Teoria das Funções Municipais

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    PREFACIO

    The gl eat qucstiolls

    of slate,

    national,

    and, at present, world politics are impo)

    tant,interesting, and popular subjects

    foI

    discussion, but urban life as it unfolds

    itself

    in

    the movements

    of man from

    remot-

    est

    time to our own

    day

    is undoubtedly of

    immense

    practical value

    in

    the

    examples

    it

    affards al1d thc lcssons

    i t

    teaches. 1)

    FREDERIC HARRISON

    Os meios de comunicação c as facilidades de transporte

    11l di-

    ficaram completamente o conceito de vizinhança. J â não há regiões

    remotas

    11 mundo.

    Hoje em dia, pode-se dizer, q1lase tudo estIÍ

    senão

    ao

    alcance

    dai

    mão, pelo menos

    ao

    alcance

    da

    voz.

    Qualquer

    acontecimento

    menos

    trivial - o rapto da filha de um ricaço na

    Sicília,

    um

    pequeno desastre de estrada de ferro no Japão, a extin

    ção de coelhos na Austrália,

    um

    salto de esquia.dor na Finlândia --

      logo propagado aos quatro ventos, transmitido ao resto do munáo

    por um verdadeiro aranhol de vias de comunicação c sistemas de

    transporte. Para constituir essa formidável e 1Ilundial teia de ara

    nha, o homem mobilizou pràticamente tudo: as ondas hertzianas,

    a eletricidade, várias leis científicas, a termodinâmica, a eh trônica.

    os combustíveis -mais poderosos, engrenagens, instrumentos

    de

    pre

    cisão, as ondas do mar, os topos das montanhas, aviiies, automó

    veis, navios, locomotivas.

    1) The Meaning of

    HiBtory,

    MacMillan Londres, 1894.

    7

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    Graças a êsse

    el1redamc/1to de

    todos os paz,os

    /la

    mcsmo pro

    cesso

    de

    informação,

    as

    questões intenraciollais,

    tf rrzidas

    i/lsisten

    tementc ao rccesso dos lares pelo rádio, I dá tclcz isâo, Pelo jorna

    pela rr7./ista. c Pelo liz ,-o,

    dC11l(1ndal1l

    c cOllscgucm el1lpo yar a /lI'lio

    I'arccla das atcn,iits. Por exclllplo:

    )

    homcm ci7'ilizado prcocupa-s

    caJú

    dia

    (O/l i

    o que acollteCel/, ou está 'or aco/ltecer.

    /1iI

    ilha d

    Qlli'1Iloy 011 em Goza. O illundo illteiro acompaJ/ha,

    dia

    a

    di,),

    progresso

    do na7./cgador

    solitúrio, que illtenta / Inl7 cssia

    do

    Pac

    fico

    e1J lima simPles balsa, OH o

    do

    grupo

    dc

    alpinistas, que em

    prcende

    l

    escalada

    do pico

    Everest.

    Por slla vez, os problemas nacionais, estad lIais e regiona

    disputam vitoriosamcnte o espaço da imprensa e o tempo das esta

    ções de rádio e

    de

    tele7lisiío; e assim mais conhecidos, nzais not

    ciados, focalizados todos

    os

    dias pelos meios

    de co

    Ullt11

    icação   assa

    tam

    as

    atenções gerais.

    E a essa concorrência agrcssiva, incessante, implacável, nutrid

    pelas facilidades de comunicação e transporte, que se dez'e o fat

    de serem relegadas para 11m plaJ/o seCl/lldário

    as

    qllcsti'ies 1Jlul1

    ci /,0 is e locais.

    Além do bOJllbardeio

    de informações, outro efeito dos mode

    nos meios de trallsporte e v ias de comunicação, que igualmen

    atrai a atenção dos

    hOl1ums

    para

    o

    que ocorre

    ln

    outros países,

    a interdependência dos sistemas econômicos nacionais e regionai

    Uma greve dos estivadores em Londres afeta ql/ase imediatamen

    o preço do algodão

    110

    Egito, da Carlle na Austrália, da lã n

    A rgentina, dos 07 OS lia Dinarnarca, e assim por diante. Essa

    re percussões nacionais, por sua vez, afetam várias outras ativida

    des econômicas, dcntro e fora dos respectivos países.

    Com aumentar a mobilidade das idéias, das pessoas e

    das

    co

    sas e intensificar a interdependência ecoilô111ica dos países,

    as

    J/lO

    denUls condições

    do

    11lundo

    estão apagando

    as

    fronteiras cultura

    e internacionalizando os interêsses

    do

    homem.

    No entanto: por mo,gnas e transcendentais que sejam

    as

    que

    tões da politica 1lIundial, por empolgantes que sejam os problenw

    nacionais e regionais, cum/,re atentar

    para as

    coisas que

    se

    passa

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    em nossa cidade, em nosso bairro. Encarados do

    POlltO

    de vista

    do interêsse imediato do

    homel1I, os

    problcmas locais

    são os

    mais

    importantes, aquêles que devem merccer maior dose de atenção.

    A falta de água

    e/ll

    m bairro, a illeficiência dos transportes

    Hrbanos, o num funcionamento dos sel viços

    de

    limpeza pública, o

    policiamento frouxo

    do

    trânsito,

    delinqiiência infantil e outras

    patologias urbanas e 1Ilunicipais afetal1l71111ito mais imediatamente

    o confôrto, o bcm-estar, a tranqiiilidade

    dOllléstica

    e até a segu

    mnça,

    do homem do que

    as

    graves qurst(írs illternacionais. que

    /lIo11opolizam o noticiário dr cada dia.

    Parodia.ndo MUNRO para qltem (/ cidade

    IllOdl rna

    é a lllaior

    (lbra da raça

    lzul1uma ,

    podemos dizrr que o govêrno

    IlIunicipal

    é a 1IIais importante institltição política

    até

    agora criada prlo homem.

    A prrsellte tentativa

    de

    teoria

    das jllnçi5cs

    Illll1licipais.

    qllc

    011-

    samos submeter

    à

    crítica dos illteressados, /leste e el 1 Olttros países,

    tr71l por principal objeth'o propor ltma

    rezl1 si ío

    geral da matéria,

    III1l reeqllacionamellto

    do

    problema, a

    fim

    de que as instituições

    1iIunicipais da América Latina adquiram finalmente o lastro teórico

    e a porção de poder estatutário de que necessitam para sc imporem

    ao

    respeito e estima

    das

    gentes. A 110SS0 7H r, rspecialmente no

    caso do Rrasil, o problema consiste muito mais em equipar o

    l l lWi-

    lÍpio de todos

    os

    meios indispensáveis

    à

    sua plena evolllção e fun

    cionalllento eficiente, do qlle em r c ~ e r , 11/110 vez mais, a chamada

    discriminação de rendas. Dar mais dinheiro ao 1IIunicípio

    não

    basta.

    E

    necessário dar-lhe, sobretudo, capacidade administrativa e pro

    jissional, meios materiais e humanos de a.çi ío - U11W equipe de

    servidores indiscutIvelmente preparados para enfrentar

    os

    proble-

    1MS 1Ilunicipais com antecedentes

    de

    competência. Que se

    m.ais

    dinheiro ao

    1nlt lúcí

    pio

    a rC1 l,és de

    l l l l l i l

    participa.ção mais ativa na

    arrecadaçiio dos Í1npostos. Mas

    cu

    111

    pre

    dar-lhe, simultâ.neamente,

    competência administratÍz'a inequh'oca, para que utilize bem, para

    que utilize sábia e cconômicamente

    os

    110VOS recursos. Cumpre

    dar-lhe: 1/lellzor organização, melhores métodos

    de

    trabalho, melhor

    contabilidade, 111el110l es dcpartall/cntos de engenharia,

    1/1cll1orrs

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    chefias executivas, ('{c., tudo isso clltrcf/u(, a illdivídllos realmente

    capazcs.

    Ti l\EDUUC lL\J{ usu:-< disse

    ['Ch/lIlClllc

    I j l le a ciduele assal1la

    à feição

    dc

    montanha dominadora,

    na

    paisageln da história". Para

    (fue

    11m

    historiador

    do

    futl/ro possa

    di:::er o

    mesmo

    da

    cidade bra

    sileira, J/a qual se

    centrali:::a

    a responsabilidade pelo progresso da

    l11Ullidj

    1

    io, é necessário proporcionar-lhe ) cqltipalllCnlo complexo

    de Ijlte

    carece e

    do

    qltal a

    peça

    mestra é

    11111

    corpo de servidores

    profissionais de caráter perl/1ane1lte e competência indisputável.

    presente tnrl1alllo é uma

    ~ I e r s i i o

    revista e amPliada da mo

    desta conferência que prollltllcirt1/[os, em 1952 pera1lte os membro

    do Jl

    Congresso Nacional dos Municípios de São Vicente, onde

    a 'l'erdade seja dita, 1lossa tese não ohtl've repl'rr1fssão alguma.

    A idéia

    de

    atribllir

    /10.1'

    II/ullicíj'ios os sCITiços públicos

    de

    primeira

    necessidade, qUi

    SI l mc tc l IlUs

    ás autoridades mUJ/icipais cntão CO/l

    centradas CIII St/o r'icellte, COIIlO que se congeloll ante a completa

    indiferença COIll

    1]/('

    foi ouvida. Xcio despertou )

    lI1ais

    longínquo

    eco.

    Horas depois

    de

    f'rol1ullciá-la, em viagclIl

    de

    regresso a

    SirO

    Pa[(lo,

    ClIl

    cOlllpal/hia do PROl . CAR \ , \LIIO Pl:\TO, hoje Secretário

    da Fa;;cnda daqucl(' li.s1adu, ti'1" '1lloS u sensaçrio f'crfeita da inuti

    lidade de nossu csftir(i . LOllge

    de

    nós, porém,

    /

    idéia pervcrsa

    de

    atril1uir lOS

    1I11ll/icij'olistas de ,"'i'io

    Vicente

    [(IIlCl

    atitude

    de

    desill

    terêssc pum COIll

    as

    j'roblcllws IIlllnicipais

    7. ersados

    elll nossa COII

    ferência.

    RecoI11/i'Ci II/(ls

    [/'ollllel/te Ijl/e a falta foi l/IlIito lIlais da

    apresentação ter/"() a terra, que fiz e 11 os

    da

    tese,

    do

    IJlle

    da

    sensi

    bilidade

    do

    auditório.

