Terapia pulpar em dentes decíduos vitalizados e desvitalizados

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Terapia pulpar em dentes decíduos vitalizados e desvitalizados Colaborador Autor: Thiago de Souza Garófalo Orientadora: Prof.ª Dr.ª Nair Jorge Ciuffi Faustino Sinopse Este trabalho aborda a importância da realização do tratamento endodôntico em dentes decíduos através de uma revisão de literatura. São descritas a técnica de pulpotomia e a técnica de pulpectomia nos dentes decíduos, assim como as indicações, técnicas mais usadas, os medicamentos e os materiais utilizados em ambos os casos. Introdução Segundo Toledo, 1986, a seleção do tratamento endodôntico adequado para o dente decíduo é essencial para o seu prognóstico a longo prazo. Para se fazer um diagnóstico o mais preciso possível, devem-se obter informações de várias fontes, incluindo uma história médica cuidadosa e anotação das características da dor, exames clínicos e radiográficos completo. O aspecto mais importante e também o mais difícil da terapia pulpar é determinar o estado de saúde pulpar ou seu estágio de inflamação para que possa tomar uma decisão inteligente em relação a melhor forma de tratamento. Recomendam-se vários tipos diferentes de tratamento pulpar para dentição decídua. Eles podem ser classificados em duas categorias: conservador — aqueles que tem por finalidade manter a vitalidade da polpa — e radical — que se constitui de pulpectomia e obturação do canal radicular. Lembrando-se que os dentes decíduos são menores que os permanentes, em todas as dimensões, a superfície de esmalte e as paredes dentinárias são mais delgadas e, por esta razão, as lesões de cárie atingem mais rapidamente a polpa. Isto equivale a dizer que a polpa dos dentes decíduos está mais facilmente subordinada à alteração patológicas decorrentes das lesões de cárie. A dificuldade no preparo dos canais radiculares dos dentes decíduos está na morfologia complexa e variável

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Terapia pulpar em dentes decíduos vitalizados e desvitalizados

Colaborador

Autor: Thiago de Souza GarófaloOrientadora: Prof.ª Dr.ª Nair Jorge Ciuffi Faustino

SinopseEste trabalho aborda a importância da realização do tratamento endodôntico em dentes decíduos através de uma revisão de literatura.São descritas a técnica de pulpotomia e a técnica de pulpectomia nos dentes decíduos, assim como as indicações, técnicas mais usadas, os medicamentos e os materiais utilizados em ambos os casos.

IntroduçãoSegundo Toledo, 1986, a seleção do tratamento endodôntico adequado para o dente decíduo é essencial para o seu prognóstico a longo prazo. Para se fazer um diagnóstico o mais preciso possível, devem-se obter informações de várias fontes, incluindo uma história médica cuidadosa e anotação das características da dor, exames clínicos e radiográficos completo. O aspecto mais importante e também o mais difícil da terapia pulpar é determinar o estado de saúde pulpar ou seu estágio de inflamação para que possa tomar uma decisão inteligente em relação a melhor forma de tratamento. Recomendam-se vários tipos diferentes de tratamento pulpar para dentição decídua. Eles podem ser classificados em duas categorias: conservador — aqueles que tem por finalidade manter a vitalidade da polpa — e radical — que se constitui de pulpectomia e obturação do canal radicular. Lembrando-se que os dentes decíduos são menores que os permanentes, em todas as dimensões, a superfície de esmalte e as paredes dentinárias são mais delgadas e, por esta razão, as lesões de cárie atingem mais rapidamente a polpa. Isto equivale a dizer que a polpa dos dentes decíduos está mais facilmente subordinada à alteração patológicas decorrentes das lesões de cárie. A dificuldade no preparo dos canais radiculares dos dentes decíduos está na morfologia complexa e variável que estes dentes apresentam e a incerteza dos efeitos da instrumentação, medicamentos e materiais obturadores sobre os dentes sucessores em desenvolvimento.Para Eidelman et al., 1992, o conhecimentodo comportamento biológico da polpa dental constitui um requisito básico para estabelecer a terapia adequada, devendo-se levar em conta, também, que as condições de resposta a um determinado tipo de estímulo, variam em função do estado da polpa. Outra dificuldade está nos problemas associados ao manejo do comportamento que algumas vezes ocorrem em pacientes pediátricos, que na maioria aumentam a aversão de alguns dentistas em realizar tratamentos endodônticos em dentes decíduos, pois, certas idades dificultam a realização de algumas técnicas.

