TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

14

Click here to load reader

Transcript of TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

Page 1: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

1 Submetido em 10 de fevereiro de 2004. Aceito em 22 de novembro de 2004.Apoio financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – PROFIX nº 540207/01-2) e da Fundação de Amparo à Pesquisado Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ – E-26/152.430/02: Projeto “Soberanos da Costa”, coordenado por M.D.Gaspar)

2 Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Antropologia. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected].

Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004ISSN 0365-4508

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA.

2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 1

(Com 4 figuras)

RITA SCHEEL-YBERT 2

RESUMO: Este artigo dá continuação a uma série de textos sobre a metodologia antracológica adaptada àsregiões tropicais. São apresentadas as técnicas de trabalho de campo e de laboratório, em particular o modode depósito dos carvões de origem arqueológica, amostragem antracológica, concentração do material,constituição de coleções de referência, utilização de bancos de dados antracológicos, determinação doscarvões e dimensão dos fragmentos identificados, assim como uma discussão sobre amostras flotadas,considerando os fragmentos que bóiam e o refugo de peneira.Palavras-chave: antracologia, carvão, banco de dados, microscopia, flotação.

ABSTRACT: Theory and methods in anthracology. 2 - Field and laboratory techniques.This paper presents a suite to a series of articles on the anthracological methodology in the tropics. Wediscuss here the techniques of field and laboratory work, especially the way archaeological charcoal isdeposited, anthracological sampling, concentration of the material, constitution of reference collections, useof charcoal data-bases, charcoal determination, and dimension of charcoal pieces that can be identified, aswell as a discussion on the flotation technique.

Key words: anthracology, archaeological charcoal, data-base, microscopy, flotation.

INTRODUÇÃO

A identificação de espécies a partir de materialcarbonizado é bastante antiga (HEER, 1866;PREJAWA, 1896; BREUIL, 1903), mas o métodoutilizado na época, a confecção e análise de lâminasfinas, era lento e difícil, e as pesquisas não podiamalmejar à reconstituição paleoambiental. Autilização da microscopia de luz refletida(WESTERN, 1963; VERNET, 1973) possibilitou amultiplicação das análises antracológicas,facilitando o estudo dos carvões e propiciando odesenvolvimento de abordagens paleoecológicas epaleoetnológicas, além de ensejar a realização depesquisas metodológicas.Este desenvolvimento levou os pesquisadores aaprimorar também os métodos de amostragem nocampo, assim como a aprofundar uma série dequestionamentos teóricos sobre a pertinência e avalidade dos estudos antracológicos (cf. SCHEEL-YBERT, 2004). Ainda que a preocupação com aanálise metodológica tenha se desenvolvido muitoentre os antracólogos nas últimas décadas, a maior

parte dos trabalhos foi realizada em regiõesmediterrâneas e temperadas da Europa (CHABAL,1988, 1997; HEINZ, 1990; BADAL-GARCIA &HEINZ, 1991; THÉRY-PARISOT, 2001) e, em menorgrau, nos Estados Unidos (SMART & HOFFMAN,1988). Uma grande parte dos princípiosestabelecidos por estes autores pode ser aplicadaaos estudos de antracologia tropical, mas adefinição de procedimentos metodológicosadaptados aos trópicos é muito importante, devidoàs especificidades de seus diversos ambientes.A antracologia é uma disciplina relativamente novano Brasil (SCHEEL, GASPAR & YBERT, 1996a,1996b; SCHEEL-YBERT, 1998, 1999, 2000, 2001;SCHEEL-YBERT et al., 2003), onde a necessidadede adaptação da metodologia de coleta de campose fez sentir desde os primeiros trabalhos. Até hoje,ainda é raro que os arqueólogos brasileiros coletemos carvões de modo sistemático, pois este materialcostuma ser considerado exclusivamente comouma possível fonte de datações radiocronológicas.Esta atitude, aliás, não é restrita à arqueologiabrasileira, e foi observada também em Portugal

Page 2: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

344 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

(FIGUEIRAL,1994) e na Itália (FIORENTINO, 1995),por exemplo.Este artigo tem como objetivo ressaltar aimportância da coleta sistemática dos carvões eapresentar aos arqueólogos e futuros antracólogosbrasileiros uma metodologia adaptada.

TÉCNICAS DE CAMPO

1. MODO DE DEPÓSITO DOS CARVÕES

A metodologia de amostragem antracológica deveser adaptada em função do modo de depósito doscarvões. A distinção entre os carvões concentradosnas estruturas de combustão e os carvões dispersosnas camadas arqueológicas é fundamental, poisestes dois tipos de depósito fornecem informaçõesdistintas e, em conseqüência, devem ser coletadosseparadamente. Os carvões concentrados são maisvisíveis durante a escavação, mas as camadasarqueológicas em geral apresentam também umagrande quantidade de carvões dispersos nosedimento (CHABAL, 1988, 1997; HEINZ, 1990;BADAL-GARCIA & HEINZ, 1991), provenientes dadispersão dos fragmentos de queima ou da limpezaperiódica de fogões ou fogueiras.Os sedimentos da maior parte dos sítios arqueológicosbrasileiros contêm uma grande quantidade defragmentos de carvão dispersos. É provável que elestenham sido originados pela queima de lenhadoméstica, mas essa hipótese ainda deve ser confirmadana maioria dos casos. No caso de sambaquis do litoralbrasileiro, foi demonstrado que os carvões dispersosprovinham efetivamente da lenha coletada para usodoméstico, para a qual não havia seleção (SCHEEL-YBERT, 1999, 2001). A análise de fragmentos de carvãoprovenientes de várias coletas de madeira (lenha)sucessivas ao longo do período de ocupação, querepresentem uma boa amostragem da vegetaçãocontemporânea, é uma premissa indispensável parauma boa interpretação paleoecológica baseada nestematerial (SCHEEL-YBERT, 2004).Os carvões concentrados freqüentemente se originamde fogos, fogões ou fogueiras que tiveram uma curtautilização no tempo, ou representam apenas os restosda última queima neles realizada, o que implicarianuma amostra pouco significativa da vegetação comoum todo. Eles podem também estar relacionados aatividades especializadas, por exemplo materiais deconstrução ou objetos manufaturados queimadosacidentalmente, queima de cerâmica ou, em outrasregiões do mundo, fornos de padaria, de metalurgiaetc., que muitas vezes requerem um combustível