    Pn}'

    ol/tro lado, havia lima plclora de

    COIl

    ferencistas ilustres c de leses eJllpolgantes, de modo I]ue,

    para.

    se

    impor

    à

    atençelo /laqueIe cOl cla'ue, era preciso que

    ulHa

    tese conti

    vesse [Jrandes doses dos seguintes ingredielltes: prestígio

    do

    autor

    l1mbiência política, oportunidade manifesta e relações

    de

    estreita

    parentesco

    COI/

    as

    tendências dos lIlunicipalistas ali rcunidos.

    A despeito de fudo isso, cOlltinuamos a crer 11 tese, Não ti'l'c

    1IlOS assim ra:::{íes para repudiá-Ta, nem para deixá-la morrer no

    esqltecillle1/to. Tallto

    qlle.

    logo depois, tomamos a iniciath'l

    de

    r C ~ I Z e r o aSSIIIl n, fl7::;el/do /,ublicar as partes essenciais da COI1

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    feréllcÍa lIa Revista do Serviço Público de março dc 1953, sob o

    título

    de O

    Município e os Serviços Públicos

    de

    Primeira Necessi

    dade", de que o Serviço

    de'

    Docu1/1entação do

    D.A.S.P.

    tiron

    1I111a separata.

    E

    quc alilllcntâ7'all10S a

    illlStlO

    dI' qw o prescnte trabalho

    COl1

    linlta

    algu11Ias

    idéias gcnulnalllcntc

    fa7'orrí'iHis

    à

    emancipação admi-

    1listrativa dos

    1I11111icípios.

    Essa mcsl1lo illlsllo lC'i'ou-nos a revcr:

    emPliar e fUlldamcntar lllais detidamente a tese que

    lItlO i11lPressio-

    1101 · 11enhulIl

    dos participantes

    do refl.'1'ido

    congresso.

    Incorporada à séric de Cadernos de

    \ d m i n i s t r a ç ~ l o

    Pública.

    da E.B.A.I '

    .. aqui vai, soh o título algo all /licioso

    de

    Teoria das

    Funções Municipais, t;S C f uI/lu de 7'ista

    dt

    IIIil

    modesto bnlSileiro

    que oferece apenas isto 1'111 bCl/efício da lIobilitaçiio das instituições

    lI/lI/licipais dc scu país. j

    1

    0rquc nada lIlais tel/

    do

    qllc isto.

    Quem lhc dcra ter

    1IIIIito

    mais

    pora

    ofacccr'

    Rio.

    deulIlbro.

    195-f.

    nENEDJCTO SiLVA

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    I.ER E ANOTAR

    o leitor avisado lê sempre de lápis ou caneta em pu-

    nho

    sublinhando destacando

    registrando comentando

    o

    que

    lhe

    parece digno de atenção ou crítica.

    fim de criar ou estimular nos leitores

    o

    hábito

    inteli-

    gente

    da

    leitura

    anotada

    os

    Cadernos

    de Administração

    PÚ-

    blica contêm na

    parte

    final quatro ou

    mais

    páginas em

    branco especialmente destinadas a recolher as

    anotações de

    cada

    leitor.

    tsse

    hábito

    capitaliza

    o

    esfôrço do leitor

    e

    estimula

    o

    processo de fixação no

    cabedal

    de conhecimentos de cada

    um

    das

    coisas lidas

    e

    anotadas.

    Se ainda não o cultiva por que não

    começar

    agora neste

    Caderno?

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    TEORIA DAS FUNÇÕES MUNICIPAIS

    DIVISA DAS

    FUNÇõ S

    GOVERNAMENTAIS

    The

    modern

    i

    y

    s

    the Ui'eatcst

    achicvement

    of

    the

    human

    1·ace.

    Preliminares

    o indivíduo em primeiro lu

    gar a família em segundo e to

    dos os grupos humanos licita

    mente constituídos com finalida

    des morais profissionais cultu

    rais ou outras têm o direito de

    receber do Estado um mínimo de

    proteção e de serviços que lhes

    tornem a vida compatível com

    os ideais e os costumes da época.

    Decorrência dessa verdade pa

    cífica o Estado moderno trans

    forma-se em emprêsa politécnica

    e multiplica atividades

    para

    aten

    der aos anseios aspirações e rei

    vindicações dos diversos segmen

    tos e grupos demográficos que

    constituem as comunidades polí

    ticas.

    WILLI M BENNETT

    MUNRO

    N os estados federais a res

    ponsabilidôcle de prestar serviços

    e assegurar proteção ao povo ca

    be simultânealllente aos gover

    nos locais ou municipais aos

    rstaduais e ao govêrno nacional.

    A

    simples lista das numerosas

    complexas funções que nos

    países civilizados os três níveis

    de govêrno executam separada

    ou conjuntamente para prestar

    serviços

    à

    coletividade tomaria

    metade do espaço reservado para

    êste esbôço de teoria el s fun-

    ções municipaIS.

    .

    Tentar

    determinar dentre as

    mil e uma atividades desempe

    nhadas pelos poderes públicos

    quais as que deveriam caber aos

    governos municipais certamente

    não constitui mera especulação

    17

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    4

    CADf.:iRNOS lJE A D M I ~ I S T R A Ç Ã O PÚBLlCh

    teórica. Se u estadu federal é

    um

    sistema de órgãus, o conhe

    cimento exato das funções que

    melhor se ajustam a cada

    um

    dêles representa elemento infor

    mativo inapreciável para a boa

    coordenação da tarefa comum a

    todos.

    o critério d tr dição

    discriminação

    de

    funções

    cEtre os

    três

    níveis de govêrno

    poderia ser tentada à luz de vá

    rios critérios

    De

    acôrdo com o

    critério da tradição,

    por

    exem-

    plo, não teríamos dificuldade em

    arrolar

    as funções públicas que,

    IlOS

    estadus federais, têm C0111-

    pttido

    ordinàriamente

    à

    União

    As principais

    s ~ O

    as seguintes:

    A conduta das relações exte

    riores;

    Os negócios militares em ge

    ral;

    A regulamentação do comér

    cio exterior e interestadual;

    Os serviços postais e telegrá

    ficos;

    A adoção de sistemas de pe-

    sos e medidas;

    Os registros de

    patentes;

    A emissão de moeda;

    A proteção dos direitos indi

    viduais

    contra

    os Estados;

    A gerência e fiscalização

    da

    propriedade nacional. do domí

    nio da

    União

    e dos Territórios;

    As

    atividades legislativas, exe

    cutivas, judiciais e financeiras,

    necessárias ao funcionamento do

    g-ovêrno federal.

    No

    caso do Brasil, além das

    que acabamos de mencionar, a

    União tem exercido e continua

    a exercer

    11t1l11eru:-,a,;

    'ttividades,

    inclusive

    / rOlllOCzon.::is

    que tal

    vez fica em mais

    b° }

    localiza

    das, l)(' o menos G.o ponto de vis

    ta ela divisão r a ~ i o n a l do

    traba-

    lho, c atribuídas aos estados ~

    m u n i c í p i o ~ Basta citar as se

    guintes, para

    ilustrar

    a afir

    mativa: a promoção da educa

    ção, a defesa da saúde pública,

    as obras de saneamento, as obras

    contra as sêcas r a construção

    e

    consenação

    de e8tradas de ro

    dagem.

    N os países de forte tradição

    lllt11licipalista. como a Inglaterra

    e os Estados Uniclos, os gover-

    110S

    locais têm a seu cargo a ins

    tl-ução primária, o corpo de bom

    beiros, os serviços de polícia, l

    saneamento urbano e rural, a

    limpeza pública, o policiamento

    do trânsito, a abertura de ruas,

    praças e jardins e, em muitos

    casos, as chamadas utilidades

    pú-

    blicas - abastecimento de água,

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    11/44

    TEORI

    DAS

    FUNÇÕES MUNICIPAIS 5

    rêde de

    e::>goto 5,

    telefone, trans

    porte urbano, etc.

    o

    critério d contigüid de

    Outro

    critério que nos pode

    ria guiar na tentativa de deli

    mitar os setores de competência

    administrativa dos poderes pú

    blicos no regime federal é a con

    tigüidade. 1 ste critério, que se

    nos afigura intuitivo, parece par

    ticularmente útil na formulação

    da teoria das funções munici

    pais.

    A copiosa literatura existente

    5ôbre govêrno municipal ocupa

    se mais ou menos extensamente

    com o intrincado problema das

    funções.

    E

    natural que os tra-

    tadistas

    se

    interessem em discu

    tir o que compete e o que não

    compete

    ao

    govêrno municipal.

    Apesar das numerosas tentativas

    conhecidas, a verdade é que, até

    hoje, ninguém elaborou uma teo

    ria geral das funções munici

    pais.

    Somos de opinião que o cri

    tério de contigüidade, que ten

    taremos explicar a seguir, ofe

    rece base para a discussão e pos

    sível desenvolvimento, senão da

    teoria geral, pelo menos de uma

    teoria aceitável das funções mu

    nicipais.

    Com efeito, se qUlsessemos

    grupar, segundo o grau de con

    tigüidade em relação ao bem-es

    tar

    dos cidadãos, os serviços

    prestados pelos poderes públicos,

    poderíamos estabelecer três ca

    tegorias:

    Serviços de importância

    ime-

    diata;

    Serviços de importância pró-

    xima)

    Seryicos

    de

    importância

    mc-

    diata.

    Serviços e importância

    imcdiata

    Entendemos por serviços de

    importância imediata os que se

    relacionam diretamente com a

    satisfação das necessidades bá

    sicas da pessoa humana. São

    serviços de que dependem

    ime-

    diatamcnte

    o bem-estar do agre

    gado humano, a vida da família,

    a própria sobrevivência do indi

    dduo.

    Em outras palavras, são

    serviços públicos de primeira ne-

    cessidade. C01110

    tais, devem fi-

    gurar

    em primeiro lugar nas es

    calas de prioridade dos governos.

    rimum vivere, deinde philo-

    sophari,

    diz um provérbio an

    tigo. Os serviços públicos que

    incluimos nesta categoria têm

    muito a ver com o vivere) e

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    12/44

    6

    CADERNOS VE D M I N I S T R ~ ~ Ã O PÚBLICA

    muitu pUllCU l ul l l (> /,hiluso-

    f'llGri.

    Os scrviços de

    importância

    imcdiata caracterizam-se

    ainda

    pela S\la tangibilic1aele. Têm

    destino certo e

    l'ê\ am

    enelerêço

    conhecido. Seus usuários são

    fàcilmente idcntificúveis.