ProposiçãoDiante dos problemas clínicos que provavelmente irão requerer o tratamento da polpa, para adquirir uma saúde bucal satisfatória, as decisões sobre o

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tratamento nem sempre são bem definidas. O diagnóstico correto do problema pulpar é importante para que o cirurgião dentista faça um tratamento adequado. O objetivo deste trabalho é expor ao cirurgião dentista a necessidade de considerar as possíveis opções de tratamento de maneira progressiva, levando em conta, tanto o tratamento conservador (pulpotomia), quanto o tratamento radical (pulpectomia) de dentes decíduos com vitalidade pulpar e sem vitalidade pulpar, fazendo um levantamento das opções de tratamento.

Revisão de literatura• Indicações do tratamento endodôntico em dentes decíduos com vitalidade pulpar:Segundo Toledo, 1986 11, na pulpotomia dos dentes decíduos humanos os insucessos observados clínica e radiograficamente após terapia pulpar com hidróxido de cálcio são relacionados com observações dentinárias internas que podem levar à perda precoce dos dentes. A pulpotomia seguida da utilização de formocresol tem seu lugar ainda assegurada na clínica odontopediátrica, mas deve limitar-se aos casos com diagnóstico de inflamação pulpar grave (pulpite aguda) e início das alterações pulpares degenerativas, em dentes decíduos. A pulpotomia com glutaraldeído tem sido sugerido como substituto do formocresol nas pulpotomias de dentes decíduos, uma vez que tem propriedades de fixação, como o formocresol, mas é considerado menos tóxico.Para McDonald & Avery, 1986, a remoção da polpa coronária (pulpotomia) é para dentes com exposição pulpar por cárie. Existem duas técnicas específicas: pulpotomia com hidróxido de cálcio, recomendada para dentes permanentes com desenvolvimento radicular incompleto. Existe outro método que é pulpotomia com formocresol, indicada para dentes decíduos com exposição por cárie.Para Issão & Guedes Pindo, 1988, estados inflamatórios, com a demora da remissão dos sintomas dolorosos, após aplicações dos testes térmicos, levam a conclusão de que o tratamento deve ser radical para a polpa coronária, isto é, pulpotomia seguida da aplicação de formocresol. Segundo Issão & Guedes Pinto, vários estudiosos acham que apesar dos resultados com formocresol serem satisfatórios, existe possibilitar de se aumentar o índice de sucesso com outros medicamentos, pois acreditam que diminui a agressão sobre a polpa provocada pelo formocresol. Entre os medicamentos atualmente propostos, estão o formocresol diluído 1/5, o glutaraldeído e a pasta de iodofórmio, paramonoclorofenol canforado e rifocort para dentes com polpa viva.Segundo Berger, 1989, existem basicamente dois tipos de pulpotomia dependendo unicamente do medicamento a ser utilizado, que pode ser hidróxido de cálcio P.A. e o formocresol. Alguns autores como Toledo11 relatam a ocorrência de reabsorções internas severa nos dentes decíduos quando da utilização de hidróxido de cálcio P.A. Desta maneira a utilização desse medicamento em pulpotomias ficou restrita praticamente a dentes permanentes jovens, enquanto que para os dentes decíduos utiliza-se a técnica do formocresol. Apesar de inúmeras controvérsias a respeito da sua utilização em pulpotomias de dentes decíduos, o formocresol ainda é um dos medicamentos mais empregados.De acordo com Guedes-Pinto, 1995, indica-se pulpotomia para dentes