especial mas que podem ser reconhecidos no campoa partir de critérios arqueológicos. As estruturascontendo carvões concentrados sempre devem sercoletadas separadamente, pois seu estudo ofereceimportantes informações paleoetnológicas.Em regiões temperadas, considera-se que asinterpretações paleoecológicas devem ser baseadasexclusivamente nos fragmentos de carvõesdispersos. Não só estes fragmentos recobrem umperíodo de atividades mais longo, masprincipalmente porque se considera que o estudode carvões concentrados fornece resultadosqualitativos e quantitativos incompletos e aberrantesdo ponto de vista paleoecológico (HEINZ, 1990).Diversos autores observaram que as amostras defogueiras (carvões concentrados) fornecemgeralmente um número de taxa inferior àqueleencontrado nos carvões dispersos nos sedimentosarqueológicos, e que eles são freqüentemente sub-ou super-representados (HEINZ 1990; BADALGARCIA & HEINZ 1991; BADAL GARCIA 1992).No entanto, CHABAL (1989a) e THIÉBAULT (1995)observaram que em certos casos os carvões defogueiras fornecem informações bastante precisassobre o paleoambiente vegetal; para isso, énecessário que a amostra apresente uma granderiqueza taxonômica, associada a um longo tempode utilização. PERNAUD (1992) concorda que oscarvões concentrados em certas estruturas podemfornecer uma imagem válida do ambiente vegetal,mas alerta que é somente a análise dos fragmentosdispersos que confirma, ou não, a validade dasinterpretações obtidas.Na zona tropical, só existe até agora um estudosobre esta questão (SCHEEL-YBERT, 1998).Diversas amostras de carvões concentrados defogueiras de sambaquis foram analisadas nosudeste do Estado do Rio de Janeiro, demonstrandoque eles em geral apresentam uma grandediversidade florística e permitem em todos os casosa dedução de um ambiente vegetal que équalitativamente semelhante ao que é verificadopelo estudo dos carvões dispersos. Isso tende amostrar que, em teoria, o estudo de carvõesconcentrados fornece, nos trópicos, informaçõespaleoecológicas fiáveis, desde que se disponha deum grande número de fogueiras, contendo umagrande quantidade de fragmentos, em cada camadaarqueológica. Na prática, esta condição é muitodificilmente preenchida, de modo que, em funçãodo mínimo amostral, as análises paleoecológicasdevem ser preferencialmente baseadas no estudodos carvões dispersos.

Page 3: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 345

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

2. AMOSTRAGEM ANTRACOLÓGICA

Uma análise antracológica qualitativa equantitativamente confiável só é possível a partir daanálise de um grande número de carvões para cadaestrato3, de modo que a superfície do sítioarqueológico deve ser amostrada o mais amplamentepossível, para cada nível estratigráfico.O ideal é que a amostragem antracológica seja feitaconcomitantemente à escavação arqueológica, a qualdeve seguir o método de decapagem de camadasnaturais em superfícies amplas, a fim de obterresultados que permitam boas interpretaçõespaleoecológicas e paleoetnológicas e que levem emconta as eventuais heterogeneidades locais do sítio.O método geralmente preconizado para aamostragem concomitante à escavação consiste naamostragem sistemática do sítio seguindo umamalha de 1m2. Deve-se coletar uma amostra em cadaquadrícula, em cada decapagem. A superfície a ser

amostrada deve perfazer entre ¼ e a totalidade decada metro quadrado, em função da riqueza dacamada em carvões (CHABAL, 1988).Este método pode ser adaptado, seja em razão decontingências da escavação arqueológica (SCHEEL-YBERT, 1998), seja devido à abundância de carvõesno sítio (SCHEEL-YBERT & SOLARI, no prelo).No caso do Sambaqui Ilha da Boa Vista I (Estado doRio de Janeiro), por exemplo, cuja escavação foi feitapelo método de decapagem de superfícies amplas, amalha de quadriculamento adotada pelosarqueólogos foi de 2 metros de lado (BARBOSA,GASPAR & BARBOSA, 1994). A amostragemantracológica foi feita em quadrículas alternadas,coletando-se, em cada decapagem, um balde de 10litros de sedimento em seções de 30 x 30cm situadasno ângulo nordeste de cada quadrícula (Fig.1). Estematerial foi peneirado a seco, no campo, com malhade 4 mm e reservado para flotação e triagem posterior.

Fig.1- Esquema do quadriculamento do Sambaqui da Ilha da Boa Vista I, com localização das quadrículas amostradas e doperfil antracológico ( ) em escala exagerada. A elipse cinza escuro representa a superfície do sítio; o círculo cinza clarorepresenta a área de maior concentração dos vestígios de habitação (adaptado de BARBOSA, GASPAR & BARBOSA, 1994).

trincheira norte - sul

trincheira leste - oeste

[

3 Uma discussão sobre o número mínimo de carvões da amostra antracológica e sobre a validade amostral será apresentada em um artigo posterior desta série.

Page 4: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

346 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

No caso do Abrigo Santa Elina (Estado de MatoGrosso), sítio que se caracteriza pelo excelenteestado de conservação dos macro-restos vegetais epela grande abundância de carvões (SCHEEL-YBERT & SOLARI, no prelo), a malha definidadurante a escavação arqueológica foi de 1 metrode lado. A amostragem antracológica foiinicialmente feita em todas as quadrículas, nasquais foi coletado sedimento em seçõescorrespondentes a ¼ de cada metro quadrado, emcada decapagem. Este material foi peneirado a secocom malha de 4mm e os carvões foram recuperadospor triagem manual diretamente no campo. Aquantidade excessiva de carvões obtida levou a umaredução da amostragem em campanhasposteriores, que continuou sendo feita em seçõesde ¼ de metro quadrado, mas em quadrículasalternadas. Ainda assim, uma grande quantidadede carvões foi coletada.Na arqueologia brasileira, limitações de tempo edinheiro freqüentemente conduziram osarqueólogos a realizar escavações em pequenastrincheiras, baseadas em decapagens artificiais ecom recuperação parcial dos vestígios. Embora estatendência esteja sendo revertida, escavações emsuperfícies amplas ainda são relativamente raras,de modo que a amostragem antracológica devesempre ser feita de acordo com o modo de escavaçãoescolhido e as condições encontradas pela equipeque estuda o sítio. Nos casos em que umaamostragem por superfícies amplas não é possível,ou em sítios nos quais as escavações tenham sidorealizadas previamente, sem recuperação doscarvões, pode-se proceder à amostragemantracológica pelo método de perfis. Este métodotambém pode ser utilizado em associação aométodo de amostragem sistemática.No caso de amostragem de solos, a coleta é feitaexclusivamente ao longo de perfis, por decapagemde camadas sucessivas em níveis artificiais.A amostragem em perfil padronizada por nossaequipe segue seções de 2m de largura por 50cm deprofundidade (ou seja, 1m²); a decapagem é feitaem níveis artificiais de 10cm de espessura. Noscasos em que a estratificação natural da camadaarqueológica estiver em discordância com os níveisartificiais, é importante sempre proceder de modoa não misturar o material proveniente desedimentos diferentes. Deve-se também semprecoletar as amostras de carvões concentradosseparadamente.Freqüentemente é difícil manter-se constantes ahorizontalidade e a espessura dos níveis artificiais

neste tipo de amostragem. Por isso, foi concebidoum “guia de amostragem”, muito simples deconstrução e de utilização, que facilita a realizaçãodas amostragens em níveis regulares (YBERT,SCHEEL & GASPAR, 1997).Por outro lado, deve-se sempre evitar “raspar” osedimento com a colher durante a coleta paraamostragem antracológica, a fim de não esmagaros carvões. Preferencialmente, deve-se retirarpequenos blocos de sedimento e colocá-los nobalde. O mesmo deve ser observado durante apeneiragem; a utilização da pazinha para “ajudar”o sedimento a passar pela peneira destrói oscarvões e impossibilita sua análise, ainda maisquando o sedimento está molhado. Deve-se evitarinclusive esmagar o sedimento contra a peneira,mesmo com as mãos, a fim de não destruir oscarvões que se pretende analisar.

