
para cirurgias de urgência como para eletivas, classificando o paciente em risco
baixo, intermediário e alto para complicações intraoperatórias (Figura 5), sendo esta
classificação de forma simples e prática , não encontrada semelhante na literatura.
São fatores limitantes deste estudo, o fato de ser retrospectivo, serem dados
de um único centro e o escore de risco ainda não ter sido testado prospectivamente.
No entanto, foram analisados mais de dois mil e quinhentos prontuários, nossos
dados reproduzem a literatura nacional e internacional e ainda possibilitou a
construção de um escore de risco de fácil aplicabilidade em qualquer Unidade
Básica de Saúde, por profissionais de saúde capacitados, mesmo aqueles que não
tenham conhecimento aprofundado da doença, pois leva em conta apenas
parâmetros sociodemográficos e clínicos.
Com base neste fluxograma de atendimento, podemos adequar o
procedimento do paciente de acordo com seu risco, dentro dos parâmetros de
hierarquização do SUS, melhorando assim o processo, diminuindo o tempo até o
procedimento daqueles com maior risco, sujeitos a maior morbimortalidade. Além
disso, pode-se destacar equipe mais experiente, quando necessário,
consequentemente também com potencial de diminuição dos riscos.
50
Finalmente, por ser um modelo reprodutível, este fluxograma pode ser
utilizado em outros serviços de atendimento a pacientes portadores de colelitíase e
mesmo ser utilizado como ferramenta de ensino (Educação Permanente) para
clínicos da rede básica de saúde, médicos residentes, alunos de medicina e
enfermagem, bem como a própria equipe de enfermagem.
51
8 CONCLUSÃO
Com base na análise das complicações cirúrgicas de colecistectomias
videolaparoscópicas realizadas entre 2013 e 2017 num Hospital Público Secundário,
em um total de 2520 pacientes, comparando as mesmas com as características
sóciodemográficas e clínicas, foi possível associar maior predisposição a
complicações com fatores de risco, a saber, pacientes do sexo masculino, idosos,
diabéticos e com cirurgia abdominal prévia
Além disso, a presença de múltiplas comorbidades e de cirurgias de
urgência/emergência prévias podem ser considerados como fatores de risco per se
para complicações.
Em nossa opinião, é possível estratificar o risco de portadores de
colecistopatia e também aprimorar os fluxos e planos terapêuticos desses pacientes.
Neste estudo, foi possível ainda criar um Escore de Gravidade baseado na
associação entre complicações cirúrgicas de colecistectomias laparoscópicas e
dados sociodemográficos e clínicos. Mais estudos serão necessários para validá-lo
prospectivamente.
52
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56
APÊNDICE A – DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS
Colecistectomia Laparoscópica: É possível estratificar o risco para complicações
cirúrgicas baseado em associações com variáveis sociodemográficas e clínicas?
Pré-operatório
Nome (iniciais) Data:
Sexo: M ( ) F ( )
Idade: anos
Diabetes Mellitus : sim ( ) não ( )
N de outras comorbidades ( ) quais:
Tipo de Cirurgia- eletiva ( )
urgência ( ) por: colecistite ( ) coledocolitíase ( )
colangite( ) síndrome de Mirizz( )
Infecção/uso de ATB-
Repercussão hemodinâmica-
outras ( )-
Cirurgias/ Incisões prévias-
Complicações
Intra-operatório-
Pós-operatório-
57
APÊNDICE B - TERMO DE COMPROMISSO DE CONFIDENCIALIDADE
58
59
ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
60
61
62
ANEXO B - CARTA DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL GERAL DE
CARAPICUÍBA OSS