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decíduos com vitalidade e que não possuam mais de dois terços de reabsorção radicular, nem lesão na bi ou trifurcação das raízes dos molares. Também não é indicado esta conduta para dentes tão destruídos, que seria impossível a reconstrução dos mesmos após a terapia endodôntica. Entre os medicamentos que os clínicos podem lançar mão após pulpotomia, estão o hidróxido de cálcio, formocresol, formocresol diluído e mais recentemente o glutaraldeído. Particularmente nos casos de pulpotomia, utiliza a pasta Guedes-Pinto, composta por iodofórmio, paramonoclorofenol canforado e rifocort. Após pesquisas de laboratório, num período de três anos, observou resultados muito superiores àqueles obtidos com todos os outros medicamentos.Segundo Pinkham et al., 1996, o formocresol é o material mais usado. Em uma pesquisa recente, relatam que a maioria dos odontopediátricos do Canadá (92,4%) e do mundo inteiro usam de preferência o formocresol como medicamento na pulpotomia para dentes decíduos, seja na sua fórmula original ou diluído 1/5. O formocresol é pelo menos potencialmente imunogênico e mutagênico. Por estas razões, aumentariam os esforços a fim de se encontrar um medicamento substituto. Em resumo, não se descobriu ainda um agente ou técnica para pulpotomia de dentes decíduos que apresentasse o índice de sucesso clínico igual àqueles do formocresol.

• Indicações do tratamento endodôntico em dentes decíduos sem vitalidade pulpar:A partir de 1981, Guedes-Pinto et al. e Issão e Guedes-Pinto, divulgaram uma técnica pela qual o Endo-PTC associado ao líquido de Dakin é utilizado para lavar a câmara pulpar e auxiliar a instrumentação dos canais. A irrigação final é feita com Tergentol Furacin e a obturação dos canais com uma pasta constituída de iodofórmio, paramonoclorofenol canforado e Rifocort.Segundo Toledo, 1986, alguns autores tem preconizado o emprego do formocresol com óxido de zinco e eugenol na oturação dos canais.De acordo com Avram et al., 1986, o tratamento endodôntico dos dentes decíduos com necrose pulpar é indicado nos casos em que os canais são acessíveis e há evidência de que o suporte ósseo seja normal. Nos casos em que existe perda do segundo molar decíduo antes da erupção do primeiro molar permanente, o dentista terá um problema difícil para impedir a mesialização do primeiro molar permanente durante a sua erupção. Portanto, deve-se fazer todo esforço para tratar e manter o segundo molar decíduo, mesmo que esteja necrosado.Segundo Berger, 1989, diferentes técnicas tem sido propostas para o tratamento endodôntico de dentes decíduos com polpa mortificada. Estas técnicas variam principalmente em função da instrumentação ou não dos condutos radiculares e também em relação ao tipo de material usado no tratamento.Para Fuks et al., 1990, dentre os fármacos utilizados em endodôntia como curativo tópico intra-canal, o Tricresol formalina tem-se destacado desde o seu aparecimento em 1904, que consagrou seu uso para dentes com mortificação dental. Apresenta alto poder desinfetante, intenso poder de penetrabilidade através da dentina quando comparado com certos medicamentos, demostrou ação bactericida mais intensa. Consequentemente possui também alto poder tóxico devendo ficar confinado no terço médio do conduto radicular. Bengtson & Bengtson, 1993, concordam com a técnica que se utiliza de