3. CONCENTRAÇÃO DO MATERIAL

De um modo geral, três métodos de recuperaçãodos carvões podem ser utilizados: coleta manual,peneiragem ou flotação (BADAL et al., 1989;FIGUEIRAL, 1992).A coleta manual dos carvões só é indicada para oscarvões concentrados. Ela é útil no caso daidentificação de estruturas no campo, por exemplofogueiras ou estacas queimadas, para darinformações sobre a associação de restos botânicoscom outros tipos de vestígios, e também paradatação. No entanto, este método não deve serutilizado como único modo de amostragemantracológica, pois geralmente só leva em conta osfragmentos maiores, resultando inevitavelmentenuma amostra distorcida.A utilização da peneira garante uma melhoramostragem, sendo importante para revelar oscarvões dispersos contidos no sedimentoarqueológico. No entanto, é fundamental que todosos fragmentos de carvão retidos pela peneira sejamcoletados, pois a seleção das peças maiores ou maisbem conservadas introduz um elemento de escolhasubjetiva que acarretará erros de interpretação.Em regiões tropicais, a concentração do materialarqueológico deve ser feita utilizando-se peneirasde malha de 4mm (vide “Dimensão dos fragmentosidentificados”). Podem-se usar peneiras de malhainferior, mas nunca superior.Tanto no caso de amostragem sistemática emsuperfícies amplas, quanto de coletas em perfil, osedimento deve ser coletado em baldes. Deve-sesempre anotar a quantidade de baldes retirada em

Page 5: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 347

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

cada unidade, a fim de se ter uma estimativa maisprecisa do volume de sedimento amostrado. Sempreque possível, deve-se pesar o sedimento contidonos baldes. Estes dados são importantes para secomparar a abundância relativa de carvões entreas diversas camadas de um sítio ou entre sítiosdiferentes, o que só é possível quando se conheceo tamanho exato da amostra (superfície amostrada,volume, peso do sedimento amostrado etc.).A peneiragem a seco, relativamente fácil, poisnormalmente faz parte da cadeia operatória daescavação arqueológica, em geral é insuficientepara uma concentração eficaz da amostraantracológica. Embora o ideal seja peneirar osedimento uma única vez, isto nem sempre épossível, devido a limitações técnicas. Por isso pode-se, por exemplo, peneirar o sedimento a seco nocampo, a fim de diminuir a quantidade a sertransportada, e fazer a flotação posteriormente.A peneiragem com água pode ser feita por imersãoparcial das peneiras num tanque, piscina ouequivalente, ou lavando-se o sedimento da peneiracom uma mangueira. A peneiragem com mangueira,muito útil para outras disciplinas, principalmentea zooarqueologia, costuma ser inadequada para arecuperação dos restos vegetais, que podem serpulverizados pelo jato de água ou pelos instrumentosutilizados para revolver o material.O maior problema envolvido na utilização depeneiras para a amostragem antracológica decorredo enorme volume de material a ser triado, emparticular para os níveis ricos em conchas (no casode sambaquis) ou em cascalho, tornando estemétodo, em geral, lento e pouco produtivo.A flotação é o método ideal para recuperação dosrestos vegetais, pois implica em menor esforçometodológico e maior eficiência, além de ser omenos agressivo para o material. A flotação permitea recuperação de material botânico de todas asclasses de tamanho preservadas no sedimento. Osfragmentos de carvão sendo de pequenasdimensões e muito leves, sua capacidade deflutuação pode ser aproveitada para separá-los domaterial mais pesado. Além disso, na medida emque uma parte do material flutua e a outrapermanece retida pela peneira da célula de flotação,este método facilita a separação de numerososoutros restos, úteis a outras disciplinas (sementes,moluscos, ossos de peixe, cerâmica, fauna etc.).O princípio de funcionamento de uma “célula deflotação” é bastante simples. Consiste em lavar osedimento, depositado em uma peneira submersa

numa cuba, em uma corrente de águaturbilhonante. Os carvões, liberados do sedimento,são levados à superfície da água e em direção àperiferia da cuba, caindo sobre uma peneira demalha fina onde os elementos sólidos sãorecuperados (YBERT, SCHEEL & GASPAR, 1997;PEARSALL, 2000). Esta técnica é baseada nadiferença de densidade dos resíduos orgânicos einorgânicos. Fragmentos carbonizados de madeira,sementes ou tubérculos em geral flutuam,enquanto restos de moluscos, ossos e cerâmica,são depositados na peneira.Existem vários modelos de células de flotação,desde o artesanal, baseado na imersão de um baldenuma cuba maior contendo água, até os maiselaborados, com assistência mecânica. O modelode uma célula de flotação desenvolvido no Brasilfoi apresentado por YBERT, SCHEEL & GASPAR(1997); vários modelos utilizados nos EstadosUnidos e na Europa foram apresentados porPEARSALL (2000).Se existir uma fonte de água nas proximidades dosítio, a flotação pode ser feita diretamente no campo.Quando possível, deve-se esvaziar sistematicamentea cuba da célula de flotação após o tratamento decada amostra, a fim de evitar contaminação entreamostras diferentes, especialmente quando existea possibilidade de se fazer uma dataçãoradiocarbônica posterior (vide “Análise e identificaçãodos carvões”). No campo ou no laboratório, osedimento que permanece sobre a peneira (refugode peneira) deve ser sistematicamente triado, a fimde recuperar os fragmentos de carvão que nãoflutuaram (vide “Amostras flotadas: fragmentosflutuantes e refugo de peneira”).O material peneirado com água ou submetido aflotação deve ser seco longe de uma fonte de calorintensa para evitar sua fragmentação e deterioraçãoda estrutura anatômica. A utilização de cones depapel jornal é muito prática para secar osfragmentos, que em seguida devem seracondicionados em sacos plásticos, mas deve serevitada quando se intenciona fazer a datação doscarvões. Os carvões não devem ser manipuladosaté sua secagem completa, a fim de evitar umaquebra acidental.

4. AMOSTRAS FLOTADAS: FRAGMENTOS FLUTUANTES E REFUGO

DE PENEIRA

Num estudo feito em diferentes frações resultantesda flotação de uma amostra do sítio de Lattara, naregião mediterrânea da França, foi observado que

Page 6: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

348 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

o refugo da peneira contém tantos fragmentosquanto a fração flotada (que bóia), mas que ariqueza taxonômica é muito mais elevada nestaúltima (CHABAL, 1989b, 1997). A autora consideraesse fato como uma regra geral, e acredita que aflotação provoque uma triagem desigual em funçãodo peso dos fragmentos: apenas os maioresfragmentos seriam retidos na peneira (o queexplicaria a menor riqueza taxonômica do refugoda peneira) e somente eles sofreriam umarefragmentação posterior (o que explicaria o mesmonúmero de fragmentos nas duas frações).No estudo antracológico do Sambaqui do Forte(Cabo Frio, Estado do Rio de Janeiro), a fraçãoflotada e o refugo da peneira de 32 amostrasforam coletados e analisados separadamente(SCHEEL-YBERT, 1998). A quantidade defragmentos em cada uma destas frações é muitovariável de um nível a outro, mas os carvõesflotados são em geral predominantes. No planoqualitativo, observou-se que certos taxa seencontram sempre preferencialmente no refugoda peneira (p.ex. Condalia sp) ou nos carvõesflotados (p.ex. Maytenus sp, Pachystroma sp),enquanto outros podem ser, de acordo com asamostras, mais abundantes em uma fração ouem outra (p.ex. Myrtaceae tipo 1 e tipo 5). Ariqueza taxonômica das duas frações é, em geral,comparável (Fig.2). Além disso, não foi notadanenhuma diferença de repartição de tamanhoentre os carvões flotados e os que permaneceramna peneira, e nós consideramos que não existenenhuma razão que possa explicar que umarefragmentação posterior afete os fragmentos desomente uma das duas frações.A melhor forma de explicar as variações observadassão as diferenças de características físicas entreos taxa, especialmente a densidade, mas tambéma presença eventual de impregnações calcárias, quetendem a aumentar a densidade dos fragmentos e,logo, a impedi-los de flutuar. Nos casos em que osedimento arqueológico está molhado, os carvõestambém ficam encharcados, o que aumenta suadensidade e impede a flutuação. Por outro lado, éprovável que o fenômeno de vitrificação4 tambémesteja relacionado. De fato, os fragmentos deCondalia sp, encontrados principalmente na fraçãonão-flotada, estavam sempre vitrificados. Durante

