Teleologia, Darwinismo e Economia Evolucionária

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Teleologia, Darwinismo e Economia Evolucionária: a controvérsia acerca do papel da Seleção Natural no comportamento da firma 1. Introdução O uso disseminado do termo “economia evolucionária” é uma característica marcante do presente estágio das idéias econômicas. Apesar das raízes desta concepção estarem presentes nos desenvolvimentos do institucionalismo original de Thorstein Veblen e John Commons, as idéias evolucionárias que permeiam o pensamento econômico atual não estão necessariamente associadas ao apelo vebleniano de construir uma ciência econômica fundada em um ideal “pós-darwiniano” (Veblen, 1898). Se num certo sentido, a difusão do termo “economia evolucionária” é uma característica típica do desenvolvimento atual das ciências econômicas 1 , por outro lado, apesar desta evidente popularização, constata-se que o rótulo “economia evolucionária” é recorrentemente esvaziado de sentido, uma vez que o termo não carrega consigo uma concepção “evolucionária” claramente definida. Entender o conceito de “economia evolucionária” como uma abordagem que compreende os processos de desenvolvimento como transformação estrutural é, segundo Hodgson (1998), usual nas ciências econômicas. Porém, tal definição, sendo extremamente geral, permite pouca, senão nenhuma possibilidade de demarcação clara entre quais concepções econômicas podem ser compreendidas como “evolucionárias” e quais não 2 . Ademais, nos dias atuais, o uso do termo aparece ainda com menos restrições do que a dada pela definição geral acima, uma vez que muitos economistas publicam trabalhos em que utilizam a palavra “evolucionário” como mero sinônimo de algum tipo de consideração dinâmica. (Witt, 2008; Hodgson, 2001). Diferentemente do que ocorre na Economia, nas ciências biológicas não ocorrem controvérsias sobre o estatuto e alcance da perspectiva evolucionária. Na Biologia produziu-se historicamente um robusto 1 Witt (2008, 547: 548) assinala o crescimento impressionante, a partir dos anos 1980, do uso do termo “evolucionário” e suas variações etimológicas na base de dados EconLit, chegando em 2005 a constar em 1% das palavras-chave dos journals desta base. Hodgson (2001: 25) apresenta um gráfico em que podemos observar a proliferação do uso do termo “evolução” nas publicações acadêmicas a partir da década de 1980 comparadas a seu uso menos disseminado em décadas anteriores. Hodgson associa a disseminação do termo em razão da grande repercussão na academia do livro Uma Teoria Evolucionária da Mudança Econômica de Nelson e Winter (1982). Nesse sentido vale ressaltar que a popularização da vertente evolucionária gerou uma publicação específica dedicada ao tema, o Journal of Evolutionary Economics, que iniciou a seus trabalhos a partir de 1991. 2 Hodgson (1998) destaca que com essa definição ampla poderíamos classificar como “economistas evolucionários”, boa parte dos grandes expoentes da história do pensamento econômico como Smith, Marx, Schumpeter, Veblen, Keynes, etc. 1

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Teleologia, Darwinismo e Economia Evolucionria: a controvrsia acerca do papel da Seleo Natural no comportamento da firma

Teleologia, Darwinismo e Economia Evolucionria: a controvrsia acerca do papel da Seleo Natural no comportamento da firma TC "2. A Seleo Natural e o mundo socioeconmico: abordagens divergentes" \l 1 1. Introduo

O uso disseminado do termo economia evolucionria uma caracterstica marcante do presente estgio das idias econmicas. Apesar das razes desta concepo estarem presentes nos desenvolvimentos do institucionalismo original de Thorstein Veblen e John Commons, as idias evolucionrias que permeiam o pensamento econmico atual no esto necessariamente associadas ao apelo vebleniano de construir uma cincia econmica fundada em um ideal ps-darwiniano (Veblen, 1898).

Se num certo sentido, a difuso do termo economia evolucionria uma caracterstica tpica do desenvolvimento atual das cincias econmicas, por outro lado, apesar desta evidente popularizao, constata-se que o rtulo economia evolucionria recorrentemente esvaziado de sentido, uma vez que o termo no carrega consigo uma concepo evolucionria claramente definida.

Entender o conceito de economia evolucionria como uma abordagem que compreende os processos de desenvolvimento como transformao estrutural , segundo Hodgson (1998), usual nas cincias econmicas. Porm, tal definio, sendo extremamente geral, permite pouca, seno nenhuma possibilidade de demarcao clara entre quais concepes econmicas podem ser compreendidas como evolucionrias e quais no. Ademais, nos dias atuais, o uso do termo aparece ainda com menos restries do que a dada pela definio geral acima, uma vez que muitos economistas publicam trabalhos em que utilizam a palavra evolucionrio como mero sinnimo de algum tipo de considerao dinmica. (Witt, 2008; Hodgson, 2001).

Diferentemente do que ocorre na Economia, nas cincias biolgicas no ocorrem controvrsias sobre o estatuto e alcance da perspectiva evolucionria. Na Biologia produziu-se historicamente um robusto consenso cientfico, a partir do pioneirismo de Darwin (1859), acerca dos princpios e mecanismos que guiam os processos evolucionrios. Tanto assim, que cremos que, se existe uma forma de pensamento evolucionrio apropriado para compreender os processos de mudana em diferentes arenas, para alm da biolgica, esta reside no no plano das analogias, mas sim num nvel mais profundo, como um componente ontolgico darwiniano que permite uma explanao unificada dos processos mais gerais dos fenmenos evolucionrios.

Portanto, este trabalho parte destes dois argumentos: o primeiro, de que atualmente observa-se um fenmeno de disseminao terminolgica associado a um recorrente esvaziamento de sentido da idia de economia evolucionria e, o segundo, de que a abordagem darwiniana conforma um cdigo de cincia que comporta os princpios fundamentais de uma perspectiva verdadeiramente evolucionria.

Nesse sentido, a proposta deste artigo entender, a partir de uma concepo fundada nos princpios que guiam o pensamento evolucionrio darwiniano, um momento especfico da histria das idias econmicas, identificado aqui como um perodo-chave para a compreenso dos caminhos que a perspectiva evolucionria seguiu nas cincias econmicas. Assim sendo, o artigo ir analisar de forma crtica a utilizao do argumento da Seleo Natural dentro de um importante debate ocorrido em meados do ltimo sculo, conhecido pelo rtulo de controvrsia marginalista. Desta forma, a apartir das concepes evolucionrias contidas no artigo de Alchian 1950, intitulado Uncertainty, Evolution and Economic Theory, procuramos mostrar como esse trabalho abriu caminho para duas abordagens evolucionrias distintas, cristalizadas nos trabalhos de Friedman (1953) e Winter (1964).

Partindo da caracterizao do processo de Seleo Natural e de sua relao com a hiptese de maximizao de lucros apresentada por Alchian (1950), analisaremos quais foram os desenvolvimentos tericos decorrentes de tal construo elaborados tanto pela abordagem neoclssica, representada por Friedman (1953), quanto pela viso neoschumpeteriana, de Winter (1964). De forma paralela, o artigo buscar pontuar os fundamentos que caracterizam a metodologia evolucionria darwiniana, permitindo assim analisar as relaes entre as distintas vises de Seleo Natural e maximizao dentro da controvrsia marginalista, com os princpios evolucionrios que governam a perspectiva darwiniana. Desta forma, buscaremos verificar a repercusso dos desenvolvimentos da biologia evolucionria sobre as idias econmicas geradas neste debate especfico e, ao mesmo tempo, analisar a consistncia destas idias a partir de um ponto de vista estritamente darwiniano.

Buscando alcanar estes objetivos o artigo compe-se de seis itens, alm desta introduo. No segundo item organiza-se uma breve reviso dos principais desenvolvimentos da biologia evolucionria construdos durante a primeira metade do sculo XX, destacando o que ficou conhecido como a teoria sinttica da Evoluo, tida como o maior avano do pensamento evolucionrio ocorrido desde a publicao da Origem das Espcies (1859). Tal reviso histrica essencial, pois trata exatamente da sntese final dos fundamentos do pensamento evolucionrio moderno, pensamento este que influenciou fortemente a controvrsia marginalista atravs do trabalho de Alchian (1950) e as concepes de economia evolucionria desenvolvidas posteriormente. No terceiro item sero revisadas as idias fundamentais do argumento de Seleo Natural e a idia da firma maximizadora de Alchian (1950), assim como as decorrncias tericas desenvolvidas no trabalho de Enke (1951). No quarto item, apresenta-se o refinamento neoclssico destas idias de fundo evolucionrio, consubstanciado no trabalho de Friedman (1953). Procura-se evidenciar que Friedman altera a concepo de maximizao de lucros do formato animista para uma hiptese teleolgica, no sentido da crtica vebleniana. Na seqncia, no quinto item, elencam-se as principais crticas a esta concepo essencialista do argumento de Seleo Natural, evidenciando que esta abordagem no compatvel com os fundamentos tericos das cincias evolucionrias modernas. No sexto item, analisa-se o conciso modelo evolucionrio geral de Winter (1964), procurando evidenciar como esta construo pode ser legitimamente caracterizada como evolucionria e darwiniana, conquanto passvel de ser compreendida a partir dos elementos metodolgicos da teoria sinttica da Evoluo e das categorias analticas darwinianas. Finalmente, num stimo e ltimo item organizam-se as consideraes finais.

