Terapia de Reminiscência

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1. INTRODUÇÃO A reminiscência, enquanto processo normativo inerente a todos os seres humanos, consiste na recordação de uma experiência ou facto, à qual o sujeito associa de modo habitual dor ou prazer (Aberg, Sidenvall, Hepworth, O’Reilly, & Lithell, 2005; Haight, Bachman, Hendrix, Wagner, Meeks, & Johnson, 2003). Ainda que não seja exclusiva de uma etapa específica de vida, torna-se progressiva- mente mais presente consoante o sujeito envelhece (Cappeliez, O’Rourke, & Chaudhury, 2005; Gibson, 2004). Recordar situações vividas, de modo individual ou interaccional, permite analisar o passado, a com- preensão das mudanças, a adaptação a transições, a aquisição de conhecimentos, a comunicação com os outros e a promoção da auto-imagem (Puyenbroeck & Maes, 2005; Watt & Cappeliez, 2000). A reminiscência pode manifestar-se de modo intrapessoal, através de cognições exploradas pelo sujeito, ou de modo interpessoal, partilhando tópicos do passado com outros, em conversas de díades ou grupos mais latos (Elford, Wilson, McKee, Chung, Bolton, & Goudie, 2005). Welch-Roch (1995) refere que a aptidão para partilhar histórias coerentes ocorridas com o próprio apenas se torna possível quando está reunido um conjunto de factores, inerentes à criança em si, como o surgimento das competências metacognitivas, a capacidade de construção das narrativas pessoais e o desenvolvimento do auto- -conceito e também inerentes ao contexto em que se insere, com especial destaque para os estilos parentais de discutir o passado. O enquadramento social e cultural condiciona a interpretação das experiências pessoais (Mullen & Yi, 1995), e em última análise é o contexto que permite atribuir significado e coerência aos acontecimentos que recuperamos (Lamme & Baars, 1995). Deste modo, tanto a estrutura como as funcio- nalidades subjacentes à reminiscência são reguladas e moldadas em função das expectativas e limites sociais, bem como da situação histórica, reves- tindo-se este, que é um processo individual, de significado social e de partilha cultural (Shaver & Tancredy, 2001). As diferenças entre homens e mulheres na evocação de memórias do passado pessoal parecem associadas aos papéis de género, implementados desde a infância, através da conversação entre progenitores e crianças 101 Análise Psicológica (2008), 1 (XXVI): 101-110 Reminiscência enquanto ferramenta de trabalho com idosos: Vantagens e limitações DANIELA C. GONÇALVES (*) PEDRO B. ALBUQUERQUE (**) INÁCIO MARTÍN (***) (*) Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do MInho, Braga. Unidade de Formação e Investigação sobre Adultos e Idosos (ICBAS.UP). Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Braga. (**) Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Braga. E-mail: pedro.b.albuquerque@iep. uminho.pt (***) Unidade de Formação e Investigação sobre Adultos e Idosos (ICBAS.UP). Escola Superior de Saúde da Uni- versidade de Aveiro. AP261B.QXD 28-05-2008 11:35 Page 101

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Artigo publicado que oferece uma sucinta mas rica explicação sobre a terapia de reminiscência.

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1. INTRODUÇÃO

A reminiscência, enquanto processo normativoinerente a todos os seres humanos, consiste narecordação de uma experiência ou facto, à qual osujeito associa de modo habitual dor ou prazer(Aberg, Sidenvall, Hepworth, O’Reilly, & Lithell,2005; Haight, Bachman, Hendrix, Wagner, Meeks,& Johnson, 2003). Ainda que não seja exclusiva deumaetapa específica de vida, torna-seprogressiva-mente mais presente consoante o sujeito envelhece(Cappeliez, O’Rourke, & Chaudhury, 2005; Gibson,2004). Recordar situações vividas, de modo individualou interaccional, permite analisar o passado, a com-preensão das mudanças, a adaptação a transições,a aquisição de conhecimentos, a comunicação comos outros e a promoção da auto-imagem (Puyenbroeck& Maes, 2005; Watt & Cappeliez, 2000).

A reminiscência pode manifestar-se de modo

intrapessoal, através de cognições exploradas pelosujeito, ou de modo interpessoal, partilhando tópicosdo passado com outros, em conversas de díadesou grupos mais latos (Elford, Wilson, McKee, Chung,Bolton, & Goudie, 2005). Welch-Roch (1995) refereque a aptidão para partilhar histórias coerentesocorridas com o próprio apenas se torna possívelquando está reunido um conjunto de factores, inerentesà criança em si, como o surgimento das competênciasmetacognitivas, a capacidade de construção dasnarrativas pessoais e o desenvolvimento do auto--conceito e também inerentes ao contexto em quese insere, com especial destaque para os estilosparentais de discutir o passado.