a flotação de amostras de fornos de carvoeiros, osfragmentos vitrificados afundam sistematicamente,ao contrário dos não vitrificados (P.OGEREAU,com.pes., 1998). A vitrificação, que provoca a fusãodas paredes celulares, diminui os espaços vaziosno interior do carvão, o que resulta num aumentode densidade do carvão.Apesar de discordar de suas hipóteses, háconcordância com CHABAL (1989b, 1997) quantoà necessidade de se triar sistematicamente orefugo de peneira após a flotação e de se analisaros fragmentos das duas frações, a fim de obteruma imagem mais representativa da composiçãotaxonômica da amostra antracológica.

TÉCNICAS DE LABORATÓRIO

1. ANÁLISE E IDENTIFICAÇÃO DOS CARVÕES

A determinação taxonômica dos carvões fósseis éfeita pela comparação de sua estrutura anatômica,que se conserva perfeitamente após carbonização,com aquela do lenho de espécies atuaisconhecidas, seja diretamente a partir de amostrascarbonizadas contidas numa coleção de referência,seja através de descrições e/ou fotografias deobras da literatura.Existe um grande número de atlas de anatomia damadeira relativos às espécies mediterrâneas etemperadas (GREGUSS, 1959; SCHWEINGRUBER,1978, 1990; VERNET et al., 2001 etc.), mas elessão raros nas zonas tropicais e, quando existentes,se referem mais especificamente à região amazônica(DÉTIENNE & JACQUET, 1983; DECHAMPS, 1979,1980, 1985), ou são especializados em madeirascomerciais (MAINIERI & CHIMELO, 1989), comraras exceções (BARROS & CALLADO, 1997).Existem também livros gerais de anatomia que,embora bastante completos, não têm vocação para“atlas” (METCALFE & CHALK, 1950).Uma importante série de trabalhos referentes àsmadeiras americanas foi publicada por RECORD eHESS (RECORD, 1942, 1943a, b, 1944a, b, c, d, e;HESS, 1946, 1948; RECORD & HESS, 1943, entreoutros). Suas chaves de determinação são muitoúteis, mas a raridade das ilustrações torna difícil autilização destes trabalhos para a determinaçãoantracológica. Este é o caso também das obras de

4 Fenômeno de fusão e de homogeneização das paredes celulares do carvão, que adquire um aspecto vitrificado e muito refringente. Apesar do nome, estefenômeno não tem relação com a fusão do silício, que só ocorre em temperaturas muito altas (ca. 1300 a 1400ºC). Corpos silicosos intactos são freqüentementeencontrados no interior de células carbonizadas, e servem como critério de determinação.

Page 7: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 349

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

Fig.2- Proporção entre carvões flotados e não flotados em três níveis diferentes do Sambaqui do Forte (RJ), em número defragmentos; ( ) taxa mencionados no texto.→→→→→

Side

roxy

lon

aff.

obtu

sifol

ium

nível 200-210cm

0

5

10

15

aff.

Dug

uetia

Asp

idos

perm

a sp

M

ayte

nus s

p La

gunc

ular

ia sp

Act

inos

term

on sp

Pach

ystro

ma

sp

Secu

rineg

a sp

Rhe

edia

sp

Laur

acea

e

cf. C

aesa

lpin

ia e

chin

ata

Zolle

rnia

Lonc

hoca

rpus

sp

Mac

haer

ium

sp

Byrs

onim

a sp

Mou

riri s

p

Rapa

nea

sp

Myr

tace

ae ty

pe 1

Myr

tace

ae ty

pe 2

Myr

tace

ae ty

pe 4

Myr

tace

ae ty

pe 5

Myr

tace

ae ty

pe 6

Myr

tace

ae ty

pe 9

Myr

tace

ae ty

pe 1

0 Co

ndal

ia sp

cf. P

sych

otria

sp 2

cf. R

andi

a / C

outa

rea

cf. i

mira

Rudg

ea sp

Esen

beck

ia sp

Cupa

nia

sp

Lueh

ea sp

Avi

cenn

ia sc

haue

riana

indé

term

iné

type

24

flotados (Ni: 61; Nsp: 23) não flotados (Ni: 93; Nsp: 28)

nível 230-240cm

0

5

10

15

20

25

30

aff.D

ugue

tia

Ann

onac

eae

Asp

idos

perm

a sp

May

tenu

s sp

Lagu

ncul

aria

sp

Act

inos

term

on sp

Pach

ystro

ma

sp

Secu

rineg

a sp

Rhe

edia

sp

Laur

acea

e sp

M

acha

eriu

m sp

cf

. Pip

tade

nia

Legu

min

osae

Byr

soni

ma s

p

Mel

asto

mat

acea

e M

ourir

i sp

Rapa

nea

sp

Myr

tace

ae ty

pe 1

Myr

tace

ae ty

pe 2

Myr

tace

ae ty

pe 3

Myr

tace

ae ty

pe 5

Myr

tace

ae ty

pe 6

Myr

tace

ae ty

pe 9

Myr

tace

ae ty

pe 1

0

Con

dalia

sp

Rudg

ea sp

Esen

beck

ia sp

Cupania sp Po

uter

ia sp

Side

roxy

lon

aff.

Lueh

ea s p

Avi

cenn

ia a

ff. sc

haue

riana

flotados (Ni: 164; Nsp: 31) não flotados (Ni: 22; Nsp: 9)

nível 250-260cm

0

5

10

15

aff.D

ugue

tia

Asp

idos

perm

a sp

Tabe

buia

type

2

May

tenu

s sp

Lagu

ncul

aria

sp

Goc

hnat

ia sp

Eryt

hrox

ylum

sp

Pach

ystro

ma

sp

Rhe

edia

sp

Laur

acea

e

cf. C

aesa

lpin

ia e

chin

ata

cf. P

arap

ipta

deni

a

cf. L

egum

inos

a e

cf. P

ipta

deni

a

Byrs

onim

a sp

Mel

asto

mat

acea

e M

ourir

i sp

Rap

anea

sp

Myr

tace

ae ty

pe 1

Myr

tace

ae ty

pe 2

Myr

tace

ae ty

pe 4

Myr

tace

ae ty

pe 5

Myr

tace

ae ty

pe 6

Myr

tace

ae ty

pe 9

Myr

tace

ae ty

pe 1

0 C

onda

lia sp

Alib

ertia

sp

cf. P

sych

otria

sp 2

cf. R

andi

a / C

outa

rea

Rudg

ea sp

cf.S

imira

aff.M

etro

dore

a Es

enbe

ckia

sp

Cup

ania

sp

Pout

eria

sp

Side

roxy

lon

aff.