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fármacos que promovem a limpeza dos canais, instrumentação com três limas tipo Kerr e selamento com pasta reabsorvível, conseguindo alta porcentagem de sucesso clínico e radiográfico.Para Puppin et al., 1994, o emprego de óxido de zinco e eugenol como material endodôntico obturador, veio a demostrar que ele não possui os requisitos ideais de uma cimento obturador de canais para dentes decíduos, sobretudo dois requisitos fundamentais: ser fortemente anti-séptico e ser facilmente reabsorvido.Segundo Guedes-Pinto, 1995, a técnica da pulpectomia é, em tudo, semelhante ao tratamento de canal de dentes permanentes, utilizando de toda instrumentação e medicação adequada, seguindo-se da obturação do canal com pasta de iodofórmio, paramonoclorofenol canforado e rifocort.Autores como Guedes-Pinto, 1995, e Issão & Guedes Pinto, 1988, preconizam a utilização de instrumentos para remover o máximo de tecido necrosado no interior de condutos radiculares.De acordo com Pinkham et al.,1996, os materiais de obturação mais comumente usado para os canais pulpares são a pasta de óxido de zindo e eugenol, a pasta iodoforme e o hidróxico de cálcio.Faraco Júnior & Percinoto, 1998, realizaram uma análise comparativa da técnica Guedes Pinto, a técnica da Faculdade de Odontologia de Araraquara (UNESP) e o grupo controle. Os resultados não apresentaram diferenças estatisticamente significantes nas regiões cervical e média. Entretanto, na região apical ficou evidenciada maior intensidade de reabsorção radicular, estatisticamente significante, na técnica de Guedes Pinto, tanto quando comparada com a técnica Faculdade de Odontologia de Araraquara (UNESP), quanto com o grupo de controle. Segundo Issão & Guedes-Pinto, 1998, considera que a pasta constituída por partes iguais de iodofórmio, paramonoclorofenol canforado e rifocort, possui partes iguais de iodofórmio, possui uma ótima propriedade anti-séptica graças a presença do paramoclorofenol canforado, do iodofórmio e do antibiótico de superfície contido no rifocort. Acrescenta-se sua boa tolerância tecidual que, em nosso entender, se deve ao propileno-glicol (veículo da pomada de Rifocort) que possui efeito bastante preciso de proteção tecidual, diminuindo a atividade irritante das drogas anti-sépticas. Finalmente, a presença do corticosteróide, diminuindo a intensidade da reação inflamatória posterior ao tratamento endodôntico, praticamente elimina a presença de dor operatória e facilitará as futuras reações de cura e reparação. Lembramos ainda que a pasta obturadora é perfeitamente reabsorvível, não pertubando, portanto, o processo de rizólise do dente decíduo e erupção do dente permanente.

Discussão• Tratamento endodôntico em dentes com vitalidade pulpar:

— PulpotomiaPara Grossman, 1956, a pulpotomia refere-se definitivamente à operação realizada em polpas vivas, com o objetivo de preservar a vitalidade da polpa contida nos canais radiculares. Possui as seguintes vantagens: não há necessidade de entrar nos canais radiculares; as ramificações apicais, de limpeza mecânica e obturação difíceis, ficam obturados naturalmente pelo tecido pulpar; prevenção de acidentes como fratura de instrumentos ou