O enquadramento social e cultural condicionaa interpretação das experiências pessoais (Mullen& Yi, 1995), e em última análise é o contextoque permite atribuir significado e coerência aosacontecimentos que recuperamos (Lamme & Baars,1995). Deste modo, tanto a estrutura como as funcio-nalidades subjacentes à reminiscência são reguladase moldadas em função das expectativas e limitessociais, bem como da situação histórica, reves-tindo-se este, que é um processo individual, designificado social e de partilha cultural (Shaver &Tancredy, 2001).

As diferenças entre homens e mulheres na evocaçãode memórias do passado pessoal parecem associadasaos papéis de género, implementados desde a infância,através da conversação entre progenitores e crianças

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Análise Psicológica (2008), 1 (XXVI): 101-110

Reminiscência enquanto ferramenta detrabalho com idosos: Vantagens e limitações

DANIELAC. GONÇALVES (*)PEDROB. ALBUQUERQUE(**)

INÁCIO MARTÍN (***)

(*) Instituto de Educação e Psicologia, Universidadedo MInho, Braga. Unidade de Formação e Investigaçãosobre Adultos e Idosos (ICBAS.UP). Instituto de Educaçãoe Psicologia, Universidade do Minho, Braga.

(**) Instituto de Educação e Psicologia, Universidadedo Minho, Braga. E-mail: [email protected]

(***) Unidade de Formação e Investigação sobre Adultose Idosos (ICBAS.UP). Escola Superior de Saúde da Uni-versidade de Aveiro.

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(Alea, Bluck, & Semegon, 2004; Nakash & Brody,2006; Pillemer, Wink, DiDonato, & Sanborn, 2003).As mulheres apresentam um padrão quantitativoe qualitativamente distinto dos homens, não sópassando mais tempo a pensar sobre o passadocomo também com intenções distintas. Ou seja,enquanto que os homens pensam sobre o seu passadocomo meio de escapar ao presente, as mulheresfazem-no para compreenderem e resolverem osproblemas actuais (Bryant, Smart, & King, 2005).

Quanto à sua flutuação ao longo do ciclo de vida,a reminiscência não é um processo exclusivo deetapas mais avançadas de vida, podendo registar-sea partir da adolescência (Webster, 1997a, 1997b,1999). Ao invés, o que se vai alterando são as funçõesassociadas à recuperação de memórias do passado,desde objectivos interpessoais e de socializaçãoem camadas mais jovens, até propósitos intra-pessoais e de resolução de conflitos em momentosposteriores da vida (Lamme & Baars, 1995; Webster,1998).

2. EMERGÊNCIA DO CONCEITO

A evocação guiada de acontecimentos de vidapassados, enquanto estratégia terapêutica estru-turada para alcançar a integridade do ego, foi sugeridainicialmente por Butler (1963), que a definiu comoum processo mental, universal e natural, de recu-peração de memórias de acontecimentos passadoscom diversas finalidades e com incidência particularna resolução de conflitos do passado. Fundamentadoem bases psicodinâmicas, Butler foi o primeiroinvestigador a contrariar os efeitos nocivos atri-buídos à reminiscência, encarada como sintoma ouaté mesmo causa de deterioração mental e, comotal, sistematicamente desencorajada pelos cuidadoresformais ou informais de idosos (Coleman, 2005;Lin, Dal, & Hwang, 2003). Segundo Butler (2002),a reminiscência surgiria de modo progressivo consoanteo sujeito envelhece, precipitada pela aproximaçãobiológica e psicológica da morte. Neste sentido,o papel do terapeuta seria guiar o sujeito atravésdeste processo de recordação, de modo individualou em grupo, ao longo de um conjunto determinadode sessões.

Conquanto possa também verificar-se comoresposta a acontecimentos ou crises de vida, apenasno final de vida o processo seria pleno, sendo maisprovável a sua ocorrência nos idosos como meca-

nismo de defesa, devido à proximidade da morte,ao tempo disponível para reflexão e ao abandonoda carreira (Merriam, 1995). Ou seja, não sendouma estratégia exclusiva da intervenção com idosos,a eficácia da reminiscência é potenciada junto destafaixa etária, uma vez que consiste na análise dopercurso de vida (Haight et al., 2003), realizandoum balanço de vida e, eventualmente, resolvendoconflitos localizados no passado (Bohlmeijer, Valenkamp,Westerhof, Smit, & Cuijpers, 2005). Neste sentido,Knight (2004) sugere que no trabalho com idosos,a reminiscência pode servir o objectivo primordialde reconstrução do auto-conceito, que estaria ameaçadoneste momento da vida dos sujeitos. Verifica-seassim como a reminiscência, enquanto estratégiade intervenção psicoterapêutica, se relaciona coma reminiscência enquanto construção partilhadade significados, uma vez que o auto-conceito doidoso está imbuído do discurso social, cultural ehistórico circundante.