Lueh

ea s p

Avi

cenn

ia af

f. sc

haue

riana

flotados (Ni: 142; Nsp: 30)

não flotados (Ni: 58; Nsp: 24)

Page 8: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

350 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

DECHAMPS (1979, 1980, 1985). Pode-se utilizartambém um grande número de artigos especializadosna anatomia de espécies atuais, que é impossível citarpor extenso. Para uma excelente compilação dasreferências bibliográficas sobre a anatomiasistemática da madeira de espécies atuais publicadasde 1900 até 1993, ver GREGORY (1994).A análise dos fragmentos de carvão a seremidentificados é feita em microscópio óptico de luzrefletida com campo claro e campo escuro, a partirda quebra manual dos fragmentos segundo os trêsplanos fundamentais da madeira: transversal,longitudinal tangencial e longitudinal radial (Fig.3).Para as identificações, uma grande importância deveser dada aos caracteres qualitativos (disposição dosporos e do parênquima, seriação dos raios, ornamentodas pontuações intervasculares, tamanho e formadas pontuações radiovasculares, presença de canais,corpos silicosos etc.), mas deve-se levar em contatambém as medidas dos caracteres anatômicos.Informações sobre o estudo da anatomia da madeirapodem ser encontradas na literatura especializada(BURGER & RICHTER, 1991; IAWA COMMITTEE,1989; METCALFE & CHALK, 1950; etc.).

A utilização de técnicas de microscopia maisavançadas, como por exemplo o contrasteinterferencial (DIC), pode ser muito útil para umamelhor visualização dos caracteres anatômicos, emparticular detalhes observados em maior aumento,como por exemplo as características das pontuações.Observações em microscopia eletrônica devarredura (MEV) também podem ser feitas, a fimde confirmar as determinações ou pararepresentação fotográfica das amostras. EmboraBLANKENHORN, JENKINS & KLINE (1972) eCUTTER, CUMBIE & MCGINNES (1980) façamreferência à boa condutividade dos carvões, quetornaria inútil qualquer preparação antes daobservação em MEV, nós obtivemos melhoresresultados com uma metalização prévia complatina.Note que, como nenhum tratamento químico éefetuado, é possível obter-se, após a determinaçãoanatômica no microscópio óptico, uma datação de14C no mesmo fragmento (VERNET, BAZILE & EVIN,1979), o que é muito interessante quando aquantidade de carvões coletada é pequena.

Fig.3- Os três planos fundamentais da madeira: relação com o eixo do lenho e imagens em microscopia eletrônica devarredura (Leguminosae Caesalpinoideae: Cassia speciosa Schrad.).

Plano transversal Plano tangencial longitudinal Plano tangencial radial

Page 9: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 351

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

2. DIMENSÃO DOS FRAGMENTOS IDENTIFICADOS

Fragmentos de carvão de apenas 0,5mm de ladopodem ser identificados, especialmente no caso dasgimnospermas de regiões temperadas (VERNET,BAZILE & EVIN, 1979), mas em fragmentos tãopequenos a determinação é em geral longa, difícile imprecisa (CHABAL, 1988; SCHEEL-YBERT,2000). Quanto menor o fragmento, mais difícil serásua determinação, e mais elevado será o níveltaxonômico alcançado. O estudo de fragmentosmuito pequenos, além de aumentar o esforço dedeterminação, tem como conseqüência diminuir aprecisão da determinação taxonômica.Em regiões tropicais, fragmentos cujo lado maior éinferior a 4mm são muito dificilmente identificáveis,pois eles não costumam reunir um conjunto decaracteres anatômicos suficientemente amplo parapermitir sua determinação, sequer no nível defamília (SCHEEL-YBERT, 2000, 2001).A precisão de determinação possível em regiõesonde a diversidade florística é menor não seráprovavelmente jamais alcançada em estudos nostrópicos. Contudo, uma diminuição no grau deincerteza das determinações pode ser obtidalevando-se em consideração sistematicamente umgrande número de caracteres anatômicos em cadaamostra, o que impõe um tamanho mínimo paraos fragmentos estudados e torna necessária autilização de um máximo de dados da literatura,de uma boa coleção de referência e de um bancode dados o mais completo possível.

3. CONSTITUIÇÃO DE UMA COLEÇÃO DE REFERÊNCIA

De modo geral, a anatomia de madeiras tropicaisé muito pouco conhecida, especialmente noBrasil. Na maioria dos casos, os trabalhosexistentes na literatura são insuficientes para adeterminação da maioria das espécies lenhosasencontradas nas análises antracológicas. Emconseqüência, a elaboração de coleções dereferência de madeiras e de carvões atuais paraas diferentes associações vegetais encontradasna região de estudo é indispensável.As amostras podem ser obtidas a partir de coletasde campo ou de doações de xilotecas. Quando sefaz amostragem no campo, é indispensável coletartambém material fértil (flores e frutos), a fim deproduzir exsicatas que permitam a identificaçãotaxonômica do material por especialistas.Todas as amostras de madeira atual obtidas devemser, na medida do possível, divididas em duaspartes: uma parte deve ser conservada intacta e a

outra deve ser carbonizada visando sua inclusãona coleção de referência. As amostras carbonizadasnão devem medir menos de 1cm de lado.Idealmente, a carbonização é feita em um forno amufla, no qual as amostras são carbonizadas a 400ºCdurante 40 minutos. Cada amostra de madeira deveser embrulhada em papel alumínio, com o númerode referência escrito a lápis, na madeira, e com canetapermanente, no papel alumínio.Quando não se dispõe de um forno, as amostrasde madeira podem ser queimadas em umafogueira (G.WILLCOX, com.pes., 1996),embrulhadas em papel alumínio e com asreferências de cada amostra marcadas, porexemplo, em etiquetas de alumínio escritas embaixo-relevo. Embora o grafite seja resistente àqueima, não se deve confiar exclusivamente nareferência escrita a lápis sobre a madeira, poispode ocorrer uma deposição de óleos e graxasque cobre a superfície da amostra.Após carbonização, as amostras devem serorganizadas de forma a facilitar seu acesso econsulta. A melhor solução que encontramos é autilização de organizadores com pequenas gavetas(Fig.4). Cada gaveta é etiquetada com o nome daespécie e o número de referência, mas um arquivocompleto contendo todas as informações de coletatambém deve ser feito.

4. CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA CARBONIZADA

A constituição de coleções de referência de madeiracarbonizada é fundamental, em particular devidoàs eventuais modificações estruturais do lenhoapós combustão.Embora não afete a organização dos tecidos dolenho, o processo de carbonização pode resultarem variações dos caracteres morfométricos(tamanho das células), as quais são devidas auma importante reorganização estrutural damadeira submetida a fortes temperaturas. Oaumento da temperatura provoca a degradaçãoda celulose e da hemicelulose e o rearranjo docarbono numa estrutura semelhante à grafite,acompanhados da destruição da estruturamicrofibrilar da madeira (MCGINNES, KANDEEL& SZOPA, 1971). Experimentos de carbonizaçãode amostras de Quercus alba mostraram que asalterações mais significativas concernem asdimensões das amostras, com uma retração quevariou de cerca de -12% a -25% e que é maiselevada no plano tangencial longitudinal(MCGINNES, KANDEEL & SZOPA, 1971).