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perfurações do canal; impossibilidade de irritação apical por meio de instrumentos ou de medicamentos; caso de insucesso, haverá ainda a possibilidade de tratamento radicular; nos casos de raiz de rizogênese incompleta, as raízes têm a oportunidade de completar o seu desenvolvimento; a pulpotomia pode ser feita em uma única consulta.Segundo Seltzer et al., 1979, a pulpotomia está indicada especialmente em dentes permanentes com rizogênese incompleta e, em pacientes com história de doença cardíaca reumática, a pulpotomia é um procedimento seguro. As pulpotomias têm também um elevado índice de sucessos em dentes decíduos e são preferidas aos tratamentos endodônticos completos nos dentes decíduos com pulpites crônicas. Quando ocorreu a necrose pulpar, a pulpotomia não tem qualquer valor e não deve ser executada.Segundo Eidelman, 1991, o procedimento da pulpotomia se baseia no fato de que o tecido pulpar radicular é saudável ou capaz de cicatrização após amputação cirúrgica da polpa coronária afetada ou infectada. A presença de quaisquer sinais ou sintomas de inflamação que se estendam além da polpa coronária contra-indica a pulpotomia. Assim como a presença dos seguintes fatores: tumefação (de origem pulpar), fistula, mobilidade patológica, reabsorção radicular externa patológica, reabsorção radicular interna, zonas periapicais ou interradiculares radiolúcidas, calcificações pulpares ou hemorragia excessiva dos cotos radiculares amputados. O material obturador ideal para a polpa radicular deve ser bactericida, inofensivo à polpa e estruturas circundantes, promover cicatrização da polpa radicular e não intervir com o processo fisiológico da reabsorção radicular.Para Guedes-Pinto, 1995, Indica-se a pulpotomia para dentes decíduos com vitalidade e que não possuam mais de dois terços de reabsorção radicular, nem lesão na bi ou trifurcação das raízes dos molares. Também não indicamos esta conduta para dentes tão destruídos, que seria impossível a reconstrução dos mesmos após a terapia endodôntica. Para Barbosa et al., 1999, a pulpotomia é o procedimento indicado para o tecido pulpar de dentes jovens exposto por cárie ou envoltos por trauma. Trata-se da remoção cirúrgica da polpa coronária, sob indicações assépticas e atraumáticas. Está indicada para polpas vitais, hígidas e preferencialmente livres de infecção. Em se tratando de criança ou adulto jovem, que possui boa resposta orgânica, e possibilidade de sucesso é maior. Pode ser indicada para dentes decíduos onde o elemento dentário foi acometido por cárie profunda e, é necessário mantê-lo na arcada para evitar desordens oclusais.

— Pulpotomia com FormocresolBerger, 1965, afirma que, subseqüente à aplicação do formocresol, ocorre fixação no terço coronário da polpa radicular, inflamação crônica no terço médio e a presença de tecido vital no terço apical. Em estudos clínicos e radiográficos, demonstram que as pulpotomias realizadas com o formocresol apresentam índices de sucesso que variam de 70 – 97%, mas Bimstein et al., 1981, defendem o uso do formocresol diluído a 1/5, pois apresentam eficácia igual a do formocresol não diluído e menor potencial de toxicidade.Rolling e Trylstrup, 1975, questionam o sucesso clínico das pulpotomias feitas com formocresol, demonstrando que o índice de seu sucesso clínico diminuiu à medida que se aumentou o acompanhamento. Além do mais, a resposta histológica da polpa radicular decídua ao formocresol parecem ser