Para Butler (2002), pioneiro da utilização dasmemórias do passado como meio de optimizar aadaptação a etapas finais da vida, a avaliação retros-pectiva dos acontecimentos de vida permitia realizarum balanço das experiências significativas, resol-vendo potenciais conflitos. Porém, Butler não faziaa apologia acrítica da estratégia, considerando queesta podia ter resultados positivos, como alcançarserenidade e sabedoria, expiar culpas e resolverproblemas, mas também negativos, como depressão,ansiedade, ruminação, rigidez e em último casosuicídio, caso não fosse bem integrada ou apoiadapor um técnico (Merriam, 1995).

3. OBJECTIVOS E ESTRATÉGIAS DATERAPIA DE REMINISCÊNCIA

A reminiscência, utilizada como técnica de evocaçãoguiada, pode perseguir diferentes propósitos, con-soante as características da população a que se destina.Assim, na intervenção com idosos, a reminiscênciapode ser utilizada com moldes preventivos, ante-cipando resultados negativos ou em formato reme-diativo, após instalação da sintomatologia.

Numa perspectiva de intervenção primária, aTerapia de Reminiscência (TR) pode ser utilizadapara fomentar a adaptação a transições de vida(Hanaoka& Okamura, 2004), promover a auto--estima e a auto-percepção de saúde (e.g., Wang,Hsu, & Cheng, 2005), aumentar o bem-estar e a

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satisfação de vida (e.g., Arkoff, Meredith, & Duba-noski, 2004; Cappeliez, O’Rourke, & Chaudhury,2005; Jonsdottir, Jonsdottir, Steingrimsdottir, &Tryggvadottir, 2001), fomentar os sentimentos demestria (e.g., Bohlmeijer et al., 2005; Watt &Cappeliez, 2000) e prevenir o surgimento de sinto-matologia depressiva (Lin et al., 2003; Jones &Beck-Little, 2002).

Após a detecção de padrões patológicos de funcio-namento, a TR tem sido utilizada para estimularo funcionamento cognitivo de idosos com demência(Bohlmeijer, Smit, & Cuijpers, 2003), diminuir aincidência de sintomatologia pós-traumática (Maercker,2002), atenuar o isolamento social (e.g., Lin et al.,2003), auxiliar o processo de luto (e.g., Puyenbroeck& Maes, 2005) e diminuir a sintomatologia depressiva(e.g., Bohlmeijer et al., 2005; Jones & Beck-Little,2002; Serrano, Latorre, Gatz, & Montanes, 2004;Wang, Hsu, & Cheng, 2005).

4. INTERVENÇÃO EMQUADROS NORMATIVOS

Conquanto uma parte considerável da literaturapublicada revele a utilização da TR em quadrospatológicos, existem também autores que avaliarama eficácia da estratégia em contextos de funciona-mento normativo ou não-patológico. Vamos emseguida abordar alguns destes estudos, realizadoscom populações normativas.

Hanaoka e Okamura (2004) realizaram umaintervenção em grupos de quatro a dez idosos insti-tucionalizados, com o objectivo de avaliar a eficáciada reminiscência na promoção da satisfação de vidae bem-estar a médio prazo. Os resultados indicamque o grupo experimental (N=42), submetido à TR,registou alterações estatisticamente significativas,resultados que se mantiveram três meses apósterminar a intervenção. No grupo de controlo (N=40)a sintomatologia depressiva diminuiu imediatamenteapós a intervenção, devido ao efeito do grupo, masestes resultados positivos não se mantiveram noseguimento de três meses.

As perdas sucessivas e a proximidade da morte,bem como a diminuição da valorização social,condicionam a interpretação que os idosos fazemda sua situação. Westerhof, Bohlmeijer e Valenkamp(2004) desenharam um programa de intervenção,realizado ao longo de doze sessões, baseado nareminiscência, com o objectivo de promover o signi-

ficado pessoal dos idosos, tanto a nível cognitivo(crenças e avaliações sobre si), como motivacional(estabelecimento de objectivos e busca de pro-pósitos). Os resultados (N=57) indicam que no finalos participantes manifestavam maior apreço pelasinteracções sociais e menos atitudes negativasem relação a si próprio.