    Os

    grupos, as famílias e os i n d i v í ~

    eluos os recebem c cada recipi

    enclário tem consciência do fato.

    Em COnSC(liiência,

    o bom e o

    mau

    f

    llncionamcl1to ele tai s serviços

    são logo percehidos pelo povo. l\

    sua intcrrupção acarreta prejuí

    zo, sofrimcnto 011 sacrifício pes

    soal e tende mesmo a assumir a

    forllla ele calamielaele pública.

    A

    inspeção

    cle

    artigos

    alimen

    tares,. o ahastecimento de água,

    as rêeles de esgotos, a remoção

    ele lixo e

    ( I . 11( ,p

    itais cle

    pronto

    socorro, por excmplo. represen

    tam serviços de

    importância

    ime

      liata. Qualquer dêles

    tem

    in

    fluência na

    promoção

    do bem

    estar e na preserva()( da saúde

    e

    da própria

    vida.

    Serviços de

    i

    7

    )OrlóllrÍlI

    prózi la

    Os

    serviços

    ele

    importância

    próxima

    são os que,

    embora

    dis

    pensáveis, constituem fonte de

    confôrto e fruição pessoal. São

    outros tantos fatôres de segu

    rança

    econômica e de proteção

    social

    para

    indidduos e grupos.

    Os

    cidadãos

    podem

    viver sem

    êles, mas, uma vez habituados ao

    scu gôzo, passam a considerú

    los imprescindíveis. Trata-se

    serviços mais difíceis de caracte

    rizar

    do que os ele

    importdncia

    imudiata, de que' já falamos, e

    os de

    importânria mediata,

    de

    que falaremos daqui a pouco.

    Bem poderíamos

    chamá-los

    sl'J viços promocionais. Valori

    zall1 o indivíduo e a coletividade

    embelezam a

    ida

    e, ele certo

    moclo,

    expressam

    a

    marcha io

    progresso hUlllano. A regulari

      lade dos

    sl'l 'lliços p i

    Micos e

    i l

    j ortâllcia próxil l la

    é uma

    garan

    tia

    elo

    bem-estar

    elo

    grupo. Con

    tuclo, a sua interrupção não afeta

    seriamente a sobrevivência elo

    indivíduo. Privar-se de tais ser

    viços será

    um

    sacrifício insupor

    tável

    para

    aquêles que já se ha

    hituaram

    ao seu

    gôzo.

    Não

    ha

    \ê-Ios gozado llunca significa

    talvez viver

    aquém

    da

    civiliza

    l:flo. Não obstante, é possíve

    l a ~ s a r a vicia inteira sem o be

    nefício dos serviços promocio

    nais. A grande maioria da

    lJulação brasileira certamente

    llão os conhece, nem

    sequer

    evo-

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    13/44

    TEORIA

    DAS

    FUNÇÕES MUNICIPAIS

    luiu bastante para ter consciên

    cia de

    sua

    falta.

    Os

    serviços

    de

    importância

    tró.rima

    aparecem

    como

    ativida

    des regulares (los poderes públi

    cos nos estágios

    mais

    avançados

    ela

    civilização.

    Somente

    após re

    solverem os

    problemas

    mais

    pre

    mentes, os problemas primários,

    relacionados com as necessida

    des básicas, é que os poderes

    públicos devem

    evoluir

    para o

    estágio

    em

    que lhes é possível

    cuidar

    dos scrviços promocio-

    11alS.

    Não se imagille, porém, que

    Sf'

    trate

    l

    serviços frívolos 011

    bisantillices, compatíveis apenas

    c iJll uma sociedade

    de

    manda

    rins

    ociosos e refinados. E ver

    dade

    que

    o;

    indivíduos

    podres

    de

    chie

    tipificados por

    EÇA

    DE

    QUEIROZ

    na personagem

    central

    le

    A

    Cidade e as Serras

    se

    regalam

    com esta categoria de

    serviços públicos.

    1\1

    as

    todos

    os

    hOl11C ns civilizados

    também

    os

    apreciam

    e sabem

    usá-los.

    Pres

    tú-Ios

    não

    significa desperdício

    para os governos,

    nem

    usá-los

    ó ignifica decadência

    para

    os go

    I

    ernados.

    A promoção

    elo

    ensino

    artís

    tico, a construção e manutenção

    de

    parques

    e

    jardins, as

    orques-

    tras

    sinfônicas e

    outras

    ativida

    des

    da

    mesma família são exem

    plos de serviços de importância

    próxi1l1a.

    Concorrem

    fortemente

    l'ara

    o aperfeiçoamento do indi

    víduo,

    para o

    abrandamento

    do

    cunilito da

    cuncorrência entre

    os

    diferentes

    grupos

    profissionais e

    n emhelezamento da vida social.

    E

    evidente, porém, que êsses

    .c;erviços,

    ainda

    que desejabilís

    ~ i m o s , não

    se

    destinam

    a

    satis

    fazer

    as

    necessidades básicas do

    homem. Teriam m;cis

    a ver

    C0111

    u

    j hilosoJ)hari elo

    que com o

    ( n ere.

    , \ lUS1ÓTEl,F' ;

    d i ~ , , (

    (Ine a h

    llalid;-,de do g o n ~ r J l ) é

    promovel

    a __ ida decente. ORTEGA Y

    (;ASSET, em um de seus ensaios

    filosóficos, declara que o que in

    teressa o homem

    não é apenas

    estar ,

    mas bem estar . Os

    serviços

    de

    importância próxima

    são exatamente os que mais con

    trilJUem

    para

    a

    boa vida ,

    de

    Cjue

    fala

    AHlSTÓTELES,

    e

    para

    o

    bem estar , de

    que fala

    GAS-

    SET.

    Sn C,içus

    dc

    i m p l r t , ~ / 1 i a

    lflediata

    Entenclemos

    por

    serviços de

    importância mediata aquêles cuja

    existência, emhora contribt1a

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    14/44

    8

    CADERNOS

    E DMINISTR ÇÃO PÚBLIC

    para

    a euforia e equilíbrio so

    ClalS, não representa condição

    necessária para a sobrevivência e

    bem-estar do indivíduo.

    Tra-

    ta-se de serviços mais ou menos

    remotos elo cidadão. E certo

    que a sua prestação consulta os

    interesses da sociedade; por isso.

    os poderes públicos ocupam-se

    dêles. Mas a paralisação ou

    mesmo a abolição de tais servi

    ços não constitui ameaça imedia

    ta para o indivíduo, não lhe acar

    reta perda

    irreparável, nem o

    coloca em estado de não poder

    satisfazer qualquer das necessi

    dades básicas.

    mbora muito alto, o grau de

    conveniência social dos serviços

    de im/ ortdJlcia mediata

    não

    chega a ser vital. Dir-se-ia que

    êsses serviços, dada a sua ín

    dole intangível, dispõem de cli

    entela coletiva, mas carecem de

    clientes individuais. Todos os

    recebem, mas ninguém tem cons

    ciência de utilizá-los pessoal

    mente.

    O entretenimento de relações

    diplomáticas, comerClalS e ou

    tras com os diferentes países.

    lJor exemplo, é um serviço pú

    blico utilíssimo. A cunhagem de

    moeda também é um serviço pú

    hlico de grancle utilidade. Na

    ~ o c i e d d f moderna seria muito

    difícil, embora não imp05sível,

    viver

    à

    margem da economia mo

    netária. Não nos parece neces

    sário lembrar que a existência

    c1êsse

    meio universal de transa

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    15/44

    TEORIA DAS FUNÇÕES MUNICIPAIS

    9

    mos scr'uiços públicos de pri-

    meira necessidade.

    Estabelecida esta classificação

    tripartida das funções governa

    mentais, logo se verifica que

    os

    serviços de importância media,ta

    parecem

    manter

    relações de afi

    nidade com o govêrno nacional,

    isto é, o govêrno mais distante

    elo indivíduo; ao passo que os de

    importância imediata, ou sejam

    os serviços públicos de primeira

    11ecessidade, parecem caber logi

    camente aos governos munici

    pais, isto é aos

    governos vizi-

    nhos do indivíduo.

    Os serviços classificáveis na

    egunda categoria, isto é os ser

    viços de importância

    próxima

    são mais difíceis de distribuir se

    gundo o critério da contigüida

    de. A rigor, êles deveriam ficar

    3 cargo dos Estados, salvo quan

    do exigissem uniformidade na

    cional.

    Com efeito, se se admite, para

    argumentar, que as funções de

    importância mediata sejam pri

    vativas do govêrno nacional e as

    de importância

    imediata

    devam

    caber aos goyernos municipais,

    conclui-se, por exclusão, que as

    funções públicas de importância

    próxima

    ficam, em princípio, sob

    a responsahilidade dos Estados.

    A teoria política, os princípios

    ele organização científica do tra

    balho e até o bom senso se in

    surgiriam contra a diretriz que

    tentasse atribuir ao município

    competência

    para

    desempenhar

    funções públicas de importância

    mediata como a regulamentação

    do comércio exterior. Não me

    nos absurdo seria encarregar-se

    o govêrno da União, especial

    mente nos países de grande ex

    tensão territorial, de problemas

    que ocorram exclusivamente no

    nível municipal e só interessem

    à

    população local, como a cons

    trução ele rêdes de esgotos. Nes

    ses dois casos extremos, o absur

    do

    é evidente, porque a regula

    mentação do comércio exterior

    e a construção de rêdes de esgo

    lOS

    gravitam, especificamente,

    aquela na órbita de ação

    do

    go

    vêrno central e esta na órbita

    de ação do govêrno municipal.

    N o caso dos serviços de im

    portância próxima não há a mes

    ma afinidade patente entre êles e

    Cjualfluer das órbitas de govêrno.

    Não há, sem dúvida, relação es

    pecífica de afinidade entre,

    por

    exemplo, a educação secundária

    e determinada órbita de govêr

    no. Os ginásios, os conservató

    rios, os teatros podem ser cria

    dos pela União

    011

    pelos

    Esta

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    16/44

    10

    CADERNOS D:r. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    17/44

      AS VIRTUDES POLíTICAS E ADMINISTRATIVAS

    O MUNICIPALISMO

    Razões técnicas razões histó

    ricas e razões políticas fundem

    se

    para

    justificar a existência

    de governos municipais vigoro

    sos e bem equipados

    para

    o de

    sempenho de suas funções que

    já agora chamaremos específi

    cas.