2. Os desenvolvimentos cientficos da biologia evolucionria: a teoria sinttica da Evoluo TC "2.1. Desenvolvimento cientficos do perodo de especificao : A teoria sinttica da Evoluo" \l 2 O artigo de Alchian (1950) foi seminal para o debate acerca do argumento da Seleo Natural e a maximizao de lucros da firma neoclssica. Os desenvolvimentos cientficos daquele momento, principalmente no campo da biologia, foram extremamente propcios para a elaborao e a aceitao de sua analogia evolucionria.

Hodgson (1998) claro em apontar que a idia de Alchian era fruto de um momento de efervescncia evolucionria nas cincias biolgicas: Capitalizing on the triumph of a new Darwinian biology, he made an explicit appeal to the metaphor of natural selection (Hodgson, 1998: xxi).

Nesse sentido, necessrio compreender que durante a primeira metade do sculo XX, as cincias biolgicas estavam realizando um profundo processo de reorganizao e sistematizao, que redefiniu as bases metodolgicas da abordagem darwiniana. As palavras de Simpson (1947) enfatizam a importncia desse momento histrico para o pensamento evolucionrio:

Cabe ao futuro julgar, mas parece provvel que se fez ultimamente maior progresso real na compreenso dos processos evolutivos do que em todos os sculos precedentes de estudos somados (SIMPSON, 1947: 53).

De forma breve pode-se dizer que do incio do sculo XX at os anos 30, vigorou um verdadeiro dilema a respeito da teoria da evoluo darwiniana. Os naturalistas (paleontlogos e morflogos) no estavam suficientemente familiarizados com os avanos da gentica dos primeiros pesquisadores mendelianos e, atravs de suas observaes, entendiam que as mudanas na natureza se davam de forma gradual: (...) so contnuas, graduais em geral no se observam mudanas sbitas e pronunciadas progressivas e orientadas, continuam na mesma direo durante longos perodos (Carter, 1953: 62). Os primeiros geneticistas, ao contrrio de seus pares naturalistas e ignorando a rica literatura sobre variao geogrfica e especiao, entendiam as mutaes como rpidas e de grandes propores, porm na maioria das vezes degenerativas, resultando mais em perdas do que na elaborao de estruturas. Mayr (2006) assinala desta forma a disparidade entre as abordagens destes grupos:

Os dois grupos lidavam com nveis hierrquicos diferentes: os geneticistas com a variao intrapopulacional ao nvel gnico, os naturalistas com a variao geogrfica das populaes e das espcies. Quando geneticistas e paleontlogos, ou, geneticistas e taxonomistas se reuniam naquela poca, as suas respectivas experincias eram to diferentes que eles, aparentemente, eram incapazes de se comunicar uns com os outros (MAYR, 2006: 133).

Assim sendo, ficou patente que faltava um fundamento lgico teoria de Darwin que unisse estas perspectivas dspares e, de alguma forma, nesse momento, comeava-se at mesmo a duvidar que a teoria darwiniana tivesse validade geral (Jablonka e Lamb, 2005: 21). A problemtica girava em torno de duas questes centrais da teoria da Evoluo: a primeira, era que no havia evidncias diretas de que a Seleo Natural operava na natureza; a segunda, era que havia pouca compreenso a respeito de como as leis da variabilidade e hereditariedade atuavam. Gould (1982) aponta para o antagonismo das diferentes abordagens decorrentes deste momento especfico:

Battles of the late nineteenth century had pitted two primary contenders against each other: 1) Darwinian natural selection, with its insistence upon random variation as raw material and selection as creative force; and 20 a host of otherwise disparate alternatives, including neo-Lamarckism and various styles of orthogenesis and vitalism, that proposed a creative role for variation itself and relegated natural selection to an executioners task as eliminator of the unfit (GOULD, 1982: xviii)

Foi objetivando resolver estes pontos de conflito sobre a teoria darwiniana que, entre a dcada de 1930 e 1950, ocorre o que ficou conhecido como a segunda Revoluo Darwiniana, a qual fundou as bases do desenvolvimento das cincias biolgicas nos termos conhecidos atualmente. Desta forma, durante os anos 30, comeou a ser construdo o que conhecemos como a sntese moderna da biologia evolucionria ou simplesmente teoria sinttica da Evoluo. Tal desenvolvimento foi resultado de um esforo conjunto de especialistas de diferentes ramos das cincias biolgicas, centralizado principalmente nos EUA.

Impelidos pela necessidade de coordenao e sntese, estes pesquisadores buscaram compreender as inter-relaes dos diferentes aspectos da evoluo. A superao das barreiras entre as especialidades dentro das cincias biolgicas e a sua integrao dentro de um arcabouo explicativo geral foi a caracterstica fundamental deste processo aglutinador. Assim sendo, foram criados diversos rgos de pesquisa, principalmente nos EUA, que levaram a frente tais estudos:

Nos EUA , ele foi empreendido pela Comisso sobre Problemas Comuns de Gentica, Paleontologia e Sistemtica do Conselho Nacional de Pesquisa. Os trabalhos das comisses foram ampliados e colocados em base permanente com a fundao de uma Sociedade para o Estudo da Evoluo (em 1946). (SIMPSON, 1947: 52)

Segundo Mayr (2006), a sntese no foi propriamente uma revoluo cientfica, mas foi uma unificao de campos de estudos evolucionrios sob uma linguagem comum. Tal unificao foi caracterizada nem tanto por novos conceitos revolucionrios, mas mais por um processo de saneamento e pela total rejeio de vrias teorias errneas e crenas que haviam sido responsveis por divergncias anteriores (Mayr, 2006: 135).

A idia central desta sntese cientfica girava fundamentalmente numa combinao entre as contribuies dos trabalhos de Weismann e Mendel: Weismanns ultra-Darwinism was combined with Mendelian genetics, which had adopted the concept of gene as the hereditary unit of biological information (Jablonka e Lamb, 2005: 24). Hodgson (1998) assinala, neste mesmo sentido, a contribuio terica fundamental proveniente deste processo de sntese que revolucionou as cincias evolucionrias:

Only then did the Mendelian gene became fully incorporated into the theory of evolution, giving a plausible explanation of the presumed variation of offspring and the selection of species. This had not been achieved by Darwin or any other nineteenth-century biologist. (HODGSON, 1998: xxi).

Atravs da idia de que existe um processo de mudana evolucionria gradual, onde pequenas diferenciaes, ou diferenciaes maiores, nos cromossomos e, por conseqncia, nos indivduos so sujeitas seleo conciliou-se a perspectiva gentica com a teoria da evoluo darwiniana. De forma concisa, pode-se explicitar os conceitos desta abordagem sinttica atravs dos seguintes pontos:

A herana se d atravs da transmisso de genes, as unidades dos cromossomos. Os genes possuem informao sobre as caractersticas dos indivduos e so o substrato fsico da hereditariedade;

A variao (mutao) derivada de mudanas acidentais nos genes decorrentes da falta de preciso na propriedade bsica de auto-reproduo;

A seleo ocorre sobre os indivduos e depende da interao entre os ambientes e os fentipos destes indivduos.

O gene, como fica evidenciado nos pontos explicitados acima, o elemento principal que governa o processo de mudana na teoria sinttica da Evoluo. Huxley (1954) claro em mostrar a supremacia do gene como unidade de anlise evolucionria:

Um nico mecanismo bsico fundamenta toda a evoluo orgnica: a seleo darwiniana agindo sobre o mecanismo gentico. A seleo darwiniana um princpio estabelecido, mas atua conforme a natureza do mecanismo gentico(HUXLEY, 1954:22).

Durante as dcadas de 1940 e 1950, devido aos avanos da bioqumica, a teoria sinttica da Evoluo foi complementada pelas descobertas da biologia molecular. A constatao de que o cido desoxirribonuclico (DNA) era a nica substncia hereditria nos processos biolgicos e que havia um fluxo unidirecional de informao do DNA para as protenas, mudou a forma de o homem pensar o gene. O DNA passou a ser reconhecido como regulador das atividades do gene e no apenas um codificador de protenas e a relao entre gentipo e fentipo passou a ser a relao entre plano e produto.