Page 10: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

352 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

A análise das respostas à carbonização de seisespécies africanas pertencentes a diversas famíliasdemonstrou que a natureza e a magnitude dasmodificações são muito variáveis, e em grande partedependentes da natureza das fibras da madeira(PRIOR & GASSON, 1993). As variações noscaracteres morfológicos e anatômicos medidos sãotão mais importantes quanto a temperatura decarbonização é mais elevada. Segundo estesresultados houve, após carbonização, uma dilataçãodas células de parênquima axial e uma diminuiçãosignificativa da altura dos raios lenhosos em todasas espécies, enquanto que as variações do diâmetrotangencial dos poros variou entre uma diminuiçãode -41% até uma dilatação de +28%.Em consequência, tanto que nosso conhecimentodos processos de carbonização e das mudançasanatômicas que intervém em sua estrutura durantesua transformação em carvão não serão completas,

deveremos utilizar os dados anatômicosquantitativos com muita prudência, especialmentequando compararmos carvões a amostras demadeira não-carbonizadas. Em todo caso, o graude incerteza nas determinações será sempreminimizado pela utilização de uma coleção dereferência de amostras carbonizadas.

5. BANCO DE DADOS ANTRACOLÓGICO

A imensa riqueza da vegetação brasileira tem porconseqüência uma maior dificuldade deidentificação das espécies que no caso de regiõesonde a diversidade florística é menor. Para facilitaro processo de determinação dos fragmentosantracológicos, foi elaborado um programa quepermitiu a constituição de um banco de dadosinformatizado (SCHEEL-YBERT, SCHEEL &YBERT, 1998). Esse programa funciona emWindows, foi escrito em Microsoft Access 2.0 e

Fig.4- Aspecto dos organizadores contendo a coleção de referência de madeiras carbonizadas (antracoteca) do Laboratóriode Antracologia do Museu Nacional.

Page 11: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 353

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

posteriormente atualizado para Access 2000(SCHEEL-YBERT, SCHEEL & YBERT, 2002). Oscaracteres anatômicos utilizados foram baseadosna lista-padrão proposta pela AssociaçãoInternacional de Anatomistas da Madeira (IAWACOMMITTEE, 1989).Este programa permite a entrada de dadosanatômicos referentes a carvões atuais (oueventualmente a madeiras não carbonizadas), aoscarvões fósseis e aos dados da literatura. Elepermite a realização de pesquisas baseadas em umou mais caracteres, eventualmente com umamargem de erro que é estabelecida durante aconsulta, isto é, um número definido decaracterísticas das fichas-resultado que podem serdiferentes daquelas estabelecidas na ficha-consulta; as características discordantes aparecemmarcadas em vermelho. Os resultados da pesquisasão apresentados por ordem de família e de espécie,mas podem ser ordenados de outra forma.Pode-se imprimir relatórios sob a forma de fac-símiledas fichas, ou de descrições anatômicaspadronizadas. Neste último caso, o resultado dapesquisa é gravado sob forma de um arquivo-textoque pode ser lido por qualquer editor de texto. Atéseis imagens podem ser associadas a cada fichaanatômica, e estas também podem ser impressas.Além disso, o programa é trilíngue, e todas as opçõespodem ser lidas em português, francês ou inglês.Os dados anatômicos de todas as amostras dacoleção de referência foram incluídos no banco dedados, assim como tipos anatômicos encontradosem amostras arqueológicas. Informações sobre aecologia e a área de distribuição geográfica dasespécies foram incluídas para a maior parte dostaxa, a partir dos dados de coleta ou de informaçõesobtidas na literatura.O banco de dados se mostrou extremamente útilpara a determinação de fragmentos fósseis, pois épossível utilizá-lo como chave de determinação. Oprincipal interesse deste programa, além de suaeficácia e simplicidade de uso, é o fato de ter sidoespecialmente concebido para a identificaçãoantracológica. De fato, se a maior parte doscaracteres qualitativos da madeira se conservamnos carvões (com exceção dos caracteresorganolépticos, como cor, cheiro, densidade etc.),os parâmetros morfométricos, especialmente otamanho das células, a espessura das paredes, odiâmetro dos poros e das pontuações, etc., podemvariar (vide “Características da madeiracarbonizada”). Por isso, a identificação taxonômica

não pode se basear exclusivamente na comparaçãodas medidas dos caracteres anatômicos de umfragmento de carvão fóssil com aqueles de umaamostra de madeira atual não carbonizada.

CONCLUSÃO

Os estudos antracológicos fornecem, a partir dasmesmas amostras, informações importantes tanto nodomínio das variações paleoambientais epaleoclimáticas quanto em aspectos paleoetnológicos.Estes dois temas interpretativos não sãoincompatíveis e podem ser abordados a partir domesmo material, desde que se conheça a origem decada amostra no contexto arqueológico. A intervençãodo homem pré-histórico no transporte da madeiraaté o sítio arqueológico não invalida as reconstituiçõesda vegetação passada baseadas na antracologia(SCHEEL-YBERT, 1998, 2000). Por outro lado, o usoda antracologia para as reconstituiçõespaleoambientais não deve ofuscar as informaçõespaleoetnológicas contidas na mesma amostra(SCHEEL-YBERT, 2001).A amostragem de carvões com objetivospaleoecológicos deve obedecer a dois requisitosbásicos: eles devem provir de uma utilizaçãodoméstica para combustível, e corresponder aosresíduos de uma atividade que tenha tido umaduração temporal suficientemente longa (CHABAL,1992). O primeiro aspecto deve-se ao caráter poucoseletivo da coleta de madeira para lenha doméstica,ao contrário do que ocorre com a utilização damadeira para finalidades específicas (material deconstrução, fabricação de artefatos ou combustíveisespecializados). O segundo, ao fato de que existeuma correlação direta entre o tempo de duraçãoda coleta de lenha e a superfície da área de captaçãode recursos, cuja vegetação será certamente maisbem representada a partir de várias coletas delenha durante o tempo de ocupação do sítio. Porisso, as análises paleoecológicas devem serpreferencialmente baseadas nos carvões dispersos,enquanto os carvões concentrados fornecemprincipalmente informações paleoetnológicas.A imensa riqueza da vegetação tropical traz algunsproblemas para a determinação taxonômica dasespécies em fragmentos de carvões. A precisão dadeterminação é sensivelmente diminuída em relaçãoàs regiões temperadas, onde a diversidade florísticaé menor, e onde as determinações ao nível de espéciesão bastante comuns. Apesar disso, os resultadosobtidos até o momento mostram que os estudosantracológicos são perfeitamente aplicáveis a regiões

Page 12: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

354 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

tropicais. Reconstituições paleoambientais muitosatisfatórias podem ser obtidas mesmo comidentificações taxonômicas limitadas ao gênero, e aabrangência das informações paleoetnológicas quepodem ser obtidas é incalculável.O desenvolvimento da antracologia no Brasil devese acompanhar de um aprofundamento dos estudosmetodológicos e tafonômicos e de um enriquecimentodas coleções de referência. Estas pesquisas poderãocontribuir, posteriormente, com estudos demodelização do ecossistema que levem em conta aatividade humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADAL, E.; FIGUEIRAL, I.; HEINZ, C. & VERNET, J.L.,1989. Charbons de bois archéologiquesméditerranéens: de la fouille à l’interprétation. ActaInterdisciplinaria Archaeologica, Nitra, 7:7-22.