    Vizinhança entre governos e

    governados

    Em

    primeiro lugar é de todo

    convinhável que os usuários dos

    serviços públicos de primeira ne

    cessidade estejam em posição de

    solicitar e receber

    pronta

    aten

    ção para os seus desejos quei

    xas e reclamações.

    Localizado

    na

    sede da comu

    nidade ao alcance da voz do

    ouvido e da vista dos muníci

    pes o govêrno municipal é

    ipso

    facto

    mais acessível às suges

    tões críticas e influências do

    povo. govêrno municipal é

    por assim dizer um govêrno de

    yizinhos

    e COl11o

    tal suscetível

    de fiscalização direta e ininter

    rupta

    Esta contigüidade esta

    relação de vizinhança representa

    ) mais forte argumento em fa

    vor ela tese que confere ao mu

    lJIClplO competência privativa

    ou pelo menos preferencial

    para

    administrar os serviços públicos

    de primeira necessidade. A ins

    peção do leite numa cidade po

    pulosa a proteção da proprie

    dade contra a fogo a fiscaliza

    ção do trânsito urhano o abas

    tecimento de água -

    para

    ci

    tar apenas exemplos mais cor

    rentes - são serviços que não

    devem sofrer solução de conti

    nuidade nem funcionar irregu

    larmente porque a mais leve fa

    lha em qualquer dêles pode tel

    conseqüências funestas para a

    população interessada. Cumpre

    assim que o povo tenha acesso

    imediato aos órgãos incumbidos

    de tais serviços.

    As

    correções

    de falhas verificadas devem ser

    7

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    18/44

      2

    CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO

    PÚBLICA

    feitas

    cul11

    a lllaior rapidez, pur

    que somente a volta à normali

    dade restabelece o bem-estar do

    puvo.

    As

    comunicações

    entre

    os

    poderes públicos que

    prestam

    serviços de importância imedia

    ta e os respectivos usuários de

    yem

    ser fáceis,

    permanentes

    e

    rúpidas.

    Escola de política e labora-

    tório administrativo

    Uutra

    das razões básicas por

    que os governos municipais de

    vem ser operantes e efetivos

    está lo papel que o município

    desempenha como escola de

    pre-

    paração para a vida pública.

    Acessín l

    à fiscalização e às

    críticas diretas do povo, cada

    govêrno municipal deve ser um

    laboratório de experiências ad-

    ministrativas

    e

    ao mesmo tem

    po, uma escola prática de for

    mação e aperfeiçoamento de elei

    tores, servidores públicos, legis

    ladores e cidadãos.

    As

    decepções, as vicissitudes,

    juntamente com as alegrias da

    vida política e administrativa

    municipal, reajustam o senso de

    seleção do eleitor,

    aprimoram

    a

    técnica do legislador, ampliam

    a experiência social do adminis

    trador, aguçam o espírito crítico

    .]

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    19/44

    TEOR1A D s

    FUNÇÕES

    MUNICIP

    tS

    13

    rcs e contribuintes él exercer vi

    gilância direta sôbre os negócios

    públicos. Como disse

    ANDER-

    SON, o município vale por um

    forll n de participação política,

    em que todos contam, inclusive

    os eleitores mais humildes, e ca

    ela

    um sente que o seu voto pesa

    mais que nas eleições estaduais

    ou federais.

    E

    a vida política

    elo

    município que

    sentido pal

    Uáyel ao postulado democrático

    ele

    Cjue carla eleitor é uma par-

    l'ela da soherania popular.

    Hefúgio da oposição

    As virtudes políticas do lllll

    nicipalismo não se limitam à

    preparação e aperfeiçoamento do

    cidadão e do eleitor. Elas ofere

    cem válvl1la e refúgio à oposição

    partidária. Com efeito, quando

    um partido político perde as

    eleições estaduais ou nacionais,

    pode refugiar-se e sobreviver na

    esfera municipal. Seus adeptos

    serão mais numerosos em deter

    minados municípios e poderão

    assim continuar a orientar pelo

    menos

    uma

    parcela dos negócios

    públicos, forjando os seus líde

    res, enriquecendo a experiência

    de seus dirigentes.

    Por essa forma, a existência

    de governos municipais permite

    a subrevi\ éncia da opOSlçao c o

    treinamento ininterrupto de di

    ferentes grupos políticos.

    Antídoto contra a centra

    lização

    Devemos mencionar ainda ou

    tra virtude política e administra

    tiva

    elo

    municipalismo: a sua

    ação

    contrária

    à tendência ce11-

    tralizadora dos poderes e

    fU

    :ões governamentais. A existên

    cia

    ele

    comunidades municipais

    i

    gilantes. tocadas de interêsse

    cívico, preocupadas com o pro-

    gresso local e ciosas de sua

    au-

    tOllomia, certamente constitui

    uma barreira eficaz contra os

    tentáculos centralizadores dos

    Estados

    e da União.

    ?\ão

    seria preciso dizer que a

    apatia municipal em face dos

    problemas públicos

    é

    que impul

    siona a tendência centralizado

    ra. O municipalismo efetivo no

    desempenho de suas funções é

    (J

    meio ideal para dividir os po

    deres públicos e dispersá-los en

    tre as comunidades, fixando-os

    assim nos pontos em que podem

    ser mais úteis. Além disso,

    opondo-se à centralização, o

    ll1U-

    nicipalismo permite a variação

    dos serviços públicos e a varie

    dade de soluçõe3 ao sabor

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    20/44

    14

    CADERNOS

    DE

    ADMINISTRAÇÃO

    PlTBLICA

    das llecessidades, p c c u l i a r i d a d e ~

    idiossincrasias e desejos locais.

    Sede dos movimentos de

    renovação

    Conforme nos ensina o exem-

    plo americano, os bons governos

    locais desencadeiam e

    lideram

    os movimentos de idéias

    em

    fa

    vor da eficiência e respeitabili

    dade dos serviços públicos.

    Fle-

    xÍ\'eis,

    numerosos

    e sensíveis ao

    progresso, os governos l11t1l11Cl-

    pais gozam de situação

    parti-

    cularmente

    propícia à descoberta

    ele novos meios de íortalecer a

    democracia, dignificar a pessoa

    humana, elevar os padrões de

    législação c de eXl'('lll:ão admi-

     

    i ~ l r ~ l t i \ a , lllultiplicar cxpcriel

    eias,

    tentar

    novos

    métodos d

    ação, em Stm1a diligenciar po

    levar a efeito os

    ajustamento

    flt1e

    são necessários

    em um mun

    do de condições cambiantes.

    RITCHJE, ohservador

    arguto

    realista, assevera que

    municip

    lização

    é

    em

    muitos

    casos, u

    mote de reforma bem ma

    ;

    tracntc que

    nacionalização

    J':xperiências audaciosas

    pode

    ~ e r tentadas com menos risco

    el pequenas

    áreas

    do que

    na

    grandes. E a o h ~ e r v ç ã o mútu

    enriquece

    patrimônio

    de conh

    cimentos elos go\'ernos munic

    pais, uns aprendendo

    C0111

    o

    C'xitos e fr;tcassos elos outros.

    Em geral o pensamento se exprime, abertamente,

    pela

    linguagem. Os homens tendem a verbalizar as idéias, dúvi-

    das, dificuldades, raciocínios que ocorrem no curso do pensa-

    mento.

    e

    vocês estiverem lendo, na certa que pensaram;

    há alguma coisa que podem exprimir

    em

    palavras. Uma das

    razões que me fazem julgar a leitura como um processo lento

    é

    que procuro gravar os poucos pensamentos que me ocor-

    rem. Não posso passar para a página seguinte, se não

    es

    crever o que penso desta.

    MORTIMER J

    ADLER,

    rte de L T

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    21/44

    I

    A EXPANSÃO DAS

    FUNÇõ S

    MUNICIP AIS

    Algumas causas e efeitos

    Em face da grande fecundi

    dade

    técnica potencial e das vir

    tudes

    políticas e

    administrativas

    cios municípios, de

    um

    lado, r

    das crescentes exigências e rei

      indicações do povo, ele outro,

    llão há

    nada

    de estranhá\'el nem

    ele alarmante na expansão extra

    ordinária

    yerificada

    nas

    fnnçõe:;

    municipais (1mante as última

    ~ e i s décadas.

    De fato, as funções l l llCl-

    pais têm aumentado

    por

    tôda a

    parte, notadamente nos

    Estados

    Unidos. Não se trata, porém, de

    simples crescimento quantitativo.

    Trata-se de um crescimento mul

    t ilateral

    - - em

    número,

    em

    qua

    lidade, em extensão,

    em

    profun

    didade

    e,

    sobretudo, em comple

    ~ i ( l a d l .

    O desenvol\'imentu da ciência

    1I1Of erna

    tornOll os serviços co-

    111unais

    progressivalllcnte

    mais

    técnicos e menos inteligíveis

    para o púhlico leigo,

    forçando

    (1estarte

    L

    elllpregu dos especia

    listas e

    acentuando

    a importân

    cia

    da administração. Estas ní

    tidas llludanças na extensão e

    carúttel' das funções municipais

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    22/44

    16 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    rurais, embora a prolificidade

    seja maior nestas do que naque

    las. Ao passo que as cidades

    atraem ullla

    PQfcela

    considerável

    das populações rurais, que se

    deslocam em busca de melhores

    oportunidades econômicas e cul

    turais, o moYÍmento inverso l

    pràticamente nulo. O êxodo

    ru-

    ral, generalizado, intenso. ir:

    quietante, representa problema

    mais ou menos sério em muitos

    países. Seus efeitos não são cor

    rigidos, nem sequer atenuados,

    por migrações das cidades para

    os

    campos. Embora ainda haja

    poetas, escritores e moralistas

    que cantam e exaltam as belezas

    e as bênçàos da vida bucólica,

    as migrações internas dentro cle

    cada país fluem por via de mào

    única --- no sentido das cidades.

    Rumo ao campo é apenas um

    estribilbo de reformadores mais

    ou menos inoperantes, que en

    sinam mais pela palavra do que

    pelo exemplo.

    A existptlcia do homem na ci

    dade requer a prestação de ser

    viços e o desempenho de funções

    que o agricultor isolado pode

    provcr I10r si mesmo, ou de que

    não tem necessidade. O habi

    tante da zona rural resolve so

    zinho o problema do

    abasteci-o

    ll1ento dágua e, em geral, não

    llecessita de abrir ruas, inspecio

    nar construções civis, etc.