A sntese moderna da biologia evolucionria lanou o estudo acerca da evoluo a um novo patamar analtico. Os estudos genticos ocuparam as difceis lacunas tericas da evoluo da concepo de Darwin, explicando de forma consistente como se davam os processos de herana e mutao. Dobzhansky (1937) claro em apresentar o carter complementar da perspectiva gentica na teoria da Evoluo de Darwin:

Evolution is a process resulting in the development of dissimilarities between ancestral and descendant populations. The mechanisms that determine the similarities and offspring constitute the subject matter of genetics (DOBZHANSKY, 1937: 9)

paralelo a este contexto, de construo das teses centrais que guiaram a partir de ento o pensamento das cincias biolgicas, que a idia acerca da Seleo Natural aplicada hiptese de maximizao de lucros da firma surgiu e foi desenvolvida. Como veremos, as repercusses dos avanos da biologia evolucionria deste momento histrico apareceram de forma variada no debate econmico deste perodo. Nesse sentido, podemos dizer que a controvrsia marginalista apresentou diversos argumentos evolucionrios, muitas vezes apenas como efeito retrico, abstendo-se de uma abordagem verdadeiramente inspirada numa perspectiva darwiniana.

3. O argumento da Seleo Natural e a maximizao TC "2.2. O argumento da Seleo Natural como justificativa da maximizao" \l 2 Entre as dcadas de 1940 e 1960, a sistematizao alcanada pela economia neoclssica acerca da natureza e dos objetivos da firma fez emergir um profcuo debate sobre a validade dos fundamentos metodolgicos dessa abordagem. A ampla discusso sobre o estatuto cientfico e os preceitos metodolgicos da teoria da firma ficou conhecida como a controvrsia marginalista que ecoou nas interpretaes surgidas na dcada de 50 no mbito da teoria da firma nos trabalhos de Baumol, Cyert e March e Marris.(Screpanti e Zamagni, 1997: 387 e Mongin, P. 1997).

O trabalho de Alchian (1950), Uncertainty, Evolution, and Economic Theory foi um dos trabalhos seminais nesta discusso. Sua contribuio, largamente influenciada pelos desenvolvimentos da biologia evolucionria vistos no tpico anterior, foi extremamente influente nas abordagens subseqentes, tanto na sua vertente neoclssica quanto em vertentes mais heterodoxas.

O argumento da Seleo Natural, conhecido tambm como hiptese da viabilidade, foi uma analogia biolgica utilizada por Alchian (1950) e complementada por Enke (1951), para caracterizar o processo de competio capitalista entre as firmas. Atravs desta construo, Alchian buscou reformular as concepes acerca do comportamento da firma, afastando-se, de alguma forma, da abordagem fundada na maximizao de lucros da teoria ortodoxa.

Alchian (1950) defende que a hiptese de maximizao de lucros no estritamente necessria como ferramenta explicativa dentro da teoria econmica. Segundo o autor, os agentes operam num mundo caracterizado pela incerteza, onde a maximizao de lucros no um guia de ao factvel. A imprevisibilidade dos fenmenos econmicos, conjuntamente com a inabilidade humana de trabalhar com um grande nmero de variveis, compromete a concepo de firmas como entidades maximizadoras de lucros. Assim sendo, Alchian restringe a hiptese de maximizao apenas a uma idia de mundo onde no exista incerteza: The only way to make profit maximization a specifically meaningful action is to postulate a model containing certainty (Alchian, 1950: 255).

Nesse sentido, Enke (1951) tambm focou na incerteza para defender que a hiptese de maximizao de lucros, no curto prazo, inaceitvel:

The explanation of this unreasonableness is not simple ignorance of the logic of profit-maximizing theories or the practical impossibility of knowing all the relevant functions of the moment and relating them to another. It is also that, in the face of future uncertainty, the profit-maximizing motive does not provide the entrepreneur with a single and unequivocal criterion for selecting one policy from among the alternatives open to him (ENKE, 1951: 567)

A crtica de Alchian (1950) e Enke (1951) hiptese de maximizao de lucros, como bem observado por Hodgson (1998), encontra paralelo na crtica aos fundamentos da economia neoclssica levantados na obra de Thorstein Veblen. Nesse sentido, vale lembrar que a idia de que a economia neoclssica imputa s firmas e aos indivduos a lgica do clculo hedonista, determinado sob um formato animista a base da crtica vebleniana . Alchian, apesar de no dar crditos a Veblen, retoma a crtica deste autor e prope como alternativa a retirada deste animismo com as vestes da maximizao dos fundamentos do comportamento da firma. Por sua vez, Enke (1951) argumenta que apesar da firma se comportar buscando maximizar lucros, considerar que ela realmente os maximiza uma coisa completamente diferente: It is impossible for each isolated firm to maximize profits... The fundamental difficulty is that a desire to maximize profits does not provide the entrepreneur with an action prescription (Enke, 1951: 568).

O argumento da Seleo Natural de Alchian (1950) construdo sobre a concepo de que as firmas buscam uma soluo satisfatria ou lucros positivos, mas no necessariamente lucros mximos. Substitui-se, portando, a rigidez da pr-concepo do comportamento maximizador neoclssico pela resultante de processo de competio determinado pela busca de lucros. O sucesso, ou viabilidade, das firmas depende desta forma de sua sobrevivncia num sistema econmico em que

Realized positive profits, not maximum profits, are the mark of success and viability. It does not matter through what process of reasoning or motivation such success are achieved. The fact of its accomplishment is sufficient. This is the criterion by which the economic system selects survivors: those who realize positive profits are the survivors; those who suffer losses disappear (ALCHIAN, 1950: 255).

Assim sendo, Alchian (1950) aponta para as diferenas de lucros entre as firmas como critrio geral de um processo de seleo de mercado onde somente as empresas lucrativas prosperam. importante compreender nesse sentido que para Alchian (1950) a competio levaria a resultados bons, mas no necessariamente aos melhores (Anderson, 1988).

Assim sendo, Alchian retira de sua abordagem o fundamento de maximizao defendido pela teoria neoclssica, substituindo-o pelo argumento da Seleo Natural onde: The crucial element is ones aggregate position relative to actual competitors, not some hypothetical perfect competitors (Alchian, 1950: 213).

Hodgson (1994) destaca a importncia desta abordagem pioneira de Alchian:

Alchian sees the idea of evolutionary selection less as a buttress and more as an alternative to the assumption that individual firms are attempting to maximize their profits (HODGSON, 1994: 415)

Buscando evitar compreenses equivocadas a respeito de sua metfora biolgica, entendida nos termos da teoria sinttica da Evoluo, Alchian (1950) enftico em dizer que a sua abordagem, que utiliza explicitamente o termo Seleo Natural, no considera que a mutao dentro do processo evolucionrio econmico construda de forma randmica, semelhante variao aleatria dos genes da sntese moderna da biologia evolucionria. Alchian destaca que evidente que a firma possui elementos de previso e motivao que produzem um comportamento deliberado, completamente diferente, portanto, da forma como a variao aparece no mundo biolgico.

Apesar de reconhecer a especificidade da variao intencional no comportamento da firma, Alchian (1950) aponta que mesmo se no se levasse em considerao o comportamento deliberado das firmas e se fosse presumido, equivocadamente, que a alterao no comportamento das mesmas pudesse se dar de forma aleatria como ocorre no construto da teoria sinttica da Evoluo observar-se-ia que dentro do conjunto amplo das aes individuais haveria certamente comportamentos que seriam os melhores no sentido da adaptao s condies vigentes. Desta forma, o autor defende que mesmo se as firmas agissem sem um propsito definido, a Seleo Natural selecionaria aquelas empresas que obtivessem lucros positivos. Hirshleifer (1977), em comentrio a esta viso, complementa: the environment would nevertheless select (adopt) relatively correct decisions in the sense of meeting the positive realized profit condition of survival (Hirshleifer, 1977: 9)

A proposta de Alchian (1950) para entender o comportamento das firmas compreend-las como seguidoras de regras. Desta forma, o autor busca identificar regras de ao que estariam entre a variao de comportamento aleatrio e seu oposto, ou seja, a hiptese maximizadora de lucros. Assim, Alchian traa dois comportamentos factveis para as firmas: o comportamento imitativo e o comportamento baseado em tentativa e erro.

A explicao acerca do comportamento baseado em tentativa e erro chega a uma concluso surpreendente, que abre um precedente terico para uma nova concepo econmica acerca do comportamento maximizador da firma:

This has been used with profit maximization, wherein, by trial an ensuing success or failure, more appropriate actions are selected in process presumed to converge to a limit of profit maximization equilibrium (ALCHIAN, 1950:261).

A regra de ao baseada na tentativa e erro, portanto, abre uma perspectiva controversa na idia de Seleo Natural na Teoria da Firma: no limite as firmas selecionadas tendero a ser aquelas que maximizam. Enke (1951) concorda com esta idia e a desenvolve. Este autor argumenta que as foras que fazem a competio se ajustar no longo prazo acabam selecionando as firmas que alcanam lucros mximos, sendo que tal resultado ocorreria como uma decorrncia lgica do processo de competio capitalista. Neste sentido, Hirshleifer (1977) sintetiza a viso de Enke:

As firms pursuing successful policies expand and multiply, absorbing a larger fraction of the market, a higher and higher standard of behavior becomes the minimum criterion for competitive survival. In the long run, viability dictates optimality (HIRSHLEIFER, 1977: 10).