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desfavoráveis.Para McDonald, 1977, a pulpotomia com formocresol é indicada para dentes decíduos com exposição cariosa. Antigamente a pulpotomia com formocresol era feita em dois ou três tempos; hoje, porém é executada em uma consulta única. Se houver evidência de hiperemia da polpa radicular, indicando a presença de inflamação da mesma, a pulpotomia será contra-indicada. Block e cols., 1978, dizem que nas últimas décadas vários relatórios questionaram a segurança e eficácia do formocresol. E agora, a maioria das autoridades como Myers et al., 1981; Fuks et al., 1983, concordam que o formocresol é pelo menos potencialmente imunogênico e mutagênico. García-Godoy, 1981, mostrou que a incorporação do formocresol ao cimento de óxido de zinco e eugenol aparentemente é desnecessário para obter a reação pulpar característica com a técnica de pulpotomia com formocresol durante cinco minutos. Devido à natureza cáustica do formocresol e da preocupação sobre o potencial tóxico e mutagênico resultante do uso excessivo do formocresol, seu emprego na pasto de óxido de zinco e eugenol é desaconselhável.Para García-Godoy et al., 1987, sugeriram que um tempo de aplicação mais curto de formocresol (um minuto), pode ser adequado e, talvez superior aos cinco minutos recomendados, de acordo com o seu trabalho limitado a pulpotomias em cães. Observou também resultados satisfatórios em pesquisas realizadas em dentes de macaco com formocresol diluído.Avram et al., 1989, relataram que a maioria dos odontopediatras do Canadá (92,4%) e do mundo inteiro (76,8%) usam de preferência o formocresol como medicamento na pulpotomia para dentes decíduos, seja na sua fórmula original ou diluído a 1/5. Quando se remove o algodão, a região da amputação deve apresentar uma aparência marrom-escura, quando se utiliza a concentração toda de formocresol, ou vermelho-escuro, quando se emprega a solução diluída a 1/5.Para McDonald et al., 1995, a técnica de pulpotomia com formocresol é recomendada no tratamento de dentes decíduos com exposição por cárie, porque eles não respondem tão favoravelmente à técnica do hidróxido de cálcio. A câmara pulpar é secada com bolinhas de algodão esterelizadas, em seguida, uma bolinha embebida em formocresol de Buckley na concentração de 1:5 e pressionada com compressa de gaze estéril para remover o excesso de formocresol, é colocada em contato com os cotos pulpares, onde permanece durante cinco minutos.O sucesso clínico do uso do formocresol nas pulpotomias de dentes decíduos tem sido verificado há muitos anos (Doyle et al.11,1962; Prakash, 1989; Roberts33, 1996). entretanto, a técnica de trabalho, a seleção adequada do caso e o uso de medicamentos novos e não contaminados são fatores determinantes deste sucesso (Guedes-Pinto17). No entanto, embora pareça estar comprovado o sucesso clínico obtido com a utilização do formocresol na pulpotomia de dentes decíduos, reações adversas ao formaldeído têm sido relatadas, não apenas para a polpa, como para os tecidos periapicais e folículos dentários do dente sucessor. Estes estudos mostram a necessidade de maiores esforços na tentativa de encontrar o medicamento ideal para uso em terapia pulpar de decíduos, que substitua o formocresol, devido ao seu potencial tóxico, já bem comprovado (Myers, 1978; Avram, 1989; Ingle, 1989; Araújo, 1988; Vono et al., 1991; Chedid, 1992; Guedes-Pinto, 1997). Frente a

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esta situação, alguns estudos foram feitos com o uso do formocresol diluído de sua fórmula original. A grande vantagem parece ser a manutenção da vitalidade do remanescente pulpar, permitindo que os processos biológicos do dente ocorram normalmente, sem alteração das propriedades clínicas positivas do formocresol e menos irritantes aos tecidos pulpares e periapicais (Couto, 1975 / 1976; Bengtson, 1986; Guedes-Pinto, 1997; Araújo, 1988; Thomazi, 1988; Mullem, 1983; Nunn, 1996;). Porém, alguns autores questionam os benefícios desta diluição, e dúvidas permanecem quanto à toxicidade, mutagenicidade e carcinogenicidade do formaldeído, que não deveriam ser desconsideradas (Alacam, 1989; Goodman, 1991).

— Pulpotomia com glutaraldeído (GA)Davis e colab., 1982, após pesquisa clínica, concluíram que o glutaraldeído é mais vantajoso que o formocresol, tendo a capacidade de fixar os tecidos superficialmente limitando a sua penetração, mantendo a vitalidade da polpa subjacente a sua ação e que há lenta ação progressiva de fibrose no tecido pulpar coronário, não atingindo a periápice.Wemes e colab.51, trabalhando com formocresol e glutaraldeído com carbono marcado em dentes recém extraídos, compararam o poder de penetração de ambos os medicamentos e concluíram que o formocresol provocou maiores reações periapicais que o glutarldeído, uma vez que penetra rapidamente alem das regiões periapicais e que o glutaraldeído não vai além da região inferior da raiz. Em outra pesquisa 52, os mesmos autores observaram os resultados histológicos comparando os dois medicamentos. O glutaraldeído provocou mínimas reações no terço apical e na região periapical, ao contrário do formocresol que provoca reações mais extensas tanto na polpa, como pode também se difundir no periápice.Tagger, 1977, realizaram 23 pulpotomias em macacos jovens e compararam em um grupo o efeito do glutaraldeído e no outro o formaldeído. E num terceiro, controle, apenas óxido de zinco. E pôde perceber que no grupo do folmaldeído havia necrose pulpar e inflamação periapical crônica. No grupo do glutaraldeído, a maior parte do tecido pulpar mostrou vitalidade e não havia reação periapical.García-Godoy, 1984, realizou a avaliação clínica e radiográfica de pulpotomias com glutaraldeído em dentes primários expostos através de cáries. A amostra consistiu de 55 crianças de 4 a 9 anos de idade, com 55 molares primários com exposição por cárie. Todos os dentes foram tratados com uma técnica de pulpotomia convencional, usando glutaraldeído a 2% aplicado por 1 a 3 minutos e cobertos com cimento de óxido de zinco e eugenol. As consultas subsequantes, seja clínica ou radiográfica, variavam de 6 a 18 meses. O tratamento obteve sucesso tanto clínico como radiográfico em 96,4% dos dentes.Fuks et al., 1990, relataram um índice de fracasso de 18% em molares decíduos humanos após 25 meses de pulpotomia realizada utilizando-se uma concentração de glutaraldeído a 2 %.Kopel e colab., 1992, trabalhando em dentes decíduos, nos quais fizeram pulpotomias e compararam os efeitosdo glutaraldeído, puderam concluir que os efeitos do medicamento são menos irritantes para a polpa e tecidos periapicais que o formocresol, considerando-o indicado nos casos de pulpotomia.