    As migrações para as cidades

    criam

    ou agravam problemas

    cuja solução determina maiores

    cncargos para os governos lo

    caIs.

    revolução industri l

    r\ revolução industrial pro

    duziu, entre outros principais

    efeitos,

    J

    de substituir o artesão

    pelo operário e o estabelecimento

    artesanal, onele trabalhavam ape

    nas alguns, pela fábrica, onde

    trabalham centenas f até mi

    lhares de indivíduos.

    O advento elas grandes fábri

    CiS modernas, um dos f t ô r e ~

    ativos do êxodo rural, provoca

    a concentração

    ele

    trabalhadores

    nas cidades e circunvizinhanças.

    concentração de trabalhado

    res, por sua vez, provoca a pro

    liferação de emprêsas e serviço

    econômicos subsidiários, que

    surgem

    para

    alimentar, vestir,

    transportar, educar, proteger

    contra as doenças e epidemias,

    recrear, numa palavra, servir a

    massa humana.

    /\

    indústria

    fabril 1110uerm

    é

    a um tempo

    fenômeno nitidamente urbano c

    fator de urbanização. O acrés

    cimo de responsabilidade que a

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    23/44

    TEORI DAS

    FUNÇÕES

    MUNICIPAIS 7

    industrialização c:ria

    para

    os go

    vernos municipais poele ser apre

    ciado

    à

    luz

    elo

    exemplo de De

    t:oit, nos

    Estados

    Unidos, de

    que trataremos mais adiante.

    o

    progresso tecnológico

    Os

    conhecimentos e métodos

    le

    trabalho, postos

    à

    disposição

    (los homens pela ciência e tec

    nologia modernas,

    deram

    ensejo

    à prestação de serviços que an

    tes não podiam ser executados

    em virtude ele insuficiência téc

    nica.

    No

    campo da saúde pú

    blica, por exemplo, a vacina

    compulsória contra a varíola,

    serviço ele

    caráter

    local típico e

    de efeitos tão satisfatórios, só se

    tcrnou

    yiável graças ao espeta

    cular desenyolvimento

    da

    medi

    cina preventiva.

    Dezenas de serviços empreen

    didos pelos governos locais nos

    últimos tempos representam ou

      ras tantas aplicações de con

    quistas tecnológicas. Se fôsse

    necessano aduzir fatos para

    comproyar essa afirmativa, qual

    quer observador poderia fazê-lo

    lllediante a enumeração de exem

    plos e\ identes. Bastaria citar os

    ~ q u i n t e s

    as comunicações

    por

    meio de teletipos, introduzidas

    11 S seryiços policiais de certas

    cidades; os programas de busca

    de casos precoces de tuber

    culose por meio de análise ra

    diológica; a introdução de inci

    neradores no tratamento do

    lixo;

    os serviços de guia de aviões co

    merciais para vôo e pouso cegos

    através de nevoeiro; os serviços

    de cinema educativo; o emprê

    go da televisão

    para

    fins de edu

    G l < ~ ã o

    cívica;

    e

    muitos outros

    serviços da mesma índole.

    Não

    parece necessário, entre

    tanto, desenvolver grandes es

    forços de dialética, nem multi

    plicar ilustrações,

    para

    demons

    trar

    que o progresso tecnológico

    influi marcadamente no cresci

    mento das funções municipais.

    De um lado, a tecnologia mo

    derna, revolucionando os hábi

    tos das comunidades urbanas,

    cria novos prohlemas municipais,

    como,

    por

    exemplo, o do con

    trôle do trànsito e o do excesso

    de ruídos. De outro lado, o pro

    gresso tecnológico oferece aos

    governos locais meios mais sim

    ples ou mais eficazes

    para

    sol

    yer os problemas coletivos

    l -

      ) ; 1 . l l ( ) ~ .

    . \ abreugrafia, por exemplu,

    representa um método eficien

    tíssimo, que o progresso tecno

    l( gico pôs à disposição dos go

    H rnos, para atenuar a incidên-

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    24/44

      ~

    CADEIU',O::;

    DE

    ADMINISTRAÇAo PÚBLICA

    cia ela lulH:Tculuse t', sobretudo,

    dar maior eficúcia, pelo diagnós

    tico precoce, :L medidas de as

    sistência aos

    portadores

    do mal.

    O

    trúnsito

    ele

    veículos

    auto

    móveis na" grandes cidades

    exemrlifiea

    O'i

    aspectos negati

    \'OS

    e positivos do impacto do

    progresso

    tecnológico nas ativi

    dades

    elos governos

    municipais,

    O

    exce"so de veículos e a sua

    veloC'Ílhde -

    produtos

    típicos da

    tecnologia

    moderna

    - consti

    tuem

    f)('rigo permannllte para o

    pedestre

    e os passageiros e, por

    isso, tornam imprescindível o po

    liciamento severo do trúnsito.

    sinalização elétrica,

    outro

    pro

    cinto cio avanço tecnológico, fa

    cilitil grall(le1l1

    p

    nte

    o contrôle do

    trúnsito de vt+.:ulos e pedestres.

    Os meios

    de tr nsporte

    A melhoriil e a expansão l11ul-

    ticlil11eílsionais dos I e OS de

    tranSDor«'s tamhéll1 COllcorreram

    e

    concnrrem para

    o

    aUl11

    p

    nto in

    df'finido das po )Ulaçncs url1anas.

    \felhores veículos

    automotores,

    cOlllhl1st

    í

    veis mais aperfeiçoados,

    excelentes rodovias,

    na

    vios

    ~ r a n -

    des, ráDidos e confortáveis.

    a ~ i õ e s conwrciais cada vez mais

    5('[>'l1r05. maiores e mais velozes.

    enfim, t,'lc a a rnrafernalia dos

    l l 1 o r 1 e m o ~ meios de transporte e

    C 0 1 l 1 U l l i C a ç ~ 1 0 desempenha papel

    muito importante nas migrações

    internas para as cidades, assim

    como contribui para tornar

    possível a sobrevivência

    das

    po

    pulações urbanas.

    De um lado, o produto do tra

    balho

    elas

    fábricas concentradas

    lOS

    bairros industriais das

    cida

    des pode

    ser

    fàcilmente trans

    portado a

    qualquer

    parte

    do

    país,

    elo continente ou do mundo. De

    outro

    lado, o

    sistema

    cle

    trans

    porte é capaz de trazer dos pon

    tos mais remotos para os cen

    tros urhanos as matérias-primas.

    que alimentam as atividades in

    dustriais,

    e os artigos de consu

    mo, que satisfazem as necessi

    dades'

    das populações.

    Se

    uma

    cidade

    como o

    Rio

    de

    Janeiro, por exemplo, se visse

    privacla dos meios de transporte,

    a que níveis desceria o seu con

    tingente demográfico?

    paralisação dos trens da

    Central

    cio

    Brasil e

    da

    Leopol

    clina e

    cios

    navios

    elo

    Lóicle Bra

    sileiro tornaria impossível, em

    menos

    ele

    três

    meses, a vicia

    de

    pelo

    menos

    dois terços da

    popu

    I

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    25/44

    TEORIA DAS FUNÇÕES MUNICIPAIS

    19

    po, Belém do

    Pará

    está hoje

    muito mais

    próximo

    do Rio do

    que a cidade de Campos em 1860.

    E' inegável que a extraordiná

    ria mobilidade de pessoas e coi

    sas no mundo de nossos dias

    contribui

    para tornar mais den

    sas as populações citadinas.

    o

    chamariz

    psicológico

    das cidades

    ~ ã

    menos importante é o pa

    pel que o chamariz psicológico

    elas

    cidades desempenha no pro

    cesso de urbanização. Trata-se

    de um fator intangível, nem por

    isso menos efetivo. Afinal

    ele

    contas, as cidades são os labo

    ratórios do progresso, os postos

    avançados da civilização. E ne

    las que surgem e se desenvol

    vem a ciência e a técnica.

    E

    ne

    las que se multiplicam as opor

    tunidades de educação e de de

    senvolvimento cultural.

    Os

    aven

    tureiros, os que vivem em busca

    de excitações. os empreendedo

    res, assim como os cientistas.

    que necessitam de material

    para

    obsenação e experimentação, ell-

    1'011

    tram nas cidades muito mais

    ,lo

    fjue 110S

    campos

    aCJuilo

    de

    CJue

    necessitam

    .. Por outro

    lado, é

    nas cidades que pode florescer

    a maioria dos empreendimentos

    econômicos. O comércio e a in

    dústria, o banco, a educação e

    a ciência têm o seu caldo de cul

    tura nos centros urbanos. A ci

    dade

    é

    sempre a matriz do pro

    gresso humano; etimológica e

    historicamente,

    é

    a própria sede

    da civilização.

    Como dizem dois autores ame

    ricanos

    2)

    the

    ps}'chological

    lllre of rit}' life, the greater / 0-

    tClltíalities for advellture, e.t'cite-

    lIlent, e.rperimentatioll, educa-

    I

    íOIl,

    ecollomic

    a d ~ l a n c ( , J n e l l t

    alld

    ClIltural

    d e ~ c l o p l J l e l l t to be foulld

    i l

    the cities siio outros tantos

    íllliis poderosos, que retêm nas

    cidades

    os

    que nascem nelas e,

    all'm disso, arrastam para elas

    contingentes considerúveis dos

    ql1e

    nascem nas

    zonas

    rl1ralS.

    Evolução

    da filosofia social

    .\ 1

    udanças mcnos tangíveis.

    embora 1120 menos importantes,

    ocorridas nos padrões

    e

    nos

    ideais de vida social,

    abriram

    ca

    minho para a

    doutrina

    de

    que

    não só

    o.,

    proc utores, mas t l l

    (2) MARGUERITE J.

    FISlIER

    e DONALD G. l lISIlOP, MUlLicipal u/lil

    Other Local Govcrllmeilts New YOl'k;

    Prentice

    Hull,

    1950),

    pág. 6.

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    26/44

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    27/44

    TEORIA DAS

    FUNÇÕES

    MUNICIPAIS

    2

    , I ~

    lllodernos

    da

    medicina

    so

    cial.

    Até o aclYCllto

    da

    moderna

    medicina social, jamais as cida

    des

    ultrapassaram

    certos limites

    relativamente modestos, se

    C0111-

    parados aos

    exemplos atnais de

    Nova Y ork, I,onclres, Tóquio,

    Changai, Buenos Aires, Chica

    go,

    1\1osc011, Berli111

    e Paris.