Porm, Enke (1951) pondera que o longo prazo, que ditaria a proeminncia de comportamentos timos, no algo temporalmente alcanvel:

Unfortunately, as is well known, long run equilibrium is in practice never attained. The processes of long-run adjustment are always being interrupted, before they work has been completed, by some new autonomous event (ENKE, 1951: 571).

Apesar disto, Enke (1951) assinala, no mesmo sentido de Alchian (1950), que o economista, conhecedor das tendncias de longo prazo, poderia prever como as firmas se ajustariam com o passar do tempo. Se no longo prazo em condies de concorrncia perfeita os participantes do mercado obtm apenas lucros normais, no haveria espao para comportamentos sub-timos, ou seja, somente sobreviveriam as firmas que adotassem regras maximizadoras de lucros. Nesse sentido, Enke, opinando sobre a teoria da concorrncia monopolista de Chamberlin (1933), assinala a tendncia de que somente as firmas com lucro mximo sobrevivam:

Professor Chamberlins use of marginal analysis in his theory of monopolistic competition is acceptable as an approximation; surviving firms compete sufficiently that long run profits must be meager, and when profits are meager there is little latitude for suboptimum policies (ENKE, 1951: 577)

Uma decorrncia da idia de Alchian (1950) e Enke (1951) a abordagem realizada por Friedman (1953), que refunda a hiptese da maximizao de lucros baseada nos termos evolucionrios explicitados acima. Na seqncia buscaremos compreender os pontos fundamentais da interveno de Friedman, a qual foi especialmente influente como argumento de defesa da concepo de maximizao neoclssica dentro da controvrsia marginalista.

4. A evoluo teleolgica de Friedman TC "2.4. A evoluo teleolgica de Friedman" \l 2 O economista norte-americano, Milton Friedman, teve papel de destaque na controvrsia marginalista com um dos representantes da reao neoclssica neste debate .

Em seu trabalho de 1953, The Methodology of Positive Economics, Friedman apresenta uma nova abordagem acerca da maximizao. Tal concepo, assentada nas valiosas observaes de Alchian (1950) e Enke (1951), reafirma os fundamentos da teoria da firma neoclssica em termos inovadores. Segundo Hodgson (1998), Friedman apropriou-se de certos conceitos evolucionrios para justificar as hipteses neoclssicas:

Friedmans use of metaphor of natural selection bolstered a key element in the mechanistic paradigm... Friedman has applied simplistically a half-assimilated idea from Darwinian biology to reinforce the mechanistic paradigm of neoclassical economics. (HODGSON, 1998: xxii).

A idia de Seleo Natural como justificativa da maximizao de lucros claramente o resultado lgico dos elementos apresentados na abordagem de Alchian (1950) e Enke (1951). Como foi visto no tpico anterior, estes dois autores j haviam levantado a hiptese de que um processo de seleo guiado pelos lucros positivos, no longo prazo ou no limite, selecionaria as firmas que maximizassem lucros.

Friedman (1953) constri uma linha argumentativa que refora a concepo de maximizao, porm no reduzindo-a a uma tendncia evolutiva de um processo temporalmente longo, mas sim como uma justificativa lgica, que a reafirma como elemento metodolgico para analisar o presente. Desta maneira, Friedman transforma a maximizao de lucro, de um resultado ex-post de um processo dito evolucionrio, para pressuposto ex-ante metodologicamente vlido para explicar o comportamento da firma.

Buscando rebater as crticas hiptese de maximizao da teoria da firma neoclssica, Friedman (1953) aponta que qualquer argumento que seja construdo apontando para os eventos que ocorrem dentro da firma como evidncia de que estas no possuem capacidade de maximizar no afeta a viso de maximizao de lucros como fundamento bsico da teoria da firma ortodoxa. Friedman justifica a sua posio assinalando que a teoria da firma no deve ser compreendida como o que o prprio nome sugere uma teoria sobre a firma mas sim deve ser vista como uma teoria do comportamento de mercado, externo firma.

Adotando esta posio, Friedman (1953) se abstm de discutir os determinantes comportamentais que emergem da organizao interna da firma, pois segundo o autor, o realismo da teoria desenvolvida no o ponto que realmente importa, mas sim o seu poder de previso:

The relevant question to ask about the assumptions of a theory is not whether they are descriptively realistic, for they never are, but whether they are sufficiently good approximations for the purpose in hand. And this question can be answered only by seeing whether the theory works, which means whether it yields sufficiently accurate predictions (FRIEDMAN, 1953: 15)

Desta forma, Friedman (1953) assinala que a hiptese de maximizao permite previses que so boas o suficiente para representar o comportamento das empresas em um mercado competitivo. Assim sendo, o autor enftico em dizer que apesar dos homens de negcios no resolverem de forma literal um sistema de equaes simultneas, as empresas se comportam como se tivessem curvas disponveis e marginalmente maximizassem os lucros.

Para justificar a hiptese de maximizao como resultante da ao da firma, Friedman (1953) retoma o argumento da Seleo Natural levantado por Enke (1951):

Whenever this determinant happens to lead to behavior consistent with rational and informed maximization of returns, the business will prosper and acquire resources with which to expand; whenever it does not, the business will tend to lose resources and can be kept in existence only by the addiction of resources from the outside (FRIEDMAN, 1953: 22)

Desta forma, Friedman (1953) faz duas afirmaes que se reforam mutuamente: a primeira a idia de que o importante o poder de preditivo de uma teoria e no se ela representa a realidade de forma fiel. A segunda idia a de que existe um processo de Seleo Natural atuando sobre as firmas, permitindo que apenas as que maximizem os lucros persistam. Assim sendo, a Seleo Natural aparece como um reforo importante da hiptese de maximizao, que surge como um resultado lgico de um processo competitivo. Assim sendo, adotando a viso metodolgica do como se, Friedman abandona a interpretao da maximizao em termos animistas no sentido vebleniano e entende que ela resultado de um processo evolucionrio com um fim teleolgico, ou seja, pr-concebido. Essa tentativa de combinar o princpio de maximizao, como teleologia, com argumentos evolucionrios ser alvo de uma das crticas fundamentais hiptese de Seleo Natural de Friedman, objeto do tpico a seguir.

5. Maximizao evolucionria? Um compndio de crticas TC "2.5. Maximizao evolucionria? Um compndio de crticas" \l 2 Penrose (1952) critica asperamente o argumento de Seleo Natural de Alchian (1950). Para a autora, h grandes falhas na interpretao dos processos econmicos quando se utilizam analogias biolgicas. De forma enftica, Penrose assinala que a hiptese da viabilidade exclui o componente motivacional e intencional humano do prprio resultado das relaes econmicas que, como visto no item anterior, um desdobramento lgico desta particular concepo de Seleo Natural:

Individual motivation and foresight, while sufficient, are not necessary... Again we find that the characteristic of the analogy employed is to provide an explanation of human affairs that does not depend on human motives (PENROSE, 1952: 810, 811-812)

A crtica de Penrose (1952) importante no sentido de chamar a ateno e trazer o homem de volta ao papel de protagonista dos processos econmicos. O ambiente, na viso de Alchian (1950), Enke (1951) e Friedman (1953), uma entidade seletiva onipotente e externa aos elementos que o integram. Convm reiterar que nesta concepo mesmo que os agentes sigam um comportamento aleatrio, o processo seletivo, no longo prazo, premiar os comportamentos maximizadores. Penrose acertadamente alerta que o prprio ambiente seletivo pode ser moldado e comandado pelas prprias entidades, sendo que estas no so apenas os objetos de um processo de seleo, mas tambm os agentes deste processo.

Hodgson (1994) e Winter (1964) assumem posio semelhante de Penrose (1952) em relao concepo de seleo. Winter claro em estabelecer a interdependncia entre ambiente e firma, compreendendo a dinmica que este processo apresenta:

If the habitual reactions of some firms at a particular time are consistent with profit maximization, and if as a consequence these firms expand relative to other firms in the economy, this very fact will tend to alter the market price environment facing all firms. It is not clear why, in this altered environment, the same firms should continue to have good fortune to be closer to maximizing behavior than their competitors the environment is changed by the dynamic process itself (HODGSON apud WINTER, 1994: 448)

importante assinalar que esta concepo ambiental interativa, ao contrrio da viso evolucionria neoclssica, est totalmente de acordo com a abordagem darwiniana, sendo que esta perspectiva reforada pelos desenvolvimentos da teoria sinttica da Evoluo. Hodgson (1994) relembra Lewotin (1974) que argumenta que se as adaptaes favorveis podem ajudar as unidades envolvidas, o acmulo destas adaptaes pode produzir alteraes no prprio ambiente. Assim, pode-se produzir uma situao em que a prpria adaptao no permita mais resultados benficos para as unidades (Hodgson, 1994: 449). Em artigo de 1956, o geneticista Theodosius Dobzhansky e o estatstico Gordon Allen, explicam a dinmica do ambiente e a seleo na concepo da biologia moderna enfatizando a constante mutabilidade das condies ambientais:

A seleo evidencia a adaptabilidade dos gentipos apenas a ambientes existentes no momento. Por esse motivo, a direo e a intensidade da seleo natural so to mutveis quanto os ambientes (DOBZHANSKY e ALLEN, 1956: 328).