Com o intuito de trabalhar as questões identitáriascom que se deparam as mulheres ao envelhecerem,Arkoff, Meredith e Dubanoski (2004) desenvol-veram um programa para promover a adaptação àstransições de vida, denominado The IlluminatedLife. Composto por catorze sessões desenvolvidasem grupo (N=14), este programa abordava em cadasessão uma questão considerada significativa, emtorno de temáticas como ganhos e perdas, relaçõessignificativas e objectivos ainda por alcançar. Osresultados traduziram um aumento significativoda auto-aceitação e dos sentimentos de mestria eautonomia, bem como uma melhoria nos relacio-namentos interpessoais e nos objectivos de vida.

5. INTERVENÇÃO EMQUADROS PATOLÓGICOS

5.1.A TR aplicada à depressão

São apresentados os estudos que documentamdados sobre a eficácia da TR, enquanto estratégiade intervenção na depressão geriátrica, começandopor apresentar as revisões de literatura e em seguidaos estudos de intervenção directa com idosos.

Scogin, Welsh, Stump e Coates (2005) realizaramuma revisão de literatura com o intuito de conhecerquais os tratamentos baseados em evidências paraa intervenção na depressão geriátrica. Concluíramque a TR é eficaz enquanto estratégia de intervençãona depressão em sujeitos com mais de sessentaanos. Bohlmeijer e colaboradores (2003) utilizaramas expressões “depressão”, “reminiscência” e “revisãode vida” como palavras-chave, concluindo que aTR parece ser mais eficaz quando utilizada juntode idosos a viver em comunidade e com sintoma-tologia mais severa.

Numa revisão sistemática sobre a eficácia dasdiversas estratégias de intervenção na depressãogeriátrica, Frazer, Christensen e Grifiths (2005)consideraram que existem suportes bem funda-mentados para a eficácia da reminiscência na redução

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da sintomatologia depressiva. Numa escala de grauI a grau V, sendo grau V ausência total de funda-mentos, os autores atribuem à TR grau I de evidências,grau também atribuído à terapia cognitiva-com-portamental, à intervenção medicamentosa comantidepressivos e à terapia electroconvulsiva. Destemodo, Frazer e colaboradores (2005) concluemque a TR é uma estratégia eficaz para intervir nadepressão geriátrica.

O programa Searching for the Meaning in Life,composto por doze sessões, em grupos de sete adoze elementos, foi aplicado junto de idosos a viverem comunidade (N=79) e que apresentavam sinto-matologia depressiva ligeira (Bohlmeijer et al.,2005). Os resultados indicam que houve mudançassignificativas na sintomatologia depressiva e nosentimento de mestria nos participantes com sinto-matologia severa, ainda que não alcancem os níveisconsiderados normais em população não-clínica.

Chao e colaboradores (2006) concretizaram umaintervenção em grupo junto de idosos institucio-nalizados, ao longo de nove semanas, para verificarquais os efeitos da TR na sintomatologia depressiva,satisfação de vida e auto-estima. Os resultados indicamque houve ganhos significativos a nível da auto--estima e da satisfação de vida no grupo experimental(N=12), não se verificando contudo alterações nasmedidas de sintomatologia depressiva em compa-ração com o grupo de controlo (N=12).

Por sua vez, Jones (2003) desenvolveu um estudojunto de mulheres com idade superior a sessentaanos e sintomatologia depressiva, institucionali-zadas há mais de três meses (N=30), com o objectivode comparar a eficácia da TR estruturada (seguimentode um conjunto de temas previamente estabele-cidos) com a TR espontânea (ausência de temáticasprévias, seguindo de forma fluida a sugestão dasparticipantes). Os resultados indicam que ambosos grupos apresentam redução da sintomatologiadepressiva, mas que os resultados são mais signi-ficativos no grupo submetido à TR estruturada.

A institucionalização a longo prazo pode repre-sentar um factor de risco para a subestimulaçãocognitiva e consequente subaproveitamento dascompetências disponíveis. Wang (2004) realizouum estudo de comparação de resultados da TR entresujeitos institucionalizados (N=24) e a viver emcomunidade (N=24), submetidos ao mesmo pro-grama de intervenção (16 sessões individuais de45/60m, sem estrutura prévia). Os resultados indicamque o grupo institucionalizado beneficiou bastante

mais da intervenção, quando comparado com ogrupo residente na comunidade, principalmentenas medidas de estado de humor. Wang (2004)sugere que estes resultados sejam interpretadosem função da falta de comunicação verificada noslares, o que deteriora o estado de humor dos resi-dentes.