    Algumas

    das

    mais famosas ci-·

    dades (io

    mundo

    antigo eram

    menores

    e

    menos populosas

    do

    que

    as

    paróquias

    de

    Londres.

    As

    maiores

    delas, 1\0111a,

    Siracusa

    e

    Alexandria,

    por exemplo,

    não

    erall1

    tão grandes que um pe

    destre não pudesse circundá-las

    a pé,

    caminhando ao

    redor

    das

    respectivas muralhas,

    ntIma

    ta

    1

    de de verão (3).

    Segundo

    m I m e r ( ) s b : - ; i l 1 l u ~ do

    cumentos disponíveis, as condi

    ções

    sanitárias

    e

    outras, que

    afe

    tam

    a

    reprodução

    e

    conservação

    da vida humana, eram tais nas

    áreas densamente

    povoadas

    da

    Europa, que

    a

    taxa de morta

    lidade nos

    séculos

    anteriores

    ao

    XIX

    sohrepujava à da

    natali

    dade.

    De

    acôrdo

    C0111 o depoi

    mento de

    l\.. F. Vh:m:R, ll

    Cru",th of Citics iH lhe Nine-

    Iccl/tll Ccntury, nos 40

    anos

    que

    decorreram

    entre

    1603

    e

    1644

    hr,me em I,ondres

    363.935

    óbi

    t, :;

    contra

    330.747

    nascimentos.

    \crescenta

    êle

    que um estudante

    alemão, que

    investigou

    os

    arqui

    \ (1;, das

    igrejas

    sôbre

    batizados

    ('

    nascimentos. em

    diversas

    ci

    (ladeei

    alemãs, chegou à

    concIu

    gica

    de

    produção

    de

    hens

    (:;J FHEDERTC

    I T \ R R I ~ d X

    1'71 M , U i l i lí j n JJ;gf,'i 1

    ( T , o n d ( ' ~ .

    1894), púg . 227.

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    28/44

    22

    CADERNOS DE

    ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    indispensá

    \'eis à presen'ação da

    vida humana, Ao

    contrário da

    indústria

    propriamente

    dita,

    CJue

    lltiliza ag-entes

    inertes

    e

    proces

    sos

    mecânicos

    de

    produção,

    a

    agricultura opera por meio

    de

    máquinas

    vi\'entes,

    isto ,é, agen

    tes

    hiológicos e processos

    fisio

      t'lgicos. Daí a relativa

    inelasti

    cidade ela

    produção agrícola e a

    impossihilidade de

    se ajustar às

    condiçõe, camtliantes (lr mer

    cado.

    Ao passo qlle a

    illdú,lria

    1

    de aumentar

    ou

    diminuir a pw

    dução

    em

    p()ucas

    horas, a

    fim l

    a

    ajustar

    : l maiur ou

    menor 1)1 (

    , .

    cllra

    o c a ~ i ( ) n a 1

    ou

    estaciunal. a

    agricultura est[l inexurú

    H'l11](,

    11

    Í '

    jungida

    ao fator

    tempo (' aos 'c

    nô111eno,

    meteorológicos.

    I s ~ n

    decorre

    da vantagem da múC[ui

    na

    inerte

    - artificial, suscetível

    ele ser substituída ou refeita, ;\

    \'ontacle, no

    todo

    ou em parte

    --

    sôbrC' a llláqt1ina Vi\ellte,

    e111

    cuja estrutura, evolução

    c

    clura

    ,:ão a

    influência

    do homem é

    incomparúxe1mente menor.

    E'

    fácil

    aumentar

    a

    rotação

    ele

    uma

    engrenagem mecânica, mas é

    im

    possível acelerar ()

    ciclo Ycge

    t;:\ti\'\) da planta

    ou

    l l'erío(lo de

    ~ - e s t a , } i n

    do animal.

    , \ ]lesar d e s ~ a

    rigidez

    j l l t r í l l ~ ( ,

    ('a ( e ~ ; t r í l l ~ e c a , a ag-ri(,111tl1ra tclll

    allmelllauu de

    prudutividaue

    ao

    longo

    dos

    sécnlos, em]lora em

    rítll10 muit mcnm acelerado, j{l

    se y[.,

    do

    que a

    indústria.

    E

    llrecisamentc

    graças

    a

    êsse

    au

    lIlento ele procluti\'idacle nus

    campos que se tornaram possí

    \'eis,

    nas

    cidades,

    as

    grandes

    C011-

    eflltraçiíc-;

    l1t1111anas.

    X ~ 1C 111jlOS pré-históricos,

    (Iu:llldu u homelll yivia

    da caça

    ('

    da pesca, era impossível a

    f o ~ '

    mação

    de

    llúcleos

    humanos

    per

    IllanC'ntt',;, () 1I0lí1;ldisll1o, o

    úni

    cu ,i ten:a de \'ieb que garantÍOL

    a

    ~ ( ) 1 J r c ,-i

    \'ê'ncia,

    era

    \1ma impo

    ,i(;:'i,j d:l h ~ ; l pela

    yida,

    era, por

    a S ~ i 1 l 1 dizer, 11111 reilexo

    elo

    1')'("

    i'ri(, itlslilltu lk

    ( , ( l b e n ' a ç ~ l U - .

    ()

    ]]()lllC111 pril11iti\'o,

    (lU 111llcla\'a

    i

    r

    eqüélltCJl1t'nk de lugar,

    Cl11

    1'11SC;(

    l t- meios de sllhsist[.l1cia,

    Illl morria

    de

    inani\:ão. Basta

    di

    zer ( lle a ;:rc:l necessária para

    sustelltar U111 caçador solitário

    l'

    calculada el11 doze

    quil(1111etros

    quadraclos. Utilizada para a l11()-

    derna cultura do

    trigo,

    \1ma úrea

    cqui\'alcllte produz o

    lJastante

    para

    alimentar, permanentemen

    tl , 6.000

    pessoas.

    Antes

    do

    advenb,

    da clIllura

    dos cereais, tôcJa a superiíci

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    29/44

    TEORIA DAS FUI-;ÇÕES

    MUNICIPAIS

    23

    I lentc ~ ' C l l l l c r ;\ IIlctadc da

    pu-

    ]Julação atual do

    Brasil,

    estima

    da

    ell1

    5i). COO 000 de habitan-

    tes. Somente

    depois de desco

    brir os cereais e aprender a cul

    tivá-los, é que o homem conse

    guiu

    armazenar

    alimentos

    du-

    ráveis.

    Pode

    dizer-se que o

    tri-

    go foi o maior urLallizador - o

    urbanizador

    por

    excelência

    -

    o

    11laior fundador cle cidades: pri-

    l1 eiro, fixou o

    homem

    na

    terra

    ( criou os núcleos

    rura

    is; mais

    tarcle, possibilitou a existência

    de numerosos i1ldivíduos em

    itreas limitadas, crianoo, assim,

    as

    cidades.

    Em 1787, ano em que

    ioi

    pro-

    Illulgada a

    Constituição Ameri-

    cana,

    eram

    necessárias

    19

    pes

    soas

    na zona

    rural para produ-

    zir

    gêneros

    alimentícios suficien

    tes

    para

    a

    própria

    suLsistência

    e

    mais

    a de uma pessoa, residen

    te na cidade.

    Em 1930, 19 pes-

    soas,

    trabalhando

    em

    atividades

    rurais. já produziam artigos ali

    mentícios bastantes para a auto-

    suficiência e

    ainda

    para

    alimen·

    tar 56 l)('ssoas residentes

    11a

    ci-

      ~ l e ( I l l a i ~ CLé, 1 C ' ~ i d e l l t e s l i \)

    estrangeiro (..j.).

    Se a produti"idacle

    agrícola

    de

    ] 787

    não

    tivesse soirido modi

    ficações,

    é

    claro que a popula-

    (Jio

    rural

    americana teria que

    abranger cêrca de 95% da po

    pulação

    geral

    do

    país. Para

    que

    houvesse

    uma

    cidade, digamos,

    de 100 mil

    hahitantes. seria

    llecessúrio

    Cjue

    existissem,

    nas

    zonas r\lrais.

    trabalhando

    para

    f

    S

    citadinos, nada mel10S cle

    1.

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    30/44

    24

    CADERNOS DE

    A D l \ H l \ I S T l { A ( ~ ' Ã O PÚBLICA

    VaIC1I1U··lIU.) de ("lali,lic,\

    ;llllericallLls. porque s:iu as mais

    divulgadas.

    Em

    1920,

    a

    prodn

    (':10 média de creme de irite per

    I/pita

    das

    ,'acas pertencentes aos

    l11emhros ele 452 associa,:ões ele

    criadores

    de

    gado leiteiro

    nos

    Estados

    Cnidos era l 112 CJui

    los

    por

    a110, Em 1928, a méelia

    anual

    já havia alcançado 129 qni

    los;

    em

    1030, snbia para 137

    fluilos;

    ('111

    1032.

    para

    1·11

    qui-

    los

    (6).

    O

    aumento de produtivida(k

    do trigo,

    milho

    e

    algodão

    telll

    sido

    part

    icula rmellte acentuado.

    Os

    seguintes

    a l g a r i s 1 1 ( ) ~

    dispen

    sam comentários:

    Trigo: no qüinqüênio 1878-82,

    para

    produzir

    100

    bllshcls

    de

    trigo, eram necessários 129

    ho

    mens-hora;

    11

    qüi11qiiênio 1898-

    1902,

    ape11as

    86 homens-hora;

    110 qüinqüênio

    1928-32,

    a

    meS11la

    quantidade de trigo

    era produ

    zida por 49 homens-hora.

    kl

    lllO:

    lO

    qüinqüênio 1878-

    82, o

    total de homens-hora ne

    cessário

    para produzir

    100

    buslz-

    cls

    de

    milho era 180; 110 qüin

    qüênio 1898-1902, êsse total

    ha-

     6)

    0]1. cit., pág.

    100.

    7) Op. cit., pág.

    101

    \

    j;\ I,.·i

    .,d"

    1,,1:,[ 1·17; e

    llu

    llüill.

    'P

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    31/44

    TEORI DAS FUNÇÕES MUNICIP IS

    25

    CCJlllU se VC em todos ésses

    exemplos, o aumento da produ

    tividade da

    agricultura

    é sim

    plesmente fabuloso.

    Quanto mais aumenta, assim,

    a produtividade agrícola, graças

    a numerosos fatôres - por

    exemplo: mecanização, eletrifi

    cação. melhoria das raças e das

    variedades cultivadas, maior efi

    ciência no combate às pragas, in

    setos e moléstias, divulgação e

    uso crescente de técnicas relati

    vas à fertilização do solo - tan

    to mais se

    torna

    possível o cres

    cimento urbano.