Winter (1964) assinala que a justificativa para a hiptese de maximizao adotada por Friedman (1953) no possui aplicabilidade geral para compreender o comportamento da firma. Winter defende que, para que exista um processo de seleo que leve somente sobrevivncia as firmas maximizadoras, seria necessrio um modelo de mundo muito especfico, determinado por um grande nmero de condies restritivas. De forma sinttica, apresentamos a seguir estas imprescindveis exigncias tericas explicitadas no artigo de Winter para que a maximizao ocorra. As condies seriam: i) a existncia de um ambiente com informao perfeita e sem custo; ii) as firmas deveriam possuir funes de produo dadas, podendo fazer ajustamentos de curto prazo observando as condies de mercado; iii) as empresas comportar-se-iam de maneira competitiva (no podendo haver guerra de preos); iv) para cada empresa haveria um limite cumulativo de perdas que quando atingido levaria sua extino; v) os retornos de escala teriam de ser constantes; vi) as empresas produziriam produtos idnticos com as mesmas condies de custo; vii) o lucro diferencial necessariamente levaria a maiores taxas de crescimento das maximizadoras em relao s no-maximizadoras (os lucros no seriam, portanto, gastos no pagamento de dividendos ou em outros gastos que no implicassem crescimento); viii) a escala de produo das firmas tomadas em conjunto no poderia ser alta o suficiente para que os preos de mercado no permanecessem baixos por um perodo longo pois a falta de lucros poderia fazer com que as firmas maximizadoras que no possussem recursos suficientes para sofrer recorrentes prejuzos fossem extintas, enquanto que as no maximizadoras, que possussem maiores recursos, permanecessem no mercado.

Explicitando este rol de condicionantes, Winter (1964) restringe a aplicabilidade da abordagem de Friedman (1953), evidenciando que a idia de processo de Seleo Natural como fim teleolgico maximizador no tem aplicabilidade geral, mas sim um caso restrito que exige, para ser alcanado, uma absteno completa dos determinantes fundamentais que compem uma abordagem genuinamente evolucionria e darwiniana.

Winter (1964) compreende que a empresa pode no estar verdadeiramente comprometida em obter lucros, muito menos mximos. Isto poderia suceder uma vez que os gestores da firma podem perseguir outros objetivos que no os que so desejveis pelos acionistas. Assim sendo, Winter defende que necessrio analisar as estruturas que compem a firma como organizao para compreender o seu comportamento efetivo.

A teoria neoclssica parte do pressuposto de que a firma maximiza lucros, ou seja, a teoria ortodoxa incorpora como elemento metodolgico um resultado previamente definido. Nesse sentido, Winter (1964), aponta que na viso neoclssica existe uma funo bem definida para as hipteses auxiliares que de alguma forma contradigam estas pr-concepes tericas:

The auxiliary hypothesis which restricts the predictive range of the traditional theory to market phenomena is an ex post amendment to the theory; furthermore, it is not an amendment that suggests a new range of testability for the theory as amended, but one that rules out tests considered ex ante to be appropriate (WINTER, 1964: 22)

Desta forma, Winter (1964) retoma uma crtica levantada por Veblen (1898) que argumenta que o mtodo dos economistas clssicos o de construir leis que apontam para um fim pr-estabelecido como uma tendncia. Esta pr-concepo serve como parmetro para a construo de teorias nas quais:

the investigator contents himself with an appeal to its legitimation for premises that run back of the facts with which he is immediately, for the controlling principles that are conceived intangibly to underlie the process discussed, and for the tendencies that run beyond the situation as it lies before him (VEBLEN, 1898: 382)

Assim sendo, observamos que Friedman (1953) realizou uma interessante transio da idia da hiptese de maximizao como um fundamento animista para um argumento teleolgico, ou seja, Friedman passa de uma concepo sobre a natureza maximizadora das firmas anloga a uma lei natural, fundada na idia de a God-given notation of the hedonistic calculus (Veblen, 1909: 631), para a concepo de que o comportamento maximizador possui a chancela de um processo baseado na idia de Seleo Natural. O argumento de Friedman , portanto, teleolgico e anti-evolucionrio ao estabelecer um fim ou objetivo para o processo de Seleo Natural das firmas..

A preservao do princpio maximizador compromete a tentativa neoclssica de adequar uma idia evolucionria darwiniana de Seleo Natural a um ideal de teoria profundamente essencialista. importante reiterar a viso de que uma teoria evolucionria legtima no d espao para leis naturais em termos teleolgicos. Nas palavras de Veblen (1898):

The notion of a legitimate trend in a course of events is an extra evolutionary preconception, and lies outside the scope of an inquiry into the causal sequence in any process (VEBLEN, 1898: 182)

O trabalho de Winter (1964) fundamental nesse sentido, pois identifica os equvocos tericos da concepo de Seleo Natural da forma como foi empregada na perspectiva neoclssica. Neste contexto, Winter claro em explicitar como a idia sintetizada por Friedman (1953) vaga e insuficiente para compreender os mecanismos de seleo e a natureza do processo evolucionrio.

A bem da verdade, para que a seleo na tica darwiniana acontea necessrio que existam elementos que variem e que sejam herdveis. Isto no contemplado nos trabalhos de Alchian (1950), Enke (1951) e Friedman (1953). No trabalho destes autores, no h nenhum elemento que explique por que as firmas que maximizaram no passado voltariam a maximizar no futuro, ou seja, mesmo havendo um processo de seleo que permita a sobrevivncia apenas das firmas maximizadoras, no h nada que teoricamente as comprometa a maximizar em perodos posteriores, assim como no h nenhum elo histrico que ligue os eventos nesta abordagem. O termo Seleo Natural relegado por esses autores a um mecanismo de limpeza, a imagem metafrica de uma vassoura, que elimina o no adaptado, desconsiderando quaisquer princpios de variao e herana. Compreendendo estas deficincias da perspectiva evolucionria neoclssica, Dosi e Nelson (1994) assinalam de forma enftica que:

The as... if argument by Milton Friedman (1953) can be considered the most rudimentary use of an evolutionary point of view in order to justify the assumptions of equilibrium and rationality. (DOSI e NELSON, 1994: 154).

Nesse sentido, Hodgson (1994) enftico em apontar que for natural selection work there must be heritable variation in fitness and this is missing from Friedmans account (Hodgson, 1994: 448). Assim, til apontar que a construo acerca da Seleo Natural nos moldes neoclssicos no levou em conta os avanos cientficos da prpria teoria darwiniana, pois o surgimento da analogia de Seleo Natural no mundo econmico iniciada por Alchian (1950) no contemplou os elementos ontolgicos que governam a prpria seleo natural no mundo biolgico, regida pelos princpios de variao, seleo e herana.

Winter (1964) construiu uma teoria evolucionria especfica, muito mais consistente e apoiada nos prprios avanos da teoria sinttica da Evoluo do que a justificativa neoclssica para a hiptese de maximizao. A distino gentipo-fentipo, inexistente no argumento neoclssico, prova da superioridade da viso evolucionria de Winter. Hodgson (1994) claro em evidenciar que esta distino importante do trabalho de Winter foi pedra fundamental para a construo do clssico Uma Teoria Evolucionria da Mudana Econmica de Nelson e Winter (1982):

The genotype-phenotype distinction in biology suggests to Winter an analogous and important distinction in the socioeconomic sphere: between rules of action and action itself. Nelson and Winter (1982) develop the idea that habits or routines act as the economic analogue of gene in biology (HODGSON, 1994: 416)

O tpico seguinte dedica-se apresentar o modelo evolucionrio bsico de Winter (1964). O objetivo do tpico no o de verificar todos os desenvolvimentos da idia de Winter, mas sim compreender os conceitos gerais de sua abordagem evolucionria, evidenciado como esta formalizao acaba incorporando as concepes que fundamentam uma verdadeira cincia evolucionria darwiniana.

6. O modelo geral de Winter (1964): Metodologicamente evolucionrio TC "2.5. O modelo geral de Winter (1964): Metodologicamente evolucionrio" \l 2 A abordagem inovadora de Winter (1964) assinala fundamentalmente que h de existir uma ligao entre os mecanismos decisrios e a estrutura da organizao que, como vimos, elemento no contemplado no argumento de Seleo Natural neoclssico. O tratamento que Winter dispensa para entender o mundo econmico revela a necessidade de incorporar um conceito gentico como componente ontolgico para utilizar a idia de Seleo Natural na Economia. Em Winter (1971) o autor explcito: To make a natural selection argument plausible in economics, some mechanism playing the role of genetic inheritance must be discovered (Winter, 1971: 245).