BADAL-GARCIA, E. & HEINZ, C., 1991. Méthodesutilisées en anthracologie pour l’étude de sitespréhistoriques. In: WALDREN, W.H.; ENSENYAT, J.A.& KENNARD, R.C. (Eds.) IInd Deya InternationalConference of Prehistory. Recent developments inWestern Mediterranean prehistory: Archaeologicaltechniques, technology and theory. v.1. BritishArchaeological Reports International Series,Oxford, 573:17-47.

BADAL-GARCIA, E., 1992. L’anthracologie préhistorique:à propos de certains problèmes méthodologiques.Bulletin de la Société Botanique de France, Paris,Actualités botaniques, 139(2/3/4):167-189.

BARBOSA, M.; GASPAR, M.D. & BARBOSA, D.R., 1994.A organização espacial das estruturas habitacionaise distribuição dos artefatos no sítio Ilha da Boa VistaI, Cabo Frio, RJ. Revista do Museu de Arqueologiae Etnologia, São Paulo, 4:31-38.

BARROS, C.F. & CALLADO, C.H. (Eds.), 1997.Madeiras da Mata Atlântica: Anatomia do lenhode espécies ocorrentes nos remanescentesflorestais do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.v.1. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio deJaneiro. 86p.

BLANKENHORN, P.R.; JENKINS, G.M. & KLINE, D.E.,1972. Dynamic mechanical properties andmicrostructure of some carbonized hardwoods. Woodand Fiber, 4(3):212-224.

BREUIL, H., 1903. Les fouilles dans la grotte du Masd’Azil (Ariège). Bulletin Archéologique, Paris, 421-436p.

BURGER, L.M. & RICHTER, H.G. 1991. Anatomia damadeira. São Paulo: Ed. Nobel. 154p.

CHABAL, L., 1988. Pourquoi et comment prélever lescharbons de bois pour la période antique: lesméthodes utilisées sur le site de Lattes (Hérault).Lattara, Lattes, 1:187-222.

CHABAL, L., 1997. Forêts et sociétés en Languedoc(Néolithique final, Antiquité tardive): L’anthracologie,méthode et paléoécologie. Documents d’ArchéologieFrançaise, Paris, 63:1-188.

CHABAL, L., 1989a. Étude paléoécologique à partirdes charbons de bois. In: FICHES, J.L. (Ed.)L’oppidum d’Ambrussum et son territoire: fouillesau quartier du Sablas (Vil letel le, Hérault) .Collection des monographies du CRA, SophiaAntipolis, 2:180-192.

CHABAL, L., 1989b. Perspectives anthracologiques surle site de Lattes (Hérault). Lattara, Lattes, 2:53-72.

CHABAL, L., 1992. La représentativité paléo-écologique des charbons de bois archéologiquesissus du bois de feu. Bulletin de la SociétéBotanique de France , Paris, Actualitésbotaniques, 139(2/3/4):213-236.

CUTTER, B.E.; CUMBIE, B.G. & MCGINNES, E.A., 1980.SEM and shrinkage analyses of southern pine woodfollowing pyrolysis. Wood Science and Technology,Heidelberg, 14:115-130.

DECHAMPS, R., 1979. Étude anatomique de boisd’Amérique du Sud. Volume I. Acanthaceae àLecythidaceae. Tervuren: Musée Royal de l’AfriqueCentrale. 332p.

DECHAMPS, R., 1980. Étude anatomique de boisd’Amérique du Sud. Volume II. Leguminosae.Tervuren: Musée Royal de l’Afrique Centrale. 229p.

DECHAMPS, R, 1985. Étude anatomique de boisd’Amérique du Sud. Volume III. Linaceae àZygophyllaceae. Tervuren: Musée Royal de l’AfriqueCentrale. 471p.

DÉTIENNE, P. & JACQUET, P., 1983. Atlasd’identification des bois de l’Amazonie et desrégions voisines. Nogent-sur-Marne/Montpellier:Centre Technique Forestier Tropical. 640p.

FIGUEIRAL, I., 1994. A antracologia em Portugal:progressos e pespectivas. Actas dos Trabalhos deAntropologia e Etnologia, Porto, 34(3/4):427-444.

FIGUEIRAL, I., 1992. Méthodes en anthracologie: étudede sites du Bronze final et de l’âge du Fer du nord-ouest du Portugal. Bulletin de la Société Botaniquede France, Paris, Actualités botaniques, 139(2/3/4):191-204.

FIORENTINO, G., 1995. New perspectives inanthracological analysis. Palaeoecological andtechnological implications of charcoals found in theNeolithic flintmine at La Defensola (Vieste, Apulia,Italy). Quaternaria Nova, Roma, 5:99-128.

GREGORY, M., 1994. Bibliography of systematic woodanatomy of Dicotyledons. IAWA Journal, Leiden,suppl., 1:1-266.

GREGUSS, P., 1959. Holzanatomie der EuropäischenLaubhölzer und Sträucher. Budapest: Akad.Kiadó. 330p.

HEER, O., 1866. Pflanzen der Pfanhlbauten. Neujbl.Naturf. Ges. Zürich auf das Jahr, Zurique,1866:1-54.

Page 13: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. 2 - TÉCNICAS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO 355

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

HEINZ, C., 1990. Dynamique des végétations holocènes enMéditerranée nord occidentale d’après l’anthracoanalysede sites préhistoriques: méthodologie et paléoécologie.Paléobiologie Continentale, Montpellier, 16(2):1-212.

HESS, R.W., 1946. Keys to American woods. XVII. Woodswith vasicentric tracheids. XVIII. Fibers with spiralthickenings. XIX. Special fibers in parenchyma-likearrangement. XX. Woods with unilaterally paratrachealparenchyma. Tropical Woods, 85:11-19.

HESS, R.W., 1948. Keys to American woods. XX. Woodswith unilaterally paratracheal parenchyma. XXI.Parenchyma in numerous concentric bands. TropicalWoods, 94:29-52.

IAWA COMMITTEE, 1989. IAWA list of microscopicfeatures for hardwood identification. WHEELER, E.A.;BAAS, P. & GASSON, P.E. (Eds.) IAWA Bulletin, N.S.,Leiden, 10(3):219-332.

MAINIERI, C. & CHIMELO, J.P., 1989. Fichas decaracterísticas das madeiras brasileiras. 2.ed. SãoPaulo: IPT. 418p.

MCGINNES, E.A.; KANDEEL, S.A. & SZOPA, P.S., 1971.Some structural changes observed in thetransformation of wood into charcoal. Wood andFiber, 3(2):77-83.

METCALFE, C.R. & CHALK, C., 1950. Anatomy of thedicotyledons. 2 vol. Oxford: Clarendon Press. 1500p.

PEARSALL, D.M., 2000. Paleoethnobotany: Ahandbook of procedures. 2.ed. San Diego: AcademicPress. 700p.

PERNAUD, J.M., 1992. L’interprétation paléoécologiquedes charbons concentrés dans des fosses dépotoirsprotohistoriques du Carroussel (Louvre, Paris).Bulletin de la Société Botanique de France, Paris,Actualités botaniques, 139(2/3/4):329-341.