    A urbanização violenta do úl

    timo século, erificada

    na

    maio

    ria dos países, é uma resultante

    direta do aumento da produti

    vidade agrícola, combinado com

    os

    outros

    fatôres já menciona

    dos.

    Vê-se assim que certos fatô

    res, como o êxodo

    rural,

    a in

    dustrialização, os meios de

    transporte, o desejo de vida me

    lhor,

    atraem

    para as cidades, ou

    retêm nelas, massas

    humanas

    cada vez mais numerosas. Mas

    é a agricultura, aliada

    à

    medi

    cina e aos serviços de saúde, que

    tuma

    po sivcl a cucxistencia de

    tais massas nos perímetros es

     

    rei tos

    d ~

    cidades.

    o caso de Detroit

    Conquanto seja impossível

    apresentar

    um quadro completo

    e universal do crescimento das

    fLmções

    municipais, o conhecido

    estudo do govêrno de Detroit.

    realizado em 1941

    por

    LENT

    ersoN represenla

    Ulll

    excmplo

    c ~ p e t c u l r 9).

    Quando

    a cidade de Dctroit

    foi fundada em 1824, o govêrnu

    local exercia apenas 24 ativida

    des elementares e onerosas

    para

    os cofres públicos.

    Durante

    os

    56 anos seguintes, apesar de ha

    \'Cr a população aumentado

    cle

    1.500 para

    116.000

    almas,

    ~

    atividades do govêrno local cres

    ceram na

    média de

    uma por

    ano, isto

    é passaram

    de 24

    para

    80.

    Nos

    60 anos subseqüentes,

    as atividades desempenhadas pe

    los poderes públicos da cidade

    aumentaram

    de 80, em 1880,

    para 396, em 1941, ou seja, um

    aumento médio

    superior

    a 5

    por

    ano. A população subiu de

    9)

    LENT

    D. UPSON, The

    Growth

    o/

    City Government

    Cincin

    nati

    Municipal Reference Bureau,

    1937.

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    32/44

    26

    C D E ~ N O S DE DMINISTR ÇÃO PtrBLIC

    116.000 J

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    33/44

    IV

    A VIT LIZ ÇÃO

    DOS

    GOVERNOS MUNICIPAIS

    the ul ball place ( 011 j)l oviJc comfol ts

    and conveniences that go

    far

    beyond the

    mere necessities.

    When a city 1 cachcs cel tain point

    of population and aftluence

    it

    can also

    provide

    art

    musewns

    public

    auditoriums

    and otheJ

    means

    of

    aelvallcing the cultural

    life

    of the community. Anel so

    the

    urban

    public functions increase fl om the necessi-

    ties to the conveniences, to the comf01 ts, to

    the cultwral

    and artistic

    facilities that

    ehal actel ize

    fU

    adl anced 1IJ ban ei1,ilLm-

    tion .

    ..

    Al{ui

    tocamos na tese central

    de nosso ensaio. a seguinte:

    aos governos municipais não so-

    11lente devem estar afetos os

    serviços públicos de primeira ne-

    cessidade, senão também

    é

    im

    perioso que se lhes assegurem os

    meios financeiros, técnicos e

    profissionais necessários ao fun

    cionamento regular ria maqui

    naria administrativa. Se dese

    jamos que os governos munici

    pais não sejam meros rótulos,

    nem centros rle parasitismo for-

     \VILLIAN

    ANDERSON

    çado, nem conseqüências vazias

    de tributos líricos rendidos à au

    tc,nomia local pelas boas inten

    ções, é imprescindível equipá-los

    integralmente para o desempe

     

    ho regular, satisfatório,

    O1 to-

     loxo, de suas altas funções,

    Essas funções, já o dissemos,

    devem compreender todos os

    serviços públicos de primeira l1e-

    assidade e tantas atividades de

    importância

    próxima quantas o

    govêrno municipal interessado

    possa executar com economIa e

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    34/44

    28

    CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    proficiência. Adotado êsse cri

    tério de divisão do trabalho go

    vernamental a administração

    municipal passaria a ser caracte

    rizada pela capacidade de exe

    cutar os serviços de importân

    cia imediata, isto é s serviços

    públicos de primeira necessi-

    dade.

    o fiel da

    balança

    da auto-

    nomia

    municipal

    Sempre que

    um

    município

    existisse como unidade de go

    vêrno o fiel da balança de sua

    ~ l u t o n o m i seria a capacidade

    provada para desempenhar em

    caráter

    permanente a função de

    centru de prestação dos serviços

    íblicos

    e

    primeira necessidade.

    o progresso do govêrno muni

    cipal verificar-se-ia no

    grau

    de

    eficiência e qualidade dos ser

    viços prestados e na capacidade

    crescente

    para

    colaborar com

    outros municípios C0111 os Es-

    t a d o ~ c

    com

    a

    União na promo

    çiiu

    de

    atiddades

    de importân

    cia

    próxim(l.

    que Ilobilitam o in

    divíduo e a coletividade embe

    lezam a vida

    e

    em última aná

    lise expressam a marcha na

    ci

    vilização.

    Atribuições

    mínimas:

    os ser

    viços de

    primeira

    neces

    sidade

    Assim tendo como responsa

    bilidade mínima aquelas funções

    de proteção à vida à saúde e à

    propriedade bem como as de or

    denamento da vida comunal

    as d e s ~ m p e n h d s pelos de

    partamentos ele

    polícia corpos

    ele bombeiros serviços de sa

    neamento e de limpeza pública

    serviços de inspeção dos estabe

    lecimentos que fornecem artigos

    alimentícios postos de saúde

    jluliciamento do trânsito urbano

    c rural serviços

    ele

    obras públi

    cas locais serviços de água e es

    gotos -

    o

    govêrno municipal ex

    FlIlcliria as suas atividades no

    sentido

    da

    educação primária

    secundária profissional e até su

    perior podendo chegar às artes

    à

    música popular à

    arquitetura

    paisagista às grandes obras de

    embelezamento urbano e até ao

    teatro e à orquestra sinfônica.

    Num país como o Brasil cujos

    c ~ c a s s o ; capitais são natural

    mente atraídos

    para

    a indústria

    f;}bril para as atividades bancá

    rias e para os negócios imobiliá

    rios e outros Cjue permitem

    a

    auferição de lucros excessivos

    dt w 1l1

    cilher tamhém aos

    govrr

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    35/44

    TEORIA DAS FUNÇÕES MUNICIPAIS

    9

    1105 municipais as iniciativas e

    os pesados ônus da instalação e

    exploração de certos serviços

    industriais de grande influência

    na vida municipal, como a pro

    dução e distribuição de energia

    elétril'a (somente em determina

    das circunstâncias'), as rêdes te

    lefônicas e

    até, s e n · i : ) ~

    de trans

    porte coletivo,

    Atribuições novas

    Os sociólogos predizem que as

    atividades municipais nos países

    civilizados crescerão especial

    mente em três direções, a saber:

    1.°,

    para

    proteger os interêsses

    e atender ,\5 necessidades dos

    consl1midores; 2.°, para esti1l1l1-

    lar a expansão industrial; e

    3.

    0

    ,

    para

    franquear ao povo maiores

    oportunidades de aperfeiçoamen

    to educacional, ('\11tural, cientí

    fico e moral.

    Quanto às necessidades dos

    consumidores, prevê-se que os

    governos locais serão gradati

    vamente impelidos a assumir

    certos serviços especiais (como

    seja a distribuição de leite).

    a encampar ou estabelecer par

    ques de estacionamento de au

    tomóveis, a fiscalizar rigorosa

    mente oS mercados, os açougues.

    as padarias e estabelecimentos

    similares. A encampação des

    sas atividades por parte dos go

    vernos municipais atende ao trí

    plice propósito

    de:

    a

    diminuir

    ( IS preços; li melhorar a qua

    lidade dos

    produtos; c

    evitar

    iraudes de vária natureza.

    E comezinho que os municí

    pios têm interêsse na expansão

    das indústrias localizadas em

    ccus perímetros ou vizinhanças.

    Por conseguinte, à medida que

    ampliarem a sua capacidade de

    ação, os municípios voltarão as

    istas

    para

    certas atividades eco

    nômicas subsidiárias, como se

    jam, as feiras ele amostras e

    l'xposiçucs; a atração

    ele

    tu

    ristas

    para

    fa\'orecer o comér

    cio local c a indústria de

    hotéi s; a criação ele bairros

    inelustriais; a construção de es

    tacões terminais de linhas fér

    re;s e ele ônibus; a construção

    1 : : ~ aeroportos; a abertura de va

    riantes ele estradas de rodagem

    para facilitar o escoamento da

    produção; a dragagem de por

    t )S

    e ahertllras de canais (mu-

    1Iicípios marítimos e fluviais ;

    a construção de grandes pontes;

    a construção de docas e mil ou-

    tras iniciativas que contribuem

    para

    transformar

    11ma ddadr

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    36/44

    30

    CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    em grande centro industrial e

    comercial. As atividades dêsse

    tipo, atividades econômicas au

    xiliares, que os governos muni

    cipais são solicitados a empre

    ender, geralmente acarretam

    e1evad:l.s despesas e, embora be

    neficiem a indústria e o comér

    cio locais, não trazem proveito

    direto para o tesouro público.

    Atividades

    promocionais

    Quanto ús atividades promo-

    cionais

    que surgem como ex

    pressões genuínas de civilização,

    como refinamentos de cultura,

    lançam elas aos governos muni

    cipais desafios variados e abrem

    lhes perspectivas quase sem li

    mites. A prevenção da delin

     lüência juvenil, os programas

    de recreação pública, as artes,

    a música especialmente, a ciên

    cia, tudo isso estará nos hori

    zontes vastos do govêrno local

    do futuro.

    Em

    alguns países

    vanguardeiros, essas atividades

    j

    á fazem parte da agenda de

    trabalho de muitos governos mu

    nicipais. E através delas que

    os homens sentem a alegria de

    viver e conhecem as experiên

    cias mais ricas da vida.

    Capacitação dos governos

    municipais

    L: llla vez

    assim determinadas,

    luz de argumentos lógicos, as

    n,;nonsabiliclades crescentes dos

    11ll1;Jicípios

    C01110

    fatôres de or

    (km e propulsão do progresso,

    surge o problema crucial da : ~ -

    pacitação elos governos mU11lCl-

    pais

    para o

    exercício pleno e

    lwrmonioso

    de

    suas funções.