Nesse mesmo sentido, Dobzhansky e Allen (1956) argumentam que para que a concepo de Seleo Natural seja absorvida por completo preciso que as unidades de seleo sejam caracterizadas pela capacidade de sobrevivncia diferencial decorrente de sua composio gentica:

Para ser efetiva a seleo natural tem de ser seletiva. Em mdia, os sobreviventes devem ser melhor adaptados para viver do que os no-sobreviventes. Os sobreviventes devem ser mais fortes, ou mais inteligentes... Mas nem mesmo todas essas virtudes combinadas melhoraro a qualidade da prognie a menos que a aptido dos sobreviventes e a inaptido dos extintos sejam devidas aos seus genes (DOBZHANSKY e ALLEN, 1956: 324-325).

Da mesma maneira, Popper (1978), tambm refora o papel da perspectiva gentica como componente necessrio para uma concepo de Seleo Natural completa: the selection pressures, if there are any, will leave their imprint upon the genetic material (Popper, 1978: 145). Analisando a viso evolucionria darwiniana de Winter (1964), Hodgson (1994) assinala a crtica fundamental ao conceito de Seleo Natural para a hiptese maximizao nos termos da analogia gene-rotinas:

The key question is not will maximizing behaviour be selected? but will routines giving rise to maximization become dominant through repeated selection? (HODGSON, 1994: 424)

Desta maneira, para alm de conter as crticas mais contundentes ao argumento de Seleo Natural como justificativa para a maximizao, Winter (1964) prope uma profcua abordagem evolucionria alternativa, muito mais aderente metodologia darwiniana. Nesse sentido, veremos a seguir como Winter constri sua perspectiva, enfatizando o carter dinmico e no teleolgico de sua proposta, contrastando fortemente com o argumento evolucionrio para a maximizao, cristalizado no trabalho de Friedman (1953).

O propsito do modelo de Winter (1964) buscar compreender a dinmica evolucionria decorrente da interao de um conjunto de firmas e sua relao com um ambiente especfico. O comportamento das firmas no convergente, e muito menos homogneo. Cada ao tomada pela empresa deriva de sua prpria observao e interpretao a respeito de um estado de mundo. Assim, cada firma determina uma ao especfica, completamente dependente de sua forma organizacional. Como decorrncia, Winter compreende que os resultados vo ser variveis, sendo que as foras seletivas agem sobre as firmas utilizando estes resultados como parmetros relevantes. Porm, ao contrrio da perspectiva de Friedman (1953), os impactos da seleo so entendidos como distintos em cada firma. Desta forma, veremos que o processo evolucionrio de Winter no possui o elemento teleolgico da convergncia maximizadora derivado do argumento neoclssico.

O modelo evolucionrio de Winter (1964) utiliza um sistema de equaes em diferenas, tendo como objetivo investigar de maneira formal o comportamento dinmico da firma. importante compreender que a utilizao deste sistema de equaes insere um componente dinmico e temporal para determinao do comportamento da firma, ausente da abordagem neoclssica.

Winter (1964) inicia sua explicao definindo conjuntos, sub-conjuntos e equaes. As letras maisculas (A, X, W, F) representam os conjuntos, as minsculas (a, x, w, f ) representam os elementos dos conjuntos. As funes so representadas por letras gregas (, , ). O subescrito j indica que aquele conjunto ou elemento do conjunto esta associado com a firma j. O subescrito t indica o estado possvel de uma entidade no momento t.

A primeira definio necessria a idia de estado do mundo, o qual composto pelas variveis de estado das firmas conjuntamente com as variveis externas. O estado do mundo parcialmente descrito atendo-se ao estado das m firmas que o compem, isto feito por um vetor de p variveis de estado da firma. Estas variveis de estado podem ser: a planta, as mquinas, os dados de decises tomadas no passado, etc. O vetor de estado da firma pode ser descrito por , (j= 1, 2, 3...m), o conjunto de possveis vetores de estado da firma ser .

Para representar as variveis externas s firmas, que retrataro condies externas, como o tempo, impostos, guerras, usamos o vetor. Desta forma, um possvel estado de mundo representado pelo conjunto das variveis de estado da firma das m firmas em conjunto com o vetor das variveis externas . Desta forma um estado de mundo possvel poderia ser representado pelo vetor:

(1)

O processo de deciso das firmas ocorre em dois estgios distintos. No primeiro estgio, uma firma j, no momento t, obtm uma informao sobre o estado do mundo, onde um subconjunto das possveis informaes sobre estado do mundo que a firma j poderia obter (). A informao sobre o estado do mundo uma funo sobre o estado do mundo real () no momento t. Desta forma teremos a seguinte funo:

(2)

EMBED Microsoft Equation 3.0

Winter (1964) chama o parmetrode estrutura informacional da firma j.

O segundo estgio do processo de deciso da firma a escolha de uma ao dentro de um conjunto de possveis aes da firma j. A ao, porm, est limitada ao estado da firma e informao sobre o estado do mundo que a firma possui (). A regra de ao determina qual a ao que a firma deve tomar dependendo da informao sobre o estado do mundo e o estado da firma. Assim temos a seguinte equao:

(3)

O par ordenado o que Winter (1964) chamou de forma organizacional da firma, que pode ser compreendido como o conjunto de regras que guiam o comportamento da empresa (rotinas), atuando tanto na captao de informao do mundo sua volta (), quanto na ao atravs de seus recursos, sobre esse mundo (). O conjunto de regras gerais, ou forma organizacional da firma, representado por , assim:

(4)

Tendo isto definido, pode-se compreender de forma evolucionria a interao do comportamento das empresas com o ambiente. Uma equao em diferenas pode ser criada para compreender como um estado de mundo se transforma no decorrer do tempo. A determinao de dada por uma funo do estado do mundo no perodo anterior , as aes do conjunto das m empresas no perodo anterior e o prprio perodo t, que Winter justifica como uma mudana da prpria funo devido a alteraes temporais como descritas no seguinte trecho:

Time appears as an argument of the function because it is interesting in some specific models, to examine the implications of changes through time in such things as consumer preferences and the actions of government (WINTER, 1964: 247)

Assim temos a seguinte equao em diferenas em primeira ordem:

(5)

O seguinte sistema de equaes em diferenas simultneas aponta que uma vez que um estado do mundo inicial seja especificado (), pode-se determinar a mudana nos estados do mundo e nos estados da firma como segue:

(6)

Visando inserir o processo de Seleo Natural nesta construo, Winter (1964) sustenta que existiria um conjunto de vetores variveis de estados possveis contendo todos os vetores que caracterizariam que a firma j estaria eliminada do mercado. Assim, se tivermos a funo que implique um , saberemos que a firma encerrar suas atividades permanentemente. Teramos ainda que todas as formas organizacionais da firma j (), possuem a propriedade de que quando , teremos um , sendo que identificado como uma no ao da firma j.

No modelo de Winter (1964) encontramos uma abordagem muito mais completa do que o argumento de Seleo Natural neoclssico. A concepo de racionalidade limitada que Alchian (1950) assinalou, o fundamento da equao (2), onde a informao sobre um estado de mundo de uma firma () no completa, ou seja, ela depende de como a firma compreende o estado de mundo (), o que se d atravs de sua estrutura informacional ().

A ao depende dessa informao sobre o estado de mundo e o estado da firma. Assim sendo, na equao (3) temos a ligao entre os recursos da firma e servios (), determinados pelas rotinas, ou regras de ao ().

A concepo de forma organizacional da firma, apesar de no ser explcita no trabalho de Winter (1964), anloga funo dos genes na teoria sinttica da Evoluo. Tal semelhana dada pela caracterstica comum de tanto as rotinas como os genes serem regras que levam ao. Da mesma maneira, Dawkins (1976) explicita a funo dos genes como regras que determinam o comportamento:

Os genes controlam o comportamento das suas mquinas de sobrevivncia, no diretamente, com seus dedos nas cordas das marionetes, mas indiretamente, como um programador de computador (DAWKINS, 1976: 117)

Vemos que firma especfico. Compreende um conjunto de vetores possveis de variveis de estado da firma j, assim sendo, atribui-se a a propriedade de seletor das firmas. A cada variao de t, se altera (segundo a equao 6), evidenciando a dinmica temporal do processo de seleo. importante frisar que cada firma possui um conjunto distinto, isto significa que a seleo atua de forma diferente em cada empresa, no havendo nenhum horizonte teleolgico para este processo evolucionrio, ao contrrio do que ocorre quando recorremos ao argumento de Seleo Natural neoclssico e seu fim maximizador.