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— Pulpotomia com hidróxido de cálcioPara Guedes-Pinto et al., 1995, o uso de hidróxido de cálcio como material capeador da porção radicular após pulpotomia em dentes decíduos. Os resultados parecem parecem não ser tão animadores após várias pesquisas clínicas e histólogicas. No entanto, Russo & Holland 43, têm obtido êxito neste campo, recomendando esta técnica de hidróxido de cálcio em casos de pulpotomias em dentes decíduos

• Tratamento endodôntico em dentes sem vitalidade pulpar:

— PulpectomiaPara Toledo, 1969, indica-se a pulpectomia em dentes que apresentem evidência de inflamação crônica ou necrose na polpa radicular. Tal procedimento é contra-indicado em dentes com grandes perdas de estrutura radicular, reabsorção interna ou externa avançadas, infecção periapical envolvendo a cripta do dente sucessor; abcessos volumosos e pacientes com saúde geral comprometida. O objetivo principal da pulpectomia é manter os dentes decíduos que caso contrário seriam perdidos8. A terapia endodôntica de dentes decíduos com mortificação pulpar, ao longo dos anos e mesmo nos dias atuais, tem-se baseado quase que exclusivamente na ação dos medicamentos intracanais, com o objetivo de promover desejada desinfecção dos mesmos. Uma das razões que se mostravam relevantes era a dificuldade de instrumentação destas canais em razão da própria anatomia e reabsorção radicular destes dentes.Segundo Guedes-Pinto, 1995, a terapia endodôntica de dentes decíduos com mortificação pulpar, ao longo dos anos e mesmo nos dias atuais tem-se baseado quase que exclusivamente na remoção total da polpa radicular e na ação dos medicamentos bactericidas e bacteriostáticos intracanais, com o objetivo de promover a desejada desinfecção dos mesmos.

— Técnica da Pulpectomia com utilização de Pasta Guedes-PintoSegundo Guedes-Pinto et al., 1995, na primeira pesquisa no dorso do animal, a pasta foi injetada no subcutâneo e os animais sacrificados em 24 horas. Em estudos realizados, esta pasta mostrou-se extremamente menos irritante que o formocresol, onde ambos foram utilizados durante um mesmo período.De acordo com Chedid 12, quando a primeira pesquisa foi desenvolvida nos dentes de ratos, comparando-se com o formocresol, confirmou-se os resultados anteriores, pois a polpa que recebeu esta pasta, mostrava já características de normalidade, bem diferentes daquelas que receberam formocresol, às quais mostravam os quadros tradicionais de fixação por coagulação, grande região de fibrose e retração do tecidp pulparque estava inflamado em todos os tempos de avaliação.