Para ultrapassar as limitações inerentes às medidasde auto-avaliação, Wang (2005) desenvolveu umametodologia de intervenção em grupo durante quatromeses, com desenho longitudinal quasi-experimental,utilizando medidas de avaliação preenchidas pelossujeitos e pelos prestadores de cuidados. A amostraera constituída por quarenta e oito idosos (GC=23;GE=25), sendo os resultados significativos, a nívelde sintomatologia depressiva (percepção subjectiva)e estado de humor (observação externa).

Posteriormente, Wang, Hsu e Cheng (2005)ampliaram o estudo anterior, utilizando uma amostracomposta por noventa e quatro idosos; os resultadosforam similares quanto à diminuição da sintomato-logia depressiva, registando-se também ganhos signi-ficativos nos níveis de auto-confiança e sentimentosde adequação. Assim, os autores concluem que aTR pode também ser útil em momentos de transição,promovendo a adaptação a novos contextos de vida.

5.2.A TR aplicada a quadros demenciais

Considerando que a reminiscência consiste essen-cialmente na evocação de acontecimentos localizadosno passado, surge um conjunto de questões sobre asua frequência, padrão e características em quadrosde deterioração do funcionamento cognitivo, nomea-damente a demência.

Num artigo de revisão sobre intervenções nãofarmacológicas na demência, Douglas, James eBallard (2004) mostram que os principais benefíciosda TR em população com sintomatologia do tipodemencial são a promoção do bem-estar, da interacçãosocial e da motivação, considerando, no entanto, queos estudos existentes sobre a eficácia desta estratégiasão insuficientes.

Para conhecer a ocorrência, os conteúdos, asemoções associadas e o tipo de reminiscências surgidasem sujeitos com deterioração cognitiva, Puyen-broeck e Maes (2005) desenvolveram um estudoqualitativo (N=10), através de uma entrevista semi--estruturada, que estimulava memórias sobre acon-tecimentos gerais (e.g., Costumava ir a festas?)ou específicos (e.g., Alguma vez perdeu alguém

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que estimava?). A análise de conteúdo demonstrouque os conceitos gerais de reminiscência (e.g.,narração de história de vida ou transmissão de valorese crenças significativas) também estão presentesnas pessoas com défices cognitivos. Os autoresconcluem que a reminiscência pode ser uma ferra-menta útil em quadros demenciais, para lidar comcasos de luto e para promover a interacção entrea pessoa idosa e o seu cuidador.

A utilização de técnicas de intervenção em contextode grupo é uma estratégia com longa tradição empsicoterapia (Rogers, 1985), existindo actualmentediversos protocolos para utilização em quadrosdiferenciados de funcionamento patológico. Perantea existência de sintomatologia do tipo demencial,nomeadamente a deterioração cognitiva, a eficáciada intervenção em grupo pode ser condicionada,dadas as exigências de processamento de informaçãoe de estabelecimento de relações patentes num grupo.Para responder a esta questão, Scott e Clare (2003)realizaram uma revisão de literatura sobre estratégiase metodologias de intervenção em grupo com pessoasdemenciadas, encontrando que a TR providenciaum espaço para a interacção, promovendo a comu-nicação, o comportamento adaptativo e a satisfaçãosubjectiva.

O surgimento e desenvolvimento de sintoma-tologia demencial atingem não só o sujeito comotambém toda a sua rede de suporte, formal ou informal.O impacto do diagnóstico de demência na díadesujeito demenciado-cuidador, bem como a consequentesobrecarga resultante, é um facto bem documen-tado na literatura actual (Shah & Reichman, 2006;Volicer & Simard, 2006). Com o intuito de conheceras potencialidades da revisão de vida enquantoestratégia de intervenção na díade receptor-prestadorde cuidados, após diagnóstico de demência, Haighte colaboradores (2003) realizaram uma investigaçãojunto de vinte e dois pares, tendo o resultado finalsido um documento denominado “livro de vida”,onde ficavam registadas as imagens e memóriasmais significativas. Para os autores, a realizaçãoda revisão de vida permitiu ao sujeito despedir-sede uma parte de si, que será extinta pela deterio-ração cognitiva, ao mesmo tempo que promove acomunicação entre os elementos da díade.

Baillon e colaboradores (2004) realizaram umestudo para comparar a eficácia da estimulaçãosensorial e da TR para diminuir o comportamentoagitado de idosos com diagnóstico de demência(N=20). Os autores concluíram que ambas as estra-

tégias obtiveram resultados positivos, diminuindoo comportamento agitado em idosos com diagnós-tico de demência.