Fica claro, portanto, que a abordagem acerca dos mecanismos de atuao da Seleo Natural de Winter (1964) revela uma maior conformidade com concepes evolucionrias darwinianas do que a abordagem neoclssica da Seleo Natural. A idia de Evoluo visando estados pr-concebidos timos, que permeia a abordagem de Friedman (1953), no faz parte do modelo de Winter e fortemente refutada por qualquer teoria evolucionria de fundo darwiniano. A partir da perspectiva da teoria sinttica da Evoluo, Dobzhansky e Allen (1956) reafirmam este fundamento darwiniano, explicitando que a evoluo atravs de um processo de Seleo Natural no admite nenhum estado futuro pr-concebido ou teleologia:

A seleo natural , ento, acarretada pela sobrevivncia dos geneticamente aptos, no dos geneticamente mais aptos. A sobrevivncia dos mais aptos, de Spencer, era um slogan de valor na batalha em prol da teoria da evoluo. Mas o superlativo retrico falseia a situao real pelo fato de exagerar a ferocidade da luta pela existncia (DOBZHANSKY e ALLEN, 1956: 325).

O prprio Darwin (1959) j deixava claro que a Seleo Natural no produz resultados timos, nesse sentido, o autor j trazia o exemplo do olho humano, que apesar de toda a sua complexidade, deve ser corrigido atravs do uso de lentes. Para Darwin, as vespas ou abelhas tambm evidenciavam que a imperfeio pode ser uma resultante da Seleo Natural:

Acaso deveramos considerar perfeitos os ferres das vespas ou das abelhas, sabendo que esses, quando usados para atacar inimigos desses insetos, no podem ser retirados, uma vez que so serrilhados para dentro, e que por isso seu possuidor fatalmente morrer, visto que a perda do ferro acarretar tambm a perda de suas vsceras? (DARWIN, 1859: 267).

Usando um conjunto de evidncias que refutam a idia da Seleo Natural levar a arranjos timos, Darwin (1859) conclui que: A Seleo Natural no ter de produzir necessariamente a perfeio absoluta, e esta, tanto quanto nos permite julgar nosso limitado conhecimento, no dever ser encontrada em parte alguma deste mundo (Darwin, 1859: 271).

Fica claro, portanto, que para alm de uma repercusso retrica, como no caso do argumento de seleo neoclssico, os avanos da biologia evolucionria afetaram de forma contundente a perspectiva econmica de Winter (1964). Com o mesmo esprito evolucionrio exaltado pelo chamando vebleniano, Winter conseguiu fundar sua abordagem na dinmica dos princpios darwinianos, assimilando uma perspectiva causal e cumulativa associada aos elementos de variao, herana e seleo. Desta forma, o autor pde desenvolver, a partir do debate gerado pela controvrsia marginalista, uma teoria evolucionria muito mais apropriada e consistente para compreender o comportamento da firma do que aquela fundada no ideal essencialista neoclssico.

7. Consideraes finais

Este artigo partiu da constatao de que apesar do atual fenmeno de disseminao da utilizao do termo economia evolucionria, existe um recorrente esvaziamento de sentido associado ao que este termo representa.

Nesse sentido, o trabalho identifica o debate acerca da maximizao de lucros da firma, dentro do que ficou conhecido como controvrsia marginalista, como um dos importantes momentos da gnese desta atual divergncia a respeito do significado que o pensamento evolucionrio possui na economia.

Porm, para compreender os desenvolvimentos evolucionrios levados a cabo neste perodo especfico das idias econmicas, procuramos utilizar um ferramental analtico cientificamente reconhecido como evolucionrio. Desta maneira, a apresentao dos princpios construdos pela biologia evolucionria em meados do sculo XX, sob o rtulo de teoria sinttica da Evoluo, teve uma importncia dupla neste trabalho. Primeiro porque ao realizarmos este esforo de reviso, procuramos especificar de forma clara, os elementos cientficos que constituem a ltima fronteira do pensamento evolucionrio. Segundo porque esta apresentao inicial nos ajuda a caracterizar o prprio momento histrico em que a construo do argumento de Seleo Natural na economia, iniciada por Alchian (1950), estava inserida.

Desta forma pudemos compreender como, a partir da idia de Alchian (195) e Enke (1951), surgiram duas abordagens evolucionrias distintas. Uma perspectiva, defendida de maneira pioneira por Friedman (1953), absorvia um argumento selecionista como justificativa para a hiptese de maximizao. De forma totalmente oposta a esta caracterizao de processo evolucionrio, Winter (1964) apresenta outra abordagem, que fornece ao economista uma alternativa factvel perspectiva neoclssica, consubstanciada na apresentao de seu modelo evolucionrio geral.

A partir de sua viso caracterizadamente darwiniana, Winter (1964) recoloca de forma adequada a idia de Seleo Natural para compreender o comportamento da firma. Diferentemente de Friedman (1953), Winter no compreende a Seleo Natural como uma vassoura teleolgica que elimina as variaes e comanda um processo em direo perfeio, mas sim a entende como um movimento interativo sem um fim pr-concebido, que gera como resultado a complexidade e no a perfeio. Ademais, essa compreenso evolucionria de Winter, alm de consistente com as idias fundadoras de Darwin (1959), aderente forma de pensamento compartilhado e estabelecido pela maioria esmagadora dos grandes expoentes da biologia evolucionria contempornea. Desta maneira, explicitamos que metodologia evolucionria darwiniana, quando aplicada de forma apropriada, pode levar a resultados muito mais consistentes com a complexidade do mundo socioeconmico do que os argumentos neoclssicos, caractersticos do que Veblen (1898) denominou de economia taxonmica.

Finalmente, gostaramos de apontar para a necessidade de um aprofundamento dessa temtica que, a nosso juzo, pode lanar luzes sobre os caminhos mais frteis a serem trilhados na busca de uma abordagem verdadeiramente evolucionria nas cincias econmicas que permita ultrapassar o marco das mecnicas elegantes e estticas que ainda delimita as fronteiras de boa parte da teoria econmica contempornea.

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Witt (2008, 547: 548) assinala o crescimento impressionante, a partir dos anos 1980, do uso do termo evolucionrio e suas variaes etimolgicas na base de dados EconLit, chegando em 2005 a constar em 1% das palavras-chave dos journals desta base. Hodgson (2001: 25) apresenta um grfico em que podemos observar a proliferao do uso do termo evoluo nas publicaes acadmicas a partir da dcada de 1980 comparadas a seu uso menos disseminado em dcadas anteriores. Hodgson associa a disseminao do termo em razo da grande repercusso na academia do livro Uma Teoria Evolucionria da Mudana Econmica de Nelson e Winter (1982). Nesse sentido vale ressaltar que a popularizao da vertente evolucionria gerou uma publicao especfica dedicada ao tema, o Journal of Evolutionary Economics, que iniciou a seus trabalhos a partir de 1991.

Hodgson (1998) destaca que com essa definio ampla poderamos classificar como economistas evolucionrios, boa parte dos grandes expoentes da histria do pensamento econmico como Smith, Marx, Schumpeter, Veblen, Keynes, etc.

Apesar de considerarmos a perspectiva darwiniana um sinnimo de abordagem evolucionria, o trabalho no ir se debruar sobre o atual debate acerca da adoo de uma ontologia darwiniana para compreender os processos econmicos. Para um melhor entendimento sobre deste tema especfico recomendamos a leitura de Dawkins (1983, 1986), Hodgson (2002, 2007), Hodgson e Knudsen (2006), Cordes (2006), Possas (2008) e Luz e Fracalanza (2008).

Segundo Gould (1982), podemos relacionar os seguintes pesquisadores, autores-chave deste processo, s suas respectivas reas de atuao: Dobzhansky (gentica), Mayr (sistemtica), Simpson (paleontologia), Rensch (morfologia) e Stebbins (botnica).

A contribuio fundamental de Weismann foi o descarte completo da idia de herana de caractersticas adquiridas. Para Weismann uma mudana induzida pelo ambiente no indivduo no seria repassada para as geraes seguintes a no ser que esta mudana alterasse a linha de germe, ou seja, os gametas dos indivduos. Por outro lado, Mendel produzira uma teoria sobre a hereditariedade totalmente nova. Para Mendel os indivduos possuem unidades hereditrias (genes) que esto dispostas em pares (alelos). Os pares so divididos e recombinados no momento da reproduo sexual. A primeira lei de Mendel diz que durante a formao dos gametas os alelos se separam, abandonando o indivduo da mesma forma que entraram, sem nenhuma alterao decorrente do tempo em que permaneceram no corpo. A segunda lei de Mendel defende que os alelos se separam de forma independente, proporcionando uma grande quantidade de variaes entre os alelos que formam os gametas. Outra importante descoberta de Mendel foi a concepo de dominncia e recessividade entre os alelos, excluindo a idia de que a prole apresentaria caractersticas intermedirias de seus progenitores (Jablonka e Lamb, 2005). Ainda sobre a introduo da gentica como o mecanismo da evoluo, no podemos deixar de citar a importncia do trabalho seminal de Theodosius Dobzhansky para esta sntese: Genetics and the Origin of Species, de 1937.

Este ponto refuta a idia lamarckista de um processo de variao que envolva a herana de caractersticas adquiridas. Desta forma importante ressaltar que apenas a partir da verso da teoria sinttica da Evoluo que o lamarckismo foi refutado como teoria. O mesmo no ocorre quando compreendemos a concepo de evoluo do prprio Darwin. Hodgson (2004, 2007), Simpson (1947) e Dawkins (1983), tratam sobre a diferena das abordagens de Darwin e da sntese moderna da biologia evolucionria.