— Pasta de óxido de zinco e eugenolPara McDonald, 1977, o óxido de zinco e eugenol tem sido o material capeador mais usado, e muitos dentistas estão satisfeitos com seus resultados clínicos.Camp, 1984, introduziu a seringa de pressão endodôntica para superar o problema da sub-obturação, um achado comum quando se emprega uma mistura de óxido de zinco e eugenol espessa. Os dentes decíduos, freqüentemente se encontram com áreas inter-radiculares radiolúcidas mas

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sem lesões periapicais e algumas vezes até apresentam uma vitalidade pulpar no ápice. Por outro lado, segundo Barker, 1971, a sobre-obturação pode causar uma reação moderada diante do corpo estranho.Segundo Toledo, 1986, informou que o óxido de zinco e eugenol em contato com os tecidos possuidores de vitalidade produz uma inflamação crônica, formação de abscesso e necrose. Após 24 horas após o capeamento da polpa com óxido de zinco e eugenol, a camada de tecido subjacente possuirá uma massa de hemácias e leucócitos polimorfonucleares. A massa hemorrágica é separada do tecido pulpar adjacente por uma zona de fibrilas e células inflamatórias. Duas semanas após o capeamento com óxido de zinco e eugenol, a degeneração pulpar é aparente no local do capeamento, e a inflamação crônica abrange a porção apical do tecido pulpar. Linfócitos, células plasmáticas e leucócitos polimorfonucleares situam-se em volta do local da exposição.

— Pasta IodoformeBarker et al., 1971, relatam o uso da pasta KRI, que é a mistura de iodoforme, cânfora, paramonoclorofenol e mentol. Esta pasta dissolve rapidamente e não apresenta efeitos desfavoráveis sobre os dentes sucessores quando usada como medicamento do canal pulpar em dentes decíduos abscedados. Além disso, a pasta KRI que extravasa para dentro do tecido periapical é rapidamente substituída com tecido normal. Algumas vezes o material sofre reabsorção dentro do canal radicular.Mass et al., 1989, preconiza que a pasta desenvolvida por Maisto tem sido usada, clinicamente, por muitos anos e bons resultados têm sido relatados com o seu uso. Esta pasta apresenta os mesmos componentes da pasta KRI com adição de óxido de zinco, timol e lanolina.

— Hidróxido de CálcioSegundo Pinkham 1996, geralmente, não se usa este material na terapia pulpar de dentes decíduos, embora várias pesquisas clínicas e histopalógicas da mistura de hidróxido de cálcio e iodoforme foram publicadas no Japão por Fuchino et al., 1980, estes autoresverificavam que este material é fácil de se aplicar, reabsorve em um grau levemente mais rápido que o das raízes, não apresenta efeito tóxico sobre o sucessor permanente e é radiopaco.Machid, 1983, considera que a mistura de hidróxido de cálcio e o iodoforme seja quase um material obturador ideal para dentição decídua.

ConclusãoA terapia pulpar da dentição decídua inclui uma variedade de opções de tratamento, dependendo da vitalidade pulpar. Realiza-se o tratamento conservador quando a vitalidade pulpar permanece devido à existência de recuperação em potencial uma vez que se remova o agente irritante. A pulpectomia é indicada em dentes que apresentam evidência de inflamação crônica e irreversível ou necrose da polpa radicular.Concluímos que, para a realização de pulpotomia em dentes decíduos com polpa vitalizada, o medicamento mais utilizado e que apresenta um bom resultado é o formocresol desde que obedecidas todas as recomendações da técnica de trabalho.

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Já para os dentes com polpa mortificada, vários autores preconizam diferentes materiais obturadores, porém todos concordam que temos que nos preocupar com a remoção da maior parte possível de tecido contaminado do interior dos canais radiculares, permitindo assim, que o material usado atue sobre a menor quantidade desse tecido, obtendo-se uma melhor ação.

Referências bibliográficas

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Data de Publicação do Artigo:

3 de Fevereiro de 2004