Com o intuito de comparar qual a eficácia daTR em contextos institucionais diferenciados, Head,Portnoy e Woods (1990) realizaram uma intervençãode seis sessões em grupo, num centro de dia (N=6)e num hospital psiquiátrico com institucionaliza-ções a longo prazo (N=6), ambos direccionadospara idosos com défices cognitivos moderados aseveros. Os autores concluem que os resultadosforam tão mais significativos quanto a necessidadede estimulação que os idosos possuíam, ou seja,como no centro de dia eram já habituais as activi-dades de reminiscência através de objectos doquotidiano, este grupo beneficiou menos da inter-venção (Head et al., 1990).

Parece assim possível concluir que a terapia dereminiscência é uma ferramenta útil para trabalharcom idosos, institucionalizados ou a viver em comu-nidade, uma vez que promove competências paralidar com o quotidiano. De igual modo, pareceproporcionar fundamentos para intervenções comu-nitárias, favorecendo o bem-estar e a qualidade devida dos idosos. Os resultados positivos da TRpodem ser explicados pela ausência de aprendi-zagem de estratégias, isto é, os participantes fazemo que sempre fizeram, falar sobre passado, com amesma linguagem que utilizavam anteriormentee sobre um tópico que conhecem bem: a sua vida(Bohlmeijer et al., 2005; Hanaoka & Okamura,2004; Watt & Cappeliez, 2000).

6. LIMITAÇÕES DO CONCEITO EFUTUROS DESENVOLVIMENTOS

Ainda que exista um corpo considerável de evi-dências que aponta a TR como uma técnica útil naintervenção junto de idosos, nem todos os estudosrealizados neste âmbito obtêm resultados positivos(Bohlmeijer, Roemer, Cuijpers, & Smit, 2007; Fry,1995; Haight, 1995; Head et al., 1990; Merriam,1995; Scott & Clare, 2003; Wang, 2004). Nestesentido, importa recuperar a premissa de Birren eCochran (2001), onde é afirmado que a TR podeser terapêutica mas não é, por si só, terapia (cit. inHaber, 2006). Ou seja, sendo a reminiscência umprocesso universal de recuperação das memóriasdo passado (e.g., Aberg et al., 2005; Haight et al.,2003; Webster, 1997a, 1997b, 1999), a sua utili-

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zação com fins terapêuticos pressupõe a definiçãoeseguimento de determinados parâmetros, que garantem,com maior probabilidade, a sua eficácia. Assim,como principais limitações metodológicas ine-rentes ao trabalho terapêutico no âmbito da TR,com repercussões na realização de investigaçãosobre a sua eficácia, destacam-se: (i) a clarificaçãodos conceitos utilizados neste âmbito de trabalhoterapêutico; (ii) o estabelecimento de modelos estru-turados de intervenção; e (iii) a consequente espe-cificação das variáveis envolvidas no processo.

A primeira das limitações consiste na indefi-nição conceptual existente. A proliferação de conceitosaplicados, muitas vezes empregue como sinónimos(e.g., reminiscência, revisão de vida, memória auto-biográfica, narrativa), condiciona a delimitaçãoespecífica para a realização de investigação sobreos efeitos e a eficácia da TR (Bluck & Levine, 1998;Bohlmeijer et al., 2007; Haight, 1995; Haber, 2006).Ultrapassar as restrições referidas implica a defi-nição e diferenciação de conceitos a investigar,abandonando a utilização de sinónimos (Merriam,1995).

A ausência de modelos de intervenção estru-turados consensuais é apontada como o principalobstáculo à eficácia da TR. A heterogeneidadeexistente, quer na forma quer no conteúdo dasestratégias de reminiscência prejudicam a avaliaçãoda sua eficácia e conduzem a resultados inconsis-tentes entre os diferentes estudos (Bluck & Levine,1998; Haight, 1995; Hsieh & Wang, 2003; Lin etal., 2003). Seria necessário estabelecer critériosespecíficos para as intervenções, clarificando quaisos objectivos, as estratégias de intervenção e ametodologia de avaliação, factores bastante des-valorizados e que contribuem para a diminuiçãoda eficácia da reminiscência e para a obtenção deresultados pouco satisfatórios (Bluck & Levine,1998; Bohlmeijer et al., 2007). Adicionalmente,garantir a validade dos resultados obtidos atravésda utilização de estratégias oriundas da TR implicatambém o desenho de estudos com medidas explícitasde sintomatologia depressiva, avaliação de resul-tados antes e após a intervenção e estabelecimentode grupo experimental e grupo de controlo (Bohlmeijeret al., 2003).