PREJAWA, H., 1896. Die Ergebnisse derBohlweguntersuchungen in Grenzmoor zwischenOldenburd und Preussen und in Mellinghausen imKreise Sulingen. Mitt. Ver. Gesch. Landesskde,Osnabrück, 21:98-178.

PRIOR, J. & GASSON, P., 1993. Anatomical changes oncharring six African hardwoods. IAWA Journal,Leiden, 14(1):77-86.

RECORD, S.J., 1942. Keys to American woods. I. Ring-porous woods. II. Woods with pores in ulmiform ordendritic arrangement. Tropical Woods, 72:19-35.

RECORD, S.J., 1943a. Keys to American woods. IV.Vessels virtually all solitary. V. Vessels with spiralthickenings. Tropical Woods, 73:23-42.

RECORD, S.J., 1943b. Keys to American woods. VI.Vessels with scalariform plates. VII. Vessels with veryfine pitting. IX. Woods with conspicuous rays.Tropical Woods, 75:8-26.

RECORD, S.J., 1944a. Keys to American woods. X.Woods with storied structure. Tropical Woods,76:32-47.

RECORD, S.J., 1944b. Keys to American woods. XI.Woods with resin or gum ducts. XII. Parenchymareticulate. Tropical Woods, 77:18-38.

RECORD, S.J., 1944c. Keys to American woods. XIII.Woods with septate fibers. Tropical Woods, 78:35-45.

RECORD, S.J., 1944d. Keys to American woods. XIV.Dicotyledonous woods with xylem rays virtually alluniseriate. Tropical Woods, 79:25-34.

RECORD, S.J., 1944e. Keys to American woods. XV.Fibers with conspicuous bordered pits. XVI. Woodswith oil (or similar) cells. Tropical Woods, 80:10-15.

RECORD, S.J. & HESS, R.W., 1943. Timbers of theNew World. New Haven: Yale University Press. 640p.

SCHEEL, R.; GASPAR, M.D. & YBERT, J.P., 1996a. Aanatomia dos carvões pré-históricos. Arqueologiaencontra respostas em restos de fogueiras e incêndiosflorestais. Revista Ciência Hoje, Rio de Janeiro,21(122):66-69.

SCHEEL, R.; GASPAR, M.D. & YBERT, J.P., 1996b.Antracologia, uma nova fonte de informações para aarqueologia brasileira. Revista do Museu deArqueologia e Etnologia, São Paulo, 6:3-9.

SCHEEL-YBERT, R., 1998. Stabilité de l’écosystèmesur le littoral Sud-Est du Brésil à l’HolocèneSupérieur (5500-1400 ans BP). Les pêcheurs-cueilleurs-chasseurs et le milieu végétal: apportsde l’anthracologie. Tese de Doutorado. Montpellier:USTL, UM II. 3 vol. 520p.

SCHEEL-YBERT, R., 1999. Paleoambiente e paleoetnologiade populações sambaquieiras do sudeste do Estado doRio de Janeiro. Revista do Museu de Arqueologia eEtnologia, São Paulo, 9:43-59.

SCHEEL-YBERT, R., 2000. Vegetation stability in theSoutheastern Brazilian coastal area from 5500 to1400 14C yr BP deduced from charcoal analysis.Review of Palaeobotany and Palynology,Amsterdam, 110:111-138.

SCHEEL-YBERT, R., 2001. Man and vegetation in theSoutheastern Brazil during the Late Holocene.Journal of Archaeological Science, San Diego,28(5):471-480.

SCHEEL-YBERT, R., 2004. Teoria e métodos emantracologia. 1. Considerações teóricas eperspectivas. Arquivos do Museu Nacional, Rio deJaneiro, 62(1):3-14.

SCHEEL-YBERT, R. & SOLARI, M.E., no prelo. Macro-restos vegetais do Abrigo Santa Elina: Antracologiae Carpologia. In: VILHENA-VIALOU, A. & VIALOU,D. (Eds.) Pré-história do Mato Grosso: umapesquisa brasileira-francesa pluridisciplinar. SãoPaulo: EDUSP.

SCHEEL-YBERT, R.; GOUVEIA, S.E.M.; PESSENDA,L.C.R.; ARAVENA, R.; COUTINHO, L.M. & BOULET,R., 2003 - Holocene palaeoenvironmental evolutionin the São Paulo State (Brazil), based on anthracologyand soil δ13C analysis. The Holocene, Londres, 13(1): 73-81.

SCHEEL-YBERT, R.; SCHEEL, M. & YBERT, J.P., 1998.Atlas Brasil: Banco de dados antracológicos e chavecomputadorizada para determinação de carvões (emPortuguês, Inglês e Francês). Versão 1.8 [CD-ROM].

Page 14: TEORIA E MÉTODOS EM ANTRACOLOGIA. Scheel-Ybert

356 R.SCHEEL-YBERT

Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.62, n.4, p.343-356, out./dez.2004

SCHEEL-YBERT, R.; SCHEEL, M. & YBERT, J.P., 2002.Atlas Brasil: Banco de dados antracológicos echave computadorizada para determinação decarvões. Ver.2.2 [CD-ROM].

SCHWEINGRUBER, F.H., 1978. MikroskopischeHolzanatomie / Anatomie microscopique du bois.Birmensdorf: Swiss Federal Institute of ForestryResearch. 226p.

SCHWEINGRUBER, F.H., 1990. Anatomy of Europeanwoods. Bern/Stuttgart: P. Haupt publ. 800p.

SMART, T.L. & HOFFMAN, E.S., 1988. Environmentalinterpretation of archaeological charcoal. In:HASTORF, C.A. & POPPER, V.S. (Eds.) CurrentPaleoethnobotany : Analytical methods andcultural interpretation of archaeological plantremains. Chicago/London: The University of ChicagoPress. p.167-205.

THIÉBAULT, S., 1995. Functioning of hearths andancient vegetation at the Balme de Thuy (Haute-Savoie, France). The charcoal contribution.Quaternaria Nova, Roma, 5:129-170.

THÉRY-PARISOT, I., 2001. Économie des combustiblesau Paléolithique. Paris: CNRS. 196p.

VERNET, J.L., 1973. Étude sur l’histoire de la végétationdu sud-est de la France au Quaternaire, d’après les

charbons de bois principalement. PaléobiologieContinentale, Montpellier, 4(1):1-90.

VERNET, J.L.; BAZILE, E. & EVIN, J., 1979.Coordination des analyses anthracologiques et desdatations absolues sur charbon de bois. Bulletinde la Société Préhistorique Française, Paris,76(3):76-79.

VERNET, J.L.; OGEREAU, P.; FIGUEIRAL, I.;MACHADO-YANES, C. & UZQUIANO, P., 2001. Guided’identification des charbons de boispréhistoriques et récents: Sud-Ouest de l’Europe:France, Péninsule Ibérique et Îles Canaries. Paris:CNRS Editions. 395p.

WESTERN, C., 1963. Wood and charcoal inarchaeology. In: BROTHWELL, D. & HIGGS, E.(Eds.) Science in Archaeology. A comprehensivesurvey of progress and research. Londres: Thamesand Hudson. p.150-162.

YBERT, J.P.; SCHEEL, R. & GASPAR, M.D., 1997.Descrição de alguns instrumentos simplesuti l izados para a coleta e concentração deelementos fósseis de pequenas dimensões deorigem arqueológica ou pedológica. Revista doMuseu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,7:181-189.