    No

    llrasil,

    bse

    problema crônico

    c ~ t á intimamente ligado

    à

    ca

    F:1cidaele

    administrativa e

    à

    dis

    criminação das rendas.

    :\fão basta certamente assegu

    r:1r autonomia plena ao municí

    pio lla letra da Constituição, se

    as outras ~ l l b i t a s cle govêrno

    açambarcam, como acontece no

    Brasil, mais

    ele

    4/5

    das rendas

    públicas, deixando aos municí

    pios recursos tão insignificantes.

    que, em muitos casos, mal che

    gam para manter simulacros de

    govêrno, condenados ao parasi

    tismo oficial.

    Para

    que existam

    lO município as exterioridades

    ele

    govêrno, é necessário que

    haja

    pelo menos uma câmara de

    yereadores, um chefe executivo

    c alguns funcionários. Como na

    grande maioria dos casos, as

    rendas que sobram para os mu

    nicípios niío

    Ih( ,

    p ( n n i t ~ m

    élrj-

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    37/44

    TEORIA

    DAS

    FUNÇÕES MUNICIPAIS

    31

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    38/44

    v CONCLUSõES

    A

    cidade o futuro

    terá suas

    praças,

    jardins,

    parques, playgrounds, campos de

    desporto.

    museus,

    galenas de a1'te, sa-

    lões

    e

    música e salões de conferências

    el

    alcance de todos e

    franqueados

    a todo8.

    Ousamos crer que u presellte

    trabalho encerra o embrião de

    uma teoria das funções munici

    pais, talyez

    meS1110

    o esbôço de

    uma discriminação lógica dc

    funções e responsabilidades go

    vernamentais no estado federal.

    Deriva-se a teoria do grau

    e

    propillqüidade

    do govêrno, com

    binado com o da importância do

    serviço prestado.

    Quanto mais impurtante é um

    serviço público

    para

    o indiví

    duo e a família, tanto mais ra

    zão haverá

    para

    que seja da

    competência do govêrno muni

    cipal. Em outras palavras, os

    serviços públicos de importância

    imediata, destinados a satisfa

    zer às necessidades básicas do

    homem, devem competir ao go-

    FREDERIC

    HARRISON

    \ êmu lllais próximu dus cida

    (Uíos - o govêrno municipal.

    I

    ~

    não implica que os go

    , ( mos municipais estejam im

    pedidos de prestar igualmente

    é erYiços

    públicos das outras duas

    ca

    tegorias apontadas e descritas

    l lu presente ensaio.

    E altamente desejável que os

    goyernos municipais, além dos

    serviços

    ele

    primeira necessida

    de, tenham a responsabilidade

    da prestação cle tantos serviços

    promocionais de importância

    próxima) quantos lhes sejam

    possíveis. Em verdade, não vis

    lumbramos limites

    para

    a servi

    çabilidade dos governos munici

    pais.

    Uma vez completo e em pleno

    funcionamento o conjunto dos

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    39/44

    TEORIA D S FUNÇÕES

    MUNICIPAIS·

    33

    ~ r v i ç o s de primeira necessidade,

    o govêrno municipal poderá e

    deverá expandir as suas funções.

    Em

    que direção?

    Na

    daquelas

    atividades que aumentam a uti

    lidade social e a densidade eco

    nômica do homem: a educação

    secundária, profissional e supe

    rior. Deveria parar aí?

    Não

    Cabe-lhe evoluir para as artes,

    a música popular, a arquitetura

    paisagista, as grandes obras de

    embelezamento urbano, podendo

    chegar ao teatro, ao b llet e até

    à

    orquestra sinfônica.

    Mais do que a teoria, porém,

    a tradição de cada país é que

    prevalecerá afinal na determina

    ção das funções dos governos

    mumClpals.

    À luz das realidades presen

    te8 e das tendências já identifi

    cáveis, parece não existirem ra

    zões para se crer que qualquer

    dos serviços governamentais a

    cargo dos municípios venha a ser

    abolido exceto nos casos de

    obsolescência manifesta) , ou

    transferido, em futuro próximo,

    para outro nível de govêrno.

    Muito ao contrário, o que se po

    de

    prever é que, com teoria ou

    sem teoria, haverá implantações

    de serviços novos, assim como

    crescimento de serviçus já exis

    tentes, muitos dos quais a cargo

    elos

    municípios ou governos lo

    cais, em vários países.

    Dentre os serviços de índole

    municipal que continuarão a

    existir de acôrdo com as ten

    dências atuais, podemos destacar

    as seguintes categorias: serviços

    de proteção à vida e à proprie

    dade, geralmente prestados atra

    vés de corpos de polícia e bom

    beiros; serviços de civilização e

    dignificação da pessoa humana,

    através da educação em todos os

    graus, dos museus, do culto da

    música e das outras artes; servi

    ços de promoção e defesa

    do

    bem-estar humano, através de

    atividades de saúde pública,

    abastecimento dágua, fiscaliza

    ção dos estabelecimentos e in

    divíduos que ou manipulem

    ou vendam artigos de alimen

    tação, tais como padarias, açou

    gues, restaurantes, cafés, mer

    cearias, ou que prestem ser

    viços pessoais, como os salões

    de barbeiro, etc. ; serviços

    de

    de

    fesa do consumidor, através de

    regulamentação e fiscalização das

    atividades industriais e comer

    ciais e de construção civil; ser

    viços de assistência aos fracos e

    desvalidos; melhoramento das

    sedes municipais e embeleza·

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    40/44

    Ci.DERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

    llleulu

    urbanu, atra\ és da cons

    trução, abertura e manutenção

    dt avenidas, r\1as, praças, jar-

    dins, túneis,

    fJlayyro

    Jlds

    ser

    \ i ç o ~ de recreação pública, etc.

    ,\lém disso, é de se desejar

    que as municipalidades aprimo

    rem sua técnica e sua produti

    vidade no desempenho das fun

    ções

    FIe já

    tenham a seu cargo.

    E evidente que os governos

    municipais poderão fazer muito

    mais

    do

    que fazem e fazer muito

    melhor aquilo que já fazem. Isso

    implicará, necessàriamente, num

    maior número de verdadeiros

    especialistas

    110S

    órgãos munici

    pais, assim como em expansão

    e multiplicação dos instrumentos

    de trabalho - pessoal, dinhei

    ro, equipamento, documentação,

    técnica e capacidade administra

    tiva.

    A delimitação dos campos de

    atividades do govêrno municipal,

    a determinação das funções que,

    em teoria, devam caber a êsses

    governos nada significa no caso

    do Brasil. O que nos interessa

    aqui é criar condições operan

    tes, que assegurem pràticamen

    te aos governos municipais um

    mínimo de recursos financeiros

    c l é c l 1 i c u ~ , sel1l )

    qll\.: conliuua-

    rão a marcar passo sem avan

    çar, l1leros núcleos governamen

    tais scm justificativa, esgotados

    p'ilo desejo de resolver os pro

    blemas públicos. sem, contudu,

    o11ter

    uma única solução.

    Cumpre que se dê aos muni

    cípios brasileiros mais capaci

    dade

    para

    a ação, expressa essa

    capacidade em têrmos de sufi

    ciência financeira e técnica. E

    necessário, de um lado, dar-se

    aos municípios maior participa

    ção nas rendas públicas e, de ou

    tro lado, aparelhá-los organiza

    cional e profissionalmente para

    aplicar sã e sàbiamente essas ren

    das. Pensar de

    outra

    maneira

    ou deixar que as coisas perma

    lleçam

    C01110

    estão seria conde

    nar o municipalismo brasileiro,

    com o seu potencial imenso de

    benefícios sociais, a uma esteri

    lidade dramática. Se não se vi

    talizar o municipalismo, melho

    rando consideràvelmente a téc

    nica de administração municipal,

    e aumentando, não menos con

    sideràvelmente, os recursos fi

    nanceiros da comunidade, a teo

    ria das funções municipais con

    tinuará a ser mero pretexto para

    lucubrações bem intencionadas,

    mas infrutíferas.

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    41/44

    TEORIA DAS FUNÇÕES

    MUNICIPAIS

    35

    A menos que isso aconteça a

    lista das funções municipais

    a lista dos serviços públicos de

    primeira

    necessidade que tentei

    estabelecer neste modesto ensaio

    nunca passará

    de um grupo de

    palavras sem conteúdo de reali

    dade bom para

    ser explorado

    el11 debates mUllicipalistas infe

    cundos por conferencistas inefi

    cazes

    diante

    de auditórios

    pa

    cientes e bem intencionados.

    *

    eJuando

    BRYCE

    escreveu hit

    cêrca de 70 anos o seu monu

    mental trabalho

    The A mericall

    C071111lon l, ealth, achou que a re

    forma dos

    governos

    municipais

    era inadiável não somente por-

    que então

    havia muitas cida

    des grandes e

    importantes,

    mas

    sobretudo, porque, ao tempo o

    govêrno

    municipal

    era

    o mais

    ilmnidável fracasso dos Estados

    ~ L ~ n i d o s

    .\ntes da campanha 1l1ullicipa

    lista

    desencadeada

    por alguns

    pioneiros e cruzados também

    110

    Brasil

    o

    govêrno

    municipal

    era um

    fracasso doloroso e

    pun

    gente.

    Com o

    movimento

    municipa

    lista brasileiro o govêrno muni

    cipal passou a

    ser

    uma

    promessa

    alvissareira que marcha ràpida-

      e te pàra se transformar em

    realidade feCtlnda dínamo ubí

    quo e milagroso do progresso

    1 rasileiro.

    Acho mais

    eficiente

    não

    sobrecarregar minha

    memória

    enquanto leio e utilizar

    as

    margens do livro ou um pedaço

    de papel. O

    trabalho

    da memória pode e deve

    ser

    feito mais

    tarde. Mas penso que

    é

    melhor não

    deixar

    que

    êle

    interfira

    com o trabalho de compreender, que

    constitui

    o

    momento

    principal da leitura. Se vocês são como eu - e não como

    os que conseguem

    ler

    e

    gravar,

    ao mesmo tempo - podem

    afirmar se leram ativamente,

    pelo seu

    lápis cu

    papel.

    Mo"- MER J.

    Am ER A rte de LrI

  • 8/18/2019 Teoria das Funções Municipais

    42/44

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    BURKIN