Por fim, os resultados incongruentes em tornoda eficácia da reminiscência como intervenção podemtambém ser explicados pela desvalorização dasvariáveis sociais envolvidas no processo, com des-taque para as variáveis de conteúdo e contexto

(David, 1995). Amiúde, as intervenções são desen-volvidas sem considerar as especificidades dosparticipantes, confundindo depois os resultadosobtidos. Deste modo, a optimização da TR na inter-venção com idosos deve considerar (i) as caracte-rísticas específicas da amostra (e.g., género, etniaegrau de sintomatologia depressiva); (ii) a avaliaçãodo impacto da intervenção nos sujeitos e nos cuidadores;(iii) o estabelecimento de protocolos estruturados;e (iv) a obtenção de resultados qualitativos (Hsieh& Wang, 2003).

Parece assim possível concluir que parte signi-ficativa dos resultados incongruentes associadosà utilização da TR pode ser explicada pela ausênciade um modelo estrutural, que permita adoptar parâ-metros similares de intervenção. Porém, conquantonão exista um modelo consensualmente aceite paraaplicação da TR, existem já várias propostas (e.g.,Cappeliez & O’Rourke, 2002; Jones, 2003; Jones& Beck-Little, 2002; Lin et al., 2003).

7. CONCLUSÕES

A TR é uma ferramenta útil para trabalhar comidosos, institucionalizados ou a viver em comu-nidade, uma vez que promove competências paralidar com o quotidiano. De igual modo, pareceproporcionar fundamentos para intervenções comu-nitárias, favorecendo o bem-estar e a qualidadede vida dos idosos. Os resultados positivos da TRpodem ser explicados pela ausência de aprendi-zagem de estratégias, isto é, os participantes fazemo que sempre fizeram, falar sobre passado, com amesma linguagem que utilizavam anteriormentee sobre um tópico que conhecem bem, que é a suahistória de vida (Bohlmeijer et al., 2005; Hanaoka& Okamura, 2004; Watt & Cappeliez, 2000).

Porém, conquanto existam diversos estudos queindiquem a eficácia das intervenções em grupoutilizando a TR, parece ser necessário acompa-nhamento mais personalizado dos sujeitos, commais tempo para discutir determinadas questões,nomeadamente o significado pessoal de determi-nadas memórias ou o impacto de vida das situaçõesdiscutidas. A adição de estratégias oriundas de outrosâmbitos de intervenção, como por exemplo as técnicasutilizadas na terapia cognitiva-comportamental seriatambém benéfica para completar a intervenção,no sentido de optimizar os resultados, uma vez quepor vezes a revisão de vida é acompanhada de

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sentimentos de culpa, ansiedade e desespero (Hanaoka& Okamura, 2004; Puentes, 2004). Ao analisar asquestões basilares que o terapeuta deve considerarao utilizar a TR com pacientes idosos, Knight (2004)alerta-nos para quatro pontos essenciais a ter emconta, que são em que momento da terapia utilizaresta estratégia, o modo mais eficaz de executaruma história de vida, o papel do terapeuta nesteprocesso e, por último, de que modo continuar aterapia após a realização da história de vida. Aoanalisar as variáveis implicadas na eficácia da TR,Haight, Michel e Hendrix (2000) postulam que aduração do processo, a extensão de tempo cobertapelo mesmo, a relação estabelecida com o idoso ea capacidade do terapeuta para sintetizar a históriade vida, são elementos essenciais para a obtençãode resultados.

É possível observar, de um modo geral, que osinvestigadores que empregam estratégias de remi-niscência com os seus clientes idosos são unânimesao considerar que a eficácia da sua utilização depende,de modo considerável, de quatro factores interde-pendentes entre si: (i) da contemplação das especi-ficidades de cada participante (e.g., Bohlmeijeret al., 2005), (ii) do estabelecimento de objectivosespecíficos e realistas, a curto e a médio prazo(e.g., Lin et al., 2003), (iii) da adaptação dos materiaisutilizados aos contextos de trabalho (e.g., Headet al., 1990), e (iv) da definição criteriosa das estra-tégias de desenvolvimento e avaliação de resultados(e.g., Hanaoka & Okamura, 2004).

Quanto ao primeiro ponto, consideramos que aheterogeneidade associada ao processo de enve-lhecimento é por vezes desconsiderada, quer naliteratura quer no estabelecimento de programasde intervenção com idosos. A adopção da idadeenquanto ponto de partida para nivelamento dosidosos pode induzir em erro, conduzindo ao estabe-lecimento de parâmetros similares para partici-pantes muito heterogéneos entre si. As pessoascom competências e necessidades distintas podemser inseridas de forma quase aleatória em programasde intervenção, individuais ou grupais, resultandoem tarefas desfasadas e que conduzem à insatis-fação e desmotivação. Neste sentido, é papel doterapeuta conhecer as idiossincrasias de cada parti-cipante, aumentando a probabilidade de usufruirdos benefícios inerentes à TR.