Esta questo foi intensamente debatida nas obras de Stephen Jay Gould e Richard Dawkins, j que para o ltimo os indivduos so governados por genes e, portanto, so os prprios genes, e no os indivduos, em ltima instncia, que esto sujeitos seleo. Gould j defende a idia de que existem diferentes nveis de seleo e as unidades podem variar, estas podem ser os indivduos, grupos ou espcies.

importante ressaltar que nos dias atuais tal distino entre plano e produto controversa. A microbiologia moderna levanta a possibilidade de que exista tambm uma relao inversa, a repercusso do ambiente no produto e este afetando o plano: No longer can we think about mutation solely in terms of random failures in DNA maintenance and repair. We know now that stress conditions can affect the operation of the enzyme systems that are responsible for maintaining and repairing DNA, and parts of these systems sometimes seem to be coupled with regulatory elements that control, how, how much, and where DNA is altered (Jablonka e Lamb, 2005: 89).

A controvrsia marginalista envolveu a discusso sobre os princpios metodolgicos da abordagem marginalista (neoclssica) do comportamento da firma em uma srie de artigos publicados na American Economic Review entre 1947 e 1953. Contudo, num sentido menos estrito e que convenientemente adotamos aqui, a controvrsia marginalista refere-se s discusses sobre a teoria da firma que tiveram lugar em vrios peridicos e conferncias britnicos e norte-americanos entre 1939, com a publicao do clebre artigo de Hall e Hitch, e 1955. A esse respeito ver especialmente Mongin, P. (1997).

Veblen (1900) utiliza o termo animismo para caracterizar um dos dois cnones de verdade dentro da economia neoclssica: imputar s unidades de anlise (indivduos e firmas) uma concepo psicolgica hedonstica-associativa. O outro cnone de verdade seria a convico de tendncia teleolgica equilibrista, decorrente da interao destas unidades hedonistas.

decorrente deste precedente terico aberto por Alchian (1950) que temos hoje dois tipos de interpretaes completamente distintas sobre a essncia de seu trabalho. A idia de que a perspectiva de Alchian (1950) introduziu uma concepo seletiva evolucionria alternativa hiptese de maximizao de lucros, como defendida por Hodgson (1994), no consenso. Blume e Easley (2007) assinalam exatamente o contrrio, defendendo que Alchian utilizou o argumento evolucionrio para fundamentar a hiptese de maximizao de lucros, sendo que esta a verdadeira essncia de seu trabalho: It could be that market selects for firms and investors who behave as if they are rational. This last defence of the use of rationality is the essence of the quote from Alchian (1950). (Blume e Easley, 2007: 2). Na seqncia do artigo, iremos ver que Friedman (1953) tem a mesma interpretao que Blume e Easley sobre a obra de Alchian.

Machlup (1946) um dos mais influentes autores na controvrsia marginalista e conjuntamente com Friedman promoveu a defesa da teoria neoclssica da firma, acusada de falta de realismo. Nos limites desse artigo, porm, recorreremos to somente contribuio de Friedman de 1953, uma vez que esse autor utiliza expressamente em seu trabalho o argumento da Seleo Natural. Para uma interessante discusso sobre a reao ortodoxa empreendida por Machlup e Friedman ver Nelson e Winter (1982, edio brasileira de 2005, p. 142-149).

interessante observar que neste ponto Friedman (1953) literalmente seleciona algumas crticas de Veblen concepo animista da firma neoclssica, esquecendo-se das crticas veblenianas mais incmodas em sua defesa da hiptese de maximizao. No prximo item do presente artigo, apresentam-se os questionamentos de Veblen no analisados por Friedman.

Screpanti e Zamagni (1997) enfatizam a famosa analogia de Friedman (1953) acerca da idia do poder de previso das hipteses e o comportamento maximizador: En esencia, para Friedman el empresario se comportaria como un experto jugador de billar que golpea la bola con la velocidad y el ngulo necesarios aun sin conocer las leyes de la fsica o de la geometria (Screpanti e Zamagni, 1997: 394-395). Winter (1971) destaca a importncia desta construo terica de Friedman como argumento de defesa na economia neoclssica: Perfect information and costless computation assumptions are typical, for congent reasons of analytical tractability and empirical content. When this assumptions are challenged, the as if argument is invoked in defense (Winter, 1971: 243).

A autora realiza algumas crticas de carter geral acerca do uso de analogias biolgicas na economia. Devido a um problema de espao e adequao, o presente artigo no ir versar sobre esta questo. Para uma discusso mais aprofundada e atualizada acerca do uso de analogias biolgicas, aconselham-se a leitura de Penrose (1952,1959), Corazza e Fracalanza (2002), Hodgson (2002) e Possas (2008). Sobre o uso de metforas e analogias na economia sugere-se a leitura de McCloskey (1985), Klamer e Leonard (1994) e Leatherdale (1974).

Hodgson (1994) discorda da condio de retornos constantes de escala de Winter (1964). Para Hodgson a condio restritiva deveria ser a de retornos decrescentes de escala com perturbaes aleatrias.

O escopo do presente trabalho no busca analisar de forma detida a totalidade das crticas relativas idia de maximizao como decorrncia de um processo de seleo, mas sim verificar a inconsistncia da abordagem de Friedman (1953) com relao aos desenvolvimentos das idias das cincias evolucionrias. Desta forma recomendamos Winter (1964) e Hodgson (1994) para uma anlise mais aprofundada a respeito das condies restritivas assinaladas neste trecho.

Galbraith (1967, 1983, 2004) analisou detidamente o comportamento da firma e a relao entre os interesses da administrao e dos proprietrios, confirmando a possibilidade levantada por Winter (1964). Na realidade, h uma extensa literatura a respeito dos conflitos e das formas de alinhamento entre os interesses dos proprietrios e acionistas da firma influenciada pelo trabalho seminal de Berle e Means (1932). Para uma interessante apreciao sobre o debate contemporneo sobre essa questo ver Lazonick e OSullivan (2000).

Grifos nossos.

A relao entre recursos e servios esposada por Penrose (1959) permeia a concepo evolucionria de Winter (1964). Esta perspectiva abriu caminho para a concepo das rotinas como elementos anlogos relao gentipo-fentipo da teoria sinttica da Evoluo, cristalizada no que Winter compreende aqui como a interao entre forma organizacional e a ao da firma.

Recomendamos a leitura de Nelson e Winter (1982), no qual relao entre regras de ao e comportamento apresentada com maior profundidade, assim como a comparao entre a funo dos genes, hbitos individuais e as rotinas.

Vale assinalar neste ponto, que verificamos a existncia de uma lacuna explicativa no trabalho de Winter (1964) no que concerne a sua concepo do conjunto de vetores de estados EMBED Microsoft Equation 3.0 . Apesar do conjunto firma especfico EMBED Microsoft Equation 3.0 determinar os estados de firma j que indicam que ela estaria eliminada do mercado, retirando qualquer interpretao teleolgica de sua abordagem, Winter (1964) no explica o processo que determina os valores que conformam o conjunto EMBED Microsoft Equation 3.0 . Nesse sentido, se quisermos compreender EMBED Microsoft Equation 3.0 atravs dos elementos de uma abordagem evolucionria darwiniana, deveramos especific-lo como dependente das variveis de estado de mundo EMBED Microsoft Equation 3.0 dada pela equao (1). Isto porque, somente atravs da especificao da dependncia de EMBED Microsoft Equation 3.0 aos valores de EMBED Microsoft Equation 3.0 , evidenciar-se-ia que o ambiente seletivo comportado pelas prprias entidades selecionveis em conjunto com variveis externas, ou seja, EMBED Microsoft Equation 3.0 . Como vimos no tpico anterior, esta concepo especfica de EMBED Microsoft Equation 3.0 , como dependente das relaes que ocorrem dentro da dinmica ambiental, esta totalmente de acordo com a perspectiva darwiniana.

Nesse sentido vale citar uma importante pesquisa realizada pela Universidade de Cornell atravs do Cornell Evolution Project (www.cornellevolutionproject.org), comandado pelo zologo norte-americano Gregory Graffin. Nesta pesquisa foi elaborado um questionrio em que se abordam diversos temas como, a idia de evoluo, religio e finalidade, respondido pelos 274 maiores cientistas evolucionistas vivos. A pesquisa reveladora ao explicitar a no aceitao por parte destes cientistas da idia de propsito final na perspectiva evolucionria. Desta forma, quando perguntado: Qual a sua viso de propsito e progresso na evoluo?, 41,61% dos cientistas disseram no ver nem propsito nem progresso na evoluo, 48,30% disseram ver progresso, porm no propsito, 4,7% disseram ver progresso e propsito, 1,34% disseram ver propsito mas no progresso e 4,03% deixaram de responder a esta pergunta.

Grifos nossos

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