O segundo problema, também incontornável notrabalho com idosos, consiste em estabelecer objectivosdemasiado ambiciosos, o que colide com a realidade

das limitações, cognitivas ou fisiológicas, inerentesa etapas posteriores da vida. Mesmo postulandoa asserção que defende a possibilidade de atrasarou até mesmo reverter a deterioração das compe-tências da pessoa idosa (Baltes & Baltes, 1990),é inevitável reconhecer que o declínio das mesmasé uma realidade. Deste modo, quanto mais realistasforem os objectivos, maior a capacidade do idosopara alcançá-los, fomentando assim os sentimentosde mestria e a vontade de transitar para um nívelposterior do programa. Adicionalmente, a definiçãode objectivos globais, longínquos e abstractos, sãofactores que contribuem para a desmotivação eeventual abandono do contexto de intervenção.

Em terceiro lugar, importa referir a necessidadede adaptar os materiais seleccionados para a inter-venção às características dos participantes. Estaé, sem dúvida, uma lacuna decorrente da utilizaçãode intervenções baseadas em manuais, onde muitosmateriais são desenvolvidos em abstracto ou de formacontextualmente muito dependente, e reveste-sede particular importância ao trabalhar com idosos,população que nem sempre está familiarizada comos conceitos inerentes ao contexto de psicoterapia.Por outro lado, existem questões que não podemser desvalorizadas, como o grau de educação da pessoaidosa, que pode interferir com a execução de algumastarefas.

Por fim, é urgente a determinação de estratégiasde avaliação dos resultados. Laborar em estratégiasde intervenção pouco alicerçadas em dadosobjectivos quanto à sua eficácia, com base na premissade que qualquer trabalho é válido, conduz à desva-lorização do trabalho do terapeuta, do bem-estarda pessoa idosa e da relação entre ambos. O âmbitode intervenção com idosos é ainda povoado de estra-tégias bem-intencionadas mas pouco fundamen-tadas, e apenas a adopção de critérios rigorosos deavaliação de resultados permite reverter este cenário.Relacionado com este ponto, importa também sublinhara formação do terapeuta no desempenho de estra-tégias oriundas da TR. Apesar de não se direccionarapenas para o trabalho com idosos e de poder serutilizada com objectivos preventivos ou de promoçãode bem-estar (e.g., Hanaoka & Okamura, 2004),a TR é maioritariamente utilizada com populaçõesfragilizadas, quer pela institucionalização (e.g.,Jones, 2003), quer pela psicopatologia (e.g., Baillonet al., 2004), quer por doenças crónicas ou terminais(e.g., Jonsdottir et al., 2001), solicitando ao terapeutacompetências específicas que não podem ser des-

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curadas, ou condicionará a eficácia da intervenção(Haber, 2006).

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RESUMO

O objectivo deste artigo é analisar a importância dareminiscência enquanto estratégia terapêutica junto de

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idosos. Explora-se o conceito de reminiscência tal comodecorre no quotidiano e analisa-se o seu surgimento comoestratégia de trabalho com idosos, considerando os seusprincipais âmbitos de intervenção, desde moldes preven-tivos, como a adaptação à institucionalização, até níveisremediativos, como a estimulação do funcionamentocognitivo em quadros demenciais. Por fim, listam-seaquelas que se consideram ser as principais limitaçõesinerentes à Terapia de Reminiscência no trabalho comidosos, nomeadamente a ausência de modelos estrutu-rados de intervenção e as lacunas referentes a estratégiasintencionais de avaliação de eficácia dos mesmos. Apre-sentam-se algumas estratégias promotoras da eficáciada Terapia de Reminiscência.

Palavras-chave: Terapia de reminiscência, psicote-rapia, idosos.

ABSTRACT

The main objective of this paper is the analysis ofreminiscence, naming is advantages and limitations asan intervention tool towards older adults. We first considerreminiscence as a daily happening, constrained by thesocial and historical background of the participant. Wethen describe the adaptation of this strategy to the workwith older adults, in prevention or remediation, such asadaptation to institutions or cognitive stimulation in dementias.Finally, we list the main limitations in reminiscence therapy,namely the absence of structured intervention modelsand the shortfall of strategies to assess their efficiency.We consider some of the possible strategies to promotethe accuracy of reminiscence therapy.

Key words: Reminiscence therapy, intervention, olderadults.

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